O documento faz uma revisão dos fatores de risco associados às dificuldades de aprendizagem com base na literatura. Identifica fatores como baixa autoestima, problemas emocionais, déficit de habilidades sociais e expectativas negativas de professores. Aponta a necessidade de mais estudos longitudinais para melhor entender como esses fatores operam e se causam ou são consequência das dificuldades de aprendizagem.
1. Dificuldades de Aprendizagem:
revisão de literatura sobre os fatores
de risco associados
Alunas: Marlene Litvin
Regina T. A. Oliveira
2. O objetivo
Realizar uma revisão da produção científica acerca de
trabalhos publicados na literatura nacional e internacional
sobre dificuldades de aprendizagem.
Alarmar para a necessidade do desenvolvimento de
estudos longitudinais.
3. As pesquisas têm relacionado a presença de dificuldades de
aprendizagem na infância, com problemas psicossociais na
adolescência, sendo por isso um tema que merece ser
investigado.
A vivência de situações de baixo rendimento escolar pode
gerar:
Sentimentos como baixa autoestima,
Influência na capacidade produtiva do indivíduo,
Problemas de aceitação pelos pares etários e familiares e em
outras áreas do desenvolvimento.
4. As pesquisas na área da educação apontam:
a necessidade de atenção para os problemas de
aprendizagem.
As dificuldades de aprendizagem ora funcionam como
causa, ora como consequência de problemas comuns na
idade escolar. Tal discriminação é importante para a
elaboração de programas de intervenção que visam a
redução de sua incidência.
O sucesso escolar favorece o desenvolvimento socioafetivo.
5. Definições de dificuldades de aprendizagem
Não há consenso na literatura em relação à definição para as dificuldades
de aprendizagem.
Numa perspectiva orgânica, as dificuldades de aprendizagem são
consideradas como desordens neurológicas.
O Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais – DSM IV (1994), define
como transtornos de aprendizagem o indivíduo em testes padronizados
de leitura, matemática ou expressão escrita estão abaixo do esperado
para sua idade, escolarização e nível de inteligência.
A Classificação de transtornos mentais e de comportamento – CID 10
(1993) denomina dificuldade de aprendizagem como transtornos nos
quais as modalidades habituais de aprendizado estão alteradas desde as
primeiras etapas do desenvolvimento.
Numa perspectiva educacional, as dificuldades de aprendizagem refletem
uma incapacidade ou impedimento para a aprendizagem da leitura,
escrita ou cálculo ou para a aquisição de aptidões sociais.
6. Fatores de risco e fatores de proteção: conceitos
É a interação entre os fatores que vão determinar se um
indivíduo vai ou não desenvolver um problema psicossocial ou
uma patologia no futuro.
Fatores de risco compreendem eventos negativos que
ocorrem na vida de um indivíduo e quando estão presentes,
aumentam a probabilidade de que ele venha a apresentar
problemas de ordem física, social ou emocional. Não
significando, necessariamente, que ele vá apresentar algum
problema no seu desenvolvimento.
7. Análises mais sofisticadas sugerem que o risco é
um processo, e que o número total de fatores de
risco a que uma pessoa foi exposta, o período de
tempo, o momento da exposição ao risco e o
contexto são mais importantes do que uma única
exposição grave.
Em contraposição ao risco, existem os fatores de
proteção que são influências ambientais e das
características do indivíduo que provocam uma
modificação da resposta aos processos de risco.
8. As funções dos fatores de proteção são:
reduzir o impacto dos riscos;
reduzir as reações negativas em cadeia
que seguem a exposição do indivíduo à
situação de risco;
estabelecer e manter a autoestima e
autoeficácia, através de
estabelecimento de relações de apego
seguras e o cumprimento de tarefas
com sucesso;
criar oportunidades para reverter os
efeitos do estresse
9. Fatores de risco e dificuldades de aprendizagem
Dificuldades de aprendizagem como fatores de risco
A criança com dificuldade na aprendizagem pode desenvolver
sentimentos de baixa autoestima e inferioridade, déficits em
habilidades sociais e problemas emocionais ou de
comportamento.
Os próprios problemas de aprendizagem são considerados
como fator de risco, pois desencadeiam uma série de
consequências negativas na vida das crianças.
As dificuldades acadêmicas tendem a aumentar a
inadaptação psicossocial, quando o ambiente familiar está
repleto de problemas nos relacionamentos interpessoais.
Ferreira e Marturano (2002)
10. Verificou-se diferenças significativas entre os níveis de
dificuldade de aprendizagem na escrita e o autoconceito geral
e conforme aumenta o nível de dificuldade de aprendizagem
na escrita diminui o autoconceito, e a percepção de limitações
quando comparadas ao grupo de iguais, leva as crianças a
apresentarem sentimentos de menos valia e impotência.
11. Num estudo em que professoras foram levadas a acreditar
que alguns de seus alunos deveriam apresentar grande
progresso escolar ao longo do ano, esses alunos realmente
mostraram tais progressos.
Os autores sugerem que a explicação para tal resultado está
na sutil interação entre o professor e seus alunos: o tom de
voz, a postura, a expressão facial seriam os meios através
dos quais, involuntariamente, o professor comunica suas
expectativas aos seus alunos e essa comunicação contribui
para o aluno construir a concepção de si.
Assim, é possível que o aluno vá mal porque é isso que se
espera dele, ou seja, a expectativa negativa do professor pode
constituir um fator de risco para o desempenho acadêmico
dos alunos.
Resenthal e Jacobson (1968)
13. Fatores de risco associados às dificuldades de
aprendizagem
No contexto escolar, é comum encontrar, em crianças que
têm dificuldades em aprender, a sobreposição de diversos
fatores de risco, como pobreza, conflitos familiares,
violência, maus tratos familiares, dentre outros.
Pesquisas mostram que crianças com dificuldades
acadêmicas manifestam paralelamente prejuízos de ordem
emocional e comportamental.
São frequentes dificuldades intra e interpessoais como
solidão, depressão, suicídio e delinquência, que coexistem
com as dificuldades de aprendizagem, potencializando os
efeitos das mesmas, conduzindo a resultados negativos na
vida adulta.
14. A literatura ainda aponta correlações entre dificuldades de
aprendizagem, autoconceito e senso de autoeficácia.
O prejuízo no autoconceito torna-se maior diante da
sobreposição de dificuldades de aprendizagem e de
comportamento, a criança que apresenta essa combinação de
fatores tem mais dificuldade em construir confiança em si
mesma.
A influência do ambiente familiar é significativa tanto sobre
problemas de comportamento como sobre dificuldades no
aprendizado acadêmico. As crianças que não vão bem na escola
sofrem uma pressão criada por uma rede de pessoas
significativas em suas vidas e da sociedade em geral.
15. São muito relevantes os estudos que identificam os fatores de
risco para o desenvolvimento das dificuldades de
aprendizagem, para que se possa atuar diretamente sobre
esses fatores, prevenindo seu aparecimento e,
consequentemente, os problemas psicossociais que dela
decorrem ou estão a ela associados.
A maioria dos estudos aborda a dificuldade de aprendizagem
como fator de risco para problemas psicossociais (baixa
autoestima, déficit de habilidades sociais, problemas de
comportamento, comportamentos antissociais ou inadaptação
social).
16. Conclusões:
Foi possível identificar alguns fatores de risco para o
desenvolvimento das dificuldades de aprendizagem: déficit de
habilidades sociais, baixa autoeficácia, ausência do
desenvolvimento de consciência fonológica, expectativas negativas
dos professores.
Não é simples afirmar que uma determinada condição psicossocial
age como causa ou consequência na vida de um indivíduo.
Uma criança que apresenta dificuldade de aprendizagem,
provavelmente, já passou por diversas circunstâncias
desfavoráveis para o seu desenvolvimento e essa dificuldade, se
persistir, também acarretará novos prejuízos psicossociais, que, por
sua vez, também contribuirão para a manutenção ou intensificação
dos problemas de aprendizagem. Daí a dificuldade na identificação
dos fatores como causa ou consequência.
17. A revisão apontou que o autoconceito, o senso de autoeficácia,
problemas emocionais e de comportamento são descritos como
causa da dificuldade de aprendizagem e também associados a ela,
causando outros prejuízos para o indivíduo.
O déficit de habilidades sociais aparece como fator de risco e
também consequência. Isso mostra a dificuldade de se identificar de
que maneira essas variáveis atuam ou atuaram no desenvolvimento
do indivíduo. Além disso, a maioria dos estudos analisados não se
mostrou preocupada com essa distinção.
As pesquisas abordam a dificuldade de aprendizagem com o
problema já presente na vida da criança, e com isso, não é possível
ter acesso aos processos pelos quais essa dificuldade se instalou.
18. Nesse sentido, é importante o desenvolvimento de
estudos longitudinais para a melhor identificação
dos fatores de risco. Também consiste um desafio
à frente, investigar sob quais mecanismos operam
esses fatores, prevenindo ou causando as
dificuldades de aprendizagem. Nenhum estudo
nesse sentido foi encontrado na literatura.