SlideShare une entreprise Scribd logo
1  sur  9
Entrevista:


   Alex Atala


                    O
                           criativo e irrequieto Alex Atala é conheci-
                           do, no Brasil e no exterior, por explorar, a
                           partir de bases clássicas e técnicas atuais,
                    as possibilidades gastronômicas dos ingredientes
                    nacionais. Atala iniciou sua carreira aos 19 anos
                    na Bélgica, depois partiu para novas empreitadas
                    em cozinhas da França e da Itália. Em 1994 retor-
                    nou a São Paulo e, no final de 1999, inaugurou
                    o restaurante D.O.M., que, entre outros prêmios,
                    valeu-lhe, por duas vezes (2006 e 2007), a indica-
                    ção entre os 50 melhores restaurantes do mundo
                    pela publicação Restaurant Magazine. Além de
                    cozinhar, Atala também é estudioso da gastrono-
                    mia brasileira, tendo publicado diversos textos
                    em que defende a valorização de ingredientes
                    nacionais para a culinária de alto padrão. Em
                    entrevista a Textos do Brasil, o chef comenta sua
                    percepção a respeito da formação e das tendên-
                    cias atuais da culinária brasileira.




Sabores do Brasil                                                     129
TB: O Brasil é um país imenso que                          o Brasil é essa colcha de
      apresenta grande diversidade
      cultural; ainda assim, é possível                           retalhos de culturas,
      afirmar que existe uma culinária                              que, no final, são
      particular que o identifique?
            Alex: Eu acho que é preciso diferenciar o           respeitadas e unificadas
      que é regional do que é típico e do que é folcló-          de uma forma singular
      rico. A maior representação do Brasil, em âmbito
      mais abrangente, talvez seja a feijoada, que pos-                e positiva.
      sui tanto uma raiz negra quanto uma indígena; é
      um elemento presente na mesa do brasileiro, um       essas são apenas as bases. O arroz com feijão não
      traço efetivamente nacional. Creio que se pode       encerra toda a culinária brasileira.
      dizer que esse prato e a caipirinha são represen-
      tações folclóricas da cultura brasileira.            TB: O fato de ir a um restaurante à
             Há, por outro lado, os pratos típicos, as     quilo, algo muito comum no dia-a-
      cozinhas típicas. A influência da culinária portu-   dia das pessoas que trabalham nas
      guesa, por exemplo, pode ser sentida tanto em        grandes cidades, e lá encontrar arroz
      Minas quanto em Florianópolis, que possui uma        com feijão, sushi, churrasco, massa,
      cozinha mais açoriana, com pratos muitos belos.      etc. indica o que sobre a culinária
      A influência da culinária africana pode ser sen-     brasileira?
      tida, de modo geral, no Nordeste. A Amazônia,               Alex: Eu acho que isso reflete o que é, real-
      por sua vez, possui uma cozinha autóctone. Re-       mente, o Brasil: essa colcha de retalhos de cultu-
      firo-me não apenas ao estado da Amazônia, mas        ras, que, no final, são respeitadas e unificadas de
      a toda a região, com a diversidade e os microcli-    uma forma singular e positiva.
      mas que vamos encontrar.
             Então, acho que é importante fazer a seção    TB: Se, conforme expresso em
      do que é folclórico, do que é típico e do que é      Fisiologia do Gosto, “somos o que
      regional. Isso dá idéia da riqueza da nossa cul-     comemos” pode-se dizer que a
      tura: não só de sua dimensão continental, mas        existência de uma culinária brasileira
      também de sua diversidade.                           é corolário da própria existência de
                                                           um povo brasileiro, apesar de toda a
      TB: A unidade de nossa culinária,                    diversidade interior?
      portanto, vai além do feijão com                           Alex: Vamos pensar no seguinte: a alimen-
      arroz?                                               tação é trilha de estudo de todas a ciências huma-
            Alex: Uma vez que é grande a nossa rique-      nas. Então, dá para dizer, sem dúvida alguma,
      za, acho que o arroz e o feijão formam a receita     que somos sim o que comemos. Não discuto isso.
      mais consumida. Acredito, também, que a man-         Estou completamente de acordo com essa afir-
      dioca seja o eixo central da culinária brasileira,   mação e acho que reforça tudo o que venho fa-
      presente da mesa cabocla à grande mesa. Mas          lando: essa força que o Brasil tem; essa abertura



130                                                                                       Textos do Brasil . Nº 13
D.O.M. Restaurante


   para outras culturas, sem perder a originalidade.    Brasil pela qual demonstra potencial para a culi-
   Isso reforça, mais uma vez, esse prisma da cultu-    nária empregada internacionalmente.
   ra que temos.
                                                        TB: Se o senhor acredita na existência
   TB: Apesar da diversidade das                        de uma culinária legitimamente
   culturas que formam o Brasil, a                      brasileira, aberta a outras culturas,
   culinária, sobretudo a comida do                     mas sem descaracterizar-se, por
   dia-a-dia, apresenta considerável                    que está publicando um livro com o
   homogeneidade. Assim, parece                         objetivo de dar maior publicidade aos
   acertado dizer que o que define a                    ingredientes, processos e receitas da
   culinária brasileira é a assimilação,                cozinha da Amazônia?
   não sua origem?                                             Alex: No primeiro momento, quando os
         Alex: De certa forma, sim, é possível con-     europeus chegaram, tiveram de tropicalizar suas
   cordar com a idéia de que o Brasil suplanta as       receitas. O Brasil era outra realidade, muito po-
   culturas estrangeiras que para cá vieram. Existe     tente. Assim, nossa cultura suplantou, muitas ve-
   uma customização da cultura estrangeira à loca-      zes, a cultura estrangeira de modo geral. No caso
   lidade. Então, essa é uma das primeiras forças do    do meu trabalho, escrevi o livro para valorizar a
                                                        culinária brasileira.


Sabores do Brasil                                                                                           131
O arroz com feijão, por exemplo, é um pra-             Alex: Eu acho que a nova sociedade pro-
      to típico de um país colonizado jovem. Ainda            põe a experimentação. Os hábitos são influencia-
      que o homem coma desde antes de aprender a              dos por isso. Há, também, o traço do Brasil, um
      comunicar-se e que a alimentação seja uma ativi-        país tão multicultural, o que ajuda muito nesse
      dade vital, a gastronomia tem apenas 200 anos.          sentido. É divertido imaginar que, há 20 ou 30
      Por ser um país jovem e receber influência de           anos, a comida japonesa gerava ojeriza e, hoje,
      várias culturas, o Brasil acaba desprestigiando a       muitas crianças de 8 a 10 anos preferem um sushi
      cozinha mais caipira, mais cabocla, quando o ato        bar ao McDonald’s.
      de se alimentar adquire certo status.                         Isso mostra que o paladar pode ser desen-
             Eu, pessoalmente, não consigo achar que          volvido. Se exposto à variedade desde a primeira
      um ovo é menos importante do que uma trufa.             infância, o horizonte de paladar tende a alcançar
      Então, sou um militante de uma cozinha de ter-          um amplitude muito grande. Nós somos, assim,
      roir, de uma cozinha caipira, de uma cozinha pa-        muito privilegiados por sermos um país tão rico
      trimonial brasileira, porque o que levou a França,      em ingredientes e em cultura.
      Itália, Espanha e o Japão aos altos patamares da              Essa abertura à cozinha internacional, por
      cozinha foi o orgulho da cultura regional, o orgu-      outro lado, é conseqüência de sermos uma cultu-
      lho do caipira, por assim dizer.                        ra jovem, aberta a múltiplas influências.
              Na França, um chef é tão respeitado porque
      ele faz comida francesa, para pessoas francesas,        TB: Você não acha que esse tendência,
      que comeram comida francesa a vida inteira. É           em contrapartida, não poderia ser um
      a qualidade do trabalho que confere a ele esse          sintoma de que a nossa cozinha deixou
      status. No Japão, um sushiman é honorado pelo           de ter raiz, de que perdeu um pouco de
      mesmo motivo. Acredito, portanto, que um bom            contato com a própria terra?
      cozinheiro brasileiro tem de demostrar essa mes-               Alex: Embora a culinária regional tenha
      ma habilidade com a nossa cultura.                      perdido algo de seu brilho, acho que esse pro-
              A diferença entre o bom, o muito bom e o        cesso faz parte de um ciclo. Existe, hoje, um mo-
      excepcional vem com repertório. Para nós brasi-         vimento que não é meu, mas de pessoas como
      leiros, é difícil julgar trufas, caviares e até mesmo   Paulo Martins, em Belém, ou César Santos, em
      cogumelos e molhos complicados; mas, com cer-           Olinda. São profissionais do País inteiro, de norte
      teza, todo brasileiro é expert em arroz com feijão.     a sul, militando por cozinhas regionais com mui-
                                                              ta propriedade. Creio que esse retorno a nossa
      TB: Por que, ao irmos a um                              origem faz parte do processo de amadurecimen-
      restaurante, estamos mais perto do                      to de nossa cultura.
      outro lado do Atlântico – ou mesmo                             Essas pessoas, diferentemente de mim, que
      do Pacífico – do que de nosso interior?                 estou fazendo alta gastronomia, defendem suas
      Por que é mais fácil comer comida                       cozinhas regionais, suas origens, o que eu acho
      mexicana, japonesa, chinesa, egípcia                    muito bonito. O mais importante, sem dúvida, é
      e até javanesa do que manauara em                       a valorização da alimentação do Brasil.
      muitas capitais do País?


132                                                                                          Textos do Brasil . Nº 13
Sorbet de jabuticaba. D.O.M. Restaurante


   TB: Nesse contexto, é ainda possível                           Pensando em Amazônia, há discussões so-
   identificar, claramente, as cozinhas                    bre a qualidade do tucupi de Manaus e do de Be-
   regionais típicas?                                      lém; do açaí de Manaus e do de Belém. Procura-
          Alex: Eu acho que há grandes interseções.        se saber se a castanha é do Pará ou do Acre. São
   Em Minas, São Paulo e Rio de Janeiro, existe uma        discussões que, acredito, perdem a legitimidade,
   vertente portuguesa comum a todos. Então, às            uma vez que começam a buscar uma melhor re-
   vezes, você vai ver discussões que acho ilógicas,       gião e se esquecem do sentido de cidadania, que
   como a diferença entre um tutu paulista e um mi-        parte do indivíduo para o coletivo.
   neiro. Discute-se algo que talvez não tenha tan-
   ta importância, se imaginamos que o bioma é o           TB: A cozinha regional engloba
   mesmo.                                                  não apenas pratos, mas também
          A cultura humana não respeita muito di-          ingredientes típicos. Não está cada
   visões geográficas, na medida em que está muito         vez mais difícil ter acesso a esses, à
   adaptada ao bioma. Importa saber se se trata de         medida que a produção e o consumo se
   uma mata atlântica, de um cerrado, ou de uma            massificam?
   floresta equatorial.



Sabores do Brasil                                                                                         133
A minha relação                          remos a força do elo com o ambiente. Pensemos
                                                         no caviar, na trufa. O homem ainda tem de ir à
                 com a natureza                          caça de trufas, bem como à pesca do esturjão sel-
                                                         vagem para conseguir o melhor caviar. É incrível
               manifesta-se como
                                                         como um dos mais altos patamares da cultura
               uma característica                        humana está intrinsecamente ligado à natureza.
                                                               Acredito, também, que a alimentação pode
             muito forte de minha
                                                         ser não apenas uma forma de conservação do
                 personalidade; é                        meio ambiente, como também uma ótima alter-
                                                         nativa para se gerarem recursos para as popula-
                 uma herança de
                                                         ções das regiões ribeirinhas. É importante agre-
             família. Mas isso não                       gar valor para a floresta. Ela tem de valer mais
                                                         em pé do que deitada.
              é uma exclusividade
              minha. Se pegarmos                         TB: Em relação à cozinha tradicional,
                                                         dados estatísticos apontam uma
             os ícones mais altos da                     redução no consumo de feijão com
             gastronomia, veremos                        arroz. O que isso significa para nossa
                                                         culinária?
               a força do elo com o                             Alex: A maior concentração populacional
                    ambiente.                            do Brasil ainda está nas metrópoles. Essa ali-
                                                         mentação em larga escala, a produção de comida
                                                         industrializada, é um grande facilitador do dia-
             Alex: Acredito que, de alguma forma, sim.   a-dia, mas bastante nociva às culturas regionais,
      Não poderia dizer que não. Por outro lado, nós,    principalmente quando se pensa em pratos típi-
      brasileiros, principalmente os produtores e os     cos do sertão ou de culturas menores limitadas
      extrativistas, precisamos melhorar nossa relação   a microrregiões. Nesse sentido, penso que as in-
      com os ingredientes de base. Aqui, os peixes são   dústrias de alimentação são mais perigosas que
      maltratados, bem como as hortaliças colhidas no    as redes de fast-food, que são um fênomeno urba-
      cinturão urbano. Então, acho que pecamos, mui-     no. A salsicha, os enlatados, por outro lado, são o
      tas vezes, no momento de respeitar a natureza,     que chega, realmente, às regiões carentes.
      que é tão generosa conosco e é agredida pelos             Eu tenho um sonho. Não vou dizer que é
      próprios agricultores e pescadores que tiram o     um projeto, mas sim um sonho de melhorar a ces-
      sustento dela.                                     ta básica, não apenas como produto de base, mas
             A minha relação com a natureza mani-        também como embalagem. É importante lembrar
      festa-se como uma característica muito forte de    que, para o índio, o ribeirinho, o caboclo, embala-
      minha personalidade; é uma herança de família.     gem de fruta é casca, de peixe é escama, de bicho
      Mas isso não é uma exclusividade minha. Se pe-     é pele. Eles jogam os resíduos no meio ambiente.
      garmos os ícones mais altos da gastronomia, ve-    É algo intrínseco à cultura dessas populações.



134                                                                                     Textos do Brasil . Nº 13
Salada de abobrinha. D.O.M. Restaurante


         Porém, como são mandadas cestas básicas          direção oposta, como é a presença de
   cheias de plástico e alumínio, quando se anda          nossa culinária em mesas no exterior?
   pela Amazônia, por lugares extremamente remo-                 Alex: A nossa maior força no exterior é ser
   tos, depara-se com sacos plásticos e latinhas. Eu      brasileiro. Acho que há grande diferença entre
   acho que essa é uma agressão que nós, urbanos,         ser um chef do Brasil e ser um chef do Equador ou
   fazemos ao meio ambiente, sem consciência da           da Venezuela, do Gabão ou do Timor Leste. Nós
   extensão do problema. Então, creio que a cesta         carregamos um carisma que o País já tem, o que
   básica deveria ser revista não só por ingredien-       é algo muito positivo.
   tes, mas também por embalagens, levando-se em                 Outra força é a diversidade das frutas, que
   consideração as regiões.                               são grandes vedetes. Quando estamos no exte-
                                                          rior e já utilizamos essas duas forças maiores
   TB: O senhor já comentou a                             para mostrar que somos um país tropical rico
   influência estrangeira na cozinha                      em sabores, abrimos espaço para demonstrar o
   brasileira. Pensando nesse fluxo em                    potencial da tapioca, das farinhas, das ervas, dos
                                                          tubérculos, dos palmitos, de toda a extensão dos



Sabores do Brasil                                                                                              135
peixes, das carnes. Essa exuberância contagia as    franceses uma liderança na cozinha. Então, nos-
      pessoas.                                            sa mão-de-obra, sobretudo a mais jovem, ainda
            Pensando na alta gastronomia, segundo         presta mais atenção em outras cozinhas do que
      minha experiência, algo que inebria todo chef no    na nossa. Mas acredito que isso é um processo.
      exterior, é o tucupi, tão complexo quanto o curry   Estamos em uma fase de transição. Nos próxi-
      indiano. O produto é uma grande apresentação        mos anos, podem ocorrer grandes mudanças no
      de nossa cozinha, pois é tanto um tempero quan-     cenário.
      to um conservante, multifacetado não apenas no
      sabor, mas também na aplicação.                     TB: Apesar do prestígio da
                                                          alta cozinha estrangeira, o seu
      TB: Quanto a suas raízes, nossa                     restaurante, o D.O.M., especializado
      cozinha se parece com outras ou                     em cozinha brasileira, foi o único
      temos uma culinária muito peculiar?                 do Brasil a ser incluído na lista da
            Alex: Muito peculiar. Há cozinhas na faixa    revista inglesa Restaurant dos 50
      tropical que possuem ingredientes comuns: no        melhores do mundo. Qual é o caminho
      Caribe, encontramos algum tipo de mandioqui-        para a consolidação da gastronomia
      nha ou de feijão; na Ásia, na Tailândia, leite de   brasileira?
      coco, coentro, pimenta. Embora existam muitos              Alex: A gastronomia é a arte de colocar um
      ingredientes comuns nas cozinhas tropicais, acho    ingrediente ou uma receita no seu melhor momen-
      que a nossa maneira de fazer é diferente.           to. Nós temos, no Brasil, produtos e receitas para
                                                          executar a gastronomia no sentido mais amplo da
      TB: E por que ainda não somos uma                   palavra. Algo também importante a ser ressalta-
      potência culinária internacional?                   do sobre a gastronomia é que ela não está restrita
            Alex: Acho que esse é um impasse próprio      a ingredientes caros ou a processos difíceis.
      de países jovens. Para o Brasil, não basta haver           Vou dar um exemplo do que entendo por
      um bom trabalho sobre cozinha. Isso é muito         gastronomia. Se vamos à Bahia, encontramos dez
      pouco. Na França, na Itália, nos países de refe-    barraquinhas em uma praia. Uma delas faz peixe
      rência, não apenas um bom chef ou uma boa pes-      frito melhor do que as outras. Isso acontece devi-
      quisa, mas vários foram necessários para reafir-    do à execução adequada de uma série de etapas.
      mar a qualidade. Trata-se de um processo que já     Provavelmente, o dono dessa barraca levantou
      está em andamento no Brasil.                        cedo, limpou o peixe corretamente e acondicio-
                                                          nou-o em uma geladeira. Depois, aqueceu o óleo
      TB: Por que a alta gastronomia                      na temperatura certa, temperou bem o peixe,
      estrangeira, sobretudo a francesa, é                fritou durante o tempo correto, colocou em um
      tão prestigiada no Brasil?                          bom prato, acompanhou de bons ingredientes
             Alex: Acho que, por um lado, isso é ain-     e outra pessoa tirou aquele prato da cozinha e
      da um traço do Brasil colônia, algo natural. Por    serviu na mesa do cliente. Então, um prato não
      outro lado, o fato de a gastronomia na França       começa nem termina na cozinha. Na verdade,
      ter saído na frente de todo mundo confere aos



136                                                                                     Textos do Brasil . Nº 13
começa na escolha do ingrediente e termina no                     Um prato não começa
   prato vazio na frente do cliente satisfeito.
          Para mim, isso é gastronomia. Ela engloba                 nem termina cozinha.
   um processo com uma série de etapas que preci-
                                                                    Na verdade, começa na
   sa, no Brasil, ser melhorado de modo geral.
                                                                    escolha do ingrediente e
   TB: É preciso ser um bom cozinheiro
                                                                    termina no prato vazio
   antes de ser um chef?
          Alex: Com absoluta certeza! Vou dar um                      na frente do cliente
   exemplo. Um professor doutor em medicina
                                                                           satisfeito.
   estudou na faculdade, fez  anos de residência
   para, então, tornar-se médico. Posteriormente, o
   sucessivo estudo e, mais importante, o exercício           tornei o que sou de um dia para outro. Por neces-
   da profissão foi dando a ele o doutorado e pro-            sidade, sujeitei-me a fazer trabalhos menores e
   fessorado. Eu acho que, na cozinha, não é dife-            fui-me apaixonando pela culinária.
   rente: por mais informação teórica que se possua,                 Então, quando voltei ao nosso país, não
   é a prática que vai lapidar a técnica.                     quis ser um brasileiro metido a francês, italiano,
          Nesse sentido, acredito que a cozinha italia-       belga ou qualquer outra nacionalidade. Quis ser
   na pode ser uma grande lição para a brasileira. A          brasileiro, pois acreditei no meu país e na minha
   mamma cozinha muito bem, mas, quando a nona                cultura, nos sabores que conheci desde a minha
   cozinha, a família toda se ajoelha para comer. A           infância e que julgava tão bons quanto os que eu
   culinária italiana é uma culinária caseira. A mam-         conheci no exterior. Esse passado, com absoluta
   ma cozinha bem, porque faz isso todo dia, e a nona         certeza, me ajuda no trabalho que desenvolvo
   cozinha melhor do que todo mundo, porque fez               atualmente.
   isso a vida inteira. Por isso, a culinária italiana dei-
   xou um grande legado para nós: as nossas receitas          TB: Todo mundo pode ter acesso à
   patrimoniais são muito boas, mas falta essa devo-          gastronomia?
   ção à cozinha, à seleção de produtos, ao serviço, ao             Alex: O exemplo que dei do peixe frito na
   cozimento, à tudo que envolve uma boa refeição.            Bahia se aplica a todas as circunstâncias: no Mer-
                                                              cado Ver-o-Peso, com açaí; em São Paulo, com
   TB: Como sua experiência pessoal                           pastéis de feira; no Rio de Janeiro, com comida
   influenciou essa devoção que o                             de boteco; no Ceará, com carne-de-sol ou caran-
   senhor manifesta pela cozinha e seu                        guejada; na Bahia, com moqueca.
   interesse pela alta gastronomia?                                 Enfim, as nossas cozinhas de base são fa-
          Alex: Por ter sido um punk, me sujeitei a la-       mosas não porque são simpáticas, mas porque
   var louça, para, depois, aprender a picar. Apren-          são boas. É possível transformá-las em alta gas-
   di a lavar a panela, para, depois, cozinhar nela e         tronomia. Vamos lembrar que um croque-mon-
   assim por diante. Foi um processo de aprendi-              sieur, um crêpe suzette ou um penne arrabiata são,
   zagem. Eu não nasci o chef Alex Atala, nem me              na verdade, primos de receitas cotidianas.



Sabores do Brasil                                                                                              137

Contenu connexe

Tendances

Influência da-cultura-africana-no-brasil
Influência da-cultura-africana-no-brasilInfluência da-cultura-africana-no-brasil
Influência da-cultura-africana-no-brasilNancihorta
 
A formação da cultura brasileira/ Dicas para o Enem
A formação da cultura brasileira/ Dicas para o EnemA formação da cultura brasileira/ Dicas para o Enem
A formação da cultura brasileira/ Dicas para o EnemJoemille Leal
 
Livro de Receitas Cabén Calon
Livro de Receitas Cabén CalonLivro de Receitas Cabén Calon
Livro de Receitas Cabén Calonfraburty
 
Www.dialogarts.uerj.br admin arquivos_emquestao_[1]ioruba
Www.dialogarts.uerj.br admin arquivos_emquestao_[1]iorubaWww.dialogarts.uerj.br admin arquivos_emquestao_[1]ioruba
Www.dialogarts.uerj.br admin arquivos_emquestao_[1]iorubaNika Play
 
Raizes_Culturais_Brasileiras__Africanos__ensino_basico.pdf
Raizes_Culturais_Brasileiras__Africanos__ensino_basico.pdfRaizes_Culturais_Brasileiras__Africanos__ensino_basico.pdf
Raizes_Culturais_Brasileiras__Africanos__ensino_basico.pdfMaria Claudia F.Graca
 
Trabalho Do Colegio Modelo!!
Trabalho Do Colegio Modelo!!Trabalho Do Colegio Modelo!!
Trabalho Do Colegio Modelo!!Jackeline Póvoas
 
Salvador uma cidade Afrodescendente
Salvador uma cidade AfrodescendenteSalvador uma cidade Afrodescendente
Salvador uma cidade AfrodescendenteMarcus Bittencourt
 
Africanidades fato ou boato
Africanidades fato ou boatoAfricanidades fato ou boato
Africanidades fato ou boatolabjosecataldi
 
Trabalho de história- Profº Jader
Trabalho de história- Profº JaderTrabalho de história- Profº Jader
Trabalho de história- Profº JaderAlziro Lopes
 
Africanidades e linguagens
Africanidades e linguagensAfricanidades e linguagens
Africanidades e linguagensKingston8GB
 

Tendances (18)

Influência da-cultura-africana-no-brasil
Influência da-cultura-africana-no-brasilInfluência da-cultura-africana-no-brasil
Influência da-cultura-africana-no-brasil
 
A formação da cultura brasileira/ Dicas para o Enem
A formação da cultura brasileira/ Dicas para o EnemA formação da cultura brasileira/ Dicas para o Enem
A formação da cultura brasileira/ Dicas para o Enem
 
Livro de Receitas Cabén Calon
Livro de Receitas Cabén CalonLivro de Receitas Cabén Calon
Livro de Receitas Cabén Calon
 
Www.dialogarts.uerj.br admin arquivos_emquestao_[1]ioruba
Www.dialogarts.uerj.br admin arquivos_emquestao_[1]iorubaWww.dialogarts.uerj.br admin arquivos_emquestao_[1]ioruba
Www.dialogarts.uerj.br admin arquivos_emquestao_[1]ioruba
 
Raizes_Culturais_Brasileiras__Africanos__ensino_basico.pdf
Raizes_Culturais_Brasileiras__Africanos__ensino_basico.pdfRaizes_Culturais_Brasileiras__Africanos__ensino_basico.pdf
Raizes_Culturais_Brasileiras__Africanos__ensino_basico.pdf
 
Trabalho Do Colegio Modelo!!
Trabalho Do Colegio Modelo!!Trabalho Do Colegio Modelo!!
Trabalho Do Colegio Modelo!!
 
Brasil sertanejo
Brasil sertanejoBrasil sertanejo
Brasil sertanejo
 
1.pano da costa
1.pano da costa1.pano da costa
1.pano da costa
 
Salvador uma cidade Afrodescendente
Salvador uma cidade AfrodescendenteSalvador uma cidade Afrodescendente
Salvador uma cidade Afrodescendente
 
Cultura afro
Cultura afroCultura afro
Cultura afro
 
Video mariane afro
Video mariane  afroVideo mariane  afro
Video mariane afro
 
Cultura afro-brasileira
Cultura afro-brasileira Cultura afro-brasileira
Cultura afro-brasileira
 
Africanidades fato ou boato
Africanidades fato ou boatoAfricanidades fato ou boato
Africanidades fato ou boato
 
Trabalho de história- Profº Jader
Trabalho de história- Profº JaderTrabalho de história- Profº Jader
Trabalho de história- Profº Jader
 
Africanidade
AfricanidadeAfricanidade
Africanidade
 
Cplp
CplpCplp
Cplp
 
A influência africana
A influência africanaA influência africana
A influência africana
 
Africanidades e linguagens
Africanidades e linguagensAfricanidades e linguagens
Africanidades e linguagens
 

En vedette

Apostila veganizando
Apostila veganizandoApostila veganizando
Apostila veganizandoMarcele Souto
 
Apostila de cozinha portuguesa-a cozinha portuguesa por regiões
Apostila de cozinha portuguesa-a cozinha portuguesa por regiõesApostila de cozinha portuguesa-a cozinha portuguesa por regiões
Apostila de cozinha portuguesa-a cozinha portuguesa por regiõesSidney Christ
 
Apostila de curso de cozinha ii
Apostila de curso de cozinha iiApostila de curso de cozinha ii
Apostila de curso de cozinha iiSidney Christ
 
Comida típica brasileira
Comida típica brasileiraComida típica brasileira
Comida típica brasileiraJoao Vitor
 
Receitas vegetarianas
Receitas vegetarianasReceitas vegetarianas
Receitas vegetarianasBruno Pires
 
Nordeste Brasileiro
Nordeste BrasileiroNordeste Brasileiro
Nordeste BrasileiroJailson Lima
 
Helena Rizzo, ex-modelo e melhor chef do mundo
Helena Rizzo, ex-modelo e melhor chef do mundoHelena Rizzo, ex-modelo e melhor chef do mundo
Helena Rizzo, ex-modelo e melhor chef do mundoEttoreTedeschi
 
Sorvete e picolé (1)
Sorvete e picolé (1)Sorvete e picolé (1)
Sorvete e picolé (1)Emidio Barros
 
Livro De Receitas Naturais Volume 4
Livro De  Receitas  Naturais  Volume 4Livro De  Receitas  Naturais  Volume 4
Livro De Receitas Naturais Volume 4TomateVerdeFrito
 
Apostila carloslinassi stirfried
Apostila carloslinassi stirfriedApostila carloslinassi stirfried
Apostila carloslinassi stirfriedLila Santos
 
Ficha técnica de preparação de alimentos: arroz
Ficha técnica de preparação de alimentos: arrozFicha técnica de preparação de alimentos: arroz
Ficha técnica de preparação de alimentos: arrozVinicius Sousa
 

En vedette (20)

Apostila veganizando
Apostila veganizandoApostila veganizando
Apostila veganizando
 
Apostila de cozinha portuguesa-a cozinha portuguesa por regiões
Apostila de cozinha portuguesa-a cozinha portuguesa por regiõesApostila de cozinha portuguesa-a cozinha portuguesa por regiões
Apostila de cozinha portuguesa-a cozinha portuguesa por regiões
 
Divino Sabor Brasil
Divino Sabor BrasilDivino Sabor Brasil
Divino Sabor Brasil
 
Bolo Toalha Felpuda
Bolo  Toalha  FelpudaBolo  Toalha  Felpuda
Bolo Toalha Felpuda
 
Apostila de curso de cozinha ii
Apostila de curso de cozinha iiApostila de curso de cozinha ii
Apostila de curso de cozinha ii
 
Molhos
MolhosMolhos
Molhos
 
Comida típica brasileira
Comida típica brasileiraComida típica brasileira
Comida típica brasileira
 
Receitas vegetarianas
Receitas vegetarianasReceitas vegetarianas
Receitas vegetarianas
 
Sabores da Cidade
Sabores da CidadeSabores da Cidade
Sabores da Cidade
 
Nordeste Brasileiro
Nordeste BrasileiroNordeste Brasileiro
Nordeste Brasileiro
 
Receitas Vegetarianas
Receitas VegetarianasReceitas Vegetarianas
Receitas Vegetarianas
 
Receitas Drinks
Receitas DrinksReceitas Drinks
Receitas Drinks
 
Cozinha asiatica
Cozinha asiaticaCozinha asiatica
Cozinha asiatica
 
Helena Rizzo, ex-modelo e melhor chef do mundo
Helena Rizzo, ex-modelo e melhor chef do mundoHelena Rizzo, ex-modelo e melhor chef do mundo
Helena Rizzo, ex-modelo e melhor chef do mundo
 
Livro De Receitas 2
Livro De Receitas 2Livro De Receitas 2
Livro De Receitas 2
 
AeB1
AeB1AeB1
AeB1
 
Sorvete e picolé (1)
Sorvete e picolé (1)Sorvete e picolé (1)
Sorvete e picolé (1)
 
Livro De Receitas Naturais Volume 4
Livro De  Receitas  Naturais  Volume 4Livro De  Receitas  Naturais  Volume 4
Livro De Receitas Naturais Volume 4
 
Apostila carloslinassi stirfried
Apostila carloslinassi stirfriedApostila carloslinassi stirfried
Apostila carloslinassi stirfried
 
Ficha técnica de preparação de alimentos: arroz
Ficha técnica de preparação de alimentos: arrozFicha técnica de preparação de alimentos: arroz
Ficha técnica de preparação de alimentos: arroz
 

Similaire à Entrevista com Alex Atala sobre a culinária brasileira

A Cultura e o Alimento brasileiro
A Cultura e o Alimento brasileiroA Cultura e o Alimento brasileiro
A Cultura e o Alimento brasileiroLiliana Silva
 
Projeto de Pesquisa: Identidade da Cozinha Cubana.
Projeto de Pesquisa: Identidade da Cozinha Cubana.Projeto de Pesquisa: Identidade da Cozinha Cubana.
Projeto de Pesquisa: Identidade da Cozinha Cubana.Yoan Rodriguez
 
2015 colibri de mesquita
2015   colibri de mesquita2015   colibri de mesquita
2015 colibri de mesquitaLelioGomes
 
Fabio barbosa trujillo(1)
Fabio barbosa trujillo(1)Fabio barbosa trujillo(1)
Fabio barbosa trujillo(1)Ana Guimarães
 
Fabio Barbosa Trujillo(1)
Fabio  Barbosa  Trujillo(1)Fabio  Barbosa  Trujillo(1)
Fabio Barbosa Trujillo(1)Ana Guimarães
 
Cozinha regional japonesa shizuko yasumoto
Cozinha regional japonesa   shizuko yasumotoCozinha regional japonesa   shizuko yasumoto
Cozinha regional japonesa shizuko yasumotoPaulaRabelo3
 
120957662-culinaria-japonesa.pdf
120957662-culinaria-japonesa.pdf120957662-culinaria-japonesa.pdf
120957662-culinaria-japonesa.pdfAutonoma
 
A culinária das américas
A culinária das américasA culinária das américas
A culinária das américasCesar Paulo
 
Colunista convidado roberta sudbrack
Colunista convidado roberta sudbrackColunista convidado roberta sudbrack
Colunista convidado roberta sudbrackSergyo Vitro
 
967110 olivier-anquier-segredos-e-receitas-de-paes
967110 olivier-anquier-segredos-e-receitas-de-paes967110 olivier-anquier-segredos-e-receitas-de-paes
967110 olivier-anquier-segredos-e-receitas-de-paesna cozinha
 

Similaire à Entrevista com Alex Atala sobre a culinária brasileira (20)

Geografia dos sabores
Geografia dos saboresGeografia dos sabores
Geografia dos sabores
 
Pinhao indigena - PARANÁ
Pinhao indigena -  PARANÁPinhao indigena -  PARANÁ
Pinhao indigena - PARANÁ
 
Aula 1.ppt
Aula 1.pptAula 1.ppt
Aula 1.ppt
 
Aula 1.ppt
Aula 1.pptAula 1.ppt
Aula 1.ppt
 
A Cultura e o Alimento brasileiro
A Cultura e o Alimento brasileiroA Cultura e o Alimento brasileiro
A Cultura e o Alimento brasileiro
 
Pinhao indigena
Pinhao indigenaPinhao indigena
Pinhao indigena
 
Projeto de Pesquisa: Identidade da Cozinha Cubana.
Projeto de Pesquisa: Identidade da Cozinha Cubana.Projeto de Pesquisa: Identidade da Cozinha Cubana.
Projeto de Pesquisa: Identidade da Cozinha Cubana.
 
2015 colibri de mesquita
2015   colibri de mesquita2015   colibri de mesquita
2015 colibri de mesquita
 
Fabio barbosa trujillo(1)
Fabio barbosa trujillo(1)Fabio barbosa trujillo(1)
Fabio barbosa trujillo(1)
 
Fabio Barbosa Trujillo(1)
Fabio  Barbosa  Trujillo(1)Fabio  Barbosa  Trujillo(1)
Fabio Barbosa Trujillo(1)
 
Brasil
BrasilBrasil
Brasil
 
060057 completo
060057 completo 060057 completo
060057 completo
 
Cozinha japonesa
Cozinha japonesaCozinha japonesa
Cozinha japonesa
 
Cozinha regional japonesa shizuko yasumoto
Cozinha regional japonesa   shizuko yasumotoCozinha regional japonesa   shizuko yasumoto
Cozinha regional japonesa shizuko yasumoto
 
120957662-culinaria-japonesa.pdf
120957662-culinaria-japonesa.pdf120957662-culinaria-japonesa.pdf
120957662-culinaria-japonesa.pdf
 
A culinária das américas
A culinária das américasA culinária das américas
A culinária das américas
 
AeB4
AeB4AeB4
AeB4
 
Colunista convidado roberta sudbrack
Colunista convidado roberta sudbrackColunista convidado roberta sudbrack
Colunista convidado roberta sudbrack
 
967110 olivier-anquier-segredos-e-receitas-de-paes
967110 olivier-anquier-segredos-e-receitas-de-paes967110 olivier-anquier-segredos-e-receitas-de-paes
967110 olivier-anquier-segredos-e-receitas-de-paes
 
Receitas Piraque
Receitas PiraqueReceitas Piraque
Receitas Piraque
 

Plus de quituteira quitutes

Receita Pudim De Mandioca E Torta Garotada
Receita Pudim De Mandioca E Torta GarotadaReceita Pudim De Mandioca E Torta Garotada
Receita Pudim De Mandioca E Torta Garotadaquituteira quitutes
 
Receita Crepes Ao Creme De Goiaba Com Cassis
Receita Crepes Ao Creme De Goiaba Com CassisReceita Crepes Ao Creme De Goiaba Com Cassis
Receita Crepes Ao Creme De Goiaba Com Cassisquituteira quitutes
 
Receita Bife à Milanesa Recheado
Receita Bife à Milanesa RecheadoReceita Bife à Milanesa Recheado
Receita Bife à Milanesa Recheadoquituteira quitutes
 
Livro De Receitas Cocina Melhores Receitas
Livro De  Receitas  Cocina  Melhores  ReceitasLivro De  Receitas  Cocina  Melhores  Receitas
Livro De Receitas Cocina Melhores Receitasquituteira quitutes
 
Guia De Alimentos Naturais Vale Das Flores
Guia De Alimentos Naturais Vale Das FloresGuia De Alimentos Naturais Vale Das Flores
Guia De Alimentos Naturais Vale Das Floresquituteira quitutes
 
Frutas E Legumes Alimentos Poderosos
Frutas E Legumes Alimentos PoderososFrutas E Legumes Alimentos Poderosos
Frutas E Legumes Alimentos Poderososquituteira quitutes
 
Receitas E Dicas Colonial Med Spa
Receitas E Dicas Colonial Med SpaReceitas E Dicas Colonial Med Spa
Receitas E Dicas Colonial Med Spaquituteira quitutes
 

Plus de quituteira quitutes (20)

Receitas Soja
Receitas SojaReceitas Soja
Receitas Soja
 
Receita Pudim De Mandioca E Torta Garotada
Receita Pudim De Mandioca E Torta GarotadaReceita Pudim De Mandioca E Torta Garotada
Receita Pudim De Mandioca E Torta Garotada
 
Receita GeléIa De Jabuticaba
Receita GeléIa De JabuticabaReceita GeléIa De Jabuticaba
Receita GeléIa De Jabuticaba
 
Receita Crepes Ao Creme De Goiaba Com Cassis
Receita Crepes Ao Creme De Goiaba Com CassisReceita Crepes Ao Creme De Goiaba Com Cassis
Receita Crepes Ao Creme De Goiaba Com Cassis
 
Receita Costela Poncho Verde
Receita Costela Poncho VerdeReceita Costela Poncho Verde
Receita Costela Poncho Verde
 
Receita Bife à Milanesa Recheado
Receita Bife à Milanesa RecheadoReceita Bife à Milanesa Recheado
Receita Bife à Milanesa Recheado
 
Livro De Receitas Naturais 02
Livro De Receitas Naturais 02Livro De Receitas Naturais 02
Livro De Receitas Naturais 02
 
Livro De Receitas Mundiais 02
Livro De Receitas Mundiais 02Livro De Receitas Mundiais 02
Livro De Receitas Mundiais 02
 
Comida Mineira
Comida MineiraComida Mineira
Comida Mineira
 
Receitas Walita
Receitas WalitaReceitas Walita
Receitas Walita
 
Receitas Holiday Christmas
Receitas  Holiday  ChristmasReceitas  Holiday  Christmas
Receitas Holiday Christmas
 
Livro De Receitas Cocina Melhores Receitas
Livro De  Receitas  Cocina  Melhores  ReceitasLivro De  Receitas  Cocina  Melhores  Receitas
Livro De Receitas Cocina Melhores Receitas
 
Receitas Chocolate Orkut
Receitas Chocolate OrkutReceitas Chocolate Orkut
Receitas Chocolate Orkut
 
Guia De Alimentos Naturais Vale Das Flores
Guia De Alimentos Naturais Vale Das FloresGuia De Alimentos Naturais Vale Das Flores
Guia De Alimentos Naturais Vale Das Flores
 
Frutas E Legumes Alimentos Poderosos
Frutas E Legumes Alimentos PoderososFrutas E Legumes Alimentos Poderosos
Frutas E Legumes Alimentos Poderosos
 
Receita Bolo De Iogurte
Receita Bolo De IogurteReceita Bolo De Iogurte
Receita Bolo De Iogurte
 
LinhaçA
LinhaçALinhaçA
LinhaçA
 
Receitas E Dicas Colonial Med Spa
Receitas E Dicas Colonial Med SpaReceitas E Dicas Colonial Med Spa
Receitas E Dicas Colonial Med Spa
 
Menu Chef Vol 20
Menu Chef Vol 20Menu Chef Vol 20
Menu Chef Vol 20
 
Receita Muqueca Capixaba
Receita Muqueca CapixabaReceita Muqueca Capixaba
Receita Muqueca Capixaba
 

Dernier

aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.pptaula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.pptssuser2b53fe
 
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdfPROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdfHELENO FAVACHO
 
Construção (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! SertãConstrução (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! SertãIlda Bicacro
 
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptxSlides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...azulassessoria9
 
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptxSlides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
Jogo de Rimas - Para impressão em pdf a ser usado para crianças
Jogo de Rimas - Para impressão em pdf a ser usado para criançasJogo de Rimas - Para impressão em pdf a ser usado para crianças
Jogo de Rimas - Para impressão em pdf a ser usado para criançasSocorro Machado
 
Apresentação em Powerpoint do Bioma Catinga.pptx
Apresentação em Powerpoint do Bioma Catinga.pptxApresentação em Powerpoint do Bioma Catinga.pptx
Apresentação em Powerpoint do Bioma Catinga.pptxLusGlissonGud
 
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptx
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptxTeoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptx
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptxTailsonSantos1
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia TecnologiaPROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia TecnologiaHELENO FAVACHO
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...azulassessoria9
 
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdf
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdfProjeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdf
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdfHELENO FAVACHO
 
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMPRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMHELENO FAVACHO
 
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfPRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfprofesfrancleite
 
Slide - EBD ADEB 2024 Licao 02 2Trim.pptx
Slide - EBD ADEB 2024 Licao 02 2Trim.pptxSlide - EBD ADEB 2024 Licao 02 2Trim.pptx
Slide - EBD ADEB 2024 Licao 02 2Trim.pptxedelon1
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdfPROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdfHELENO FAVACHO
 
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...IsabelPereira2010
 
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdf
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdfRecomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdf
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdfFrancisco Márcio Bezerra Oliveira
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdfPROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdfHELENO FAVACHO
 

Dernier (20)

aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.pptaula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
 
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdfPROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
 
Construção (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! SertãConstrução (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! Sertã
 
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptxSlides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
Slides Lição 05, Central Gospel, A Grande Tribulação, 1Tr24.pptx
 
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...
 
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptxSlides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
 
Jogo de Rimas - Para impressão em pdf a ser usado para crianças
Jogo de Rimas - Para impressão em pdf a ser usado para criançasJogo de Rimas - Para impressão em pdf a ser usado para crianças
Jogo de Rimas - Para impressão em pdf a ser usado para crianças
 
Apresentação em Powerpoint do Bioma Catinga.pptx
Apresentação em Powerpoint do Bioma Catinga.pptxApresentação em Powerpoint do Bioma Catinga.pptx
Apresentação em Powerpoint do Bioma Catinga.pptx
 
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptx
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptxTeoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptx
Teoria heterotrófica e autotrófica dos primeiros seres vivos..pptx
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia TecnologiaPROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
 
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdf
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdfProjeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdf
Projeto_de_Extensão_Agronomia_adquira_ja_(91)_98764-0830.pdf
 
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMPRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
 
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfPRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
 
Slide - EBD ADEB 2024 Licao 02 2Trim.pptx
Slide - EBD ADEB 2024 Licao 02 2Trim.pptxSlide - EBD ADEB 2024 Licao 02 2Trim.pptx
Slide - EBD ADEB 2024 Licao 02 2Trim.pptx
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdfPROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - TERAPIAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.pdf
 
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
 
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdf
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdfRecomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdf
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdf
 
Aula sobre o Imperialismo Europeu no século XIX
Aula sobre o Imperialismo Europeu no século XIXAula sobre o Imperialismo Europeu no século XIX
Aula sobre o Imperialismo Europeu no século XIX
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdfPROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
 

Entrevista com Alex Atala sobre a culinária brasileira

  • 1. Entrevista: Alex Atala O criativo e irrequieto Alex Atala é conheci- do, no Brasil e no exterior, por explorar, a partir de bases clássicas e técnicas atuais, as possibilidades gastronômicas dos ingredientes nacionais. Atala iniciou sua carreira aos 19 anos na Bélgica, depois partiu para novas empreitadas em cozinhas da França e da Itália. Em 1994 retor- nou a São Paulo e, no final de 1999, inaugurou o restaurante D.O.M., que, entre outros prêmios, valeu-lhe, por duas vezes (2006 e 2007), a indica- ção entre os 50 melhores restaurantes do mundo pela publicação Restaurant Magazine. Além de cozinhar, Atala também é estudioso da gastrono- mia brasileira, tendo publicado diversos textos em que defende a valorização de ingredientes nacionais para a culinária de alto padrão. Em entrevista a Textos do Brasil, o chef comenta sua percepção a respeito da formação e das tendên- cias atuais da culinária brasileira. Sabores do Brasil 129
  • 2. TB: O Brasil é um país imenso que o Brasil é essa colcha de apresenta grande diversidade cultural; ainda assim, é possível retalhos de culturas, afirmar que existe uma culinária que, no final, são particular que o identifique? Alex: Eu acho que é preciso diferenciar o respeitadas e unificadas que é regional do que é típico e do que é folcló- de uma forma singular rico. A maior representação do Brasil, em âmbito mais abrangente, talvez seja a feijoada, que pos- e positiva. sui tanto uma raiz negra quanto uma indígena; é um elemento presente na mesa do brasileiro, um essas são apenas as bases. O arroz com feijão não traço efetivamente nacional. Creio que se pode encerra toda a culinária brasileira. dizer que esse prato e a caipirinha são represen- tações folclóricas da cultura brasileira. TB: O fato de ir a um restaurante à Há, por outro lado, os pratos típicos, as quilo, algo muito comum no dia-a- cozinhas típicas. A influência da culinária portu- dia das pessoas que trabalham nas guesa, por exemplo, pode ser sentida tanto em grandes cidades, e lá encontrar arroz Minas quanto em Florianópolis, que possui uma com feijão, sushi, churrasco, massa, cozinha mais açoriana, com pratos muitos belos. etc. indica o que sobre a culinária A influência da culinária africana pode ser sen- brasileira? tida, de modo geral, no Nordeste. A Amazônia, Alex: Eu acho que isso reflete o que é, real- por sua vez, possui uma cozinha autóctone. Re- mente, o Brasil: essa colcha de retalhos de cultu- firo-me não apenas ao estado da Amazônia, mas ras, que, no final, são respeitadas e unificadas de a toda a região, com a diversidade e os microcli- uma forma singular e positiva. mas que vamos encontrar. Então, acho que é importante fazer a seção TB: Se, conforme expresso em do que é folclórico, do que é típico e do que é Fisiologia do Gosto, “somos o que regional. Isso dá idéia da riqueza da nossa cul- comemos” pode-se dizer que a tura: não só de sua dimensão continental, mas existência de uma culinária brasileira também de sua diversidade. é corolário da própria existência de um povo brasileiro, apesar de toda a TB: A unidade de nossa culinária, diversidade interior? portanto, vai além do feijão com Alex: Vamos pensar no seguinte: a alimen- arroz? tação é trilha de estudo de todas a ciências huma- Alex: Uma vez que é grande a nossa rique- nas. Então, dá para dizer, sem dúvida alguma, za, acho que o arroz e o feijão formam a receita que somos sim o que comemos. Não discuto isso. mais consumida. Acredito, também, que a man- Estou completamente de acordo com essa afir- dioca seja o eixo central da culinária brasileira, mação e acho que reforça tudo o que venho fa- presente da mesa cabocla à grande mesa. Mas lando: essa força que o Brasil tem; essa abertura 130 Textos do Brasil . Nº 13
  • 3. D.O.M. Restaurante para outras culturas, sem perder a originalidade. Brasil pela qual demonstra potencial para a culi- Isso reforça, mais uma vez, esse prisma da cultu- nária empregada internacionalmente. ra que temos. TB: Se o senhor acredita na existência TB: Apesar da diversidade das de uma culinária legitimamente culturas que formam o Brasil, a brasileira, aberta a outras culturas, culinária, sobretudo a comida do mas sem descaracterizar-se, por dia-a-dia, apresenta considerável que está publicando um livro com o homogeneidade. Assim, parece objetivo de dar maior publicidade aos acertado dizer que o que define a ingredientes, processos e receitas da culinária brasileira é a assimilação, cozinha da Amazônia? não sua origem? Alex: No primeiro momento, quando os Alex: De certa forma, sim, é possível con- europeus chegaram, tiveram de tropicalizar suas cordar com a idéia de que o Brasil suplanta as receitas. O Brasil era outra realidade, muito po- culturas estrangeiras que para cá vieram. Existe tente. Assim, nossa cultura suplantou, muitas ve- uma customização da cultura estrangeira à loca- zes, a cultura estrangeira de modo geral. No caso lidade. Então, essa é uma das primeiras forças do do meu trabalho, escrevi o livro para valorizar a culinária brasileira. Sabores do Brasil 131
  • 4. O arroz com feijão, por exemplo, é um pra- Alex: Eu acho que a nova sociedade pro- to típico de um país colonizado jovem. Ainda põe a experimentação. Os hábitos são influencia- que o homem coma desde antes de aprender a dos por isso. Há, também, o traço do Brasil, um comunicar-se e que a alimentação seja uma ativi- país tão multicultural, o que ajuda muito nesse dade vital, a gastronomia tem apenas 200 anos. sentido. É divertido imaginar que, há 20 ou 30 Por ser um país jovem e receber influência de anos, a comida japonesa gerava ojeriza e, hoje, várias culturas, o Brasil acaba desprestigiando a muitas crianças de 8 a 10 anos preferem um sushi cozinha mais caipira, mais cabocla, quando o ato bar ao McDonald’s. de se alimentar adquire certo status. Isso mostra que o paladar pode ser desen- Eu, pessoalmente, não consigo achar que volvido. Se exposto à variedade desde a primeira um ovo é menos importante do que uma trufa. infância, o horizonte de paladar tende a alcançar Então, sou um militante de uma cozinha de ter- um amplitude muito grande. Nós somos, assim, roir, de uma cozinha caipira, de uma cozinha pa- muito privilegiados por sermos um país tão rico trimonial brasileira, porque o que levou a França, em ingredientes e em cultura. Itália, Espanha e o Japão aos altos patamares da Essa abertura à cozinha internacional, por cozinha foi o orgulho da cultura regional, o orgu- outro lado, é conseqüência de sermos uma cultu- lho do caipira, por assim dizer. ra jovem, aberta a múltiplas influências. Na França, um chef é tão respeitado porque ele faz comida francesa, para pessoas francesas, TB: Você não acha que esse tendência, que comeram comida francesa a vida inteira. É em contrapartida, não poderia ser um a qualidade do trabalho que confere a ele esse sintoma de que a nossa cozinha deixou status. No Japão, um sushiman é honorado pelo de ter raiz, de que perdeu um pouco de mesmo motivo. Acredito, portanto, que um bom contato com a própria terra? cozinheiro brasileiro tem de demostrar essa mes- Alex: Embora a culinária regional tenha ma habilidade com a nossa cultura. perdido algo de seu brilho, acho que esse pro- A diferença entre o bom, o muito bom e o cesso faz parte de um ciclo. Existe, hoje, um mo- excepcional vem com repertório. Para nós brasi- vimento que não é meu, mas de pessoas como leiros, é difícil julgar trufas, caviares e até mesmo Paulo Martins, em Belém, ou César Santos, em cogumelos e molhos complicados; mas, com cer- Olinda. São profissionais do País inteiro, de norte teza, todo brasileiro é expert em arroz com feijão. a sul, militando por cozinhas regionais com mui- ta propriedade. Creio que esse retorno a nossa TB: Por que, ao irmos a um origem faz parte do processo de amadurecimen- restaurante, estamos mais perto do to de nossa cultura. outro lado do Atlântico – ou mesmo Essas pessoas, diferentemente de mim, que do Pacífico – do que de nosso interior? estou fazendo alta gastronomia, defendem suas Por que é mais fácil comer comida cozinhas regionais, suas origens, o que eu acho mexicana, japonesa, chinesa, egípcia muito bonito. O mais importante, sem dúvida, é e até javanesa do que manauara em a valorização da alimentação do Brasil. muitas capitais do País? 132 Textos do Brasil . Nº 13
  • 5. Sorbet de jabuticaba. D.O.M. Restaurante TB: Nesse contexto, é ainda possível Pensando em Amazônia, há discussões so- identificar, claramente, as cozinhas bre a qualidade do tucupi de Manaus e do de Be- regionais típicas? lém; do açaí de Manaus e do de Belém. Procura- Alex: Eu acho que há grandes interseções. se saber se a castanha é do Pará ou do Acre. São Em Minas, São Paulo e Rio de Janeiro, existe uma discussões que, acredito, perdem a legitimidade, vertente portuguesa comum a todos. Então, às uma vez que começam a buscar uma melhor re- vezes, você vai ver discussões que acho ilógicas, gião e se esquecem do sentido de cidadania, que como a diferença entre um tutu paulista e um mi- parte do indivíduo para o coletivo. neiro. Discute-se algo que talvez não tenha tan- ta importância, se imaginamos que o bioma é o TB: A cozinha regional engloba mesmo. não apenas pratos, mas também A cultura humana não respeita muito di- ingredientes típicos. Não está cada visões geográficas, na medida em que está muito vez mais difícil ter acesso a esses, à adaptada ao bioma. Importa saber se se trata de medida que a produção e o consumo se uma mata atlântica, de um cerrado, ou de uma massificam? floresta equatorial. Sabores do Brasil 133
  • 6. A minha relação remos a força do elo com o ambiente. Pensemos no caviar, na trufa. O homem ainda tem de ir à com a natureza caça de trufas, bem como à pesca do esturjão sel- vagem para conseguir o melhor caviar. É incrível manifesta-se como como um dos mais altos patamares da cultura uma característica humana está intrinsecamente ligado à natureza. Acredito, também, que a alimentação pode muito forte de minha ser não apenas uma forma de conservação do personalidade; é meio ambiente, como também uma ótima alter- nativa para se gerarem recursos para as popula- uma herança de ções das regiões ribeirinhas. É importante agre- família. Mas isso não gar valor para a floresta. Ela tem de valer mais em pé do que deitada. é uma exclusividade minha. Se pegarmos TB: Em relação à cozinha tradicional, dados estatísticos apontam uma os ícones mais altos da redução no consumo de feijão com gastronomia, veremos arroz. O que isso significa para nossa culinária? a força do elo com o Alex: A maior concentração populacional ambiente. do Brasil ainda está nas metrópoles. Essa ali- mentação em larga escala, a produção de comida industrializada, é um grande facilitador do dia- Alex: Acredito que, de alguma forma, sim. a-dia, mas bastante nociva às culturas regionais, Não poderia dizer que não. Por outro lado, nós, principalmente quando se pensa em pratos típi- brasileiros, principalmente os produtores e os cos do sertão ou de culturas menores limitadas extrativistas, precisamos melhorar nossa relação a microrregiões. Nesse sentido, penso que as in- com os ingredientes de base. Aqui, os peixes são dústrias de alimentação são mais perigosas que maltratados, bem como as hortaliças colhidas no as redes de fast-food, que são um fênomeno urba- cinturão urbano. Então, acho que pecamos, mui- no. A salsicha, os enlatados, por outro lado, são o tas vezes, no momento de respeitar a natureza, que chega, realmente, às regiões carentes. que é tão generosa conosco e é agredida pelos Eu tenho um sonho. Não vou dizer que é próprios agricultores e pescadores que tiram o um projeto, mas sim um sonho de melhorar a ces- sustento dela. ta básica, não apenas como produto de base, mas A minha relação com a natureza mani- também como embalagem. É importante lembrar festa-se como uma característica muito forte de que, para o índio, o ribeirinho, o caboclo, embala- minha personalidade; é uma herança de família. gem de fruta é casca, de peixe é escama, de bicho Mas isso não é uma exclusividade minha. Se pe- é pele. Eles jogam os resíduos no meio ambiente. garmos os ícones mais altos da gastronomia, ve- É algo intrínseco à cultura dessas populações. 134 Textos do Brasil . Nº 13
  • 7. Salada de abobrinha. D.O.M. Restaurante Porém, como são mandadas cestas básicas direção oposta, como é a presença de cheias de plástico e alumínio, quando se anda nossa culinária em mesas no exterior? pela Amazônia, por lugares extremamente remo- Alex: A nossa maior força no exterior é ser tos, depara-se com sacos plásticos e latinhas. Eu brasileiro. Acho que há grande diferença entre acho que essa é uma agressão que nós, urbanos, ser um chef do Brasil e ser um chef do Equador ou fazemos ao meio ambiente, sem consciência da da Venezuela, do Gabão ou do Timor Leste. Nós extensão do problema. Então, creio que a cesta carregamos um carisma que o País já tem, o que básica deveria ser revista não só por ingredien- é algo muito positivo. tes, mas também por embalagens, levando-se em Outra força é a diversidade das frutas, que consideração as regiões. são grandes vedetes. Quando estamos no exte- rior e já utilizamos essas duas forças maiores TB: O senhor já comentou a para mostrar que somos um país tropical rico influência estrangeira na cozinha em sabores, abrimos espaço para demonstrar o brasileira. Pensando nesse fluxo em potencial da tapioca, das farinhas, das ervas, dos tubérculos, dos palmitos, de toda a extensão dos Sabores do Brasil 135
  • 8. peixes, das carnes. Essa exuberância contagia as franceses uma liderança na cozinha. Então, nos- pessoas. sa mão-de-obra, sobretudo a mais jovem, ainda Pensando na alta gastronomia, segundo presta mais atenção em outras cozinhas do que minha experiência, algo que inebria todo chef no na nossa. Mas acredito que isso é um processo. exterior, é o tucupi, tão complexo quanto o curry Estamos em uma fase de transição. Nos próxi- indiano. O produto é uma grande apresentação mos anos, podem ocorrer grandes mudanças no de nossa cozinha, pois é tanto um tempero quan- cenário. to um conservante, multifacetado não apenas no sabor, mas também na aplicação. TB: Apesar do prestígio da alta cozinha estrangeira, o seu TB: Quanto a suas raízes, nossa restaurante, o D.O.M., especializado cozinha se parece com outras ou em cozinha brasileira, foi o único temos uma culinária muito peculiar? do Brasil a ser incluído na lista da Alex: Muito peculiar. Há cozinhas na faixa revista inglesa Restaurant dos 50 tropical que possuem ingredientes comuns: no melhores do mundo. Qual é o caminho Caribe, encontramos algum tipo de mandioqui- para a consolidação da gastronomia nha ou de feijão; na Ásia, na Tailândia, leite de brasileira? coco, coentro, pimenta. Embora existam muitos Alex: A gastronomia é a arte de colocar um ingredientes comuns nas cozinhas tropicais, acho ingrediente ou uma receita no seu melhor momen- que a nossa maneira de fazer é diferente. to. Nós temos, no Brasil, produtos e receitas para executar a gastronomia no sentido mais amplo da TB: E por que ainda não somos uma palavra. Algo também importante a ser ressalta- potência culinária internacional? do sobre a gastronomia é que ela não está restrita Alex: Acho que esse é um impasse próprio a ingredientes caros ou a processos difíceis. de países jovens. Para o Brasil, não basta haver Vou dar um exemplo do que entendo por um bom trabalho sobre cozinha. Isso é muito gastronomia. Se vamos à Bahia, encontramos dez pouco. Na França, na Itália, nos países de refe- barraquinhas em uma praia. Uma delas faz peixe rência, não apenas um bom chef ou uma boa pes- frito melhor do que as outras. Isso acontece devi- quisa, mas vários foram necessários para reafir- do à execução adequada de uma série de etapas. mar a qualidade. Trata-se de um processo que já Provavelmente, o dono dessa barraca levantou está em andamento no Brasil. cedo, limpou o peixe corretamente e acondicio- nou-o em uma geladeira. Depois, aqueceu o óleo TB: Por que a alta gastronomia na temperatura certa, temperou bem o peixe, estrangeira, sobretudo a francesa, é fritou durante o tempo correto, colocou em um tão prestigiada no Brasil? bom prato, acompanhou de bons ingredientes Alex: Acho que, por um lado, isso é ain- e outra pessoa tirou aquele prato da cozinha e da um traço do Brasil colônia, algo natural. Por serviu na mesa do cliente. Então, um prato não outro lado, o fato de a gastronomia na França começa nem termina na cozinha. Na verdade, ter saído na frente de todo mundo confere aos 136 Textos do Brasil . Nº 13
  • 9. começa na escolha do ingrediente e termina no Um prato não começa prato vazio na frente do cliente satisfeito. Para mim, isso é gastronomia. Ela engloba nem termina cozinha. um processo com uma série de etapas que preci- Na verdade, começa na sa, no Brasil, ser melhorado de modo geral. escolha do ingrediente e TB: É preciso ser um bom cozinheiro termina no prato vazio antes de ser um chef? Alex: Com absoluta certeza! Vou dar um na frente do cliente exemplo. Um professor doutor em medicina satisfeito. estudou na faculdade, fez anos de residência para, então, tornar-se médico. Posteriormente, o sucessivo estudo e, mais importante, o exercício tornei o que sou de um dia para outro. Por neces- da profissão foi dando a ele o doutorado e pro- sidade, sujeitei-me a fazer trabalhos menores e fessorado. Eu acho que, na cozinha, não é dife- fui-me apaixonando pela culinária. rente: por mais informação teórica que se possua, Então, quando voltei ao nosso país, não é a prática que vai lapidar a técnica. quis ser um brasileiro metido a francês, italiano, Nesse sentido, acredito que a cozinha italia- belga ou qualquer outra nacionalidade. Quis ser na pode ser uma grande lição para a brasileira. A brasileiro, pois acreditei no meu país e na minha mamma cozinha muito bem, mas, quando a nona cultura, nos sabores que conheci desde a minha cozinha, a família toda se ajoelha para comer. A infância e que julgava tão bons quanto os que eu culinária italiana é uma culinária caseira. A mam- conheci no exterior. Esse passado, com absoluta ma cozinha bem, porque faz isso todo dia, e a nona certeza, me ajuda no trabalho que desenvolvo cozinha melhor do que todo mundo, porque fez atualmente. isso a vida inteira. Por isso, a culinária italiana dei- xou um grande legado para nós: as nossas receitas TB: Todo mundo pode ter acesso à patrimoniais são muito boas, mas falta essa devo- gastronomia? ção à cozinha, à seleção de produtos, ao serviço, ao Alex: O exemplo que dei do peixe frito na cozimento, à tudo que envolve uma boa refeição. Bahia se aplica a todas as circunstâncias: no Mer- cado Ver-o-Peso, com açaí; em São Paulo, com TB: Como sua experiência pessoal pastéis de feira; no Rio de Janeiro, com comida influenciou essa devoção que o de boteco; no Ceará, com carne-de-sol ou caran- senhor manifesta pela cozinha e seu guejada; na Bahia, com moqueca. interesse pela alta gastronomia? Enfim, as nossas cozinhas de base são fa- Alex: Por ter sido um punk, me sujeitei a la- mosas não porque são simpáticas, mas porque var louça, para, depois, aprender a picar. Apren- são boas. É possível transformá-las em alta gas- di a lavar a panela, para, depois, cozinhar nela e tronomia. Vamos lembrar que um croque-mon- assim por diante. Foi um processo de aprendi- sieur, um crêpe suzette ou um penne arrabiata são, zagem. Eu não nasci o chef Alex Atala, nem me na verdade, primos de receitas cotidianas. Sabores do Brasil 137