SlideShare une entreprise Scribd logo
1  sur  2
O poder simbólico de Pierre Bourdieu




O autor convida o leitor à uma sociologia reflexiva, cuja trajetória permite uma
postura realista, orientada para otimização do uso dos recursos, especialmente
do tempo disponível para a pesquisa. Embora, como alega o próprio Bourdieu,
o homo academicus goste do acabado, o texto em questão, resultado de um
seminário, propõe-se a apresentar os processos do trabalho de pesquisa, o seu
know-how. Para ele, o estado da arte nas Ciências Sociais encontra-se na
capacidade de teorizar sobre objetos empíricos aparentemente insignificantes,
construindo assim um objeto.


Para construir um objeto, contudo, faz-se necessário questionar suas pré-
noções antes de aprender o modus operandis da produção científica, porque a
única maneira possível de adquirir esse conhecimento é através da observação
prática de como reage este habitus científico. A transmissão do habitus pode
se dar por indicações práticas ou correções feitas na prática.


Uma das coisas mais importantes na pesquisa científica é exatamente a
construção do objeto do conhecimento, através da união de opções teóricas e
técnicas empíricas, que podem ser multivariadas, a fim de quebrar o
monoteísmo metodológico e jogar novas luzes sobre diversos ângulos do
mesmo prisma. O cientista social deve estar atento aos por menores dos
procedimentos da pesquisa, posto que, a construção do objeto


“é um trabalho de grande fôlego, que se realiza pouco a pouco, por retoques
sucessivos, por toda uma série de correções, de emendas, sugeridos por o[sic]
que se chama ofício, quer dizer, esse conjunto de princípios que orientam as
ações ao mesmo tempo minúsculas e decisivas”. ( p. 27)


O primeiro preceito do método está relacionado à noção de campo, alertando o
sociólogo que se deve pensá-lo como um espaço de relações de forças entre
posições sociais, que vão sendo desvendadas pelo pesquisador. O grande
risco de se cair na armadilha das pré-noções para o pesquisador é não
conhecer sua verdadeira motivação de interesse acerca do objeto que estuda.
Èpreciso cercar-se de ceticismo, questionar todos os seus pressupostos e
variáveis possíveis, numa atitude ativa e sistemática, alicerçado não só na
intuição racional, como também no raciocínio analógico.


Bourdieu aponta a necessidade de rupturas epistemológicas, considerando a
dificuldade dessa quebra de paradigmas na medida em que estas foram
fundamentadas por um corpo de profissionais. A profissão no saber científico é
uma “construção social, produto de todo um trabalho social de construção de
grupo e de uma representação dos grupos”, (p.40) os quais possuem um ritual
próprio – listas feitas, documentação, procedimentos – para estudar
determinados objetos. Desta forma, têm-se uma aparência de cientificidade,
sem empreender o verdadeiro trabalho científico, que é a construção do próprio
objeto de estudo.


A objetivação participante oferece essa possibilidade de ruptura, porquanto
implica em adesões mais profundas e inconscientes sobre o interesse no
próprio objeto para o pesquisador que o estuda. É o conhecimento da relação
pesquisador-objeto e dos próprios limites da objetivação objetiva, posto que o
espaço da interação épré-construído, guardando em si seus ditos e interditos.


“As estratégias discursivas dos diferentes atores, e em especial os efeitos
retóricos que têm em vista produzir uma fachada de objetividade, dependerão
das relações de força simbólicas entre os campos e dos trunfos que a pertença
a esses campos confere aos diferentes participantes ou, por outras palavras,
dependerão dos interesses específicos e dos trunfos diferenciais que, nessa
situação particular de luta simbólica pelo veredito neutro, lhes são garantidos
pela sua posição nos sistemas de relação invisíveis que se estabelecem entre
os diferentes campos em que eles participam”. (p.56)


Destarte, a relação do sociólogo com o seu objeto deve ser objetiva, consciente
de suas motivações e interesses sobre o referido objeto, a fim de estabelecer
condições mínimas de ruptura com os modelos prontos para que não se incorra
numa visão parcial e reducionista com ares de ciência.



BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. 2. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999.
Postado porDaniela de Oliveira Gomesàs08:27

Contenu connexe

Tendances

Como fazer um fanzine
Como fazer um fanzineComo fazer um fanzine
Como fazer um fanzineLú Carvalho
 
Karl marx – concepções na educação
Karl marx – concepções na educaçãoKarl marx – concepções na educação
Karl marx – concepções na educaçãoKamila Assink de Liz
 
Respostas mankiw - capítulo 5 (superior)
Respostas mankiw  - capítulo 5 (superior)Respostas mankiw  - capítulo 5 (superior)
Respostas mankiw - capítulo 5 (superior)Luciano Pires
 
Linha do tempo: “Sociologia da Educação: Uma análise de suas Origens e Desenv...
Linha do tempo: “Sociologia da Educação: Uma análise de suas Origens e Desenv...Linha do tempo: “Sociologia da Educação: Uma análise de suas Origens e Desenv...
Linha do tempo: “Sociologia da Educação: Uma análise de suas Origens e Desenv...Emerson Mathias
 
Economia aula 7 - a macroeconomia keynesiana
Economia   aula 7 - a macroeconomia keynesianaEconomia   aula 7 - a macroeconomia keynesiana
Economia aula 7 - a macroeconomia keynesianaFelipe Leo
 
Introdução à Ciência Política
Introdução à Ciência PolíticaIntrodução à Ciência Política
Introdução à Ciência Política17112011
 
Respostas Mankiw - Capítulo 13 (Superior)
Respostas Mankiw - Capítulo 13 (Superior)Respostas Mankiw - Capítulo 13 (Superior)
Respostas Mankiw - Capítulo 13 (Superior)Luciano Pires
 
A Educação no Brasil no Período da Segunda República
A Educação no Brasil no Período da Segunda RepúblicaA Educação no Brasil no Período da Segunda República
A Educação no Brasil no Período da Segunda RepúblicaDonizete Soares
 
Os Clássicos da Sociologia (Émile Durkheim)
Os Clássicos da Sociologia (Émile Durkheim)Os Clássicos da Sociologia (Émile Durkheim)
Os Clássicos da Sociologia (Émile Durkheim)e neto
 
Plano Bimestral de Filosofia 1º, 2º e 3º ano
Plano   Bimestral de Filosofia 1º, 2º e 3º ano Plano   Bimestral de Filosofia 1º, 2º e 3º ano
Plano Bimestral de Filosofia 1º, 2º e 3º ano Mary Alvarenga
 
Excedente de consumidor e produtor ( dicas de economia)
Excedente de consumidor e produtor ( dicas de economia)Excedente de consumidor e produtor ( dicas de economia)
Excedente de consumidor e produtor ( dicas de economia)Egas Armando
 
Introdução à linguística - linguagem, língua e linguística
Introdução à linguística - linguagem, língua e linguísticaIntrodução à linguística - linguagem, língua e linguística
Introdução à linguística - linguagem, língua e linguísticaMaria Glalcy Fequetia Dalcim
 
Educação para a diversidade
Educação para a diversidadeEducação para a diversidade
Educação para a diversidadeFrancilene Duarte
 

Tendances (20)

Sociologia karl marx
Sociologia   karl marxSociologia   karl marx
Sociologia karl marx
 
Como fazer um fanzine
Como fazer um fanzineComo fazer um fanzine
Como fazer um fanzine
 
Karl marx – concepções na educação
Karl marx – concepções na educaçãoKarl marx – concepções na educação
Karl marx – concepções na educação
 
Pragmática
PragmáticaPragmática
Pragmática
 
Respostas mankiw - capítulo 5 (superior)
Respostas mankiw  - capítulo 5 (superior)Respostas mankiw  - capítulo 5 (superior)
Respostas mankiw - capítulo 5 (superior)
 
Linha do tempo: “Sociologia da Educação: Uma análise de suas Origens e Desenv...
Linha do tempo: “Sociologia da Educação: Uma análise de suas Origens e Desenv...Linha do tempo: “Sociologia da Educação: Uma análise de suas Origens e Desenv...
Linha do tempo: “Sociologia da Educação: Uma análise de suas Origens e Desenv...
 
Metodo em Marx
Metodo em MarxMetodo em Marx
Metodo em Marx
 
Economia aula 7 - a macroeconomia keynesiana
Economia   aula 7 - a macroeconomia keynesianaEconomia   aula 7 - a macroeconomia keynesiana
Economia aula 7 - a macroeconomia keynesiana
 
Classes sociais
Classes sociaisClasses sociais
Classes sociais
 
Introdução à Ciência Política
Introdução à Ciência PolíticaIntrodução à Ciência Política
Introdução à Ciência Política
 
Respostas Mankiw - Capítulo 13 (Superior)
Respostas Mankiw - Capítulo 13 (Superior)Respostas Mankiw - Capítulo 13 (Superior)
Respostas Mankiw - Capítulo 13 (Superior)
 
A Educação no Brasil no Período da Segunda República
A Educação no Brasil no Período da Segunda RepúblicaA Educação no Brasil no Período da Segunda República
A Educação no Brasil no Período da Segunda República
 
Cultura um conceito antropológico
Cultura  um conceito antropológicoCultura  um conceito antropológico
Cultura um conceito antropológico
 
Dialética do iluminismo
Dialética do iluminismoDialética do iluminismo
Dialética do iluminismo
 
Os Clássicos da Sociologia (Émile Durkheim)
Os Clássicos da Sociologia (Émile Durkheim)Os Clássicos da Sociologia (Émile Durkheim)
Os Clássicos da Sociologia (Émile Durkheim)
 
Plano Bimestral de Filosofia 1º, 2º e 3º ano
Plano   Bimestral de Filosofia 1º, 2º e 3º ano Plano   Bimestral de Filosofia 1º, 2º e 3º ano
Plano Bimestral de Filosofia 1º, 2º e 3º ano
 
Excedente de consumidor e produtor ( dicas de economia)
Excedente de consumidor e produtor ( dicas de economia)Excedente de consumidor e produtor ( dicas de economia)
Excedente de consumidor e produtor ( dicas de economia)
 
Introdução à linguística - linguagem, língua e linguística
Introdução à linguística - linguagem, língua e linguísticaIntrodução à linguística - linguagem, língua e linguística
Introdução à linguística - linguagem, língua e linguística
 
Método Paulo Freire com Imagens
Método Paulo Freire com ImagensMétodo Paulo Freire com Imagens
Método Paulo Freire com Imagens
 
Educação para a diversidade
Educação para a diversidadeEducação para a diversidade
Educação para a diversidade
 

Similaire à Poder simbólico de Bourdieu e construção do objeto científico

T10 observação metodologia, 2003
T10 observação metodologia, 2003T10 observação metodologia, 2003
T10 observação metodologia, 2003Elisio Estanque
 
Fichamento do texto 2 sandra
Fichamento do texto 2 sandraFichamento do texto 2 sandra
Fichamento do texto 2 sandrapibidsociais
 
Ciência,epistemologia e pesquisa educacional
Ciência,epistemologia e pesquisa educacionalCiência,epistemologia e pesquisa educacional
Ciência,epistemologia e pesquisa educacionalThiago De Melo Martins
 
28978148 miriam-limoeiro-cardoso-o-mito-do-metodo
28978148 miriam-limoeiro-cardoso-o-mito-do-metodo28978148 miriam-limoeiro-cardoso-o-mito-do-metodo
28978148 miriam-limoeiro-cardoso-o-mito-do-metodoJose Rocha
 
A epistemologia crítica
A epistemologia críticaA epistemologia crítica
A epistemologia críticaElisngela9
 
Fund.da pesquisa em educação
Fund.da pesquisa em educaçãoFund.da pesquisa em educação
Fund.da pesquisa em educaçãoflor Oliveira
 
Resenha: Um discurso sobre as ciências / Como se faz uma tese
Resenha: Um discurso sobre as ciências / Como se faz uma teseResenha: Um discurso sobre as ciências / Como se faz uma tese
Resenha: Um discurso sobre as ciências / Como se faz uma teseJuliana Gulka
 
Ciencia e epistemologia: reflexões necessárias à Pesquisa Educacional - Revi...
Ciencia e epistemologia: reflexões necessárias à Pesquisa Educacional  - Revi...Ciencia e epistemologia: reflexões necessárias à Pesquisa Educacional  - Revi...
Ciencia e epistemologia: reflexões necessárias à Pesquisa Educacional - Revi...Paulo Lima
 
Fichamento Olga Pombo
Fichamento Olga PomboFichamento Olga Pombo
Fichamento Olga PomboJessica Cunha
 
Arquétipo social max weber
Arquétipo social max weberArquétipo social max weber
Arquétipo social max weberCristianeM
 
Campo cientifico bourdieu (1)
Campo cientifico bourdieu (1)Campo cientifico bourdieu (1)
Campo cientifico bourdieu (1)Senshi11
 

Similaire à Poder simbólico de Bourdieu e construção do objeto científico (20)

04 artigo+2 (1)
04 artigo+2 (1)04 artigo+2 (1)
04 artigo+2 (1)
 
A metodologia nas ciências sociais
A metodologia nas ciências sociaisA metodologia nas ciências sociais
A metodologia nas ciências sociais
 
T10 observação metodologia, 2003
T10 observação metodologia, 2003T10 observação metodologia, 2003
T10 observação metodologia, 2003
 
Fichamento do texto 2 sandra
Fichamento do texto 2 sandraFichamento do texto 2 sandra
Fichamento do texto 2 sandra
 
Ciência,epistemologia e pesquisa educacional
Ciência,epistemologia e pesquisa educacionalCiência,epistemologia e pesquisa educacional
Ciência,epistemologia e pesquisa educacional
 
28978148 miriam-limoeiro-cardoso-o-mito-do-metodo
28978148 miriam-limoeiro-cardoso-o-mito-do-metodo28978148 miriam-limoeiro-cardoso-o-mito-do-metodo
28978148 miriam-limoeiro-cardoso-o-mito-do-metodo
 
A epistemologia crítica
A epistemologia críticaA epistemologia crítica
A epistemologia crítica
 
Apresentação Metodologia do Trabalho Científico
Apresentação Metodologia do Trabalho CientíficoApresentação Metodologia do Trabalho Científico
Apresentação Metodologia do Trabalho Científico
 
Fund.da pesquisa em educação
Fund.da pesquisa em educaçãoFund.da pesquisa em educação
Fund.da pesquisa em educação
 
Fichamento - Eunice
Fichamento - EuniceFichamento - Eunice
Fichamento - Eunice
 
Resenha: Um discurso sobre as ciências / Como se faz uma tese
Resenha: Um discurso sobre as ciências / Como se faz uma teseResenha: Um discurso sobre as ciências / Como se faz uma tese
Resenha: Um discurso sobre as ciências / Como se faz uma tese
 
Ciencia e epistemologia: reflexões necessárias à Pesquisa Educacional - Revi...
Ciencia e epistemologia: reflexões necessárias à Pesquisa Educacional  - Revi...Ciencia e epistemologia: reflexões necessárias à Pesquisa Educacional  - Revi...
Ciencia e epistemologia: reflexões necessárias à Pesquisa Educacional - Revi...
 
Resenha weber
Resenha weberResenha weber
Resenha weber
 
A fenomelogia
A fenomelogiaA fenomelogia
A fenomelogia
 
Fichamento Olga Pombo
Fichamento Olga PomboFichamento Olga Pombo
Fichamento Olga Pombo
 
Arquétipo social max weber
Arquétipo social max weberArquétipo social max weber
Arquétipo social max weber
 
A03v17n3
A03v17n3A03v17n3
A03v17n3
 
Artigo aportes para nova visada.... anais compós
Artigo aportes para nova visada.... anais compósArtigo aportes para nova visada.... anais compós
Artigo aportes para nova visada.... anais compós
 
Metodologia
MetodologiaMetodologia
Metodologia
 
Campo cientifico bourdieu (1)
Campo cientifico bourdieu (1)Campo cientifico bourdieu (1)
Campo cientifico bourdieu (1)
 

Poder simbólico de Bourdieu e construção do objeto científico

  • 1. O poder simbólico de Pierre Bourdieu O autor convida o leitor à uma sociologia reflexiva, cuja trajetória permite uma postura realista, orientada para otimização do uso dos recursos, especialmente do tempo disponível para a pesquisa. Embora, como alega o próprio Bourdieu, o homo academicus goste do acabado, o texto em questão, resultado de um seminário, propõe-se a apresentar os processos do trabalho de pesquisa, o seu know-how. Para ele, o estado da arte nas Ciências Sociais encontra-se na capacidade de teorizar sobre objetos empíricos aparentemente insignificantes, construindo assim um objeto. Para construir um objeto, contudo, faz-se necessário questionar suas pré- noções antes de aprender o modus operandis da produção científica, porque a única maneira possível de adquirir esse conhecimento é através da observação prática de como reage este habitus científico. A transmissão do habitus pode se dar por indicações práticas ou correções feitas na prática. Uma das coisas mais importantes na pesquisa científica é exatamente a construção do objeto do conhecimento, através da união de opções teóricas e técnicas empíricas, que podem ser multivariadas, a fim de quebrar o monoteísmo metodológico e jogar novas luzes sobre diversos ângulos do mesmo prisma. O cientista social deve estar atento aos por menores dos procedimentos da pesquisa, posto que, a construção do objeto “é um trabalho de grande fôlego, que se realiza pouco a pouco, por retoques sucessivos, por toda uma série de correções, de emendas, sugeridos por o[sic] que se chama ofício, quer dizer, esse conjunto de princípios que orientam as ações ao mesmo tempo minúsculas e decisivas”. ( p. 27) O primeiro preceito do método está relacionado à noção de campo, alertando o sociólogo que se deve pensá-lo como um espaço de relações de forças entre posições sociais, que vão sendo desvendadas pelo pesquisador. O grande risco de se cair na armadilha das pré-noções para o pesquisador é não conhecer sua verdadeira motivação de interesse acerca do objeto que estuda. Èpreciso cercar-se de ceticismo, questionar todos os seus pressupostos e
  • 2. variáveis possíveis, numa atitude ativa e sistemática, alicerçado não só na intuição racional, como também no raciocínio analógico. Bourdieu aponta a necessidade de rupturas epistemológicas, considerando a dificuldade dessa quebra de paradigmas na medida em que estas foram fundamentadas por um corpo de profissionais. A profissão no saber científico é uma “construção social, produto de todo um trabalho social de construção de grupo e de uma representação dos grupos”, (p.40) os quais possuem um ritual próprio – listas feitas, documentação, procedimentos – para estudar determinados objetos. Desta forma, têm-se uma aparência de cientificidade, sem empreender o verdadeiro trabalho científico, que é a construção do próprio objeto de estudo. A objetivação participante oferece essa possibilidade de ruptura, porquanto implica em adesões mais profundas e inconscientes sobre o interesse no próprio objeto para o pesquisador que o estuda. É o conhecimento da relação pesquisador-objeto e dos próprios limites da objetivação objetiva, posto que o espaço da interação épré-construído, guardando em si seus ditos e interditos. “As estratégias discursivas dos diferentes atores, e em especial os efeitos retóricos que têm em vista produzir uma fachada de objetividade, dependerão das relações de força simbólicas entre os campos e dos trunfos que a pertença a esses campos confere aos diferentes participantes ou, por outras palavras, dependerão dos interesses específicos e dos trunfos diferenciais que, nessa situação particular de luta simbólica pelo veredito neutro, lhes são garantidos pela sua posição nos sistemas de relação invisíveis que se estabelecem entre os diferentes campos em que eles participam”. (p.56) Destarte, a relação do sociólogo com o seu objeto deve ser objetiva, consciente de suas motivações e interesses sobre o referido objeto, a fim de estabelecer condições mínimas de ruptura com os modelos prontos para que não se incorra numa visão parcial e reducionista com ares de ciência. BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. 2. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999. Postado porDaniela de Oliveira Gomesàs08:27