2. ÍNDICE
INTRODUÇÃO.......................................................................................................................................................3
I. LUGARES BÍBLICOS........................................................................................................................................4
1.O CRESCENTE FÉRTIL..................................................................................................................................4
2. A PALESTINA................................................................................................................................................8
3. O EGITO........................................................................................................................................................11
II. POVOS BÍBLICOS..........................................................................................................................................14
1. EGÍPCIOS......................................................................................................................................................14
2. ASSÍRIOS......................................................................................................................................................15
3. BABILÔNICOS.............................................................................................................................................15
4. PERSAS.........................................................................................................................................................15
5. AMORREUS..................................................................................................................................................15
6. HETEUS.........................................................................................................................................................16
7. CANANEUS..................................................................................................................................................16
8. PERISEUS......................................................................................................................................................16
9. HEVEUS........................................................................................................................................................16
10. GIRGASEUS................................................................................................................................................16
11. JEBUSEUS...................................................................................................................................................16
12. FILISTEUS...................................................................................................................................................16
III. GEOGRAFIA POLÍTICA DA TERRA SANTA........................................................................................17
1. O ÊXODO......................................................................................................................................................17
2. A CONQUISTA DE CANAÃ........................................................................................................................21
3. DIVISÃO DAS TRIBOS...............................................................................................................................22
4. O REINO UNIDO..........................................................................................................................................23
5. O REINO DIVIDIDO.....................................................................................................................................25
6. O IMPÉRIO ASSÍRIO...................................................................................................................................27
7. O IMPÉRIO BABILÔNICO..........................................................................................................................27
8. O IMPÉRIO MEDO-PERSA.........................................................................................................................28
9. O IMPÉRIO GREGO.....................................................................................................................................29
10. O IMPÉRIO ROMANO...............................................................................................................................30
IV. GEOGRAFIA FÍSICA DA PALESTINA.....................................................................................................32
1. NOMES DA TERRA DE ISRAEL ...............................................................................................................32
2. LIMITES DE ISRAEL...................................................................................................................................33
3. CISJORDÂNIA..............................................................................................................................................34
4. VALE DO JORDÃO......................................................................................................................................38
5. TRANSJORDÂNIA.......................................................................................................................................38
6. HIDROGRAFIA DE ISRAEL.......................................................................................................................39
7. FAUNA DE ISRAEL.....................................................................................................................................41
8. FLORA DE ISRAEL......................................................................................................................................42
9. CLIMA DE ISRAEL......................................................................................................................................42
CONCLUSÃO.......................................................................................................................................................43
BIBLIOGRAFIA...................................................................................................................................................44
NOTAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................................................................................45
Geografia Bíblica 2
3. INTRODUÇÃO
A Geografia é a ciência que estuda a Terra e sua forma, incluindo
relevo, clima, divisões políticas, vegetação, aspectos humanos, etc. Quando se trata,
porém, da Geografia Bíblica, o interesse não é estudar apenas os povos e as terras
do Oriente, mas conhecer o cenário, aonde os acontecimentos bíblicos vieram a
acontecer, para que possamos compreender melhor a história do relacionamento de
Deus com o homem, através do estudo da influência que as características físicas e
humanas da região exerceu sobre os personagens bíblicos.
Através da Geografia Bíblica vamos poder localizar os relatos
bíblicos no tempo e no espaço em que ocorreram, e seremos capazes de identificar
as características culturais e a localização dos diversos povos e locais que
pertencem ao mundo bíblico.
Geografia Bíblica 3
4. I. LUGARES BÍBLICOS
1.O CRESCENTE FÉRTIL
Formado pelas regiões
da Mesopotâmia, Canaã e Egito, tem o
formato de um semicírculo que vai do
Golfo Pérsico ao Rio Nilo.
A Mesopotâmia, cujo
nome significa “entre rios”, é a região da
Ásia aonde ocorreram as primeiras
mudanças da humanidade, que
permitiram um rápido desenvolvimento
cultural, econômico e social e que
proporcionaram um avanço importante
da história. Foi uma região de grande
cultura (ali nasceu o sistema de escrita, a escola, a literatura escrita e o primeiro
sistema legal) e de grande poder militar (se desenvolveram nesta região os grandes
impérios como Assíria, Babilônia e Pérsia).
É nesta região, ou em suas mediações, que se desenvolveram as
principais civilizações da antiguidade: Suméria, Babilônia, Assíria, Egito e todos os
povos do chamado Oriente Próximo.
A Bíblia descreve a localização do Jardim do Éden, dizendo o
seguinte: “E saía um rio do Éden para regar o jardim; e dali se dividia e se tornava
em quatro braços. O nome do primeiro é Pisom; este é o que rodeia toda a terra de
Havilá, onde há ouro. E o ouro dessa terra é bom; ali há o bdélio e a pedra
sardônica. E o nome do segundo rio é Giom; este é o que rodeia toda a terra de
Cuxe. E o nome do terceiro rio é Hidéquel; este é o que vai para a banda do oriente
da Assíria; e o quarto rio é o Eufrates.” (Gn 2.10-14).
Não temos a localização exata dos rios Pisom e Giom. Enéas
Tognini informa1, quanto ao rio Pisom, que “modernamente atribui-se o rio Fasis,
hoje conhecido como Rioni, que nasce nos montes Ararate e desemboca no mar
Negro” e que o rio Giom, segundo especialistas, pode ser o rio Geyhum el_Râs, que
desemboca no mar Cáspio ou os rios Diala ou Querque.
Já os rios Hidéquel (que é o Rio Tigre) e o Eufrates sabemos a sua
exata localização, pois se encontram exatamente nesta região. Podemos deduzir,
portanto, que o Jardim do Éden localizava-se na região do Crescente Fértil. Com
isto, podemos perceber que foi aqui o berço da humanidade, e o início da história de
todos os povos.
Werner Keller2, falando da importância desta região, afirma:
“Se traçarmos uma linha curva que, partindo do Egito,
passe pela Palestina e Assíria Mediterrânea, e, seguindo depois até o
Golfo Pérsico, teremos uma meia lua razoavelmente perfeita”.
“Há quatro mil anos, este poderoso semicírculo em redor
do deserto da Arábia - denominado Crescente Fértil - abrigava grande
número de culturas e civilizações ligadas umas às outras, como pérola de
rutilante colar. Dela irradiou luz clara para toda a humanidade. Ali foi o
Geografia Bíblica 4
5. centro da civilização desde a Idade da Pedra até a Idade de Ouro da
cultura greco-romana”.
Netta de Money3 também descreve a importância desta região:
“Sua história pode ser resumida numa séria de lutas entre
os habitantes das serranias e das tribos nômades do deserto para a
possessão da cobiçada terra fértil. Seu lado oriental foi o berço da raça
humana e de sua primeira civilização: Em suas grandes curvas
levantaram-se um após outro os grandes impérios dos amorreus, dos
assírios, dos caldeus e dos persas; E finalmente foi em seu extremo
ocidental que nasceu o Salvador do Mundo”.
Esta região é onde hoje se localizam o Irã e o Iraque, onde podem
ser encontradas ruínas da Babilônia, de Ur, de Nínive e de outras tantas cidades que
tiveram grande importância no relato bíblico.
A Bíblia relata que a humanidade, após a queda espalhou-se por
esta região, nas cercanias do Jardim do Éden. A geração de Caim era má e
desobediente, e influenciou até mesmo a descendência piedosa de Sete, fazendo
com que se tornassem rebeldes, pelo que Deus resolveu destruir todos os homens,
através do Dilúvio, salvando apenas Noé e sua família.
Noé e seus filhos ocuparam a Terra, após o Dilúvio, aos quais, Deus
deu uma ordem: “frutificai, e multiplicai-vos, e enchei a terra” (Gn 9.1) e ainda:
“povoai abundantemente a terra e multiplicai-vos nela” (v.7). É natural que, no início,
as famílias estivessem agrupadas no mesmo lugar, mas, segundo a ordem divina,
deveriam espalhar-se sobre a terra. Os homens, entretanto, em sua desobediência,
sob a liderança de Ninrode, construíram uma torre de tijolos, com a finalidade de
estabelecerem um centro, ao redor da qual se agrupariam os povos.
Até então, todos na Terra falavam uma só língua. Deus provoca a
confusão das línguas, fazendo com que os povos se afastem, agrupados por
famílias, e assim se espalhem por toda aquela região. Lawrence Olson4 assim
descreve esta situação:
“A Dispersão aconteceu cerca de 100 a 300 e poucos
anos depois do Dilúvio, provavelmente “nos dias de Pelegue”. Gênesis
10.25; 11.16-19. É impossível estabelecer com exatidão isto teria
acontecido, pois Pelegue viveu 340 anos. Mas certamente foi por volta do
ano 2.000 antes de Cristo”.
Geografia Bíblica 5
6. (Bible Atlas Online by Acess Foundation )
O capítulo dez do livro de Gênesis registra a divisão dos povos pós-
diluvianos, descendentes dos filhos de Noé, indicando as regiões para onde se
deslocaram, o que nos permite mapear todas as nações existentes no mundo antigo,
traçando duas linhas imaginárias, uma de cada lado do Mar Mediterrâneo,
aproximadamente, ficando os filhos de Jafé, os Jafitas ou Arianos, na faixa superior,
os filhos de Sem, os Semitas, na faixa central, e os filhos de Cam, ou Canitas, na
faixa inferior.
W.F. Albright5, falando sobre a importância do relato deste capítulo
do Gênesis, afirma:
Em vista da inextrincável confusão dos laços raciais e
nacionais do antigo Oriente Próximo, seria completamente impossível
delinear um esquema simples que satisfizesse a todos os eruditos;
nenhum sistema poderia satisfazer a todas as declarações feitas segundo
a base da predominância étnica, da difusão etnográfica, da língua, do tipo
físico, da cultura, da tradição histórica. O Rol das Nações como um
documento assombrosamente exato. (Ele) demonstra uma compreensão
tão notavelmente “moderna” da situação étnica e lingüística do mundo
antigo, a despeito de toda complexidade dele, que os eruditos nunca
deixam de ficar impressionados com a compreensão do assunto que o
autor demonstra ter.
Os Jafitas dirigiram-se para o norte, ocupando a Europa e parte da
Ásia, dos quais descendem os povos europeus, tais como: “celtas, gauleses,
irlandeses, franceses (de Gômer), russos (de Magogue, Tubal e Meseque), medos e
persas (de Madai), Jônios ou gregos (de Javã) e trácios (de Tiras)”.6
Na faixa do meio, ficaram, em maior número, os descendentes de
Sem, ou seja, os Semitas. “São semitas: os elamitas (junto ao Golfo Pérsico),
assírios (de Assur), caldeus (de Arfaxade), hebreus (de Heber) e sírios (de Arã)”.7
Geografia Bíblica 6
7. E ocuparam a faixa inferior, os descendentes de Cam ou
Turanianos, indo mais para o sul, ocupando, principalmente, a África e a Arábia
Meridional. São eles: “os etíopes (de Cuxe) ficaram na Etiópia, mas os cananitas, os
heteus, os sidônios, os jebuseus, os amorreus e outros foram para a Palestina
(Canaã)...”.8
QUADRO DAS NAÇÕES9
JAFÉ CÃO SEM
Gômer, Celtas e Cimbros Cuxe, Etíopes Elão, Elamitas
Magogue, Russos e Citas Mizraim, Egípcios Assur, Assírios
Madai, Medos e Persas Pute, Líbios Arfaxade, Caldeus
Javã, Gregos Canaã, Cananeus Lude, Lídios
Meseque, Russos Arã, Sírios ou Arameus
Tiras, Trácios
Geografia Bíblica 7
8. 2. A PALESTINA
(extraída do livro E A Bíblia Tinha Razão, pág. 580).
Dentre os descendentes de Sem, Deus escolheu um dos filhos de
Terá, que habitava em Ur dos Caldeus, na região da Mesopotâmia, chamado
Abraão, para dele formar um povo que fosse sua propriedade particular, através do
qual ele demonstraria o seu poder a toda a humanidade. O propósito divino era
estender a sua benção a todos os povos, através daquele homem, pois afirmou: “em
ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gn 12.3).
Estevão descreve assim este episódio: “O Deus da glória apareceu
a Abraão, nosso pai, estando na Mesopotâmia, antes de habitar em Harã, e disse-
lhe: Sai da tua terra e dentre a tua parentela e dirige-te à terra que eu te mostrar.
Então, saiu da terra dos caldeus e habitou em Harã. E dali, depois que seu pai
faleceu, Deus o trouxe para esta terra em que habitais agora.” (At 7.2-4). Desta
forma, obedecendo ao mandamento divino, Abraão cruza todo o Crescente Fértil, do
oriente ao ocidente, e passa a habitar na região da Palestina.
Saindo de Ur, Abraão segue com a sua família, incluindo seu pai e
um sobrinho, Ló, até a cidade de Harã, localizada no alto do Rio Eufrates, a 965 km
a noroeste de Ur e ainda a 643 km a nordeste de Canaã 10, onde permanece até a
morte de seu pai.
Após a morte de Terá, ele segue para Canaã, levando consigo seu
sobrinho. Werner Keller11 assim descreve o percurso:
Geografia Bíblica 8
9. “O caminho de Harã, pátria dos patriarcas, para a terra de
Canaã, compreendia uma extensão de mais de mil quilômetros e dirigia-se
para o sul. Descendo o rio Belich, ia até o Eufrates, prosseguia por um
caminho de caravanas milenar, passava pelo oásis de Palmira, a bíblica
Tadmor, e continuava daí para sudoeste, até o lago de Genesaré. Era
uma das grandes estradas comerciais que, desde tempos remotíssimos,
levavam do Eufrates ao Jordão, dos reinos da Mesopotâmia até as
cidades fenícias das costas do Mediterrâneo e ao distante Egito, no Nilo.”
A terra para a qual se dirigiu, segundo a orientação de Deus,
entretanto, não estava vazia; era habitada por vários povos descendentes de Cam,
os quais ocupavam toda a terra, chamada Canaã. O nome Palestina foi dado depois
da ocupação romana, e é uma referência aos filisteus – um povo que chegou na
região de Canaã no mesmo período que os hebreus, na volta do Egito.
Nesta terra estranha, Abraão vai viver sem uma habitação fixa, isto
é, em um modo de vida nômade, vivendo em cabanas e mudando-se
constantemente. Joubert Heringer assim descreve a vida de Abraão12:
“Abraão era um nômade, estava sempre se mudando de
um lugar para o outro conforme as necessidades de melhor pastagem de
seu rebanho, sempre nas regiões montanhosas, evitando o vale onde
estavam as cidades estados cananéias com seus deuses e sua sociedade
sedentária. Isso nos aponta também a economia que movia a vida deste
primeiro patriarca, não encontraremos Abraão plantando ou colhendo de
forma sistemática, nem às voltas com animais de grande porte, típicos de
vale; mas, encontraremos Abraão às voltas com carneiros, bodes,
ovelhas, etc... Encontraremos o cuidado de manter a família intacta
quando envia Isaque para encontrar uma esposa na terra de seus
ancestrais, para que da mesma forma com que ele casou-se com uma
prima, ele também o faça, o que acontece ao desposar Rebeca. Esta
postura social é típica do nomadismo que procura não manter laços com
os povos dos lugares por onde peregrina. Outro fator que colocará Abraão
dentro deste círculo geo-social que é o nomadismo será sua forma de
tratar os visitantes, bem expresso quando da visita dos anjos; bem como o
trato com as esposas, o que também transparece na relação Sara, Hagar
e Qetura. Tanto Abraão quanto Isaque vivenciaram o nomadismo, por
rotas diferentes (sempre nas montanhas) e com lugares de parada
diferentes, mas com as mesmas características.”
Deixando o Crescente Fértil, a narrativa bíblica volta-se, agora, para
esta região do Oriente Próximo banhada pelo Mar Mediterrâneo. Netta de Monney 13
assim fala sobre esta faixa de terra:
“É uma adaptação da palavra filistéia que significa o
terreno dos filisteus que haviam desempenhado um papel muito
importante na história hebraica, pelo que os escritores gregos e latinos o
aplicaram a todo o país”.
“A palestina propriamente dita, a Terra das Doze Tribos,
que abrange Canaã e a região Transjordânica, está situada no extremo
meridional da curva ocidental do Fértil Crescente, entre 31º e 35º latitude
Geografia Bíblica 9
10. N e 32º15’ e 34º30’ latitude E, limitado ao N com o Rio Leontes, o monte
Líbano e o monte Hermom, ao E com o deserto Sírio, ao S com o deserto
da Arábia e a O com o Mar Mediterrâneo”.
Werner Keller14 assim descreve a região de Canaã:
“Canaã significa “terra da púrpura”. Deve seu nome a um
produto local muito cobiçado na Antiguidade. Desde os tempos mais
primitivos, seus habitantes extraíam de um caracol do mar — do gênero
Murex —, nativo dessa região, a tinta mais famosa do mundo antigo, a
púrpura. Era tão rara, tão difícil de extrair e, por isso mesmo, tão cara, que
só os ricos podiam adquiri-la. As vestes tingidas de púrpura eram
consideradas em todo o antigo Oriente sinal de alta categoria. Os gregos
chamavam fenícios aos fabricantes e tintureiros de púrpura da costa do
Mediterrâneo, e à sua terra, Fenícia, que na língua deles significava
“púrpura”.
A terra de Canaã é também o berço de dois fatos que
comoveram profundamente o mundo: a palavra “Bíblia” e o nosso
alfabeto! Uma cidade fenícia deu nome à palavra que designa “livro” em
grego; de Biblos, cidade marítima de Canaã, originou-se “biblion” e desta,
mais tarde, “Bíblia”. No século IX a.C. os gregos tomavam de Canaã as
letras do nosso alfabeto.
A parte da região que viria a ser a pátria do povo de Israel
foi batizada, pelos romanos, com o nome dos seus mais acérrimos
inimigos: o nome “Palestina” é derivado de “pelishtim”, como são
designados os filisteus no Velho Testamento. Habitavam a parte
meridional da costa de Canaã — ...todo Israel, desde Dã até Bersabé
(Samuel 1, 3.20). Assim descreve a Bíblia a extensão da Terra Prometida,
isto é, das nascentes do Jordão, nas faldas do Hermon, até as colinas
situadas a leste do mar Morto, e até o Neguev, na Terra do Meio-Dia.”
Abraão e sua descendência viveram em Canaã durante
aproximadamente 215 anos - Abraão tinha a idade de 75 anos, quando saiu de Harã
(Gn 12.4); 25 anos depois, nasce seu filho Isaque (Gn 21.5); Isaque tinha 40 anos,
quando casou-se (Gn 25.20), e lhe nasceram os primeiros filhos aos 60 (Gn 25.26);
Jacó vai para o Egito aos 130 anos (Gn 47.28); somando tudo (25 + 60 + 130), o
resultado será 215 anos - até o período em que José é empossado como
governador do Egito, e convida seu pai, Jacó, agora chamado Israel, juntamente
com seus irmãos, para morarem com ele no Egito.
Geografia Bíblica 10
11. 3. O EGITO
Merril Unger15 descreve a ida dos hebreus para o
Egito deste modo:
A calma vida pastoril dos patriarcas em
Canaã chegou a um fim, devido às circunstâncias que
seguiram a venda de José aos ismaelitas e a sua
subseqüente exaltação no Egito. De acordo com a
cronologia bíblica, preservada, no texto massorético da
Bíblia Hebraica, Jacó e sua família emigraram para o
Egito por volta do ano 1871 a.C., sob a Duodécima
Dinastia Egípcia do Reino Médio (2000-1780 A.C.)
A terra do Egito era demarcada pelo Rio Nilo,
partindo do centro do Continente Africano, até o Mar Mediterrâneo,
sendo dividida, geográfica e politicamente em duas regiões: Alto
Egito e Baixo Egito.
O Baixo Egito é a região banhada pelo Mar
Mediterrâneo, na qual o Rio Nilo abre seus “braços” ou
desembocaduras, formando uma figura parecida com a quarta letra
do alfabeto grego, delta, dando origem a um antigo nome dado à
Região: Planície Delta.
O Alto Egito é formado pelo corredor do Rio Nilo,
adentrando à savana, rumo ao interior do Continente Africano, cuja
região é formada por florestas equatoriais e tropicais.
Toda a terra do Egito depende do Rio Nilo para
sobreviver, e são os transbordamentos regulares do rio, que inunda
as terras ribeirinhas, garantindo a sua fertilidade, o fenômeno mais
importante para a existência desta nação.
Netta de Money16 descreve este rio, com as
seguintes palavras:
“Suas fontes se encontram nos
magníficos lagos de Vitória e Alberto Nianza da África
Equatorial. Entre outros fatores devemos citar os ventos
alíseos do SE carregados de umidade do Oceano Índico
que descarregam o seu conteúdo nas cordilheiras do E
da África e no interior do dito país; as prodigiosas
chuvas, causando assim o transbordamento dos
referidos lagos que formam os poderosos afluentes do
rio em seu curso superior. Toma o nome de Nilo depois
da confluência do Nilo Branco e do Nilo Azul em Cartum,
capital do Sudão. Desde este ponto de união até o
Mediterrâneo, numa distância de 2800 km, só recebe um
afluente mais, o Atibara, que desce das serras
vulcânicas da Absínia. Atravessa a Núbia e o Egito, e
finalmente chega ao Cairo, onde começa o Delta, por
Geografia Bíblica 11
12. cujos dois braços principais, um próximo a Damieta e outro junto a
Roseta, lançando suas águas no Mediterrâneo”.
Foto Cortesia Nasa
Segundo a Enciclopédia Virtual Wikipédia17,
“O Nilo é um rio africano, que nasce do degelo do Monte
Heha, que se torna, um curso de água no Burundi , com nome de Kagera,
que deságua no lago Vitória e deságua no mar Mediterrâneo. Foi revelado
em uma pesquisa recente que o Nilo é o segundo maior rio do mundo em
extensão com 6695 km, perdendo apenas para o Rio Amazonas, no
Brasil, que tem 6868 km.
Está no nordeste da África e sua bacia hidrográfica
abrange 3 milhões de km². , e depois se lança no lago Vitória, do qual sai
denominado Nilo Vitória, em Uganda. Atravessa o lago Kioga e depois o
lago Mobutu, recebendo então o nome de Bahr el-Gebel.
O Nilo, desde tempos imemoriais, é a base de tudo para
as populações ribeirinhas a ele. Era o Nilo que fornecia a água necessária
à sobrevivência e do plantio do Egito. No período das cheias as águas do
rio Nilo transbordavam o leito normal cerca de 20 km e inundavam as
margens, depositando aí uma camada riquíssima de húmus, aproveitada
com sabedoria pelos egípcios tão logo o período de enchente passava,
aproveitando ao máximo o solo fértil para o cultivo. Atualmente, o Nilo
garante a sobrevivência de um décimo da população africana.”
O Prof. Joubert18 nos fala sobre a importância do Egito, no contexto
bíblico:
“Juntamente com o Babilônico o Império Egípcio será um
dos que mais influenciaram a história de Israel. Sua primeira aparição se
dá já no surgimento do povo com a descida de Abraão para lá em busca
de alimentos quando fugia de uma seca na Palestina. Em seguida Isaque
repete os mesmos passos de seu pai, e da mesma forma motivado por
uma fome, desce ao Egito. O terceiro patriarca também descerá ao Egito,
e diferentemente dos dois predecessores que lá estiveram por um espaço
de tempo curto e delimitado, este para lá descerá já quase ao final de sua
vida, e de lá saiu somente depois de sua morte. Também será relacionado
com este império que veremos surgir o povo de Israel, e será a saída
desta turba que se converterá posteriormente em povo que dará origem a
um dos mais importantes relatos de libertação social de um povo de todos
os tempos, chamado Êxodo.
Nos momentos seguintes da história do povo o Egito será
sempre uma forte influência ao sul da Palestina, ora influenciando como
potência militar, ora influenciando como matriz cultural. Mesmo durante o
exílio na Babilônia e posteriormente com a invasão dos gregos e depois
dos romanos, o Egito terá lugar de destaque na história do povo de Israel
e da Igreja Primitiva.
Quando falamos em império Egípcio pensamos,
erroneamente, em uma unidade política contínua. Alías, é muito comum
nos estudos bíblicos as pessoas tomarem pressupostos medievais e
Geografia Bíblica 12
13. modernos e aplicarem à historia de Israel e da Igreja. O que chamamos de
império Egípcio é na verdade uma sucessão de dinastias reais que na
maioria dos casos não possui ligação alguma com a precedente. Até
mesmo a configuração geográfica do império se altera ao longo do tempo,
sendo cada dinastia de uma região diferente”.
O território do Egito cobria o litoral nordeste da África, limitado pelo
deserto do Saara a oeste, pelas florestas tropicais da Núbia ao sul, pelo mar
Vermelho ao leste, e pelo Mediterrâneo ao norte.
Períodos da História Egípcia19
Períodos Datas Eventos Bíblicos
I. Período Dinástico primitivo 3100-2800 a.C.
(Dinastias 1-2)
11. Antigo Reino (Dinastias 3-6) 2800-2250 a.C.
III. Primeiro Período Intermediário 2250-2000 a.C. Abraão chega ao Egito
(Dinastias 7-9)
IV'. Reino Médio (Dinastias 9-12) 2000-1786 a.C. José e Jacó vão para o Egito
V. Segundo Período Intermediário 2000-1575 a.C.
(Dinastias 13-17)
VI. Novo Reino (Dinastias 18-20) 1575-1085 a.C. O Êxodo (1446 a.C.)
VII. Terceiro Período Intermediário 1085-663 a.C. Sheshonk I ("Sisaque") saqueia o templo (927
(Dinastias 21-25) a.C.)
VIII. Período Recente (Dinastias 663-332 a.C. O Exílio (586 a.C); refugiados fogem para o
26-31) Egito
IX. Período Ptolemaico 332-20 a.C.
X. Era Romana 30 a.C-395 d.C. Maria e José fogem para o Egito (4 a.C.)
Geografia Bíblica 13
14. II. POVOS BÍBLICOS
Os povos que habitaram as terras bíblicas e a Palestina eram os
seguintes:
1. EGÍPCIOS
Os egípcios formaram uma das
primeiras grandes civilizações da humanidade,
exercendo grande influência no cenário bíblico.
Destacaram-se, sobretudo, pelas grandes
construções e pelo misticismo. O povo egípcio é
assim descrito20:
“Não conhecemos a exata
origem racial do povo egípcio, porém suas
estátuas e pinturas de templos dão-nos um
Reconstrução da face do faraó
quadro detalhado deles durante os tempos Tutacamon, por uma equipe
bíblicos, e os corpos embalsamados dos francesa.
monarcas egípcios também nos evidenciam a sua aparência.
Os egípcios eram, em geral, de estatura mais ou menos
baixa, pele bronzeada, cabelo castanho eriçado, típico dos povos situados
nas costas sulistas do Mediterrâneo. Os negros do interior do Nilo não
desceram o rio e não se misturaram com os egípcios até mais ou menos
1500 a.C. (Não sabemos, porém, se a "mulher etíope" com quem Moisés
se casou era negra — cf. Números 12:1.)
Por contraste, os israelitas vieram dos bandos errantes de
pastores que viviam ao longo das margens ao norte do deserto da Arábia.
Assim, Abraão e seus descendentes eram, provavelmente, quase da
mesma altura dos egípcios, mas tinham cútis cor de oliva, e cabelo
castanho-escuro ou preto.”
A cultura egípcia foi muito influenciada pela idolatria e pelo
misticismo. Pelo menos trinta deuses formavam o panteão principal, além de
dezenas de deuses de menor importância. A grande preocupação com a morte e
vida após a morte os levou a construir grandes mausoléus em formato de pirâmides,
tais como a pirâmide de Gizé (uma das sete maravilhas do mundo antigo) e as de
Quéops, Quéfren e Miquerinos. Isto também os levou a desenvolver a técnica de
embalsamamento dos corpos.
Geografia Bíblica 14
15. 2. ASSÍRIOS
Eram semitas que habitaram o norte da
Mesopotâmia, região compreendida entre os rios Tigre e Eufrates,
provavelmente, descendentes de Assur, filho de Sem (Gn 10.11).
Sua capital, nos anos mais prósperos, foi Nínive, numa região que
hoje pertence ao Iraque. Eles alcançaram grande crescimento da
ciência e da matemática, além de se tornaram cruéis guerreiros. A
escrita dos assírios constituía-se de pequenas cunhas feitas com um estilete em
tabuletas de argila — é a chamada escrita cuneiforme. A religião seguia as bases
dos cultos realizados pelos sumérios e seu idioma, o Aramaico, era a língua mais
falada na região, no tempo de Jesus.
3. BABILÔNICOS
Por volta do ano 2.000 a.C., amoritas do deserto invadem as cidades
acadianas e sumerianas e fundam a Babilônia. O povo babilônico era muito
avançado para a sua época, demonstrando grandes conhecimentos em arquitetura,
agricultura, astronomia e direito. Eles criaram a astrologia e a astronomia e
aperfeiçoaram a matemática com a invenção do círculo de 360 graus e a hora de 60
minutos.
É deles também a invenção de um rico e preciso calendário, cujo
objetivo principal era conhecer mais sobre as cheias do rio Eufrates e também obter
melhores condições para o desenvolvimento da agricultura.
4. PERSAS
Diversas tribos de povos arianos indo-europeus, chegaram, por volta
de 2000 a 1500 a.C. à região compreendida entre o Mar Cáspio e o atual Golfo
Pérsico, conhecida como Planalto Iraniano, e deram origem ao povo persa. O
comércio era sua principal atividade econômica.
A religião persa, no início, era politeísta. No entanto, entre os
séculos VII e VI a.C., o profeta Zoroastro (Zaratrusta, em persa) empreendeu uma
nova concepção religiosa entre eles. O pensamento religioso de Zoroastro era
dualista e acreditava que o posicionamento religioso do indivíduo consistia na
escolha entre o bem e o mal.
Inicialmente, eram duas grandes tribos, os medos e os persas, que
formara dois reinos independentes, mas foram unificados pelo rei Ciro, o Grande,
que derrotou o império babilônico.
Atualmente se concentram no Irã, mas possuem grupos espalhados
por muitos países do mundo, principalmente Afeganistão, Tajiquistão, Uzbequistão,
na província de Xinjiang, na China e no norte do Paquistão.
5. AMORREUS
Habitavam o lado ocidental do Mar Morto (Gn 14.7), em Hebrom (Gn
14.13), em Siquém (Gn 48.22), em Gileade e Basã (Dt 3.8-10) e nas imediações do
Monte Hermom (Dt 3.8). Deus deu ordem aos israelitas para os destruírem (Gn 3.7;
Dt 2.1). Eram, provavelmente, descendentes dos caldeus, e tiveram como rei, na
época da conquista, Seom (Nm 21.21-33).
Geografia Bíblica 15
16. 6. HETEUS
Descendentes de Hete, o segundo filho de Canaã, estabeleceram-se
no norte de Israel, em cidades como Hamate e Cades, nas margens do rio Orontes.
Haviam também os heteus do sul, dos filhos de Hete, dos quais Abraão comprou a
cova de Macpela (Gn 23.10); as duas esposas de Esaú eram hetéias (Gn 26.34).
7. CANANEUS
São descendentes de Canaã, filho de Cão (Gn 10.6). Eles ocuparam
uma grande faixa no vale do Jordão e se estenderam pela orla do Mediterrâneo (Nm
13.20; 14.25). Nos tempos de Josué possuíam cidades fortificadas.
8. PERISEUS
Também descendiam de Canaã (Gn 15.20), e habitavam os campos,
dedicando-se à agricultura. Eles espalharam-se por toda a terra de Canaã e foram
enfrentados por Josué no Monte Carmelo (Js 17.15) e também ofereceram
resistência nos territórios ocupados por Judá (Jz 1.4,5).
9. HEVEUS
Também descendiam de Canaã (1Cr 1.15) e estavam entre os que
enganaram Josué e foram reduzidos a rachadores de lenha. Foi com Hamor, o
heveu, que aconteceu o incidente com Diná (Gn 34), em Siquém.
10. GIRGASEUS
Também procediam de Canaã (1Cr 1.14). Eles ofereceram
resistência a Josué, mas foram derrotados (Js 3.10). Pouco se sabe sobre as
atividades deste povo.
11. JEBUSEUS
Também eram descendentes de Canaã (Gn 15.21). Eles
estabeleceram-se ao redor de Jerusalém, que primitivamente se chamava Jebus (Jz
19.10). Adonizeque, rei de Jerusalém, estava entre os que enfrentaram Josué em
Gibeom (Js 10.3-5).
12. FILISTEUS
Eram provenientes das ilhas gregas. Eles invadiram Canaã e se
radicaram ao sul da região. Eram descendentes de Casluim, filho de Mizraim (Gn
10.14). Eram guerreiros valentes e perigosos e não foram atacados por Josué. Eles
sempre foram inimigos de Israel (quem não se lembra de Golias!?) no tempo dos
reis, sendo a última referência da Bíblia a este povo em Zc 9.6, após o cativeiro
babilônico.
Geografia Bíblica 16
17. III. GEOGRAFIA POLÍTICA DA TERRA SANTA
O geógrafo alemão Friedrich Ratzel, em sua obra "Politische
Geographie" (Geografia Política, em português), publicada em 1897, assim define:
“A geografia política é o estudo das relações entre o Estado e o solo”.
1. O ÊXODO
(Bible Atlas Online by Acess Foundation)
Por alguns anos, os hebreus viveram no Egito, desfrutando das
regalias de serem da família do governador José. Entretanto, o tempo foi passando,
José morreu, o Faraó que o havia conhecido também faleceu, e outro Faraó subiu
ao trono, que não conhecia José, o qual resolveu explorar a mão de obra dos
hebreus, escravizando-os, e obrigando-os a trabalharem nas grandes construções.
Depois de muitos anos como escravos no Egito, o povo de Israel
clama a Deus por um livramento. E Deus responde à suas orações preparando
Moisés para libertá-los da nação opressora. Milagrosamente salvo das águas e
Geografia Bíblica 17
18. criado como filho da filha de Faraó, ele foi educado na ciência e nas artes do Egito,
para vir a ser o grande legislador de Israel.
Moisés vive os primeiros 40 anos como príncipe do Egito. É com
esta idade que ele ataca mortalmente um egípcio que feria a um hebreu e é
obrigado a fugir do Egito, para não ser morto por Faraó. Ele vai viver os próximos 40
anos no deserto de Mídia, aonde casa, tem filhos, e vive como pastor de ovelhas.
Quando Moisés está com 80 anos, Deus fala com ele no Monte
Horebe, e o envia ao Egito, com a missão de livrar o seu povo das mãos de Faraó e
conduzi-los para a terra de Canaã, de onde os hebreus vieram, 215 anos antes.
Através de Moisés, Deus manifesta o seu poder sobre a poderosa nação egípcia,
enviando grandes pragas, que dizimaram o gado e as plantações, e provocaram
morte e desespero na terra do Egito.
Naquela noite, em que os filhos de Israel realizaram a Páscoa pela
primeira vez, Deus feriu os primogênitos dos egípcios, e, assim, Faraó deixou o povo
de Deus sair, levando consigo os seus filhos, seu gado e toda a riqueza do Egito. É
assim o relato bíblico: “Assim, partiram os filhos de Israel de Ramessés para Sucote,
coisa de seiscentos mil de pé, somente de varões, sem contar os meninos. E subiu
também com eles uma mistura de gente, e ovelhas, e vacas, uma grande multidão
de gado” (Êx 12.37,38).
Netta de Money21 assim registra esta saída:
“O teatro das maravilhosas obras de Moisés foram Zoã,
cidade real a E do braço Tanítico do Nilo. Quando soou a hora da
libertação, Israel foi impedido de passar rumo a Canaã pela direção NE
por ser o “caminho dos filisteus”, e como os egípcios haviam levantado
uma linha de fortificações ao longo da única fronteira terrestre que tinha a
defender, entre o Mediterrâneo e a cabeceira do Golfo de Suez, viram-se
obrigados a desviar para o S em direção ao Mar Vermelho (Êxodo
13:17-18)”.
Historiadores, arqueólogos e outros pesquisadores há muito tempo
discutem para definirem a data exata em que aconteceu o êxodo hebreu. Esta,
entretanto, não é uma tarefa fácil, pois são poucos os elementos que nos ajudam a
descobrir a época certa deste grande acontecimento. Paul Hoff22 assim define esta
questão:
Não há dúvida alguma de que os israelitas saíram do
Egito no lapso compreendido entre 1450 e 1220 a.C. Israel já estava
radicado em Canaã no ano de 1220 a.C., pois o monumento levantado
pelo Faraó Mereptá faz alusão ao combate entre egípcios e israelitas na
Palestina, naquela data. Não obstante, faltam evidências conclusivas
quanto à data precisa do Êxodo.
Há duas opiniões principais a respeito desta questão. De
acordo com a primeira, o Êxodo dataria, mais ou menos, por volta do ano
1440 a.C. Conforme a segunda opinião, ocorreu no reinado de Ramsés II,
entre 1260 e 1240 a.C. Se a data anterior é correta, Tutmés III, o grande
conquistador e construtor, foi o opressor de Israel, e Amenotepe II foi o
Faraó do Êxodo. Há evidências de que Tutmósis IV, o sucessor de
Amenotepe II, não foi o filho primogênito deste, fato que concordaria com
a morte do primogênito do Faraó do Êxodo. Os que favorecem a data
anterior pensam que os invasores de Canaã durante o século XIV,
Geografia Bíblica 18
19. mencionados como habiru nos documentos históricos, outros não são
senão os hebreus que, sob Josué invadiram a Palestina. Nas famosas
cartas de Tl-el-Amarna, escritas por chefes das cidades-estados de Canaã
dirigidas aos Faraós Amenotepe III e Amenotepe IV no século XIV, há
indicações de que a Palestina estava em perigo de perder-se nas mãos
dos habiru. Os chefes cananeus clamaram por ajuda egípcia, mas
Amenotepe IV estava tão ocupado estabelecendo o culto a seu deus Áton,
que não deu ouvidos a seus rogos.
Segundo relato bíblico, o povo de Israel reuniu-se na cidade real de
Tanis ou Ramsés, no braço oriental do Delta e, de lá, partiram para Sucote,
cinqüenta e dois quilômetros a sudoeste, indo depois para Etã, na orla do deserto. A
parada seguinte foi em “Pi-Hairote, entre Migdol e o mar, diante de Baal-Zefom” (Êx
14.2). O lugar exato onde as águas se abriram, tornando possível a travessia do
mar, talvez nunca seja positivamente estabelecido. Há um certo número de lugares
possíveis. O nome hebraico do lugar que os egípcios atravessaram ao deixarem o
Egito significa “o mar dos caniços”. O nome descritivo parece referir-se à região
pantanosa e de águas rasas através da qual foi mais tarde cortado o Canal de Suez.
A primeira dificuldade está na tradução. A palavra hebraica "Yam
Suph" é traduzida ora por "Mar Vermelho" ora por "Mar dos juncos". Repetidamente
se fala do "Mar dos juncos": "Ouvimos que o Senhor secou as águas do Mar dos
Juncos á vossa entrada, quando saístes do Egito” (Js. 2.10). No Antigo Testamento,
até ao profeta Jeremias, fala-se em "Mar dos Juncos". O Novo Testamento diz
sempre "Mar Vermelho" (Ap. 7.36; Hb. 10.29).
Às margens do Mar Vermelho não crescem juncos. O mar dos
juncos propriamente ficava mais ao norte. Dificilmente se poderia fazer uma
reconstituição fidedigna do local - e esta é a segunda dificuldade. A construção do
canal de Suez no século passado modificou muito o aspecto da paisagem da região.
Segundo os cálculos mais prováveis, o chamado "milagre do mar" deve ter tido lugar
nesse território. Assim é que, por exemplo, o antigo lago de Ballah, que ficava ao sul
da estrada dos filisteus, desapareceu com a construção do canal, transformando-se
em pântano. Nos tempos de Ramsés II existia ao sul uma ligação do Golfo de Suez
com os lagos amargos. Provavelmente chegava mesmo até mais adiante, até ao
Lago Timsâh, o Lago dos Crocodilos. Nessa região existia outrora um mar de
juncos. O braço de água que se comunicava com os lagos amargos era vadeável
em diversos lugares. A verdade é que foram encontrados alguns vestígios de
passagens. A fuga do Egito pelo Mar dos Juncos é, pois, perfeitamente verossímil.
Da travessia do Mar ao Sinai, Israel faz as seguintes paradas23:
Parada Evento
Mara e Elim, no deserto de Etã, na praia O saneamento das águas. A abundâncias das águas e
oriental do Golfo de Suez palmeiras.
Deserto de Zim, pela praia oriental do Murmuração do povo. Provisão de codornizes e de
Canal de Suez, ao Sul do deserto de Etã maná. A instituição do Sábado.
Refidim, entre o deserto de Zim e o monte Erupção de água na rocha. Derrota dos amalequitas.
Sinai. Atenção de Moisés ao conselho de Jetro.
Três meses depois de escaparem do Egito, os israelitas chegaram
ao pé do Monte Sinais, onde, algum tempo antes, Moisés tinha visto a sarça ardente
e recebido a ordem do Senhor. Aí eles acamparam e durante os meses que se
Geografia Bíblica 19
20. seguiram Moisés subiu as encostas do Monte Sinai para comungar com Deus. Foi aí
que Deus revelou a Moisés os princípios da fé que os Filhos de Israel deveriam
seguir para todo o sempre, e aí que Ele deu a Moisés os Dez Mandamentos inscritos
em duas tábuas de pedra.
De lá, o povo de Israel levanta acampamento, em direção a Cades-
Barnéia, Passando pela beira do deserto de Parã, e faz as seguintes paradas:
Parada Evento
Taberá, a 48 km a nordeste do Sinai. Murmurações castigadas pelo fogo. O pecado do
descontentamento.
Quibrote-Taavá, entre o Sinai e Haverote A milagrosa provisão de codornizes. O enterro dos
cobiçosos e a eleição dos 70 anciãos.
Hazerote, a 64 km a nordeste do Sinai. A conjuração contra Moisés, urdida por Miriã, e o
castigo que lhe foi imposto. Reconhecimento através
de espias.
Ao
final deste tempo, o
relato bíblico
descreve as
paradas finais, até o
destino tão
almejado:
Parada Evento
Cades-Barnéia A desobediência de Moisés. Edom nega permissão de
trânsito a Israel. A vitória israelita sobre o rei cananeu
de Arade, em Hormá, povoação de Sefelá.
Monte Hor, na margem de Edom, onde se A morte de Arão. As pragas das serpentes.
deteve o povo curto tempo.
Élate, na cabeceira do golfo de Acaba, na A cura dos feridos mediante a serpente de metal
margem orientalDe deserto de Parã.
do Cades são colocada numa haste.
enviados os 12 espias à terra de
Zarede A travessia do ribeiro
Canaã, os que constituía com fronteira
Arnom, quais voltam a um A negativa de trânsito de Seom, o amorreu. A derrota
relatório pessimista, causando
setentrional de Moabe deste em Jaza.
Planícies de Moabe
pânico e rebelião no povo. Por A profecia de Balaão. O pecado de Baal-Peor. A
campanha contra Mídia e Moabe. A partilha da herança
causa disto, são condenados a
de duas e meia tribos. A divisão da lei e recapitulação
vaguear pelo deserto pelos das jornadas. A morte de Moisés no monte Nebo.
próximos 38 anos, até que toda a
geração rebelde padeça no
deserto.
(Bible Atlas Online by Acess Foundation)
Geografia Bíblica 20
21. 2. A CONQUISTA DE CANAÃ
Agora sob o
comando de Josué, Israel
atravessa milagrosamente o Rio
Jordão, em cheia, e estabelece
acampamento em Gilgal, de
onde inicia a conquista da Terra
Prometida.
A primeira vitória
em Canaã foi contra a cidade de
Jericó, localizada no centro do
país, aonde ocorreu o famoso
episódio da derrubada dos
muros. Após Jericó, caíram as
cidades de Ai e Betel. Como os
de Siquém entregaram-se sem
luta e os Gibeonitas fizeram um
pacto enganoso com Josué, toda
a região Central estava tomada.
Como a parte
oriental da terra já havia sido
conquistada por Moisés,
derrotando Siom, rei dos
amorreus e Ogue, rei de Basã,
Josué concentra-se, então, nas
campanhas do norte e do sul. Ao
cabo de alguns anos, Israel pode
se estabelecer na Terra.
(Bible Atlas Online by Acess Foundation)
Josué, no entanto, cometeu três graves erros, que trouxeram
conseqüências desastrosas para a posteridade: a) fez aliança com os Gibeonitas (Js
9); b) permitiu que os jebuseus permanecessem em Jerusalém (Js 15.63) e c) não
conseguiu derrotar os filisteus e tomar conta da área litorânea. Por causa disto, as
tribos de Judá e Simeão ficaram separadas das demais.
Além disto, Josué não conseguiu expulsar os cananeus de várias
partes do país, e eles sempre representaram um problema para Israel. Merril F.
Unger24 assim relata este período de conquista:
“Embora os cananeus tenham sido completamente
massacrados quando uma cidade era conquistada, em muitos casos a
própria cidade não era destruída (Josué 11.13), e não poucos de seus
habitantes, que haviam podido escapar por terem fugido ou se terem
escondido, voltaram (Josué 10.43) para as cidades invadidas, e anos mais
tarde, quando as tribos de Israel se espalharam, procurando lugar para se
estabelecerem, encontraram resistência esporádica. Da mesma forma,
lugares outrora conquistados como Debir (Josué 10.38,39) tiveram que
Geografia Bíblica 21
22. ser mais tarde reconquistados (Juízes 1.11-15). Entre outros casos
semelhantes encontra-se Hebrom (Josué 10.36,37; Juízes 1.10)”.
3. DIVISÃO DAS TRIBOS
Quando os filhos de Israel ocuparam a terra de Canaã, o território foi
dividido entre as tribos. Dos 12 filhos de Jacó, Levi, por ser a tribo sacerdotal, não
teve porção de terra, mas apenas cidades nas porções de seus irmãos, e José
herdou duas tribos, que levaram os nomes de seus filhos: Efraim e Manassés. Assim
sendo, a terra foi dividida em 12 porções: no lado oriental do Jordão ficaram as
tribos de Gade, Rubem e a meia tribo de Manasses. Do lado ocidental, as tribos de
Aser, Naftali, Zebulom, Issacar, Efraim, Dã, Benjamim, Judá, Simeão e a meia tribo
de Manassés (Dt 3.13-16).
(Bible Atlas Online by Acess Foundation)
Geografia Bíblica 22
23. 4. O REINO UNIDO
(Bible Atlas Online by Acess Foundation)
Quando Samuel era o juiz em Israel, tendo governado a terra por
muitos anos, o povo de Israel lhe fez um pedido: “Eis que já estás velho, e teus
filhos não andam pelos teus caminhos; constitui-nos, pois, agora, um rei sobre nós,
para que ele nos julgue, como o têm todas as nações” (1Sm 8.5). Samuel não
gostou daquela proposta, mas consultou a Deus e, mediante sua permissão, ungiu a
Saul, da tribo de Benjamim, o primeiro rei sobre Israel.
Saul unificou as tribos e, sob seu comando, Israel fez conquistas
importantes contra os amonitas e iniciou a mudança do modelo tribal para a
monarquia, em Israel. Os filisteus estavam conquistando território com o seu exército
fortificado, principalmente por que detinham o monopólio do ferro (1Sm 13.19-21).
Geografia Bíblica 23
24. Eram uma ameaça permanente, que não podia ser enfrentada com tropas
voluntárias de um exército popular. Se fazia necessário ter um exército permanente,
profissional, uma organização de poder centralizado, enfim, uma monarquia, que era
o modelo da época (1 Sm 8.5-20).
Saul desobedece a Deus e é rejeitado como rei. O período do
reinado de Saul é muito conturbado, marcado pelos conflitos com os povos vizinhos
e pelos problemas internos com Samuel e Davi, e culmina com a derrota para os
filisteus, na batalha das montanhas de Gilboa. O rei Saul e seus filhos são mortos, a
arca do Senhor é tomada e o território conquistado pelo inimigo.
Com a morte de Saul, as tribos do sul, que não eram submissas a
ele, imediatamente proclamam Davi como novo rei, em Hebrom. Com a morte de
Abner, general de Saul, e o reconhecimento dos anciãos, Davi é aclamado rei sobre
toda a terra de Israel (2Sm 3.22-5.3). Ele conquistou a cidade de Jerusalém, mudou
a sua residência para lá e a estabeleceu com capital do reino e centro religioso e
cultural.
Assim, Davi consolidou a monarquia em Israel, fez aliança políticas
importantes, alargou as fronteiras do seu território, subjugou os inimigos, tais como:
filisteus, amonitas, moabitas e edomitas, construiu um tabernáculo em Jerusalém e
para lá levou a arca do Senhor. Assim ele estabeleceu-se como o maior rei da
história de Israel.
Vendo a velhice chegar, Davi preocupou-se em indicar o seu
herdeiro no trono. Salomão, filho de Bate-Seba, não era o herdeiro natural, mas Davi
conseguiu estabelecê-lo com rei. Assim que Salomão consegue estabilidade, ele
mandou matar seu irmão Adonias, que queria usurpar-lhe o trono, também matou a
Joabe, chefe do exército, e desterrou o sumo-sacerdote Abiatar.
Salomão foi o mais brilhante de todos os administradores de Israel.
Ele estabeleceu o comércio exterior pelo mar, através do Mar Mediterrâneo e do Mar
Vermelho, além de rotas comerciais terrestres, que trouxeram crescimento e
prosperidade para o reino. Além disto, construiu o Templo em Jerusalém, palácios e
fortalezas e ampliou as alianças políticas, estendendo ainda mais o seu domínio.
Todo este esplendor, entretanto, teve o seu custo, e Salomão
sobrecarregou o povo com altas taxas, para manter a sua corte, o que provocou
grandes problemas internos. O Estado tinha muitas despesas para manter o
exército, os cavalos, os palácios e as esposas do rei, e as construções. Os pesados
impostos estavam sobrecarregando a população israelita. Apesar destes problemas,
Salomão terminou o seu reinado em relativa paz, porém em desobediência a Deus.
Ele acumulou riquezas e mulheres, contrariando a ordem divina (Dt 17.14-17), e
edificou altares a deuses estranhos e os adorou (1Rs 11.4-7). Pelo que, Deus
resolveu dividir o seu reino e entregar ao seu servo (1Rs 11.11).
Geografia Bíblica 24
25. 5. O REINO DIVIDIDO
(Bible Atlas Online by Acess Foundation)
Com a morte do rei Salomão, Roboão, seu filho, reinou em seu
lugar. Netta de Money25 assim descreve os acontecimentos:
“Os impostos implantados por Salomão haviam sido muito
pesados. O povo de Israel, prazerosamente havia pago para a construção
da “Casa de Deus” e para um palácio digno do rei, porém a continuação
onerosa dos impostos para realização dos ambiciosos planos do rei não
tardou em semear o descontentamento por todas as partes. O povo exigiu
de Roboão, filho de Salomão, que aliviasse a pesada carga que este lhe
havia imposto, porém, por não atender a essa reclamação, produziu-se
uma revolta. Todas as tribos, menos a de Judá e uma parte da de
Benjamim, desconheceram a autoridade de Roboão, e elegeram rei a
Jeroboão. Assim se processou a divisão definitiva do povo de Israel e a
formação de dois reinos de Judá e Israel. Ao produzir-se esse desacordo,
Geografia Bíblica 25
26. os sírios aproveitaram a oportunidade para livrar-se do jugo de Israel e
formar um reino independente e forte no N. O reino de Moabe, todavia,
continuou tributário de Israel por algum tempo, e Edom era satélite de
Judá”.
A respeito dos limites geográficos de Israel, após a divisão do reino,
Enéas Tognini26 escreve:
“Os limites de Israel dos tempos do reino unido não
sofreram, no princípio, alteração. O reino foi dividido em duas partes:
Norte ou Israel, com capital em Siquém e Penuel (1Rs 12.25) e depois
Samaria (1Rs 16.24), com dez tribos e mais a meia tribo de Benjamim; e
Sul ou Judá, com capital em Jerusalém, com Judá e a outra meia tribo de
Benjamim (1Rs 12.20,21; 2Cr 11.2)”.
O reino do Norte foi beneficiado, geograficamente, com a divisão do
reino, pois os principais recursos naturais estavam concentrados na região das
tribos do Norte: o Mar da Galiléia, o rio Jordão, as planícies mais férteis, entre
outros. A geografia do território das tribos do Sul incluía o Mar Morto e o deserto do
Negev. O reino do Sul estava, portanto, em desvantagem, quanto aos recursos
naturais e quanto à representatividade das tribos.
Com o passar do tempo, porém, cada reino teve o seu território
alterado pelos conflitos com outros povos. Primeiro foi o reino do Norte que, após
uma sucessão de reis desobedientes e idólatras, Deus permite que seja atacado
pelo império Assírio, sob o comando do rei Sargão II, por volta do ano 721 a.C.
Desta forma, teve fim o reino de Samaria, e nunca mais foi restaurado.
Apesar de alguns reis do reino do Sul, Israel, terem sido tementes a
Deus, a maioria segue os passos dos reis do norte, e foram rebeldes e
desobedientes ao Senhor. Semelhantemente, Deus permitiu que eles fossem
atacados pelo Império Babilônico, do rei Nabucodonosor, no ano 587 a.C. O Templo
de Jerusalém foi demolido, os muros e portas da cidade destruídos, os tesouros são
roubados, milhares de pessoas foram mortas e muitos foram levados cativos para a
Babilônia, de onde alguns voltariam, muitos anos depois, sob a liderança de Esdras
e Neemias.
A partir
do retorno à terra, agora
Israel está reduzido,
praticamente, à tribo de
Judá, tendo um território
bem menor do que na
época do apogeu do
reinado de Davi e
Salomão. Além disto, a
partir esta época, Israel
sempre esteve sob o
jugo dos grandes
impérios mundiais, de
Alexandre a Roma.
Geografia Bíblica 26
27. 6. O IMPÉRIO ASSÍRIO
O domínio
assírio na Mesopotâmia
iniciou-se por volta do ano
2500 a.C., na cidade de
Assur (nome de sua principal
divindade). Ocupando as
margens do Rio Tigre e
vizinhanças, eles construíram
um forte Estado, com cavalos
e armas de guerra, e, assim,
dominaram a Média
Mesopotâmia.
Os assírios
ficaram famosos pela
crueldade com que tratavam (Publicado no Wikipedia, no endereço
os vencidos, torturando os http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c1/Map_of_Assyria.png)
vencidos, a fim de intimidar os seus inimigos. Durante o reinado de Sargão II, os
assírios conquistaram o reino de Israel e, no de Tiglatfalasar, tomaram a cidade da
Babilônia. Durante o século VII a.C., principalmente nos reinados de Senaqueribe
(705 a.C. – 681 a.C.) e de Assurbanipal (668 a.C. – 631 a.C.), o Império Assírio
atingiu seu apogeu, dominando uma área que se estendia do golfo Pérsico à Ásia
Menor e do Tigre até o Egito.
No reinado de Senaqueribe, a capital foi transferida de Assur para
Nínive e, sob Assurbanipal, foram realizadas as últimas conquistas assírias,
incluindo a do Egito. Assurbanipal, além de grande guerreiro, era fascinado pela
ciência e literatura, e criou uma grande biblioteca na nova capital assíria. A
Biblioteca de Nínive reuniu um amplo acervo cultural de toda a região, formada por
dezenas de milhares de tijolos de argila.
Foi o rei Sargão II quem conquistou o reino do Norte, em 722 a.C.,
destruindo praticamente tudo, e levou os habitantes das tribos do norte cativos, para
a Assíria. O povo que foi trazido por ele para habitar, progressivamente, neste
território, eram oriundos da Babilônia, Cuta, Ava, Hamate e Sefarvaim (2 Re
17.24-41), e foram ensinados a adorar o Deus de Israel, mas não abandonaram
seus deuses pagãos. Esta mistura de povos deu origem aos samaritanos.
No ano 612 a.C., os medos, oriundos das margens do mar Cáspio,
tomaram Assur e Nínive, pondo fim ao império assírio.
7. O IMPÉRIO BABILÔNICO
A Babilônia é uma das mais antigas civilizações conhecidas. Eles se
estabeleceram na Mesopotâmia por volta do ano 1950 a.C. O primeiro Império
Babilônico se deu com Hamurabi. Este império existiu de 1728 a.C. a 1513 a.C.
Hamurabi criou leis severas e as escreveu em tábuas de barro. Os babilônicos já
haviam construído a cidade de Akad (que dá nome aos acádios - seus
descendentes). Hamurabi, porém, transfere a capital do império para Babel, cerca a
cidade com muralhas, impulsiona a agricultura e restaura os templos. Durante esta
época a Babilônia tornou-se uma das regiões mais prósperas do mundo antigo.
Geografia Bíblica 27
28. Com a morte de
Hamurabi, a Babilônia foi
conquistada por Hititas e
Assírios. Aliados dos medos, os
caldeus aproveitam-se da vitória
contra os assírios e recuperam o
domínio babilônico a partir de
614 a.C. Nesse ano,
Nabopalasar funda uma nova
dinastia e inicia o segundo
Império. O reinado do seu filho,
Nabucodonosor (604 a.C. - 562
a.C.), tem início em 604 a.C.
Na segunda
metade do século VI a.C. ele
deporta judeus para a Babilônia, evento que conhecemos como Cativeiro Babilônico.
Sob seu domínio o Império Babilônico teve grande expansão territorial. Foi
Nabucodonosor quem ordenou a construção dos jardins suspensos da Babilônia,
uma das sete maravilhas do mundo antigo.
Com sua morte, após 42 anos de poder, o reino entra em declínio e,
em 539 a.C., a Babilônia é conquistada por Ciro, rei dos Persas. Ele obtém uma
aliança com as classes dominantes (comerciantes e sacerdotes), que aceitam a
dominação estrangeira em troca da manutenção de seus privilégios.
8. O IMPÉRIO MEDO-PERSA
Os Medos eram
tribos espalhadas que foram
unificadas por Déjoces. Um dos
seus sucessores, Ciáxares foi o
aliado de Napolassar na
conquista dos Assírios. Ciro II
da Pérsia, mais conhecido
como Ciro, o Grande, foi rei da
Pérsia entre 559 e 530 a.C. Ele
derrotou medos, líbios e
babilônicos e formou um grande
império. Foi ele quem permitiu a
volta dos judeus para a terra de (Bible Atlas Online by Acess Foundation)
Israel.
Aos poucos a Fenícia, a Palestina e a Síria também se submeteram
ao domínio persa, cujo império se estendeu da Ásia Menor e costa mediterrânica, no
ocidente, à Índia, no oriente. O domínio de diferentes povos numa única
administração era conseguido com uma política que respeitava as diferenças
culturais e religiosas, tratando com liberdade os povos vencidos e reinando com
justiça.
Cambises I, filho de Ciro, conquistou o Egito, na batalha de Pelusa,
em 525 a.C., ampliando, ainda mais, o seu território. Após a morte de seu filho,
Cambises II (rei entre 530 e 522 a.C.), o reino foi conquistado por Dario I, em cuja
administração este império atingiu o apogeu.
Geografia Bíblica 28
29. 9. O IMPÉRIO GREGO
No Século IV a.C.
surgiu um novo império na Europa.
Filipe II, é o rei da Macedônia, um
pequeno país que se limitava, ao
sul com a Grécia, ao leste,com o
mar Egeu e com a Trácia, ao
norte,com os montes balcânicos,
e, a oeste, com a Trácia e o Ilíaco.
A Grécia era formada por cidades-
estado, tais como Esparta, Atenas
e Tebas. A Grécia constitui-se,
praticamente, de uma península
(Bible Atlas Online by Acess Foundation)
localizada no Sudeste da Europa.
É banhado por três mares: a leste, pelo Egeu; ao sul, pelo Mediterrâneo; e a oeste
pelo Jônico.
Filipe II conquistou a Grécia e unificou os dois povos, formando um
novo império. Com a sua morte, é substituído pelo filho, Alexandre, o Grande, que
concluiu as conquistas iniciadas pelo pai, tendo instalado o império grego após a
vitória sobre os medos e os persas, na famosa batalha de Isso, com um exército
muito menor, mas com uma grande estratégia militar. Alexandre estende seu império
sobre a Macedônia, a Grécia e o Império Persa, incluindo o Egito e estendendo-se
na direção do oriente até a Índia. Foi o império mais extenso do mundo antigo até
aquele tempo.
A marcha de Alexandre para Jerusalém é assim relatada por Flávio
Josefo27:
“Quando se soube que ele já estava perto, o sumo
sacerdote, acompanhado pelos outros sacerdotes e por todo o povo, foi
ao seu encontro com essa pompa tão santa e tão diferente da de outras
nações até o lugar denominado Safa, que em grego significa "mirante",
porque de lá se pode ver a cidade de Jerusalém e o Templo. Os fenícios e
os caldeus que integravam o exército de Alexandre não duvidavam de ele,
na cólera em que se achava contra os judeus, lhes permitiria saquear
Jerusalém e daria um castigo exemplar ao sumo sacerdote.
Mas aconteceu justamente o contrário, pois o soberano,
apenas viu aquela grande multidão de homens vestidos de branco e os
sacerdotes revestidos com os seus paramentos de linho e o sumo
sacerdote com o seu éfode de cor azul adornado de ouro e com a tiara
sobre a cabeça, que continha uma lâmina de ouro sobre a qual estava
escrito o nome de Deus, aproximou-se sozinho dele, adorou aquele
augusto nome e saudou o sumo sacerdote, ao qual ninguém ainda havia
saudado. Então os judeus reuniram-se em redor de Alexandre e elevaram
a voz para desejar-lhe toda sorte de felicidade e de prosperidade. Porém
os reis da Síria e os grandes que o acompanhavam ficaram tão
espantados que julgaram que ele havia perdido o juízo.
Parmênio, que desfrutava grande prestígio, perguntou-lhe
como ele, que era adorado em todo mundo, adorava o sumo sacerdote
dos judeus. Respondeu Alexandre: "Não é a ele, ao sumo sacerdote, que
adoro, mas ao Deus de quem ele é o ministro, pois quando eu estava
Geografia Bíblica 29
30. ainda na Macedônia e imaginava como poderia conquistar a Ásia, ele me
apareceu em sonhos com essas mesmas vestes e exortou-me a nada
temer. Disse-me que passasse corajosamente o estreito do Helesponto e
garantiu que Deus estaria à frente de meu exército e me faria conquistar o
império dos persas. Eis por que, jamais tendo visto antes alguém
revestido de trajes semelhantes a esses com que ele me apareceu em
sonho, não posso duvidar de que tenha sido por ordem de Deus que
empreendi esta guerra, e assim vencerei Dario, destruirei o império dos
persas, e todas as coisas suceder-me-ão segundo os meus desejos".
Alexandre, depois de assim responder a Parmênio,
abraçou o sumo sacerdote e os outros sacerdotes, caminhou no meio
deles até Jerusalém, subiu ao Templo e ofereceu sacrifícios a Deus da
maneira como o sumo sacerdote lhe disse para fazer. O sumo sacerdote
mostrou-lhe em seguida o livro de Daniel, no qual estava escrito que um
príncipe grego destruiria o império dos persas e disse-lhe que não
duvidava de que era dele que a profecia fazia menção. Alexandre ficou
muito contente.”
Em 323 a. C., com a morte de Alexandre, sem prover sucessor para
o trono, o império foi dividido número muito grande de províncias, sendo as mais
importantes governadas por seis generais, como sátapras.
Em 306 a.C., Antígono declarou-se rei, juntamente com seu filho
Demétrio. Em oposição, os quatro generais, Cassandro, Lisímaco, Seleuco e
Ptolomeu, deixando as posições de sátapras, declararam-se reis dos seus
respectivos territórios e, em 301 a.C., Antígono foi morto e Demétrio fugiu. Ptolomeu
ficou com o Egito, Palestina e parte da Síria; Cassandro com a Macedônia e Grécia;
Lisímaco com a Trácia e parte da Ásia Menor; e Seleuco ficou com a Mesopotâmia,
parte da Ásia Menor, norte da Síria e o oriente.
10. O IMPÉRIO ROMANO
A cidade de Roma tem sua origem explicada pelos romanos com a
lenda de Rômulo e Remo, os gêmeos que foram amamentados por uma loba e
criados por um casal de pastores.
A origem do império romano, entretanto, se dá por volta do ano 753
a.C, com a existência de uma monarquia que governou a cidade até o ano 509 a.C.,
com o surgimento da república e a existência do senado que cuidava das finanças
públicas, da administração e da política externa.
Com a organização e fortalecimento do poder político, conquistados
neste período, Roma começou a expandir o seu território, além da península itálica.
Foi fundamental para o domínio do Mediterrâneo a famosa batalha de Cártago,
vencida pelo general Anibal, nas Guerras Púnicas (século III a.C).
Geografia Bíblica 30
31. Após dominar Cártago,
Roma ampliou suas
conquistas, dominando a
Grécia, o Egito, a
Macedônia, a Gália, a
Germânia, a Trácia, a
Síria e a Palestina. Isto
trouxe grande poder
político e econômico, com
os recursos vindos das
províncias, provocando
profundas mudanças na
vida dos romanos.
Otávio
tornou-se o primeiro
Imperador, governando de Extensão do Império Romano em 133 a.C. (vermelho), 44 a.C. (laranja),
27 a.C. a 14 d.C. Suas 14 d.C. (amarelo), e 117 d.C. (verde).
primeiras medidas tinham
por finalidade reestruturar a administração do novo Estado Imperial: restringiu as
funções do Senado; criou uma nova ordem administrativa (as prefeituras); melhorou
as formas de cobranças de impostos; instituiu a guarda pretoriana com a função de
garantir a proteção do imperador.
Ele foi sucedido por cinco governantes, chamados césares - Tibério
(14-37), Calígula (37-41), Nero (54-68), Marco Aurélio (161-180) e Comodus
(180-192), até o final da chamada Era Dourada. Foi neste período que o templo de
Jerusalém foi destruído e os judeus espalhados por toda a terra. Estes governantes
empreenderam forte perseguição aos cristãos, sendo os responsáveis por morte de
muitos nas fogueiras e lançados às feras.
No III Século d.C. Roma passou por uma profunda crise econômica
e política, passando a ser governado por uma monarquia déspota, chamada de
Dominato, que deriva de dominus (senhor), que foi como passaram a se denominar
os governantes deste período, até o governo de Diocleciano. Neste governo, o
império foi dividido em quatro regiões, cada uma com um governante, chamada
Tetrarquia.
A partir do ano 313 d.C., Constantino aderiu ao cristianismo, o que
veio a ser oficializado através do Edito de Tessalônica, em 330, pelo qual a religião
cristã tornava-se oficial do Império, no governo de Teodósio.
Os povos germânicos, chamados de bárbaros pelos romanos,
atacaram as fronteiras do norte do império. No ano de 395, o imperador Teodósio
dividiu o império em: Império Romano do Ocidente, com capital em Roma e Império
Romano do Oriente (Império Bizantino), com capital em Constantinopla.
Em 476, com a deposição do imperador Rômulo Augústulo, chega
ao fim o Império Romano do Ocidente, após a invasão de diversos povos bárbaros,
entre eles, visigodos, vândalos, burgúndios, suevos, saxões, ostrogodos, hunos etc.
Era o fim da Antiguidade e início de uma nova época chamada de Idade Média. O
Império Oriental continuou a existir por quase mil anos, até 1453.
Geografia Bíblica 31
32. IV. GEOGRAFIA FÍSICA DA PALESTINA
1. NOMES DA TERRA DE ISRAEL
Deus elegeu esta terra
para ali fazer habitar o
povo que havia
escolhido. Ela
se torna, no
contexto
bíblico, o
pedaço de terra
mais destacado por
Deus, chamada, em Ez 20.6,
15 de “glória de todas as terras”
(ARC) ou “coroa de todas as terras” (ARA). Vejamos alguns nomes
pelos quais foi conhecida:
a) Canaã. O nome mais antigo desta terra é Canaã, conhecido
desde o tempo da vinda de Abraão, da Mesopotâmia. Canaã é o
nome do filho de Cão, neto de Noé (Gn 10.6), que foi amaldiçoado
por ele, por descobrir a sua nudez (Gn 9.24,25).
b) Terra dos Amorreus. Este também é um antigo nome para esta terra, citado em
Gn 48.22.
c) Terra dos Hebreus. É como José se refere à sua terra natal (Gn 40.15).
Provavelmente, porque assim ela era conhecida entre os egípcios.
d) Terra Prometida. É assim chamada pelos filhos de Israel, durante a travessia do
deserto. Este é o termo usado para descrever a “terra que mana leite e mel” (Êx
3.8), prometida por Deus a Moisés.
e) Terra de Israel. Israel é o nome que foi dado a Jacó, no seu encontro com Deus,
em Peniel (Gn 32.28). É usado para descrever o lugar, tanto no aspecto geográfico,
quanto étnico e cultural (Gn 34.7). É o nome do moderno estado, que foi oficialmente
reconhecido em 12/05/1948.
f) Palestina. Este nome se originou no povo chamado filisteus, que vieram do mar e
habitaram a faixa litorânea da terra de Israel. O filósofo grego Heródoto referiu-se a
esta terra por este nome, o que fizeram, também, outros escritores, como Flávio
Josefo e Fílon. Este é o nome utilizado hoje para referir-se aos territórios controlados
pela autoridade palestina.
Geografia Bíblica 32
33. g) Terra Santa. Citado pelo profeta Zacarias (Zc 2.12), é o nome utilizado pelos
muitos cristãos que visitam aquelas terras, desde a época das cruzadas.
2. LIMITES DE ISRAEL
A terra de Israel é montanhosa e foi descrita por Deus como: “terra
de montes e de vales” (Dt 11.11). O pequeno espaço entre o Rio Jordão e o Mar
Mediterrâneo tem um relevo muito acidentado, com altos montes e muitos vales. A
Palestina é dividida em duas partes iguais, de norte a sul, por uma linha de colinas
que, na verdade, consiste na continuação dos montes do Líbano, da Síria-Líbano.
No seu extremo norte,
essa cadeia
montanhosa tem
alguns poucos picos
que se aproximam
dos mil metros de
altitude. Ao descer
para o sul, já no
distrito da Galiléia,
essa serra é
intercalada por várias
planícies. Quando
Deus chamou Abraão
e lhe prometeu a terra
de Israel, assim lhe
falou: “Levanta,
agora, os teus olhos e
olha desde o lugar
onde estás, para a
banda do norte, e do
sul, e do oriente, e do
ocidente; porque toda
esta terra que vês te
hei de dar a ti e à tua
semente, para
sempre. E farei a tua
semente como o pó
da terra; de maneira
que, se alguém puder
contar o pó da terra,
também a tua
semente será
contada. Levanta-te,
percorre essa terra,
no seu comprimento e
na sua largura;
porque a ti a darei” (Gn 13.14-17). (Bible Atlas Online by
Os limites desta terra eram: “desde Dã até Berseba” (Jz 20.1; Acess Foundation)
1Rs 4.25), compreendendo uma estreita faixa de terra que ia
desde a nascente principal do rio Jordão, próximo ao monte
Hermom, no norte, até o deserto sírio-árabe, ao sul, compreendendo cerca de 225
Geografia Bíblica 33
34. km; e do Mar Mediterrâneo, ao ocidente, à entrada do deserto, ao oriente, com mais
ou menos 130 km, de largura.
A Palestina, como assinalou Echegaray,28 é dividida em três grandes
zonas que têm como referencial o rio Jordão: Cisjordânia (entre o rio e o mar), a
Transjordânia (entre o rio e o deserto) e o vale do Jordão. Cada uma destas regiões
pode ser subdividida em outras três.
A Cisjordânia divide-se (sempre na seqüência leste para oeste) em
Planície Costeira, que compreende o litoral, a planície e a encosta da montanha. A
Região Montanhosa que compreende (do norte para o sul): as montanhas do
Neguebe, as montanhas da Judéia e as montanhas de Efraim. E a encosta do
Jordão delimitadas
pelos afluentes da
margem ocidental que
são: o Sayyal, o
Cedrom e o Farah.
O Vale do Jordão pode
ser dividido também em
três seções: a região
sul, ou do mar morto,
com clima quente e
desértico, e a presença
de alguns oásis; a
região central ou do
Jordão propriamente
dita, de clima quente e
úmido marcada pelas
áreas de alagadiços; e
a região norte, ou do
mar da Galiléia,
marcada por um clima
ameno e mais seco,
uma área fértil e cheia
de vida.
A Transjordânia divide-
se na: região da
encosta do Jordão
delimitadas também pelos afluentes da margem oriental que são: o Arnom, o Naaliel
e o Jaboque. A região montanhosa também se divide em três seções que à época
do Antigo Testamento eram conhecidas como terra dos Moabitas (ao sul), terra dos
Amonitas (ao centro) e terra de Gileade (ao norte); hoje é definida apenas como
região montanhosa do sul, do centro e do norte. A terceira e última região é marcada
pelo deserto de Moabe (Negev).
3. CISJORDÂNIA
É a região compreendida entre o Vale do Jordão e o Mar
Mediterrâneo.
a) Planície Costeira
Uma estreita faixa que vai se alargando conforme se dirige para o
sul. A praia é de dunas de areia, o que faz com que as principais cidades e a Via
Geografia Bíblica 34
35. Maris não estejam situadas exatamente junto ao mar, mas um pouco mais a leste.
Era uma região rica devido ao intenso tráfego comercial, e seu solo fértil combinado
com boa quantidade de chuvas.
Divide-se em:
1. Planície do Acre
É a região compreendida entre Rosh HaNiqra, na fronteira com o
Líbano, e o monte Carmelo e forma a principal, se não a única, baía da costa
palestinense. Seu solo pantanoso não favorece a agricultura.
O maior destaque da região é o monte Carmelo, com 525 metros de
altura, formado de pedra calcária dura e abundante em cavernas. O seu nome
(Karmel) significa "jardim" ou "campo fértil". Na sua encosta fica a moderna cidade
de Haifa. Ali Eliseu se encontrou com a sunamita (2Rs 4.25) e Elias travou a batalha
contra os profetas de Baal (1Rs 18). Do cume do Monte Carmelo se tem uma visão
do Mediterrâneo, da Galiléia e do Vale de Jezreel e do Sarom.
2. Planície de Sarom
Cantada no livro dos Cânticos (2.1) e referenciada em outras partes
da Bíblia (1Cr.5.16, 27.29, Is.33.9, 35.2, Is.65.10), é a região entre o Carmelo e
Jope, formada predominante de areia vermelha na qual antes cresceram carvalhos.
Brejos entre a planície e a costa dificultaram o povoamento da região. Nas suas
pastagens se apascentaram as manadas do rei Davi (1 Cr 27.29). O profeta Isaías
associou sua beleza à glória do Líbano (Is 35.2).
3. Costa dos Filisteus
É a região mais larga, receptora de chuva e de solo mais firme. Ali
se situavam as importantes cidades filistéias e era passagem de importantes rotas
comerciais.
Ao longo da costa, na direção norte-sul,
mede, aproximadamente, 110 km por 30 km de largura.
Nos tempos do Antigo Testamento, se destacavam as
cidades dos filisteus: Asdode, Gate, Ecrom, Ascalom, e
Gaza. Merece destaque também o porto de Jope (Jn 1.3).
Nesta região fica a maior cidade do atual estado de Israel,
Tel-Aviv. Ao sul, fica a faixa de Gaza, uma região tomada
pelo estado de Israel na Guerra dos Seis Dias, em 1967, e
que é motivo de disputa até os dias atuais.
b) Região Montanhosa
É um conjunto de montanhas que se erguem rapidamente desde a
planície costeira e se precipitam mais fortemente ainda no Vale do Jordão.
Os altos são mais espaçosos no norte, onde atingem altitude de
aproximadamente 900 metros na Alta Galiléia, chegando ao pico de 2.800 metros no
Monte Hermon. No sul, o platô é mais estreito e mais baixo, com poucos pontos
Geografia Bíblica 35
36. acima dos 900 metros. Jerusalém está a pouco mais de 800 metros acima do nível
do mar.
A Cordilheira Central pode ser dividida em Galiléia, Vale de Jezreel,
Montes de Efraim, Montanhas de Judá, Sefelá e Negev.
1. Galiléia
A Galiléia divide-se em Alta (norte) e Baixa (sul) Galiléia. É a região
mais fria de Israel, sendo que no Monte Hermom há neve permanente. É um
território de florestas densas, lugar de plantio de oliveiras e diversas árvores
frutíferas, povoada por muitas pequenas vilas e distante das principais rotas
comerciais.
O monte Hermom predomina na paisagem da Galiléia. Enéas
Tognini assim o descreve29:
“Três picos sobem do Hermom e rasgam o infinito: o mais
alto está a 2.759 m sobre o Mediterrâneo. De qualquer deles pode
descortinar-ser desde Tiro até Carmelo, dos montes da Galiléia até à
Samaria, do Tiberíades ao Mar Morto. Serviu de limite para a tribo de
Manassés e o território de Basã. Do Hermom nasce o rio Farfar, que corre
para Damasco. Do sul saem filetes d’água que formam o Jordão. Em
Salmos 89.12 canta-se: “... o Tabor e o Hermom exultam em teu nome”.
Em Salmos 133.3 canta-se o amor fraternal como “o orvalho de Hermom”.
Em Cantares 4.8 a beleza do Hermom associa-se à dos montes Amana e
Senir”.
2. Vale de Jezreel
O Vale de Jezreel interrompe a cadeia de montanhas, cortando-a no
sentido leste-oeste, sendo a única ligação direta entre a Planície Costeira e o Vale
do Jordão. É um território cortado por importantes rotas comerciais; poderosas
cidades situavam-se ali, como Megido, Taanach e Jezreel. Possui um solo rico que
combina com boa quantidade de chuva resultando em campos altamente férteis. Foi
uma região sempre disputada pelas grandes potências.
O Vale de Jezreel será o palco da batalha do Armagedom, descrita
em Ap. 16. O local da reunião dos exércitos é a planície de Esdraelom, ao redor da
colina chamada Megido, que fica no norte de Israel, a cerca de 32 quilômetros a
sudeste de Haifa. Desde o vale de Megido, é possível avistar três montanhas: o
monte Carmelo, o monte Gilboa e o monte Tabor. Foi exatamente no monte Carmelo
que aconteceu a competição de Deus e Elias contra Baal e seus profetas
demoníacos, dominados pelo espírito de Jezabel (1 Reis 18.19). Foi exatamente
uma batalha entre Deus e Satanás, e não somente a batalha de Elias contra toda a
nação.
Essa região tem sido o local onde mais de duzentas batalhas
aconteceram. A planície de Megiddo e a Planície de Esdraelon serão o lugar
principal para a batalha de Armagedom, que vai enfurecer toda a região de Israel até
a cidade Edomita de Bosra (Is 63.1). O vale do Armagedom era famoso por duas
grandes vitórias na história de Israel: (1) A vitória de Baraque contra os cananitas (Jz
4.15), e (2) a vitória de Gideão contra os Midianitas (Jz capítulo 7). Armagedom
também foi o lugar de duas grandes tragédias: (1) a morte de Saul e seus filhos (1
Sm 31.8), e (2) a morte do rei Josias (2 Rs 23.29-30; 2 Cr 35.22).
Geografia Bíblica 36
37. 3. Montes de Efraim
O Monte Efraim é a parte central da cordilheira e a mais importante
para o assentamento de Israel. A parte sul é mais alta, chegando a mais de 900 mts,
e composta pela fértil terra roxa. Suas principais cidades eram Betel e Siló. O
povoamento do sul foi mais tardio que no norte, a
parte norte é mais baixa e menos fértil. Suas
principais cidades eram Siquém, Samaria e Tirza.
Dois montes se destacam nesta
região: Ebal, ao norte, com 936 m, e Gerizim, ao
Sul, com 870 m. Do monte Ebal, seis tribos de
Israel (Rúbem, Gade, Aser, Zebulom, Dã e Naftali)
proclamaram as “maldições” e, do Gerizim, as
demais tribos declararam as “bênçãos” (Dt 11.29;
27.1-13; cumpridas em Js 8.30-34).
No cume do monte Gerizim, Sambalate erigiu um templo (Ne 13.28),
sobre o qual a mulher samaritana indagou a Jesus (Jo 4.20) e foi destruído na época
dos Macabeus. Ainda hoje é considerado lugar sagrado dos samaritanos.
4. Montanhas de Judá
As Montanhas de Judá alcançam uma altitude de cerca de 900
metros e atuam como um divisor de águas, pois impede a passagem das chuvas
oriundas do Mediterrâneo em direção ao Vale do Jordão. Essa divisão cria dois
lados distintos. As principais cidades, Jerusalém e Hebrom, estão situadas no divisor
de águas. Jerusalém também ocupava uma posição estratégica no entroncamento
das principais rotas norte-sul e leste-oeste. Do lado oeste está a Sefelá, um aclive
relativamente suave desde a Planície Costeira até o alto das montanhas. É um
território de alta densidade pluviométrica e de solo fértil, onde se desenvolveu a
agricultura. Em conseqüência, a população da região estava assentada em vilas.
Este foi um campo de disputas territoriais, especialmente com os filisteus.
Três montes se destacam nesta região, sobre os quais está a cidade
de Jerusalém: Monte Sião, a oeste, Monte Moriá, ao centro e Monte das Oliveiras, a
leste. O Monte Sião, citado em Salmos 48.2, está localizado dentro das muralhas da
antiga cidade e tem 777 m de altura. O Monte Moriá, a 744 m, é onde fica a “eira de
Ornã, o jebuseu” (2Sm 24.18-25) e foi onde Salomão construiu o templo (2Cr 3.1).
Este templo foi destruído por Nabucodonosor, em 587 a.C. e reconstruído por
Zorobabel (Ed 5.13-18). Foi remodelado, nos dias de Jesus, por Herodes, o Grande
(Jo 2.20) e queimado pelos romanos no ano 70 d.C. Em seu lugar, os árabes
construíram a famosa “mesquita de Omar”, no século VII d.C.
Entre o Monte Moriá e o Monte das Oliveiras está o Vale de Cedrom,
onde se localiza o jardim do Getsêmani, local da “agonia” de Jesus, na véspera da
crucificação. Do lado de fora das muralhas fica o Monte das Oliveiras, palco de
muitas passagens bíblicas.
5. Sefelá
Sefelá significa “terra baixa”, naturalmente na perspectiva do alto
das montanhas. Do lado leste um declive muito acentuado levava ao Vale do
Geografia Bíblica 37