O documento descreve a propagação do protestantismo na América Latina no final do século XIX, mencionando iniciativas missionárias de denominações como congregacionais, presbiterianas e batistas no Brasil e Peru. Também aborda o crescimento inicial dessas igrejas e desafios que enfrentaram, como a oposição da Igreja Católica.
História da Igreja II: Aula 12: Protestantismo na AL e Brasil (parte 2)
1. Protestantismo na América Latina
O avanço
História Eclesiástica II
Pr. André dos Santos Falcão Nascimento
Blog: http://prfalcao.blogspot.com
Email: goldhawk@globo.com
Seminário Teológico Shalom
2. Dois casos da propagação do evangelho na AL
Brasil
Iniciativa Metodista (Kidder e Spaulding): Décadas de
1830 e 40.
Iniciativa Congregacional (Kalley)
Iniciativa Presbiteriana (Simonton)
Iniciativa Batista (Bagby)
Peru
Penzotti e Ritchie
3. Dois casos da propagação do evangelho na AL
Iniciativa Congregacional
Robert Reid Kelly (1809-1888), médico escocês, com sua esposa Sarah, já
tinham experiência em Madeira e nas Índias Ocidentais britânicas, antes de
chegarem no RJ em 10/05/1855.
Inicia seu ministério com os estrangeiros residentes em Petrópolis.
Em 1859, atua na conversão de duas nobres, o que gera uma proibição de
atrair prosélitos e atuar na medicina.
Influente na alta sociedade e no meio secular, pregando a separação Igreja-
Estado, funda a primeira igreja brasileira, de cunho congregacional (Igreja
Evangélica Brasileira), em 1858, batizando o primeiro brasileiro em 11/07.
São 14 membros que, em dez anos, se transformam em 360.
Uma segunda igreja é fundada em 1873, em Recife.
Desde o início a música é importante na igreja, editando Salmos e Hinos em
1861. Este livro, com 50 hinos serviu às igrejas que se implementavam no
Brasil.
4. Dois casos da propagação do evangelho na AL
Iniciativa Presbiteriana
Maio de 1859: Assembleia Geral da IP nos EUA nomeia Ashbel Green
Simonton, de 26 anos, para explorar o território brasileiro.
Chega no RJ em 12/08, sendo seguido pelo cunhado, Alexander Blackford,
quase um ano depois, e de Francis Schneider em 1861.
Após não conseguir contatar a colônia americana no Rio e ter dificuldade em
se aproximar do portugueses, Simonton inicia estudos bíblicos em português
em maio de 1861. Um mês depois, inicia cultos noturnos de adoração com
sete participantes.
Em 12/01/1862, os dois primeiros convertidos são aceitos pra comunhão. A
primeira igreja presbiteriana brasileira também é fundada neste ano.
Schneider pregou em Rio Claro sem muito sucesso, mas é em viagem de
Blackford à cidade que encontra José Manuel da Conceição, sacerdote
católico que se converte e é ordenado ao ministério em 1865, sendo o
primeiro brasileiro a receber tal ofício.
5. Dois casos da propagação do evangelho na AL
Iniciativa Presbiteriana
Em 1865, enquanto Blackford batiza os seis primeiros que haviam se
convertido em São Paulo, na cidade de Brotas, o presbiterianismo avançou e
gerou uma comunidade com 60 membros em comunhão plena e 38 crianças.
No Rio, a igreja também possuía 60 congregantes, e em São Paulo, após 3
anos de trabalho, 22 congregantes.
José Manuel acabou sendo o grande expoente da evangelização brasileira
nos seus primeiros anos. Viajante incansável a cavalo, pregava com
frequência a grandes plateias. Em suas viagens, seguidamente ia de casa de
casa, ler a Bíblia, orar e conversar noite adentro.
Seu interesse original era a evangelização, e não a plantação de igrejas, mas
foi responsável pela formação de pequenos grupos de brasileiros
evangelizados através das regiões oeste e norte de São Paulo.
Posteriormente, em 1880, o rev. John Boyle inicia o trabalho no interior de
São Paulo , distribuindo bíblias até Uberaba, MG, descobrindo cinquenta
cidades e vilas em seu trabalho, gerando as bases para a futura igreja
presbiteriana brasileira.
6. Dois casos da propagação do evangelho na AL
Iniciativa Batista
Após a Guerra Civil americana, em 1865, um grupo de imigrantes sulistas aporta no
interior de São Paulo para plantar e aproveitar o trabalho escravo ainda permitido no
Brasil. Este grupo atrai interesse das três principais denominações americanas.
Após missões metodistas (1867) e presbiterianas (1869), uma igreja batista se instala
em Santa Bárbara do Oeste em 1871 para atender especificamente ao grupo
americano.
Dez anos após esta iniciativa, William Buck Bagby e sua esposa Anne aportam no
Brasil, passando por Santa Bárbara antes de ir para Salvador. Ali fundam a primeira
igreja batista “brasileira” em 1882 com Zachary Taylor e Antônio Teixeira de
Albuquerque.
Teixeira era produto de Santa Bárbara. Conheceu o evangelho com uma Bíblia italiana
que encontrou na livraria do seminário de Olinda, onde estudou. Comparando a
tradução de Almeida e a católica com o original grego, concluiu que a Bíblia
protestante tinha a melhor tradução e se converteu. Após rápida passagem entre os
metodistas, é ordenado entre os batistas de Santa Bárbara.
7. Dois casos da propagação do evangelho na AL
Iniciativa Batista
Ao longo da década de 1880, os batistas rapidamente se espalharam pelo
Brasil. Bagby fundou a PIB do Rio de Janeiro em 1884, enquanto Teixeira
inicia uma igreja em 1885 em sua terra natal, Maceió, com dez membros.
Graças às vitórias legais e ao entusiasmo evangelístico dos missionários
batistas, a denominação chega a oito igrejas em seis estados em 1888, com
212 membros. Na proclamação da república, a PIB do RJ tinha 89 membros.
Na virada do século, os batistas fundam uma igreja em SP e chegam a 2000
membros no país inteiro.
Parte do crescimento batista se deve a uma nova onda de imigrantes, desta
vez letos, que fogem da perseguição religiosa e chegam em 25 famílias em
1890. A PIB letã em Rio Novo (SC) é formada em 1892 com 75 membros.
Conseguindo uma grande gleba de terra em Nova Odessa, quinze colônias
letãs formam-se no Brasil entre 1890 e 1922, principalmente de batistas.
Treze igrejas, com 500 membros, são formadas entre eles. Após a 1ª Guerra
Mundial, mais de 2000 letos imigram, aumentando o número de batistas no
Brasil.
8. Dois casos da propagação do evangelho na AL
Peru
No Peru, a atividade de qualquer religião que não a católica foi proibida até
1920.
Francisco Penzotti, convertido em cruzada no Uruguai, trabalhou como pastor
valdense até que os metodistas absorveram os valdenses naquele país.
Agente metodista da Sociedade Bíblica Americana, viajou com Andrew Milne,
e trabalhou em Callao, no Peru, após o fracasso de Thomson em tentar
implementar escolas Lancaster em Lima.
Em três meses de trabalho, Penzotti consegue reunir 50 pessoas em reuniões
nas tardes de domingo. Para tal, ia de casa em casa distribuindo e vendendo
Bíblias, enviando membros de casa em casa, de dois em dois, na tentativa de
evangelizar Callao.
Preso em 25/07/1889 acusado de transgredir a lei, consegue, após oito
meses encarcerado, que o Estado reconheça a legalidade dos cultos
particulares de adoração no Peru.
9. Dois casos da propagação do evangelho na AL
Peru
Com a saúde prejudicada, é substituído por Thomas Wood em 1891.
A obra metodista no Peru se desenvolve, com a distribuição de 18.000
bíblias e parte delas. Uma igreja forte é estabelecida em Lima e missões
são fundadas em outras cidades chave.
Posteriormente, vários missionários de diversas denominações chegam
ao país, iniciando vários trabalhos. Inicialmente, Charles Bright, dos
Irmãos de Plymouth da Inglaterra, chega a Callao em 1893, recebendo
dois batistas no ano seguinte em Lima. Os batistas alugaram um salão e
Bright, que sabia espanhol, foi o pregador. Um ano depois, o grupo se
dividiu e Bright alugou um local anteriormente usado por anglicanos na
Rua Negreiros. Ali, começou a realizar cultos em 1896, chegando a 30
membros 4 anos depois.
10. Dois casos da propagação do evangelho na AL
Peru
Em 1907, John Ritchie, batista escocês enviado sob o
patrocínio da Evangelical Union of South America, se une a
Bright como líder da igreja da Rua Negreiros, onde começa a
formar novos ministros em um Instituto Bíblico no local, em
1910.
Em 1919, as diversas igrejas ligadas a da Rua Negreiros
começam a debater uma união, e em 1922 fundam a Igreja
Evangélica Peruana, conseguindo chegar a 44 comunidades
em 1924, mas enfrentando estagnação a partir da década de
30, muito em função da falta de treinamento sistemático e
abrangente.
11. Protestantismo do final do séc. XIX (até 1930)
Surgimento do Pentecostalismo no Brasil (1910-11), México (1914), Chile
(década de 1910).
Divisão dos presbiterianos brasileiros em 1903 sobre a questão da maçonaria e
da cooperação com as juntas americanas de missões.
IPB: Manteve a cooperação com as juntas e aceitou que seus membros fossem
maçons até 2011. Cresceu após a implementação do Plano Brasil em 1917, onde
recursos das agências missionárias foram usados para implantar igrejas no interior do
país.
IPI: Grupo dissidente.
Congresso Pan-Americano (Panamá), 1916: Busca por colaboração entre juntas
e denominações, além de necessidade de intercomunicação e coordenação da
obra educacional. O relacionamento e cooperação fraternais encontra
expressão nesse Congresso. O sentimento anticatólico gera uma negativa de
colaboração com a Igreja Católica no campo da assistência social.
12. Características do protestantismo latinoamericano
Formato dogmático, puritano e legalista.
Exige uma decisão transformadora de estilo de vida, envolvendo inúmeras
implicações éticas e sociais.
Interiorização da fé.
Comunidade de fé com múltiplos relacionamentos interpessoais.
Escrituras como norma de fé (teologia conservadora) – 10 milhões de Bíblias
distribuídas até 1935.
Liberdade de culto fora do ambiente do templo (residências, restaurantes, ao ar
livre, etc).
Palavra como centro do culto e da vida, a razão de ser da Igreja.
Simplicidade e espontaneidade, com multiplicidade de hinos e cânticos.
Represálias sociais e econômicas por parte dos católicos, gerando mentalidade
de gueto nas comunidades, alienando-se da sociedade em geral.
Ênfase em educação e medicina, com construção de escolas, orfanatos e
clínicas.
13. Fontes
Texto base: CAIRNS, Earle E. O Cristianismo através dos séculos: uma
história da igreja cristã. 3 ed. Trad. Israel Belo de Azevedo e Valdemar
Kroker. São Paulo: Vida Nova, 2008.
Textos auxiliares:
DREHER, Martin N. Coleção História da Igreja, 4 vols. 4 ed. São Leopoldo:
Sinodal, 1996.
GONZALEZ, Justo L. História ilustrada do cristianismo. 10 vols. São Paulo:
Vida Nova, 1983