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MODERNISMO em PORTUGAL 
O núcleo do grupo modernista português nasceu em Lisboa, em 1913, com Fernando 
Pessoa e Mário de Sá-Carneiro, poetas que haviam colaborado na Águia, (revista que era porta-voz 
do Saudosismo), mas que acabam por fazer uma ruptura com esse movimento literário das 
décadas anteriores. Estes dois poetas, juntamente com Almada Negreiros (todos eles nascidos no 
fim do século XIX), foram, de facto, os grandes empreendedores em Portugal da corrente 
modernista, marcada por uma grande consonância com a arte e a literatura mais avançadas da 
Europa. Podemos, contudo, descobrir já alguns ressaibos da estética modernista em Antero de 
Quental, Cesário Verde, Eugénio de Castro e Camilo Pessanha. 
As novas ideias modernistas aparecem pela primeira vez em 1913 na colectânea de 12 
poemas de Sá-Carneiro (com o título DISPERSÃO), de imediato aplaudidas por Fernando 
Pessoa. Logo a seguir, o próprio Pessoa dava início a uma corrente literária efémera, com a 
publicação da poesia PAÚIS na revista Renascença, em Fev. de 1914. (Esta experiência literária 
veio a chamar-se Paulismo, nome inspirado na referida poesia). Neste mesmo ano de 1914 
(durante o qual Pessoa criou os seus principais heterónimos, Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e 
Ricardo Reis) o grupo modernista lança em Portugal um projecto que Luís de Montalvor tinha 
trazido do Brasil: a publicação da revista luso-brasileira ORPHEU, de que só se publicaram dois 
números, em 1915. Orpheu não era, todavia, uma revista esteticamente homogénea, já que nas 
suas páginas se reflectiam vários outros movimentos, incluindo o do Simbolismo, cuja estética já 
se anunciara entre nós com Cesário Verde, o poeta que estudámos no 11º Ano. De facto, o 
movimento Orpheu, associado à revista com o mesmo nome, albergou diversas tendências com 
predominância daquelas que expressavam as várias vertentes modernistas: o Decadentismo, o 
Paulismo, o Interseccionismo, o Sensacionismo e o Futurismo. 
O suicídio de Sá Carneiro, em Abril de 1916, veio privar o grupo modernista de um dos 
seus mais relevantes mentores, mas a geração modernista continuou a exprimir as sua novas 
ideias em escritos particulares ou noutras revistas entretanto aparecidas: EXÍLIO (1916), 
CENTAURO (1916), PORTUGAL FUTURISTA (1917). 
Uma década mais tarde, apareceu a revista PRESENÇA (1927) porta-voz do Presencismo, 
uma nova sensibilidade literária que divulgou e valorizou criticamente as obras do grupo do 
Orpheu. Embora com esse distanciamento crítico, os presencistas (de que Vitorino Nemésio e 
Miguel Torga chegaram a fazer parte e que tiveram em José Régio o mais lídimo representante) 
herdam vários aspectos do espírito do Orpheu, sendo, por isso, considerados os representantes de 
uma segunda geração de modernistas. 
No seu conjunto, a estética modernista portuguesa caracteriza-se: 
· pela tendência para a dispersão ou multiplicidade da personalidade; 
· por um misto de irracionalismo (abandono ao inconsciente, ao 
primitivismo e à infantilidade) e de intelectualismo; 
· pela tendência para «a expressão paradoxal das emoções e dos 
sentimentos». 
· Visão da infância como paraíso perdido; 
· Euforia do moderno (que rapidamente conduz ao tédio existencial); 
· Esforço nunca conseguido de autoconhecimento.
O problema da unidade do eu e da busca de uma personalidade radical é equacionada de 
uma maneira inteiramente nova: O Modernismo incita à plenitude individual mas vive a 
contradição do mundo visto como coisa absurda e sem suporte. 
Contexto do aparecimento do Modernismo 
A gestação das ideias do Modernismo afirmava-se já nas tendências literárias «anti-românticas 
» que marcaram a Europa, na transição do século XIX para o século XX: 
· O Decadentismo exprimia o cansaço, o tédio e a busca de novas sensações. 
· O Parnasianismo (que influenciou Cesário Verde) constituía uma reacção contra o 
Romantismo, defendendo a objectividade temática contra o sentimentalismo e os 
excessos da imaginação romântica. 
· O Simbolismo (muito presente numa primeira fase de Pessoa) passou a valorizar as 
sonoridades da palavra e a distanciar-se da concepção de literatura como um simples 
veículo de comunicação de ideias, para pôr em relevo a poesia como uma construção 
artística de linguagem. 
Estas tendências finisseculares emergiram de um clima de grande insatisfação que se 
respirava na cultura europeia. De facto, a passagem do século XIX para o XX foi marcado pela 
crise do capitalismo e pela agitação social em busca da democracia. É verdade que nessa época a 
crença no progresso proporcionado pela revolução científica, técnica e industrial fez desencadear 
uma grande euforia diante das novas possibilidades do homem, como se pode detectar nos textos 
literários futuristas. Mas, por outro lado, nesse mesmo período histórico aumentou a descrença 
nos sistemas políticos, sociais e filosóficos. Este quadro tornou-se ainda mais pessimista com a 
grande incerteza criada pela 1ª Grande Guerra, que veio pôr em causa a confiança no futuro, 
levando muitos literatos a valorizar a filosofia da fruição do presente, como se pode detectar em 
poemas do heterónimo Ricardo Reis. 
Em Portugal vivia-se nessa mesma época o grande abalo provocado pelo Ultimato inglês, 
que constituiu uma grande humilhação para a consciência nacional. As correntes estéticas 
influenciadas por este clima de desencanto tornaram-se permeáveis aos movimentos que 
defendiam o revigoramento da cultura nacional, facto que levou vários escritores a aderirem ao 
Saudosismo, de Teixeira de Pascoais. 
Fernando Pessoa foi um dos que perfilhou os ideias saudosistas, mas rapidamente evolui 
para o Modernismo, sob a influência das novas correntes estéticas europeias, denominadas 
Vanguardas Europeias, que apregoavam a liberdade criadora. O aparecimento da revista Orpheu 
(1915) corporizou esta vontade de ruptura com o passado, apresentando o Modernismo como a 
expressão da inquietude daquela época e como uma provocação contra o gosto estabelecido. 
As marcas do Modernismo: 
«A liberdade criadora; o sentido aristocrático da arte, contra a vulgaridade; a perfeição formal; o 
cosmopolitismo; a correspondência entre as várias artes - literatura, pintura, escultura, música; o gosto pelo 
exótico, pelo clássico e pelo pitoresco; o impressionismo descritivo; a renovação vocabular e dos recursos 
expressivos; a simplificação da sintaxe; o aproveitamento das imagens visuais e dos vocábulos musicais; a 
versificação irregular e o verso livre; a liberdade estrófica». 
Tendo como característica comum a vontade de romper com o passado «cada uma das correntes de 
vanguarda assumiu um carácter específico, exprimindo a subjectividade e o irracionalismo humano, na 
ânsia de encontrar novas formas de expressão capazes de traduzir uma nova realidade para a sua 
contemporaneidade». 
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Modernismo em portugal

  • 1. MODERNISMO em PORTUGAL O núcleo do grupo modernista português nasceu em Lisboa, em 1913, com Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro, poetas que haviam colaborado na Águia, (revista que era porta-voz do Saudosismo), mas que acabam por fazer uma ruptura com esse movimento literário das décadas anteriores. Estes dois poetas, juntamente com Almada Negreiros (todos eles nascidos no fim do século XIX), foram, de facto, os grandes empreendedores em Portugal da corrente modernista, marcada por uma grande consonância com a arte e a literatura mais avançadas da Europa. Podemos, contudo, descobrir já alguns ressaibos da estética modernista em Antero de Quental, Cesário Verde, Eugénio de Castro e Camilo Pessanha. As novas ideias modernistas aparecem pela primeira vez em 1913 na colectânea de 12 poemas de Sá-Carneiro (com o título DISPERSÃO), de imediato aplaudidas por Fernando Pessoa. Logo a seguir, o próprio Pessoa dava início a uma corrente literária efémera, com a publicação da poesia PAÚIS na revista Renascença, em Fev. de 1914. (Esta experiência literária veio a chamar-se Paulismo, nome inspirado na referida poesia). Neste mesmo ano de 1914 (durante o qual Pessoa criou os seus principais heterónimos, Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis) o grupo modernista lança em Portugal um projecto que Luís de Montalvor tinha trazido do Brasil: a publicação da revista luso-brasileira ORPHEU, de que só se publicaram dois números, em 1915. Orpheu não era, todavia, uma revista esteticamente homogénea, já que nas suas páginas se reflectiam vários outros movimentos, incluindo o do Simbolismo, cuja estética já se anunciara entre nós com Cesário Verde, o poeta que estudámos no 11º Ano. De facto, o movimento Orpheu, associado à revista com o mesmo nome, albergou diversas tendências com predominância daquelas que expressavam as várias vertentes modernistas: o Decadentismo, o Paulismo, o Interseccionismo, o Sensacionismo e o Futurismo. O suicídio de Sá Carneiro, em Abril de 1916, veio privar o grupo modernista de um dos seus mais relevantes mentores, mas a geração modernista continuou a exprimir as sua novas ideias em escritos particulares ou noutras revistas entretanto aparecidas: EXÍLIO (1916), CENTAURO (1916), PORTUGAL FUTURISTA (1917). Uma década mais tarde, apareceu a revista PRESENÇA (1927) porta-voz do Presencismo, uma nova sensibilidade literária que divulgou e valorizou criticamente as obras do grupo do Orpheu. Embora com esse distanciamento crítico, os presencistas (de que Vitorino Nemésio e Miguel Torga chegaram a fazer parte e que tiveram em José Régio o mais lídimo representante) herdam vários aspectos do espírito do Orpheu, sendo, por isso, considerados os representantes de uma segunda geração de modernistas. No seu conjunto, a estética modernista portuguesa caracteriza-se: · pela tendência para a dispersão ou multiplicidade da personalidade; · por um misto de irracionalismo (abandono ao inconsciente, ao primitivismo e à infantilidade) e de intelectualismo; · pela tendência para «a expressão paradoxal das emoções e dos sentimentos». · Visão da infância como paraíso perdido; · Euforia do moderno (que rapidamente conduz ao tédio existencial); · Esforço nunca conseguido de autoconhecimento.
  • 2. O problema da unidade do eu e da busca de uma personalidade radical é equacionada de uma maneira inteiramente nova: O Modernismo incita à plenitude individual mas vive a contradição do mundo visto como coisa absurda e sem suporte. Contexto do aparecimento do Modernismo A gestação das ideias do Modernismo afirmava-se já nas tendências literárias «anti-românticas » que marcaram a Europa, na transição do século XIX para o século XX: · O Decadentismo exprimia o cansaço, o tédio e a busca de novas sensações. · O Parnasianismo (que influenciou Cesário Verde) constituía uma reacção contra o Romantismo, defendendo a objectividade temática contra o sentimentalismo e os excessos da imaginação romântica. · O Simbolismo (muito presente numa primeira fase de Pessoa) passou a valorizar as sonoridades da palavra e a distanciar-se da concepção de literatura como um simples veículo de comunicação de ideias, para pôr em relevo a poesia como uma construção artística de linguagem. Estas tendências finisseculares emergiram de um clima de grande insatisfação que se respirava na cultura europeia. De facto, a passagem do século XIX para o XX foi marcado pela crise do capitalismo e pela agitação social em busca da democracia. É verdade que nessa época a crença no progresso proporcionado pela revolução científica, técnica e industrial fez desencadear uma grande euforia diante das novas possibilidades do homem, como se pode detectar nos textos literários futuristas. Mas, por outro lado, nesse mesmo período histórico aumentou a descrença nos sistemas políticos, sociais e filosóficos. Este quadro tornou-se ainda mais pessimista com a grande incerteza criada pela 1ª Grande Guerra, que veio pôr em causa a confiança no futuro, levando muitos literatos a valorizar a filosofia da fruição do presente, como se pode detectar em poemas do heterónimo Ricardo Reis. Em Portugal vivia-se nessa mesma época o grande abalo provocado pelo Ultimato inglês, que constituiu uma grande humilhação para a consciência nacional. As correntes estéticas influenciadas por este clima de desencanto tornaram-se permeáveis aos movimentos que defendiam o revigoramento da cultura nacional, facto que levou vários escritores a aderirem ao Saudosismo, de Teixeira de Pascoais. Fernando Pessoa foi um dos que perfilhou os ideias saudosistas, mas rapidamente evolui para o Modernismo, sob a influência das novas correntes estéticas europeias, denominadas Vanguardas Europeias, que apregoavam a liberdade criadora. O aparecimento da revista Orpheu (1915) corporizou esta vontade de ruptura com o passado, apresentando o Modernismo como a expressão da inquietude daquela época e como uma provocação contra o gosto estabelecido. As marcas do Modernismo: «A liberdade criadora; o sentido aristocrático da arte, contra a vulgaridade; a perfeição formal; o cosmopolitismo; a correspondência entre as várias artes - literatura, pintura, escultura, música; o gosto pelo exótico, pelo clássico e pelo pitoresco; o impressionismo descritivo; a renovação vocabular e dos recursos expressivos; a simplificação da sintaxe; o aproveitamento das imagens visuais e dos vocábulos musicais; a versificação irregular e o verso livre; a liberdade estrófica». Tendo como característica comum a vontade de romper com o passado «cada uma das correntes de vanguarda assumiu um carácter específico, exprimindo a subjectividade e o irracionalismo humano, na ânsia de encontrar novas formas de expressão capazes de traduzir uma nova realidade para a sua contemporaneidade». 2
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