O documento discute a evolução histórica das técnicas de comunicação, começando pela escrita ideográfica dos sumérios e hieroglífica dos egípcios, e depois a escrita alfabética dos fenícios e gregos. Também aborda o desenvolvimento da retórica na Grécia Antiga e como foi adotada e adaptada pelos romanos.
2. Relevância
Que técnicas de Comunicação?
As de Comunicação Social, mediatizada, por intermédio das quais
comunicamos uns com os outros, distintas das técnicas de Comunicação
interpessoal
Qual a relevância do estudo da evolução destas técnicas?
Pelo facto de que o recurso à História permite compreender:
o contexto social e cultural em que as técnicas de Comunicação surgem
(a construção social da sua invenção) e são utilizadas (a construção social
da sua utilização)
o modo como a Comunicação se impôs como um valor central e como
ideologia alternativa a ideologias políticas, passando de infra-estrutura a
super-estrutura
o papel que as técnicas de Comunicação desempenharam, evitando o
determinismo técnico
3. Duas tradições
na História da Comunicação
a cultura da argumentação:
subjectiva
condicional
persuasiva
a cultura da evidência:
objectiva
incondicional
demonstrável
4. A escrita,
técnica de transcrição da oralidade
Dois momentos decisivos na invenção da escrita, que assinalam:
a passagem de uma representação literal (imagem representa o
objecto) à representação abstracta (imagem representa fonemas
que, reunidos, indicam o objecto)
o afastamento progressivo da imagem como representação de
objectos para imagem como representação de fonemas
escrita ideográfica
escrita alfabética
5. A escrita ideográfica
Civilização Suméria (Mesopotâmia)
contexto: região fértil, concentração populacional, armazenamento e comércio de
mercadorias, necessidade de conservação de informação
escrita cuneiforme (relativa à forma como era gravada)
inicialmente, puramente figurativa (pictográfica simples), presta-se à
inventariação e registo contabilístico de mercadorias em trocas comerciais
progressivamente, abstracta (pictográfica complexa), na qual o conjunto das
figuras pretende representar foneticamente uma palavra (cada figura,
isoladamente, não tem relação com a palavra)
Civilização Egípcia, 3000 aC
contexto: região fértil, concentração populacional, armazenamento e comércio de
mercadorias, necessidade de conservação de informação
escrita hieroglífica
combinação de pictografia simples e complexa torna necessária a indicação de
como os pictogramas devem ser interpretados (literal ou abstractamente)
6. A escrita alfabética
o aumento das trocas comerciais, os efeitos sociais daí decorrentes, e a recusa da
representação pictográfica da divindade (Islamismo, Judaísmo) tornam necessária uma
nova escrita, baseada não em imagem mas em signos que representam fonemas
Civilização Fenícia
alfabeto de expansão geográfica limitada
com a ausência de vogais, a escrita não representa completamente a oralidade,
deixando o texto refém da ambiguidade de interpretação do leitor
Civilização Grega, séc. VIII-IV aC
o poder político de Atenas impõe o alfabeto jónico como norma, perante outras
alternativas desenvolvidas a par (o mesmo vem a acontecer com o desenvolvimento do
alfabeto latino, por parte da civilização Romana)
alfabeto com vogais, de ampla divulgação, base dos alfabetos criados até ao latino
contribui para reorganização política e sócio-urbana grega
a abstracção da escrita alfabética permite uma independência progressiva do alfabeto
(enquanto sistema ordenado de fonemas) da língua que transcreve (independência da
forma face ao conteúdo)
7. A necessária resistência a determinismos
na emergência da escrita
descoincidência nas velocidades de desenvolvimento técnico e de adopção/utilização
social
o monopólio dos escribas (anteriormente contabilistas) e dinâmicas de manutenção do seu
estatuto social
o relativo fechamento profissional da utilização desta técnica: a utilização profissional da
escrita dura até ao Renascimento
o reduzido poder decisório associado à profissão do escriba (em comparação, por
exemplo, com o mestre em retórica)
constrangimentos técnicos como obstáculo à massificação da adopção (o suporte era
caro, e muitas vezes reciclado) limitam o número de textos disponíveis
a extensão relativa da sua adopção face à detenção de competências pelos cidadãos
o predomínio da tradição da oralidade face à escrita: a retórica constitui a técnica de
comunicação da Antiguidade (Sócrates e a escrita enquanto fomento do sub-
desenvolvimento das capacidades humanas de memorização)
8. A retórica grega
criada como um instrumento que, em contexto de perturbação social e política,
procura um reequilíbrio que prescinda do uso da força
Institui-se com uma finalidade jurídica e política
suscita o desenvolvimento de uma classe profissional (logógrafo) especializada
na concepção de discursos
com o ensino Sofista (e a sua recusa de uma verdade absoluta, em prol da
persuasão), torna-se um utensílio técnico, uma forma cujo conteúdo é
relativizado
utilização é criticada (Platão) enquanto prática não comprometida com a
procura e divulgação da verdade, o que faz com que Atenas não seja o
contexto ideal para o desenvolvimento da retórica
9. A retórica romana
traço moral e cultural decisivo: a solidariedade entre cidadãos como regra que institui a comunicação
como prática
a organização e o planeamento urbano tinham como um dos princípios orientadores a potenciação
da comunicação entre os cidadãos: a oratória era, desta forma, não apenas um critério mas
impunha-se como necessidade individual
a comunicação assume, em continuidade com a tradição grega, o papel de elemento de
conciliação, de inclusão e de negociação: torna-se parte do processo civilizador, sobretudo dos
povos conquistados
a necessidade de competências oratórias institui uma cultura de instrução, de transmissão de
informação, conceito que reúne dois sentidos herdados distintos da tradição grega: por um lado,
ideia, saber; por outro lado, dar uma forma, embalagem
ao contrário da tradição grega, esta síntese romana é decisiva: reúne dois mundos anteriormente
separados, o da técnica e o do conhecimento (que despreza o primeiro). Esta síntese ilustra a
atitude mais prática da cultura romana, que coloca a retórica ao serviço da vida quotidiana
a instrução baseia-se no trabalho dos instruendos, desenvolvido em a dois níveis: resumos escritos
(baseados na consulta de manuais), e discursos e declamações. Desta forma, não apenas era
receptor em processos de comunicação, mas tornava-se igualmente o seu emissor, o que ilustra a
abordagem romana de informar como uma síntese entre dar conhecimento e colocar
conhecimento numa determinada forma
a escrita mantém-se, no entanto, uma função da retórica: os livros são escritos para e de modo a serem
utilizados como manuais ou para leituras/récitas públicas
difusão do alfabeto jónico pelo mundo, e da retórica através da sua integração no Catolicismo