O documento descreve o método do Barcelona para treinar jogadores entre 7-10 anos, focando no desenvolvimento de habilidades técnicas individuais como controle de bola, dribles e jogos em pequenos espaços. O objetivo é ensinar fundamentos básicos sem tática e estimular o prazer pelo jogo através de exercícios e jogos simples que envolvam condução e dribles.
O AUTÊNTICO MÉTODO DO BARÇA PARA DESENVOLVER JOGADORES
1. O
Autêntico
Método
do Barça
Nível 1. Aprender a
Jogar com a Bola
Laureano Ruiz
2. O AUTÊNTICO MÉTODO DO BARÇA PARA DESENVOLVER JOGADORES
Laureano Ruiz
Nível 1 – Aprender a Jogar com a Bola (dos 7 aos 10 anos)
- As crianças não devem começar a praticar futebol (organizado num clube) antes dos
7-8 anos;
- O seu ensino será unicamente técnico, esquecendo-se a tática;
- Durante o Nível 1 (principalmente dos 7 aos 9 anos) só nos devemos preocupar com a
técnica elementar;
- É a partir dos 10 anos que cremos que deve começar um ensino superior e mais
completo;
- Nesta fase de aprendizagem não abordaremos o jogo coletivo, dedicando-nos
exclusivamente ao individual. Isto é, a criança aprende a controlar a bola, a conduzi-la
e a driblar. Queremos dribles e mais dribles, e muitos jogos reduzidos;
- Os campos de Futebol de 3 terão mais ou menos 20x12 metros, com balizas de 1,5
metros;
- Maior erro que os Treinadores podem cometer: dizer às crianças para não
driblarem;
- Pretendemos que não tentem jogar como os adultos (jogar a 1 toque, levantar a
cabeça, utilizar as duas pernas, etc). Chegará esse momento mais tarde;
- O nosso ensino baseia-se em que a criança controle a bola que lhe chega; a conduza;
e que drible o adversário que lhe tenta tirar a bola (ou que o tente pelo menos) e vá
ganhando controlo corporal graças às acelerações, paragens, mudanças de direção,
rotações, etc;
- O objetivo principal deve ser desenvolver nas crianças a sua sensibilidade com a bola,
despertar-lhes ou aumentar-lhes o interesse pelo futebol, desenvolver o seu prazer
por jogar e também proporcionar-lhes fundamentos lógicos para o jogo;
- Para isso provocaremos o jogo pelo jogo, todos contra todos, sem rigidez nem
estruturas táticas;
- As bases serão muito simples: espaço adequado, meínhos, jogos reduzidos, dois
contra dois, três contra três, quatro contra quatro, com balizas e sem elas e também
habilidades, conduções entre cones para conseguir o domínio da bola, das rotações,
acelerações, paragens, etc;
- Nestas idades as crianças costumam chutar a bola à sorte. Para evitar isso e acelerar
a aprendizagem, criamos duas escassas imposições: 1) Não podem chutar a bola à
sorte. Têm que tentar a jogada individual, tendo “intenção” em todas as suas
intervenções; 2) Não podem atirar a bola deliberadamente para fora. Com estas duas
proibições procura-se que as crianças tenham de “utilizar” a bola;
- Utilizam-se balizas de dimensões reduzidas para que driblem, enganem os guarda-redes
e adquiram uma grande habilidade;
- Jogam num terreno reduzido, para não realizarem grandes esforços (muito nocivos
para a sua idade) e as equipas são compostas por poucos jogadores (o ideal são 3
contra 3) para que todos estejam intervindo e aprendendo constantemente;
- Com os jogos reduzidos, para além dos elementos fundamentais do movimento
(corridas, paragens bruscas, rotações, saltos, mudanças de direção, etc.)
conseguiremos que as crianças se familiarizem com a bola;
3. - Também o solo, os ressaltos e a recuperação da bola vão-lhes ensinando a julgar as
situações, as distâncias e as leis do impacto;
- É importante submeter estas crianças a exercícios de malabarismos (de acordo com o
seu nível) e jogos de corridas em que não estará presente a bola, mas nos quais as
crianças trabalharão para além da velocidade de deslocamento, as rotações, as
mudanças de direção, as acelerações curtas, a rapidez de reação, decisão e
antecipação. Isto é, a parte “desconhecida” do futebol mas que é imprescindível e
fundamental durante a sua aprendizagem (mas também nas suas fases de
consolidação e culminação);
- No final deste nível (quando as crianças cumprem 10 anos) começarão a receber
lições táticas simples:
a) Apoiar o portador da bola (não muito afastados);
b) Tentar tirar a bola ao portador da mesma quando ele está perto da área
adversária e não ir para a baliza para defender um remate. Muitas crianças têm medo
de levar com a bola, mas quanto mais afastados estiverem do portador da bola mais
perigo correm (quando o remate é efetuado, ensinar os defensores a virarem-se
ligeiramente para se protegerem, mas nunca se virando de costas, mantendo sempre
os olhos na bola);
c) Sempre que a bola sai do campo de jogo ou é recuperada pelo Guarda-Redes
deve colocá-la em jogo através de um pontapé sem deixar cair a bola ao chão
(importante para melhorar a coordenação olhos-mãos-pés);
- Os treinadores que exigem nestas idades “levanta a cabeça”, “passa ao companheiro”
e “vigia o adversário” desconhecem o futebol, a sua pedagogia e as possibilidades reais
das crianças;
As Regras de jogo e as chuteiras
- Sem conhecer as regras as crianças não devem jogar pois assim produzem-se
discussões e mal entendidos. Os conhecimentos são básicos: quando é golo, quando a
bola está fora, como se efetua o pontapé de baliza, como se efetua o lançamento
lateral, como se efetua o pontapé de canto e as infrações graves, começando pelo
penalti;
- Deve-se marcar sempre as faltas e explicar às crianças as regras, os treinadores que
deixam andar por se tratar de crianças cometem um erro muito grave. As crianças
cometem faltas porque não conhecem as regras e se não os ensinarmos, continuarão a
cometê-las;
- Até aos 12 anos as crianças não deveriam jogar com chuteiras. Em termos de saúde a
criança não deve usar chuteiras para não comprometer a formação dos ossos, tendões
e ligamentos, originado malformações de difícil correção. Em termos técnicos, as
chuteiras não dão nenhuma vantagem (têm muito peso, escassa flexibilidade e os
pitões grandes são um suplício) afetando-lhes o domínio do corpo. Recomendamos
que joguem e treinem com sapatilhas muito usadas, para “sentirem” melhor a bola e
desenvolverem o seu sentido tátil. Para além disso, como o suporte básico do futebol é
a coordenação e o equilíbrio, com as sapatilhas a criança tem de lutar para se
equilibrar, não escorregar e coordenar os gestos técnicos. Isto fará com que atinja –
mais cedo ou mais tarde – um grande avanço na sua habilidade;
Os Guarda-Redes
- Os Guarda-Redes necessitam de um treino especial, porque também eles requerem
umas qualidades especiais, mas tudo tem o seu devido tempo;
4. - As crianças até aos 12 anos devem jogar em todas as posições sem se especializarem
em nenhuma. Isso vai ajudar-lhes a compreender melhor o jogo e tornar a sua
aprendizagem mais completa;
- Outro fator pelo que não se deve especializar as crianças como Guarda-Redes é o
psicológico. O Guarda-Redes deve possuir um grande equilíbrio psíquico. Se defende as
bolas é o herói, se sofre golos é considerado mau. Por isso pode passar facilmente do
êxtase à frustração;
- Neste aspeto é muito mau que as crianças defendam as balizas criadas para os
adultos pois são incapazes fisicamente de chegar a bolas altas. O que não é
compreendido por companheiros e certos pais;
- Quando não há um bom equilíbrio psicológico (o que é normal em idades baixas), o
normal é que abandonem o futebol ou que cheguem a sofrer de problemas psíquicos
de difícil cura;
- No entanto, devem jogar como Guarda-Redes até aos 12 anos e deve ser-lhes
ensinada a técnica manual, exercícios de acrobacia (vitais para eles) e também a
técnica de “atirar-se à bola” (para que não se aleijem quando caem);
- Em relação à técnica manual não recomendamos o uso de luvas de Guarda-Redes até
aos 12 anos. O fortalecimento das mãos, o domínio manual e a segurança no bloqueio
da bola só se podem conseguir com o contato tátil direto com a bola. Só se forem
submetidos a um bombardeamento de remates violentos, e para evitar possíveis
lesões, vemos utilidade em usá-las;
Finalizando o Nível 1:
a) Qualquer criança pequena ainda não conquistou os instrumentos sociais de
compreensão mútua e disciplina que submete o seu EU às regras da reciprocidade; Ele
acha-se o centro do mundo, tanto social como fisicamente. Pouco a pouco, e graças à
convivência com outras crianças, consegue sair de si mesmo e ganhar consciência da
realidade. Isto é, situar-se fora mas entre os outros. Então descobre a sua
personalidade e a dos outros, perdendo o seu egocentrismo. Quando chega a esse
momento, nunca tem menos de 10 anos. Por isso, neste nível as crianças são
totalmente egocêntricas e se os treinadores pretenderem que melhorem o passe e o
sentido de jogo coletivo, perderão o seu tempo;
b) Se os treinadores querem que os principiantes sejam felizes, façam-nos jogar jogos
reduzidos. Com isso, o jogo será para eles muito agradável, atrativo e emocionante, já
que conseguirão: driblar adversários e marcar golos.
5. Jogos de Nível 1
Jogo N.º 1 – (8-9 anos)
Descrição: Espaço de jogo de 10x5 metros e balizas de 1 metro. Jogo individual: numa
mini baliza estão os jogadores 1 e 2, na outra, o 3. Este adianta-se para enfrentar o
jogador 1, quem, com a bola, tenta marcar. Vence o jogador que marcar mais golos.
Pode fazer-se um torneio com 18 jogadores sempre que existam várias fases. Em 15
minutos haverá uma classificação absoluta (3 fases de 5 minutos).
Objetivos: Condução. Driblar. “Roubar a bola”. Passar da defesa ao ataque.
Defeitos mais frequentes: As crianças chutam a golo, quando o que se exige é que
entrem com a bola controlada dentro da mini baliza. Em todos os casos o golo não
contará e terá perdido a posse da bola.
Esquema:
6. Jogo N.º 2 – (8-9 anos)
Descrição: Um jogador com uma bola nas mãos. Outro situado a 4 metros em frente ao
anterior. E um terceiro a 4 metros das costas do segundo. O primeiro faz o lançamento
lateral para o terceiro por cima do segundo. O terceiro controla a bola e avança para o
centro e tenta driblar o segundo. Se o consegue, prossegue para driblar o primeiro (o
que lançou a bola). Vai-se rodando e vence o que mais pontos consiga (cada drible
conseguido dá um ponto).
Objetivos: Lançamento Lateral. Controlo da bola. Drible. “Roubar” a bola. Inteligência.
Concentração.
Defeitos mais frequentes: Lançar mal a bola (tira-se um ponto). Não saber para onde
deve ir quando termina uma ação ou não fazê-lo (em ambos os casos tira-se outro
ponto). Não defender com “vontade”.
Esquema:
7. Jogo N.º 3 – (10 anos)
Descrição: 16 jogadores num terreno de 35x25 metros. Correm a trote, 8 com bola e
vão passando a bola entre si, sempre com passes curtos, primeiro com o interior do pé
e depois com o exterior.
Objetivos: Condução. Receção. Toques. Visão. Resistência.
Defeitos mais frequentes: Alguns fazem-no andando. Outros não utilizam a superfície
exigida. A maioria passa a bola ao mesmo companheiro. Deve-se combinar com todos.
Esquema:
8. Jogo N.º 4 – (8 anos)
Descrição: Todos os jogadores fazem malabarismos com a sua bola. Tocam com a
perna “boa”, ressalta no solo – só uma vez -, voltam a tocar, a bola ressalta e assim
sucessivamente, contando o número de toques. Se a bola ressaltar mais de uma vez no
solo, começa-se a contar de novo. No final do tempo – coloquemos 3 minutos -, os 5
que mais toques derem fazem um ponto. Fazem-se várias repetições e somam-se os
pontos que conseguirem.
Objetivos: Habilidade. Equilíbrio. Coordenação.
Defeitos mais frequentes: Não colocar o pé plano – dedos para baixo –, para que a
bola ressalte “limpa”. Continuar a contar quando a bola ressalta mais de uma vez no
solo. Não contar corretamente.
Esquema:
9. Jogo N.º 5 – (9-10 anos)
Descrição: Idêntico ao jogo anterior, mas neste há que utilizar as duas pernas. Com a
“boa”, devem-se dar 3 toques na bola sem que esta toque o solo, deixa-se que ela
ressalte no solo e então dá-se um toque com a “má", ressaltará novamente no solo, 3
toques com a “boa”, ressalto no solo, um toque com a “má” e assim sucessivamente.
Objetivos: Habilidade. Equilíbrio. Coordenação.
Defeitos mais frequentes: Os mesmos do jogo anterior. Esquecerem-se de utilizar o pé
“mau”.
Esquema: