O documento discute conceitos fundamentais da métrica e da versificação poética em português, como metro, escansão, classificação dos versos de acordo com o número de sílabas, tipos de rima, aliteração e assonância. Também apresenta exemplos de formas fixas como soneto e balada.
Metro, Ritmo e Rima: Uma Análise da Estrutura Poética
1. Metro, Ritmo e Rima
• Metro: é o nome que se dá à extensão da linha poética. Pela contagem de
sílabas de um verso, podemos estabelecer seu padrão métrico e suas unidades
rítmicas.
• Escansão é a contagem das sílabas de um verso. A seguir, as regrinhas para
se escandir versos:
1) Na contagem das sílabas métricas, contamos até a última sílaba tônica e
desprezamos a
sílaba ou sílabas átonas finais. Diante disso, ao encontrarmos um vocábulo
paroxítono não
contamos a última sílaba (en/ con/ tro). Nas proparoxítonas, desprezamos, para
efeito de
contagem, as duas últimas sílabas (cá/ lido).
2) Quando houver encontro de vogais (vogal no fim de uma palavra e outra
vogal no início
do vocábulo seguinte), formando um ditongo, conta-se apenas uma sílaba
métrica:
3) Ditongos crescentes forma uma única sílaba métrica: ma/ li/ cia; tê/ nue.
4) Os hiatos permanecem com suas vogais separadas - e estas constituem
sílabas métricas: cru/ el ; vô/ o.
Classificação do verso quanto ao número de sílabas:
• monossílabos • dissílabos • trissílabos • tetrassílabos
• pentassílabos (ou redondilha menor/medida velha)
• hexassílabos (heroico quebrado)
• heptassílabos (redondilha maior/medida velha)
• octossílabos • eneassílabos • decassílabos (medida nova)
• hendecassílabos • dodecassílabos (ou alexandrinos)
Além de 12 sílabas métricas, temos versos bárbaros.
QUANTO À DISPOSIÇÃO DAS RIMAS NA ESTROFE/ESTÂNCIA, TEMOS:
Emparelhadas ou paralelas- AABB
Rima intercaladas, opostas ou interpoladas - ABBA
Rima cruzadas, entrecruzadas ou alternadas - ABAB
Rima misturadas – ABCBA
Rimas encadeadas: rima o final do verso com o interior do verso seguinte.
2. Ex.: Quanto, ó Ninfa, é venturosa
Essa rosa delicada!
Invejada no teu peito,
Satisfeito a vê o Amor.
QUANTO AO SEU VALOR/QUALIDADE:
Rima rica - as palavras que rimam são de diferentes classes gramaticais:
Ex.: atento/ pensamento (adjetivo e substantivo)
Rima pobre - as palavras que rimam pertencem à mesma classe gramatical:
Ex.: fazer/ dever (verbo e verbo); canto/pranto. (Subst. e substantivo)
Porém, se num terceiro verso se acrescentar uma rima de outra classe
gramatical, o conjunto das rimas se torna rico: canto/ pranto/ tanto.
Rima preciosa — extirpe/ estirpe; há-de/ saudade; estrela/ vê-la.
QUANTO À TONICIDADE OS VERSOS PODEM SER:
a) agudos/masculinos, terminados em palavra oxítona (em que a sílaba tônica
é a última). Exemplo: "seria uma rima, não seria uma solução." (Drummond)
b) graves/femininos, terminados em palavra paroxítona (em que a sílaba
tônica é a penúltima).
Exemplo: "Aonde viessem pousar os passarinhos!" (Mário Quintana)
O verso grave é o mais comum na língua portuguesa, uma vez que a maioria das
palavras do nosso vernáculo é paroxítona.
c) esdrúxulos, terminados em palavra proparoxítona (em que a sílaba tônica é a
antepenúltima). Exemplo: "Vou-me embora pra Pasárgada" (Manuel Bandeira)
FORMA ESPECIAL DE RIMA -
Aliteração - consoantes de som idêntico que se repetem:
Rara, rubra, risonha, regia rosa. (Felix Pacheco)
3. Assonância - vogais que se repetem: É um pássaro, é uma rosa, É o mar que
me acorda? (Eugênio de Andrade)
ESCANSÃO/EXEMPLO
Es / tou / te / es / pe / RAN / do – 6 (Sílabas. Gramaticais)
Es / tou / te-es / pe / RAN / do – 5 (Sílabas poéticas.)
Mesmo número de sílabas métricas/poéticas = versos regulares/tradicionais.
Número diferente de sílabas métricas/poéticas = versos irregulares ou livres.
Quando não ocorre rima entre os versos de um poema, diz-se que são brancos.
QUANTO À QUANTIDADE DE VERSOS FORMADORES NA ESTROFE, TEMOS:
1) Estrofe de Verso Único ou Monóstico.
2) Estrofe Dístico – Estrofe com dois versos.
3) Estrofe Terceto – Contendo três versos.
4) Estrofe Quadra/quarteto – Possui quatro versos.
5) Estrofe Quintilha – Possui cinco versos.
6) Estrofe Sextilha – Contendo seis versos.
7) Estrofe Sétima – Estrofe com sete versos.
8) Estrofe Oitava – Contém oito versos.
9) Estrofe Nona – É feita com nove versos.
10) Estrofe Décima – Contendo dez versos.
11) Estrofe Livre ou Estrofe Polimétrica – Estrofe que apresenta mais de 10
versos. Estrofe irregular.
FORMAS FIXAS:
Soneto: poema formado por dois quartetos e dois tercetos, geralmente
composto por versos decassílabos e de conteúdo lírico;
Balada: poema formado por três oitavas e uma quadra;
Rondel: poema formado por duas quadras e uma quintilha;
Rondó: poema com estrofação uniforme de quadras;
Sextina: poema formado por seis sextilhas e um terceto;
Indriso: poema formado por dois tercetos e dois monóstico.
Trova: poema monostrófico de quatro versos heptassilábicos.
Haicai: poema monostrófico com três versos: dois pentassilábicos e um
heptassilábico (o segundo).
4. ANÁLISE DO POEMA (ESTRUTURA E CONTEÚDO)
MOTIVO (Cecília Meireles)
Eu canto porque o instante existe Se desmorono ou se edifico,
e a minha vida está completa. se permaneço ou me desfaço,
Não sou alegre nem sou triste: - não sei, não sei. Não sei se fico
sou poeta. ou passo.
Irmão das coisas fugidias, Sei /que/ can/to. E a /can/ção/ é /tu/(do).
não sinto gozo nem tormento. Tem/ san/gue e/ter/no a a/as/ rit/ma/(da).
Atravesso noites e dias E um/ di/a/ sei /que es/ta/rei/ mu/(do):
no vento. - mais/ na/(da).
A estrutura do poema mostra que cada estrofe possui 3 primeiros versos
com 8 sílabas e o final com duas. Isso acontece em todas elas. Assim:
(1) Eu /can/to/ por/que-o-ins/tan/te-e/xis/te – 8 A
(2) e-a/ mi/nha/ vi/da-es/tá/ com/ple/ta. – 8 B
(3) Não/ sou/ a/le/gre/ nem/ sou/ tris/te: – 8 A
(4) sou/ poe/ta. – 2 B
A estrofe é irregular, pois há número diferente de sílabas
poéticas no último verso.
Oito sílabas métricas = denominado verso octossílabo.
Quanto à disposição das rimas (ABAB), são denominadas
cruzadas.
A= Rica (verbo+adjetivo) e feminina/grave (paroxítona).
B= Rica (adjetivo +substantivo) e feminina/grave
(paroxítona).
Verso irregular o quarto e regulares os três primeiros. Temos
um quarteto.
5. ANÁLISE DO POEMA (conteúdo e estrutura)
Logo que iniciamos a leitura do poema, notamos que é todo elaborado
em primeira pessoa, trata-se do ―eu‖ lírico, que se refere à subjetividade, ao
íntimo, à descrição dos sentimentos. Observemos este exemplo.
Eu canto porque o instante existe
E a minha vida está completa
Notamos também a presença de vários predicativos do sujeito,
referindo-se à subjetividade do ―eu‖ lírico. Exemplificando:
Não sou alegre nem sou triste:
Sou poeta.
No poema, como um todo, percebemos logo de início algumas das
principais características da poesia de Cecília Meireles, tais como leveza e a
delicadeza com que tematiza a passagem do tempo, a transitoriedade da
vida e a fugacidade dos objetos, que parecem intocáveis em seus poemas, com
uma linguagem altamente feminina, intuitiva e sensorial, decorrendo assim,
um certo tom melancólico dos mesmos.
Exemplo:
Irmão de coisas fugidias
Atravesso noites e dias no vento
No último terceto do soneto, primeiro verso, há aliteração, o que sugere o
ritmo da batida do coração, quando eterniza a música, a canção, enquanto a
assonância da vogal /a/ sugere um sentimento de alegria do ―eu‖ lírico.
Na primeira estrofe, o ―eu‖ lírico dá importância ao tempo presente, à
criação do seu poema. Afirma que o poeta declara os sentimentos para as
pessoas, mas o poeta é imparcial.
No terceiro verso desta estrofe há uma antítese entre “alegre” X
“triste”.
O ―eu‖ lírico se contenta em ser apenas poeta, como afirma no quarto
verso deste quarteto, apesar de a sua existência ser triste.
Outra ocorrência importante e recorrente na obra de Cecília é o uso dos
verbos ―existir‖ e ―ser‖, que sugerindo o tom existencialista de Cecília
Meireles.
Na segunda estrofe, chama a atenção ao valor que se dá às coisas
passageiras, para que não nos prendamos a elas, pois passam como o
vento. Deve -se agir como o poeta, que é livre, como o vento. Logo, não
sente ―gozo‖ nem ―tormento‖.
Em seu primeiro verso há assonância dos fonemas /a/, /i/, /o/ e a
presença do fonema /s/, ocorrendo uma aliteração, que lembra a passagem do
tempo, de forma rápida, com um vento, como diz o ―eu‖ lírico.
6. Na terceira estrofe, percebemos um conflito interior, uma dúvida do ―eu‖
lírico, que não sabe qual decisão tomar: a de parar ou a de continuar. A
dúvida com relação a sua existência permanece na repetição da expressão ―Não
sei‖. Ocorre uma antítese entre as formas verbais ―fico‖ (terceiro verso) e
―passo‖ (quarto verso), pois a transitoriedade da vida mais uma vez é
questionada. As formas “fico” (terceiro verso) e “edifico” (primeiro verso)
estão rimando e nós podemos pensar que, enquanto vivemos, edificamos algo
na terra, de ordem espiritual ou material, mas quando ―passamos‖, tudo se
desfaz, como observamos na rima que acontece no segundo e no quarto versos.
Na quarta estrofe, o ―eu‖ lírico reafirma a importância dada ao
presente, ao tempo do ―agora‖, inicia- do na primeira estrofe, pois o poeta
continua a cantar e diz que a canção é tudo, assim como o poema, porque
são eternizados com o passar do tempo, assim como o voo ritmado das asas
dos pássaros (comparação), enquanto que ele e nós somos finitos - um dia,
ficaremos mudos e não seremos mais nada. A música, que muitos consideram
desnecessária, será e é eterna, como o espírito.
Esse poema é todo elaborado em antíteses, o que se pode observar
em: ―alegre‖ # ―triste‖; ―noite‖ # ―dia‖; ―desmorono‖ # ―edifico‖; ―permaneço‖ #
―defaço‖; ―fico‖ # ―passo‖.
Percebemos, então, que o poema é uma metáfora que representa a
fugacidade da vida e como as pessoas a deixam passar, sem dar o real
valor ao que realmente importa, também notamos a existência de um eufemismo
nos terceiro e quarto versos da última estrofe, pois se evita a palavra morte,
substituindo-a por uma expressão menos desagradável.
Vejamos:
E um dia sei que estarei mudo:
- Mais nada.
No segundo verso da quarta estrofe, aparece o hipérbato, que resulta
da inversão na ordem natural das palavras relacionadas entre si, realçando a
eternidade do espírito.
Analisemos:
Tem sangue eterno a asa ritmada
Na primeira estrofe, há a rima do primeiro e terceiro versos e do segundo
e do quarto versos (cruzadas). Na segunda estrofe ocorre o mesmo esquema:
primeiro e terceiro versos e segundo e quarto versos. Na terceira estrofe:
primeiro e terceiro versos. Na quarta estrofe: primeiro e terceiro versos e do
segundo e quarto versos.
Observamos, também, a existência da rima rica, ou seja, rimas entre
palavras de classes gramaticais diferentes, na primeira estrofe, o primeiro e
terceiro versos e segundo e quarto versos. Também, na segunda estrofe, o
primeiro e terceiro versos. No restante do poema, constata-se a presença da
rima pobre, isto é, rimas com palavras de classes gramaticais semelhantes.
7. Notamos a existência do cavalgamento em duas partes do poema, ou
seja, o sentido de um verso é interrompido no final do mesmo e vai completar-se
no próximo:
Não sou poeta nem sou triste:
Sou poeta.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se permaneço ou me desfaço
- Não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.
Ocorre a crase, ou seja, a fusão de sons semelhantes em:
Eu canto porque o instante existe
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E uma dia sei que estarei mudo:
O título Motivo pode significar uma esperança que o ―eu‖ lírico sente para poder
continuar vivendo, apesar de conscientemente saber que ela, a vida, é uma
passagem para um outro plano desconhecido.
EXERCÍCIO DE ESCANSÃO E CLASSIFICAÇÃO DE RIMAS
Escansão: Contagem de sílabas poéticas. Possui duas regras:
8. 1. Contam-se as sílabas até a última sílaba tônica do verso.
2. No encontro entre vogais pode ocorrer crase ou ditongação.
Rimas: podem ser classificadas quanto à disposição, quanto à
acentuação/tonicidade e quanto à classe gramatical (qualidade).
Exercício: faça a escansão de todos os poemas abaixo e classifique as rimas (de
acordo com a disposição, acentuação e classe gramatical dos poemas (qualidade)
1, 2, 5, 7, 9, 10, 11 e 12.
1. Gregório de Matos
Discreta e formosíssima Maria 2. Fernando Pessoa
Enquanto estamos vendo O poeta é um fingidor
claramente Finge tão completamente
Na vossa ardente vista o sol Que chega a fingir que é dor
ardente A dor que deveras sente.
E na rosada face a Aurora fria. Rimas:_____________________
Rimas:_____________________
3. Gonçalves Dias 4. Construção (Chico Buarque)
Esta noite – era a lua já morta -
Anhangá me vedava sonhar; Amou daquela vez como se fosse a última
Eis na horrível caverna, que Beijou sua mulher como se fosse a última
habito, E cada filho seu como se fosse o único
Rouca voz começou-me a E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
chamar.
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico.
Rimas:_____________________
Rimas: ____________________
5. Luís Vaz de Camões
Mas um velho de aspecto venerando,
9. Que ficava nas praias, entre a gente,
Postos em nós os olhos, meneando
Três vezes a cabeça, descontente,
A voz pesada um pouco alevantando
Que nós no mar ouvimos claramente
C’um saber só de experiências feito,
Tais palavras tirou do esperto peito: Rimas:__________________________
6. Carlos Drummond de Andrade
Com a chave na mão 7. Sílvia Araújo Mota
Quer abrir a porta,
Não existe porta;
Amadurecimento?
Quer morrer no mar,
Da lei, a aplicação?
Mas o mar secou; Riqueza, crescimento?
Quer ir para Minas, Progresso da Nação?
Minas não há mais,
José, e agora.
Rimas:_____________________
Rimas:____________________
8. João Cabral de Melo Neto 9. Gonçalves Dias
Um ferrageiro de Carmona, Já silva, já ruge do vento o pegão;
que me informava de um balcão: Estorcem-se os leques dos verdes palmares,
Volteiam, rebramam, doudejam nos ares,
“Aquilo? É de ferro fundido,
Até que lascados baqueiam no chão.
foi a forma que fez, não a mão.
Rimas:________________________
Rimas:_______________________
10. Alberto de Oliveira ―Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Estranho mimo aquele vaso! Vi-o, Perdeste o senso!‖ E eu vos direi, no
Casualmente, uma vez, de um perfumado entanto,
Contador sobre o mármor luzidio, Que, para ouvi-Ias, muita vez desperto
Entre um leque e o começo de um bordado. E abro as janelas, pálido de espanto…
Rimas:________________________ Rimas:________________________
11. Olavo Bilac
12. Augusto dos Anjos
10. Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera –
Foi tua companheira inseparável!
Rimas:____________________________________________________