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CULTURA ESCRITA E 
SOCIEDADE LETRADA 
Ufes – Universidade Federal do Espírito Santo. 
Laboratório de Práticas Culturais: Revisão e Avaliação Textual. 
Prof. Olivaldo Marques.
LINGUAGEM, ESCRITA E PODER 
• O que é linguagem? 
• A linguagem não é usada somente para veicular informação; a 
palavra pode mobilizar a autoridade acumulada pelo falante, 
concentrá-la num ato linguístico (como discursos políticos, 
aulas, sermões na igreja) e adquirir valor se realizada no 
contexto social e cultural apropriado. 
• Para as relações sociais entre ouvinte e falante, são 
apresentadas regras relevantes para os atos de linguagem: o 
momento certo de falar, o que se deve falar, como se fala, 
tudo isso dentro de um contexto linguístico e extralinguístico 
do ato verbal.
LINGUAGEM, ESCRITA E PODER 
• Variedades linguísticas refletem o poder e a autoridade do 
falante nas relações socioeconômicas. 
• Para uma variedade ser favorecida sobre as outras é preciso 
que seja associada à escrita >> variedade padrão. 
• Essa associação entre variedade e escrita é definida como o 
resultado histórico indireto de oposições entre grupos sociais 
que eram e “são” usuários das diferentes variedades. Uma 
variedade utilizada em grupos de poder passa por um 
processo de legitimação, tornando-se portadora de uma 
tradição cultural.
LINGUAGEM, ESCRITA E PODER 
• O estudo para o aperfeiçoamento da linguagem em sua 
modalidade escrita, portanto, é essencial para o 
empoderamento e emancipação do sujeito em uma sociedade 
letrada como esta em que vivemos.
O ANALFABETO 
O analfabeto não vence na vida 
E tem a sua lida presa aos demais 
O analfabeto não sabe de nada 
Não lê as notícias que vêm nos jornais 
O analfabeto é um papagaio 
Só fala porque ouve outro falar 
E em caso de assinar um documento 
Ele deixa a ficha do seu polegar 
Quando usar o seu vocabulário 
Disse um doutorando a um analfabeto 
Num jantar 
Ele respondeu: "o meu prato está cheinho" 
Aceito um bocadinho só, pra eu provar. 
Juro que naquele ambiente 
Viu toda gente desse homem que padece 
Lhe perguntaram se ele era humorista 
Ele disse: 
- Eu, hein, doutor! Antes sesse mas não esse 
(Moreira da Silva)
A criança que sabe ler (…) penetra no mundo dos civilizados, tal 
como o pequeno animal se introduz no mundo dos homens. Pela 
posse da leitura, os seus horizontes intelectuais estendem-se até 
o infinito. Antes desse domínio, a criança era escrava da 
linguagem falada e só podia entrar em comunicação recíproca 
com os indivíduos pertencentes ao seu meio próximo. Saber ler 
significa que pode, a partir de então, tirar partido de todos os 
benefícios da Civilização e entrar em contato como todos os 
homens que, como ela, sabem ler. A leitura pode, daí em diante, 
tornar-se o meio essencial da aquisição de conhecimentos, do 
desenvolvimento do pensamento e do enriquecimento da 
personalidade. Saber ler corresponde a ser capaz de extrair o 
“miolo substantífico” contido na mensagem escrita e, em virtude 
disso, participar na vida intelectual de toda humanidade . 
(MIALARET, 1974, p. 17)
O mito do letramento 
Uma ideologia (...) que confere ao letramento uma enorme 
gama de efeitos positivos, desejáveis, não só no âmbito da 
cognição (...) mas também no âmbito social. Esses efeitos 
vão desde a participação na espécie até a posse de 
qualidades espirituais. (KLEIMAN, 2008, p.24)
O QUE É ESCRITA? 
• Se houve um tempo em que era comum a existência de 
comunidades ágrafas, se houve um tempo em que a escrita 
era de difícil acesso ou uma atividade destinada a alguns 
poucos privilegiados, na atualidade, a escrita faz parte da 
nossa vida, seja porque somos constantemente solicitados a 
produzir textos escritos, seja porque somos solicitados a ler 
textos escritos em diversas situações do dia-a-dia. 
• Que a escrita é onipresente em nossa vida, já sabemos. Mas, 
afinal, o que é escrever?
O QUE É ESCRITA? 
• Algumas respostas possíveis: 
• “Escrita é inspiração”; 
• “Escrita é uma atividade para alguns poucos privilegiados 
(aqueles que nascem com esse dom e se transformam em 
escritores renomados)”; 
• “Escrita é expressão do pensamento”; 
• “Escrita é domínio de regras da língua”; 
• “Escrita é trabalho” que requer a utilização de diversas 
estratégias da parte do produtor.
O QUE É ESCRITA? 
• Essa pluralidade de respostas nos faz pensar que o modo pelo 
qual concebemos a escrita não se encontra dissociado do 
modo pelo qual entendemos a linguagem, o texto e o sujeito 
que escreve. Em outras palavras, subjaz uma concepção de 
linguagem, de texto e de sujeito escritor ao modo pelo qual 
entendemos, praticamos e ensinamos a escrita, ainda que não 
tenhamos consciência disso.
ESCRITA: Foco na língua 
• Muitos ainda hoje acreditam que para escrever – e fazê-lo 
bem – é preciso conhecer as regras gramaticais da língua e ter 
um bom vocabulário, e que são esses os critérios utilizados na 
avaliação da produção textual. 
• O estudo da língua portuguesa, em muitos casos, é feito com 
base em baterias e baterias de exercícios sobre sinais de 
pontuação, concordância, regência, colocação pronominal, 
dentre outros tópicos, esperando que o aluno exercite em 
frases as regras gramaticais e depois transfira esse 
conhecimento para a produção de texto.
ESCRITA: Foco na língua 
• Subjacente a essa visão de escrita, encontra-se uma 
concepção de linguagem como um sistema pronto, acabado, 
devendo o escritor apenas se apropriar desse sistema de 
regras. 
• Nessa concepção de sujeito como (pré-)determinado pelo 
sistema, o texto é visto como simples produto de uma 
codificação realizada pelo escritor e a ser decodificada pelo 
leitor, bastando a ambos, para tanto, o conhecimento do 
código utilizado.
ESCRITA: Foco no escritor 
• Há quem entenda a escrita como representação do 
pensamento, “escrever é expressar o pensamento no papel”, 
por conseguinte, tributária de um sujeito psicológico, 
individual, dono e controlador de sua vontade e de suas 
ações. Trata-se de um sujeito visto como um ego que constrói 
uma representação mental, “transpõe” essa representação 
para o papel e deseja que esta seja “captada” pelo leitor da 
maneira como foi mentalizada.
ESCRITA: Foco no escritor 
• Nessa concepção de língua como representação do 
pensamento e de sujeito como senhor absoluto de suas ações 
e de seu dizer, o texto é visto como um produto do 
pensamento do escritor. A escrita, assim, é entendida como 
uma atividade por meio da qual aquele que escreve expressa 
seu pensamento, suas intenções, sem levar em conta as 
experiências e os conhecimentos do leitor ou a interação que 
envolve esse processo.
ESCRITA: Foco na interação 
• Nesta concepção, a escrita é vista como produção textual, 
cuja realização exige do produtor a ativação de conhecimentos 
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• Isso significa dizer que o produtor, de forma não linear, 
elabora no que vai escrever e em seus leitor, depois escreve, 
lê o que escreveu, revê ou reescreve o que julga necessário, 
em um movimento constante e on-line guiado pelo princípio 
interacional.
ESCRITA: Foco na interação 
• Neste caso, a escrita não é compreendida em relação apenas à 
apropriação das regras da língua, nem tampouco ao 
pensamento e intenções do escritor, mas, sim, em relação à 
interação escritor-leitor, levando em conta, é verdade, as 
intenções daquele que faz uso da língua para atingir o seu 
objetivo sem, contudo, ignorar que o leitor com seus 
conhecimentos é parte constitutiva desse processo. 
• Nesta concepção interacional (dialógica) da língua, tanto 
aquele que escreve como aquele para quem se escreve são 
vistos como autores/construtores sociais, sujeitos ativos que 
– dialogicamente – se constroem e são construídos no texto, 
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concorrem aspectos linguísticos, cognitivos, sociais e 
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ESCRITA: Foco na interação 
• Nessa perspectiva, a escrita é uma atividade que demanda da 
parte de quem escreve a utilização de muitas estratégias, 
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• Ativação de conhecimentos sobre os componentes da situação 
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• Seleção, organização e desenvolvimento das ideias, de modo a 
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ESCRITA: Foco na interação 
• O sentido da escrita, portanto, é produto dessa interação, não 
resultado apenas do uso do código, nem tão somente das 
intenções do escritor. Numa concepção de escrita assentada 
na interação, o sentido é um constructo, não podendo, por 
conseguinte, ser determinado a priori. 
• A escrita é, pois, atividade de produção textual que se realiza, 
evidentemente, com base nos elementos linguísticos e na sua 
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comunicativo, a mobilização de uma vasto conjunto de 
conhecimentos do escritor, o que inclui também o que esse 
pressupõe ser do conhecimento do leitor ou do que é 
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Ativação de conhecimentos 
• Em sua escrita, o escritor recorre a conhecimentos resultantes 
das inúmeras atividades em que nos envolvemos ao longo de 
nossa vida. Tal constatação nos mostra a intrínseca relação 
entre linguagem/mundo/práticas sociais. 
• Estes conhecimentos estão relacionados: 
• À língua; 
• Ao conhecimento chamado “enciclopédico”; 
• Às práticas interacionais.
Conhecimento linguístico 
• Escrever é uma atividade que exige do escritor conhecimento 
da ortografia, da gramática e do léxico de sua língua, 
adquirido ao longo da vida. 
• Conhecer como as palavras devem ser gravadas corretamente 
segundo convenção da escrita é um aspecto importante para a 
produção textual e a obtenção do objetivo almejado, já que 
contribui para a construção de uma imagem positiva daquele 
que escreve, porque, dentre outros motivos, demostra: i) 
atitude colaborativa do escritor no sentido de evitar 
problemas no plano da comunicação; ii) atenção e 
consideração dispensadas ao leitor.
Conhecimento enciclopédico 
• Em nossa atividade escrita, recorremos constantemente a 
conhecimentos sobre coisas do mundo que ficaram marcadas 
em nossa memória, como se tivéssemos uma enciclopédia em 
nossa mente, produzida de forma personalizada, com base em 
conhecimento de que ouvimos falar ou que lemos, ou 
adquirimos em vivências e experiências variadas. 
•
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produtor precisa ativar 
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• O produtor possui modelos mentais sobre práticas 
interacionais diversas, histórica e culturalmente constituídas. 
É, portanto, baseado em conhecimentos interacionais que o 
produtor: 
• Configura na escrita a sua intenção, possibilitando ao leitor 
reconhecer o objetivo ou propósito pretendido no quadro 
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situação comunicativa concreta, para que o leitor seja capaz de 
reconstruir o objetivo da produção do texto; 
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• Faz a adequação do gênero textual.
"Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de 
Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira 
lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, 
torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. 
Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois 
enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com 
a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais 
uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma 
só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas 
dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. 
Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A 
palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a 
palavra foi feita para dizer." (Graciliano Ramos)
Referências 
KOCH, Ingedore; ELIAS, Vanda. Ler e escrever: Estratégias de produção 
textual. São Paulo: Editora Contexto, 2014. 
KLEIMAN, A. (Org.). Os significados do letramento: uma nova 
perspectiva sobre a prática social da escrita. Campinas: Mercado das 
Letras, 2008. 
GNERRE, Maurizzio. Linguagem, escrita e poder. 2.ed. São Paulo: 
Martins Fontes, 1987. 
MIALARET, G. A aprendizagem da leitura. 2.ed. São Paulo: Editoral 
Estampa, 1974
Cultura escrita e sociedade letrada

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Cultura escrita e sociedade letrada

  • 1. CULTURA ESCRITA E SOCIEDADE LETRADA Ufes – Universidade Federal do Espírito Santo. Laboratório de Práticas Culturais: Revisão e Avaliação Textual. Prof. Olivaldo Marques.
  • 2. LINGUAGEM, ESCRITA E PODER • O que é linguagem? • A linguagem não é usada somente para veicular informação; a palavra pode mobilizar a autoridade acumulada pelo falante, concentrá-la num ato linguístico (como discursos políticos, aulas, sermões na igreja) e adquirir valor se realizada no contexto social e cultural apropriado. • Para as relações sociais entre ouvinte e falante, são apresentadas regras relevantes para os atos de linguagem: o momento certo de falar, o que se deve falar, como se fala, tudo isso dentro de um contexto linguístico e extralinguístico do ato verbal.
  • 3. LINGUAGEM, ESCRITA E PODER • Variedades linguísticas refletem o poder e a autoridade do falante nas relações socioeconômicas. • Para uma variedade ser favorecida sobre as outras é preciso que seja associada à escrita >> variedade padrão. • Essa associação entre variedade e escrita é definida como o resultado histórico indireto de oposições entre grupos sociais que eram e “são” usuários das diferentes variedades. Uma variedade utilizada em grupos de poder passa por um processo de legitimação, tornando-se portadora de uma tradição cultural.
  • 4. LINGUAGEM, ESCRITA E PODER • O estudo para o aperfeiçoamento da linguagem em sua modalidade escrita, portanto, é essencial para o empoderamento e emancipação do sujeito em uma sociedade letrada como esta em que vivemos.
  • 5. O ANALFABETO O analfabeto não vence na vida E tem a sua lida presa aos demais O analfabeto não sabe de nada Não lê as notícias que vêm nos jornais O analfabeto é um papagaio Só fala porque ouve outro falar E em caso de assinar um documento Ele deixa a ficha do seu polegar Quando usar o seu vocabulário Disse um doutorando a um analfabeto Num jantar Ele respondeu: "o meu prato está cheinho" Aceito um bocadinho só, pra eu provar. Juro que naquele ambiente Viu toda gente desse homem que padece Lhe perguntaram se ele era humorista Ele disse: - Eu, hein, doutor! Antes sesse mas não esse (Moreira da Silva)
  • 6. A criança que sabe ler (…) penetra no mundo dos civilizados, tal como o pequeno animal se introduz no mundo dos homens. Pela posse da leitura, os seus horizontes intelectuais estendem-se até o infinito. Antes desse domínio, a criança era escrava da linguagem falada e só podia entrar em comunicação recíproca com os indivíduos pertencentes ao seu meio próximo. Saber ler significa que pode, a partir de então, tirar partido de todos os benefícios da Civilização e entrar em contato como todos os homens que, como ela, sabem ler. A leitura pode, daí em diante, tornar-se o meio essencial da aquisição de conhecimentos, do desenvolvimento do pensamento e do enriquecimento da personalidade. Saber ler corresponde a ser capaz de extrair o “miolo substantífico” contido na mensagem escrita e, em virtude disso, participar na vida intelectual de toda humanidade . (MIALARET, 1974, p. 17)
  • 7. O mito do letramento Uma ideologia (...) que confere ao letramento uma enorme gama de efeitos positivos, desejáveis, não só no âmbito da cognição (...) mas também no âmbito social. Esses efeitos vão desde a participação na espécie até a posse de qualidades espirituais. (KLEIMAN, 2008, p.24)
  • 8. O QUE É ESCRITA? • Se houve um tempo em que era comum a existência de comunidades ágrafas, se houve um tempo em que a escrita era de difícil acesso ou uma atividade destinada a alguns poucos privilegiados, na atualidade, a escrita faz parte da nossa vida, seja porque somos constantemente solicitados a produzir textos escritos, seja porque somos solicitados a ler textos escritos em diversas situações do dia-a-dia. • Que a escrita é onipresente em nossa vida, já sabemos. Mas, afinal, o que é escrever?
  • 9. O QUE É ESCRITA? • Algumas respostas possíveis: • “Escrita é inspiração”; • “Escrita é uma atividade para alguns poucos privilegiados (aqueles que nascem com esse dom e se transformam em escritores renomados)”; • “Escrita é expressão do pensamento”; • “Escrita é domínio de regras da língua”; • “Escrita é trabalho” que requer a utilização de diversas estratégias da parte do produtor.
  • 10. O QUE É ESCRITA? • Essa pluralidade de respostas nos faz pensar que o modo pelo qual concebemos a escrita não se encontra dissociado do modo pelo qual entendemos a linguagem, o texto e o sujeito que escreve. Em outras palavras, subjaz uma concepção de linguagem, de texto e de sujeito escritor ao modo pelo qual entendemos, praticamos e ensinamos a escrita, ainda que não tenhamos consciência disso.
  • 11. ESCRITA: Foco na língua • Muitos ainda hoje acreditam que para escrever – e fazê-lo bem – é preciso conhecer as regras gramaticais da língua e ter um bom vocabulário, e que são esses os critérios utilizados na avaliação da produção textual. • O estudo da língua portuguesa, em muitos casos, é feito com base em baterias e baterias de exercícios sobre sinais de pontuação, concordância, regência, colocação pronominal, dentre outros tópicos, esperando que o aluno exercite em frases as regras gramaticais e depois transfira esse conhecimento para a produção de texto.
  • 12. ESCRITA: Foco na língua • Subjacente a essa visão de escrita, encontra-se uma concepção de linguagem como um sistema pronto, acabado, devendo o escritor apenas se apropriar desse sistema de regras. • Nessa concepção de sujeito como (pré-)determinado pelo sistema, o texto é visto como simples produto de uma codificação realizada pelo escritor e a ser decodificada pelo leitor, bastando a ambos, para tanto, o conhecimento do código utilizado.
  • 13. ESCRITA: Foco no escritor • Há quem entenda a escrita como representação do pensamento, “escrever é expressar o pensamento no papel”, por conseguinte, tributária de um sujeito psicológico, individual, dono e controlador de sua vontade e de suas ações. Trata-se de um sujeito visto como um ego que constrói uma representação mental, “transpõe” essa representação para o papel e deseja que esta seja “captada” pelo leitor da maneira como foi mentalizada.
  • 14. ESCRITA: Foco no escritor • Nessa concepção de língua como representação do pensamento e de sujeito como senhor absoluto de suas ações e de seu dizer, o texto é visto como um produto do pensamento do escritor. A escrita, assim, é entendida como uma atividade por meio da qual aquele que escreve expressa seu pensamento, suas intenções, sem levar em conta as experiências e os conhecimentos do leitor ou a interação que envolve esse processo.
  • 15. ESCRITA: Foco na interação • Nesta concepção, a escrita é vista como produção textual, cuja realização exige do produtor a ativação de conhecimentos e a mobilização de vária estratégias. • Isso significa dizer que o produtor, de forma não linear, elabora no que vai escrever e em seus leitor, depois escreve, lê o que escreveu, revê ou reescreve o que julga necessário, em um movimento constante e on-line guiado pelo princípio interacional.
  • 16. ESCRITA: Foco na interação • Neste caso, a escrita não é compreendida em relação apenas à apropriação das regras da língua, nem tampouco ao pensamento e intenções do escritor, mas, sim, em relação à interação escritor-leitor, levando em conta, é verdade, as intenções daquele que faz uso da língua para atingir o seu objetivo sem, contudo, ignorar que o leitor com seus conhecimentos é parte constitutiva desse processo. • Nesta concepção interacional (dialógica) da língua, tanto aquele que escreve como aquele para quem se escreve são vistos como autores/construtores sociais, sujeitos ativos que – dialogicamente – se constroem e são construídos no texto, este considerado um evento comunicativo para o qual concorrem aspectos linguísticos, cognitivos, sociais e interacionais
  • 17. ESCRITA: Foco na interação • Nessa perspectiva, a escrita é uma atividade que demanda da parte de quem escreve a utilização de muitas estratégias, como: • Ativação de conhecimentos sobre os componentes da situação comunicativas (interlocutores, tópico a ser desenvolvido e configuração textual adequada à interação em foco); • Seleção, organização e desenvolvimento das ideias, de modo a garantir “balanceamento” entre informações explícitas e implícitas; entre informações “novas” e “dadas”; • Revisão da escrita ao longo de todo o processo, guiada pelo objetivo da produção e pela interação que o escritor pretende estabelecer com o leitor.
  • 18. ESCRITA: Foco na interação • O sentido da escrita, portanto, é produto dessa interação, não resultado apenas do uso do código, nem tão somente das intenções do escritor. Numa concepção de escrita assentada na interação, o sentido é um constructo, não podendo, por conseguinte, ser determinado a priori. • A escrita é, pois, atividade de produção textual que se realiza, evidentemente, com base nos elementos linguísticos e na sua forma de organização, mas requer, no interior do evento comunicativo, a mobilização de uma vasto conjunto de conhecimentos do escritor, o que inclui também o que esse pressupõe ser do conhecimento do leitor ou do que é compartilhado por ambos.
  • 19. Ativação de conhecimentos • Em sua escrita, o escritor recorre a conhecimentos resultantes das inúmeras atividades em que nos envolvemos ao longo de nossa vida. Tal constatação nos mostra a intrínseca relação entre linguagem/mundo/práticas sociais. • Estes conhecimentos estão relacionados: • À língua; • Ao conhecimento chamado “enciclopédico”; • Às práticas interacionais.
  • 20. Conhecimento linguístico • Escrever é uma atividade que exige do escritor conhecimento da ortografia, da gramática e do léxico de sua língua, adquirido ao longo da vida. • Conhecer como as palavras devem ser gravadas corretamente segundo convenção da escrita é um aspecto importante para a produção textual e a obtenção do objetivo almejado, já que contribui para a construção de uma imagem positiva daquele que escreve, porque, dentre outros motivos, demostra: i) atitude colaborativa do escritor no sentido de evitar problemas no plano da comunicação; ii) atenção e consideração dispensadas ao leitor.
  • 21. Conhecimento enciclopédico • Em nossa atividade escrita, recorremos constantemente a conhecimentos sobre coisas do mundo que ficaram marcadas em nossa memória, como se tivéssemos uma enciclopédia em nossa mente, produzida de forma personalizada, com base em conhecimento de que ouvimos falar ou que lemos, ou adquirimos em vivências e experiências variadas. •
  • 22. Conhecimento de textos • Para a atividade de escrita, o produtor precisa ativar “modelos” que possui sobre práticas comunicativas configuradas em textos, levando em conta elementos que entram em sua composição, além de aspectos do conteúdo, estilo, função e suporte de veiculação.
  • 23. Conhecimentos interacionais • O produtor possui modelos mentais sobre práticas interacionais diversas, histórica e culturalmente constituídas. É, portanto, baseado em conhecimentos interacionais que o produtor: • Configura na escrita a sua intenção, possibilitando ao leitor reconhecer o objetivo ou propósito pretendido no quadro interacional desenhado; • Determina a quantidade de informação necessária, numa situação comunicativa concreta, para que o leitor seja capaz de reconstruir o objetivo da produção do texto; • Selecione a variante linguística adequada à situação de interação; • Faz a adequação do gênero textual.
  • 24. "Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer." (Graciliano Ramos)
  • 25. Referências KOCH, Ingedore; ELIAS, Vanda. Ler e escrever: Estratégias de produção textual. São Paulo: Editora Contexto, 2014. KLEIMAN, A. (Org.). Os significados do letramento: uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita. Campinas: Mercado das Letras, 2008. GNERRE, Maurizzio. Linguagem, escrita e poder. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1987. MIALARET, G. A aprendizagem da leitura. 2.ed. São Paulo: Editoral Estampa, 1974