2. Rouxinol tomou
conta
Do meu viver
Chegou quando
procurei
Razão pra poder
seguir
Quando a música ia
E quase eu fiquei
Quando a vida
chorava
Mais que eu gritei
Pássaro
Deu a volta ao
mundo
E brincava
Rouxinol me ensinou
Que é só não temer
Cantou
Se hospedou em mim
Todos os pássaros
4. Apesar de todo esse universo, dessa alegria que você
falou, teve uma hora que você chegou a pensar em não cantar
mais. Isso para você deve ser algo quase como não viver, não é?
Era não viver. Teve uma época que eu falei pra mim que eu
só ia compor as coisas que eu estivesse vivendo e que eu
acreditasse. Teve uma época que não estava legal. Então, se não tá
legal, vou parar. Mas não falei para ninguém, porque tinha muita
gente que falava que ia parar, fazia o show de despedida e não
parava. Marquei o dia em que eu ia parar. Ia ter um show que eu fiz
com dois corais de Minas (Rouxinóis e Curumins), a Jazz Sinfônica
de São Paulo, mais a minha banda. Eu fui pro teatro pensando
nisso. Esse show parecia mesmo que era a última coisa que eu ia
fazer. Foi muito forte. Aí pediram vários bis, e eu resolvi cantar
Travessia.
Eis a verdadeira história da
música...
5. Estava todo mundo virado pro público. Quando eu comecei a
cantar, um garoto dos Rouxinóis começou a olhar pra mim. Cantei a
música inteira sem olhar pra ele, e na última palavra da música, que é
“viver”, eu olhei pra ele. Porque naquele momento ele me fez parar
totalmente de pensar nessa coisa. Fui pro camarim, as pessoas
perguntando o que tinha acontecido comigo, que eu nunca tinha
cantado daquele jeito, e pedi para um amigo trazer o menino. Devia
ter 10 anos. Disse: “Você sabe o que você fez comigo hoje?” Ele disse:
“Sei”. Mas com tanta certeza que eu fiquei olhando pra ele... Eu disse:
“Olha, de hoje em diante a gente não pode ficar separado, não. Você
faz parte da minha vida”. E ele: “Tudo o que eu queria na minha vida
era que você fosse meu pai”. A partir daquele instante, a gente se deu
muito bem.
6. Os pais dele me receberam, a gente viajou pra vários lugares, fiz
uma música chamada Rouxinol, que é pra ele. Hoje, ele mora aqui
comigo, tá estudando aqui no Rio. O pai que ele queria ele teve.
Loucura, por que aquele menino tinha de virar naquela hora?
Salvou minha vida. Então, é meu filho, meu filho mesmo.
Fonte: Revista do Brasil , n° 67, janeiro de 2012