5. “Conhece-te a ti mesmo”
Inscrição no templo de Delphos
“O que está atrás de nós, e o que está à nossa frente,
são coisa pouca, comparado ao que está dentro de nós”.
Ralph Waldo Emerson
“A sentença falada deve ser dedicada ao presente,
ao momento; o que se escreve,
dedique-se a distância, ao futuro”.
Johann Wolfgang von Goethe
“Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos
do senso comum for útil; se não se deixar guiar
pela submissão às ideias dominantes e aos poderes esta-
belecidos for útil; se buscar compreender a
significação do mundo, da cultura, da história for útil;
se conhecer o sentido das criações humanas nas artes,
nas ciências e na política for útil; se dar a cada um
de nós e à nossa sociedade os meios para serem
conscientes de si e de suas ações numa prática que
deseja a liberdade e a felicidade para todos for útil,
então podemos dizer que a Filosofia é o mais útil de
todos os saberes de que os seres humanos são capazes.”
Marilena Chauí
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7. Agradecimentos
Agradeço aos meus pais Dorvalino e Marilene,
que me levaram até onde podiam me levar, e foi
tudo o que eu precisava, depois disso me ofereceram
o mundo. Às minhas irmãs Diana, Eliana e Adriana
pelo convívio, e também a André Nogami.
Agradecer aos meus mestres Walther Hermann,
João Vanin e Bayard Galvão, que tantas luzes acenderam
dentro de mim para que eu pudesse percorrer o caminho
com minhas próprias pernas. Por terem me apresentado a
Hipnose Ericksoniana, a PNL e a Filosofia.
Agradecer às centenas de pacientes que já passaram pela
clínica, com os quais pude aprender em seus relatos,
sobre paixões, lucidez, virtudes, vícios, amor, ódio; sobre
o poder de transformação que temos dentro de nós.
Por fim a gratidão aos mestres do passado, os filósofos.
Estes que vem pensando o Ser Humano em suas infinitas
possibilidades, com os quais aprendi e continuarei
aprendendo por todo o sempre. Obrigado!
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8. Este livro é dedicado à todos aqueles que
acreditam que viver, é muito mais que
um acúmulo de dias, meses ou anos...
À aqueles que acreditam que
é possível viver e viver bem...
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9. Sumário
Introdução............................................................................ 13
A Filoterapia ........................................................................ 15
Conhece-te a ti mesmo........................................................ 17
O mundo dos sentidos ......................................................... 23
O mundo das ideias ............................................................. 29
Ideias essenciais e inessenciais ............................................ 35
Dor e Prazer ......................................................................... 39
Sofrimento Humano ........................................................... 41
Múltiplos Sofrimentos ........................................................ 44
A inter-relação mente-corpo ................................................ 49
Memória Celular ................................................................ 61
Novos Padrões ..................................................................... 65
A Paixão................................................................................ 67
Sede das Paixões ................................................................. 70
Equilíbrio das Paixões......................................................... 71
As Doenças das Paixões ...................................................... 72
Paixões são Consequências ................................................. 76
A Admiração ........................................................................ 79
Apatia ou Indiferença ......................................................... 82
Novos Padrões ..................................................................... 83
Apatia nos Relacionamentos ............................................. 84
Admiração nos Relacionamentos ....................................... 84
Apatia no Trabalho ........................................................... 85
Admiração no Trabalho ..................................................... 85
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10. A Alegria............................................................................... 87
Novos Padrões .................................................................... 89
Alegria nos Relacionamentos ............................................. 89
Alegria no Trabalho ........................................................... 90
A Tristeza ............................................................................. 91
Novos Padrões .................................................................... 93
O Desejo .............................................................................. 95
Novos Padrões .................................................................... 99
Desejo nos Relacionamentos ............................................. 99
Desejo na Profissão ............................................................ 99
A Vaidade ........................................................................... 101
Novos Padrões .................................................................. 111
Vaidade nos Relacionamentos ......................................... 112
Vaidade no Trabalho ....................................................... 112
O Medo.............................................................................. 113
Medo – Um discípulo dedicado ........................................ 116
Causa do Medo ................................................................ 118
O que motiva o medo? ...................................................... 120
Os disfarces do medo......................................................... 123
Fobias e Pânico ................................................................. 127
Novos Padrões .................................................................. 130
Medo nos Relacionamentos ............................................. 131
Medo no Trabalho ........................................................... 131
A Cólera ............................................................................. 133
Novos Padrões .................................................................. 138
Cólera nos Relacionamentos ........................................... 139
Cólera na Profissão .......................................................... 139
A Ira.................................................................................... 141
Níveis da Ira ..................................................................... 143
Os disfarces de uma paixão “mal vista” ............................ 145
Ira: conhecer para dominar .............................................. 148
Novos Padrões .................................................................. 150
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11. Ira nos Relacionamentos .................................................. 151
Ira no Trabalho ................................................................ 151
O Ódio ............................................................................... 153
Ódio ao Semelhante ......................................................... 156
Saídas para o ódio ............................................................ 157
Novos Padrões .................................................................. 159
Ódio nas Relações ........................................................... 160
Ódio na Profissão ............................................................ 160
A Mágoa............................................................................. 161
Absolvição da Mágoa ....................................................... 163
Prevenção da Mágoa ........................................................ 165
Novos Padrões .................................................................. 167
Mágoa nas Relações ........................................................ 168
Mágoa no Trabalho ......................................................... 168
A Inveja e a Emulação ....................................................... 169
Novos Padrões .................................................................. 171
Inveja nos Relacionamentos ............................................ 172
Inveja no Trabalho .......................................................... 172
A Emulação ...................................................................... 173
Emulação nos Relacionamentos ...................................... 175
Emulação no Trabalho .................................................... 176
O Ciúme ............................................................................ 177
Condutas do Ciumento .................................................... 180
Equilíbrio do Ciúme ......................................................... 181
Novos Padrões ................................................................... 183
Ciúme no Relacionamento ............................................... 183
Ciúme no Trabalho .......................................................... 184
A Angústia .......................................................................... 185
Novos Padrões .................................................................. 193
Angústia nos Relacionamentos ........................................ 194
Angústia no Trabalho ...................................................... 194
A Ansiedade ....................................................................... 195
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12. Ansiedade nos Relacionamentos ...................................... 202
Ansiedade no Trabalho .................................................... 203
O Amor .............................................................................. 205
Éros: o amor erótico .......................................................... 209
Caso clínico ...................................................................... 218
Novos Padrões .................................................................. 219
Philía: o amor de amigo.................................................... 219
Novos Padrões .................................................................. 231
Amizade nos Relacionamentos ........................................ 232
Amizade no Trabalho ....................................................... 232
Ágape: o amor familiar ..................................................... 232
Novos Padrões .................................................................. 241
Egophilía: o amor a si ...................................................... 241
Novos Padrões .................................................................. 251
Afetividade: o amor que afeta os amores ........................... 252
Novos Padrões .................................................................. 256
Força invisível inteligente .................................................. 257
Bibliografia......................................................................... 265
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13. Introdução
“Regressa a ti mesmo e saberás
quão simples é para ti o inventário”.
Pércio
O amor ao saber, a Filosofia, foi de fato a primeira ciência
a buscar explicações para a essência humana, a tornar o
homem humano. Dela advieram todos os questionamentos,
dúvidas e reflexões a respeito do que é a vida, como nos en-
volvemos com a experiência de estar vivos, e quais as possibi-
lidades para se ter uma boa vida. Sentimentos, paixões, vícios,
virtudes e valores humanos; conceitos de bem e mal, certo
e errado, ética e moral. Desde os primórdios, a Filosofia é a
grande tecelã, que através dos tempos vem tecendo e aprimo-
rando este ser chamado: humano.
Buscamos informações sobre o mundo em que vive-
mos, sobre tudo o que se passa ao nosso redor. Buscamos estar
sempre bem atualizados com as notícias que chegam como
enxurrada nos meios de comunicação de massa. Buscamos
nos aperfeiçoar em nossas profissões com diferentes cursos,
com a intenção de permanecermos competitivos no mercado
de trabalho. Sabemos tudo sobre nosso time, nosso hobby, a
raça do nosso cão; sobre cinema, literatura, televisão; sobre os
últimos lançamentos daquilo que nos interessa. Sabemos o
que está na moda e nos preocupamos demasiado com nossa
aparência e estética.
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14. Odair J. Comin
Temos muito com o que nos preocupar, aprender e sa-
ber, e isso até certo ponto é bom. Entretanto, nos dirigimos
ao externo para nos preencher e ignoramos o vasto e imenso
mundo interior. Pouco sabemos sobre nós mesmos, pouco sa-
bemos sobre nossos pensamentos e sentimentos, pouco sabe-
mos sobre nossos desejos mais íntimos.
Somos ignorantes quando se refere a falarmos sobre nós
mesmos. Será que não nos consideramos importantes? Será
que não temos nada de bom e interessante? Será que não vale
a pena fazer um curso cujo tema seja você? Será que não
somos uma boa companhia para nós mesmos? Será que não
somos dignos de fazer um estudo, uma expedição em nosso
mundo pessoal? Talvez o Ser Humano sofra tanto porque des-
conhece a si mesmo. Sofre porque não aprendeu a como ser
feliz. Sofre porque não aprendeu a arte do bem viver. Sofre
porque é escravo, porque não aprendeu a ser livre. Porque
abandona a si mesmo para seguir as massas ou alguém. Triste
verdade do ser, é o que nos expõe Santo Agostinho: “Como
ignora a liberdade que liberta, é-lhe útil ser enganado”. Triste
verdade não conseguir ou não saber governar-se a si mesmo.
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15. A Filoterapia
A Filoterapia é um modelo de psicoterapia que tem
como objetivo último possibilitar às pessoas o bem estar, por
meio do conhecimento de si mesmos, de suas paixões, de suas
virtudes e vícios. Proporcionar o bem pensar, o bem viver e o
bem agir.
Quando se busca ajuda para mudar, o pedido implícito
é que algo novo precisa ser aprendido, e é assim que se dará
o processo terapêutico pela Filoterapia. Possibilitar a travessia
do ser que se traduz em dor, sofrimento, problema, doença,
dificuldade, mal estar, para um novo estágio. E nesse lugar
poderá se deparar com o prazer, com respostas, soluções, saú-
de, bem estar, lucidez, conhecimento de si mesmo e a pró-
pria felicidade.
Aquele que não consegue ou ainda não conseguiu fazer
a travessia, é porque ainda não sabe, ainda não aprendeu, e é
por isso que a Filoterapia é uma forma de aprender, de formar
seres humanos capazes de serem senhores de si mesmos.
A Filoterapia, baseada na Filosofia, oferece todo esse
conhecimento construído ao longo de séculos e por vezes di-
fícil de ser compreendido de uma forma leve e clara. A Filo-
terapia é a Filosofia antiga para tempos modernos; para um
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16. Odair J. Comin
Ser Humano moderno e sedento do bem viver. A Filoterapia
é elegância, é sutileza nos processos de mudança e, ao mesmo
tempo, extremamente impactante. A Filoterapia entrega as
rédeas da sua vida em suas próprias mãos, e como é bom por
alguns momentos depender apenas de si mesmo.
A Filoterapia é o alegre saber, e como dizia Nietzsche
“é esse transformar sem cessar, em claridade e em chama
tudo o que somos e também tudo o que nos toca”. Há poesia
onde palavras diferentes e surpreendentes se encontram. Há
Filoterapia quando diferentes pensamentos filosóficos se en-
contram com um único objetivo: possibilitar o bem pensar, o
bem agir e o bem viver do indivíduo.
Compartilhar da Filosofia é descentralizar o conhe-
cimento ou o poder de saber. A humanidade investe muito
mais em nossa ignorância do que em nosso conhecimento.
O poder investe na ignorância para permanecer no poder. In-
veste para o saber não chegar a todos. O poder é egoísta e, ao
que nos parece, continuará sendo, pelo menos o poder que
conhecemos: financeiro e ideológico. Descentralizar é abrir
mão do poder apenas para si, abrir mão do egoísmo, da vaida-
de, para o amor à humanidade, ao outro. Não falta dinheiro
para o saber, falta amor. E este livro é um pouco desse amor
ao saber, que é Filosofia; e amor ao outro, que é Filoterapia.
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17. Conhece-te a ti mesmo
“Para conhecer-se a si mesmo,
talvez seja necessária uma autorreflexão sobre seus
pensamentos, sentimentos, palavras e ações...”
Odair J. Comin
O homem torna-se humano pelo contato com outros ho-
mens. É um Ser racional biopsicossocial, dotado de cin-
co sentidos, com os quais entrará em contato com o mundo
e apreenderá a realidade externa, construindo a realidade in-
terna e individual. É dotado de um aparelho psíquico com
um cérebro (mente) capaz de receber, armazenar e articu-
lar diferentes conteúdos por meio do pensamento e da razão.
Na medida em que interage, começa a utilizar a razão e as
paixões. Terá uma memória, onde guardará tudo o que for
aprendido e vivenciado; isso também o impactará de forma
percebida e/ou não percebida (inconsciente) durante a vida.
O Ser Humano também nasce com a capacidade de sentir
dor e prazer, além das paixões em potencial; esses sentimen-
tos o acompanharão em maior ou menor intensidade durante
o tempo todo.
No processo de tornar-se humano, mais precisamente a
formação deste, entram o ensino das virtudes e sua gradativa
prática, é claro que nesse processo aparecem as paixões e os
vícios, que somos propensos a aprender mesmo sem sermos
ensinados. Teremos duas espécies de virtudes: a intelectual e
a moral. A virtude intelectual é adquirida pelo ensino, pela
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18. Odair J. Comin
educação, por isso requer tempo. A virtude moral advém do
hábito, apenas a praticando a temos em nós. O ator assim se
torna pela prática da atuação, o tenista pela prática do tênis, o
médico pela prática da medicina: essas são virtudes intelectu-
ais. Do mesmo modo as virtudes morais: tornamo-nos toleran-
tes na medida em que toleramos, tornamo-nos corajosos por
atos de coragem, justos pela prática de atos justos. Portanto,
nenhuma virtude é inata, antes sim é aprendida e vivenciada,
podendo ser mudada em qualquer momento da vida.
O que é inato ou do instinto não pode ser mudado,
como a possibilidade de sentir dor, prazer ou o próprio medo
instintual, além da utilização dos cinco sentidos; cada um tem
uma especificidade e não podemos mudar. De forma literal,
não dá para saborear com os olhos, por exemplo. O que é por
natureza de uma forma, não poderá comportar-se de outra.
Mesmo que joguemos mil vezes um objeto para cima, ele não
aprenderá a ficar suspenso no ar. A água molha, o fogo quei-
ma, o animal carnívoro comerá carne, esta é a sua natureza
e não pode ser mudada. Ademais, todo o resto é aprendido e
passível de ser reaprendido, mudado; aprender algo novo por
certo trará novas conexões internas e consequentes transforma-
ções. A natureza nos dá sim a capacidade, a potencialidade de
aprender virtudes e, tal capacidade se aperfeiçoa com o hábito.
O oculto em nós é maior que o percebido. “Conhecemo-
nos tão pouco que muitos pensam morrer quando estão pas-
sando bem, e muitos julgam passar bem quando estão próxi-
mos da morte”, dizia Pascal. Nosso saber de si é limitado. “Só
sei que nada sei”, dizia o mais sábio dos homens – Sócrates.
Por isso, essa eterna busca para saber mais sobre nós mesmos,
ampliando nosso saber de si, o tão famigerado autoconheci-
mento. Esta também é uma busca para nos ajudar, para nos
aprimorar enquanto seres humanos. E quem é capaz de se co-
nhecer e de ajudar a si mesmo? Como se pode conhecer e se
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19. mestre das emoções
ajudar? “Cada cabeça uma sentença”, cada mente que chega
a essa pergunta traduziria de uma forma diferente as respos-
tas. Para autoajudar-se, talvez, antes seja necessário autoco-
nhecer-se, “conhece-te a ti mesmo”, no templo de Delphos
estava a chave onde cada Ser Humano poderia abrir as portas
de sua mais íntima sabedoria, espírito ou alma. Conhece-te a
ti mesmo, e então poderás autoajudar-se. A “receita” parece a
mesma para todos, porém a forma de fazer este banquete será
diferente para cada um.
Como conhecer-se a si mesmo? Aqui está a grande
pergunta, uma dúvida que atravessa milênios e, mesmo com
toda a evolução da cultura humana e seu privilegiado pen-
samento e criatividade, a resposta ainda parece esconder-se
dentro de cada um. Tão escondida que alguns desistem de
procurar, outros nunca nem quiseram tentar, enquanto mui-
tos ignoram totalmente sua existência e poucos a acham. Sua
busca é digna de comparação com os heróis e mitos gregos,
através de Homero, Sófocles e outros. O herói parte em bus-
ca do desconhecido, do tesouro, da pessoa amada, de seu
destino. E como dizia Nietzsche, “ninguém pode construir
em teu lugar as pontes que precisarás para atravessar o rio da
vida – ninguém, exceto tu, só tu”. É uma jornada solitária,
essa busca pelo misterioso e maravilhoso mundo interno.
Temos coisas que percebemos em nós e queremos mu-
dar ou melhorar, enquanto outras que permaneçam como
está. Esta é talvez a parte mais fácil, todavia, não somos ape-
nas o que percebemos ou o que acreditamos que somos; mas
também o que não percebemos, e que por certo nos afeta,
ou seja, o oculto, o desconhecido de nós mesmos. Por isso às
vezes sofremos, adoecemos, vivemos em conflito, empobre-
cemos espiritualmente. O caminho é a busca do saber de si, o
mais completo e abrangente possível. Este não está no outro,
no céu ou nas estrelas, mas dentro de cada um.
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20. Odair J. Comin
Para conhecer-se a si mesmo, talvez seja necessária uma
autorreflexão sobre seus pensamentos, sentimentos, palavras
e ações. Questionamentos sobre o que causa dor e o que cau-
sa prazer, o que lhe traz tristeza e o que lhe traz felicidade.
O que gosta de fazer, o que faz por conveniência, obrigação
ou desgosto. Quais são os motivos que o levam a fazer algo,
a viver mais um dia, a amar. Descobrir porque sonha o que
sonha, qual o sentido da própria vida. Buscar os princípios
que regem sua existência, as raízes que alimentam sua vida e
de onde vem a seiva.
É difícil perceber e mesmo admitir que temos falhas;
nos zangamos com alguém que perceba falhas em nós. Isso
tira nossas certezas, nos faz experimentar sensações imprevi-
síveis e impensadas. Se estamos doentes, até aceitamos com
certa tranquilidade esse mal em nós, mas se nos dizem que
agimos mal, que escolhemos mal, que educamos mal nossos
filhos, que não sabemos fazer nosso trabalho com excelência,
isso nos aborrece. Pascal pergunta: “como se explica que um
coxo não nos irrite e um espírito coxo nos aborreça?”. Para
Pascal, a resposta é que um coxo reconhece que os demais
andam direito, enquanto que um “espírito coxo” acredita que
os outros é que mancam. Portanto, são as incertezas que nos
aborrecem. Sabemos ou não que estamos com alguma dor e
que andamos direito; mas não temos certeza de que fizemos
a melhor escolha. Quando o outro vê coisas em nós que não
percebemos, nossa mente torna-se um terreno minado. Uma
das alternativas pode ser ignorar essa percepção alheia e per-
manecer na rota. A outra requer ousadia, requer sair do cam-
po da certeza incerta, para uma nova possibilidade que ainda
está por acontecer. Por certo escolhida, diferente e, quem
sabe, melhor – racional. A mudança acontece independente
de nossa vontade. A diferença está em ser comandado pela
mudança e a possibilidade de comandá-la, dar-lhe o melhor
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21. mestre das emoções
direcionamento de acordo com nossa vontade. Só poderemos
fazer isso na medida em que nos conhecemos.
O primeiro indício de que estamos no caminho do au-
toconhecimento, é a percepção de que algo pode ser muda-
do ou melhorado, de que algo novo foi percebido, uma nova
descoberta sobre si mesmo; estar sempre aberto para que a
interação consigo mesmo e com o mundo possa fluir sem pre-
conceitos, com tolerância, tranquilidade e coragem.
Nessa busca é necessário o autoacolhimento, não im-
portando o quão difícil seja entrar em contato com o oculto
de si. Não importa o quanto erramos, mas sim quanta possi-
bilidade de acerto podemos criar e efetivar a partir de agora.
Não importa quantos pensamentos, sentimentos, palavras e
ações que não foram adequados, mas o que de bom poderá
ser feito a partir dessa aprendizagem. Tudo isso precisa ser
acolhido, olhado com surpresa, com admiração. Isso também
faz parte de mim, também sou eu, e agora que sei, o que pos-
so fazer para mudar ou melhorar. Um olhar de contemplação
sobre si. Como será bom tornar-se amigo de si mesmo, poder
contar consigo mesmo.
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