1. As horas pela alameda
Arrastam vestes de seda
Vestes de seda sonhada
Pela Alameda alongada...
Sob o azular do luar...
E ouve-se no ar a expirar A expirar mas nunca expira Uma flauta que delira,
Que é mais que a ideia de ouvi-la
Que ouvi-la quase tranquila
Pelo ar a ondear e a ir...
Silêncio a tremeluzir...
Música de Vanessa Bumagny
oi
(“Plenilúnio”, Ficções do Interlúdio, de Fernando
Pessoa)
rafabebum.blogspot.com
2. Modernismo (séc. XX): a busca da
renovação através da rebeldia
rafabebum.blogspot.com
16. O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente
rafabebum.blogspot.com
17. Fernando Pessoa ortônimo
(ele mesmo)
Poesia lírica:
Tematiza a saudade, a
melancolia; preferência
por versos curtos, quadras
populares
rafabebum.blogspot.com
18. Pobre velha música!
Não sei por que agrado,
Enche-se de lágrimas
Meu olhar parado.
Recordo outro ouvir-te,
Não sei se te ouvi
Nessa minha infância
Que me lembra em ti.
Com que ânsia tão raiva
Quero aquele outrora!
E eu era feliz? Não sei:
Fui-o outrora agora.
rafabebum.blogspot.com
Fernando Pessoa menino
19. Casa de Fernando Pessoa, Lisboa
rafabebum.blogspot.com
Fernando Pessoa era
místico, zodiatra; mapa
astral na entrada da casa
24. Fernando Pessoa ortônimo
Mensagem (poesia patriótica) –
3 partes:
Brasão: do mito da fundação
(Ulisses) a D. Sebastião (1578)
Mar Português: glória lusitana
no mar
rafabebum.blogspot.com
27. Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quere passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
rafabebum.blogspot.com
30. Fernando Pessoa ortônimo
Mensagem (poesia patriótica) – 3 partes:
Brasão: do mito da fundação
(Ulisses) a D. Sebastião (1578)
Mar Português: glória lusitana
no mar
O Encoberto: mágoa pela
decadência da pátria;
esperança da ressurreição
rafabebum.blogspot.com
31. Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
É a Hora! Valete, Frates.
rafabebum.blogspot.com
32. Fernando Pessoa - heterônimos
(≠ pseudônimos)
rafabebum.blogspot.com
33. Alberto Caeiro da Silva (Lisboa, 16/04/1889
– 1915,
semialfabetizado)
− rejeita o ato de
pensar; percebe o
mundo pelos sentidos
− pratica a antifilosofia
– “sinto, logo existo”
rafabebum.blogspot.com
34. Sou um guardador de rebanhos
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
rafabebum.blogspot.com
36. Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e o luar e o sol
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.
Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar,
Porque se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.
rafabebum.blogspot.com
37. ― contato com a natureza
(poeta bucólico)
― visão não panteísta:
A natureza é partes sem um todo.
― despreocupação formal
Não me importo com as rimas. Raras vezes
Há duas árvores iguais, uma ao lado da outra.
Pã, senhor dos bosques
rafabebum.blogspot.com
38. Ricardo Reis
(Porto, 19/09/1887,
médico e erudito)
− adepto da cultura
clássica; discípulo de
Horácio
(“carpe diem”)
− epicurista: busca os prazeres equilibrados
(≠ hedonista)
rafabebum.blogspot.com
39. Vive sem horas. Quanto mede pesa,
E quanto pensas mede.
Num fluido incerto nexo, como o rio
Cujas ondas são ele,
Assim teus dias vê, e se te vires
Passar, como a outrem, cala.
As Rosas amo dos jardins de Adônis,
Essas vólucres amo, Lídia, rosas,
Que em o dia em que nascem,
Em esse dia morrem.
A luz para elas é eterna, porque
Nascem nascido já o sol, e acabam
Antes que Apolo deixe
O seu curso visível.
Assim façamos nossa vida um dia,
Inscientes, Lídia, voluntariamente
Que há noite antes e após
O pouco que duramos.
rafabebum.blogspot.com
40. Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos).
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para o pé do Fado,
Mais longe que os deuses.
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente.
E sem desassossegos grandes.
rafabebum.blogspot.com
41. Álvaro de Campos (Tavira, 15/10/1890,
engenheiro naval)
rafabebum.blogspot.com
42. Álvaro de Campos: 3 fases
Opiário (Canal de Suez, Macau)
(...) E eu vou buscar ao ópio que consola
Um Oriente ao oriente do Oriente.
rafabebum.blogspot.com
43. Quando olho para mim não me percebo.
Tenho tanto a mania de sentir
Que me extravio às vezes ao sair
Das próprias sensações que eu recebo.
O ar que respiro, este licor que bebo,
Pertencem ao meu modo de existir,
E eu nunca sei como hei de concluir
As sensações que a meu pesar concebo.
Nem nunca, propriamente reparei,
Se na verdade sinto o que sinto. Eu
Serei tal qual pareço em mim? Serei
Tal qual me julgo verdadeiramente?
Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu,
Nem sei bem se sou eu quem em mim sente.
rafabebum.blogspot.com
44. Álvaro de Campos: 3 fases
Opiário (Canal de Suez, Macau)
Futurista (Glasgow)
rafabebum.blogspot.com
45. Álvaro de Campos: 3 fases
Opiário (Canal de Suez, Macau)
Futurista (Glasgow)
Marginalidade, inquietação pessoal, revolta
(retorno a Portugal)
rafabebum.blogspot.com
46. Um dia, num restaurante, fora do espaço e do tempo,
Serviram-me o amor como dobrada fria.
Disse delicadamente ao missionário da cozinha
Que a preferia quente,
Que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se come fria.
Impacientaram-se comigo.
Nunca se pode ter razão, nem num restaurante.
Não comi, não pedi outra coisa, paguei a conta,
E vim passear para toda a rua.
(...)
Mas, se eu pedi amor, porque é que me trouxeram
Dobrada à moda do Porto fria?
Não é prato que se possa comer frio,
Mas trouxeram-mo frio.
Não me queixei, mas estava frio,
Nunca se pode comer frio, mas veio frio.
Doctor Gachet, Van Gogh
rafabebum.blogspot.com