SlideShare une entreprise Scribd logo
1  sur  3
Télécharger pour lire hors ligne
AS LIÇÕES DO JULGAMENTO DO MENSALÃO
Fernando Alcoforado*
O resultado do julgamento que condenou a todos os envolvidos no “mensalão” cujas
penas terão início no dia de hoje (15/11/2013) com base na decisão do STF- Supremo
Tribunal Federal é uma decisão histórica para o Brasil porque desnudou as mazelas da
política brasileira na era contemporânea além de possibilitar ao povo brasileiro perceber
que se torna imperiosa a necessidade, não apenas de uma profunda reforma política,
mas também da reforma do Estado e da Administração Pública no Brasil para que não
haja a repetição de fatos tão lamentáveis como os q ue foram objeto de abordagem neste
processo. Papel relevante nesta decisão histórica do Supremo Tribunal Federal foi
cumprido pelo seu presidente e relator do “mensalão”, o ministro Joaquim Barbosa. A
nação brasileira deve muito a Joaquim Barbosa pelo desfecho do processo do
“mensalão”.
Ao desnudar as mazelas da política brasileira, o processo do “mensalão” deixou
bastante claro que havia um esquema de compra de apoio político de parlamentares pelo
governo federal. A decisão do STF que coloca na cadeia figuras proeminentes do PT e
de partidos aliados, grupo que há uma década governa o Brasil, mostra que os
detentores do poder político no Brasil não merecem a confiança da nação. O PT, que no
governo está colocando em prática políticas econômicas diametralmente opostas ao que
defendia antes de assumir o poder em 2002, deixou de ser também um partido defensor
da ética na política ao ter inúmeros de seus dirigentes condenados por prática de
corrupção e formação de quadrilha. Em outras palavras, o PT traiu ao compromisso
histórico que havia assumido no passado. Outra lição que se extrai do processo do
“mensalão” reside no fato de, ao decidir pela prisão de José Dirceu, José Genoino,
Marcos Valério e Delúbio Soares, entre outros, o STF mostra que, no Brasil, não há
mais espaço para a certeza da impunidade.
Quando se analisa o caso do “mensalão” ainda em julgamento no Supremo Tribunal
Federal com os denominados embargos infringentes, a maioria das pessoas atribui este
fato a desvios de conduta política do ponto de vista ético que resultam da ambição
humana pelo dinheiro e pelo poder que, se forem devidamente punidos seus
responsáveis, tal fato não se repetiria. No entanto, a punição dos “mensaleiros” pelo
Supremo Tribunal Federal não é suficiente para evitar sua repetição. Novos
“mensalões” poderão ocorrer no futuro de forma menos ostensiva como ocorreu em
2003 e sem delatores como Roberto Jeferson porque a principal causa do “mensalão”
diz respeito à necessidade dos detentores do Poder Executivo de constituir a maioria
necessária no Parlamento a fim de obter a governabilidade, isto é, evitar a paralisia da
ação governamental se o poder central não obtém a maioria parlamentar visando a
aprovação dos projetos de seu interesse. Enquanto existir a atual Constituição, há
grande possibilidade de haver novos “mensalões”.
É importante destacar que o imperativo da maioria parlamentar no Brasil resultou em
grande medida da Constituição instituída em 1988 porque toda a sua concepção foi
baseada no modelo parlamentarista no qual o poder é exercido conjuntamente pelo
Poder Executivo e pelo Congresso Nacional. O sistema político vigente no Brasil é um
misto de presidencialista e parlamentarista, em que o presidente da República precisa de
maioria parlamentar para governar. O “mensalão” surgiu diante da necessidade do

1
governo Lula de obter a maioria parlamentar visando a aprovação de projetos de seu
interesse no Congresso Nacional.
Nos países politicamente avançados, o Poder Executivo obtém a maioria no Parlamento
através de acordos embasados ideologicamente. No Brasil, o caso do “mensalão” mostra
que o governo Lula tentou constituir a maioria parlamentar visando a aprovação de seus
projetos no Congresso Nacional com a compra de votos de parlamentares ligados a
partidos fisiológicos como o PMDB, PL, PTB, etc. utilizando, de forma fraudulenta,
recursos públicos, da mesma forma que realizou, também, uma deslavada compra de
votos dos “de baixo” na escala social com a institucionalização do Bolsa Família para
alcançar o apoio eleitoral da população pobre do Brasil, sob o pretexto de desenvolver
programa social de apoio aos pobres.
Ambas as ações, parlamentar e social, compõem parte da estratégia de manutenção do
poder do PT no Brasil. No contexto desta estratégia, foram implementadas mais duas
ações: uma, de concessão de facilidades “aos de cima” na escala social, sobretudo ao
sistema financeiro que vem obtendo os maiores lucros na história do Brasil e, outra, de
paralisia dos movimentos sociais em suas reivindicações contra o governo e às classes
dominantes com a oferta de benefícios oferecidos pelo governo Lula às lideranças
sindicais pelegas e partidos ideológicos de apoio que controlam os sindicatos. As
classes dominantes não têm o que reclamar do governo Lula nem do movimento
sindical estagnado nos últimos 10 anos. Só recentemente, durante o governo Dilma
Roussef é que os movimentos reivindicatórios saíram da letargia em que se
encontravam à revelia de suas lideranças.
Não apenas o “mensalão” é o resultado de uma Constituição mal feita como a de 1988.
Há outras anomalias como a que determina que a escolha dos membros do Poder
Judiciário seja feita pelo presidente da República, muitos dos quais são escolhidos sem
o saber jurídico necessário como é o caso de Ricardo Lewandowsky e Dias Tóffoli que
estão no Supremo Tribunal Federal graças às suas ligações passadas com o expresidente Lula. Apesar de a maioria dos membros do Supremo Tribunal Federal ter
sido indicada pelo ex-presidente Lula, grande parte deles está tendo comportamento de
autêntico magistrado, à exceção dos dois acima citados que tentaram a todo custo evitar
a condenação dos mentores do “mensalão”.
Todos estes fatos demonstram que Maquiavel tinha razão quando afirmou em 1513 que
o que mais ambiciona o político é a conquista, a conservação e a expansão do poder.
Este é o caso de Lula e do PT. Para alcançar e conservar esse poder não importam os
meios. O mundo político no Brasil está sendo governado por atos, ajustes e acordos
nada ortodoxos, que tem suas regras próprias, não seguindo a lógica da Ética que rege
as condutas morais das pessoas em geral como bem sintetiza o “mensalão”. Em regra o
político ético está no meio de gente ambiciosa, corrupta, violenta ou insolente. Se não
souber se comportar "realisticamente", perde seu poder.
A democracia representativa no Brasil manifesta sinais claros de esgotamento não
apenas pelos escândalos de corrupção nos poderes da República mas, sobretudo, ao
desestimular a participação popular, reduzindo a atividade política a processos eleitorais
que se repetem periodicamente em que o povo elege seus ditos representantes os quais,
com poucas exceções, após as eleições passam a defender interesses de grupos
econômicos em contraposição aos interesses daqueles que os elegeram. Na prática, tudo
funciona como se o povo desse a cada dirigente do poder executivo e a cada
2
parlamentar um cheque em branco para fazerem o que quiserem após ocuparem seus
cargos eletivos.
Os fatos da realidade demonstram a necessidade de que seja dado um basta à escalada
da corrupção no Brasil com a mobilização da Sociedade Civil visando a convocação de
uma Assembléia Constituinte com o objetivo de realizar uma profunda Reforma
Política, do Estado e da Admistração Pública no Brasil. A Assembléia Constituinte não
seria integrada pelos atuais membros do Congresso Nacional. Seus membros seriam
eleitos pela população com a missão exclusiva de aprovar a reforma na Constituição
atual a ser implementada no Brasil no horizonte de 1 ano. Sem a reforma da
Constituição nos termos acima propostos, o Brasil continuará sendo palco do descalabro
ético e político que deu origem ao “mensalão“.
*Fernando Alcoforado, 73, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional
pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico,
planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos
livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem
Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000),
Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de
Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento
(Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos
Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the
Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe
Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e
combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e
Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), entre
outros.S

3

Contenu connexe

Tendances

Www.stf.jus.br arquivo cms_noticia_noticiastf_anexo_ms26602rl
Www.stf.jus.br arquivo cms_noticia_noticiastf_anexo_ms26602rlWww.stf.jus.br arquivo cms_noticia_noticiastf_anexo_ms26602rl
Www.stf.jus.br arquivo cms_noticia_noticiastf_anexo_ms26602rl
Agassis Rodrigues
 
O processo democratico do brasil desde o fim da ditadura militar 2 semestre dp
O processo democratico do brasil desde o fim da ditadura  militar 2 semestre dpO processo democratico do brasil desde o fim da ditadura  militar 2 semestre dp
O processo democratico do brasil desde o fim da ditadura militar 2 semestre dp
Lany Macedo
 
Como evitar o arruinamento político e administrativo do brasil
Como evitar o arruinamento político e administrativo do brasilComo evitar o arruinamento político e administrativo do brasil
Como evitar o arruinamento político e administrativo do brasil
Fernando Alcoforado
 
Anastasia fátima (eds)._reforma_política_no_brasil
Anastasia fátima (eds)._reforma_política_no_brasilAnastasia fátima (eds)._reforma_política_no_brasil
Anastasia fátima (eds)._reforma_política_no_brasil
Henrique Araújo
 
Democratização do estado e participação popular
Democratização do estado e participação popularDemocratização do estado e participação popular
Democratização do estado e participação popular
Marcelo Monti Bica
 
Oab concilia
Oab conciliaOab concilia
Oab concilia
nilce1956
 

Tendances (17)

Www.stf.jus.br arquivo cms_noticia_noticiastf_anexo_ms26602rl
Www.stf.jus.br arquivo cms_noticia_noticiastf_anexo_ms26602rlWww.stf.jus.br arquivo cms_noticia_noticiastf_anexo_ms26602rl
Www.stf.jus.br arquivo cms_noticia_noticiastf_anexo_ms26602rl
 
Reforma da constituição ou retrocesso político no brasil
Reforma da constituição ou retrocesso político no brasilReforma da constituição ou retrocesso político no brasil
Reforma da constituição ou retrocesso político no brasil
 
A falência da justiça no brasil
A falência da justiça no brasilA falência da justiça no brasil
A falência da justiça no brasil
 
6 mensalão
6   mensalão6   mensalão
6 mensalão
 
Artigo Dom Roberto
Artigo Dom RobertoArtigo Dom Roberto
Artigo Dom Roberto
 
O processo democratico do brasil desde o fim da ditadura militar 2 semestre dp
O processo democratico do brasil desde o fim da ditadura  militar 2 semestre dpO processo democratico do brasil desde o fim da ditadura  militar 2 semestre dp
O processo democratico do brasil desde o fim da ditadura militar 2 semestre dp
 
Public Affairs - Boletim Mensal | Abril 2018
Public Affairs - Boletim Mensal | Abril 2018Public Affairs - Boletim Mensal | Abril 2018
Public Affairs - Boletim Mensal | Abril 2018
 
Como evitar o arruinamento político e administrativo do brasil
Como evitar o arruinamento político e administrativo do brasilComo evitar o arruinamento político e administrativo do brasil
Como evitar o arruinamento político e administrativo do brasil
 
Anastasia fátima (eds)._reforma_política_no_brasil
Anastasia fátima (eds)._reforma_política_no_brasilAnastasia fátima (eds)._reforma_política_no_brasil
Anastasia fátima (eds)._reforma_política_no_brasil
 
Ficha limpa comentada
Ficha limpa comentadaFicha limpa comentada
Ficha limpa comentada
 
Judicialização da política
Judicialização da políticaJudicialização da política
Judicialização da política
 
O CONSTITUCIONALISMO CONTEMPORÂNEO E A NECESSÁRIA APROXIMAÇÃO ENTRE DIREITOS ...
O CONSTITUCIONALISMO CONTEMPORÂNEO E A NECESSÁRIA APROXIMAÇÃO ENTRE DIREITOS ...O CONSTITUCIONALISMO CONTEMPORÂNEO E A NECESSÁRIA APROXIMAÇÃO ENTRE DIREITOS ...
O CONSTITUCIONALISMO CONTEMPORÂNEO E A NECESSÁRIA APROXIMAÇÃO ENTRE DIREITOS ...
 
Democratização do estado e participação popular
Democratização do estado e participação popularDemocratização do estado e participação popular
Democratização do estado e participação popular
 
História das ideias políticas no Brasil
História das ideias políticas no BrasilHistória das ideias políticas no Brasil
História das ideias políticas no Brasil
 
A putrefação das estruturas de poder no brasil
A putrefação das estruturas de poder no brasilA putrefação das estruturas de poder no brasil
A putrefação das estruturas de poder no brasil
 
"Fiel aos Compromissos"
"Fiel aos Compromissos""Fiel aos Compromissos"
"Fiel aos Compromissos"
 
Oab concilia
Oab conciliaOab concilia
Oab concilia
 

Similaire à As lições do julgamento do mensalão

Reforma da constituição ou retrocesso político no brasil
Reforma da constituição ou retrocesso político no brasilReforma da constituição ou retrocesso político no brasil
Reforma da constituição ou retrocesso político no brasil
Roberto Rabat Chame
 
O sistema político brasileiro desde a perspectiva da inclusão: Conquistas e d...
O sistema político brasileiro desde a perspectiva da inclusão: Conquistas e d...O sistema político brasileiro desde a perspectiva da inclusão: Conquistas e d...
O sistema político brasileiro desde a perspectiva da inclusão: Conquistas e d...
Red Innovación
 
Não à pec 37 que dá sustentação à corrupção e à impunidade no brasil
Não à pec  37 que dá sustentação à corrupção e à impunidade no brasilNão à pec  37 que dá sustentação à corrupção e à impunidade no brasil
Não à pec 37 que dá sustentação à corrupção e à impunidade no brasil
Fernando Alcoforado
 

Similaire à As lições do julgamento do mensalão (20)

Reforma da constituição ou retrocesso político no brasil
Reforma da constituição ou retrocesso político no brasilReforma da constituição ou retrocesso político no brasil
Reforma da constituição ou retrocesso político no brasil
 
O esfacelamento da superestrutura política e jurídica no brasil
O esfacelamento da superestrutura política e jurídica no brasilO esfacelamento da superestrutura política e jurídica no brasil
O esfacelamento da superestrutura política e jurídica no brasil
 
Edd conceito,historiaecontemporaneidade
Edd conceito,historiaecontemporaneidadeEdd conceito,historiaecontemporaneidade
Edd conceito,historiaecontemporaneidade
 
Cenários do futuro político do brasil
Cenários do futuro político do brasilCenários do futuro político do brasil
Cenários do futuro político do brasil
 
Refundar a república no brasil para superar a crise atual
Refundar a república no brasil para superar a crise atualRefundar a república no brasil para superar a crise atual
Refundar a república no brasil para superar a crise atual
 
O fim de uma ilusão
O fim de uma ilusãoO fim de uma ilusão
O fim de uma ilusão
 
Pensar em educação é pensar no Brasil
Pensar em educação é pensar no BrasilPensar em educação é pensar no Brasil
Pensar em educação é pensar no Brasil
 
Abordando ativismo judicial
Abordando ativismo judicialAbordando ativismo judicial
Abordando ativismo judicial
 
Cinara verbos
Cinara verbosCinara verbos
Cinara verbos
 
Consumado o golpe de estado por lula e pelo pt com a conivência de dilma rous...
Consumado o golpe de estado por lula e pelo pt com a conivência de dilma rous...Consumado o golpe de estado por lula e pelo pt com a conivência de dilma rous...
Consumado o golpe de estado por lula e pelo pt com a conivência de dilma rous...
 
O gigantesco impasse político do brasil e seus cenários futuros
O gigantesco impasse político do brasil e seus cenários futurosO gigantesco impasse político do brasil e seus cenários futuros
O gigantesco impasse político do brasil e seus cenários futuros
 
O fim melancólico da desastrosa era pt
O fim melancólico da desastrosa era ptO fim melancólico da desastrosa era pt
O fim melancólico da desastrosa era pt
 
Boaventura brasil democracia a beira do caos 20 março2016
Boaventura brasil democracia a beira do caos 20 março2016Boaventura brasil democracia a beira do caos 20 março2016
Boaventura brasil democracia a beira do caos 20 março2016
 
Boaventura de sousa santos - Brasil: a democracia à beira do caos e os perigo...
Boaventura de sousa santos - Brasil: a democracia à beira do caos e os perigo...Boaventura de sousa santos - Brasil: a democracia à beira do caos e os perigo...
Boaventura de sousa santos - Brasil: a democracia à beira do caos e os perigo...
 
O brasil não superará a crise atual sem a refundação da república
O brasil não superará a crise atual sem a refundação da repúblicaO brasil não superará a crise atual sem a refundação da república
O brasil não superará a crise atual sem a refundação da república
 
OS CENÁRIOS DAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS NO BRASIL.pdf
OS CENÁRIOS DAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS NO BRASIL.pdfOS CENÁRIOS DAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS NO BRASIL.pdf
OS CENÁRIOS DAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS NO BRASIL.pdf
 
O sistema político brasileiro desde a perspectiva da inclusão: Conquistas e d...
O sistema político brasileiro desde a perspectiva da inclusão: Conquistas e d...O sistema político brasileiro desde a perspectiva da inclusão: Conquistas e d...
O sistema político brasileiro desde a perspectiva da inclusão: Conquistas e d...
 
Não à pec 37 que dá sustentação à corrupção e à impunidade no brasil
Não à pec  37 que dá sustentação à corrupção e à impunidade no brasilNão à pec  37 que dá sustentação à corrupção e à impunidade no brasil
Não à pec 37 que dá sustentação à corrupção e à impunidade no brasil
 
O ESTADO BRASILEIRO EM DEBATE: ENTRE AS MUDANÇAS NECESSÁRIAS E AS ELEIÇÕES 2014
O ESTADO BRASILEIRO EM DEBATE: ENTRE AS MUDANÇAS NECESSÁRIAS E AS ELEIÇÕES 2014O ESTADO BRASILEIRO EM DEBATE: ENTRE AS MUDANÇAS NECESSÁRIAS E AS ELEIÇÕES 2014
O ESTADO BRASILEIRO EM DEBATE: ENTRE AS MUDANÇAS NECESSÁRIAS E AS ELEIÇÕES 2014
 
Manifesto pela legalidade democrática
Manifesto pela legalidade democráticaManifesto pela legalidade democrática
Manifesto pela legalidade democrática
 

Plus de Roberto Rabat Chame

BAHIA / PODEROSA ASSEMBLEIA ESTADUAL LEGISLATIVA (PAEL) Sessão Ordinária
BAHIA / PODEROSA ASSEMBLEIA ESTADUAL LEGISLATIVA (PAEL) Sessão OrdináriaBAHIA / PODEROSA ASSEMBLEIA ESTADUAL LEGISLATIVA (PAEL) Sessão Ordinária
BAHIA / PODEROSA ASSEMBLEIA ESTADUAL LEGISLATIVA (PAEL) Sessão Ordinária
Roberto Rabat Chame
 
Hospital são josé nota de esclarecimento em 11.07.2017
Hospital são josé   nota de esclarecimento em 11.07.2017Hospital são josé   nota de esclarecimento em 11.07.2017
Hospital são josé nota de esclarecimento em 11.07.2017
Roberto Rabat Chame
 
Baile da Saudade / Loja Maçônica Segredo, Força e União de Juazeiro Ba
Baile da Saudade /  Loja Maçônica Segredo, Força e União de Juazeiro BaBaile da Saudade /  Loja Maçônica Segredo, Força e União de Juazeiro Ba
Baile da Saudade / Loja Maçônica Segredo, Força e União de Juazeiro Ba
Roberto Rabat Chame
 

Plus de Roberto Rabat Chame (20)

AGRISSÊNIOR NOTÍCIAS Nº 635 an 29 agosto_2017
AGRISSÊNIOR NOTÍCIAS Nº 635 an 29 agosto_2017AGRISSÊNIOR NOTÍCIAS Nº 635 an 29 agosto_2017
AGRISSÊNIOR NOTÍCIAS Nº 635 an 29 agosto_2017
 
Caso SAMU - médico plantão - Dr Marcus Pinto
Caso SAMU - médico plantão - Dr Marcus PintoCaso SAMU - médico plantão - Dr Marcus Pinto
Caso SAMU - médico plantão - Dr Marcus Pinto
 
Simpósio Espírita 25º em Juazeiro
Simpósio Espírita 25º em JuazeiroSimpósio Espírita 25º em Juazeiro
Simpósio Espírita 25º em Juazeiro
 
BAHIA / PODEROSA ASSEMBLEIA ESTADUAL LEGISLATIVA (PAEL) Sessão Ordinária
BAHIA / PODEROSA ASSEMBLEIA ESTADUAL LEGISLATIVA (PAEL) Sessão OrdináriaBAHIA / PODEROSA ASSEMBLEIA ESTADUAL LEGISLATIVA (PAEL) Sessão Ordinária
BAHIA / PODEROSA ASSEMBLEIA ESTADUAL LEGISLATIVA (PAEL) Sessão Ordinária
 
AGRISSÊNIOR NOTÍCIAS - 634 an 22 agosto_2017
AGRISSÊNIOR NOTÍCIAS - 634 an 22 agosto_2017AGRISSÊNIOR NOTÍCIAS - 634 an 22 agosto_2017
AGRISSÊNIOR NOTÍCIAS - 634 an 22 agosto_2017
 
AGRISSÊNIOR NOTÍCIAS Nº 633 an 15 agosto_2017
AGRISSÊNIOR NOTÍCIAS Nº 633 an 15 agosto_2017AGRISSÊNIOR NOTÍCIAS Nº 633 an 15 agosto_2017
AGRISSÊNIOR NOTÍCIAS Nº 633 an 15 agosto_2017
 
Projeto de Lei Câmara Dia do Maçom
Projeto de Lei Câmara Dia do MaçomProjeto de Lei Câmara Dia do Maçom
Projeto de Lei Câmara Dia do Maçom
 
Manifesto CGTB
Manifesto CGTBManifesto CGTB
Manifesto CGTB
 
AGRISSÊNIOR NOTÍCIAS Nº 632 an 08 agosto_2017
AGRISSÊNIOR NOTÍCIAS Nº 632 an 08 agosto_2017AGRISSÊNIOR NOTÍCIAS Nº 632 an 08 agosto_2017
AGRISSÊNIOR NOTÍCIAS Nº 632 an 08 agosto_2017
 
DETRAN-BAHIA _ Notificação Suspensão do Direito de Dirigir
DETRAN-BAHIA _ Notificação Suspensão do Direito de DirigirDETRAN-BAHIA _ Notificação Suspensão do Direito de Dirigir
DETRAN-BAHIA _ Notificação Suspensão do Direito de Dirigir
 
AGRISSÊNIOR NOTÍCIAS Nº631 an 01 agosto_2017
AGRISSÊNIOR NOTÍCIAS Nº631 an 01 agosto_2017AGRISSÊNIOR NOTÍCIAS Nº631 an 01 agosto_2017
AGRISSÊNIOR NOTÍCIAS Nº631 an 01 agosto_2017
 
37 CIPM
37 CIPM37 CIPM
37 CIPM
 
AGRISSÊNIOR NOTÍCIAS Nº 630 an 25 julho_2017
AGRISSÊNIOR NOTÍCIAS Nº 630 an 25 julho_2017AGRISSÊNIOR NOTÍCIAS Nº 630 an 25 julho_2017
AGRISSÊNIOR NOTÍCIAS Nº 630 an 25 julho_2017
 
AGRISSÊNIOR NOTÍCIAS - Nº 629 an 18 julho_2017
AGRISSÊNIOR NOTÍCIAS - Nº 629 an 18 julho_2017AGRISSÊNIOR NOTÍCIAS - Nº 629 an 18 julho_2017
AGRISSÊNIOR NOTÍCIAS - Nº 629 an 18 julho_2017
 
Hospital são josé nota de esclarecimento em 11.07.2017
Hospital são josé   nota de esclarecimento em 11.07.2017Hospital são josé   nota de esclarecimento em 11.07.2017
Hospital são josé nota de esclarecimento em 11.07.2017
 
SALVADOR / 37ªCIPM Queda de criminalidade
SALVADOR / 37ªCIPM Queda de criminalidadeSALVADOR / 37ªCIPM Queda de criminalidade
SALVADOR / 37ªCIPM Queda de criminalidade
 
AGRISSÊNIOR NOTÍCIAS Nº 628 an 11 julho_2017
AGRISSÊNIOR NOTÍCIAS Nº 628 an 11 julho_2017AGRISSÊNIOR NOTÍCIAS Nº 628 an 11 julho_2017
AGRISSÊNIOR NOTÍCIAS Nº 628 an 11 julho_2017
 
Governador da bahia lanca programa bahia produtiva na ceplac
Governador da bahia lanca programa bahia produtiva na ceplacGovernador da bahia lanca programa bahia produtiva na ceplac
Governador da bahia lanca programa bahia produtiva na ceplac
 
O Dois de Julho
O Dois de JulhoO Dois de Julho
O Dois de Julho
 
Baile da Saudade / Loja Maçônica Segredo, Força e União de Juazeiro Ba
Baile da Saudade /  Loja Maçônica Segredo, Força e União de Juazeiro BaBaile da Saudade /  Loja Maçônica Segredo, Força e União de Juazeiro Ba
Baile da Saudade / Loja Maçônica Segredo, Força e União de Juazeiro Ba
 

As lições do julgamento do mensalão

  • 1. AS LIÇÕES DO JULGAMENTO DO MENSALÃO Fernando Alcoforado* O resultado do julgamento que condenou a todos os envolvidos no “mensalão” cujas penas terão início no dia de hoje (15/11/2013) com base na decisão do STF- Supremo Tribunal Federal é uma decisão histórica para o Brasil porque desnudou as mazelas da política brasileira na era contemporânea além de possibilitar ao povo brasileiro perceber que se torna imperiosa a necessidade, não apenas de uma profunda reforma política, mas também da reforma do Estado e da Administração Pública no Brasil para que não haja a repetição de fatos tão lamentáveis como os q ue foram objeto de abordagem neste processo. Papel relevante nesta decisão histórica do Supremo Tribunal Federal foi cumprido pelo seu presidente e relator do “mensalão”, o ministro Joaquim Barbosa. A nação brasileira deve muito a Joaquim Barbosa pelo desfecho do processo do “mensalão”. Ao desnudar as mazelas da política brasileira, o processo do “mensalão” deixou bastante claro que havia um esquema de compra de apoio político de parlamentares pelo governo federal. A decisão do STF que coloca na cadeia figuras proeminentes do PT e de partidos aliados, grupo que há uma década governa o Brasil, mostra que os detentores do poder político no Brasil não merecem a confiança da nação. O PT, que no governo está colocando em prática políticas econômicas diametralmente opostas ao que defendia antes de assumir o poder em 2002, deixou de ser também um partido defensor da ética na política ao ter inúmeros de seus dirigentes condenados por prática de corrupção e formação de quadrilha. Em outras palavras, o PT traiu ao compromisso histórico que havia assumido no passado. Outra lição que se extrai do processo do “mensalão” reside no fato de, ao decidir pela prisão de José Dirceu, José Genoino, Marcos Valério e Delúbio Soares, entre outros, o STF mostra que, no Brasil, não há mais espaço para a certeza da impunidade. Quando se analisa o caso do “mensalão” ainda em julgamento no Supremo Tribunal Federal com os denominados embargos infringentes, a maioria das pessoas atribui este fato a desvios de conduta política do ponto de vista ético que resultam da ambição humana pelo dinheiro e pelo poder que, se forem devidamente punidos seus responsáveis, tal fato não se repetiria. No entanto, a punição dos “mensaleiros” pelo Supremo Tribunal Federal não é suficiente para evitar sua repetição. Novos “mensalões” poderão ocorrer no futuro de forma menos ostensiva como ocorreu em 2003 e sem delatores como Roberto Jeferson porque a principal causa do “mensalão” diz respeito à necessidade dos detentores do Poder Executivo de constituir a maioria necessária no Parlamento a fim de obter a governabilidade, isto é, evitar a paralisia da ação governamental se o poder central não obtém a maioria parlamentar visando a aprovação dos projetos de seu interesse. Enquanto existir a atual Constituição, há grande possibilidade de haver novos “mensalões”. É importante destacar que o imperativo da maioria parlamentar no Brasil resultou em grande medida da Constituição instituída em 1988 porque toda a sua concepção foi baseada no modelo parlamentarista no qual o poder é exercido conjuntamente pelo Poder Executivo e pelo Congresso Nacional. O sistema político vigente no Brasil é um misto de presidencialista e parlamentarista, em que o presidente da República precisa de maioria parlamentar para governar. O “mensalão” surgiu diante da necessidade do 1
  • 2. governo Lula de obter a maioria parlamentar visando a aprovação de projetos de seu interesse no Congresso Nacional. Nos países politicamente avançados, o Poder Executivo obtém a maioria no Parlamento através de acordos embasados ideologicamente. No Brasil, o caso do “mensalão” mostra que o governo Lula tentou constituir a maioria parlamentar visando a aprovação de seus projetos no Congresso Nacional com a compra de votos de parlamentares ligados a partidos fisiológicos como o PMDB, PL, PTB, etc. utilizando, de forma fraudulenta, recursos públicos, da mesma forma que realizou, também, uma deslavada compra de votos dos “de baixo” na escala social com a institucionalização do Bolsa Família para alcançar o apoio eleitoral da população pobre do Brasil, sob o pretexto de desenvolver programa social de apoio aos pobres. Ambas as ações, parlamentar e social, compõem parte da estratégia de manutenção do poder do PT no Brasil. No contexto desta estratégia, foram implementadas mais duas ações: uma, de concessão de facilidades “aos de cima” na escala social, sobretudo ao sistema financeiro que vem obtendo os maiores lucros na história do Brasil e, outra, de paralisia dos movimentos sociais em suas reivindicações contra o governo e às classes dominantes com a oferta de benefícios oferecidos pelo governo Lula às lideranças sindicais pelegas e partidos ideológicos de apoio que controlam os sindicatos. As classes dominantes não têm o que reclamar do governo Lula nem do movimento sindical estagnado nos últimos 10 anos. Só recentemente, durante o governo Dilma Roussef é que os movimentos reivindicatórios saíram da letargia em que se encontravam à revelia de suas lideranças. Não apenas o “mensalão” é o resultado de uma Constituição mal feita como a de 1988. Há outras anomalias como a que determina que a escolha dos membros do Poder Judiciário seja feita pelo presidente da República, muitos dos quais são escolhidos sem o saber jurídico necessário como é o caso de Ricardo Lewandowsky e Dias Tóffoli que estão no Supremo Tribunal Federal graças às suas ligações passadas com o expresidente Lula. Apesar de a maioria dos membros do Supremo Tribunal Federal ter sido indicada pelo ex-presidente Lula, grande parte deles está tendo comportamento de autêntico magistrado, à exceção dos dois acima citados que tentaram a todo custo evitar a condenação dos mentores do “mensalão”. Todos estes fatos demonstram que Maquiavel tinha razão quando afirmou em 1513 que o que mais ambiciona o político é a conquista, a conservação e a expansão do poder. Este é o caso de Lula e do PT. Para alcançar e conservar esse poder não importam os meios. O mundo político no Brasil está sendo governado por atos, ajustes e acordos nada ortodoxos, que tem suas regras próprias, não seguindo a lógica da Ética que rege as condutas morais das pessoas em geral como bem sintetiza o “mensalão”. Em regra o político ético está no meio de gente ambiciosa, corrupta, violenta ou insolente. Se não souber se comportar "realisticamente", perde seu poder. A democracia representativa no Brasil manifesta sinais claros de esgotamento não apenas pelos escândalos de corrupção nos poderes da República mas, sobretudo, ao desestimular a participação popular, reduzindo a atividade política a processos eleitorais que se repetem periodicamente em que o povo elege seus ditos representantes os quais, com poucas exceções, após as eleições passam a defender interesses de grupos econômicos em contraposição aos interesses daqueles que os elegeram. Na prática, tudo funciona como se o povo desse a cada dirigente do poder executivo e a cada 2
  • 3. parlamentar um cheque em branco para fazerem o que quiserem após ocuparem seus cargos eletivos. Os fatos da realidade demonstram a necessidade de que seja dado um basta à escalada da corrupção no Brasil com a mobilização da Sociedade Civil visando a convocação de uma Assembléia Constituinte com o objetivo de realizar uma profunda Reforma Política, do Estado e da Admistração Pública no Brasil. A Assembléia Constituinte não seria integrada pelos atuais membros do Congresso Nacional. Seus membros seriam eleitos pela população com a missão exclusiva de aprovar a reforma na Constituição atual a ser implementada no Brasil no horizonte de 1 ano. Sem a reforma da Constituição nos termos acima propostos, o Brasil continuará sendo palco do descalabro ético e político que deu origem ao “mensalão“. *Fernando Alcoforado, 73, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), entre outros.S 3