2. A toda a minha família, filhos, esposa, irmãos,
aos meus amigos, sobretudo à minha Mãe, pela
sua coragem de lutar e de existir como figura
ímpar em nossas vidas.
2
7. Este magma que brota no
chão do peito meu
E incrusta as pedras
Que brilham dos olhos
teus.
7
8. Eu deixarei que vás
Porque sempre tu fores
E a tua saudade é minha chaga.
Eu ficarei à margem
do rio das minhas lágrimas,
pranto inútil derramado por ti.
No vulcão que é meu peito,
amor sufocado espera ansioso um fim
para que desapareças dos dias meus.
Na ansiedade de todas as horas
imaginei-te como o quentume das minhas veias
E o clarão das minhas retinas.
Mas fostes apenas pó que o vento levou
História que o tempo apagou
E água que o rio caudaloso e triste levou.
8
9. Salve, meu Mestre
Bandeira, Manuel
Bandeira, no alto pendurada na paisagem campestre
Assim bem perto do céu
Entre violetas e miúdas flores silvestres.
Poeta maior deste Brasil
Bandeira,
Manuel,
Atrás dos montes
Numa clareira,
O cheiro das tuas chagas e fel
Emana
pedaços do teu corpo; nas fontes
Caem com o perfume de uma brisa de abril
Salve Bandeira
Poeta das mãos mágicas
Da existência humana
Das canções para o ego e para a derradeira;
Esperança do homem de amar
Poeta das paixões trágicas
Dos amores puros e da beleza rara de se dar.
Salve Manuel.
Essa bandeira
Esse Manuel.
9
10. Sinto no meu peito se abrindo
Um crepúsculo de cores vivas
Dias puros estão por vir
Na amplidão dos dias amenos
Encho-me coragem
E vou à luta em profundidades latentes
Nas janelas,
As mulheres castas
Espiam com seus olhares abrasadores
Pelas ruas,
Os cães ladram nos espaços vãos
O sol já se acha em entorpecido quentume
Caminho por cima de pedras, poeira
Navego depois em águas turvas
Mas deleito ao vento
Delícias puras
E antes que venham as brumas
A cismar em desejos,
Eu digo adeus
E sozinho vou levando essa minha insana alegria
1981
10
11. Passarim veio contar
Que do outro lado
Do brejo do fundão
Meu amor chamou pra história eu escutar
E eu cá deste lado, respondi, meio atormentado
Vai ligeiro, passarim, e peça a ela perdão
Porque aqui sofro de saudade malvada
Não desse tempo de hoje um tanto ruim
Mas daquele que passou, de beleza esparramada;
Nos campos em flor, tempo de pouco não e muito sim
Vai Passarim . . .
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12. Descerra-seo véu negro danoite
E o diasevai,fulguranteluz
Nosseusclaros, azuis
Jáéquasesolidão, esseaçoite;
Queno meu pensamento desfaz
A alegria
Daquelecalmo dia
Somentealembrançadeti mesatisfaz
Então eu espero umaoutranoitedeluar
Naansiedadedo meu coração
E o novo clarão
Queanoitehádenovo sobrepujar;
Levaráumacertezadeamor
Nasondasdo mar
E em umaconchahádeficar
Como um segredo eterno em seu louvor.
12
13. O candelabro inerte resplandece a luz
Na incerteza do clarão
Que emana ora de ti, ora da lua
Cravando no chão, sua sombra reflete
Sua aparência calma que seduz.
Candelabro, que sorte é a tua
Em teu redor baila toda beleza alada
E ainda iluminas toda a vastidão nua
No teu lume,
A criança noite sorri
E brinca o inocente vaga-lume.
Candelabro,
Dai-me notícias daqueles amores
Vê se me ouves
Na calada destas madrugadas
E me traz lembrança
Do cheiro de noite estrelada
Deixa me esquecer de uma alegria já morta
Para que eu possa ter paz
E deixar entrar livre
Os amores em minha porta.
13
14. Minhabelaflor
Pequeninano seu espaço
Deolhar doce, eum odor
Depétalaao vento; num compasso
Bailanaquelesseuslimites
Ali no résdo chão
Sem dono ou senhor dosseuspalpites
Não existeregraali naquelevão
Seu olhar em cimabuscaum ponto
No clarão
Deoutro olhar eqüidistante, tonto
Nosso, naindiferença
Decadadia, naincompreensão
Depoder apreciá-la no seu mundo ecrença
14
15. Eu queria fazer uma canção para todas as avós
Todas, com suas cãs parecendo neve a derramar.
Eu queria fotografar seus sorrisos,
Gravar suas preces,
E distribuir por este mundo tão esquecido de Deus.
Eu queria fazer uma canção
Onde todas as avós pudessem afagar,
Acalentar com seus amores
Todas as crianças do mundo.
Eu queria ver em suas frontes tão calmas
Aqueles olhares de infinita bondade e luz
E que eles pudessem seguir na escuridão nossa de todo dia
A nos consolar, e nos fazer compreender mais uns aos outros.
Eu queria fazer esta canção
Num silencio de uma noite estrelada
E imaginar o céu as acalentando no seu véu
Eu queria senhor
As preces de todas as avós.
A penetrar nos nossos sonhos
Para que as nossas manhãs fossem mais cheias de esperança
E que no nosso dia a dia fôssemos mais irmãos
Eu queria senhor, eu queria
Na janela olhar o horizonte
E a cismar de saudade
Abraçar todas as avós
Abraçar com carinho de filho e de neto
Porque afinal avó é mãe, duas vezes.
15
16. Parlando a viento
En una mañana
Con el corazón
Y seguindo caminõs
De la vida
Recuerdo el condor
Volando las densas brumas
16
17. Com a semente do sorriso
Eu plantei um pé de amigos.
Assim, nas manhãs calmas dos dias,
Eu saboreio os frutos de minha doce colheita.
17
18. Pálidaluamatutina
Estonteadaaindavaga
Divorciadadanoite, sepõeem ansiedadevespertina.
A espiar asmanhãsnascendo nasplagas
Lápelasbandasdo sertão
O gado pasta
Pelosespaçosermosdaamplidão
Ondearelvasaúdao orvalho etudo ao belo searrasta
Asfloresjádesabrocham, jogando no ar um mistério deodores.
E láem cima, taciturna.
Tu, luapálida, sem amores.
Em seusmeneios
E cansadadafarranoturna
Teesvaisem devaneios
Pompéu – agosto de 1981
18
19. 19
Uma prece
Para minha Mãe
Ela olha o horizonte com uma prece
Na mão, as pequeninas contas;
Esfrega, aquece.
O coração bate esperança
Fincada no céu
Por trás das nuvens.
No seu caminho não existem barreira, um muro
Que pare o curso
Do rio caudaloso da sua vida
E o fel se torna doce lembrança
Daqueles dias amenos
De outrora
Na aurora da sua vida
Da sua infância
Seus folguedos
Ela, dona dos seus brinquedos
Se eu pudesse
Dar-te-ia minhas noites de sonhos
Em troca dos seus dias de penúria
Se eu pudesse
Colocaria no ar que respiras
O perfume de todas as flores
E te daria a força de somados amores.
20. parao Paulinho eaIsabela
Eleolhaalua
E pergunta:
Pai, eu posso ir atélá!
Eu respondo meio sem jeito:
Talvez, meu filho, talvez ...
Quem sabenumanoitedesonhos
Embaixo dosteusraiosinebriantes.
Elaolhaasestrelasetambém pergunta:
O queéisso pai?
E eu respondo maisaindasem jeito:
São osolhosdanoite!
Elesenxergam pelaluz deDeus.
Eu digo:
É horadedormir
E eles:
Vamosficar maisum pouco!
É tão bom olhar alua, as estrelas. . .
E assim, nabelezadanoite,
Ficamosali aespreitar o céu.
Quem sabeàespera
Do novo clarão
Parabem cedo, nosprimeirosraiosdamanhã,
Nóstrês;
A espiar aspequenasnuvensdealgodão.
20
21. Éafiada
A lâmina das palavras
E elas cortamo coração
Minha amada,
Ouve esse lamento e então
Te calas e venha me amar
Não tragas saudade
Nema passagempara a volta
Aqui hás de ficar
Semmaldade,
E então sairemos para vero pôr do sol
E todo perfume que o vento das flores sopra
Hás de ter uma mensagem
Ao nosso amoriluminado
Para o fimde nossas dores
Dos nossos rancores.
E assim
Na beleza do arrebol
Eu hei de sero teu amado
E hás de me amarenfim.
21
22. 22
Das entranhas noturnas
Veio-me como um raio
Com o fogo dos amantes e uma calma soturna
Trazias um sorriso a desmanchar no lábio
Fez da rua vaga a passarela
Nos olhos um lume de quase mágica
Luzindo cores de uma pequena aquarela
Fez cena e ensaiou uma comédia trágica
Rompeu e fez do fim da noite
Um drama de um ato só
Sem violência e nem açoite
Acenou-me a dizer adeus
Então meus olhos com lágrimas a dar dó
Fitaram pela última vez os teus
23. Eu mudo de emprego
De amigos mudo
De rumo
De mulher
De vida
Mudo a roupa
A posição
As cores
Os amores
Os rancores
Eu mudo
De estação
De modos
Mudo o caminho
O sistema, tento
O olhar
E de tanto mudar
Mudei,
Parei de mudar.
23
24. Nas trilhas
Desta vida
Minha amada
Minha querida
Vou fazendo meus versos
E no silencio de uma noite estrelada
Eu os enfeito de amor
Para ti em redondilhas.
Domingo, inverno de1998
24
25. Atrásdascidadesnuas
Vejo um sexo deconcreto
E um cheiro miserável desedução
Anunciao aumento dapopulação
A céu aberto,
Nosbecoseruas,
No flagelo destascoisascotidianas
Segueo tempo preciso
Estável saber
E conciso
Destascoisasmundanas
Fecho minhaspálpebrasevou sem nadadizer
25
28. Aqui jaz umaflor
Quedeum jardim foi arrancadasem dó
Elaqueperfumou a mulher ealiviou ador
Agorarepousasem vidaesó
Elaquenasceu naaurora
Desabrochou ao vento
Emudecidaseencontraagora
Naescuridão, sem alegriasou tormento
Aqui jaz aflor
Queem vidasefez em alegrias
Distribuindo belezaetambém odor
Descansadaem paz eagradecida
Ao orvalho altaneiro, por todosos dias
A companhia, eàterraúmidaaacolhida.
28
30. Sou a força dos braços,
mente,
Sou a força do corpo
Caminhos, sou esquinas
A noite.
Sou livre no ar
E solto na vida
Amigos, eu os acho nos
bares
Nos lares, amigos do
peito
Sou transeunte cansado
Descansado
In – satisfeito
Sou a cidade pela manhã
No seu orvalho
Cheirando a concreto
Sou canção
O pão
De todo dia
De todo nada
Sou América
Sou o povo
O pouco
O Muito querer
De nada ter
E ser felizardo desta
miséria
Sou um filho
Pedaço sofrido do chão
Desta América mãe
América de todos
De tudo,
30
31.
O queéo amor ?
Ó Deusperdoai
Em mim essadúvidaqueafligeminhaalma
Faça– mesabedor
Do queésimplesmenteamar
Não façasqueeu queira
Aquilo queàsvezesnão posso receber,
Nem dar.
91
31
32. Meu filho vem
Mas ainda está no formão
Cada braço, perna, mão
Leva o toque do artesão
Suas formas todas inspiram o mestre
Vem filho
Faz desabrochar este velho sorriso
Faz-me lembrar de ti
Na noite infinda
Do sonho,
Como se fosse a última vez
Vem
Acalanta-me
Me faz dormir
Apascentantado no regaço de tua mãe
Descansado d’alma
E com o espírito a sorrir
Não importa a lerdeza do tempo
Vem!
Traz a bandeira da liberdade
Incrusta a beleza
Nesse caminho tão cheio de maldade
32
Vem!
Pois terá em ti
A garra do bravo
Que vem de fêmea tão pura
E que de encanto
Não verás igual criatura
Vem !
E a chamarás de Mãe
Vem !
Pois os meus braços
Anseiam os teus
Eles tão cálidos
Como os dos anjos
Vem !
Oh forma de minha forma
Da forma de tua Mãe
Da forma de Deus
Vem!
Ser o outro passo de nossos passos
Vem . . .
06/12/94
33. Meu afilhado sorri
E duas covinhas logo aparecerem radiantes
Ele corre, salta
E pula aos montes
Exibe uma travessura aqui,
Outra ali
Os espaços do chão
Conhece cada palmo
Como a palma da mão
Se queres dele um carinho
É só levar a face até as tuas mãos
E está prontinho
Um carinho fresquinho
Seu nome é Lucas
Podem chamá-lo de Luquinha
Que rima com gracinha
Ele não gosta de palmadas na bundinha
Só entra numa bagunça se for convidado
Já tem dois anos
E já está rapaz
Ainda não namora
Mas pra ele tanto faz
Ele só quer é ser traquinas
A tempo e a hora
Gente muito boa o Luquinha
Por isso toda a turminha
Se põe a cantar
O Luquinha é bom companheiro
O Luquinha é bom camarada
Ninguém pode negar
95
33
Dedicado ao Lucas(meu afilhado)
34.
Caía à tarde
Cinzenta e triste
E fria
Um corpo tombava
Arquejava
Meu velho Pai
Em agonia
Da vida madrasta se despedia
Meu Deus,
Dai-lhe
Um lugar aí bem perto do senhor
Um lugar prá descansar
Ele que viveu entre nós
Na labuta e com furor
Dai-lhe também senhor, o perdão.
A sua compaixão,
Senhor
Dê-lhe amor
Esse que sai do coração
Não o deixe padecer
Senhor
Ou perecer
Dai-lhe
Alegria
Como aquela
34
Da face de uma criança a brincar
Dai-lhe senhor
Esperança
Toda noite, todo dia.
Não o deixe senhor
Esquecer os filhos
Nem da minha mãe senhor
Coloque seus pés no rumo certo
Nos trilhos
Faça seus olhos
Enxergarem longe, bem longe.
O esplendor
E que a vida
Por aí seja longa, e bela.
Infinda
E ainda
Que lhe seja boa à acolhida
37. Umabaladatristenanoite
Eu ouço - teuspassosno tapete
E o uníssono tiquetaquenaparede
É brevecanção aosmeusouvidos.
É noiteestrelada
E o cheiro deum corpo macio eaveludado
Com suasformasparecendo regidaspela
FilarmônicadeLondres, - adentraacalmariademinh'álma
Noitedeluar
Teusolhosbrilhavam como luz naescuridão
Meusabraçosesperavam deti o alento
minhasnarinassepreparavam para o teu doceodor.
Quando enfim chegaste
Trazianasilhuetasilenciosaebela
O enfado, mistério.
Olhou-me, fitou minhaspupilas
E com o maiscândido dossorrisos
Beijou-meesefoi pranuncamais.
2008
37
38. Você queria
Minha Isabela
Minha doce Isabela
Já bem mais cedo dar o ar de
sua graça
E tão cheia de graça chegou
Trazendo no teu corpo frágil
O motivo de nossa tamanha
alegria
A vida passa
E te vais tomando
Da forma mais encantadora
O vento que nos trouxe
apreensão
Também para longe a levou
E assim vamos te olhando
Namorando-te
Doce Isabela
Minha doce Isabela
Isa...
... Tão bela
38
Que um dia hás de ser mais bela e sedutora
Belinha
Bebela
Criaturinha
Melodia do meu canto
Meu encanto
Amo-te
De amor mais profundo
Do fundo
De todas as minhas energias
Acumuladas ao longo de tua espera
Amo-te por aqueles dias
Que hoje
Como num quadro na parede
Apenas lembra uma saudade
Porque hoje já és presente
Neste coração
Que chora e sente
Por ti toda paixão.