Baile da Saudade / Loja Maçônica Segredo, Força e União de Juazeiro Ba
Passeatas 2013
1. 21/06/2013 00:10:03 - Atualizada às 21/06/2013 00:43:33
MOVIMENTO INÉDITO NA HISTÓRIA INTRIGA ESTUDIOSOS
Protesto apartidário, sem líder único, via internet e com pauta aberta tem futuro imprevisível.
O Dia
Rio - Desenhar o cenário de qual será o rumo do movimento que arrasta multidões de norte a
sul do Brasil é uma tarefa que sociólogos, por enquanto, preferem não arriscar. O modelo de
mobilização — apartidário conectado à internet e com pauta de demandas aberta — é novo e
intriga, positivamente, quem vem estudando o comportamento da sociedade brasileira.
Teóricos ouvidos pelo DIA concordam em outro ponto: não há como encaixar o que acontece
atualmente com eventos passados da história como 64, Diretas Já, os caras-pintadas e outras
manifestações que surgiram no mundo.
Movimento mobilizou o país depois de décadas de silêncio. Desde o ‘Fora Collor’, não se viam
manifestações nas ruas
Foto: Paulo Araújo / Agência O Dia
“É o primeiro movimento em que a população está politizada, e não permite ser conduzida por
por partidos e autoridades. Não adianta diminuir o valor da passagem. O povo quer ser ouvido.
Quem disse que não tem liderança? Cada grupo que forma aquela multidão tem sua liderança:
é o pessoal a favor do aborto, contra, que quer casamento gay, que não quer....É uma
multiplicidade de lideranças. O recado é claro: queremos participar, ser respeitados e ouvidos.
2. E o foco é o poder público”, explicou o sociólogo e professor da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (Ufrj), Paulo Baia.
Sem novo partido
Para o sociólogo Orlando Júnior, do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano Regional
(Ippur), da Ufrj, não deve emergir desses atos um novo partido, mas pode surgir um novo
paradigma de mobilização, que é fundado em redes e alguma forma de articulação que vem da
multiplicidade de demandas.
Vídeo: Polícia persegue manifestantes no Centro
“Criar um partido seria repetir um antigo modelo. O movimento tem uma agenda que não se
fecha. Está aberta e em construção. O que está acontecendo é um alerta, um grito, para que se
amplie o espaço de participação popular e se fortaleça a democracia”, afirmou o estudioso.
De acordo com o juiz e cientista político João Batista Damasceno, a tendência é que a
mobilização se esvazie em breve. Ele também não acredita que vá surgir uma nova legenda
política a partir dos atos. “Existe um clima de insatisfação geral, que vem se acumulando. Mas
o movimento está muito desorganizado”, opina.
Democracia participativa na Internet
A democracia participativa, que parece ser reivindicação quase unânime no furacão plural de
pedidos dos manifestantes, tem um novo formato na internet. Não só as convocações para as
marchas ganham velocidade com a ferramenta virtual.
3. Jovens foram às ruas nesta quinta para manifestação
Foto: Paulo Araújo / Agência O Dia
É lá que o cidadão se sente incluído no movimento. Nos fóruns virtuais sobre os protestos, os
jovens participam de votações para escolher o trajeto das passeatas e as novas demandas
comuns. “No mundo virtual, a hierarquização é mais horizontal. Por isso, parece realmente ser
mais participativo e inclusivo”, afirmou o sociólogo e professor da UFRJ Paulo Baía.
Não é de hoje que as novas tecnologias de informação vêm motivando teses sobre os atuais
movimentos na sociedade. O sociólogo espanhol Manuel Castells já defendeu que as relações
humanas, cada vez mais, vão acontecer no ambiente de multimídia. É a Era da Informação, que
permite reproduzir em vários países protestos que acontecem aqui.
Grupos partidários são hostilizados
Se nas passeatas ocorridas até quarta-feira era possível ouvir o coro dos ‘sem partidos’, na
marcha de ontem grupos partidários e sindicâncias firmaram presença caracterizados. Alguns
militantes da Central Única dos Trabalhadores (CUT), PCdoB e PSTU foram hostilizados.
Na altura da prefeitura, na Cidade Nova, rapaz que carregava bandeira do PSTU foi agredido.
Na Candelária, 10 militantes que vestiam camisas da CUT tiveram suas bandeiras quebradas.
Logo depois, manifestantes vaiaram representantes da União da Juventude Socialista e do
PCdoB.
Manifestantes entram em confronto no Centro
4. Foto: Alex Ribeiro / Agência O Dia
Para evitar polêmica e confrontos, o presidente regional do Partido dos Trabalhadores (PT) no
Rio, Jorge Florêncio, preferiu não aderir ao ato ‘Onda Vermelha’, criado em São Paulo pelo
presidente nacional Rui Falcão.
O manifesto pedia que filiados fossem às ruas de vermelho e com bandeiras do partido. “A
orientação é não levar bandeiras e ir vestido normalmente”, disse Florêncio. O deputado
estadual Marcelo Freixo (Psol) disse que a participação partidária é legítima, mas não defende
comando político nas manifestações.
“Os partidos não têm o direito de comandar a manifestação, mas de participar, sim”.
Integrante do Movimento Passe Livre (MPL), o professor de História Gabriel Siqueira disse que
‘o movimento é apartidário, e não antipartidário. “Respeitamos todas as causas”.
Psicanalista define: é catarse coletiva
O conceito é usado pela Psicanálise, mas pode explicar em parte o que vem ocorrendo nas
ruas do país. A catarse coletiva — termo usado por Sigmund Freud — está na pauta dos
estudiosos que buscam entender o comportamento da multidão com cartazes e faixas que tem
parado as cidades quase que diariamente.
E, neste sentido, o governante é visto como algoz, que, ao ser confrontando pela massa,
provoca uma sensação coletiva de libertação psíquica.
“É como se eles (as pessoas que estão no protesto) expelissem um sentimento que estava
oprimido. No inconsciente coletivo, esses governantes representam uma figura de autoridade
que eles querem desafiar”, afirmou a psicanalista Roberta Bueno, que é da Escola Lacaniana de
Psicanálise (RJ).
É resgatando Freud novamente e sua “psicologia das massas” que pode-se encontrar mais
reflexões sobre o fenômeno brasileiro “vem para as ruas”. Trata-se de uma aglomeração
formada por indivíduos com históricos e demandas diferentes, mas que alimentam uma
espécie de alma coletiva de revolta.
“As pessoas estão indo para as ruas cada uma com uma questão pessoal, mas que têm o
governo como foco central. As massas vão se formando como se alinhadas a um mesmo
sentimento”, explicou a psicanalista.