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RESTAURAÇÃO
DO MONUMENTO
O LAÇADOR
P O R T O A L E G R E – R S – B R A S I L
Realização
Apoio
Financiamento
Patrocínio
A produção desta obra foi viabilizada com financiamento do PRÓ-CULTURA,
Governo do Estado do Rio Grande do Sul, Lei 13.490/2010.
RESTAURAÇÃO
DO MONUMENTO
O LAÇADOR
P O R T O A L E G R E – R S – B R A S I L
Organização
Denise Viana Pereira
Vitor Ortiz
Ano | 2022
Resgate do Patrimônio Histórico:
Construção Cultural
Restauração do monumento O Laçador
Porto Alegre/RS – Brasil
Caderno de Restauro do Projeto Construção Cultural – Resgate do Patrimônio Histórico
Restauração do monumento O Laçador
Edição
Associação Sul-Riograndense da Construção Civil
Organização
Denise Viana Pereira e Vitor Ortiz
Revisão
Célio Lamb Klein
Memorial descritivo das intervenções realizadas
Verônica Di Benedetti
Design gráfico e edição de arte
Clô Barcellos
Fotografias
Gilberto Perin (capa) e Alan Mendonça (contracapa)
(Fotos do miolo creditadas, separadamente, na pág. 69)
Mapa
Juliana Bittencourt
Impressão
Pallotti – Santa Maria/RS
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação:
Bibliotecária Daiane Schramm – CRB-10/1881
R433 Resgate do Patrimônio Histórico: Construção Cultural – Restauração do Monumento
O Laçador. / Organizado por Vitor Ortiz e Denise Viana Pereira. – Porto Alegre:
Associação Sul-Riograndense da Construção Civil, 2022.
72p.:il. 21 x 24cm.
Série Caderno de Restauro do Projeto Construção Cultural
1. Patrimônio Histórico. 2. Revitalização. 3. Porto Alegre. 4. O Laçador. I. Ortiz, Vitor;
org. II. Pereira, Denise Viana; org. III. Caderno. IV. Série.
CDD363.69
SUMÁRIO
9 CONSTRUÇÃO CULTURAL – Resgate do Patrimônio Histórico
Aquiles Dal Molin Jr.
11 ESTADO E MUNICÍPIO JUNTOS recuperam um patrimônio de todos
Beatriz Araújo
13 LAÇADOR RENOVADO – Um presente para Porto Alegre
em seus 250 anos
Sebastião Melo
15 O LAÇADOR – Símbolo de Porto Alegre e do gaúcho
Gunter Axt
23 PROJETO CONSTRUÇÃO CULTURAL – Sua relevância para a cidade
Zalmir Chwartzmann
26 A localização
30 A base para a realização do projeto de restauro –
Relatório da inspeção realizada em 2017
Virgínia Costa e Antoine Amarger
41 O LAÇADOR – Representatividade de um povo
Verônica Di Benedetti
44 O passeio do Laçador
48 O maior estatuário da História da Arte do Rio Grande do Sul
49 O preparo da superfície
Ricardo Jaekel
53 A reconstituição do laço
55 A estrutura interna executada
Antonio Tadeu Motter e Raquel Medina Pinho
59 O restauro da superfície de bronze
Antonio Tadeu Motter e Valmir José Hanzen
67 A equipe
71 Para recortar e emoldurar/Foto de Gilberto Perin
6 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural
O Laçador transcende
sua condição específica
de obra de arte e de
monumento tombado.
É um emblema vivo
para a população que
condensa a união entre
a Capital e o interior.
Gunter Axt
8 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural
Restauração do monumento O Laçador 9
CONSTRUÇÃO CULTURAL –
Resgate do Patrimônio Histórico
Aquiles Dal Molin Jr.
Presidente do Sinduscon-RS e
da Associação Sul-Riograndense da Construção Civil
A cultura é o caráter de uma sociedade; sua
difusão e aprimoramento determinam sua capaci-
dade de evolução. Através dela é estimulada a par-
ticipação e a contribuição para o bem coletivo. E,
junto com os fatores econômico, social e ambiental,
é um dos pilares da sustentabilidade na sociedade
do conhecimento.
Numa nação como o Brasil, a relevância da
responsabilidade social empresarial é imensa. Ao
lado das enormes carências e desigualdades está
o descaso com o patrimônio público. O problema é
compartido por toda a sociedade, embora inexista
uma ação concreta sobre isso. A prioridade seria de-
senvolver esforços, canalizar energias para comu-
nicar e agir. Restaurar o que está comprometido. A
sinergia entre os atores culturais, público e privado,
ajudaria a mapear dados, necessidades e oportuni-
dades para resgatar monumentos de Porto Alegre
de forma efetiva.
A presença da escultura pública na cidade
de Porto Alegre é muito marcante. A capital abri-
ga riquíssimo acervo, segundo alguns autores, em
função da grande influência positivista que marcou
o início do século XX, período em que o município
apresentou grande crescimento.
O rico acervo de esculturas na cidade, a cada
dia que passa, diminui. Roubos, vandalismo e a fal-
ta de incentivo para novos projetos marcam o pano-
rama atual. Outro problema enfrentado foi a reali-
zação de intervenções de restauro por mão de obra
não especializada, o que, em sua maioria, acabou
por acelerar o processo de degradação, piorando o
estado de conservação da peça.
Resgatar esse patrimônio mostrava-se funda-
mental para a identidade da cidade e a preserva-
ção da sua memória. O Sinduscon-RS visualizou que
isso poderia ser uma relevante contribuição cultu-
ral para a cidade e uma forma de colocar na pauta
das discussões as melhores opções e políticas de
preservação da arte pública. Tanto no enfoque da
segurança pública quanto no reconhecimento da
arte como acervo da cidade e do cidadão e as medi-
das preventivas para que não fosse perdido o vasto
e valioso patrimônio artístico existente. A ideia de
fazer um projeto para recuperar monumentos foi
iniciada em 2014. Desde lá, já foram revitalizados
33 monumentos e recantos no Parque Farroupilha,
além do diagnóstico do monumento O Laçador.
O Sinduscon-RS passou a oportunizar o debate
sobre um importante fato cultural de Porto Alegre e
do Rio Grande do Sul. A cidade e o Estado foram ins-
tigados a discutir como manter os seus monumen-
tos e as necessidades de uma melhor preservação
do patrimônio cultural.
O Projeto Construção Cultural tem obtido uma
repercussão muito além do previsto. O impacto foi
imenso e passou-se a discutir também as maneiras
de melhorar a preservação e como prevenir a inci-
dência das depredações e do vandalismo. A comu-
nidade se apropriou da ideia do projeto, maximizou
a sua dimensão e demonstrou a relevância da pro-
posta inicial.
Esse projeto é um indicativo da certeza que
permeia o Sinduscon-RS: a importância de agregar
ações de responsabilidade social. Tanto que sem-
pre se caracterizou como uma entidade voltada não
somente a seus interesses mais diretos, mas, tam-
bém, aos da comunidade em que se insere.
Um projeto que incentivou o olhar atento da
população e dos órgãos públicos para uma preser-
vação mais efetiva do patrimônio público. Uma ação
que oportunizou excelentes resultados para todos.
10 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural
O Sinduscon-RS acredita na inquietude inova-
dora que serve de inspiração para as corporações.
Ao investir em cultura e cumprir o seu papel como
entidade cidadã, se deparou com um caminho ár-
duo, mas fértil. Uma estrada percorrida passo a pas-
so, alinhando o modelo de gestão praticado com os
objetivos almejados. O Sinduscon-RS, compartilhan-
do valores e desenvolvendo projetos com parcerias,
tem provado que a inovação muitas vezes é mais
acessível do que se possa imaginar. Mas para isso,
primeiramente, é preciso acreditar numa inquietu-
de inovadora.
Com o Projeto Construção Cultural, o Sindus-
con-RS colabora para a valorização da cultura. Uma
iniciativa que, definitivamente, faz a diferença,
especialmente em um país onde programas desse
caráter são mais do que bem-vindos, são impera-
tivos.
Restauração do monumento O Laçador 11
ESTADO E MUNICÍPIO JUNTOS
recuperam um patrimônio de todos
Beatriz Araújo
Secretária da Cultura
Governo do Estado do Rio Grande do Sul
Sedac/RS
Símbolo oficial de Porto Alegre e monumento
icônico do Rio Grande do Sul, O Laçador retornou
revitalizado para seu sítio na entrada da cidade. A
obra do artista plástico pelotense Antonio Caringi
(1905-1981) foi objeto de um cuidadoso trabalho de
restauração realizado por iniciativa da Associação
Sul-Riograndense da Construção Civil e do Sindicato
das Indústrias da Construção Civil no Estado do Rio
Grande do Sul (Sinduscon-RS), com apoio integral
do Governo do Estado e da Prefeitura Municipal.
O projeto Construção Cultural – Resgate do Pa-
trimônio Histórico – Restauração do Monumento O
Laçador recebeu recursos do Pró-cultura RS, meca-
nismo de fomento da Secretaria Estadual de Cultura
(Sedac), que utiliza incentivos fiscais para viabilizar
ações de incentivo e apoio à cultura. Por sua re-
levância artística e simbólica, O Laçador está pro-
fundamente integrado ao cenário urbano de Porto
Alegre e ao universo cultural do Rio Grande do Sul.
Sua recuperação congregou esforços da iniciativa
privada e dos poderes públicos, numa ação exem-
plar de respeito ao patrimônio público.
Em 1954, quando Caringi esculpiu O Laçador em
gesso para simbolizar o povo rio-grandense na Ex-
posição do IV Centenário de Fundação de São Paulo,
possivelmente não imaginava a dimensão que sua
obra conquistaria no futuro. Paixão Côrtes, um dos
fundadores do Movimento Tradicionalista Gaúcho,
serviu de modelo para que o artista reproduzisse a
indumentária gaudéria com precisão. Quatro anos
depois, a Prefeitura de Porto Alegre adquiriu a es-
cultura, eternizou O Laçador em bronze e o instalou
inicialmente no Largo do Bombeiro. De lá, foi trans-
ferido, em 2007, para o espaço em frente ao Aero-
porto Salgado Filho, e, desde então, se tornou uma
referência para quem chega à capital dos gaúchos.
Por sua dedicação aos temas regionais li-
gados à história e à cultura rio-grandenses, e em
especial à representação da figura do gaúcho tra-
dicional, Antonio Caringi ficou conhecido como “o
escultor dos pampas”. Considerado como expoente
de obras épicas na história da arte do Rio Grande
do Sul, tornou-se um dos maiores nomes da escul-
tura monumental brasileira. As homenagens e co-
memorações pela passagem do centenário de seu
nascimento fizeram parte da programação cultural
do Estado em 2005.
Uma obra de arte como O Laçador não se limi-
ta ao espaço físico que ocupa no território urbano.
Como representação escultórica plena de significa-
dos e evocadora de memórias, ela está presente no
imaginário de todos os que com ela se identificam
e reconhecem em suas formas os valores históricos,
as tradições, o folclore e a própria índole de um
povo.
A Secretaria da Cultura do Estado do Rio Gran-
de do Sul, cuja missão abrange a salvaguarda, a
conservação e a valorização dos bens culturais, ma-
teriais e imateriais, associa-se à Prefeitura Munici-
pal de Porto Alegre e aos parceiros institucionais,
públicos e privados, nessa importante iniciativa de
restauração de um patrimônio que pertence a to-
dos os gaúchos. É nossa responsabilidade cuidar,
restaurar e valorizar esse patrimônio, para que se
mantenha vivo e seja apreciado por muitas e mui-
tas gerações.
12 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural
Restauração do monumento O Laçador 13
LAÇADOR RENOVADO
Um presente para Porto Alegre em seus 250 anos
Sebastião Melo
Prefeito de Porto Alegre
A estátua O Laçador é um dos cartões-postais
mais bonitos de Porto Alegre. Esse monumento icô-
nico de mais de quatro metros de altura, de autoria
do escultor gaúcho Antonio Caringi, tem um valor
histórico inestimável para a Capital. Desde 2007,
a obra está localizada na Avenida dos Estados, no
bairro São João, em uma das entradas da cidade,
mas a sua importância é reconhecida há muitas dé-
cadas.
Fruto de uma mobilização social muito forte
na década de 1950 quando foi construída, em 1992
foi eleita símbolo oficial de Porto Alegre. Reconhe-
cimento à sua representatividade para o Rio Grande
do Sul ao mostrar a imagem do gaúcho pilchado,
inspirada no folclorista Paixão Côrtes. Tombada em
2001, representa a grandeza do Rio Grande, seu
povo e sua tradição, sobretudo pela sua autentici-
dade, já que teve um gaúcho como modelo.
Tê-la restaurada quando a Capital completa
250 anos é motivo de muita satisfação para nós,
sobretudo por essa revitalização ser fruto de uma
parceria com o setor privado. Nosso governo acre-
dita muito nas parcerias e na importância de nos
darmos as mãos, público e privado, na construção
de uma Porto Alegre melhor. O Laçador é mais um
belo exemplo de que unidos podemos deixar a cida-
de mais bonita, bem cuidada, dando orgulho aos 1,5
milhão de porto-alegrenses e recebendo cada vez
melhor os turistas.
A estátua foi apenas o começo do grande pro-
cesso de qualificação que queremos promover nes-
te espaço. Estamos buscando parceiros que adotem
o Sítio do Laçador para impulsionar o empreende-
dorismo e o turismo em um local tão significativo
da nossa Porto Alegre.
Esse primeiro passo dado, que foi a restaura-
ção realizada pelo Sindicato das Indústrias da Cons-
trução Civil do Estado do Rio Grande do Sul (Sin-
duscon-RS) e pela Associação Sul-Riograndense da
Construção Civil, mediante o programa Pró-Cultura
– Lei de Incentivo à Cultura, do Governo do Estado,
tem um grande significado para o município. Esses
parceiros, com patrocínio da Gerdau e da Sulgás e
apoio da JOG Andaimes, Elevato, Ministério Público
do Rio Grande do Sul e Phorbis Empreendimentos
Imobiliários, deram um grande presente para a Ca-
pital, sobretudo pela excelência técnica do trabalho
de restauro executado.
Com grande qualidade, nossos parceiros torna-
ram possível a realização do sonho de muitos anos
de ver o principal monumento da cidade recuperado
e pronto para dar as boas-vindas aos moradores do
interior, de outros estados e turistas que chegam e
ao se despedir de quem sai de Porto Alegre.
14 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural
Restauração do monumento O Laçador 15
Porto Alegre surgiu às margens do Lago Guaí-
ba meio por acaso, em meados do século XVIII, a
partir do assentamento improvisado de um grupo
de cerca de 500 imigrantes açorianos que se des-
tinava à região das Missões, mas que, em razão da
Guerra Guaranítica por lá estalada, acabou perma-
necendo no ponto onde desembarcou para aguardar
prosseguimento da viagem. A identidade açoriana,
assim, configurou claramente os cem anos inaugu-
rais da cidade, o que se exprimia nos hábitos, na
arquitetura, nas festas populares...
Os primeiros monumentos da urbe datam de
meados da década de 1860 – eram chafarizes que
cumpriam o relevante papel de abastecimento de
água à população e embelezavam o ambiente. São
desse período as cinco estátuas em mármore de
Carrara, associadas ao Guaíba e seus afluentes, ins-
taladas na antiga Praça da Matriz – quatro delas po-
dem ainda ser contempladas nos jardins do DMAE,
na Avenida 24 de Outubro (um menino nu com bar-
O LAÇADOR
Símbolo de Porto Alegre e do gaúcho
Gunter Axt
Secretário Municipal de Cultura
Porto Alegre/RS
rete frígio e estandarte, que se remete à Liberdade,
desapareceu dos registros públicos nos anos 1920).
Já o Chafariz Conde D’Eu, fundido em ferro, na Fran-
ça, foi instalado em 1866 na Praça do Mercado e
hoje está no Parque da Redenção. Uma estátua em
mármore em homenagem ao Conde de Porto Alegre,
perfilado em traje militar de gala, inaugurada em
1885 na Praça da Matriz com a presença da Princesa
Isabel, foi a primeira representação pública escul-
turada permanente que se seguiu aos chafarizes –
está hoje na Praça Conde de Porto Alegre, antiga
Praça do Portão.
Na passagem do século XIX para o século XX,
Porto Alegre passou por profundas modificações,
redefinindo sua identidade. A acanhada cidadezi-
nha administrativa e militar foi sendo substituí-
da por uma fervilhante locomotiva industrial, cujo
combustível alimentava-se do capital comercial
de origem colonial, isso é, que se desdobrava do
processo migratório que desde 1824 cercava-a com
Monumento O Guaíba e seus Afluentes.
caminhosdosmuseus.wordpress.com
Monumento ao Conde
de Porto Alegre.
Jornal
Sul
21
16 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural
povoamentos de colonos alemães e, mais tarde, ita-
lianos. De vila tipicamente açoriana, Porto Alegre
convertia-se em centro multiétnico, acolhendo uma
nova burguesia desejosa de evidenciar seu êxito e
ansiosa pela melhoria da urbanidade. Serviços em
geral foram sofisticando-se e avenidas foram rasga-
das. Uma nova elite política republicana e com in-
fluência positivista esforçava-se, além disso, desde
os anos 1890, para fazer da cidade a sala de visitas
do Estado. Nos anos 1920, Porto Alegre imantava
nova identidade, estampada no estilo algo báva-
ro, oscilando entre o ecletismo e o neoclássico na
arquitetura, então já marcada pela arte decorativa
nas fachadas, que teve em escultores como Aloys
Friedrichs expressões de escol.
O primeiro grande monumento em bronze foi
inaugurado em 1913, na Praça da Matriz. De autoria
de Décio Villares, a obra homenageia o líder repu-
blicano Julio de Castilhos, falecido em 1903. A figura
de um cavaleiro gaúcho que integra o conjunto foi
a primeira referência consistente na arte pública
da Capital ao tipo humano do campo, que habitava
a região da Campanha e pontificava na indústria
ganadeira, que fora até então a poderosa alavanca
do desenvolvimento econômico do Estado, embora
cada vez mais eclipsada pela pujança industrial.
Na pintura, o tema já aflorava há alguns anos.
O óleo sobre tela de Guilherme Litran, Carga de
Cavalaria, de 1893, é um dos precursores e reves-
te uma cena militar que provavelmente se remete
à Revolução Farroupilha, com ação e beleza. Pedro
Weingärtner, um dos mais expressivos artistas do
Aloys Friedrichs,
escultor de fachadas.
Monumento Julio de Castilhos,
primeiro monumento em bronze de Porto Alegre.
Guilherme Litran, óleo sobre tela,
Carga de Cavalaria.
www.sogipa.com.br
www.lenach.com.br
Revista
Galileu/Globo.com
Restauração do monumento O Laçador 17
Estado, pintou, em 1908, o belo Peões Laçando Gado
e, em 1911, o célebre Carreteiros Gaúchos Chimar-
reando. Em 1914, apresentou Pousada, outra bucó-
lica cena campestre. Lucílio Albuquerque retratou
Os Lanchões de Garibaldi, em 1918, famosa epopeia
engendrada na Revolução Farroupilha, apontando
no sentido na construção do gaúcho heroicizado,
que mais tarde se consolidaria. A buliçosa capa da
Revista do Globo, em janeiro de 1930, trazia a figura
expressiva do Homem Tomando Mate, um gaúcho
idoso e moreno, do tcheco Francis Pelichek.
Enquanto evoluía na pintura, o tema foi revi-
sitado na arte escultórica em 1935, por ocasião da
grande Exposição do Centenário da Revolução Far-
roupilha, que então se organizava no Parque da Re-
denção, no Bairro Bonfim. O movimento procurava
combinar a emulação da modernidade e da indús-
tria com a valorização do regionalismo. Porto Ale-
gre, então, na esteira da Revolução de 1930, torna-
ra-se cidade muito influente politicamente em nível
nacional. Ao mesmo tempo em que Getúlio Vargas
projetava o retrato do gaúcho e apostava na cen-
tralização, no Estado, José Antônio Flores da Cunha
liderava a afirmação da autonomia regional, duas
forças que acabaram se chocando em 1937.
De qualquer forma, ao lado da exposição feé-
rica, que explicitava o impacto da eletricidade na
vida urbana, sete anos depois da inauguração da
usina termoelétrica da Volta do Gasômetro, e do
estilo art déco dos pavilhões e das esplanadas, a
invocação do regionalismo se consubstanciava no
bronze de cerca de 1,8 tonelada O Gaúcho Orien-
tal, presente da República do Uruguai. A estátua de
Federico Escalada representa, em tamanho natural,
um peão paramentado com guaiaca, botas, chiripá,
camisa, lenço, boleadeiras e pequeno chapéu com
barbicacho ao estilo uruguaio. Em Montevidéu, um
irmão gêmeo dessa estátua é batizado de Peão de
Estância.
Além disso, o escultor pelotense Antonio Ca-
ringi, que fizera sua formação na Europa, inaugura-
va a imponente estátua equestre do General Bento
Gonçalves, em uniforme militar. Abeberava-se, en-
tão, da gesta farroupilha e do “decênio heroico”, o
pioneirismo republicano, o irredentismo, a ênfase
autonomista e uma perspectiva da estética campei-
ra novecentista.
Atento ao apelo popular, Flores da Cunha, ele
mesmo homem da fronteira e da Campanha, ani-
mou as celebrações do Centenário com uma gran-
de churrascada ao ar livre promovida no Parque. O
evento foi considerado introdutor da iguaria cam-
peira na Capital e precursor das churrascarias que
deliciam porto-alegrenses e visitantes até os dias
de hoje, já que o churrasco, até então, não era um
prato servido na cidade.
Esse contexto peculiar permitiu que o regiona-
lismo vivificasse numa cidade que se aburguesava e
se urbanizava. Em 1947, um grupo de jovens secun-
daristas do Colégio Julio de Castilhos deu início ao
movimento que mais tarde ficou conhecido como
Nativismo ou Tradicionalismo, desencadeando-o
Monumento a Bento
Gonçalves, de Caringi.
Peões Laçando Gado, pintura de Pedro Weingärtner.
wikipédia
www.jornaldocomercio.com
18 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural
com uma cavalgada em trajes campesinos pelas
ruas da Capital. O grupo foi fundamental na des-
construção do tom pejorativo que então carregava
a palavra “gaúcho”, acompanhando movimento que
a literatura semeava desde José Hernandez e seu
Martin Fierro, de 1872. A pilcha, antes indicativo de
grossura, converteu-se em galardão. Até mesmo o
mate, em baixa entre os jovens urbanos, foi se tor-
nando um hábito cotidiano e atributo cultural. O
Movimento Tradicionalista sul-rio-grandense foi tão
exitoso que na segunda metade do século XX expor-
tou o conceito para outros estados da federação e
até para outros países.
A institucionalização da representação do
gaúcho avançou em 1951, com a contratação pelo
Governador Ernesto Dornelles (PTB) do italiano Aldo
Locatelli para produzir os novos 23 murais do Pa-
lácio (batizado Piratini em 1955, em alusão a uma
das capitais farroupilhas), sede do governo, em
arquitetura neoclássica, inaugurada em 1921. Com
excepcional qualidade plástica, Locatelli projeta
personagens grandiosos, glorificados e atemporais,
substituindo as cenas históricas feitas nos anos
1920 por, dentre outros, Augusto Luiz de Freitas:
Combate da Ponte da Azenha e A Chegada dos Pri-
meiros Açorianos.
Em 1954, por ocasião das comemorações do
IV Centenário da Cidade de São Paulo, o governa-
dor Ernesto Dornelles promoveu um concurso para
a escolha de uma estátua que traduzisse o espírito
regional, a fim de ser erguida naquela cidade. Parti-
ciparam do certame Antonio Caringi, Vasco Prado e
Fernando Corona, que apresentaram maquetes com
diferentes motivos em torno de personagens cam-
pestres: Peão de Estância, Gaúcho Farrapo, Postei-
ro, Bombeador e Boleador (Caringi submeteu três).
Cada versão promovia uma representação diversa
da figura do homem do interior. O projeto classifi-
cado em segundo lugar, de Vasco Prado, apresenta-
va um rapaz de peito nu, feições indiáticas, vestido
com chiripá, portando boleadeira e firmando lança.
A proposta vitoriosa de Caringi, originalmente
concebida como boleador, foi adaptada para um la-
çador, pois se entendeu que o laço era então mais
Aldo Locatelli produziu murais no
Palácio Piratini e no Aeroporto (acima).
usado nas estâncias do que a vetusta boleadeira,
ferramenta mais típica do século XIX. O folclorista
J. C. Paixão Côrtes, um dos entusiastas do movimen-
to de 1947 e jurado do concurso, teria convencido
Caringi a adaptar o projeto, a fim de que dialogas-
se mais com a imagem do campeiro que se tinha
no presente. O Laçador foi assim vestido com um
tirador (avental de couro curtido e sovado que pro-
tege a coxa do gaúcho no momento da sujeição do
animal laçado), laço de 14 braças e quatro tentos
(embora o laço comum fosse bem menor), guaiaca,
bombacha (indumentária também introduzida mais
recentemente), lenço, camisa com gola e mangas
dobradas, botas rústicas a meio pé (aparecendo os
dedos) e vincha sobre a testa para conter a abasta-
da e rebelde cabeleira. A pose e a indumentária ce-
lebrizaram a imagem – menos antropológica, mais
europeizada e próxima à estética dos anos 1950 –
que se popularizou do gaúcho.
Uma versão em gesso do monumento, já no
tamanho final, foi exposta no Parque do Ibirapuera
em 1954, no pavilhão do Rio Grande do Sul, duran-
te a exposição do IV Centenário de São Paulo. Em
paralelo, um movimento se encorpava para que a
estátua fosse erguida em Porto Alegre. O Prefeito
Leonel Brizola (PTB), sensível às evocações de figu-
ras populares e sintonizado com o movimento de
institucionalização do gaúcho agitado pelo gover-
nador Ernesto Dornelles, encampou o apelo que se
avolumava pela imprensa. Fundida no atelier Rebe-
latto em São Paulo, a estátua de 4,45 m e cerca de
3 toneladas foi trazida de caminhão por estradas
sinuosas e mal pavimentadas numa viagem que
durou 10 dias. Foi inaugurada oficialmente em 20
de setembro de 1958, data em que se comemora a
www.jfrs.jus.br
Restauração do monumento O Laçador 19
efeméride Farroupilha, na confluência da Avenida
Farrapos com a BR-116, em local conhecido como
Largo do Bombeador1
.
A Avenida Farrapos foi construída pelo Prefei-
to Loureiro da Silva entre 1939 e 1940. A nova via,
com 30 metros de largura e extensão de 5,5 Km, co-
necta o Centro Histórico à Zona Norte e ao Aeropor-
to Salgado Filho (inaugurado em 1951), tendo emer-
gido como um grande monumento à modernidade,
uma celebração do automóvel, que então invadia
as cidades e se afirmava como poderoso objeto de
desejo. A Farrapos marcou o início de uma nova era
da Capital, pois se até então os principais acessos se
faziam por via lacustre ou pelo trem, agora os aviões
tinham seu templo, e as rodovias, que em alguns
anos cortariam o país de ponta a ponta, anuncia-
vam seu reinado. A Farrapos era, naquele momento,
definitivamente, um ponto de inflexão urbanística
em Porto Alegre e catalisadora de importantes ma-
nifestações artísticas. Em 1953, o pintor Aldo Loca-
A proposta de Caringi,
originalmente concebida como boleador,
foi adaptada para um laçador.
telli inaugurou um eloquente painel de 50 metros
quadrados no Aeroporto Salgado Filho, denomina-
do A Conquista do Espaço. Um expressivo conjunto
art déco se ergueu ao longo da avenida, que, antes
da inauguração do Autódromo de Tarumã, em 1970,
chegou a acolher edições do Grande Prêmio de Au-
tomobilismo da Cidade de Porto Alegre.
O Largo do Bombeador foi consagrado, no fi-
nal dessa imponente radial, em posição estratégi-
ca, para marcar o acesso à Capital. O nome vinha
do projeto de escultura de Marcos Bastos, que ven-
cera um concurso organizado durante a Exposição
Farroupilha de 1935 para expressar o modelo de
gaúcho. O termo vem do verbo regionalista “bom-
bear”, que significa vigiar, observar, espreitar. Na
imensidão do Pampa, a aproximação de amigos ou
inimigos era crucial para a tomada de cautelas.
Daí, a importância do homem a quem se atribuía
tal função. Alguém com boa visão poderia obser-
var de longe movimentação de piquete montado,
1. Com o passar do tempo, o Largo do Bombeador passou a se
chamar Largo do Bombeiro, que, na linguagem regional, tem
significado similar, mas que todo mundo atualmente entende
como o bombeiro que apaga incêndio ou o encanador.
20 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural
de manadas de equinos ou de tropa vacum. Bastos
propunha assim uma estátua equestre que fazia de
certo modo o contraponto à de Bento Gonçalves,
pois se esta estampava o oficial e líder engalana-
do, a outra o atento peão lanceiro. Como muitos
outros planos de estatutária pública, o Bombeador
não foi adiante, em razão da indisponibilidade de
verbas. Dezesseis anos mais tarde, Brizola abraçou
O Laçador e o instalou no local previsto para o Bom-
beador – que chegou a ser também o nome dado
por Caringi a uma de suas maquetes. Dessa forma,
o gaúcho que estava a cavalo ficou a pé, metáfora
que nos remete à obra de Cyro Martins, cuja trilogia
central desenha o homem pampeiro marginalizado
pela ordem econômica e cultural gerada pelo fluxo
da industrialização e da concentração urbana.
O Laçador catapultou a campanha vitoriosa
de Leonel Brizola ao governo estadual, marcando
a sua carreira; sacramentou a consagração de Ca-
ringi como o maior escultor de obras públicas do
Rio Grande do Sul e gravou em bronze o nome do
folclorista Paixão Côrtes. Em 1992, a Câmara Muni-
cipal aprovou o projeto do Vereador Nereu D’Ávila
(PDT) reconhecendo a estátua como símbolo de Por-
to Alegre, em movimento que chancelava resultado
de enquete promovida no ano anterior pelo Grupo
RBS. No ano seguinte, o monumento passou pelo
primeiro restauro, a cargo de Jair Torelly Mâncio.
Em 2001, foi inscrito no Livro Tombo do Município.
Em 2008, veio tombamento estadual.
Porém, mais do que um distintivo da Capital,
O Laçador, postado na sua entrada, saudando quem
chega e despedindo-se de quem parte, dialoga com
a alma do interiorano que a visita ou a habita. O
Laçador tornou-se um ponto de referência, o local
de início ou término da viagem. Numa cidade que,
entre os anos 1940 e 1970, cresceu a passos largos
com as populações imigradas do interior, o ícone
carrega pungente potencial afetivo.
Depois de 49 anos no Largo do Bombeador,
a estátua foi transferida, em 11 de março de 2007,
para o Sítio do Laçador, situado a 600 metros do
local original. A corrente morada é um espaço de
4 mil m2
na Avenida dos Estados, em frente ao Ter-
minal 2 do Aeroporto Salgado Filho. A remoção foi
motivada pelo plano de desenvolvimento rodoviá-
rio, que contemplou a construção do Viaduto Leonel
Brizola, propiciador de acesso mais ágil à BR-290
(Free Way). Por certa ironia do destino, Brizola, que
fixou O Laçador na Avenida Farrapos, foi reverencia-
do no batismo do viaduto que o deslocou de lá.
O investimento na construção do sítio, envol-
vendo várias equipes da Prefeitura, montou na épo-
ca a um milhão de reais e valorizou o tradiciona-
lismo. O Laçador foi acomodado sobre uma coxilha
e sobre um pedestal de dois metros, que melhorou
sua visibilidade à distância e o protegeu do intenso
fluxo de veículos do entorno, que passou a caracte-
rizar a região, sobretudo a partir dos anos 1980. O
Recanto da Tradição, ao lado, é um preito ao Grupo
A flor brinco-de-princesa e a erva-mate: símbolos do Rio Grande do Sul.
Fotos:
Acervo
Voz
Cultural
Restauração do monumento O Laçador 21
dos Oito, o qual, liderado por Paixão Côrtes, promo-
veu a cavalgada que suscitou o nascimento do Mo-
vimento Tradicionalista, em 1947. Oito belos jerivás
(típica palmeira campestre) dispostos retilineamen-
te se remetem aos membros, relacionados em uma
placa. O Largo dos Gaúchos pode acolher atividades
de lazer e é colorido por uma rosa dos ventos ela-
borada com pedras portuguesas. Ao lado se ergue
uma plataforma cívica de 70m2
, com espaço para
hasteamento de bandeiras e para acendimento da
Chama Crioula. O ajardinamento original previu que
o local seria embelezado por brincos-de-princesa,
flor-símbolo do Rio Grande do Sul, bem como um pé
de erva-mate.
Apesar de saudada por tradicionalistas, a mu-
dança não agradou a todos. Houve quem lamentas-
se a perda do ponto de referência afetivo na Ave-
nida Farrapos e considerasse que O Laçador tenha
sido distanciado de seus admiradores. Em adição,
com o tempo, o local foi se revelando pouco hos-
pitaleiro ao público. Em 2019, sob coordenação de
José Francisco Alves, professor do Atelier Livre da
Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre, um
andaime para selfies aproximou o público da está-
tua, com grande repercussão. Novamente foi pos-
sível constatar o amor da população pela imagem.
Passados cerca de dez anos da mudança, ve-
rificou-se a necessidade de restauro da escultura,
que apresentou, em diagnóstico técnico, fissuras
internas. Além disso, o sítio como um todo reclama-
va revitalização. Uma parceria entre o Sinduscon –
que vem contribuindo sobremaneira no restauro de
muitos monumentos da cidade – e a Prefeitura, sob
os auspícios da Lei Estadual de Incentivo à Cultura,
tem permitido este encaminhamento. A estátua foi
magnificamente recuperada e o sítio começa a re-
ceber novo tratamento.
O Laçador transcende sua condição específica
de obra de arte e de monumento tombado. É um
emblema vivo para a população que condensa a
união entre a Capital e o interior. É a expressão de
uma visão urbanística e de desenvolvimento econô-
mico concebida e embalada entre meados dos anos
1930 e fim dos anos 1940. Ele coroava o moderno
e progressista boulevard da Farrapos, invocando o
homem do campo, de modo a procurar conciliar mo-
dernidade e tradição, progresso industrial e aden-
samento urbano com o espírito rural. Sua presen-
ça no local dialogava com o painel de Locatelli no
aeroporto, que escrutina a conquista do espaço e
enaltece a aviação, também por meio da excelência
artística de primeira grandeza, assim como com os
painéis do mesmo artista no Palácio Piratini. Cober-
to de reconhecimentos, impregnado de qualidade,
envolto em afetividades, O Laçador, restaurado e
reposicionado num sítio revitalizado, pode, agora,
também, se converter em símbolo do renascimento
do Quarto Distrito, que tem na Avenida Farrapos,
hoje desolada e degradada, sua principal artéria.
Muito a propósito, a Prefeitura gesta um amplo pla-
no de incentivo à reurbanização da região, que pode
servir de farol a guiar futuras parcerias em prol do
engrandecimento da cidade.
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SÍMBOLO da Tradição. Tendo Paixão Côrtes como
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públicos de Antonio Caringi em Pelotas, RS: entre
práticas, representações e consumo, Patrimônio
e Memória, Assis, v. 15, n. 2, p. 575-596, julho-
dezembro de 2019.
Em tempo
Agradeço aos servidores da Secretaria Municipal
de Cultura, em especial da Diretoria de Patrimô-
nio e Memória, com destaque à Manuela Franco
Lopes da Costa, que se dedicaram ao sucesso
do projeto. Registro meu agradecimento tam-
bém aos colegas de Prefeitura que colaboraram
em diversas frentes, em especial o engenheiro
Marcos Caberlon, a diretora Melissa Custódio
e os secretários Cezar Schirmer (Planejamen-
to), Marcos Garcia (Serviços Urbanos), Germano
Bremm (Meio Ambiente) e Ana Pellini (Parce-
rias), bem como suas equipes. Meu reconheci-
mento aos responsáveis pelo projeto pelo Sin-
duscon com os quais interagimos, o engenheiro
Zalmir Schwartzmann, a arquiteta Veronica de
Benedetti e o produtor e historiador Vitor Ortiz.
Agradeço pelos comentários a este texto feitos
pelos amigos e colegas Nelson Boeira, Paulo
Amaral, José Francisco Alves, Fábio Vergara Cer-
queira, Corálio Bragança Pardo Cabeda e Lídia
Fabrício.
Restauração do monumento O Laçador 23
A iniciativa desse projeto amplo, que vem sen-
do desenvolvido há mais de 6 anos, surgiu de um
pedido de socorro da sociedade para que o Sindus-
con – Sindicato da Construção Civil do RS – contribuí-
sse com sua expertise e capacidade de mobilização
para o restauro do Monumento do Expedicionário,
na Redenção, em 2014. Ação realizada com recursos
próprios e de patrocinadores, sem gerar despesa
para o erário público.
Em 2016, dando sequência à proposta de revi-
talização dos monumentos do Parque Farroupilha,
novamente com patrocinadores do setor privado,
mas contando já com os benefícios da Lei Estadual
13.490/2010, que estabelece o Pró-cultura – progra-
ma de incentivo à realização de projetos e ativida-
des culturais – foi realizada então a segunda etapa
do programa Construção Cultural – Resgate do Pa-
trimônio Histórico, com ênfase para o traslado da
estátua do Gaúcho Oriental, anteriormente locali-
zada abaixo do Viaduto Imperatriz Dona Leopoldi-
na, transferido então para o centro da Redenção,
junto ao chafariz e próximo ao espelho d'água, onde
o monumento ganhou visibilidade e a comunidade
ganhou acesso à cultura e ao conhecimento histó-
rico.
Em 2017, diante de um pedido do então Coorde-
nador da Memória Cultural da Secretaria Municipal
da Cultura, Luiz Antônio Custódio, o Sinduscon, atra-
vés da Associação Sul-Riograndense da Construção
Civil, estruturou o projeto de prospecções técnicas
PROJETO CONSTRUÇÃO CULTURAL
Sua relevância para a cidade
Monumento do Expedicionário, Parque da Redenção. Monumento ao Gaúcho Oriental.
Zalmir Chwartzmann
Ex-Presidente do Sinduscon-RS e
Coordenador do Projeto Construção Cultural
Caderno
de
Restauro
Chafariz
Imperial
Caderno
de
Restauro
Chafariz
Imperial
24 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural
para análise das condições estruturais e do estado
de conservação da estátua O Laçador. Para tanto,
foi convidado o especialista francês Antoine Amar-
ger, o mesmo que coordenou os trabalhos técnicos
de intervenção para o restauro do Monumento aos
Bandeirantes, em São Paulo.
Em 2019, chegou a vez da revitalização do Cha-
fariz Imperial, outra vez com a participação da Pre-
feitura e financiamento do sistema Pró-cultura da
Secretaria Estadual de Cultura do Rio Grande do Sul.
O chafariz integrou o conjunto das primeiras fontes
de abastecimento de água da cidade, implantadas
ainda no século XIX, e posteriormente realocada na
Praça São Sebastião e depois na Redenção, ao lado
do Auditório Araújo Vianna.
Em 2021, após a primeira fase do contexto de
pandemia, foi possível a retomada do projeto de res-
tauro da estátua O Laçador, uma operação realizada
com todo o cuidado e baseada nos laudos e análises
técnicas produzidos nos estudos de 2017, que contou
inclusive com um laudo do LAMEF (Laboratório de
Metalurgia Física da UFRGS). A ação mobilizou uma
equipe com diversos profissionais das áreas cultu-
ral, técnica e de engenharia, a fim de executar um
trabalho de excelência, à altura da simbologia do
monumento e de tudo o que a estátua O Laçador
representa para os gaúchos e gaúchas.
Ainda durante a realização o restauro de O
Laçador, a equipe de coordenação do projeto Cons-
trução Cultural obteve a aprovação junto ao Pró-
-cultura de uma outra iniciativa cultural de gran-
de relevância, que será também patrocinada pelas
empresas parceiras: a realização de um audiovisual
que documenta todos os momentos do processo de
restauro, tanto do ponto de vista técnico quanto de
pesquisa histórica, e que deverá ser finalizado ain-
da em 2022 e lançado no final deste ano.
Finalizada a mais importante missão desde o
seu surgimento, em 2014, o projeto Construção Cul-
tural se prepara agora para novas realizações que
possam beneficiar a sociedade e trazer para todos os
cidadãos os benefícios da preservação do patrimônio
histórico comum, seguindo com seu foco nos espa-
ços públicos e urbanos que demandam cuidados e
investimentos tanto de parte do poder público quan-
to de parte das empresas e dos empreendedores.
Chafariz Imperial, no Recanto Europeu, Parque da Redenção.
Caderno
de
Restauro
Chafariz
Imperial
Restauração do monumento O Laçador 25
26 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural
CENTRO DE PORTO ALEGRE
A
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N
I
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E
S
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A
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AEROPORTO
SALGADO FILHO
TERMINAIS
1 E 2
ESTACIONAMENTO
ROSA DOS
VENTOS
MONUMENTO O LAÇADOR
LINHA DO TRENSURB
A localização
BR 116
Sítio do monumento O Laçador, próximo
aos terminais 1 e 2 do Aeroporto Salgado Filho.
LIGAÇÃO DO
AEROMÓVEL AO
AEROPORTO
28 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural
Restauração do monumento O Laçador 29
30 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural
Restauração do monumento O Laçador 31
Em 2017, a fim de verificar as condições da
estátua O Laçador, a pedido da Coordenação da Me-
mória da Secretaria Municipal da Cultura, em ou-
tro projeto viabilizado pelo sistema Pró-Cultura, a
Associação Sul-Riograndense da Construção Civil e
o Sinduscon contrataram os especialistas Virgínia
Costa (engenheira metalúrgica e PhD em Ciência
dos Materiais pela Technische Universitat Berlin e
professora aposentada do Departamento de Mate-
riais da UFRGS) e Antoine Amarger (restaurador de
obras de arte, especialista em esculturas metálicas,
diplomado pela École Boulle, em 1977; pela École
National dês Arts Décoratifs, em 1980; pelo Institut
de Formation des Restaurateurs d’Oeuvres d’Art, em
1989, e responsável técnico pelo restauro do Monu-
mento dos Bandeirantes, em São Paulo).
Esse trabalho resultou em dois estudos, um
dos prospectores e outro do LAMEF/UFRGS (Labora-
tório de Metalurgia Física). Esse material foi a base
para a organização do projeto atual O relatório dos
especialistas Virgínia Costa e Antoine Amarger leia
a seguir.
Além desses relatórios, a experiência oportu-
nizou a um grupo de estudantes interessados em
especializar-se no restauro de obras de arte com
metal uma série de encontros presenciais no Atelier
Livre da Prefeitura de Porto Alegre e no próprio sí-
tio da estátua juntamente com os especialistas. Um
desses alunos é o engenheiro Ricardo Jaekel, que
integrou a equipe de especialistas da restauração
realizada recentemente.
A base para a realização do projeto de restauro
Na página ao lado, registros realizados
com estudantes nas prospecções da
estátua O Laçador durante oficina
paralela no Atelier Livre da Prefeitura.
1. ESTUDO PRELIMINAR
E PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
Dados históricos
No que diz respeito ao patrimônio cultural,
infelizmente, em regra geral, não existe documen-
tação que registre a história da obra desde sua
execução até o presente. O caso do monumento O
Laçador não foge à regra. O único texto encontrado
nos documentos da Prefeitura de Porto Alegre1
não
cita referências e é bastante vago, indicando que a
escultura mede 4m45cm e pesa 3,8 toneladas.
Entre os documentos fotográficos disponibili-
zados2
se encontram alguns mostrando o modelo
original em gesso (Fig. 1) bem como a escultura em
metal em sua localização inicial, na extremidade da
avenida Farrapos (Fig. 2). Nas fotografias se pode
ver que o monumento sofreu choques e já possuía
uma janela na parte traseira antes de ser transferi-
do para o local atual (Fig. 3 e 4). Material da impren-
sa também testemunha ocorrências de vandalismo
e manifestações diversas (Fig. 5, 6, 7).
Em 2007, por ocasião da transferência do mo-
numento para o local próximo ao aeroporto, uma
série de fotografias relata a mudança2
(Fig. 8 a 12).
Elas mostram detalhes importantes, como o cuida-
do para remover a escultura com auxílio de uma
estrutura temporária de sustentação (e não sim-
plesmente diretamente no metal, o que poderia
causar fissuras ou ruptura), a existência de placas
metálicas na base da escultura, assim como a pre-
1 http://lproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/smc/usu_doc/
historico_estatua_do_lacador_1.pdf
2 arquivo J.F. Alves
Virgínia Costa
Engenheira metalúrgica
Antoine Amarger
Restaurador
32 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural
sença de armaduras/pinos metálicos de fixação na
antiga base, que foram desbastados e cortados com
maçarico. O transporte até o local atual também foi
documentado (Fig. 8 a 12).
1. Modelo em gesso.
3. Acidente.
4. Parte traseira, janela.
5. Vandalismo. 6. Intervenção.
7. Demonstração.
2. Localização inicial.
Restauração do monumento O Laçador 33
2. ESTUDO PRELIMINAR
Aspecto geral do monumento
e detalhes técnicos
Por ocasião do atelier-escola, realiza-
do em março de 2017, foi possível fazer um
exame detalhado do monumento. Naque-
la ocasião foram montados andaimes que
permitiram o acesso direto a todas as par-
tes. Inscritos na base de bronze, pode-se ler
o nome do autor, A. Caringi, junto a
data de realização, 1954, bem como o
nome da fundição, J. Rebellato (Fig.
14). Em relação à repartição de solici-
tações mecânicas, fica claro que todo
o conjunto está apoiado sobre a per-
na direita da escultura.
8. Levantamento com grua. 9. Detalhe da parte inferior.
10. Transporte e cortejo tradicional.
11. Preparação do novo local. 12. Colocação no novo local.
25 Base em bronze
13. Base em bronze.
14. Fundição Rebellato.
34 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural
O exame detalhado da superfície do monu-
mento revelou que ele foi realizado pela união de
diversas partes fundidas separadamente, apresen-
tando claras linhas de soldagem, com porosidade
evidente.
Foram observadas três aberturas (janelas) já
existentes: duas delas na base em bronze, atrás de
cada uma das pernas. Elas estavam abertas e se
observava o fundo preenchido com concreto e um
pino rosqueado sobressaindo. A terceira janela se
situava também na parte traseira, mas na altura da
vestimenta. Examinando de perto foi possível ob-
servar as saliências produzidas pela solda realizada
por maçarico com acréscimo de material.
Exame visual para a localização
de patologias
A superfície da escultura tinha um aspecto
bastante heterogêneo. Em alguns locais havia vestí-
gios de tintas preta (Fig. 15) e acinzentada. Também
eram visíveis regiões com manchas de ferrugem,
neste caso provenientes da corrosão da liga ferrosa
utilizada no laço (Fig. 16 a 18). Em alguns locais se
observou infestação de insetos e em outros, como
no olho, colonização vegetal (Fig. 19 e 20).
Além desses aspectos superficiais, um exame
mais detalhado da região das pernas, importante
elemento de sustentação do monumento, apontou
diversos problemas. Na perna esquerda havia evi-
dência de solda grosseira, fissuras e produtos de
corrosão verde-claros logo abaixo da vestimenta,
15. Vestígios de tinta preta e
depósitos superficiais.
16. Produto de corrosão
(ferrugem) do laço, escorrendo
sobre a escultura.
17. Ferrugem do laço,
escorrendo sobre a base.
18. Ferrugem do laço e fixação
sobre os dedos da mão direita.
19. Colônia de
vegetais no olho.
20. Detalhe.
Restauração do monumento O Laçador 35
Para um exame do interior aproveitou-se a ja-
nela existente na parte traseira da escultura, que
foi removida em duas etapas. A primeira consistiu
em fazer um orifício com rosca no centro da janela,
de forma a prendê-la para que não caísse no inte-
rior do monumento quando da abertura. A segunda
etapa foi a abertura da periferia, seguindo as linhas
de solda, com auxilio de serra adaga. Ao final da
inspeção do interior da obra, abas de fixação foram
soldadas na janela e esta foi recolocada no local.
A inspeção do interior mostrou que as duas
pernas estavam quase que completamente preen-
chidas com concreto, sobre o qual havia água es-
tagnada. No centro de cada perna havia um perfil
em liga ferrosa, dobrado na extremidade e quase
21. Fissuras no entorno da janela da vestimenta.
22. Perfurações nos dedos.
24. Detalhe da fixação.
23. Laço na época.
25. Escoamento de água.
além de grande número de fissuras), lacunas e eflo-
rescências esbranquiçadas, provavelmente restos
do núcleo utilizado durante a fundição. Os mesmos
tipos de problemas foram detectados na perna di-
reita, que é a maior sustentação do conjunto: sol-
da grosseira, fissuras, poros e produtos de corrosão
verde-claros.
Essas patologias foram observadas ao longo
de todo o monumento, podendo-se destacar alguns
locais como o queixo, a nuca e o braço esquerdo, a
parte baixa da vestimenta, o contorno da janela na
traseira da vestimenta (Fig. 21), a cabeça, próximo
à orelha direita. Além disso também verificou-se a
existência de furos nos dedos onde foi preso o laço
(Fig. 22).
Um elemento acessório, o laço com detalhes
desenhados, que parece já ter sido substituído di-
versas vezes (Fig. 23), aparece preso à mão direita
(Fig. 23 a 25), amarrado com um arame. Essa peça
apresenta muitos pontos de ferrugem, localizados
principalmente em regiões onde um provável reves-
timento superficial tenha sido removido.
36 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural
inteiramente incluído no concreto, sendo que na
perna direita, com maior acumulo de água, o perfil
havia rompido por corrosão. O acesso também per-
mitiu uma inspeção da parte superior da escultura.
A superfície interna apresentava o aspecto carac-
terístico de bronze fundido pelo processo de cera
perdida em diversos elementos, sendo possível ver
as linhas salientes que correspondem às soldas que
os unem. Próximo à extremidade superior pôde se
ver uma seção retangular que define a junção entre
a cabeça e o corpo.
Composição
e estrutura dos materiais
Durante a inspeção visual fo-
ram selecionados diversos locais
para proceder a uma análise ele-
mentar qualitativa utilizando um
aparelho portátil de fluorescência
de raios-X (FRX). As regiões foram
escolhidas por apresentar certas
peculiaridades, como a área acin-
zentada no topo da cabeça, a solda
próximo à fivela do cinto e na mon-
tagem traseira, o laço para confir-
mar liga ferrosa e verificar presença
de revestimento, o parafuso fixado
no concreto da janela da base ou
a parte inferior da vestimenta. A
análise foi realizada para verificar
os elementos presentes em cada
um desses locais, oferecendo assim
uma indicação do tipo de liga utili-
zado, sua homogeneidade, presença
de reparos, soldas, etc.
Todas as áreas analisadas da
escultura acusaram a presença dos
elementos cobre (majoritário), esta-
nho, zinco e chumbo. Além destes,
em diversos locais foi detectada a
presença dos elementos alumínio,
ferro e silício. Estes últimos nor-
malmente não participam das ligas
de cobre, mas podem se apresentar
como impureza. No caso do ferro, em muito pe-
quena quantidade. O silício, também em pequena
quantidade, pode ser atribuído a partículas do ar
(areia, etc) aderidas na superfície, enquanto que o
elemento alumínio é encontrado em alta proporção
em algumas regiões, como nas soldas ou na parte
inferior da vestimenta, o que poderia ser atribuído
a algum tratamento de superfície anterior, realiza-
do, por exemplo, com produto à base de alumínio.
As análises realizadas no laço confirmaram
que se tratava de liga ferrosa e, além do elemen-
to ferro (majoritário) indicaram a presença de ti-
tânio, cobre e níquel em pequenas proporções em
certos locais. O titânio poderia ser associado a um
pigmento utilizado para proteger a liga ferrosa, en-
26/27/28. Amostra retirada da janela e sua localização antes e depois da remoção.
29/30/31. Amostra retirada do interior e sua localização antes e depois da remoção.
32/33/34. Amostra retirada da espora e sua localização antes e depois da remoção.
Restauração do monumento O Laçador 37
quanto que cobre e níquel indicam resquícios de um
tratamento de superfície anterior.
Também foi realizada amostragem de material
em três locais do monumento, para que se pudesse
proceder a um exame da estrutura e assim obter
informações precisas e complementares à análise
qualitativa realizada com FRX no local. As regiões
selecionadas foram as seguintes: lateral da janela
(Fig. 26 a 28), interior da estátua (Fig. 29 a 31) e ex-
tremidade da espora (Fig. 32 a 34).
Os ensaios foram realizados pelo LAMEF/UFR-
GS e são relatados detalhadamente no relatório
correspondente. Os resultados indicaram uniformi-
dade na fundição da liga, pois tanto a composição
química quanto a estrutura micrográfica são simila-
res nos três locais.
A composição química foi determi-
nada por espectrometria de dispersão de
energia (EDS/MEV) e indicou para as três
amostras a presença de cobre (78-84%),
zinco (7-9%), estanho (1,8-3%) e chumbo
(5-6%). Por outro lado, a análise realiza-
da na região da solda da janela indicou
uma liga diferente, composta por cobre
(60%) e zinco (37%).
O exame micrográfico evidenciou
uma estrutura bruta de fusão com for-
mação dendrítica de fase primária, fases
globulares, precipitados interdendríticos
e microrechupes (Fig. 35 a 39). A análise
local feita por EDS/MEV mostrou como
os elementos estão repartidos nas dife-
rentes fases: as dendríticas são compos-
tas principalmente de Cu e Sn, enquanto
as fases dispersas apresentam, adiciio-
nalmente, os elementos Zn, Pb e S e os
glóbulos dispersos são constituídos ex-
clusivamente por Pb. Os ensaios de du-
reza também indicaram dureza similar
para as três amostras, variando entre 85
e 103 HV para o metal base na janela,
espora e região interna, respectivamen-
te. A dureza média medida na região da
solda foi de 119 HV.
35. Amostra retirada da janela mostrando a região da solda porosa sobre o substrato.
36. Estrutura de solda de 1997.
38. Estrutura da amostra do interior. 39. Estrutura da amostra da espora.
37. Estrutura do substrato de 1997.
Estado de conservação
O exame visual detalhado permite concluir
que os problemas para a conservação da obra são
diversos e de natureza variada.
Alguns defeitos ou irregularidades, como sol-
da porosa e algumas fissuras talvez originadas por
variações térmicas, parecem ter sido originados
durante realização da escultura. Além de consis-
tir áreas de fragilidade devido à descontinuidade
material localizada, estes defeitos propiciam a pe-
netração de água da chuva e pequenas partículas
no interior do monumento, fato que, aliado à insu-
ficiência de escoamento do conjunto, acelera sua
deterioração.
38 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural
Outro problema detectado foi a falta de manu-
tenção periódica da superfície da obra, comprova-
da pela presença de depósitos, colonização vegetal
e infestação de insetos em regiões protegidas da
chuva. A manutenção periódica é fundamental para
a conservação do acabamento superficial, seja ele
pátina ou pintura, pois permite que ações preventi-
vas sejam tomadas no caso de desgaste ou defeito
localizado do revestimento, antes que o dano che-
gue ao bronze da escultura.
Enfim, também foram verificados problemas
de projeto, como a fixação da escultura na base e
o escoamento insuficiente da água pela parte infe-
rior do monumento. O fato de as pernas da escul-
tura terem sido preenchidas com
concreto, não se sabe bem em que
momento, criou condições perma-
nentes de estagnação de água,
que buscou então sair pelos pe-
quenos orifícios de poros e fissu-
ras. Esse fato deve ter contribuído
de forma decisiva para o agrava-
mento das fissuras das pernas,
que se encontravam recobertas de
produtos de corrosão verde-claros,
indicando uma certa atividade
química naqueles locais. Em cer-
tas regiões das pernas, como os
tornozelos, as fissuras chegavam
a atingir aproximadamente 1/4 da
circunferência, tornando-se uma
ameaça para a estabilidade do
monumento (Fig. 40).
3. PROPOSTA
DE INTERVENÇAO
Para sanar os graves problemas estruturais
será necessário remover o concreto e tijolos que
preenchem a base da escultura. Isso poderá ser
feito após o desmonte da estátua do pedestal, por
meio da remoção da parte superior do mesmo, onde
ela se encontra fixada (como foi feito há 10 anos
para mudança de local). A seguir a estátua deve ser
transportada, preferencialmente deitada, até um
local adequado para realização das intervenções.
Este local deve dispor de água, eletricidade, mate-
rial para solda e outras ferramentas.
40. Estado de conservação das pernas do monumento.
Restauração do monumento O Laçador 39
A primeira etapa consistirá no esvaziamento
progressivo do material que preenche as pernas,
com o auxílio de uma furadeira, liberando o aces-
so para as demais intervenções. Para compensar os
defeitos de fabricação e outras alterações, particu-
larmente na região das pernas, que sustentam o
conjunto, será necessário refazer as soldas indivi-
dualmente pelo interior e depois fazer o acabamen-
to pelo exterior.
Também será necessário realizar uma armadu-
ra interna de aço inoxidável, que possa reforçar a
base de bronze, as duas pernas e talvez uma parte
do corpo, de forma que as solicitações mecânicas
associadas à exposição à intempérie (em particu-
lar rajadas de vento), sejam exercidas sobre esta
estrutura, e não mais sobre o “envelope de bron-
ze”. Somente após a remoção do preenchimento de
concreto será possível avaliar o volume disponível
no interior das duas pernas e assim definir a geo-
metria mais adequada dessa estrutura interna, que
deve integrar um modo de fixação reversível sobre
o pedestal em concreto. Para definir a geometria
mais adequada seria interessante poder contar com
o auxilio de um profissional especializado no as-
sunto.
No que diz respeito ao laço, deve-se buscar
uma solução técnica de substituição para o atual,
visando um aspecto compatível com a estátua (tal-
vez aço inoxidável com pátina cor bronze) e um sis-
tema de fixação que minimize o risco de roubo ou
vandalismo.
Enfim, todas estas intervenções para adequa-
ção estrutural, mesmo se realizadas pelo interior da
estátua, acarretarão alterações localizadas em seu
aspecto exterior. Por essa razão, a etapa final da
intervenção consistirá não apenas em tratamento
de limpeza para remoção de depósitos, fungos, etc,
mas deverá ser finalizada por aplicação de pátina
química completa, a fim de restaurar a integridade
visual da obra.
Restauração do monumento O Laçador 41
O monumento O Laçador, obra de Antonio Ca-
ringi – o escultor dos pampas – possui uma identi-
dade muito forte perante os gaúchos.
Símbolo máximo do tradicionalismo local, o
monumento erigido em bronze em 1958 encontra-se
instalado no Sítio do Laçador, localizado próximo ao
Aeroporto internacional Salgado Filho e à estação
de trem, na capital do Rio Grande do Sul, junto à
Avenida dos Estados.
Sua localização propicia àqueles que chegam
à cidade as boas-vindas. Com trajes que reveren-
ciam e informam a todos suas tradições, O Laçador
saúda a quem chega, como uma saudação do povo
gaúcho, este tão conhecido pela sua hospitalidade.
Como monumento público, O Laçador esteve
desde sempre exposto às intempéries, acelerando,
assim, os processos de degradação do seu material
constituinte.
ESTADO DE CONSERVAÇÃO
O monumento, ao logo dos seus 64 anos de
exposição às intempéries e ações de apropriação
indevida por parte da população, começou a apre-
sentar diversas patologias, comprometendo a sua
durabilidade.
Como toda matéria, o bronze também está
sujeito ao envelhecimento natural, como o desgas-
te da pátina, a perda da camada de proteção e, no
caso de O Laçador, ao estresse mecânico.
Patologias como fissuras, rachaduras, oxida-
ções, lixiviações, corrosão galvânica e sujidades
generalizadas foram apresentadas na inspeção rea-
lizada em 2017 pela engenheira metalúrgica Virgí-
nia Costa e o restaurador Antoine Amarger, após
análise visual e qualitativa do bronze.
O LAÇADOR
Representatividade de um povo
Essa inspeção formalizou diretrizes para as in-
tervenções conservativas realizadas aqui.
AGENTES DE DEGRADAÇÃO
Por estar localizado à beira de avenida de flu-
xo intenso e pesado, bem como vizinho ao aeropor-
to internacional, agentes como poluentes atmosfé-
ricos e movimentações mecânicas estão presentes
de maneira muito intensa e permanente no local.
Conservações preventivas e uma rotina de ins-
peções são necessárias para a preservação do mo-
numento.
POLUENTES ATMOSFÉRICOS
Em nossa atmosfera estão presentes diversos
compostos químicos, necessários à manutenção da
vida. No entanto, existem substâncias que por esta-
rem em alta quantidade neste ambiente tornam-se
inconvenientes, ocasionando diversos problemas
não só à saúde dos seres vivos, mas também no
tocante à preservação dos materiais. A essa alta
concentração de substâncias damos o nome de po-
luentes. Os poluentes são classificados em dois ti-
pos: primários e secundários.
Podemos chamar de poluentes primários aque-
les emitidos diretamente da fonte, e secundários, aos
primários que foram transformados através de rea-
ções químicas, por meio da interação de seus com-
postos químicos e elementos presentes na natureza.
De uma maneira geral, os poluentes são com-
postos de enxofre, de nitrogênio, orgânicos, metais
pesados, material particulado e oxidantes fotoquí-
micos, como formaldeído, entre outros.
Veronica Di Benedetti
Arquiteta responsável técnica pela restauração do Laçador
42 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural
Os compostos de enxofre, quando em contato
com a umidade e metais de transição, são conver-
tidos em ácido sulfúrico. Este tem a capacidade de
corroer as superfícies onde se deposita.
Os compostos de nitrogênio, ao reagirem
como o hidrogênio e o oxigênio presente na atmos-
fera reagem, transformando-se em ácido nítrico,
que corrói, entre tantos outros materiais, as ligas
de cobre, como por exemplo, o bronze.
O material particulado tem como principais
fontes emissoras os veículos automotores, os pro-
cessos industriais, a poeira suspensa no ar, entre
outros. Ao se depositarem sobre as superfícies do
monumento, reagem com a própria umidade do ar e
geram compostos de caráter destrutivo ao material.
Os materiais orgânicos, como o ácido acético
e os formaldeídos convertidos, como o ácido fórmi-
co, provocam corrosão de bronzes que contenham
chumbo.
Não obstante esses agentes patológicos, du-
rante a inspeção interna realizada em O Laçador
foi constatada a presença de concreto armado na
parte inferior do monumento, desde a sua base até
a altura da bombacha. A presença desse material
contribuiu para o aparecimento de rachaduras e fis-
suras nessa região. A presença de tal material rígi-
do na sua parte inferior trouxe várias implicações.
O cimento possui propriedades higroscópicas
devido a sua capilaridade, contribuindo assim para
uma maior dilatação do volume, gerando esforços
de dentro para fora do monumento. Essa incompa-
tibilidade entre os dois materiais gerou estresse do
bronze na região preenchida pelo concreto, ocasio-
nando inicialmente microfissuras, que evoluíram
para fissuras. Essas, por sua vez, evoluíram para ra-
chaduras, pois foram potencializadas pelo encontro
do sistema rígido presente nesta parte inferior do
monumento e as movimentações mecânicas decor-
rentes do entorno.
Por não apresentar estrutura interna, todas
as solicitações mecânicas do monumento estavam
sendo absorvidas pela “casca” de bronze, ou seja,
a escultura propriamente dita. Numa área em que
as trepidações decorrentes do intenso tráfego de
veículos automotores de grande porte e as reverbe-
Restauração do monumento O Laçador 43
rações oriundas dos pousos e decolagens dos avi-
ões, somados ao fluxo da linha de trem próximo ao
Monumento geraram o estresse do material, poten-
cializando as fissuras e as rachaduras.
O sistema criado por uma base rígida, movi-
mentações mecânicas constantes em um monu-
mento de quase 5 metros de altura sem estrutura
interna ocasionou danos na parte superior da obra.
O concreto ali colocado e a falta de estrutura
interna contribuíram também para o aparecimento
de rachaduras e fissuras na cabeça da figura de O
Laçador, sendo esta região a segunda com maior
incidência destas patologias.
Outro ponto a ser destacado foi a corrosão pon-
tual na região em que foi instalado um laço substi-
tuto ao original. Devido ao material com o qual foi
constituído o laço substituto possuir a presença de
ferro em sua composição, o mesmo gerou compostos
prejudiciais à conservação do bronze, mais precisa-
mente no pé localizado sob o laço trocado.
AÇÕES DE CONSERVAÇÃO
Constatados e identificados os agentes pa-
tológicos causadores dos danos à conservação da
obra, foram definidas metas de ação e soluções
projetuais para a sua preservação.
Trabalhamos com uma grande e competente
equipe técnica, formada por arquiteta, engenheiros
civis, restaurador e artista plástico. Cada qual tra-
zendo sua expertise em prol do monumento mais
afetivamente apropriado pelos gaúchos.
Foram definidas as seguintes ações: remoção
do monumento para local apropriado às ações con-
servativas, remoção do concreto armado de seu in-
terior, projeto e execução de estrutura interna em
aço inoxidável, correção das fissuras e rachaduras
por meio de processos de solda previamente testa-
dos e comprovados em sua eficiência, elaboração
de novo laço inspirado no original e com material
inerte à reações corrosivas, microjateamento para
limpeza das sujidades e remoção do material par-
ticulado, tratamento de superfície, preservando
detalhes estéticos da obra, aplicação de pátina e
camada de proteção.
Cada uma das etapas foi cuidadosamente
acompanhada visando à integridade estética, his-
tórica e técnica da obra, respeitando sempre os cri-
térios internacionais de restauração de patrimônio
cultural.
AGRADECIMENTOS
A toda a equipe e à família do artista, na pes-
soa de Antonella Caringi de Aquino, que sempre
gentilmente nos forneceu subsídios para nossas
ações de forma a preservar a obra do autor.
44 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural
1
2
3
4
O monumento é cercado de andaimes.
Técnicos preparam a separação
da base.
Recebe proteção lateral.
O passeio do Laçador
Restauração do monumento O Laçador 45
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A estrutura de transporte é fixada.
É retirado e levado ao local de restauro.
46 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural
8
9
No galpão, é fixado em estruturas metálicas.
O laço é retirado.
Restauração do monumento O Laçador 47
10 O trabalho de restauro segue a minuciosa análise e exigente orientação dos técnicos responsáveis.
48 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural
A assinatura de Caringi.
Antonio Caringi, o autor do monu-
mento O Laçador, foi um escultor brasilei-
ro, considerado o maior estatuário da His-
tória da Arte no Rio Grande do Sul. Nascido
em Pelotas, em 18 de maio de 1905, cedo
mostrou aptidão para a arte. Em 1925 ex-
pôs seus trabalhos no Salão de Outono em
Porto Alegre. Antonio Caringi iniciou seus
estudos de arte diretamente na Europa,
para onde embarcou em 1928, como adido
consular em Munique. Exerceu cargos diplomáticos
em cidades do velho mundo com proveitos para sua
profissão como escultor. Discípulo de Hans Stangl,
escultor bávaro, ingressa mais tarde, e por concur-
so, na Academia de Belas Artes de Munique, sendo
laureado após conclusão do curso. Ainda acadêmico
obteve menções honrosas em mostras da Academia
e participou de exposições em Berlim, Nápoles, Ve-
neza e Istambul.
Em 1934, voltou ao Brasil, para concorrer e
vencer o concurso para a estátua equestre do ge-
neral Bento Gonçalves, inaugurada em Porto Alegre,
na comemoração do centenário da Revolução Far-
roupilha. Sua primeira exposição individual ocorreu
em 1936 na Bibliotheca Pública do Estado do Rio
Grande do Sul.
Especializou-se em plástica monumental em
Berlim, na Alemanha. E após, realizou viagens de
estudos por Grécia, Turquia e Itália. Com a 2a
Guerra
Mundial, retorna definitivamente ao Brasil, fixan-
do residência em Pelotas, casando-se em 1942 com
a poeta Noemi Assumpção Osorio, com quem teve
seis filhos. Fundou o curso de Escultura na Escola
de Belas Artes de Pelotas – atual Instituto de Letras
e Artes da Universidade Federal – onde lecionou de
1952 a 1980.
Entre suas inúmeras obras públicas
estão o Monumento Nacional ao Imigrante,
em Caxias do Sul, de 1954, e o Monumen-
to ao Expedicionário, de 1957, no Parque
Farroupilha, em Porto Alegre, ambos es-
colhidos mediante concurso público. Além
de vencer muitos concursos para seleção
de obras, recebeu diversas medalhas, con-
decorações e prêmios no país e também
fora do Brasil. Possui obras espalhadas por
aproximadamente 13 cidades gaúchas e em outros
estados como Santa Catarina, Bahia e Rio de Ja-
neiro, cidade onde residiu e manteve um de seus
ateliers, juntamente com São Paulo e Pelotas.
Morreu em 30 de maio de 1981, na cidade de
Pelotas, aos 76 anos.
O maior estatuário da História da Arte
no Rio Grande do Sul
Caringi e
monumento em
gesso destinado
à cidade de São
Paulo.
Antonio Caringi
Diário
da
Manhã/Pelotas
Acervo
Família
Caringi
Restauração do monumento O Laçador 49
Definimos como preparo da superfície o con-
junto de ações destinadas a recompor a aparência
da estátua/monumento O Laçador, procurando mi-
nimizar as marcas do tempo e de intervenções exis-
tentes (soldas, desbastes e parafusos), e buscando
também proteger o objeto das futuras agressões
dos agentes cotidianos, como a radiação solar, a
chuva, o vento, a poeira, os poluentes, entre outros.
Para tanto, separamos o processo em etapas
distintas:
1. Limpeza
A remoção de todo tipo de sujeira, gordura,
restos de soldas e fuligens encontrados. Para a
execução foi necessário colocar o monumento na
posição vertical, e, dessa maneira, acessar simulta-
neamente todos os lados e detalhes. Optou-se pelo
jateamento com endocarpo, método seguro e rápi-
do, indicado para estátuas com o mesmo metal uti-
lizado originalmente para a criação do monumento
O Laçador. Nesse processo, partículas são arremes-
sadas por ar comprimido, que, ao colidir com a su-
perfície, removem a camada indesejada.
O equipamento de jateamento é um compres-
sor, onde é colocado o abrasivo, e este é escolhido
conforme o resultado desejado. No caso do monu-
mento O Laçador foi utilizado um abrasivo chamado
“granalha de endocarpo” (parte mais dura de coco),
pouco agressivo, que remove somente as incrusta-
ções, sem danificar a pátina existente ou a super-
fície do metal, produto atóxico e de fácil descarte
e que não agride o meio ambiente. Utiliza-se um
granulado vegetal de alta densidade, elevado poder
calorífico e alta estabilidade. É resistente e muito
O preparo da superfície
leve, evitando ferir as superfícies a serem tratadas,
além de ser um produto tipicamente brasileiro.
A calibragem do equipamento ocorreu com
pressão de aproximadamente 100 libras (PSI) ou
aproximadamente 7kgf/cm². A granulometria utili-
zada foi de 0,4 a 0,8 milímetro e a distância entre
o bucal de jato e a superfície do metal foi de 20 a
30 cm.
Jateamento com granalha de endocarpo.
Ricardo Jaekel
Responsável pela supervisão técnica do restauro
50 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural
2. Reconstituição da cor
Todo monumento possui informações peculia-
res ao motivo de sua criação e traços caracterís-
ticos de seu criador, o artista que o produziu. No
restauro, considerou-se que essas informações pre-
cisam estar perceptíveis ao observador.
Entre os diversos danos encontrados no mo-
numento, destacam-se os diferentes tons e man-
chas provenientes das ações do tempo e da falta de
conservação. Tornar a cor da superfície homogênea,
minimizando as diferenças entre as soldas, as mar-
cas do tempo e os tons da liga metálica, facilitando
a percepção daquelas informações acima referidas,
foi também objetivo do trabalho.
Fotos da perna esquerda, antes e depois da pátina.
Conforme explicíta o relatório do Engenheiro
Tadeu Antonio Tadeu Motter, na reconstituição da
cor da superfície foi aplicada a técnica de pátina
quente, com a aplicação de sucessivos jatos do ni-
trato de cobre diluído na área aquecida, buscando a
tonalidade desejada.
O nitrato de cobre é proveniente da própria
corrosão do metal. Neste processo, ao contrário dos
metais ferrosos, que quanto mais ferrugem tem,
maior a corrosão, as ligas de cobre são estabiliza-
das desacelerando o processo corrosivo. Por esse
motivo, em monumentos de bronze expostos a in-
tempéries, recomenda-se aplicar soluções com qua-
lidades protetivas, e também com resultados esté-
ticos condizentes com a pátina natural.
Restauração do monumento O Laçador 51
A pátina quente com nitrato de cobre ocorreu
em toda a superfície do monumento, no entanto, a
quantidade de aplicações variou conforme as rea-
ções encontradas, como por exemplo nas regiões
com marcas de solda e desgaste da cor, onde foi
necessária a aplicação de mais camadas.
Da esquerda para a direita: antes da restauração, depois jateado e patinado, por último, encerado.
52 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural
Restauração do monumento O Laçador 53
A reconstituição do laço
Luiz Henrique Mayer foi o profis-
sional contratado pelo projeto Cons-
trução Cultural para reconstituir o laço
do monumento O Laçador, que estava
em péssimo estado. O artífice já havia
trabalhado anteriormente na restau-
ração dos monumentos do Parque Far-
roupilha, é natural de Recife, mas veio
para o Rio Grande do Sul em 1973. Em
1986 foi agraciado com um prêmio na-
cional na categoria “Pintura”, no salão
dos Correios. A partir de 1990, passou
a dedicar-se exclusivamente às artes,
com cursos no Atelier Livre de Porto
Alegre, onde frequentou as oficinas de
pintura de Vera Wildner, de desenho
com a artista e professora Daisy Viola
e de litografia com Miriam Tolpolar. Em
1996, iniciou um trabalho no atelier de
escultura de Vasco Prado, onde apren-
deu toda a rotina. Paralelamente, executou várias
obras em restauro do mestre e de outros escultores.
Tendo como principal objetivo substituir os
originais em bronze por uma liga sintética que ti-
vesse a mesma textura, chegou então a uma soma
de elementos que produzisse esse efeito com boa
durabilidade (resina epóxi, pó de bronze, pó de
mármore, sílica e fibra de carbono). Essa liga foi
a utilizada para a execução do laço da estátua O
Laçador que ficou com o peso total final de 70 kg.
Para execução da modelagem da peça foram
consultados dois pesquisadores e conhecedores do
assunto: Eduardo Fonseca, estudioso e praticante
de laço, e Décio Gomes, artesão que trabalha há
muito tempo confeccionando laços e demais peças
da cultura gauchesca em couro, responsável pelas
amostras dos pontos principais do laço em escala
para a estátua, de onde foram retirados os moldes.
Havia dois desafios para a boa execução do
trabalho: o primeiro, encaixar o laço dentro do es-
paço da mão da escultura (9cm x 10cm), e o segun-
do, dar a este laço sustentação, pois a liga não tem
a mesma resistência ao atrito que o bronze. Logo,
a solução foi fazer uma peça articulada e, por den-
tro desta, introduzir um cabo de aço. Foi possível
Acima, o laço reconstituído em
partes. Ao lado (foto superior),
o molde com a trama utilizada
e (foto inferior) o trabalho de
encaixe na mão da estátua.
54 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural
então passar pelo interior do espaço da mão cada
uma das encolhas do laço, tornando mais natural as
passadas e caimentos da armada.
Conforme pode ser verificado na biografia do
consultor Eduardo Fonseca, trata-se, no caso, de um
laçador, detentor do saber prático do manejo e das
formas adquiridas pelo laço no seu uso tradicional.
O domínio do conhecimento campeiro também legi-
tima a sua condição de pesquisador.
Em suas pesquisas, observou a reportagem da
GZH que continha uma fotografia de 1958 da inau-
guração da estátua. Nesta, estavam o governador
Leonel Brizola e o escultor Antonio Caringi, sendo a
foto oriunda do acervo da família Caringi. Foi essa
referida imagem que proporcionou o olhar do artis-
ta Luiz Mayer para a reprodução do laço.
Na sequência, e por conta da grandiosidade do
projeto que envolve o maior símbolo gaúcho, Eduar-
do entendeu ser importante refletir sobre o tema
com alguns gaúchos reconhecidos no meio cam-
peiro, tendo consultado Glênio Antonio Wallauer
Magalhães, gaúcho que circula no Pampa, tendo
contribuído com imagens do objeto laço, mas prin-
cipalmente nas reflexões e análises relativas à cul-
tura que a peça está envolvida, no tocante à forma
e aos usos. Também foram consultados os irmãos
Manoel Luiz Gomes de Almeida e Décio Gomes de
Almeida, ambos de uma família de tradição pecuá-
ria conhecida no litoral. Homem de domínio prático
de toda lida de campo, Décio é detentor de vários
saberes, entre eles o de guasqueiro, quem produz
as correias, tiras de couro cru. Logo, foi quem pro-
duziu os moldes para uso do artista.
Outras pessoas auxiliaram na consultoria:
Julio Amorim, laçador, de família de tropeiros, en-
volvido com fornecimento de gado para rodeio e
utilização em provas de laço, apresentou um laço
para análise. Petri Pereira, de família de pecuaris-
tas, outro consultado, é laçador e tem como paixão
cavalos e aperos, tendo contribuído na análise das
dimensões do laço, baseando-se nos seus laços de
uso, que fazem parte do seu acervo.
Inauguração do monumento
O Laçador, com o prefeito
Leonel Brizola e o escultor
Antonio Caringi, em 1958.
Acervo
família
Caringi
–
Reprodução
Restauração do monumento O Laçador 55
A estrutura interna executada
Antonio Tadeu Motter
Eng. Civil, responsável técnico
Raquel Medina Pinho
Arquiteta e urbanista
Foi constatado em trabalho de inspeção reali-
zado na Estátua do Laçador em 2017, pelo Especia-
lista francês Antoine Amarger, que a mesma esta-
va com sua superfície externa de bronze bastante
comprometida, observando-se muitas fissuras, ra-
chaduras e mesmo pequenas aberturas na capa de
bronze, causadas pela exposição ao tempo, e pela
falta de manutenção e também por estar comple-
tamente preenchida, na sua parte inferior, abaixo
dos quadris, nas duas pernas e base de sustenta-
ção, por concreto, material este que dava estabili-
dade ao monumento e ao mesmo tempo, por estar
em contato permanente com a superfície interna
do bronze, e por permanecer sempre úmido, causa-
va danos a superfície do bronze nestes locais, com
o aparecimento de anomalias provenientes desse
contato.
Como sugerido na proposta de intervenção
de Antoine precisávamos retirar todo esse concreto
e substituir por estrutura de aço inox, que daria en-
tão o suporte à imagem sem a ocorrência de reações
danosas ao bronze. Todas as estruturas de inox exe-
cutadas foram calculadas e projetadas para este fim.
Foi exatamente o que foi feito. A imagem foi
retirada da base existente, levada horizontalmente
para galpão próximo e, nessa posição, retirado todo
o concreto da base e pernas e substituído por estru-
tura de inox, introduzida através de “janela” aber-
ta nas costas do Laçador, que daria estabilidade à
imagem e funcionaria como se fosse um “esquele-
to”, dando-lhe a sustentação necessária.
Na sua base própria foi também introduzi-
da estrutura de inox, ligada à estrutura interna. Na
base de concreto para onde seria transportado, no
Sítio do Laçador foi chumbada também estrutura
de inox que ficaria conectada à estrutura da base
própria do Laçador, por meio de parafusos na parte
traseira e encaixe de perfis na parte da frente, tra-
zendo a estabilidade necessária para permanecer
no local.
Estrutura de aço inox a ser chumbada
na base do Laçador e ligada à estrutura interna – Vista superior.
Vista inferior.
56 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural
Janela aberta nas costas da estátua
para execução do “esqueleto” em aço inox.
Estrutura interna de aço inox.
Estrutura de aço inox localizada
na área interna do pescoço do monumento.
Restauração do monumento O Laçador 57
Estrutura de aço inox na base da estátua.
Estrutura de aço inox chumbada na base de concreto
localizada no sítio do Laçador.
58 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural
Busto antes e depois do jateamento:
procedimento que prepara o metal para a sua revitalização
e ao mesmo tempo mostra todas as patologias existentes no bronze,
como fissuras, trincas e pequenos sulcos.
Restauração do monumento O Laçador 59
O restauro da superfície de bronze
Primeiramente, depois da remoção da está-
tua para o galpão onde os trabalhos de restaura-
ção foram realizados e já com O Laçador na posição
vertical, foi aplicado em toda a superfície externa
de bronze um jateamento com equipamentos espe-
ciais, utilizando-se para tanto a granalha de endo-
carpo, que efetua a limpeza sem retirar a pátina
existente ou agredir o bronze que envolve toda a
superfície da estátua. Além disso, por ser um mate-
rial atóxico, de origem vegetal, pode ser descartado
sem agredir o meio ambiente.
Os equipamentos de jateamento consistem
em um compressor, um compartimento onde é colo-
cado o abrasivo, escolhido conforme o resultado de-
sejado. No caso do monumento O Laçador, optou-se
pela granalha de endocarpo. A calibragem do equi-
pamento ocorreu com pressão de aproximadamente
100 libras (PSI) ou aproximadamente 7 kgf/cm². A
granulometria utilizada foi de 0,4 a 0,8 milímetro e
a distância entre o bocal de jato e a superfície do
metal foi de 20 a 30 cm. Esse procedimento prepara
o metal para a sua revitalização e ao mesmo tempo
mostra todas as patologias existentes no bronze:
fissuras, trincas e pequenos sulcos.
A partir dessas constatações, inicia-se o pro-
cesso de correção dessas anomalias, com a utiliza-
ção de solda especial, tipo Tig (Tungsten Inert Gás),
com tocha de gás argônio. Como vareta (não existe
uma vareta específica para bronze), foi utilizado o
eletrodo revestido para cobre referência WI 285 de
3,5mm. Foi removido o revestimento do eletrodo
para funcionar como vareta na solda, corrigindo as
anomalias encontradas.
Processo de jateamento.
Marcação para solda.
Antonio Tadeu Motter
Eng. Civil, responsável técnico
Valmir José Hanzen
Eng. Civil, responsável técnico
60 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural
Marcações para solda.
Restauração do monumento O Laçador 61
Marcações para solda.
62 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural
Soldagens executadas.
Janela a ser soldada.
Detalhe da peça da janela a ser soldada.
A solda tipo Tig (Tungsten Inert Gás) é o pro-
cesso mais adequado para o trabalho realizado,
utilizando um eletrodo sólido de tungstênio não
consumível. O eletrodo, o arco e a área em volta
da poça de fusão da solda são protegidos por uma
atmosfera de gás inerte. O metal de enchimento ne-
cessário, no caso, o bronze, é adicionado no limite
da poça de fusão, corrigindo as falhas encontradas
de forma limpa e com alta qualidade, sem a produ-
ção de escória.
Soldagem executada para fechamento da janela.
Restauração do monumento O Laçador 63
Após o processo de solda é procedido o des-
baste, com a utilização de disco de lixa grão 120, re-
tífica equipada com ponta montada de acordo com
a ondulação da superfície de bronze.
Desbastes da solda.
64 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural
Para o acabamento, as nervuras da pele foram
esculpidas com pontas em metal acopladas a uma
microrretífica para que se pudesse obter uma su-
perfície mais próxima possível da original.
RESTAURAÇÃO PICTÓRICA (PÁTINAS)
Os equipamentos utilizados na execução da
pátina foram: borrifadores com a concentração do
produto diluído e também, somente com água, ma-
çaricos de gatilho e combustão com gás metano.
Na reconstituição da cor da superfície foi apli-
cada a técnica de pátina quente.
O aquecimento da superfície foi entre 100° e
120° C, observada com auxílio de termômetro digi-
tal. Quando alcançada a temperatura, aplicaram-se
sucessivos jatos do nitrato de cobre diluído na área
aquecida. Esse processo é repetido, e se intercala,
a cada duas ou três vezes com borrifos de água até
a tonalidade desejada.
Acabamento da janela com a reprodução
dos detalhes do bronze.
Área pronta para aplicação da pátina.
Restauração do monumento O Laçador 65
No preparo, utilizou-se o nitrato de cobre na
concentração de 20 gramas por litro de água. O ni-
trato de cobre é proveniente da própria corrosão do
metal. Esse processo, ao contrário dos metais fer-
rosos, serve como proteção, estabilizando o cobre
e suas ligas. Por esse motivo, nos monumentos de
bronze expostos a intempéries, aplicam-se soluções
com qualidades protetivas e também com resulta-
dos estéticos condizentes com a pátina natural.
A pátina quente com nitrato de cobre foi rea-
lizada em toda a superfície do monumento, porém
a quantidade de aplicações variou conforme as rea-
ções encontradas. Nas regiões com marcas de solda
e desgaste da cor, por exemplo, foi necessário apli-
car mais camadas. Cabe salientar que a percepção
de nuances com variações de cores é algo caracte-
rístico nas ligas de cobre, principalmente quando
há deposição de metal por soldas, nos desbastes
e também nas diferentes composições no processo
de fundição.
Aplicação do nitrato de cobre.
Perna esquerda do monumento com solda
e desgaste de cor, onde foram necessárias
mais camadas de pátina.
Perna esquerda do monumento
após aplicação da pátina.
66 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural
CAMADA DE PROTEÇÃO
Depois de finalizada a etapa de pátina, foram
aplicadas três camadas de cera microcristalina di-
luída em aguarrás (200g/L) na superfície de toda a
estátua. Para que se obtivesse o brilho acetinado
foram utilizadas escovas e flanelas para polimento.
A cera, depois de seca e polida, penetra nos
poros do metal, selando a superfície. Sua função é
dificultar a deposição de sujidades e, dessa forma,
proteger a área patinada e facilitar a remoção de
futuras pichações.
CONSERVAÇÃO
Aconselha-se novas aplicações de cera a cada
três meses, no primeiro ano, depois a cada seis me-
ses, até formar película resistente. Depois desse
processo, a supervisão indicará a necessidade de
novas aplicações.
Monumento com camada de proteção final
em cera microcristalina.
Restauração do monumento O Laçador 67
Verônica Di Benedetti
Coordenadora técnica do Projeto
Construção Cultural – Resgate do
Patrimônio Histórico. Graduada
em Arquitetura e Urbanismo
pela Universidade de Mogi das
Cruzes (1995), especialista em
restauro de materiais pétreos e
cerâmicos pelo Instituto italiano
Palazzo Spinelli (2001), mestre em
Geociências pela UFRGS (2006) e
MBA de empresas de construção
civil pela FGV (2011). Dedica-se ao
fomento de negócios imobiliários
para imóveis históricos, bem
como projeto, execução e
consultoria para obras nas áreas
civil e de restauração de bens
edificados, móveis e integrados.
É coordenadora nacional do
Projeto de Educação Patrimonial,
A Escola Adota um Monumento, da
Fondazione Napoli Novantanove
e apresentadora do Programa
De Carona na História, da Rádio
Arquitetura. Possui diversos
artigos publicados em revistas
científicas na área de materiais e
de conservação e restauro. Destaca
entre seus trabalhos o projeto
de execução de restauração das
fachadas da Antiga Alfândega
– Florianópolis/SC; projeto de
restauro das fachadas e execução
da Antiga Confeitaria Rocco
– Porto Alegre/RS; projeto de
restauro do antigo Sobrado da
Praça João Abott – São Gabriel/RS,
entre outros.
Paulo Ratinecas
Mestre em Gestão Empresarial
pela FGV/EBAPE, pós-graduado
em Marketing pela UFRGS e
graduado em Administração
de Empresas e Pública pela
UFRGS, além de experiências
de aprimoramento nos
Estados Unidos, Espanha
e Israel. Especializado em
desenvolvimento de projetos e
trabalhos nas áreas de gestão:
comunicação, reconhecimento,
relacionamento, cultura e
responsabilidade social. É
sócio-diretor da MaxiMarket
desde 1998, e ao longo
desse tempo vem atuando
como consultor de empresas,
professor e palestrante.
Anteriormente, exerceu,
durante 15 anos, atividades
como profissional de Marketing
e Estratégia no Grupo RBS.
Criador e coordenador
mercadológico do Projeto
Construção Cultural – Resgate
do Patrimônio Histórico.
ratinecas@maximarket.com.br
Antonio Tadeu Motter
Engenheiro civil, graduado
em 1975, pela PUCRS, atua
em várias áreas da construção
civil. A área de restauros
de prédios e monumentos
tombados pelo Patrimônio
Público é uma de suas
especialidades, sendo que,
entre seus trabalhos mais
destacados, estão o restauro
da Caixa d’Água de Pelotas, em
ferro fundido, obra contratada
pelo Iphan; Monumento
Júlio de Castilhos, em ferro
fundido, na Praça da Matriz,
em Porto Alegre, projeto
Monumenta; do Monumento
aos Açorianos, em ferro corten,
contratado pela Prefeitura
de POA, e do monumento
O Laçador contratado pelo
projeto Construção Cultural da
Associação Sul-Riograndense da
Construção Civil.
Nas obras de restauro de
prédios, destacam-se a Casa
dos Rosa, em Canoas; prédio da
Inspetoria da Receita Federal
de Porto Alegre; fachada da Av.
Mauá da Secretaria da Fazenda
do RS; várias residências em
madeira, na cidade de Antônio
Prado, contratadas pelo Iphan,
entre outras.
A equipe
68 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural
Zalmir
Chwartzmann
Engenheiro civil e bacharel
em Administração de Empresas
formado pela PUCRS, em
1974 e 1979. Desempenha
suas atividades profissionais
na empresa Chwartzmann
Construções e Incorporações
Ltda, como diretor e
responsável técnico. Foi
presidente do Sinduscon-RS
de 1997 a 1999 e desde 1999
é membro nato do Conselho
Consultivo da entidade.
Foi diretor da FIERGS e
vice presidente da Câmara
Brasileira da Indústria da
Construção Civil.
É o atual presidente da
Federação Israelita do Rio
Grande do Sul, vice-presidente
da Confederação Israelita
do Brasil e presidente do
Conselho Geral das Entidades
da FIRS.
Vitor Ortiz
Gestor cultural com larga
experiência na área pública
e privada. Foi Secretário de
Cultura em Viamão e em Porto
Alegre entre 1997 e 2003.
Neste período, integrou o
grupo redator da Agenda 21
da Cultura, documento de
referência internacional para
as políticas locais do setor,
hoje traduzido para mais de 20
idiomas.
Foi diretor da Funarte, no Rio
de Janeiro, e Secretário de
Cultura de São Leopoldo.
Por dois anos, entre 2011 e
2012, foi Secretário-Executivo
do Ministério da Cultura e
Ministro Interino em diversas
ocasiões.
Desde 2017, é um dos
coordenadores da Virada
Sustentável POA.
É formado em História pela
UFRGS com extensão em Gestão
Cultural pelo OPC (Observatoire
de Politiques Culturelles de
Grenoble/França) e criador dos
canais de podcast Histórias de
Viamão e Desapaga POA.
Denise Viana Pereira
Com 20 anos de atuação
em gestão cultural, Denise
foi Diretora de Economia da
Cultura, da Secretaria de Cultura
do RS, de 2011 a 2014, tendo
dado início à estruturação desse
setor e à implantação do Fundo
de Apoio à Cultura no Estado-
FAC.
Com duas especializações:
Economia da Cultura (Faculdade
de Economia/UFRGS, 2010)
e Teoria de Jornalismo e
Comunicação de Massas
(Famecos/PUC-RS, 1998).
É formada em Publicidade e
Propaganda (UFRGS/1991).
Integrou a Representação
Regional Sul do Ministério da
Cultura, chefiou o Gabinete da
Secretaria Municipal de Cultura
de Porto Alegre e compôs a
equipe do Instituto Estadual de
Música.
Desde 2015, através de sua
empresa De Cultura, é gestora
cultural de diversos projetos e
instituições culturais, dentre
eles a Virada Sustentável Porto
Alegre, a Associação de Amigos
da Cinemateca Paulo Amorim, o
Instituto de Cultura da PUCRS,
o Teatro São João, em Taquari/
RS, o Colégio Israelita, em Porto
Alegre, entre outros.
Restauração do monumento O Laçador 69
Ricardo Jaekel
Bacharel em Conservação e
Restauração formado pela
Universidade Federal de
Pelotas e Mestre em Memória
Social e Patrimônio Cultural
pela mesma universidade.
Tem especialização em
conservação e restauração
de esculturas e monumentos
metálicos e pétreos. Participou
da análise de danos e da
posterior restauração do
monumento Julio de Castilhos,
em 2017, da restauração de
luminárias, lustres provençais
do Ed. Flores da Cunha, em
2018, e também fez parte
da turma do projeto que
investigou as patologias do
monumento O Laçador, em
2017.
Luiz Henrique Meyer
Nascido em Recife em 1965,
veio para o Rio Grande do Sul
em 1973. Em 1986 ganhou o
prêmio nacional na categoria
Pintura no salão dos Correios.
A partir de 1990 dedica-se
às artes e passa a frequentar
cursos no Atelier Livre de Porto
Alegre, e as oficinas de pintura
de Vera Wildner, desenho
com a professora Dasy Viola e
litografia com Mirian Tolpolar.
Em 1996 inicia trabalho no
atelier de escultura de Vasco
Prado onde aprende toda
rotina de atelier de escultura.
Executou várias trabalhos
de restauro em obras de seu
mestre e de outros escultores.
Já integrou a equipe do Projeto
Construção Cultural – Resgate
do Patrimônio Histórico
nos anos de 2014 e 2016,
executando diversos restauros
nos monumentos do Parque
Farroupilha.
Créditos das fotos
por páginas
Gilberto Perin
Págs.: capa, 1, 10, 12, 14, 19, 25, 27, 52
Alan Mendonça
Págs.: contracapa, 6, 7, 8, 28, 29, 40, 42,
44 a 47
José Francisco Mendonça
Págs.: 30, 32 a 39
Luiz Henrique Meyer
Pág.: 53
Antonio Tadeu Motter
Págs.: 49 a 51, 55 a 66
Organização
Vitor
Ortiz
e
Denise
Viana
Pereira
RESTAURAÇÃO
DO MONUMENTO
RESTAURAÇÃO
DO
MONUMENTO
O LAÇADOR
O
LAÇADOR
P O R T O A L E G R E – R S – B R A S I L
Realização Apoio
Patrocínio Financiamento
restauro CAPA LACADOR.indd 1
restauro CAPA LACADOR.indd 1 07/03/2022 15:58
07/03/2022 15:58
Caderno de Restauro do Projeto Construção Cultural
– Resgate do Patrimônio Histórico –
Restauração do Monumento O Laçador
Impresso em março de 2022,
nos 250 anos da cidade de Porto Alegre
SÉRIE DE CADERNOS DE RESTAURO
DO PROJETO CONSTRUÇÃO CULTURAL
Este é o terceiro Caderno de Restauro edi-
tado pelo projeto Construção Cultural – Resgate
do Patrimônio Histórico, realizado pela Associa-
ção Sul-Riograndense da Construção Civil e pelo
Sinduscon RS.
Este terceiro caderno traz
em detalhes todos os
relatórios relacionados
à restauração do
monumento O Laçador,
tanto da primeira fase
de prospecção, feita em
2017, até a etapa atual,
de restauro, realizada
entre 2021 e 2022.
O segundo caderno traz
detalhes das intervenções
de revitalização do Chafariz
Imperial, projeto executado
no ano de 2019. O Chafariz
Imperial é uma das fontes
mais antigas da cidade,
localizada próximo ao
Auditório Araújo Vianna.
O primeiro registrou as
intervenções de restauro
dos monumentos do Parque
Farroupilha em 2016, projeto
financiado pelo Pró-cultura RS.
PARA
RECORTAR
E
EMOLDURAR
PARA
RECORTAR
E
EMOLDURAR
Gilberto
Perin
O LAÇADOR
Obra de autoria do artista pelotense Antonio Caringi,
criado originalmente em gesso, em 1954, para compor o
pavilhão do Rio Grande do Sul na exposição comemorativa
ao IV centenário da cidade de São Paulo, no Parque
Ibirapuera. Prevista para ser ofertada àquela cidade, em
razão da grande receptividade e reivindicação por parte dos
gaúchos, a obra acabou sendo instalada em Porto Alegre,
esculpida em bronze. Em 1992, tornou-se Símbolo Oficial
de Porto Alegre e em 2001 foi tombada como patrimônio
histórico e cultural.
Realização
Apoio
Financiamento
Patrocínio
A produção desta obra foi viabilizada com financiamento do PRÓ-CULTURA,
Governo do Estado do Rio Grande do Sul, Lei 13.490/2010.
Realização Apoio
Patrocínio Financiamento

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Monumento O Laçador Caderno de Restauro 2022.pdf

  • 1. RESTAURAÇÃO DO MONUMENTO O LAÇADOR P O R T O A L E G R E – R S – B R A S I L
  • 2.
  • 3. Realização Apoio Financiamento Patrocínio A produção desta obra foi viabilizada com financiamento do PRÓ-CULTURA, Governo do Estado do Rio Grande do Sul, Lei 13.490/2010.
  • 4. RESTAURAÇÃO DO MONUMENTO O LAÇADOR P O R T O A L E G R E – R S – B R A S I L Organização Denise Viana Pereira Vitor Ortiz Ano | 2022
  • 5. Resgate do Patrimônio Histórico: Construção Cultural Restauração do monumento O Laçador Porto Alegre/RS – Brasil Caderno de Restauro do Projeto Construção Cultural – Resgate do Patrimônio Histórico Restauração do monumento O Laçador Edição Associação Sul-Riograndense da Construção Civil Organização Denise Viana Pereira e Vitor Ortiz Revisão Célio Lamb Klein Memorial descritivo das intervenções realizadas Verônica Di Benedetti Design gráfico e edição de arte Clô Barcellos Fotografias Gilberto Perin (capa) e Alan Mendonça (contracapa) (Fotos do miolo creditadas, separadamente, na pág. 69) Mapa Juliana Bittencourt Impressão Pallotti – Santa Maria/RS Dados Internacionais de Catalogação na Publicação: Bibliotecária Daiane Schramm – CRB-10/1881 R433 Resgate do Patrimônio Histórico: Construção Cultural – Restauração do Monumento O Laçador. / Organizado por Vitor Ortiz e Denise Viana Pereira. – Porto Alegre: Associação Sul-Riograndense da Construção Civil, 2022. 72p.:il. 21 x 24cm. Série Caderno de Restauro do Projeto Construção Cultural 1. Patrimônio Histórico. 2. Revitalização. 3. Porto Alegre. 4. O Laçador. I. Ortiz, Vitor; org. II. Pereira, Denise Viana; org. III. Caderno. IV. Série. CDD363.69
  • 6. SUMÁRIO 9 CONSTRUÇÃO CULTURAL – Resgate do Patrimônio Histórico Aquiles Dal Molin Jr. 11 ESTADO E MUNICÍPIO JUNTOS recuperam um patrimônio de todos Beatriz Araújo 13 LAÇADOR RENOVADO – Um presente para Porto Alegre em seus 250 anos Sebastião Melo 15 O LAÇADOR – Símbolo de Porto Alegre e do gaúcho Gunter Axt 23 PROJETO CONSTRUÇÃO CULTURAL – Sua relevância para a cidade Zalmir Chwartzmann 26 A localização 30 A base para a realização do projeto de restauro – Relatório da inspeção realizada em 2017 Virgínia Costa e Antoine Amarger 41 O LAÇADOR – Representatividade de um povo Verônica Di Benedetti 44 O passeio do Laçador 48 O maior estatuário da História da Arte do Rio Grande do Sul 49 O preparo da superfície Ricardo Jaekel 53 A reconstituição do laço 55 A estrutura interna executada Antonio Tadeu Motter e Raquel Medina Pinho 59 O restauro da superfície de bronze Antonio Tadeu Motter e Valmir José Hanzen 67 A equipe 71 Para recortar e emoldurar/Foto de Gilberto Perin
  • 7. 6 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural
  • 8. O Laçador transcende sua condição específica de obra de arte e de monumento tombado. É um emblema vivo para a população que condensa a união entre a Capital e o interior. Gunter Axt
  • 9. 8 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural
  • 10. Restauração do monumento O Laçador 9 CONSTRUÇÃO CULTURAL – Resgate do Patrimônio Histórico Aquiles Dal Molin Jr. Presidente do Sinduscon-RS e da Associação Sul-Riograndense da Construção Civil A cultura é o caráter de uma sociedade; sua difusão e aprimoramento determinam sua capaci- dade de evolução. Através dela é estimulada a par- ticipação e a contribuição para o bem coletivo. E, junto com os fatores econômico, social e ambiental, é um dos pilares da sustentabilidade na sociedade do conhecimento. Numa nação como o Brasil, a relevância da responsabilidade social empresarial é imensa. Ao lado das enormes carências e desigualdades está o descaso com o patrimônio público. O problema é compartido por toda a sociedade, embora inexista uma ação concreta sobre isso. A prioridade seria de- senvolver esforços, canalizar energias para comu- nicar e agir. Restaurar o que está comprometido. A sinergia entre os atores culturais, público e privado, ajudaria a mapear dados, necessidades e oportuni- dades para resgatar monumentos de Porto Alegre de forma efetiva. A presença da escultura pública na cidade de Porto Alegre é muito marcante. A capital abri- ga riquíssimo acervo, segundo alguns autores, em função da grande influência positivista que marcou o início do século XX, período em que o município apresentou grande crescimento. O rico acervo de esculturas na cidade, a cada dia que passa, diminui. Roubos, vandalismo e a fal- ta de incentivo para novos projetos marcam o pano- rama atual. Outro problema enfrentado foi a reali- zação de intervenções de restauro por mão de obra não especializada, o que, em sua maioria, acabou por acelerar o processo de degradação, piorando o estado de conservação da peça. Resgatar esse patrimônio mostrava-se funda- mental para a identidade da cidade e a preserva- ção da sua memória. O Sinduscon-RS visualizou que isso poderia ser uma relevante contribuição cultu- ral para a cidade e uma forma de colocar na pauta das discussões as melhores opções e políticas de preservação da arte pública. Tanto no enfoque da segurança pública quanto no reconhecimento da arte como acervo da cidade e do cidadão e as medi- das preventivas para que não fosse perdido o vasto e valioso patrimônio artístico existente. A ideia de fazer um projeto para recuperar monumentos foi iniciada em 2014. Desde lá, já foram revitalizados 33 monumentos e recantos no Parque Farroupilha, além do diagnóstico do monumento O Laçador. O Sinduscon-RS passou a oportunizar o debate sobre um importante fato cultural de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul. A cidade e o Estado foram ins- tigados a discutir como manter os seus monumen- tos e as necessidades de uma melhor preservação do patrimônio cultural. O Projeto Construção Cultural tem obtido uma repercussão muito além do previsto. O impacto foi imenso e passou-se a discutir também as maneiras de melhorar a preservação e como prevenir a inci- dência das depredações e do vandalismo. A comu- nidade se apropriou da ideia do projeto, maximizou a sua dimensão e demonstrou a relevância da pro- posta inicial. Esse projeto é um indicativo da certeza que permeia o Sinduscon-RS: a importância de agregar ações de responsabilidade social. Tanto que sem- pre se caracterizou como uma entidade voltada não somente a seus interesses mais diretos, mas, tam- bém, aos da comunidade em que se insere. Um projeto que incentivou o olhar atento da população e dos órgãos públicos para uma preser- vação mais efetiva do patrimônio público. Uma ação que oportunizou excelentes resultados para todos.
  • 11. 10 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural O Sinduscon-RS acredita na inquietude inova- dora que serve de inspiração para as corporações. Ao investir em cultura e cumprir o seu papel como entidade cidadã, se deparou com um caminho ár- duo, mas fértil. Uma estrada percorrida passo a pas- so, alinhando o modelo de gestão praticado com os objetivos almejados. O Sinduscon-RS, compartilhan- do valores e desenvolvendo projetos com parcerias, tem provado que a inovação muitas vezes é mais acessível do que se possa imaginar. Mas para isso, primeiramente, é preciso acreditar numa inquietu- de inovadora. Com o Projeto Construção Cultural, o Sindus- con-RS colabora para a valorização da cultura. Uma iniciativa que, definitivamente, faz a diferença, especialmente em um país onde programas desse caráter são mais do que bem-vindos, são impera- tivos.
  • 12. Restauração do monumento O Laçador 11 ESTADO E MUNICÍPIO JUNTOS recuperam um patrimônio de todos Beatriz Araújo Secretária da Cultura Governo do Estado do Rio Grande do Sul Sedac/RS Símbolo oficial de Porto Alegre e monumento icônico do Rio Grande do Sul, O Laçador retornou revitalizado para seu sítio na entrada da cidade. A obra do artista plástico pelotense Antonio Caringi (1905-1981) foi objeto de um cuidadoso trabalho de restauração realizado por iniciativa da Associação Sul-Riograndense da Construção Civil e do Sindicato das Indústrias da Construção Civil no Estado do Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS), com apoio integral do Governo do Estado e da Prefeitura Municipal. O projeto Construção Cultural – Resgate do Pa- trimônio Histórico – Restauração do Monumento O Laçador recebeu recursos do Pró-cultura RS, meca- nismo de fomento da Secretaria Estadual de Cultura (Sedac), que utiliza incentivos fiscais para viabilizar ações de incentivo e apoio à cultura. Por sua re- levância artística e simbólica, O Laçador está pro- fundamente integrado ao cenário urbano de Porto Alegre e ao universo cultural do Rio Grande do Sul. Sua recuperação congregou esforços da iniciativa privada e dos poderes públicos, numa ação exem- plar de respeito ao patrimônio público. Em 1954, quando Caringi esculpiu O Laçador em gesso para simbolizar o povo rio-grandense na Ex- posição do IV Centenário de Fundação de São Paulo, possivelmente não imaginava a dimensão que sua obra conquistaria no futuro. Paixão Côrtes, um dos fundadores do Movimento Tradicionalista Gaúcho, serviu de modelo para que o artista reproduzisse a indumentária gaudéria com precisão. Quatro anos depois, a Prefeitura de Porto Alegre adquiriu a es- cultura, eternizou O Laçador em bronze e o instalou inicialmente no Largo do Bombeiro. De lá, foi trans- ferido, em 2007, para o espaço em frente ao Aero- porto Salgado Filho, e, desde então, se tornou uma referência para quem chega à capital dos gaúchos. Por sua dedicação aos temas regionais li- gados à história e à cultura rio-grandenses, e em especial à representação da figura do gaúcho tra- dicional, Antonio Caringi ficou conhecido como “o escultor dos pampas”. Considerado como expoente de obras épicas na história da arte do Rio Grande do Sul, tornou-se um dos maiores nomes da escul- tura monumental brasileira. As homenagens e co- memorações pela passagem do centenário de seu nascimento fizeram parte da programação cultural do Estado em 2005. Uma obra de arte como O Laçador não se limi- ta ao espaço físico que ocupa no território urbano. Como representação escultórica plena de significa- dos e evocadora de memórias, ela está presente no imaginário de todos os que com ela se identificam e reconhecem em suas formas os valores históricos, as tradições, o folclore e a própria índole de um povo. A Secretaria da Cultura do Estado do Rio Gran- de do Sul, cuja missão abrange a salvaguarda, a conservação e a valorização dos bens culturais, ma- teriais e imateriais, associa-se à Prefeitura Munici- pal de Porto Alegre e aos parceiros institucionais, públicos e privados, nessa importante iniciativa de restauração de um patrimônio que pertence a to- dos os gaúchos. É nossa responsabilidade cuidar, restaurar e valorizar esse patrimônio, para que se mantenha vivo e seja apreciado por muitas e mui- tas gerações.
  • 13. 12 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural
  • 14. Restauração do monumento O Laçador 13 LAÇADOR RENOVADO Um presente para Porto Alegre em seus 250 anos Sebastião Melo Prefeito de Porto Alegre A estátua O Laçador é um dos cartões-postais mais bonitos de Porto Alegre. Esse monumento icô- nico de mais de quatro metros de altura, de autoria do escultor gaúcho Antonio Caringi, tem um valor histórico inestimável para a Capital. Desde 2007, a obra está localizada na Avenida dos Estados, no bairro São João, em uma das entradas da cidade, mas a sua importância é reconhecida há muitas dé- cadas. Fruto de uma mobilização social muito forte na década de 1950 quando foi construída, em 1992 foi eleita símbolo oficial de Porto Alegre. Reconhe- cimento à sua representatividade para o Rio Grande do Sul ao mostrar a imagem do gaúcho pilchado, inspirada no folclorista Paixão Côrtes. Tombada em 2001, representa a grandeza do Rio Grande, seu povo e sua tradição, sobretudo pela sua autentici- dade, já que teve um gaúcho como modelo. Tê-la restaurada quando a Capital completa 250 anos é motivo de muita satisfação para nós, sobretudo por essa revitalização ser fruto de uma parceria com o setor privado. Nosso governo acre- dita muito nas parcerias e na importância de nos darmos as mãos, público e privado, na construção de uma Porto Alegre melhor. O Laçador é mais um belo exemplo de que unidos podemos deixar a cida- de mais bonita, bem cuidada, dando orgulho aos 1,5 milhão de porto-alegrenses e recebendo cada vez melhor os turistas. A estátua foi apenas o começo do grande pro- cesso de qualificação que queremos promover nes- te espaço. Estamos buscando parceiros que adotem o Sítio do Laçador para impulsionar o empreende- dorismo e o turismo em um local tão significativo da nossa Porto Alegre. Esse primeiro passo dado, que foi a restaura- ção realizada pelo Sindicato das Indústrias da Cons- trução Civil do Estado do Rio Grande do Sul (Sin- duscon-RS) e pela Associação Sul-Riograndense da Construção Civil, mediante o programa Pró-Cultura – Lei de Incentivo à Cultura, do Governo do Estado, tem um grande significado para o município. Esses parceiros, com patrocínio da Gerdau e da Sulgás e apoio da JOG Andaimes, Elevato, Ministério Público do Rio Grande do Sul e Phorbis Empreendimentos Imobiliários, deram um grande presente para a Ca- pital, sobretudo pela excelência técnica do trabalho de restauro executado. Com grande qualidade, nossos parceiros torna- ram possível a realização do sonho de muitos anos de ver o principal monumento da cidade recuperado e pronto para dar as boas-vindas aos moradores do interior, de outros estados e turistas que chegam e ao se despedir de quem sai de Porto Alegre.
  • 15. 14 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural
  • 16. Restauração do monumento O Laçador 15 Porto Alegre surgiu às margens do Lago Guaí- ba meio por acaso, em meados do século XVIII, a partir do assentamento improvisado de um grupo de cerca de 500 imigrantes açorianos que se des- tinava à região das Missões, mas que, em razão da Guerra Guaranítica por lá estalada, acabou perma- necendo no ponto onde desembarcou para aguardar prosseguimento da viagem. A identidade açoriana, assim, configurou claramente os cem anos inaugu- rais da cidade, o que se exprimia nos hábitos, na arquitetura, nas festas populares... Os primeiros monumentos da urbe datam de meados da década de 1860 – eram chafarizes que cumpriam o relevante papel de abastecimento de água à população e embelezavam o ambiente. São desse período as cinco estátuas em mármore de Carrara, associadas ao Guaíba e seus afluentes, ins- taladas na antiga Praça da Matriz – quatro delas po- dem ainda ser contempladas nos jardins do DMAE, na Avenida 24 de Outubro (um menino nu com bar- O LAÇADOR Símbolo de Porto Alegre e do gaúcho Gunter Axt Secretário Municipal de Cultura Porto Alegre/RS rete frígio e estandarte, que se remete à Liberdade, desapareceu dos registros públicos nos anos 1920). Já o Chafariz Conde D’Eu, fundido em ferro, na Fran- ça, foi instalado em 1866 na Praça do Mercado e hoje está no Parque da Redenção. Uma estátua em mármore em homenagem ao Conde de Porto Alegre, perfilado em traje militar de gala, inaugurada em 1885 na Praça da Matriz com a presença da Princesa Isabel, foi a primeira representação pública escul- turada permanente que se seguiu aos chafarizes – está hoje na Praça Conde de Porto Alegre, antiga Praça do Portão. Na passagem do século XIX para o século XX, Porto Alegre passou por profundas modificações, redefinindo sua identidade. A acanhada cidadezi- nha administrativa e militar foi sendo substituí- da por uma fervilhante locomotiva industrial, cujo combustível alimentava-se do capital comercial de origem colonial, isso é, que se desdobrava do processo migratório que desde 1824 cercava-a com Monumento O Guaíba e seus Afluentes. caminhosdosmuseus.wordpress.com Monumento ao Conde de Porto Alegre. Jornal Sul 21
  • 17. 16 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural povoamentos de colonos alemães e, mais tarde, ita- lianos. De vila tipicamente açoriana, Porto Alegre convertia-se em centro multiétnico, acolhendo uma nova burguesia desejosa de evidenciar seu êxito e ansiosa pela melhoria da urbanidade. Serviços em geral foram sofisticando-se e avenidas foram rasga- das. Uma nova elite política republicana e com in- fluência positivista esforçava-se, além disso, desde os anos 1890, para fazer da cidade a sala de visitas do Estado. Nos anos 1920, Porto Alegre imantava nova identidade, estampada no estilo algo báva- ro, oscilando entre o ecletismo e o neoclássico na arquitetura, então já marcada pela arte decorativa nas fachadas, que teve em escultores como Aloys Friedrichs expressões de escol. O primeiro grande monumento em bronze foi inaugurado em 1913, na Praça da Matriz. De autoria de Décio Villares, a obra homenageia o líder repu- blicano Julio de Castilhos, falecido em 1903. A figura de um cavaleiro gaúcho que integra o conjunto foi a primeira referência consistente na arte pública da Capital ao tipo humano do campo, que habitava a região da Campanha e pontificava na indústria ganadeira, que fora até então a poderosa alavanca do desenvolvimento econômico do Estado, embora cada vez mais eclipsada pela pujança industrial. Na pintura, o tema já aflorava há alguns anos. O óleo sobre tela de Guilherme Litran, Carga de Cavalaria, de 1893, é um dos precursores e reves- te uma cena militar que provavelmente se remete à Revolução Farroupilha, com ação e beleza. Pedro Weingärtner, um dos mais expressivos artistas do Aloys Friedrichs, escultor de fachadas. Monumento Julio de Castilhos, primeiro monumento em bronze de Porto Alegre. Guilherme Litran, óleo sobre tela, Carga de Cavalaria. www.sogipa.com.br www.lenach.com.br Revista Galileu/Globo.com
  • 18. Restauração do monumento O Laçador 17 Estado, pintou, em 1908, o belo Peões Laçando Gado e, em 1911, o célebre Carreteiros Gaúchos Chimar- reando. Em 1914, apresentou Pousada, outra bucó- lica cena campestre. Lucílio Albuquerque retratou Os Lanchões de Garibaldi, em 1918, famosa epopeia engendrada na Revolução Farroupilha, apontando no sentido na construção do gaúcho heroicizado, que mais tarde se consolidaria. A buliçosa capa da Revista do Globo, em janeiro de 1930, trazia a figura expressiva do Homem Tomando Mate, um gaúcho idoso e moreno, do tcheco Francis Pelichek. Enquanto evoluía na pintura, o tema foi revi- sitado na arte escultórica em 1935, por ocasião da grande Exposição do Centenário da Revolução Far- roupilha, que então se organizava no Parque da Re- denção, no Bairro Bonfim. O movimento procurava combinar a emulação da modernidade e da indús- tria com a valorização do regionalismo. Porto Ale- gre, então, na esteira da Revolução de 1930, torna- ra-se cidade muito influente politicamente em nível nacional. Ao mesmo tempo em que Getúlio Vargas projetava o retrato do gaúcho e apostava na cen- tralização, no Estado, José Antônio Flores da Cunha liderava a afirmação da autonomia regional, duas forças que acabaram se chocando em 1937. De qualquer forma, ao lado da exposição feé- rica, que explicitava o impacto da eletricidade na vida urbana, sete anos depois da inauguração da usina termoelétrica da Volta do Gasômetro, e do estilo art déco dos pavilhões e das esplanadas, a invocação do regionalismo se consubstanciava no bronze de cerca de 1,8 tonelada O Gaúcho Orien- tal, presente da República do Uruguai. A estátua de Federico Escalada representa, em tamanho natural, um peão paramentado com guaiaca, botas, chiripá, camisa, lenço, boleadeiras e pequeno chapéu com barbicacho ao estilo uruguaio. Em Montevidéu, um irmão gêmeo dessa estátua é batizado de Peão de Estância. Além disso, o escultor pelotense Antonio Ca- ringi, que fizera sua formação na Europa, inaugura- va a imponente estátua equestre do General Bento Gonçalves, em uniforme militar. Abeberava-se, en- tão, da gesta farroupilha e do “decênio heroico”, o pioneirismo republicano, o irredentismo, a ênfase autonomista e uma perspectiva da estética campei- ra novecentista. Atento ao apelo popular, Flores da Cunha, ele mesmo homem da fronteira e da Campanha, ani- mou as celebrações do Centenário com uma gran- de churrascada ao ar livre promovida no Parque. O evento foi considerado introdutor da iguaria cam- peira na Capital e precursor das churrascarias que deliciam porto-alegrenses e visitantes até os dias de hoje, já que o churrasco, até então, não era um prato servido na cidade. Esse contexto peculiar permitiu que o regiona- lismo vivificasse numa cidade que se aburguesava e se urbanizava. Em 1947, um grupo de jovens secun- daristas do Colégio Julio de Castilhos deu início ao movimento que mais tarde ficou conhecido como Nativismo ou Tradicionalismo, desencadeando-o Monumento a Bento Gonçalves, de Caringi. Peões Laçando Gado, pintura de Pedro Weingärtner. wikipédia www.jornaldocomercio.com
  • 19. 18 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural com uma cavalgada em trajes campesinos pelas ruas da Capital. O grupo foi fundamental na des- construção do tom pejorativo que então carregava a palavra “gaúcho”, acompanhando movimento que a literatura semeava desde José Hernandez e seu Martin Fierro, de 1872. A pilcha, antes indicativo de grossura, converteu-se em galardão. Até mesmo o mate, em baixa entre os jovens urbanos, foi se tor- nando um hábito cotidiano e atributo cultural. O Movimento Tradicionalista sul-rio-grandense foi tão exitoso que na segunda metade do século XX expor- tou o conceito para outros estados da federação e até para outros países. A institucionalização da representação do gaúcho avançou em 1951, com a contratação pelo Governador Ernesto Dornelles (PTB) do italiano Aldo Locatelli para produzir os novos 23 murais do Pa- lácio (batizado Piratini em 1955, em alusão a uma das capitais farroupilhas), sede do governo, em arquitetura neoclássica, inaugurada em 1921. Com excepcional qualidade plástica, Locatelli projeta personagens grandiosos, glorificados e atemporais, substituindo as cenas históricas feitas nos anos 1920 por, dentre outros, Augusto Luiz de Freitas: Combate da Ponte da Azenha e A Chegada dos Pri- meiros Açorianos. Em 1954, por ocasião das comemorações do IV Centenário da Cidade de São Paulo, o governa- dor Ernesto Dornelles promoveu um concurso para a escolha de uma estátua que traduzisse o espírito regional, a fim de ser erguida naquela cidade. Parti- ciparam do certame Antonio Caringi, Vasco Prado e Fernando Corona, que apresentaram maquetes com diferentes motivos em torno de personagens cam- pestres: Peão de Estância, Gaúcho Farrapo, Postei- ro, Bombeador e Boleador (Caringi submeteu três). Cada versão promovia uma representação diversa da figura do homem do interior. O projeto classifi- cado em segundo lugar, de Vasco Prado, apresenta- va um rapaz de peito nu, feições indiáticas, vestido com chiripá, portando boleadeira e firmando lança. A proposta vitoriosa de Caringi, originalmente concebida como boleador, foi adaptada para um la- çador, pois se entendeu que o laço era então mais Aldo Locatelli produziu murais no Palácio Piratini e no Aeroporto (acima). usado nas estâncias do que a vetusta boleadeira, ferramenta mais típica do século XIX. O folclorista J. C. Paixão Côrtes, um dos entusiastas do movimen- to de 1947 e jurado do concurso, teria convencido Caringi a adaptar o projeto, a fim de que dialogas- se mais com a imagem do campeiro que se tinha no presente. O Laçador foi assim vestido com um tirador (avental de couro curtido e sovado que pro- tege a coxa do gaúcho no momento da sujeição do animal laçado), laço de 14 braças e quatro tentos (embora o laço comum fosse bem menor), guaiaca, bombacha (indumentária também introduzida mais recentemente), lenço, camisa com gola e mangas dobradas, botas rústicas a meio pé (aparecendo os dedos) e vincha sobre a testa para conter a abasta- da e rebelde cabeleira. A pose e a indumentária ce- lebrizaram a imagem – menos antropológica, mais europeizada e próxima à estética dos anos 1950 – que se popularizou do gaúcho. Uma versão em gesso do monumento, já no tamanho final, foi exposta no Parque do Ibirapuera em 1954, no pavilhão do Rio Grande do Sul, duran- te a exposição do IV Centenário de São Paulo. Em paralelo, um movimento se encorpava para que a estátua fosse erguida em Porto Alegre. O Prefeito Leonel Brizola (PTB), sensível às evocações de figu- ras populares e sintonizado com o movimento de institucionalização do gaúcho agitado pelo gover- nador Ernesto Dornelles, encampou o apelo que se avolumava pela imprensa. Fundida no atelier Rebe- latto em São Paulo, a estátua de 4,45 m e cerca de 3 toneladas foi trazida de caminhão por estradas sinuosas e mal pavimentadas numa viagem que durou 10 dias. Foi inaugurada oficialmente em 20 de setembro de 1958, data em que se comemora a www.jfrs.jus.br
  • 20. Restauração do monumento O Laçador 19 efeméride Farroupilha, na confluência da Avenida Farrapos com a BR-116, em local conhecido como Largo do Bombeador1 . A Avenida Farrapos foi construída pelo Prefei- to Loureiro da Silva entre 1939 e 1940. A nova via, com 30 metros de largura e extensão de 5,5 Km, co- necta o Centro Histórico à Zona Norte e ao Aeropor- to Salgado Filho (inaugurado em 1951), tendo emer- gido como um grande monumento à modernidade, uma celebração do automóvel, que então invadia as cidades e se afirmava como poderoso objeto de desejo. A Farrapos marcou o início de uma nova era da Capital, pois se até então os principais acessos se faziam por via lacustre ou pelo trem, agora os aviões tinham seu templo, e as rodovias, que em alguns anos cortariam o país de ponta a ponta, anuncia- vam seu reinado. A Farrapos era, naquele momento, definitivamente, um ponto de inflexão urbanística em Porto Alegre e catalisadora de importantes ma- nifestações artísticas. Em 1953, o pintor Aldo Loca- A proposta de Caringi, originalmente concebida como boleador, foi adaptada para um laçador. telli inaugurou um eloquente painel de 50 metros quadrados no Aeroporto Salgado Filho, denomina- do A Conquista do Espaço. Um expressivo conjunto art déco se ergueu ao longo da avenida, que, antes da inauguração do Autódromo de Tarumã, em 1970, chegou a acolher edições do Grande Prêmio de Au- tomobilismo da Cidade de Porto Alegre. O Largo do Bombeador foi consagrado, no fi- nal dessa imponente radial, em posição estratégi- ca, para marcar o acesso à Capital. O nome vinha do projeto de escultura de Marcos Bastos, que ven- cera um concurso organizado durante a Exposição Farroupilha de 1935 para expressar o modelo de gaúcho. O termo vem do verbo regionalista “bom- bear”, que significa vigiar, observar, espreitar. Na imensidão do Pampa, a aproximação de amigos ou inimigos era crucial para a tomada de cautelas. Daí, a importância do homem a quem se atribuía tal função. Alguém com boa visão poderia obser- var de longe movimentação de piquete montado, 1. Com o passar do tempo, o Largo do Bombeador passou a se chamar Largo do Bombeiro, que, na linguagem regional, tem significado similar, mas que todo mundo atualmente entende como o bombeiro que apaga incêndio ou o encanador.
  • 21. 20 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural de manadas de equinos ou de tropa vacum. Bastos propunha assim uma estátua equestre que fazia de certo modo o contraponto à de Bento Gonçalves, pois se esta estampava o oficial e líder engalana- do, a outra o atento peão lanceiro. Como muitos outros planos de estatutária pública, o Bombeador não foi adiante, em razão da indisponibilidade de verbas. Dezesseis anos mais tarde, Brizola abraçou O Laçador e o instalou no local previsto para o Bom- beador – que chegou a ser também o nome dado por Caringi a uma de suas maquetes. Dessa forma, o gaúcho que estava a cavalo ficou a pé, metáfora que nos remete à obra de Cyro Martins, cuja trilogia central desenha o homem pampeiro marginalizado pela ordem econômica e cultural gerada pelo fluxo da industrialização e da concentração urbana. O Laçador catapultou a campanha vitoriosa de Leonel Brizola ao governo estadual, marcando a sua carreira; sacramentou a consagração de Ca- ringi como o maior escultor de obras públicas do Rio Grande do Sul e gravou em bronze o nome do folclorista Paixão Côrtes. Em 1992, a Câmara Muni- cipal aprovou o projeto do Vereador Nereu D’Ávila (PDT) reconhecendo a estátua como símbolo de Por- to Alegre, em movimento que chancelava resultado de enquete promovida no ano anterior pelo Grupo RBS. No ano seguinte, o monumento passou pelo primeiro restauro, a cargo de Jair Torelly Mâncio. Em 2001, foi inscrito no Livro Tombo do Município. Em 2008, veio tombamento estadual. Porém, mais do que um distintivo da Capital, O Laçador, postado na sua entrada, saudando quem chega e despedindo-se de quem parte, dialoga com a alma do interiorano que a visita ou a habita. O Laçador tornou-se um ponto de referência, o local de início ou término da viagem. Numa cidade que, entre os anos 1940 e 1970, cresceu a passos largos com as populações imigradas do interior, o ícone carrega pungente potencial afetivo. Depois de 49 anos no Largo do Bombeador, a estátua foi transferida, em 11 de março de 2007, para o Sítio do Laçador, situado a 600 metros do local original. A corrente morada é um espaço de 4 mil m2 na Avenida dos Estados, em frente ao Ter- minal 2 do Aeroporto Salgado Filho. A remoção foi motivada pelo plano de desenvolvimento rodoviá- rio, que contemplou a construção do Viaduto Leonel Brizola, propiciador de acesso mais ágil à BR-290 (Free Way). Por certa ironia do destino, Brizola, que fixou O Laçador na Avenida Farrapos, foi reverencia- do no batismo do viaduto que o deslocou de lá. O investimento na construção do sítio, envol- vendo várias equipes da Prefeitura, montou na épo- ca a um milhão de reais e valorizou o tradiciona- lismo. O Laçador foi acomodado sobre uma coxilha e sobre um pedestal de dois metros, que melhorou sua visibilidade à distância e o protegeu do intenso fluxo de veículos do entorno, que passou a caracte- rizar a região, sobretudo a partir dos anos 1980. O Recanto da Tradição, ao lado, é um preito ao Grupo A flor brinco-de-princesa e a erva-mate: símbolos do Rio Grande do Sul. Fotos: Acervo Voz Cultural
  • 22. Restauração do monumento O Laçador 21 dos Oito, o qual, liderado por Paixão Côrtes, promo- veu a cavalgada que suscitou o nascimento do Mo- vimento Tradicionalista, em 1947. Oito belos jerivás (típica palmeira campestre) dispostos retilineamen- te se remetem aos membros, relacionados em uma placa. O Largo dos Gaúchos pode acolher atividades de lazer e é colorido por uma rosa dos ventos ela- borada com pedras portuguesas. Ao lado se ergue uma plataforma cívica de 70m2 , com espaço para hasteamento de bandeiras e para acendimento da Chama Crioula. O ajardinamento original previu que o local seria embelezado por brincos-de-princesa, flor-símbolo do Rio Grande do Sul, bem como um pé de erva-mate. Apesar de saudada por tradicionalistas, a mu- dança não agradou a todos. Houve quem lamentas- se a perda do ponto de referência afetivo na Ave- nida Farrapos e considerasse que O Laçador tenha sido distanciado de seus admiradores. Em adição, com o tempo, o local foi se revelando pouco hos- pitaleiro ao público. Em 2019, sob coordenação de José Francisco Alves, professor do Atelier Livre da Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre, um andaime para selfies aproximou o público da está- tua, com grande repercussão. Novamente foi pos- sível constatar o amor da população pela imagem. Passados cerca de dez anos da mudança, ve- rificou-se a necessidade de restauro da escultura, que apresentou, em diagnóstico técnico, fissuras internas. Além disso, o sítio como um todo reclama- va revitalização. Uma parceria entre o Sinduscon – que vem contribuindo sobremaneira no restauro de muitos monumentos da cidade – e a Prefeitura, sob os auspícios da Lei Estadual de Incentivo à Cultura, tem permitido este encaminhamento. A estátua foi magnificamente recuperada e o sítio começa a re- ceber novo tratamento. O Laçador transcende sua condição específica de obra de arte e de monumento tombado. É um emblema vivo para a população que condensa a união entre a Capital e o interior. É a expressão de uma visão urbanística e de desenvolvimento econô- mico concebida e embalada entre meados dos anos 1930 e fim dos anos 1940. Ele coroava o moderno e progressista boulevard da Farrapos, invocando o homem do campo, de modo a procurar conciliar mo- dernidade e tradição, progresso industrial e aden- samento urbano com o espírito rural. Sua presen- ça no local dialogava com o painel de Locatelli no aeroporto, que escrutina a conquista do espaço e enaltece a aviação, também por meio da excelência artística de primeira grandeza, assim como com os painéis do mesmo artista no Palácio Piratini. Cober- to de reconhecimentos, impregnado de qualidade, envolto em afetividades, O Laçador, restaurado e reposicionado num sítio revitalizado, pode, agora, também, se converter em símbolo do renascimento do Quarto Distrito, que tem na Avenida Farrapos, hoje desolada e degradada, sua principal artéria. Muito a propósito, a Prefeitura gesta um amplo pla- no de incentivo à reurbanização da região, que pode servir de farol a guiar futuras parcerias em prol do engrandecimento da cidade. Referências: ABREU FILHO, Silvio Belmonte de; PROCHNOW, Simone Back. Barreiras na paisagem da cidade: a Avenida Farrapos e o Quarto Distrito. In: SILVESTRE, Luciana Pavowski Franco. Estética e política nas ciências sociais aplicadas. Ponta Grossa: Atena, 2020. ALVES, José Francisco. A escultura pública de Porto Alegre. Porto Alegre: Artfolio, 2004. ALVES, José Francisco. O Laçador ao alcance do povo. Correio do Povo, Caderno de Sábado, 30 de março de 2019. ASSIS BRASIL, Luiz Antônio; GOMES, Paulo. Antonio Caringi, escultor dos Pampas. Porto Alegre: Ed. Nova Prova, 2008. AXT, Gunter. A Revolução Farroupilha como mito fundador da identidade gaúcha. Porto Alegre, Zero Hora, 10 de agosto de 2018. AXT, Gunter; SCLIAR, Moacyr. Parque Farroupilha. Redenção. Histórias de Porto Alegre. Porto Alegre: Paiol, 2011. BAKOS, Margareth M. Porto Alegre e seus eternos intendentes. Porto Alegre: EdiPUCRS, 1996.
  • 23. 22 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural CHAVES, Ricardo. O sonho que desmoronou, Zero Hora, Porto Alegre, 25 de março de 2007. CÔRTES, J. C. Paixão. O Laçador: símbolo da terra gaúcha e sua nova morada. Porto Alegre: Lornigraf, 2008. CÔRTES, J. C. Paixão. O Laçador: um pealo na sua história. Porto Alegre: s/ed., 2009. DIAS, M. A. M., DILIGENTI, M. P. O Laçador: espectro de significação e identidade. Paisagem e Ambiente, (36), 209-227, 2015. FIGUEIRÓ, Aline Fortes. Art déco no Sul do Brasil: o caso da Avenida Farrapos. Dissertação de Mestrado em Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Brasília, Brasília, 2007. FLORES, Ana Berenice Hubner. Design, Território e Tecnologia 3D na Preservação Cultural em Suporte Material Sustentável: Estudo de Caso do Monumento “O Laçador”. Dissertação (Mestrado em Design) – Escola de Engenharia e Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: 2012. GIBROWSKI, Cristina. A trajetória de um monumento na paisagem urbana de Porto Alegre (1866-2013): de Chafariz Imperador para Afluentes do Guaíba. Dissertação de Mestrado. Centro Universitário Unilasalle, 2014. HOHLFELDT, Antonio. Literatura e vida social. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 1998. LIMA, Henrique Pereira. Dueto em três vozes: discursos historiográficos e estéticos do gaúcho em “O Laçador” e “El Gaucho Oriental”. Dissertação de Mestrado, PPG História, Universidade de Passo Fundo, 2012. MAGS, André. Polêmica em bronze: Paixão Côrtes aponta problemas no monumento O Laçador. Folclorista que serviu de modelo à estátua critica condições do local e o laço da escultura. Zero Hora, Porto Alegre, 11 de novembro de 2012. O Laçador de Caringi. Zero Hora, Porto Alegre, 21 de março de 2017. RUSCHEL, Simone. A modernidade na Avenida Farrapos. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Faculdade de Arquitetura. Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura. Porto Alegre, 2004. SÍMBOLO da Tradição. Tendo Paixão Côrtes como modelo, estátua do Laçador foi inaugurada em 1958. Zero Hora, Porto Alegre, 27 de agosto de 2018. TILL, E. Rodrigues. Antonio Caringi: o escultor do Rio Grande do Sul em seu centenário. Porto Alegre, Ed. Evangraf, 2005. TORINO, Isabel Halfen da Costa; SOSA GONZÁLEZ, Ana María; VERGARA CERQUEIRA, Fábio. Monumentos públicos de Antonio Caringi em Pelotas, RS: entre práticas, representações e consumo, Patrimônio e Memória, Assis, v. 15, n. 2, p. 575-596, julho- dezembro de 2019. Em tempo Agradeço aos servidores da Secretaria Municipal de Cultura, em especial da Diretoria de Patrimô- nio e Memória, com destaque à Manuela Franco Lopes da Costa, que se dedicaram ao sucesso do projeto. Registro meu agradecimento tam- bém aos colegas de Prefeitura que colaboraram em diversas frentes, em especial o engenheiro Marcos Caberlon, a diretora Melissa Custódio e os secretários Cezar Schirmer (Planejamen- to), Marcos Garcia (Serviços Urbanos), Germano Bremm (Meio Ambiente) e Ana Pellini (Parce- rias), bem como suas equipes. Meu reconheci- mento aos responsáveis pelo projeto pelo Sin- duscon com os quais interagimos, o engenheiro Zalmir Schwartzmann, a arquiteta Veronica de Benedetti e o produtor e historiador Vitor Ortiz. Agradeço pelos comentários a este texto feitos pelos amigos e colegas Nelson Boeira, Paulo Amaral, José Francisco Alves, Fábio Vergara Cer- queira, Corálio Bragança Pardo Cabeda e Lídia Fabrício.
  • 24. Restauração do monumento O Laçador 23 A iniciativa desse projeto amplo, que vem sen- do desenvolvido há mais de 6 anos, surgiu de um pedido de socorro da sociedade para que o Sindus- con – Sindicato da Construção Civil do RS – contribuí- sse com sua expertise e capacidade de mobilização para o restauro do Monumento do Expedicionário, na Redenção, em 2014. Ação realizada com recursos próprios e de patrocinadores, sem gerar despesa para o erário público. Em 2016, dando sequência à proposta de revi- talização dos monumentos do Parque Farroupilha, novamente com patrocinadores do setor privado, mas contando já com os benefícios da Lei Estadual 13.490/2010, que estabelece o Pró-cultura – progra- ma de incentivo à realização de projetos e ativida- des culturais – foi realizada então a segunda etapa do programa Construção Cultural – Resgate do Pa- trimônio Histórico, com ênfase para o traslado da estátua do Gaúcho Oriental, anteriormente locali- zada abaixo do Viaduto Imperatriz Dona Leopoldi- na, transferido então para o centro da Redenção, junto ao chafariz e próximo ao espelho d'água, onde o monumento ganhou visibilidade e a comunidade ganhou acesso à cultura e ao conhecimento histó- rico. Em 2017, diante de um pedido do então Coorde- nador da Memória Cultural da Secretaria Municipal da Cultura, Luiz Antônio Custódio, o Sinduscon, atra- vés da Associação Sul-Riograndense da Construção Civil, estruturou o projeto de prospecções técnicas PROJETO CONSTRUÇÃO CULTURAL Sua relevância para a cidade Monumento do Expedicionário, Parque da Redenção. Monumento ao Gaúcho Oriental. Zalmir Chwartzmann Ex-Presidente do Sinduscon-RS e Coordenador do Projeto Construção Cultural Caderno de Restauro Chafariz Imperial Caderno de Restauro Chafariz Imperial
  • 25. 24 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural para análise das condições estruturais e do estado de conservação da estátua O Laçador. Para tanto, foi convidado o especialista francês Antoine Amar- ger, o mesmo que coordenou os trabalhos técnicos de intervenção para o restauro do Monumento aos Bandeirantes, em São Paulo. Em 2019, chegou a vez da revitalização do Cha- fariz Imperial, outra vez com a participação da Pre- feitura e financiamento do sistema Pró-cultura da Secretaria Estadual de Cultura do Rio Grande do Sul. O chafariz integrou o conjunto das primeiras fontes de abastecimento de água da cidade, implantadas ainda no século XIX, e posteriormente realocada na Praça São Sebastião e depois na Redenção, ao lado do Auditório Araújo Vianna. Em 2021, após a primeira fase do contexto de pandemia, foi possível a retomada do projeto de res- tauro da estátua O Laçador, uma operação realizada com todo o cuidado e baseada nos laudos e análises técnicas produzidos nos estudos de 2017, que contou inclusive com um laudo do LAMEF (Laboratório de Metalurgia Física da UFRGS). A ação mobilizou uma equipe com diversos profissionais das áreas cultu- ral, técnica e de engenharia, a fim de executar um trabalho de excelência, à altura da simbologia do monumento e de tudo o que a estátua O Laçador representa para os gaúchos e gaúchas. Ainda durante a realização o restauro de O Laçador, a equipe de coordenação do projeto Cons- trução Cultural obteve a aprovação junto ao Pró- -cultura de uma outra iniciativa cultural de gran- de relevância, que será também patrocinada pelas empresas parceiras: a realização de um audiovisual que documenta todos os momentos do processo de restauro, tanto do ponto de vista técnico quanto de pesquisa histórica, e que deverá ser finalizado ain- da em 2022 e lançado no final deste ano. Finalizada a mais importante missão desde o seu surgimento, em 2014, o projeto Construção Cul- tural se prepara agora para novas realizações que possam beneficiar a sociedade e trazer para todos os cidadãos os benefícios da preservação do patrimônio histórico comum, seguindo com seu foco nos espa- ços públicos e urbanos que demandam cuidados e investimentos tanto de parte do poder público quan- to de parte das empresas e dos empreendedores. Chafariz Imperial, no Recanto Europeu, Parque da Redenção. Caderno de Restauro Chafariz Imperial
  • 26. Restauração do monumento O Laçador 25
  • 27. 26 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural CENTRO DE PORTO ALEGRE A V E N I D A Z A I D A J A R R O S A V E N I D A D O S E S T A D O S AEROPORTO SALGADO FILHO TERMINAIS 1 E 2 ESTACIONAMENTO ROSA DOS VENTOS MONUMENTO O LAÇADOR LINHA DO TRENSURB A localização BR 116
  • 28. Sítio do monumento O Laçador, próximo aos terminais 1 e 2 do Aeroporto Salgado Filho. LIGAÇÃO DO AEROMÓVEL AO AEROPORTO
  • 29. 28 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural
  • 30. Restauração do monumento O Laçador 29
  • 31. 30 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural
  • 32. Restauração do monumento O Laçador 31 Em 2017, a fim de verificar as condições da estátua O Laçador, a pedido da Coordenação da Me- mória da Secretaria Municipal da Cultura, em ou- tro projeto viabilizado pelo sistema Pró-Cultura, a Associação Sul-Riograndense da Construção Civil e o Sinduscon contrataram os especialistas Virgínia Costa (engenheira metalúrgica e PhD em Ciência dos Materiais pela Technische Universitat Berlin e professora aposentada do Departamento de Mate- riais da UFRGS) e Antoine Amarger (restaurador de obras de arte, especialista em esculturas metálicas, diplomado pela École Boulle, em 1977; pela École National dês Arts Décoratifs, em 1980; pelo Institut de Formation des Restaurateurs d’Oeuvres d’Art, em 1989, e responsável técnico pelo restauro do Monu- mento dos Bandeirantes, em São Paulo). Esse trabalho resultou em dois estudos, um dos prospectores e outro do LAMEF/UFRGS (Labora- tório de Metalurgia Física). Esse material foi a base para a organização do projeto atual O relatório dos especialistas Virgínia Costa e Antoine Amarger leia a seguir. Além desses relatórios, a experiência oportu- nizou a um grupo de estudantes interessados em especializar-se no restauro de obras de arte com metal uma série de encontros presenciais no Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre e no próprio sí- tio da estátua juntamente com os especialistas. Um desses alunos é o engenheiro Ricardo Jaekel, que integrou a equipe de especialistas da restauração realizada recentemente. A base para a realização do projeto de restauro Na página ao lado, registros realizados com estudantes nas prospecções da estátua O Laçador durante oficina paralela no Atelier Livre da Prefeitura. 1. ESTUDO PRELIMINAR E PROPOSTA DE INTERVENÇÃO Dados históricos No que diz respeito ao patrimônio cultural, infelizmente, em regra geral, não existe documen- tação que registre a história da obra desde sua execução até o presente. O caso do monumento O Laçador não foge à regra. O único texto encontrado nos documentos da Prefeitura de Porto Alegre1 não cita referências e é bastante vago, indicando que a escultura mede 4m45cm e pesa 3,8 toneladas. Entre os documentos fotográficos disponibili- zados2 se encontram alguns mostrando o modelo original em gesso (Fig. 1) bem como a escultura em metal em sua localização inicial, na extremidade da avenida Farrapos (Fig. 2). Nas fotografias se pode ver que o monumento sofreu choques e já possuía uma janela na parte traseira antes de ser transferi- do para o local atual (Fig. 3 e 4). Material da impren- sa também testemunha ocorrências de vandalismo e manifestações diversas (Fig. 5, 6, 7). Em 2007, por ocasião da transferência do mo- numento para o local próximo ao aeroporto, uma série de fotografias relata a mudança2 (Fig. 8 a 12). Elas mostram detalhes importantes, como o cuida- do para remover a escultura com auxílio de uma estrutura temporária de sustentação (e não sim- plesmente diretamente no metal, o que poderia causar fissuras ou ruptura), a existência de placas metálicas na base da escultura, assim como a pre- 1 http://lproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/smc/usu_doc/ historico_estatua_do_lacador_1.pdf 2 arquivo J.F. Alves Virgínia Costa Engenheira metalúrgica Antoine Amarger Restaurador
  • 33. 32 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural sença de armaduras/pinos metálicos de fixação na antiga base, que foram desbastados e cortados com maçarico. O transporte até o local atual também foi documentado (Fig. 8 a 12). 1. Modelo em gesso. 3. Acidente. 4. Parte traseira, janela. 5. Vandalismo. 6. Intervenção. 7. Demonstração. 2. Localização inicial.
  • 34. Restauração do monumento O Laçador 33 2. ESTUDO PRELIMINAR Aspecto geral do monumento e detalhes técnicos Por ocasião do atelier-escola, realiza- do em março de 2017, foi possível fazer um exame detalhado do monumento. Naque- la ocasião foram montados andaimes que permitiram o acesso direto a todas as par- tes. Inscritos na base de bronze, pode-se ler o nome do autor, A. Caringi, junto a data de realização, 1954, bem como o nome da fundição, J. Rebellato (Fig. 14). Em relação à repartição de solici- tações mecânicas, fica claro que todo o conjunto está apoiado sobre a per- na direita da escultura. 8. Levantamento com grua. 9. Detalhe da parte inferior. 10. Transporte e cortejo tradicional. 11. Preparação do novo local. 12. Colocação no novo local. 25 Base em bronze 13. Base em bronze. 14. Fundição Rebellato.
  • 35. 34 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural O exame detalhado da superfície do monu- mento revelou que ele foi realizado pela união de diversas partes fundidas separadamente, apresen- tando claras linhas de soldagem, com porosidade evidente. Foram observadas três aberturas (janelas) já existentes: duas delas na base em bronze, atrás de cada uma das pernas. Elas estavam abertas e se observava o fundo preenchido com concreto e um pino rosqueado sobressaindo. A terceira janela se situava também na parte traseira, mas na altura da vestimenta. Examinando de perto foi possível ob- servar as saliências produzidas pela solda realizada por maçarico com acréscimo de material. Exame visual para a localização de patologias A superfície da escultura tinha um aspecto bastante heterogêneo. Em alguns locais havia vestí- gios de tintas preta (Fig. 15) e acinzentada. Também eram visíveis regiões com manchas de ferrugem, neste caso provenientes da corrosão da liga ferrosa utilizada no laço (Fig. 16 a 18). Em alguns locais se observou infestação de insetos e em outros, como no olho, colonização vegetal (Fig. 19 e 20). Além desses aspectos superficiais, um exame mais detalhado da região das pernas, importante elemento de sustentação do monumento, apontou diversos problemas. Na perna esquerda havia evi- dência de solda grosseira, fissuras e produtos de corrosão verde-claros logo abaixo da vestimenta, 15. Vestígios de tinta preta e depósitos superficiais. 16. Produto de corrosão (ferrugem) do laço, escorrendo sobre a escultura. 17. Ferrugem do laço, escorrendo sobre a base. 18. Ferrugem do laço e fixação sobre os dedos da mão direita. 19. Colônia de vegetais no olho. 20. Detalhe.
  • 36. Restauração do monumento O Laçador 35 Para um exame do interior aproveitou-se a ja- nela existente na parte traseira da escultura, que foi removida em duas etapas. A primeira consistiu em fazer um orifício com rosca no centro da janela, de forma a prendê-la para que não caísse no inte- rior do monumento quando da abertura. A segunda etapa foi a abertura da periferia, seguindo as linhas de solda, com auxilio de serra adaga. Ao final da inspeção do interior da obra, abas de fixação foram soldadas na janela e esta foi recolocada no local. A inspeção do interior mostrou que as duas pernas estavam quase que completamente preen- chidas com concreto, sobre o qual havia água es- tagnada. No centro de cada perna havia um perfil em liga ferrosa, dobrado na extremidade e quase 21. Fissuras no entorno da janela da vestimenta. 22. Perfurações nos dedos. 24. Detalhe da fixação. 23. Laço na época. 25. Escoamento de água. além de grande número de fissuras), lacunas e eflo- rescências esbranquiçadas, provavelmente restos do núcleo utilizado durante a fundição. Os mesmos tipos de problemas foram detectados na perna di- reita, que é a maior sustentação do conjunto: sol- da grosseira, fissuras, poros e produtos de corrosão verde-claros. Essas patologias foram observadas ao longo de todo o monumento, podendo-se destacar alguns locais como o queixo, a nuca e o braço esquerdo, a parte baixa da vestimenta, o contorno da janela na traseira da vestimenta (Fig. 21), a cabeça, próximo à orelha direita. Além disso também verificou-se a existência de furos nos dedos onde foi preso o laço (Fig. 22). Um elemento acessório, o laço com detalhes desenhados, que parece já ter sido substituído di- versas vezes (Fig. 23), aparece preso à mão direita (Fig. 23 a 25), amarrado com um arame. Essa peça apresenta muitos pontos de ferrugem, localizados principalmente em regiões onde um provável reves- timento superficial tenha sido removido.
  • 37. 36 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural inteiramente incluído no concreto, sendo que na perna direita, com maior acumulo de água, o perfil havia rompido por corrosão. O acesso também per- mitiu uma inspeção da parte superior da escultura. A superfície interna apresentava o aspecto carac- terístico de bronze fundido pelo processo de cera perdida em diversos elementos, sendo possível ver as linhas salientes que correspondem às soldas que os unem. Próximo à extremidade superior pôde se ver uma seção retangular que define a junção entre a cabeça e o corpo. Composição e estrutura dos materiais Durante a inspeção visual fo- ram selecionados diversos locais para proceder a uma análise ele- mentar qualitativa utilizando um aparelho portátil de fluorescência de raios-X (FRX). As regiões foram escolhidas por apresentar certas peculiaridades, como a área acin- zentada no topo da cabeça, a solda próximo à fivela do cinto e na mon- tagem traseira, o laço para confir- mar liga ferrosa e verificar presença de revestimento, o parafuso fixado no concreto da janela da base ou a parte inferior da vestimenta. A análise foi realizada para verificar os elementos presentes em cada um desses locais, oferecendo assim uma indicação do tipo de liga utili- zado, sua homogeneidade, presença de reparos, soldas, etc. Todas as áreas analisadas da escultura acusaram a presença dos elementos cobre (majoritário), esta- nho, zinco e chumbo. Além destes, em diversos locais foi detectada a presença dos elementos alumínio, ferro e silício. Estes últimos nor- malmente não participam das ligas de cobre, mas podem se apresentar como impureza. No caso do ferro, em muito pe- quena quantidade. O silício, também em pequena quantidade, pode ser atribuído a partículas do ar (areia, etc) aderidas na superfície, enquanto que o elemento alumínio é encontrado em alta proporção em algumas regiões, como nas soldas ou na parte inferior da vestimenta, o que poderia ser atribuído a algum tratamento de superfície anterior, realiza- do, por exemplo, com produto à base de alumínio. As análises realizadas no laço confirmaram que se tratava de liga ferrosa e, além do elemen- to ferro (majoritário) indicaram a presença de ti- tânio, cobre e níquel em pequenas proporções em certos locais. O titânio poderia ser associado a um pigmento utilizado para proteger a liga ferrosa, en- 26/27/28. Amostra retirada da janela e sua localização antes e depois da remoção. 29/30/31. Amostra retirada do interior e sua localização antes e depois da remoção. 32/33/34. Amostra retirada da espora e sua localização antes e depois da remoção.
  • 38. Restauração do monumento O Laçador 37 quanto que cobre e níquel indicam resquícios de um tratamento de superfície anterior. Também foi realizada amostragem de material em três locais do monumento, para que se pudesse proceder a um exame da estrutura e assim obter informações precisas e complementares à análise qualitativa realizada com FRX no local. As regiões selecionadas foram as seguintes: lateral da janela (Fig. 26 a 28), interior da estátua (Fig. 29 a 31) e ex- tremidade da espora (Fig. 32 a 34). Os ensaios foram realizados pelo LAMEF/UFR- GS e são relatados detalhadamente no relatório correspondente. Os resultados indicaram uniformi- dade na fundição da liga, pois tanto a composição química quanto a estrutura micrográfica são simila- res nos três locais. A composição química foi determi- nada por espectrometria de dispersão de energia (EDS/MEV) e indicou para as três amostras a presença de cobre (78-84%), zinco (7-9%), estanho (1,8-3%) e chumbo (5-6%). Por outro lado, a análise realiza- da na região da solda da janela indicou uma liga diferente, composta por cobre (60%) e zinco (37%). O exame micrográfico evidenciou uma estrutura bruta de fusão com for- mação dendrítica de fase primária, fases globulares, precipitados interdendríticos e microrechupes (Fig. 35 a 39). A análise local feita por EDS/MEV mostrou como os elementos estão repartidos nas dife- rentes fases: as dendríticas são compos- tas principalmente de Cu e Sn, enquanto as fases dispersas apresentam, adiciio- nalmente, os elementos Zn, Pb e S e os glóbulos dispersos são constituídos ex- clusivamente por Pb. Os ensaios de du- reza também indicaram dureza similar para as três amostras, variando entre 85 e 103 HV para o metal base na janela, espora e região interna, respectivamen- te. A dureza média medida na região da solda foi de 119 HV. 35. Amostra retirada da janela mostrando a região da solda porosa sobre o substrato. 36. Estrutura de solda de 1997. 38. Estrutura da amostra do interior. 39. Estrutura da amostra da espora. 37. Estrutura do substrato de 1997. Estado de conservação O exame visual detalhado permite concluir que os problemas para a conservação da obra são diversos e de natureza variada. Alguns defeitos ou irregularidades, como sol- da porosa e algumas fissuras talvez originadas por variações térmicas, parecem ter sido originados durante realização da escultura. Além de consis- tir áreas de fragilidade devido à descontinuidade material localizada, estes defeitos propiciam a pe- netração de água da chuva e pequenas partículas no interior do monumento, fato que, aliado à insu- ficiência de escoamento do conjunto, acelera sua deterioração.
  • 39. 38 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural Outro problema detectado foi a falta de manu- tenção periódica da superfície da obra, comprova- da pela presença de depósitos, colonização vegetal e infestação de insetos em regiões protegidas da chuva. A manutenção periódica é fundamental para a conservação do acabamento superficial, seja ele pátina ou pintura, pois permite que ações preventi- vas sejam tomadas no caso de desgaste ou defeito localizado do revestimento, antes que o dano che- gue ao bronze da escultura. Enfim, também foram verificados problemas de projeto, como a fixação da escultura na base e o escoamento insuficiente da água pela parte infe- rior do monumento. O fato de as pernas da escul- tura terem sido preenchidas com concreto, não se sabe bem em que momento, criou condições perma- nentes de estagnação de água, que buscou então sair pelos pe- quenos orifícios de poros e fissu- ras. Esse fato deve ter contribuído de forma decisiva para o agrava- mento das fissuras das pernas, que se encontravam recobertas de produtos de corrosão verde-claros, indicando uma certa atividade química naqueles locais. Em cer- tas regiões das pernas, como os tornozelos, as fissuras chegavam a atingir aproximadamente 1/4 da circunferência, tornando-se uma ameaça para a estabilidade do monumento (Fig. 40). 3. PROPOSTA DE INTERVENÇAO Para sanar os graves problemas estruturais será necessário remover o concreto e tijolos que preenchem a base da escultura. Isso poderá ser feito após o desmonte da estátua do pedestal, por meio da remoção da parte superior do mesmo, onde ela se encontra fixada (como foi feito há 10 anos para mudança de local). A seguir a estátua deve ser transportada, preferencialmente deitada, até um local adequado para realização das intervenções. Este local deve dispor de água, eletricidade, mate- rial para solda e outras ferramentas. 40. Estado de conservação das pernas do monumento.
  • 40. Restauração do monumento O Laçador 39 A primeira etapa consistirá no esvaziamento progressivo do material que preenche as pernas, com o auxílio de uma furadeira, liberando o aces- so para as demais intervenções. Para compensar os defeitos de fabricação e outras alterações, particu- larmente na região das pernas, que sustentam o conjunto, será necessário refazer as soldas indivi- dualmente pelo interior e depois fazer o acabamen- to pelo exterior. Também será necessário realizar uma armadu- ra interna de aço inoxidável, que possa reforçar a base de bronze, as duas pernas e talvez uma parte do corpo, de forma que as solicitações mecânicas associadas à exposição à intempérie (em particu- lar rajadas de vento), sejam exercidas sobre esta estrutura, e não mais sobre o “envelope de bron- ze”. Somente após a remoção do preenchimento de concreto será possível avaliar o volume disponível no interior das duas pernas e assim definir a geo- metria mais adequada dessa estrutura interna, que deve integrar um modo de fixação reversível sobre o pedestal em concreto. Para definir a geometria mais adequada seria interessante poder contar com o auxilio de um profissional especializado no as- sunto. No que diz respeito ao laço, deve-se buscar uma solução técnica de substituição para o atual, visando um aspecto compatível com a estátua (tal- vez aço inoxidável com pátina cor bronze) e um sis- tema de fixação que minimize o risco de roubo ou vandalismo. Enfim, todas estas intervenções para adequa- ção estrutural, mesmo se realizadas pelo interior da estátua, acarretarão alterações localizadas em seu aspecto exterior. Por essa razão, a etapa final da intervenção consistirá não apenas em tratamento de limpeza para remoção de depósitos, fungos, etc, mas deverá ser finalizada por aplicação de pátina química completa, a fim de restaurar a integridade visual da obra.
  • 41.
  • 42. Restauração do monumento O Laçador 41 O monumento O Laçador, obra de Antonio Ca- ringi – o escultor dos pampas – possui uma identi- dade muito forte perante os gaúchos. Símbolo máximo do tradicionalismo local, o monumento erigido em bronze em 1958 encontra-se instalado no Sítio do Laçador, localizado próximo ao Aeroporto internacional Salgado Filho e à estação de trem, na capital do Rio Grande do Sul, junto à Avenida dos Estados. Sua localização propicia àqueles que chegam à cidade as boas-vindas. Com trajes que reveren- ciam e informam a todos suas tradições, O Laçador saúda a quem chega, como uma saudação do povo gaúcho, este tão conhecido pela sua hospitalidade. Como monumento público, O Laçador esteve desde sempre exposto às intempéries, acelerando, assim, os processos de degradação do seu material constituinte. ESTADO DE CONSERVAÇÃO O monumento, ao logo dos seus 64 anos de exposição às intempéries e ações de apropriação indevida por parte da população, começou a apre- sentar diversas patologias, comprometendo a sua durabilidade. Como toda matéria, o bronze também está sujeito ao envelhecimento natural, como o desgas- te da pátina, a perda da camada de proteção e, no caso de O Laçador, ao estresse mecânico. Patologias como fissuras, rachaduras, oxida- ções, lixiviações, corrosão galvânica e sujidades generalizadas foram apresentadas na inspeção rea- lizada em 2017 pela engenheira metalúrgica Virgí- nia Costa e o restaurador Antoine Amarger, após análise visual e qualitativa do bronze. O LAÇADOR Representatividade de um povo Essa inspeção formalizou diretrizes para as in- tervenções conservativas realizadas aqui. AGENTES DE DEGRADAÇÃO Por estar localizado à beira de avenida de flu- xo intenso e pesado, bem como vizinho ao aeropor- to internacional, agentes como poluentes atmosfé- ricos e movimentações mecânicas estão presentes de maneira muito intensa e permanente no local. Conservações preventivas e uma rotina de ins- peções são necessárias para a preservação do mo- numento. POLUENTES ATMOSFÉRICOS Em nossa atmosfera estão presentes diversos compostos químicos, necessários à manutenção da vida. No entanto, existem substâncias que por esta- rem em alta quantidade neste ambiente tornam-se inconvenientes, ocasionando diversos problemas não só à saúde dos seres vivos, mas também no tocante à preservação dos materiais. A essa alta concentração de substâncias damos o nome de po- luentes. Os poluentes são classificados em dois ti- pos: primários e secundários. Podemos chamar de poluentes primários aque- les emitidos diretamente da fonte, e secundários, aos primários que foram transformados através de rea- ções químicas, por meio da interação de seus com- postos químicos e elementos presentes na natureza. De uma maneira geral, os poluentes são com- postos de enxofre, de nitrogênio, orgânicos, metais pesados, material particulado e oxidantes fotoquí- micos, como formaldeído, entre outros. Veronica Di Benedetti Arquiteta responsável técnica pela restauração do Laçador
  • 43. 42 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural Os compostos de enxofre, quando em contato com a umidade e metais de transição, são conver- tidos em ácido sulfúrico. Este tem a capacidade de corroer as superfícies onde se deposita. Os compostos de nitrogênio, ao reagirem como o hidrogênio e o oxigênio presente na atmos- fera reagem, transformando-se em ácido nítrico, que corrói, entre tantos outros materiais, as ligas de cobre, como por exemplo, o bronze. O material particulado tem como principais fontes emissoras os veículos automotores, os pro- cessos industriais, a poeira suspensa no ar, entre outros. Ao se depositarem sobre as superfícies do monumento, reagem com a própria umidade do ar e geram compostos de caráter destrutivo ao material. Os materiais orgânicos, como o ácido acético e os formaldeídos convertidos, como o ácido fórmi- co, provocam corrosão de bronzes que contenham chumbo. Não obstante esses agentes patológicos, du- rante a inspeção interna realizada em O Laçador foi constatada a presença de concreto armado na parte inferior do monumento, desde a sua base até a altura da bombacha. A presença desse material contribuiu para o aparecimento de rachaduras e fis- suras nessa região. A presença de tal material rígi- do na sua parte inferior trouxe várias implicações. O cimento possui propriedades higroscópicas devido a sua capilaridade, contribuindo assim para uma maior dilatação do volume, gerando esforços de dentro para fora do monumento. Essa incompa- tibilidade entre os dois materiais gerou estresse do bronze na região preenchida pelo concreto, ocasio- nando inicialmente microfissuras, que evoluíram para fissuras. Essas, por sua vez, evoluíram para ra- chaduras, pois foram potencializadas pelo encontro do sistema rígido presente nesta parte inferior do monumento e as movimentações mecânicas decor- rentes do entorno. Por não apresentar estrutura interna, todas as solicitações mecânicas do monumento estavam sendo absorvidas pela “casca” de bronze, ou seja, a escultura propriamente dita. Numa área em que as trepidações decorrentes do intenso tráfego de veículos automotores de grande porte e as reverbe-
  • 44. Restauração do monumento O Laçador 43 rações oriundas dos pousos e decolagens dos avi- ões, somados ao fluxo da linha de trem próximo ao Monumento geraram o estresse do material, poten- cializando as fissuras e as rachaduras. O sistema criado por uma base rígida, movi- mentações mecânicas constantes em um monu- mento de quase 5 metros de altura sem estrutura interna ocasionou danos na parte superior da obra. O concreto ali colocado e a falta de estrutura interna contribuíram também para o aparecimento de rachaduras e fissuras na cabeça da figura de O Laçador, sendo esta região a segunda com maior incidência destas patologias. Outro ponto a ser destacado foi a corrosão pon- tual na região em que foi instalado um laço substi- tuto ao original. Devido ao material com o qual foi constituído o laço substituto possuir a presença de ferro em sua composição, o mesmo gerou compostos prejudiciais à conservação do bronze, mais precisa- mente no pé localizado sob o laço trocado. AÇÕES DE CONSERVAÇÃO Constatados e identificados os agentes pa- tológicos causadores dos danos à conservação da obra, foram definidas metas de ação e soluções projetuais para a sua preservação. Trabalhamos com uma grande e competente equipe técnica, formada por arquiteta, engenheiros civis, restaurador e artista plástico. Cada qual tra- zendo sua expertise em prol do monumento mais afetivamente apropriado pelos gaúchos. Foram definidas as seguintes ações: remoção do monumento para local apropriado às ações con- servativas, remoção do concreto armado de seu in- terior, projeto e execução de estrutura interna em aço inoxidável, correção das fissuras e rachaduras por meio de processos de solda previamente testa- dos e comprovados em sua eficiência, elaboração de novo laço inspirado no original e com material inerte à reações corrosivas, microjateamento para limpeza das sujidades e remoção do material par- ticulado, tratamento de superfície, preservando detalhes estéticos da obra, aplicação de pátina e camada de proteção. Cada uma das etapas foi cuidadosamente acompanhada visando à integridade estética, his- tórica e técnica da obra, respeitando sempre os cri- térios internacionais de restauração de patrimônio cultural. AGRADECIMENTOS A toda a equipe e à família do artista, na pes- soa de Antonella Caringi de Aquino, que sempre gentilmente nos forneceu subsídios para nossas ações de forma a preservar a obra do autor.
  • 45. 44 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural 1 2 3 4 O monumento é cercado de andaimes. Técnicos preparam a separação da base. Recebe proteção lateral. O passeio do Laçador
  • 46. Restauração do monumento O Laçador 45 5 6 7 A estrutura de transporte é fixada. É retirado e levado ao local de restauro.
  • 47. 46 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural 8 9 No galpão, é fixado em estruturas metálicas. O laço é retirado.
  • 48. Restauração do monumento O Laçador 47 10 O trabalho de restauro segue a minuciosa análise e exigente orientação dos técnicos responsáveis.
  • 49. 48 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural A assinatura de Caringi. Antonio Caringi, o autor do monu- mento O Laçador, foi um escultor brasilei- ro, considerado o maior estatuário da His- tória da Arte no Rio Grande do Sul. Nascido em Pelotas, em 18 de maio de 1905, cedo mostrou aptidão para a arte. Em 1925 ex- pôs seus trabalhos no Salão de Outono em Porto Alegre. Antonio Caringi iniciou seus estudos de arte diretamente na Europa, para onde embarcou em 1928, como adido consular em Munique. Exerceu cargos diplomáticos em cidades do velho mundo com proveitos para sua profissão como escultor. Discípulo de Hans Stangl, escultor bávaro, ingressa mais tarde, e por concur- so, na Academia de Belas Artes de Munique, sendo laureado após conclusão do curso. Ainda acadêmico obteve menções honrosas em mostras da Academia e participou de exposições em Berlim, Nápoles, Ve- neza e Istambul. Em 1934, voltou ao Brasil, para concorrer e vencer o concurso para a estátua equestre do ge- neral Bento Gonçalves, inaugurada em Porto Alegre, na comemoração do centenário da Revolução Far- roupilha. Sua primeira exposição individual ocorreu em 1936 na Bibliotheca Pública do Estado do Rio Grande do Sul. Especializou-se em plástica monumental em Berlim, na Alemanha. E após, realizou viagens de estudos por Grécia, Turquia e Itália. Com a 2a Guerra Mundial, retorna definitivamente ao Brasil, fixan- do residência em Pelotas, casando-se em 1942 com a poeta Noemi Assumpção Osorio, com quem teve seis filhos. Fundou o curso de Escultura na Escola de Belas Artes de Pelotas – atual Instituto de Letras e Artes da Universidade Federal – onde lecionou de 1952 a 1980. Entre suas inúmeras obras públicas estão o Monumento Nacional ao Imigrante, em Caxias do Sul, de 1954, e o Monumen- to ao Expedicionário, de 1957, no Parque Farroupilha, em Porto Alegre, ambos es- colhidos mediante concurso público. Além de vencer muitos concursos para seleção de obras, recebeu diversas medalhas, con- decorações e prêmios no país e também fora do Brasil. Possui obras espalhadas por aproximadamente 13 cidades gaúchas e em outros estados como Santa Catarina, Bahia e Rio de Ja- neiro, cidade onde residiu e manteve um de seus ateliers, juntamente com São Paulo e Pelotas. Morreu em 30 de maio de 1981, na cidade de Pelotas, aos 76 anos. O maior estatuário da História da Arte no Rio Grande do Sul Caringi e monumento em gesso destinado à cidade de São Paulo. Antonio Caringi Diário da Manhã/Pelotas Acervo Família Caringi
  • 50. Restauração do monumento O Laçador 49 Definimos como preparo da superfície o con- junto de ações destinadas a recompor a aparência da estátua/monumento O Laçador, procurando mi- nimizar as marcas do tempo e de intervenções exis- tentes (soldas, desbastes e parafusos), e buscando também proteger o objeto das futuras agressões dos agentes cotidianos, como a radiação solar, a chuva, o vento, a poeira, os poluentes, entre outros. Para tanto, separamos o processo em etapas distintas: 1. Limpeza A remoção de todo tipo de sujeira, gordura, restos de soldas e fuligens encontrados. Para a execução foi necessário colocar o monumento na posição vertical, e, dessa maneira, acessar simulta- neamente todos os lados e detalhes. Optou-se pelo jateamento com endocarpo, método seguro e rápi- do, indicado para estátuas com o mesmo metal uti- lizado originalmente para a criação do monumento O Laçador. Nesse processo, partículas são arremes- sadas por ar comprimido, que, ao colidir com a su- perfície, removem a camada indesejada. O equipamento de jateamento é um compres- sor, onde é colocado o abrasivo, e este é escolhido conforme o resultado desejado. No caso do monu- mento O Laçador foi utilizado um abrasivo chamado “granalha de endocarpo” (parte mais dura de coco), pouco agressivo, que remove somente as incrusta- ções, sem danificar a pátina existente ou a super- fície do metal, produto atóxico e de fácil descarte e que não agride o meio ambiente. Utiliza-se um granulado vegetal de alta densidade, elevado poder calorífico e alta estabilidade. É resistente e muito O preparo da superfície leve, evitando ferir as superfícies a serem tratadas, além de ser um produto tipicamente brasileiro. A calibragem do equipamento ocorreu com pressão de aproximadamente 100 libras (PSI) ou aproximadamente 7kgf/cm². A granulometria utili- zada foi de 0,4 a 0,8 milímetro e a distância entre o bucal de jato e a superfície do metal foi de 20 a 30 cm. Jateamento com granalha de endocarpo. Ricardo Jaekel Responsável pela supervisão técnica do restauro
  • 51. 50 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural 2. Reconstituição da cor Todo monumento possui informações peculia- res ao motivo de sua criação e traços caracterís- ticos de seu criador, o artista que o produziu. No restauro, considerou-se que essas informações pre- cisam estar perceptíveis ao observador. Entre os diversos danos encontrados no mo- numento, destacam-se os diferentes tons e man- chas provenientes das ações do tempo e da falta de conservação. Tornar a cor da superfície homogênea, minimizando as diferenças entre as soldas, as mar- cas do tempo e os tons da liga metálica, facilitando a percepção daquelas informações acima referidas, foi também objetivo do trabalho. Fotos da perna esquerda, antes e depois da pátina. Conforme explicíta o relatório do Engenheiro Tadeu Antonio Tadeu Motter, na reconstituição da cor da superfície foi aplicada a técnica de pátina quente, com a aplicação de sucessivos jatos do ni- trato de cobre diluído na área aquecida, buscando a tonalidade desejada. O nitrato de cobre é proveniente da própria corrosão do metal. Neste processo, ao contrário dos metais ferrosos, que quanto mais ferrugem tem, maior a corrosão, as ligas de cobre são estabiliza- das desacelerando o processo corrosivo. Por esse motivo, em monumentos de bronze expostos a in- tempéries, recomenda-se aplicar soluções com qua- lidades protetivas, e também com resultados esté- ticos condizentes com a pátina natural.
  • 52. Restauração do monumento O Laçador 51 A pátina quente com nitrato de cobre ocorreu em toda a superfície do monumento, no entanto, a quantidade de aplicações variou conforme as rea- ções encontradas, como por exemplo nas regiões com marcas de solda e desgaste da cor, onde foi necessária a aplicação de mais camadas. Da esquerda para a direita: antes da restauração, depois jateado e patinado, por último, encerado.
  • 53. 52 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural
  • 54. Restauração do monumento O Laçador 53 A reconstituição do laço Luiz Henrique Mayer foi o profis- sional contratado pelo projeto Cons- trução Cultural para reconstituir o laço do monumento O Laçador, que estava em péssimo estado. O artífice já havia trabalhado anteriormente na restau- ração dos monumentos do Parque Far- roupilha, é natural de Recife, mas veio para o Rio Grande do Sul em 1973. Em 1986 foi agraciado com um prêmio na- cional na categoria “Pintura”, no salão dos Correios. A partir de 1990, passou a dedicar-se exclusivamente às artes, com cursos no Atelier Livre de Porto Alegre, onde frequentou as oficinas de pintura de Vera Wildner, de desenho com a artista e professora Daisy Viola e de litografia com Miriam Tolpolar. Em 1996, iniciou um trabalho no atelier de escultura de Vasco Prado, onde apren- deu toda a rotina. Paralelamente, executou várias obras em restauro do mestre e de outros escultores. Tendo como principal objetivo substituir os originais em bronze por uma liga sintética que ti- vesse a mesma textura, chegou então a uma soma de elementos que produzisse esse efeito com boa durabilidade (resina epóxi, pó de bronze, pó de mármore, sílica e fibra de carbono). Essa liga foi a utilizada para a execução do laço da estátua O Laçador que ficou com o peso total final de 70 kg. Para execução da modelagem da peça foram consultados dois pesquisadores e conhecedores do assunto: Eduardo Fonseca, estudioso e praticante de laço, e Décio Gomes, artesão que trabalha há muito tempo confeccionando laços e demais peças da cultura gauchesca em couro, responsável pelas amostras dos pontos principais do laço em escala para a estátua, de onde foram retirados os moldes. Havia dois desafios para a boa execução do trabalho: o primeiro, encaixar o laço dentro do es- paço da mão da escultura (9cm x 10cm), e o segun- do, dar a este laço sustentação, pois a liga não tem a mesma resistência ao atrito que o bronze. Logo, a solução foi fazer uma peça articulada e, por den- tro desta, introduzir um cabo de aço. Foi possível Acima, o laço reconstituído em partes. Ao lado (foto superior), o molde com a trama utilizada e (foto inferior) o trabalho de encaixe na mão da estátua.
  • 55. 54 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural então passar pelo interior do espaço da mão cada uma das encolhas do laço, tornando mais natural as passadas e caimentos da armada. Conforme pode ser verificado na biografia do consultor Eduardo Fonseca, trata-se, no caso, de um laçador, detentor do saber prático do manejo e das formas adquiridas pelo laço no seu uso tradicional. O domínio do conhecimento campeiro também legi- tima a sua condição de pesquisador. Em suas pesquisas, observou a reportagem da GZH que continha uma fotografia de 1958 da inau- guração da estátua. Nesta, estavam o governador Leonel Brizola e o escultor Antonio Caringi, sendo a foto oriunda do acervo da família Caringi. Foi essa referida imagem que proporcionou o olhar do artis- ta Luiz Mayer para a reprodução do laço. Na sequência, e por conta da grandiosidade do projeto que envolve o maior símbolo gaúcho, Eduar- do entendeu ser importante refletir sobre o tema com alguns gaúchos reconhecidos no meio cam- peiro, tendo consultado Glênio Antonio Wallauer Magalhães, gaúcho que circula no Pampa, tendo contribuído com imagens do objeto laço, mas prin- cipalmente nas reflexões e análises relativas à cul- tura que a peça está envolvida, no tocante à forma e aos usos. Também foram consultados os irmãos Manoel Luiz Gomes de Almeida e Décio Gomes de Almeida, ambos de uma família de tradição pecuá- ria conhecida no litoral. Homem de domínio prático de toda lida de campo, Décio é detentor de vários saberes, entre eles o de guasqueiro, quem produz as correias, tiras de couro cru. Logo, foi quem pro- duziu os moldes para uso do artista. Outras pessoas auxiliaram na consultoria: Julio Amorim, laçador, de família de tropeiros, en- volvido com fornecimento de gado para rodeio e utilização em provas de laço, apresentou um laço para análise. Petri Pereira, de família de pecuaris- tas, outro consultado, é laçador e tem como paixão cavalos e aperos, tendo contribuído na análise das dimensões do laço, baseando-se nos seus laços de uso, que fazem parte do seu acervo. Inauguração do monumento O Laçador, com o prefeito Leonel Brizola e o escultor Antonio Caringi, em 1958. Acervo família Caringi – Reprodução
  • 56. Restauração do monumento O Laçador 55 A estrutura interna executada Antonio Tadeu Motter Eng. Civil, responsável técnico Raquel Medina Pinho Arquiteta e urbanista Foi constatado em trabalho de inspeção reali- zado na Estátua do Laçador em 2017, pelo Especia- lista francês Antoine Amarger, que a mesma esta- va com sua superfície externa de bronze bastante comprometida, observando-se muitas fissuras, ra- chaduras e mesmo pequenas aberturas na capa de bronze, causadas pela exposição ao tempo, e pela falta de manutenção e também por estar comple- tamente preenchida, na sua parte inferior, abaixo dos quadris, nas duas pernas e base de sustenta- ção, por concreto, material este que dava estabili- dade ao monumento e ao mesmo tempo, por estar em contato permanente com a superfície interna do bronze, e por permanecer sempre úmido, causa- va danos a superfície do bronze nestes locais, com o aparecimento de anomalias provenientes desse contato. Como sugerido na proposta de intervenção de Antoine precisávamos retirar todo esse concreto e substituir por estrutura de aço inox, que daria en- tão o suporte à imagem sem a ocorrência de reações danosas ao bronze. Todas as estruturas de inox exe- cutadas foram calculadas e projetadas para este fim. Foi exatamente o que foi feito. A imagem foi retirada da base existente, levada horizontalmente para galpão próximo e, nessa posição, retirado todo o concreto da base e pernas e substituído por estru- tura de inox, introduzida através de “janela” aber- ta nas costas do Laçador, que daria estabilidade à imagem e funcionaria como se fosse um “esquele- to”, dando-lhe a sustentação necessária. Na sua base própria foi também introduzi- da estrutura de inox, ligada à estrutura interna. Na base de concreto para onde seria transportado, no Sítio do Laçador foi chumbada também estrutura de inox que ficaria conectada à estrutura da base própria do Laçador, por meio de parafusos na parte traseira e encaixe de perfis na parte da frente, tra- zendo a estabilidade necessária para permanecer no local. Estrutura de aço inox a ser chumbada na base do Laçador e ligada à estrutura interna – Vista superior. Vista inferior.
  • 57. 56 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural Janela aberta nas costas da estátua para execução do “esqueleto” em aço inox. Estrutura interna de aço inox. Estrutura de aço inox localizada na área interna do pescoço do monumento.
  • 58. Restauração do monumento O Laçador 57 Estrutura de aço inox na base da estátua. Estrutura de aço inox chumbada na base de concreto localizada no sítio do Laçador.
  • 59. 58 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural Busto antes e depois do jateamento: procedimento que prepara o metal para a sua revitalização e ao mesmo tempo mostra todas as patologias existentes no bronze, como fissuras, trincas e pequenos sulcos.
  • 60. Restauração do monumento O Laçador 59 O restauro da superfície de bronze Primeiramente, depois da remoção da está- tua para o galpão onde os trabalhos de restaura- ção foram realizados e já com O Laçador na posição vertical, foi aplicado em toda a superfície externa de bronze um jateamento com equipamentos espe- ciais, utilizando-se para tanto a granalha de endo- carpo, que efetua a limpeza sem retirar a pátina existente ou agredir o bronze que envolve toda a superfície da estátua. Além disso, por ser um mate- rial atóxico, de origem vegetal, pode ser descartado sem agredir o meio ambiente. Os equipamentos de jateamento consistem em um compressor, um compartimento onde é colo- cado o abrasivo, escolhido conforme o resultado de- sejado. No caso do monumento O Laçador, optou-se pela granalha de endocarpo. A calibragem do equi- pamento ocorreu com pressão de aproximadamente 100 libras (PSI) ou aproximadamente 7 kgf/cm². A granulometria utilizada foi de 0,4 a 0,8 milímetro e a distância entre o bocal de jato e a superfície do metal foi de 20 a 30 cm. Esse procedimento prepara o metal para a sua revitalização e ao mesmo tempo mostra todas as patologias existentes no bronze: fissuras, trincas e pequenos sulcos. A partir dessas constatações, inicia-se o pro- cesso de correção dessas anomalias, com a utiliza- ção de solda especial, tipo Tig (Tungsten Inert Gás), com tocha de gás argônio. Como vareta (não existe uma vareta específica para bronze), foi utilizado o eletrodo revestido para cobre referência WI 285 de 3,5mm. Foi removido o revestimento do eletrodo para funcionar como vareta na solda, corrigindo as anomalias encontradas. Processo de jateamento. Marcação para solda. Antonio Tadeu Motter Eng. Civil, responsável técnico Valmir José Hanzen Eng. Civil, responsável técnico
  • 61. 60 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural Marcações para solda.
  • 62. Restauração do monumento O Laçador 61 Marcações para solda.
  • 63. 62 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural Soldagens executadas. Janela a ser soldada. Detalhe da peça da janela a ser soldada. A solda tipo Tig (Tungsten Inert Gás) é o pro- cesso mais adequado para o trabalho realizado, utilizando um eletrodo sólido de tungstênio não consumível. O eletrodo, o arco e a área em volta da poça de fusão da solda são protegidos por uma atmosfera de gás inerte. O metal de enchimento ne- cessário, no caso, o bronze, é adicionado no limite da poça de fusão, corrigindo as falhas encontradas de forma limpa e com alta qualidade, sem a produ- ção de escória. Soldagem executada para fechamento da janela.
  • 64. Restauração do monumento O Laçador 63 Após o processo de solda é procedido o des- baste, com a utilização de disco de lixa grão 120, re- tífica equipada com ponta montada de acordo com a ondulação da superfície de bronze. Desbastes da solda.
  • 65. 64 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural Para o acabamento, as nervuras da pele foram esculpidas com pontas em metal acopladas a uma microrretífica para que se pudesse obter uma su- perfície mais próxima possível da original. RESTAURAÇÃO PICTÓRICA (PÁTINAS) Os equipamentos utilizados na execução da pátina foram: borrifadores com a concentração do produto diluído e também, somente com água, ma- çaricos de gatilho e combustão com gás metano. Na reconstituição da cor da superfície foi apli- cada a técnica de pátina quente. O aquecimento da superfície foi entre 100° e 120° C, observada com auxílio de termômetro digi- tal. Quando alcançada a temperatura, aplicaram-se sucessivos jatos do nitrato de cobre diluído na área aquecida. Esse processo é repetido, e se intercala, a cada duas ou três vezes com borrifos de água até a tonalidade desejada. Acabamento da janela com a reprodução dos detalhes do bronze. Área pronta para aplicação da pátina.
  • 66. Restauração do monumento O Laçador 65 No preparo, utilizou-se o nitrato de cobre na concentração de 20 gramas por litro de água. O ni- trato de cobre é proveniente da própria corrosão do metal. Esse processo, ao contrário dos metais fer- rosos, serve como proteção, estabilizando o cobre e suas ligas. Por esse motivo, nos monumentos de bronze expostos a intempéries, aplicam-se soluções com qualidades protetivas e também com resulta- dos estéticos condizentes com a pátina natural. A pátina quente com nitrato de cobre foi rea- lizada em toda a superfície do monumento, porém a quantidade de aplicações variou conforme as rea- ções encontradas. Nas regiões com marcas de solda e desgaste da cor, por exemplo, foi necessário apli- car mais camadas. Cabe salientar que a percepção de nuances com variações de cores é algo caracte- rístico nas ligas de cobre, principalmente quando há deposição de metal por soldas, nos desbastes e também nas diferentes composições no processo de fundição. Aplicação do nitrato de cobre. Perna esquerda do monumento com solda e desgaste de cor, onde foram necessárias mais camadas de pátina. Perna esquerda do monumento após aplicação da pátina.
  • 67. 66 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural CAMADA DE PROTEÇÃO Depois de finalizada a etapa de pátina, foram aplicadas três camadas de cera microcristalina di- luída em aguarrás (200g/L) na superfície de toda a estátua. Para que se obtivesse o brilho acetinado foram utilizadas escovas e flanelas para polimento. A cera, depois de seca e polida, penetra nos poros do metal, selando a superfície. Sua função é dificultar a deposição de sujidades e, dessa forma, proteger a área patinada e facilitar a remoção de futuras pichações. CONSERVAÇÃO Aconselha-se novas aplicações de cera a cada três meses, no primeiro ano, depois a cada seis me- ses, até formar película resistente. Depois desse processo, a supervisão indicará a necessidade de novas aplicações. Monumento com camada de proteção final em cera microcristalina.
  • 68. Restauração do monumento O Laçador 67 Verônica Di Benedetti Coordenadora técnica do Projeto Construção Cultural – Resgate do Patrimônio Histórico. Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de Mogi das Cruzes (1995), especialista em restauro de materiais pétreos e cerâmicos pelo Instituto italiano Palazzo Spinelli (2001), mestre em Geociências pela UFRGS (2006) e MBA de empresas de construção civil pela FGV (2011). Dedica-se ao fomento de negócios imobiliários para imóveis históricos, bem como projeto, execução e consultoria para obras nas áreas civil e de restauração de bens edificados, móveis e integrados. É coordenadora nacional do Projeto de Educação Patrimonial, A Escola Adota um Monumento, da Fondazione Napoli Novantanove e apresentadora do Programa De Carona na História, da Rádio Arquitetura. Possui diversos artigos publicados em revistas científicas na área de materiais e de conservação e restauro. Destaca entre seus trabalhos o projeto de execução de restauração das fachadas da Antiga Alfândega – Florianópolis/SC; projeto de restauro das fachadas e execução da Antiga Confeitaria Rocco – Porto Alegre/RS; projeto de restauro do antigo Sobrado da Praça João Abott – São Gabriel/RS, entre outros. Paulo Ratinecas Mestre em Gestão Empresarial pela FGV/EBAPE, pós-graduado em Marketing pela UFRGS e graduado em Administração de Empresas e Pública pela UFRGS, além de experiências de aprimoramento nos Estados Unidos, Espanha e Israel. Especializado em desenvolvimento de projetos e trabalhos nas áreas de gestão: comunicação, reconhecimento, relacionamento, cultura e responsabilidade social. É sócio-diretor da MaxiMarket desde 1998, e ao longo desse tempo vem atuando como consultor de empresas, professor e palestrante. Anteriormente, exerceu, durante 15 anos, atividades como profissional de Marketing e Estratégia no Grupo RBS. Criador e coordenador mercadológico do Projeto Construção Cultural – Resgate do Patrimônio Histórico. ratinecas@maximarket.com.br Antonio Tadeu Motter Engenheiro civil, graduado em 1975, pela PUCRS, atua em várias áreas da construção civil. A área de restauros de prédios e monumentos tombados pelo Patrimônio Público é uma de suas especialidades, sendo que, entre seus trabalhos mais destacados, estão o restauro da Caixa d’Água de Pelotas, em ferro fundido, obra contratada pelo Iphan; Monumento Júlio de Castilhos, em ferro fundido, na Praça da Matriz, em Porto Alegre, projeto Monumenta; do Monumento aos Açorianos, em ferro corten, contratado pela Prefeitura de POA, e do monumento O Laçador contratado pelo projeto Construção Cultural da Associação Sul-Riograndense da Construção Civil. Nas obras de restauro de prédios, destacam-se a Casa dos Rosa, em Canoas; prédio da Inspetoria da Receita Federal de Porto Alegre; fachada da Av. Mauá da Secretaria da Fazenda do RS; várias residências em madeira, na cidade de Antônio Prado, contratadas pelo Iphan, entre outras. A equipe
  • 69. 68 Resgate do Patrimônio Histórico – Construção Cultural Zalmir Chwartzmann Engenheiro civil e bacharel em Administração de Empresas formado pela PUCRS, em 1974 e 1979. Desempenha suas atividades profissionais na empresa Chwartzmann Construções e Incorporações Ltda, como diretor e responsável técnico. Foi presidente do Sinduscon-RS de 1997 a 1999 e desde 1999 é membro nato do Conselho Consultivo da entidade. Foi diretor da FIERGS e vice presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil. É o atual presidente da Federação Israelita do Rio Grande do Sul, vice-presidente da Confederação Israelita do Brasil e presidente do Conselho Geral das Entidades da FIRS. Vitor Ortiz Gestor cultural com larga experiência na área pública e privada. Foi Secretário de Cultura em Viamão e em Porto Alegre entre 1997 e 2003. Neste período, integrou o grupo redator da Agenda 21 da Cultura, documento de referência internacional para as políticas locais do setor, hoje traduzido para mais de 20 idiomas. Foi diretor da Funarte, no Rio de Janeiro, e Secretário de Cultura de São Leopoldo. Por dois anos, entre 2011 e 2012, foi Secretário-Executivo do Ministério da Cultura e Ministro Interino em diversas ocasiões. Desde 2017, é um dos coordenadores da Virada Sustentável POA. É formado em História pela UFRGS com extensão em Gestão Cultural pelo OPC (Observatoire de Politiques Culturelles de Grenoble/França) e criador dos canais de podcast Histórias de Viamão e Desapaga POA. Denise Viana Pereira Com 20 anos de atuação em gestão cultural, Denise foi Diretora de Economia da Cultura, da Secretaria de Cultura do RS, de 2011 a 2014, tendo dado início à estruturação desse setor e à implantação do Fundo de Apoio à Cultura no Estado- FAC. Com duas especializações: Economia da Cultura (Faculdade de Economia/UFRGS, 2010) e Teoria de Jornalismo e Comunicação de Massas (Famecos/PUC-RS, 1998). É formada em Publicidade e Propaganda (UFRGS/1991). Integrou a Representação Regional Sul do Ministério da Cultura, chefiou o Gabinete da Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre e compôs a equipe do Instituto Estadual de Música. Desde 2015, através de sua empresa De Cultura, é gestora cultural de diversos projetos e instituições culturais, dentre eles a Virada Sustentável Porto Alegre, a Associação de Amigos da Cinemateca Paulo Amorim, o Instituto de Cultura da PUCRS, o Teatro São João, em Taquari/ RS, o Colégio Israelita, em Porto Alegre, entre outros.
  • 70. Restauração do monumento O Laçador 69 Ricardo Jaekel Bacharel em Conservação e Restauração formado pela Universidade Federal de Pelotas e Mestre em Memória Social e Patrimônio Cultural pela mesma universidade. Tem especialização em conservação e restauração de esculturas e monumentos metálicos e pétreos. Participou da análise de danos e da posterior restauração do monumento Julio de Castilhos, em 2017, da restauração de luminárias, lustres provençais do Ed. Flores da Cunha, em 2018, e também fez parte da turma do projeto que investigou as patologias do monumento O Laçador, em 2017. Luiz Henrique Meyer Nascido em Recife em 1965, veio para o Rio Grande do Sul em 1973. Em 1986 ganhou o prêmio nacional na categoria Pintura no salão dos Correios. A partir de 1990 dedica-se às artes e passa a frequentar cursos no Atelier Livre de Porto Alegre, e as oficinas de pintura de Vera Wildner, desenho com a professora Dasy Viola e litografia com Mirian Tolpolar. Em 1996 inicia trabalho no atelier de escultura de Vasco Prado onde aprende toda rotina de atelier de escultura. Executou várias trabalhos de restauro em obras de seu mestre e de outros escultores. Já integrou a equipe do Projeto Construção Cultural – Resgate do Patrimônio Histórico nos anos de 2014 e 2016, executando diversos restauros nos monumentos do Parque Farroupilha. Créditos das fotos por páginas Gilberto Perin Págs.: capa, 1, 10, 12, 14, 19, 25, 27, 52 Alan Mendonça Págs.: contracapa, 6, 7, 8, 28, 29, 40, 42, 44 a 47 José Francisco Mendonça Págs.: 30, 32 a 39 Luiz Henrique Meyer Pág.: 53 Antonio Tadeu Motter Págs.: 49 a 51, 55 a 66
  • 71. Organização Vitor Ortiz e Denise Viana Pereira RESTAURAÇÃO DO MONUMENTO RESTAURAÇÃO DO MONUMENTO O LAÇADOR O LAÇADOR P O R T O A L E G R E – R S – B R A S I L Realização Apoio Patrocínio Financiamento restauro CAPA LACADOR.indd 1 restauro CAPA LACADOR.indd 1 07/03/2022 15:58 07/03/2022 15:58 Caderno de Restauro do Projeto Construção Cultural – Resgate do Patrimônio Histórico – Restauração do Monumento O Laçador Impresso em março de 2022, nos 250 anos da cidade de Porto Alegre SÉRIE DE CADERNOS DE RESTAURO DO PROJETO CONSTRUÇÃO CULTURAL Este é o terceiro Caderno de Restauro edi- tado pelo projeto Construção Cultural – Resgate do Patrimônio Histórico, realizado pela Associa- ção Sul-Riograndense da Construção Civil e pelo Sinduscon RS. Este terceiro caderno traz em detalhes todos os relatórios relacionados à restauração do monumento O Laçador, tanto da primeira fase de prospecção, feita em 2017, até a etapa atual, de restauro, realizada entre 2021 e 2022. O segundo caderno traz detalhes das intervenções de revitalização do Chafariz Imperial, projeto executado no ano de 2019. O Chafariz Imperial é uma das fontes mais antigas da cidade, localizada próximo ao Auditório Araújo Vianna. O primeiro registrou as intervenções de restauro dos monumentos do Parque Farroupilha em 2016, projeto financiado pelo Pró-cultura RS.
  • 73. O LAÇADOR Obra de autoria do artista pelotense Antonio Caringi, criado originalmente em gesso, em 1954, para compor o pavilhão do Rio Grande do Sul na exposição comemorativa ao IV centenário da cidade de São Paulo, no Parque Ibirapuera. Prevista para ser ofertada àquela cidade, em razão da grande receptividade e reivindicação por parte dos gaúchos, a obra acabou sendo instalada em Porto Alegre, esculpida em bronze. Em 1992, tornou-se Símbolo Oficial de Porto Alegre e em 2001 foi tombada como patrimônio histórico e cultural. Realização Apoio Financiamento Patrocínio A produção desta obra foi viabilizada com financiamento do PRÓ-CULTURA, Governo do Estado do Rio Grande do Sul, Lei 13.490/2010.