Este documento descreve um estudo sobre a quantificação e caracterização da microbiota do solo em diferentes sistemas de manejo de cana-de-açúcar na região de Jaciara-MT, Brasil. Amostras de solo foram coletadas em áreas arenosas e argilosas com e sem aplicação de vinhaça e queima, e analisadas quantitativamente e fenotipicamente. Os resultados mostraram que a contagem de bactérias foi maior na área argilosa com vinhaça na profundidade superficial, e de fungos na área arenosa sem
1. REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228
50
Volume 14 - Número 1 - 1º Semestre 2014
QUANTIFICAÇÃO DA MICROBIOTA DO SOLO EM DIFERENTES SISTEMAS DE
MANEJO COM USO DE VINHAÇA E QUEIMA EM CANA-DE-AÇÚCAR, NA REGIÃO
DE JACIARA-MT.
Andréa Aquino de Assis Palú1; Selma Baia Batista2; Ricardo Santos Silva Amorim3
RESUMO
O objetivo do trabalho foi analisar a comunidade microbiana e caracterizá-la fenotipicamente nos tratamentos:
arenosa (com e sem vinhaça), argilosa (com e sem vinhaça), arenosa e argilosa (com queima) e cerrado stricto
sensu. Nestes foram coletados amostras de solo nas profundidades de 0-5; 5-10; 10-20 cm em tréplicas. Para
cultivo de bactérias heterotróficas totais (BHT) foram utilizados meio TSA (Tripytic Soil Agar) e PDA (Potato
Dextrose Agar) para cultivo de fungos. As contagens foram feitas até 144 horas. Foi observado que, a
quantificação de bactérias e fungos não se diferenciou estatisticamente, entretanto verificou-se que as bactérias
predominaram na área arenosa com vinhaça e cerrado na profundidade de 0-5 cm. Enquanto os fungos foi
maior na área arenosa sem vinhaça na profundidade de 0-5 cm. A análise morfotintorial de Gram permitiu
verificar que a maioria são Bacilos Gram positivos (80%), Bacilos Gram negativo (8%) seguido de Cocos
Gram positivos (10%) e Cocos Gram negativo (2%). Em relação às características fenotípicas foi possível
identificar 57 gêneros conhecidos, sendo o gênero Bacillus sp o mais representativo. Conclui-se que o
crescimento de bactérias e fungos foi predominante na profundidade superficial e grande incidência do grupo
bastonetes positivos, pertencente a família Bacillaceae.
Palavras-chave: microrganismos, cerrado, monocultura.
QUANTIFICATION OF SOIL MICROBIOTA IN DIFFERENT MANAGEMENT
SYSTEMS WITH THE USE OF VINASSE AND BURN CANE SUGAR, IN THE REGION
OF JACIARA-MT.
ABSTRACT
The aim of this study was to analyze the microbial community and to characterize it in phenotypically
treatments : sandy ( with and without stillage ) , clay ( with and without stillage ) , sandy and clavey(with
burning ) and cerrado sensu stricto . These soil samples were collected at depths 0-5 , 5-10 , 10-20 cm in reply)
. For cultivation of total heterotrophic bacteria ( BHT ) were used through TSA ( Tripytic Soil Agar ) and PDA
(Potato Dextrose Agar ) for cultivation of fungus. Counts were made up to 144 hours. It was observed that the
quantification of bacteria and fungus are not statistically differentiated, however it was found that the
predominant bacteria in the sandy stillage and cerrado in the f 0-5 cm depth. While the fungi was higher in
sandy area without stillage in the 0-5 cm depth . Morfotintorial analysis has shown us to verify that the
majority are Gram positives bacilli ( 80%), Gram Negative bacilli (8% ) followed by gram-positive cocci (
10%) and Gram negative ( 2%). In relation to phenotypic characteristics were possible identify 57 known
genera , being the genus Bacillus sp the most representative . It is concluded that the growth of bacteria and
fungi was predominant in depth superficial and high incidence of positive rods group 256.0 , belonging to
the family Bacillaceae.
Keywords: microorganisms, cerrado, monoculture.
2. 51
INTRODUÇÃO
A cana-de-açúcar é um dos principais
produtos agrícolas do Brasil, onde o processo
industrial sucroalcooleira é caracterizado pela
produção de um grande volume de resíduos,
tendo como principal subproduto a vinhaça
(Barros, 2010). O resíduo sucroalcooleiro
apresenta características favoráveis para o
desenvolvimento de microrganismos
destacando-se a concentração de matéria
orgânica e açúcares totais (Shi; Zhu, 2007). O
uso da vinhaça por meio da fertirrigação é uma
tecnologia que tenta usar de forma racional os
recursos naturais, pois, ao mesmo tempo em que
impede que ela seja jogada nos rios, possibilita a
fertilização dos solos agricultáveis e diminui a
utilização de produtos industrializados, além de
ser considerada uma excelente fonte de carbono
para os microrganismos do solo, no processo de
degradação da matéria orgânica presente na
vinhaça (Pires, 2008; (Silva et al., 2007; Giachini
et al., 2009).
Os microrganismos presentes no solo são
responsáveis pela decomposição dos resíduos
orgânicos, pela ciclagem de nutrientes e pelo
fluxo de energia dentro do solo, exercendo
influência tanto na transformação da matéria
orgânica, quanto na estocagem do carbono e
nutrientes minerais (Moreira et al., 2006;
Andreola et al., 2007). Os principais efeitos do
uso do fogo estão relacionados a alterações
biológicas e químicas, tais como redução ou
alteração da população microbiana, aumento
temporário da disponibilidade de nutrientes,
alteração no pH, aumento da fonte de carbono e
oxidação da matéria orgânica (Santos et al.,
1992). A ação indiscriminada do fogo diminui a
quantidade de material orgânico, fonte energética
dos microrganismos, que, assim, culmina na
diminuição da população da mesofauna e
consequentemente na perda da capacidade
produtiva do solo (Assad, 1996). Em vista disso
esse estudo teve como objetivo analisar a
comunidade microbiana e caracterizá-las
fenotipicamente e quantitativamente, quanto aos
diferentes sistemas de manejo, com a vinhaça e a
queima da cana-de-açúcar.
MATERIAIS E MÉTODOS
Coleta e Preparo das Amostras
As amostras do solo foram coletadas nas
profundidades de 0-5, 5-10 e 10-20 cm com
auxílio de cavadeira nas seguintes áreas de
tratamento: arenosa (com e sem vinhaça),
argilosa (com e sem vinhaça), arenosa e argilosa
(com queima) e cerrado stricto sensu. Foram
coletados de cada área três amostras composta
por três sub amostras, assim foram obtidas um
total de setenta e duas sub amostras, coletadas
nos meses de setembro e novembro de 2011,
março e abril de 2012, onde ocorre a queima,
colheita da cana- de- açúcar e aplicação de
vinhaça.
O solo foi acondicionado em sacos
esterilizados impermeáveis, armazenados em
caixas plásticas e transportado sob-refrigeração
para o laboratório e estocadas à 4ºC até o
processamento em laboratório.
Quantificação e Contagem de
Microrganismos
Para a quantificação de microrganismos
totais, foi utilizada a metodologia descrita por
Costa (2002) onde 5g do solo foram colocados
em Elermmeyer estéril com pérolas de vidro e
adicionados 45 ml de solução extratora estéril,
composta por: Tween 80 à 0,1% e Pirofosfato de
Sódio à 0,1%. Esta foi mantida em agitação em
mesa orbital a 220 rpm por 20 min.
Posteriormente, a amostra foi diluída em tubos de
ensaio contendo 9 mL de solução salina (0,85%
NaCl) estéril até 10-7, utilizando o método
“Spreed Plate”, em meio de cultura de Tripytic
Soy Agar (TSA) para bactérias heterotróficas
totais (BHT), meio de cultura BDA (Batata
Dextrose Agar) para fungos filamentosos. As
placas foram colocadas em estufa 35 ºC e 20 ºC
respectivamente, e feita à contagem de
microrganismos em 24, 48, 72 e 144 horas.
Isolamento de Bactérias
A partir das colônias crescidas em meio
TSA, foram feitas reisolamentos visando a
obtenção de culturas puras das bactérias, que
foram obtidas por técnica de esgotamento em
estrias compostas, e cultivadas em meio de
3. 52
cultura agar nutriente (A.N), e incubadas por
24/48 horas a 35 ºC.
Análise morfo-tintorial de Gram
Após o crescimento das estirpes
selecionadas na metodologia descrita acima,
foram confeccionadas lâminas de microscopia
utilizando a Técnica de Coloração Diferencial de
Gram, para análise das suas características
morfotintoriais.
Testes Bioquímicos e Fisiológico
Após as análises morfo tintorial de Gram
das cepas bacterianas isoladas, foram feitos testes
bioquímicos e fisiológico, sendo eles: urease,
catalase, citrato, nitrato, gelatinase e motilidade
(fisiológico), oxidação e fermentação de glicose,
maltose, xilose, lactose, sacarose e manitol,
seguindo protocolo Macfaddin (1976) e
Vermelho (2006). Assim sendo, para os testes de
Urease e Carboidratos as cepas foram cultivadas
em manitol salgado e para os demais testes em
Agar Nutriente.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Quantificação de bactérias isoladas do
solo com diferentes sistemas de manejo
Na figura 1 - observa-se que a área
argilosa com vinhaça na profundidade de 0-5 cm,
foi a que obteve a maior quantificação de
bactérias ocorrida no mês de Setembro de 2011.
Esses dados corroboram com Camargo et al.
(1983) que, também observaram um aumento na
atividade microbiana nas camadas do solo devido
aplicação da vinhaça. Essa densidade pode ser
devido a correção da acidez do solo, após a
aplicação da vinhaça, uma vez que, as bactérias,
são mais tolerantes a pH entre 6 e 8. Outro fator
que influenciou a presença desses
microrganismos nas primeiras camadas foi
provavelmente a classe textural do solo, argilosa,
característica essa que fazem com que as
bactérias se agregam nos poros menores. Nas
demais áreas estudadas estatisticamente não
houve diferença na quantificação bacteriana.
Todas as áreas seguiram o mesmo padrão no
crescimento microbiano.
0 - 5 cm
5 - 10 cm
10 - 20 cm
ARECV
ARESV
ARG CV
Cerrado
140
120
100
80
60
40
20
0
-20
Contagem de bactérias (UFC/g solo)
Figura 1. Média (média ± I.C. 95%) da contagem de bactérias (UFC/g solo) no solo das áreas utilizadas neste estudo em
quatro épocas de coletas na safra 2011/2012. ARECV – textura média cultivado com cana-de-açúcar com aplicação de
vinhaça; ARESV – textura média cultivado com cana-de-açúcar sem aplicação de vinhaça; Cerrado – vegetação natural
do tipo cerrado; ArgCV - textura argilosa cultivado com cana-de-açúcar com aplicação de vinhaça; ArgSV - textura
argilosa cultivado com cana-de-açúcar sem aplicação de vinhaça; AreQueima - textura média cultivado com cana-de-açúcar
com queima da palhada; ArgQueima - textura argilosa cultivado com cana-de-açúcar com queima da palhada.
4. 53
As coletas do mês de Novembro de 2011,
figura 2, a área arenosa sem vinhaça e argilosa
com vinhaça foram as que apresentaram maior
quantidade de bactérias, ambas nas respectivas
profundidades 5-10, seguida de um pequeno
aumento na área argilosa com vinhaça. A
sazonalidade colabora para o crescimento das
bactérias, que segundo relatos de Moreira e
Siqueira (2002), as variações sazonais de
temperatura e umidade afetam as comunidades
biológicas do solo e suas atividades devido as
condições adversas para o seu desenvolvimento.
Fato este que pode ser explicado porque nesse
período iniciaram-se as chuvas, um fator de
contribuição para que estes microrganismos se
encontrassem nesta profundidade. Durante o
período de chuva, os nutrientes que estão
depositados na superfície do solo são lixiviados
para o interior do solo. Outro fator que pode ter
favorecido as condições de proliferação das
bactérias foi a aplicação da vinhaça e a textura do
solo (argiloso), a vinhaça deve ser vista, também,
como agente do aumento da população e
atividade microbiana no solo e em solos argilosos
são encontrados maior número de bactérias.
Souto (2002), estudando a população de fungos e
bactérias em solo degradado no semi-árido do
Estado da Paraíba após a aplicação de diferentes
estercos, encontrou maior população de fungos
no período de menor índice pluviométrico e
maior população de bactérias no período de
maior índice pluviométrico. A avaliação
microbiana estudada nesta área corrobora com a
afirmação do autor citado acima. Nas outras
áreas estudas arenosa com vinhaça e cerrado não
se diferem estatisticamente, acompanhando o
mesmo perfil de crescimento bacteriano.
0 - 5 cm
5 - 10 cm
10 - 20 cm
14
12
10
8
6
4
2
0
-2
Figura 2. Média (média ± I.C. 95%) da contagem de bactérias (UFC/g solo) no solo das áreas utilizadas neste estudo em
quatro épocas de coletas na safra 2011/2012. ARECV – textura média cultivado com cana-de-açúcar com aplicação de
vinhaça; ARESV – textura média cultivado com cana-de-açúcar sem aplicação de vinhaça; Cerrado – vegetação natural
do tipo cerrado; ArgCV - textura argilosa cultivado com cana-de-açúcar com aplicação de vinhaça; ArgSV - textura
argilosa cultivado com cana-de-açúcar sem aplicação de vinhaça; AreQueima - textura média cultivado com cana-de-açúcar
com queima da palhada; ArgQueima - textura argilosa cultivado com cana-de-açúcar com queima da palhada.
A quantificação bacteriana na área de
cerrado (área nativa) na profundidade de 0-5 cm
na amostragem do mês de Março de 2012, foi a
que obteve um valor mais expressivo de bactérias
em relação as outras áreas de tratamento (figura
3). Segundo Gonçalves et al. (1999) e Vargas e
Scholles (2000) áreas com presença de espécies
vegetais (cerrado) exercem grande influencia
sobre os microrganismos devido ao acumulo de
matéria orgânica favorecendo o crescimento e
atividade microbiana na camada superficial do
solo. Este resultado está de acordo com os
ARECV
ARESV
ARG CV
Cerrado
-4
Contagem de bactérias (UFC/g solo)
5. 54
autores. A deposição de resíduos orgânicos, a
grande quantidade de raízes e a maior quantidade
de água retida no solo, nas condições de mata
nativa, estimulam a manutenção da microbiota
do solo, enquanto que os solos submetidos a
atividade agrícola costumam apresentar
condições adversas que, normalmente, fazem a
população microbiana decrescer (Perez et al.,
2004). Isso também pode ser explicado pelo fato
que nesse período ocorreu muita chuva, o que faz
com que a presença de matéria orgânica no solo
na camada superficial diminua a acidez,
colaborando dessa forma para o crescimento
bacteriano. O fato do Cerrado apresentar maior
quantidade de matéria orgânica do que as áreas
cultivadas, já era esperado, tendo sido observado
por outros autores em diferentes trabalhos
(Oliveira, 2000; Mendes, 2002; Matsuoka et al.,
2003; Ferreira et al., 2007; Benito, 2008).
Segundo Roscoe et al.(2006), em geral os
maiores valores de matéria orgânica são
encontrados nos sistemas naturais, destacando-se
os ambientes onde há um maior fluxo de
resíduos. As áreas, arenosa com vinhaça, arenosa
sem vinhaça, argilosa sem vinhaça, argilosa com
vinhaça, arenosa com queima e argilosa com
queima apresentaram similaridades estatísticas
na quantificação de bactérias nas profundidades
estudadas.
0 - 5 cm
5 - 10 cm
10 - 20 cm
600
500
400
300
200
100
0
Arg Queima-200
Figura 3 -. Média (média ± I.C. 95%) da contagem de bactérias (UFC/g solo) no solo das áreas utilizadas neste estudo
em quatro épocas de coletas na safra 2011/2012. ARECV – textura média cultivado com cana-de-açúcar com aplicação
de vinhaça; ARESV – textura média cultivado com cana-de-açúcar sem aplicação de vinhaça; Cerrado – vegetação natural
do tipo cerrado; ArgCV - textura argilosa cultivado com cana-de-açúcar com aplicação de vinhaça; ArgSV - textura
argilosa cultivado com cana-de-açúcar sem aplicação de vinhaça; AreQueima - textura média cultivado com cana-de-açúcar
com queima da palhada; ArgQueima - textura argilosa cultivado com cana-de-açúcar com queima da palhada.
Na figura 4, a quantificação de bactérias
ocorrida no mês de Abril de 2012 foi maior na
área argilosa com queima na profundidade de 10-
20 cm. De acordo com os estudos de (Siqueira e
Franco, 1988) o aumento de colônias bacterianas
em parcelas sob fogo pode ter sido ocasionado
pelo aumento de disponibilidade e depósito de
nutrientes no solo após o processo de queima, e
posteriormente a intensificação da
remineralização do solo. Isso pode ser
justificado, porque na época da coleta houve
incidência grande de chuva, contribuindo para
que os nutrientes depositados na superfície do
solo lixiviassem para camadas mais internas do
solo, como de 10-20 cm. Este fato também pode
ser explicado, porque a ação do fogo nas
primeiras camadas colabora para os decréscimos
dessa microbiota, condicionando assim a
ARECV
ARESV
Cerrado
ArgSV
ArgCV
Are Queima
-100
Contagem de bactérias (UFC/g
solo)
6. 55
permanência desses microrganismos na
profundidade de 10-20 cm, onde o fogo é menos
atuante. A queima em áreas para fins de plantio
ou colheita tem efeitos negativos drásticos e
diretos sobre as populações de organismos que
vivem na superfície do solo, bem como a
eliminação da serrapilheira, das fontes de
nutrientes e a desestruturação de habitats. Sem
nutrientes nem habitat, a recolonização quando
ocorre é lenta e restrita a poucos grupos. Para as
demais áreas estudadas não observou diferenças
estatísticas quanto ao crescimento de bactérias
nas profundidades analisadas.
0 - 5 cm
5 - 10 cm
10 - 20 cm
140
120
100
80
60
40
20
0
-20
-40
Figura 4 - Média (média ± I.C. 95%) da contagem de bactérias (UFC/g solo) no solo das áreas utilizadas neste estudo em quatro épocas
de coletas na safra 2011/2012. ARECV – textura média cultivado com cana-de-açúcar com aplicação de vinhaça; ARESV – textura
média cultivado com cana-de-açúcar sem aplicação de vinhaça; Cerrado – vegetação natural do tipo cerrado; ArgCV - textura argilosa
cultivado com cana-de-açúcar com aplicação de vinhaça; ArgSV - textura argilosa cultivado com cana-de-açúcar sem aplicação de
vinhaça; AreQueima - textura média cultivado com cana-de-açúcar com queima da palhada; ArgQueima - textura argilosa cultivado
com cana-de-açúcar com queima da palhada.
Quantificação de fungos isolados do
solo com diferente sistema de manejo.
A quantificação de fungos ocorrida no
mês de Setembro de 2011 foi maior na área
arenosa sem vinhaça na profundidade 0-5 cm,
como pode ser observado na figura 5. Isso pode
ser devido o solo não receber a vinhaça que é um
resíduo rico em matéria orgânica que com a sua
aplicação no solo, aumenta o pH do solo, e o que
ocorre nesta área é o contrário do que se diz a
respeito da vinhaça. A não utilização da vinhaça
no solo faz com que o pH seja favorável ao
crescimento fúngico que preferem um pH mais
ácido. E esses organismos também se encontram
preferencialmente nas camadas superficiais dos
solos, atuam como os primeiros decompositores,
logo em seguida as bactérias. Esses resultados
conferem com os encontrados em alguns
trabalhos, nos quais, segundo Moreira e Siqueira
(2002), em varias referencias é mencionado que
os fungos são mais adaptados a pH menores que
5,0 e bactérias, a valores de pH entre 6 e 8. De
acordo com Brandão (1992), os fungos são
encontrados predominantemente em solos
ácidos, onde sofrem menor competição; no
entanto, esses organismos podem ser
encontrados em solos com pH variando de 3,0-
9,0, o valor de pH ótimo é variável com a espécie.
Moreira e Siqueira (2002) salientam a existência
de exceções, que devem ser consideradas para
evitar generalizações errôneas. Outro fato
também é o baixo índice pluviométrico na época
da coleta, pois, Souto (2002), descreve que o
crescimento fúngico, em áreas com baixa
umidade, favorece sua proliferação. Em outras
áreas estudadas não houve diferença estatística
entre as profundidades testadas.
ARECV
ARESV
Cerrado
ArgSV
ArgCV
Are Queima
Arg Queima
-60
Contagem de bactérias (UFC/g
solo)
7. 0 - 5 cm
5 - 10 cm
10 - 20 cm
ARECV
ARESV
ARG CV
Cerrado
160
140
120
100
80
60
40
20
0
-20
-40
-60
Contagem de fungos (UFC/g solo)
Figura 5 - Média (média ± I.C. 95%) da contagem de fungos (UFC/g solo) no solo das áreas utilizadas neste estudo em
quatro época de coletas na safra 2011/2012. ARECV – textura média cultivado com cana-de-açúcar com aplicação de
vinhaça; ARESV – textura média cultivado com cana-de-açúcar sem aplicação de vinhaça; Cerrado – vegetação natural
do tipo cerrado; ArgCV - textura argilosa cultivado com cana-de-açúcar com aplicação de vinhaça; ArgSV - textura
argilosa cultivado com cana-de-açúcar sem aplicação de vinhaça; AreQueima - textura média cultivado com cana-de-açúcar
56
com queima da palhada; ArgQueima - textura argilosa cultivado com cana-de-açúcar com queima da palhada.
A quantificação fungica, da coleta de solo
feita no mês de Novembro 2011, (figura 6) foi
maior na área arenosa com vinhaça na
profundidade 10-20 cm. Provavelmente, isso se
deve as mudanças de pH do solo, após a adição
da vinhaça. As camadas mais profundas do solo
geralmente apresentam maior acidez em relação
as camadas superficiais devido a aplicação de
corretivo (calcário) e adubações que favorecem o
aumento do pH do solo (Maia e Ribeiro, 2004).
Brito et al. (2005) verificou aumento do pH em
todos os solos estudados e com doses de vinhaça.
Também foram constatadas por Miranda et al.
(1997), ao caracterizarem as populações de
fungos, bactérias e actinomicetos em solos com
Argissolo Chernozênico na zona da Mata de
Pernambuco, onde observaram que a época
úmida favorecia o aumento na população e na
diversidade de gêneros fúngicos. Este fato
corrobora com este estudo, pois o aumento no
teor de umidade do solo com o início do período
chuvoso contribuiu para a lixiviação e isto, pode
proporcionar um habitat favorável para esse
grupo de microrganismo na profundidade 10-20
cm do solo. Já em outras áreas de estudo os
resultados estatísticos quanto à quantificação
fúngica não diferenciou de uma área para outra e
nem em relação à profundidade.
0 - 5 cm
5 - 10 cm
10 - 20 cm
ARECV
ARESV
ARG CV
Cerrado
160
140
120
100
80
60
40
20
0
-20
-40
Contagem de fungos (UFC/g solo)
Figura 6 - Média (média ± I.C. 95%) da contagem de fungos (UFC/g solo) no solo das áreas utilizadas neste estudo em
quatro épocas de coletas na safra 2011/2012. ARECV – textura média cultivado com cana-de-açúcar com aplicação de
vinhaça; ARESV – textura média cultivado com cana-de-açúcar sem aplicação de vinhaça; Cerrado – vegetação natural
do tipo cerrado; ArgCV - textura argilosa cultivado com cana-de-açúcar com aplicação de vinhaça; ArgSV - textura
8. argilosa cultivado com cana-de-açúcar sem aplicação de vinhaça; AreQueima - textura média cultivado com cana-de-açúcar
57
com queima da palhada; ArgQueima - textura argilosa cultivado com cana-de-açúcar com queima da palhada.
Nas análises das coletas ocorridas no mês
de Março de 2012, verificou que a quantificação
de fungos foi mais expressiva na área arenosa
sem vinhaça na profundidade 5-10 cm (figura 7).
Como nessa área não ocorre a aplicação da
vinhaça, assim o solo mantém a acidez elevada e
isso pode favorecer o desenvolvimento desses
organismos na superfície do solo. A classe
textural do solo, também pode condicionar os
fungos a se adaptarem neste ambiente já que
estes preferem o solo arenoso como habitat. Esse
resultado contraria outros estudos, descrito na
literatura para este tipo de solo, pois a classe
textural dessa área é arenosa com textura média,
e isso pode estar relacionado com a
predominância das bactérias anaeróbicas nas
primeiras camadas do solo, e não de fungos.
Para Miranda et al. (1997), a umidade é,
indiretamente muito importante, especialmente
em solo de textura fina, porque, quanto maior a
umidade, menor a disponibilidade de O2 para
crescimento microbiano. Isso pode estar
relacionado com a predominância das bactérias
anaeróbicas nas primeiras camadas do solo,
favorecendo ao crescimento fúngico na
profundidade de 5-10 cm. Em relação às outras
áreas estudadas não apresentaram diferença
significativa estatisticamente nas áreas de
diferente manejo e profundidades.
0 - 5 cm
5 - 10 cm
10 - 20 cm
160
140
120
100
80
60
40
20
0
Arg Queima-40
Figura 7 - Média (média ± I.C. 95%) da contagem de fungos (UFC/g solo) no solo das áreas utilizadas neste estudo em
quatro épocas de coletas na safra 2011/2012. ARECV – textura média cultivado com cana-de-açúcar com aplicação de
vinhaça; ARESV – textura média cultivado com cana-de-açúcar sem aplicação de vinhaça; Cerrado – vegetação natural
do tipo cerrado; ArgCV - textura argilosa cultivado com cana-de-açúcar com aplicação de vinhaça; ArgSV - textura
argilosa cultivado com cana-de-açúcar sem aplicação de vinhaça; AreQueima - textura média cultivado com cana-de-açúcar
com queima da palhada; ArgQueima - textura argilosa cultivado com cana-de-açúcar com queima da palhada.
Na Figura 8, a área arenosa sem vinhaça
foi a que apresentou maior quantificação de
fungos na profundidade de 0-5 cm ocorrida no
mês de Abril de 2012. Há coerência neste
resultado, pois, os fungos a princípio são
encontrados nas primeiras camadas do solo, uma
vez que, são primeiros a agir nos processos de
decomposição. De acordo com Brandão (1992),
os fungos são encontrados predominantemente
em solos ácidos, onde sofrem menor competição.
Segundo Souto (2002) o aumento do suprimento
hídrico pode ter reduzido ou contribuído para
redução no fornecimento de O2, refletindo na
população desses organismos, o que justificaria o
decréscimo da população de bactérias e aumento
da população de fungos, tendo em vista que, a
umidade pode afetar a atividade de
microrganismos. Outro fator que pode ter
ARECV
ARESV
Cerrado
ArgSV
ArgCV
Are Queima
-20
Contagem de fungos (UFC/g solo)
9. 58
contribuído para o crescimento fúngico é a
disposição de nutrientes na superfície do solo,
apesar de ser uma área que não há aplicação de
vinhaça, os nutrientes da própria cana-de-açúcar
favorecem a proliferação fúngica. De acordo com
Miranda et al. (1997), a ocorrência de matéria
orgânica e de material pouco alterado nas
camadas superficiais favoreceria a maior aeração
e disponibilidade de nutrientes, com consequente
aumento na população de bactérias e fungos. Os
atributos biológicos são influenciados por fatores
como temperatura e umidade (Cattelan; Vidor,
1990). As outras áreas estudadas não
apresentaram diferença em seus resultados
estatísticos em relação à profundidade.
0 - 5 cm
5 - 10 cm
10 - 20 cm
160
140
120
100
80
60
40
20
0
-20
Figura 8 - Média (média ± I.C. 95%) da contagem de fungos (UFC/g solo) no solo das áreas utilizadas neste estudo em
quatro épocas de coletas na safra 2011/2012. ARECV – textura média cultivado com cana-de-açúcar com aplicação de
vinhaça; ARESV – textura média cultivado com cana-de-açúcar sem aplicação de vinhaça; Cerrado – vegetação natural
do tipo cerrado; ArgCV - textura argilosa cultivado com cana-de-açúcar com aplicação de vinhaça; ArgSV - textura
argilosa cultivado com cana-de-açúcar sem aplicação de vinhaça; AreQueima - textura média cultivado com cana-de-açúcar
com queima da palhada; ArgQueima - textura argilosa cultivado com cana-de-açúcar com queima da palhada.
Análise morfo tintorial de gram
Análise morfo tintotial de Gram foi feita
afim de separar os dois grandes grupos
bacterianos (Gram positivo e negativo), na figura
9 observa-se as percentagens das estirpes
isoladas de todas as coletas e tratamento. A maior
percentagem encontrada foi bastonete positivo.
Este resultado corrobora com a literatura, que
descreve os microrganismos do gênero Bacillus
como sendo predominantes do solo, ou seja,
encontra-se em maior quantidade (Moreira e
Siqueira, 2006). Os mesmos apresentaram na sua
grande maioria esporos. Os esporos são
estruturas de defesa e resistencia que se formam
nos microrganismo, isso ocorre quando o solo
passa por algum tipo de estresse, como a
incorporação da vinhaça e a ação da queima.
ARECV
ARESV
Cerrado
ArgSV
ArgCV
Are Queima
Arg Queima
-40
Contagem de fungos (UFC/g solo)
10. 59
Análise Morfo Tintorial de Gram
80%
8%
10% 2%
Bastonete+
Bastonete-
Cocos +
Cocos -
Figura 9 - Porcentagens de grupos bacterianos de todas as coletas e tratamento.
Testes Bioquímicos
Foram isoladas 100 estirpes bacterianas,
estas foram submetidas a testes bioquímicos a
fim de identificá-las. Os testes bioquímicos
utilizados neste estudo permitiu a identificação
de 57 estirpes em nível de família, ficando 43
sem identificação, a maioria dos testes e chaves
de identificação, são indicados para análises
clínicas, dificultando dessa forma uma
identificação mais precisa dos isolados de
amostras ambientais. Assim sendo, foi possível
verificar que todas as estirpes em estudo, são do
gênero Bacillus, família Bacillaceae. Estes testes
corroboram com os resultados da analise
morfotintorial de Gram onde 80% são bastonetes
Gram positivo.
A Tabela1 apresenta as áreas de
tratamento, onde, a área arenosa sem vinhaça foi
a que teve maior incidência do gênero Bacillus,
família Bacillaceae, seguida da área argilosa com
vinhaça, arenosa com vinhaça, arenosa com
queima, argilosa com vinhaça e sem vinhaça e de
menor quantidade na argilosa com queima.
Este resultado contraria a literatura, que
descreve que os gêneros Bacillus são
encontrados em solos de classe textural argilosa,
devido a porosidade que proporciona um micro
habitat favorável para este grupo.
Tabela 1 - Quantificação de gêneros encontrados nos tratamentos em estudo.
Área de Tratamento Bacillus encontrados Não Definido Família
Arenosa com vinhaça 9 2 Bacillaceae
Arenosa sem vinhaça 21 8 Bacillaceae
Argilosa com vinhaça
10
18
Bacillaceae
Argilosa sem vinhaça
4
3
Bacillaceae
Cerrado 2 4 Bacillaceae
Arenosa com queima 8 4 Bacillaceae
Argilosa com queima 3 4 Bacillaceae
Total 57 43 100
11. 60
CONCLUSÕES
1. O crescimento bacteriano foi
predominante na profundidade de 0- 5 cm em
área arenosa com vinhaça e cerrado.
2. O crescimento de fungos foi
significante na profundidade de 0-5 cm na área
arenosa sem vinhaça.
3. Na análise morfo tintorial de
Gram o grupo predominante nos solos estudados
(arenoso e argiloso com e sem vinhaça, arenoso
e argiloso com queima e cerrado), o grupo
bastonetes positivos foram os que mais
predominaram nestes solos.
4. Os gêneros encontrados nos
tratamentos em estudo foram família
Bacillaceae, características dominantes nessas
áreas trabalhadas.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à FAPEMAT pelo
apoio financeiro concedido ao PRONEX
(148/2007), ao CNPq e CAPES pela concessão
das bolsas, e à Usina Pantanal pelo apoio de
infraestrutura e logístico.
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1-Mestranda do Programa de Pós Graduação em
Recursos Hídricos, bolsista CAPES-Universidade
Federal de Mato Grosso (UFMT),
andrea_palu@yahoo.com.br;
2-Professora Pesquisadora do Departamento de
Ciências Biológicas da Universidade Federal do
Mato Grosso (UFMT);
3-Professor Associado do Programa de Pós
Graduação em Recursos Hídricos, bolsista CNPq
(UFMT), Cuiabá, MT, Av. Fernando Correa da
Costa s/n, Campus UFMT, CEP 78060-900.