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1

A COMPREENSÃO WESLEYANA DA GRAÇA
Rev. Eber Borges da Costa

Neste trabalho, pretende-se abordar um dos temas principais dentro do processo de
salvação tal qual entendia Wesley: a graça de Deus.
No primeiro capítulo, tenta-se relacionar a influência de Lutero sobre Wesley a
respeito do tema, apontando também a distância entre um e outro. O objetivo é colocar o
pensamento de Wesley sobre a graça dentro deste ambiente maior que foi a Reforma.
No segundo capítulo, descreve-se os três momentos da graça divina agindo na vida
humana: preveniência, justificação e santificação. Observando a singularidade de Wesley
na compreensão do amor de Deus. O quanto ele avança em relação ao pensamento
reformado e dele se diferencia. É a sua contribuição.
No terceiro capítulo, amaneira singular com que ele relaciona a graça de Deus
como a única possibilidade de salvação e a necessária resposta humana.
Analisamos o pensamento wesleyano sobre a graça como um desafio para
refletirmos sobre as implicações desta compreensão em nosso testemunho na América
Latina de hoje. Como ela ajudará os metodistas de hoje, herdeiros desta graça, a
responder aos desafios pastorais, missionários e sociais colocados diante da igreja hoje.

I – A DOUTRINA DA GRAÇA NA REFORMA E SUA INFLUÊNCIA SOBRE
WESLEY
Em seu artigo “De Lutero a Wesley e de Wesley a nós” 1, o bispo Mortimer Arias
propõe uma aproximação entre Wesley e Lutero em relação à compreensão da graça no
processo da salvação.
Para Lutero, “a graça é fundamento da vida e da fé, o substrato da teologia, como
nas quatro frases em latim que sintetizam a Reforma: Sola Gratia, Solo Christo, Sola
Scriptura, Sola Fide.”2 É esta radicalidade da graça que Wesley herdou.
A Reforma Protestante, cujo marco fundamental data de 31 de outubro de 1517,
explode com a divulgação das 95 teses de Lutero. Teses estas que, especificamente,
falavam contra a venda de indulgências. Tinham, portanto, no seu bojo, a compreensão
de que a graça é fundamental para a salvação. O perdão divino não pode ser comprado;
é concedido graciosamente ao pecador arrependido.
“As teses de Lutero, escritas em latim, eram uma proposta para um debate
acadêmico na Universidade de Wittenberg, com idéias forjadas em seu estudo
e aprendizado nas Escrituras, de 1513 a 1516. No centro destas teses
estavam a afirmação do perdão dos pecados mediante a absolutamente
desmerecida graça de Deus”3
1

Mortimer ARIAS, De Lutero a Wesley e de Wesley a nós, p.p. 30-45 Caminhando: Revista da Faculdade de Teologia
da Igreja Metodista, n. 12
2
Idem p. 32
3
Idem p. 33
2
Eram um ataque direto a todo o sistema e pensamento que justificavam a venda de
indulgências, negando o poder do Papa sobre o purgatório. Purgatório que se tornou um
símbolo da situação de angústia e medo a que eram submetidos os que, como Lutero,
buscavam sinceramente agradar a Deus com seus méritos pessoais e através das
penitências.
Lutero usa a imagem do purgatório para descrever os momentos de agonia que ele
próprio viveu. Seu ensinamento, portanto, tem a ver com sua caminhada de fé, com sua
busca existencial por paz. Neste ponto, há clara similaridade com a experiência de
Wesley.
Neste ponto, encontramos a semelhança e, também, a influência de Lutero sobre
Wesley. “A relação de Wesley com Lutero não é tão teológica como existencial.”4 O
professor Reily aponta essa influência em seu artigo “Martinho Lutero e os Wesley”5 , não
apenas sobre João, mas, primeiramente sobre Carlos Wesley. Carlos Wesley foi
impactado pela leitura do comentário de Lutero à Carta aos Gálatas. Conforme seu
próprio testemunho, Lutero era “nobremente cheio de fé”. Este texto veio confirmar o que
ele havia já ouvido de Pedro Bohler. Pensamento que, “face ao ensino comum, a Igreja
da Inglaterra da época, parecia ser um novo Evangelho!”6
Lutero estava também em Aldersgate. A conhecida experiência do Coração
Aquecido se dá sob a influência de luteranos morávios e no exato momento em que
alguém lia o Prefácio de Lutero à Epístola aos Romanos; mais precisamente, no trecho
em ele fala da mudança que Deus opera no coração pela fé em Cristo. Mudança que só é
possível pela graça atuante de Deus.
O professor Reily não deixa de observar que há inúmeras diferenças entre Wesley e
Lutero. No entanto, não há como negar a influência sobre Wesley, especialmente em
relação à compreensão da justificação pela fé.
Além disso, Martinho Lutero não chegou diretamente à Wesley, mas pelas lentes
morávias e pela própria Igreja da Inglaterra. As influências recebidas por Wesley são lidas
“em um quadro fornecido pela tradição puriatno-pietista em sentido lato.”7
As diferenças se tornam mais evidentes quando observamos a pregação de Wesley
sobre a santificação. Aqui, como observa o bispo Arias, surgem os limites da influência de
Lutero sobre Wesley. “A diferença fundamental entre Lutero e Wesley, com referência à
doutrina da graça, é o conceito de santificação, de graça santificante.” 8 Na verdade,
neste ponto, Wesley marca as diferenças tanto com Lutero quanto com a Igreja romana.
Ele combina muito bem a ênfase protestante na salvação pela fé (obra da graça)
com a ênfase católica na santificação. Avançando, entretanto, em ambos os conceitos.
“Devemos reconhecer que Wesley também é um teólogo da graça, com um conceito
inclusivo e abarcador, e uma ênfase na santidade que devolve ao crente sua
responsabilidade perante o Deus da graça.”9

4

Idem p. 33
Duncan A. REILY, Martinho Lutero e os Wesley. in: Caminhando: Revista da Faculdade de Teologia da Igreja
Metodista, ano 2 nº1 , p.p.59-69.
6
Ídem p. 66
7
Rui JOSGRILBERG, O Caminho da Salvação: A teologia peregrina de João Wesley em nossos caminhos. Texto
apresentado no III Encontro Latino-americano de Estudos Wesleyanos, outubro de 2003, faculdade de Teologia –
UMESP, São Bernardo do Campo, p. 1
8
ARIAS, op. cit. p. 36
9
Idem p.37
5
3
Com isso, ele não apenas enfatiza a importância do amor de Deus que abre as
possibilidades de salvação, mas destaca, ao mesmo tempo, a responsabilidade e a
liberdade humanas.
“Wesley com sua doutrina ‘arminiana’ sobre a graça foi capaz, de um lado, de
adotar, de forma absolutamente conseqüente, o sola gratia dos reformadores;
mas podia também afirmar, com toda a convicção, que a graça de Deus toma
a sério o homem como criatura capaz de ser responsável.” 10
Para finalizar, vale destacar que ao relacionar Lutero e Wesley, o Bispo Mortimer
Arias quer encontrar um ponto de contato entre eles e a realidade vivida hoje na Améirca
Latina, fazendo uma interessante aplicação do que ocorreu com Lutero à realidade hoje
vivida na América Latina.
O bispo aponta a imagem do purgatório, algumas vezes usada por Lutero para falar
de sua condição existencial, e a aplica a nosso tempo denunciando os purgatórios
modernos. Desta forma, ressalta a importância da graça de Deus como o caminho para a
libertação de todos eles.
“Os purgatórios humanos têm uma dimensão coletiva e uma raiz individual. O
purgatório da culpa, como demonstram a proliferação da psicanálise e das
psicoterapias. O purgatório da desesperança tem muitos nomes e
manifestações: a depressão, bulimia, anorexia e suicídios, especialmente
entre jovens. O purgatório dos sem sentido da vida, ocasionado pelo
desemprego, desvalorização da vida humana no mundo de mercado, e a falta
de um sentido social e transcendente de cada vida pessoal.” 11
Portanto, em nosso tempo, tanto quanto nos tempos de Lutero e Wesley, deve-se
transmitir a mensagem da graça e da justificação pela fé como um caminho para a
libertação de tantas situações angustiantes e opressoras vividas por nosso povo.
Situações que podem muito bem ser descritas como os purgatórios de hoje.

II – COMPREENSÃO WESLEYANA DA GRAÇA
A compreensão que Wesley tinha a respeito da graça é a chave para entender todo
o seu pensamento soteriológico. Graça que os teólogos ocidentais, de modo geral,
definem com o perdão e a absolvição e os teólogos orientais como o poder de Deus em
ação em nós para renovar a nossa natureza. Segundo Theodore Runyon, Wesley utiliza
as duas tradições. Para ele, graça “é fundamentalmente o amor de Deus pela
humanidade manifestado em Cristo. Quando recebida, ao mesmo tempo comunica o
perdão e possibilita a renovação”. 12 É o amor de Deus que possibilita a reconciliação e é
este mesmo amor que é a base para a necessária resposta humana.
É conhecida a imagem que Wesley utiliza da casa para representar o processo de
salvação. Nesta imagem, aparecem os três momentos da graça apontados acima: a
varanda da casa seria a graça preveniente, a porta a graça justificadora e o interior da
casa, onde moramos, a graça santificadora.

10

Walter KLAIBER & Manfred MARQUARDT, Viver a Graça de Deus, p. 239
ARIAS op.cit. p. 37
12
Theodore RUNYON, A Nova Criação – A teologia de João Wesley hoje, p. 39
11
4
1- Graça Preveniente
Preveniente é a graça que se antecipa a qualquer vontade humana. Reforça, assim,
a iniciativa divina no processo de salvação.
Em oposição aos calvinistas que enfatizavam a vontade eletiva de Deus que produz
uma graça irresistível e limitada aos eleitos, Wesley, com a doutrina da preveniência,
reforça o amor universal de Deus e destaca a necessária reação humana. É uma graça
que deve ser acolhida e à qual se pode resistir.
A graça preveniente é a única possibilidade de salvação. Após a queda, o ser
humano não é mais livre.É o Espírito Santo que lhe restitui a liberdade.
Toda ação humana em direção a Deus é, então, uma resposta à iniciativa divina.
Não é causa, mas efeito da graça. Mas é, uma ação consciente fruto de uma decisão e
um esforço pessoal. Deus não obriga a pessoa a escolhê-lo, mas cria esta possibilidade.
Para Wesley, a essência da graça é a iniciativa do Espírito. Enfatiza, assim, o papel
da terceira pessoa da Trindade no processo salvífico.
“A preveniência divina não pode ser reconhecida se não nos conscientizarmos
dela. É por isso que o estímulo dos sentidos espirituais humanos pelo Espírito
é pressuposto e a maioria dos testemunhos da graça preveniente ocorre
depois que os sentidos espirituais foram despertados. Então reconhecemos
que a ação do Espírito era anterior à nossa própria consciência dela.” 13
Em seu sermão de número 85, “Trabalhando para nossa própria salvação”, Wesley
descreve o papel da graça preveniente:
“A salvação começa com o que é acertadamente chamado uma ‘graça
preveniente’. Nos referimos assim ao desejo de agradar a Deus, ao primeiro
entendimento da sua vontade e à primeira sensação, leve e transitória, de ter
pecado contra ele. E tudo isso é um sinal de vida, de certo grau de salvação; o
primeiro passo para nos livrarmos de nossa cegueira e insensibilidade em
relação a Deus e a tudo que refere a Ele.”14
Este estágio da graça é o primeiro toque que quer despertar nossos sentidos
espirituais para genuinamente conhecermos a Deus.
Além disso, a graça preveniente tem um caráter universal. O Espírito age no mundo
inteiro, em todos os povos e culturas, distribuindo o amor gratuito de Deus. Uma certa
consciência a respeito do que é bom e mal moral, aprovando o primeiro e repudiando o
segundo, atesta isso.
“Certamente, seja natural ou acrescentada pela graça de Deus, ela (a
consciência) é encontrada, pelo menos em certa medida, em todo ser que
vem a este mundo. Até certo ponto, está presente em qualquer coração
humano, sentenciando sobre o que é bom ou mal, não apenas em todos os
cristãos, mas em todos os maometanos, todos os pagãos, até mesmo o mais
inculto dos selvagens.”15
Essa universalidade da graça abre a possibilidade de transformação a todo ser
humano. Cada um é alvo do amor divino e possui um valor infinito.

13

Ídem p. 42
John WESLEY, Obras de Wesley, tomo IV. p. 120.
15
Idem p. 318
14
5
“Esta é uma perspectiva libertadora”, diz Thomas Lessmann em comentário à
visão de Wesley. “ ‘Ele coloca numa situação de esperança até mesmo o ser
humano que se afastou de Deus ou se rebelou contra Ele e que está
endurecido pelos seus pecados. Podemos nos aproximar de tal pessoa como
alguém a quem e em quem Deus está buscando executar sua própria obra’.
Se o Espírito não de deixa intimidar pela descrença, por que deveríamos nós?
O ‘otimismo da graça’, de que fala Wesley, é uma confiança fundamentada na
atividade universal de Deus.” 16
A compreensão wesleyana sobra a graça como preveniente é trinitária, e não
apenas cristológica. O Espírito chega onde ainda não chegou o conhecimento explícito de
Deus onde Cristo ainda não é conhecido. No entanto, o Espírito não é independente de
Cristo. “Assim, a autoridade da revelação de Cristo não é minada, porque o testemunho
do Espírito está fundamentado na revelação da existência de Deus que Cristo fez à
humanidade, sempre e em toda a parte.” 17
Ao falar a respeito do pecado original, Wesley se revela pouco otimista em relação
à condição humana. Para ele, todos os homens são, por natureza, filhos da ira.
Entretanto, é exatamente ao tratar deste tema que ele faz afirmações muito positivas a
respeito do alcance da graça. É a ação do Espírito no mundo que torna a graça divina
acessível a todos, anulando os efeitos do mal. Ele age no mundo todo, oferecendo seu
auxílio a toda a humanidade, tanto a cristãos quanto a não-cristãos.
2- Graça Justificadora
O próximo passo no processo de salvação, continuando com a imagem da casa, é a
porta da justificação, também possibilitada pela graça de Deus.
“A justificação é o modo como Deus – usando um termo da informática –
realinha a humanidade, restaurando-nos ao relacionamento para o qual fomos
criados. Para Wesley, esse realinhamento é possível graças ao perdão a ao
amor de Deus manifestados a nós por meio de Cristo, interrompendo o círculo
vicioso da alienação e afastamento que nós mesmos impomos e estabelecendo
um novo relacionamento baseado na misericórdia reconciliadora de Deus.” 18
Inicia-se, com a justificação, um novo tipo de relacionamento com Deus em que há
uma confiança (fé) apenas nEle e não mais nos próprios méritos. Mais do que isso, é o
início de um novo processo, o da restauração da imagem de Deus em nós (Novo
Nascimento). Ao passar pela porta, um momento, entramos na casa – santificação, um
processo. Isso implica, agora, em não apenas receber de Deus (graça), mas, também,
repartir com outros o que dEle recebemos.
“Portanto, a justificação faz parte de um processo maior conhecido pela
combinação ‘justificação-regeneração-santificação, todas elas elementos
essenciais no entendimento de Wesley sobre a salvação.... Numa seqüência de
raciocínio, diz Wesley, a justificação precede o novo nascimento (regeneração),
como a ‘grande obra que Deus por meio de Cristo faz por nós, perdoando
nossos pecados’ e nos reconciliando. Já a regeneração ou novo nascimento é
a ‘grande obra que Deus por meio do Espírito opera em nós, renovando-nos a
natureza decaída’ E esse novo nascimento ou regeneração inaugura o
16

RUNYON op. cit. p. 49
Idem p. 49
18
Ídem p. 58
17
6
processo de santificação, da verdadeira renovação de todos os aspectos de
nossas vidas.”19
Todo o processo ocorre porque é uma possibilidade da graça de Deus. Graça que
age de formas distintas, na visão de Wesley, mas sempre relacionadas.
Wesley, talvez mais do que todos antes dele, tem uma visão muito positiva da graça
de Deus. Tem uma visão terapêutica da graça, em contraste com o cristianismo ocidental,
em que predominam as imagens forenses a respeito dela.
“Wesley usa também as metáforas terapêuticas mais características dos padres
do Oriente, as metáforas curativas e renovadoras que indicam não apenas uma
libertação do fardo pecado, mas uma restituição da saúde. A graça não é
simplesmente um ato generoso de um juiz, mas um processo que envolve a
presença constante do Espírito, reconhecida ou não, e que leva a pessoa a um
relacionamento que sustenta e reforça o caminho.”20
A justificação é entendida por Wesley como um poder curativo do amor, e não
apenas como perdão oferecido por um juiz misericordioso. É um ato de amor que provoca
um processo de renovação, de reconstrução da vida.
3- Graça Santificadora
Utilizando ainda a metáfora de Wesley, entramos agora no interior da casa: graça
santificadora. Santificação é, segundo, Klayber e Marquardt, o centro da teologia
metodista. “Não somente a doutrina sobre a santificação, mas a pregação e a vida de
santificação se constituem, conforme Wesley, na justificativa para a existência mesma do
movimento metodista.”21
Duas coisas são importantes considerar. A primeira é a idéia do processo. A
santificação não acontece num momento. É inaugurada com a justificação/regeneração e
dura a vida toda. Acontece enquanto se caminha. A segunda é o seu caráter comunitário
e social.
É um processo de “aperfeiçoamento da imagem de Deus e de ampliação do Novo
Testamento a todo o aspecto da existência humana, de modo que a vida torne-se um
todo coerente”.22 Diferentemente de Lutero – para quem a “descoberta e a apropriação da
graça e do perdão são o objetivo supremo, e a justificação a dádiva maior” 23 – Wesley vê
a justificação como o início da vida cristã e não como seu fim; ela continua na
santificação e esta é a ênfase wesleyana.
“Deus não apenas justifica – provendo, assim, o fundamento da nova vida –,
mas abre possibilidades de crescimento na graça até então inimagináveis. O
objetivo de Deus é nos criar novamente, transformar-nos, restaurar-nos a
saúde e o nosso papel como imagem sua”.24
É um caminho que não se faz solitariamente. Inclui, evidentemente, os atos de
piedade, mas não se reduz a eles. Não se pode pensar um conceito, em Wesley, de
“santo” como “separado”, tão comum no meio evangélico brasileiro atual. Santificação é
santidade em amor e amor se vive no contato; se faz no encontro com Deus, com os
19

Ídem p.59
Idem p. 42
21
KLAIBER & MARQUARDT, op. cit. p.296
22
RUNYON, op. cit., p. 108
23
Idem p. 110
24
Idem p. 111
20
7
outros e com a criação. Santidade é santidade social. “O horizonte da santificação
sempre é o da comunidade; o esforço para a comunhão perfeita com Deus inclui o reto
relacionamento com os outros homens.”25
Wesley dintingue o papel da fé e do amor no processo de salvação. “Se a fé é o
sinal da jusitificação, o amor é o sinal da santificação. O amor, argumentou ele, é o
supremo alvo da vida da fé... A fé é exaltada como o meio, somente meio, de servir o
amor.”26
Ele descreve a santificação com duas dimensões, uma negativa que seria a
superação do pecado e a outra positiva que é a vivência do amor. Santificação não
define, portanto, com uma lista de ações que se deve evitar, mas com ações que se
devem realizar, motivadas pelo amor. A salvação não é apenas reconciliação com Deus,
mas, antes, a restauração da imagem de Deus no ser humano.27
“A santificação é, portanto, a restauração da criatura decaída àquela
existência em comunhão com o Criador e àquela vida como mordomo fiel para
as quais a humanidade foi feita. É santidade crescente, isto é, vida cada vez
mais saudável e plena por meio da comunhão com Deus e com os outros”.28
Enxergar a santificação como possibilidade da graça é vê-la não apenas como
resultado do esforço humano para a agradar a Deus, mas como um dom, fruto do amor
divino. Não é, portanto, um comportamento exigido Poe um Deus caprichoso que quer de
seus servos atitudes que inibam a alegria e o prazer. Não é um peso imposto sobre os
ombros humanos. É, antes, um estilo alegre de se viver. “Santificação é o
restabelecimento da comunhão paradisíaca com Deus, é a recuperação da imagem de
Deus e, através dela, o homem não só fica santo mas também plenamente feliz.”29

III – GRAÇA DIVINA E ESFORÇO HUMANO
Há uma evidente ênfase no pensamento e prática wesleyanos na graça divina.É
importante frisar, no entanto, que a graça em Wesley é um tema dentro de um processo
maior que é o caminho da salvação.
“A análise do discurso wesleyano permite verificar, reforçando as análises
históricas, que a preocupação com as construções conceituais foi para ele
uma preocupação subordinada à prática. Essa primazia da prática veio pela
reação a uma situação e não pela elaboração teórica... Há um entrelaçamento
natural entre a prática e a teoria. O caminhar cristão é um sinergismo possível
criado pela graça. Wesley recusa toda compreensão da graça que não se faça
caminho. Recusa todo caminho que não seja uma possibilidade da graça.”30
Pensar em salvação como um caminho a percorrer, caminho que é possibilitado
pela graça, mas que ainda requer o esforço de caminhar, enfatiza também a necessária
resposta humana. A graça, sem uma resposta humana, torna-se ineficaz.
25

KLAIBER & MARQUARDT, op. cit. , p. 302
RUNYON, op. cit., p. 113
27
Idem p. 113
28
Idem p. 109
29
KLAIBER & MARQUARDT, op. cit. , p. 302
30
JOSGRILBERG , op. cit. p. 1
26
8
A graça de Deus está sempre ativa na vida humana, não depende de uma resposta,
é amor incondicional. No entanto, ela terá efeitos de transformação se houver uma
resposta positiva do ser humano. “É claro que, independentemente da resposta do ser
humano, o amor de Deus é verdadeiro; no entanto, sua intenção óbvia é a de ser
recebido e a de criar um laço que possibilite recepção e reciprocidade”.31
Nas palavras do próprio Wesley:
“Ó, que possamos todos receber da plenitude (de Cristo) graça sobre graça;
graça para perdoar nossos pecados e vencer nossas iniqüidades; para
justificar nosso ser e santificar nossas almas; e , para completar, a santa
transformação, aquela renovação dos nossos corações, pela qual seremos
transformados na bendita imagem em que nos criaste.” 32
Este amor, como vimos, se manifesta em três momentos: na criação, no perdão, e
na transformação ou recriação do ser humano – graça preveniente, graça justificadora e
graça santificadora.. Nestas três formas, ela pede uma resposta humana. Não pode ser
imposta nem é “irresistível”, porque é, essencialmente amor. “Privar o ser humano da
liberdade não tem a natureza da graça de Deus nem a natureza de seu amor” 33 Ainda
assim, o amor de Deus é tão grande que esta graça o auxilia em sua resposta, é um
estímulo que a torna possível. “Tal auxílio são as sugestões do Espírito de Deus em ação
em nós para comunicar a graça e iniciar o processo de renovação. Mas, a ação do
Espírito é freqüentemente sutil e pode estar ativa em nós antes mesmo que dela
tenhamos consciência” 34
Nos três momentos que caracterizam a graça na visão de Wesley vimos que a
participação humana é fundamental, assim, como a divina.
“Na trajetória de Wesley, a graça de Deus demanda uma resposta
participante e participativa. Poderíamos dizer que a teologia da graça, na
concepção inclusiva e abarcante de Wesley, devolve ao crente sua
responsabilidade, não seu protagonismo, pois a salvação é um dom da
graça de Deus, mas o crente é responsivo e responsável.”35
Afirmar a importância da participação da pessoa humana no processo de salvação
devolve-lhe a dignidade de alguém que tem valor e potencialidades. “No movimento
metodista, homens e mulheres descobriram e recuperaram sua dignidade como filhos de
Deus e participantes ativos do plano de Deus para o mundo.”36
Vale considerar a similaridade entre a graça santificadora de Wesley e a distinção
entre Graça Barata e Graça Preciosa feita pelo teólogo luterano Dietrich Bonhoeffer, em
seu livro Discipulado. Bonhoeffer percebeu que muitos cristãos de seu tempo (primeira
metade do século XX) viviam uma religiosidade sem compromisso, sem envolvimento,
sem santidade de vida; e a doutrina da salvação pela graça, de certa forma, justificava
este tipo de religiosidade. Se somos salvos por graça, não são necessários o
compromisso, a ética, a santidade de vida e outras coisas mais – era a lógica.
Para ele, este tipo de pensamento e atitude barateiam a Graça de Deus. A pregação
do Evangelho se torna eficaz quando há a aceitação do discipulado. Graça barata é o

31

RUNYON, op. cit., p. 40
A collection of forms of prayers, (Jackson) 11.254, citado por RUNYON p. 40
33
Ídem p. 40
34
Idem p. 40
35
ARIAS, op. cit., p. 40
36
Ídem p. 42
32
9
Evangelho sem o chamado ao discipulado. Graça preciosa é o Evangelho acompanhado
de resposta.
“Essa graça é preciosa porque chama ao discipulado, e é graça por chamar
ao discipulado de Jesus Cristo; é preciosa por custar a vida ao homem, e é
graça por, assim, lhe dar a vida; é preciosa por condenar o pecado, e é graça
por justificar o pecador. Essa graça é sobretudo preciosa por tê-lo sido para
Deus, por ter custado a vida de seu Filho – “fostes comprados por preço” – e
porque não pode ser barato para nós aquilo que para Deus custou caro. A
graça é graça sobretudo por Deus não ter achado que seu Filho fosse preço
demasiado caro a pagar pela nossa vida, antes o deu por nós. A graça
preciosa é a encarnação de Deus.” 37
A graça de Deus atua em nossa vida de tal forma que produz transformação,
mudança, arrependimento. Ele chama e acolhe o pecador do jeito que está, mas não
para deixá-lo assim. Quer nos fazer como foi Jesus. Daí, a palavra discipulado, que dá
nome ao livro. O discípulo é aquele que segue os passos de seu mestre.
Wesley, ao ensinar a respeito do plano salvífico de Deus, demonstra, igualmente,
essa visão plena a respeito do evangelho.
“Deus tem um propósito de renovação que abarca a totalidade da
humanidade e do universo, o que ele chama, às vezes, de ‘o desígnio
grandioso da salvação da humanidade’... O anúncio deste plano e o convite
para participar ativamente dele – a evangelização e o chamado para a
conversão – são a tarefa pela qual se mede a fidelidade do cristão e da
Igreja.”38

CONCLUSÃO
Wesley não foi totalmente original em sua compreensão a respeito da graça divina.
Como caminhante, numa caminhada que não se faz solitariamente, nem poderia ser.
Absorveu muito do que há em Lutero e por mediações diversas. Mas, não
simplesmente absorve, avança originando uma compreensão do amor salvífico de Deus
singular e muito abrangente.
O poder renovador (recriador) da graça divina e o seu imenso alcance abre as
possibilidades para nossa atuação hoje. Renova a esperança e anima a caminhada.
A responsabilidade humana, em resposta à graça, é também desafiadora. Sem
trabalho, compromisso e envolvimento pessoal e social, nada acontecerá.
Ao unirem-se graça divina e responsabilidade humana, novos caminhos se abrem e
a recriação se torna possível.
A grande mensagem da graça são as possibilidades que ela abre e para quem ela
abre. Num contexto marcado pela “desgraça” e pela falta de perspectiva depois de tantos
modelos mostraram-se ineficazes; a graça de Deus nos desafia a redescobrir o poder
restaurador de Deus que, unido à boa vontade humana, poderá trazer libertação a um
povo sofrido e sem esperanças.

37
38

Dietrich BONHOEFFER, Discipulado, p.10.
José Miguez BONINO, Luta pela Vida e Evangelização, p. 144.
10

BIBLIOGRAFIA
1. Livros:
- BONHOEFFER, Dietrich. Discipulado. Tradução: Ilson Kayser. 2ª ed.. São Leopoldo:
Sinodal, 1984.
- KLAIBER, Walter & MARQUARDT, Manfred. Viver a Graça de Deus: um compêndio de
teologia metodista. Tradução: Helmuth Alfredo Simon. São Bernardo do Campo:
Editeo,1999.
- RUNYON, Theodore. A Nova Criação: A teologia de João Wesley hoje.Tradução:
Cristina Paixão Lopes. São Bernardo do Campo: Editeo, 2002.
- VV.AA. Luta pela Vida e Evangelização. São Paulo: Editora UNIMEP/Paulinas, 1985.
- WESLEY. John. Obras de Wesley. Franklin, Tennessee: Providence House Publishers.
1996, tomo IV.

2. Periódicos:
- ARIAS, Mortimer. De Lutero a Wesley e de Wesley a nós .Caminhando: Revista da
Faculdade de Teologia da Igreja Metodista. São Bernardo do Campo,
Editeo/UMESP, nº 12 , 2º semestre de 2003.
- REILY, Duncan A.. Martinho Lutero e os Wesley. Caminhando: Revista da Faculdade
de Teologia da Igreja Metodista. São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, nº1,
janeiro,fevereiro e março de 1984.

3. Texto não publicado:
- JOSGRILBERG, Rui. O Caminho da Salvação: A teologia peregrina de João Wesley em
nossos caminhos. Texto apresentado no III Encontro Latino-americano de Estudos
Wesleyanos, outubro de 2003, faculdade de Teologia – UMESP, São Bernardo do
Campo.

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A COMPREENSÃO WESLEYANA DA GRAÇA II

  • 1. 1 A COMPREENSÃO WESLEYANA DA GRAÇA Rev. Eber Borges da Costa Neste trabalho, pretende-se abordar um dos temas principais dentro do processo de salvação tal qual entendia Wesley: a graça de Deus. No primeiro capítulo, tenta-se relacionar a influência de Lutero sobre Wesley a respeito do tema, apontando também a distância entre um e outro. O objetivo é colocar o pensamento de Wesley sobre a graça dentro deste ambiente maior que foi a Reforma. No segundo capítulo, descreve-se os três momentos da graça divina agindo na vida humana: preveniência, justificação e santificação. Observando a singularidade de Wesley na compreensão do amor de Deus. O quanto ele avança em relação ao pensamento reformado e dele se diferencia. É a sua contribuição. No terceiro capítulo, amaneira singular com que ele relaciona a graça de Deus como a única possibilidade de salvação e a necessária resposta humana. Analisamos o pensamento wesleyano sobre a graça como um desafio para refletirmos sobre as implicações desta compreensão em nosso testemunho na América Latina de hoje. Como ela ajudará os metodistas de hoje, herdeiros desta graça, a responder aos desafios pastorais, missionários e sociais colocados diante da igreja hoje. I – A DOUTRINA DA GRAÇA NA REFORMA E SUA INFLUÊNCIA SOBRE WESLEY Em seu artigo “De Lutero a Wesley e de Wesley a nós” 1, o bispo Mortimer Arias propõe uma aproximação entre Wesley e Lutero em relação à compreensão da graça no processo da salvação. Para Lutero, “a graça é fundamento da vida e da fé, o substrato da teologia, como nas quatro frases em latim que sintetizam a Reforma: Sola Gratia, Solo Christo, Sola Scriptura, Sola Fide.”2 É esta radicalidade da graça que Wesley herdou. A Reforma Protestante, cujo marco fundamental data de 31 de outubro de 1517, explode com a divulgação das 95 teses de Lutero. Teses estas que, especificamente, falavam contra a venda de indulgências. Tinham, portanto, no seu bojo, a compreensão de que a graça é fundamental para a salvação. O perdão divino não pode ser comprado; é concedido graciosamente ao pecador arrependido. “As teses de Lutero, escritas em latim, eram uma proposta para um debate acadêmico na Universidade de Wittenberg, com idéias forjadas em seu estudo e aprendizado nas Escrituras, de 1513 a 1516. No centro destas teses estavam a afirmação do perdão dos pecados mediante a absolutamente desmerecida graça de Deus”3 1 Mortimer ARIAS, De Lutero a Wesley e de Wesley a nós, p.p. 30-45 Caminhando: Revista da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista, n. 12 2 Idem p. 32 3 Idem p. 33
  • 2. 2 Eram um ataque direto a todo o sistema e pensamento que justificavam a venda de indulgências, negando o poder do Papa sobre o purgatório. Purgatório que se tornou um símbolo da situação de angústia e medo a que eram submetidos os que, como Lutero, buscavam sinceramente agradar a Deus com seus méritos pessoais e através das penitências. Lutero usa a imagem do purgatório para descrever os momentos de agonia que ele próprio viveu. Seu ensinamento, portanto, tem a ver com sua caminhada de fé, com sua busca existencial por paz. Neste ponto, há clara similaridade com a experiência de Wesley. Neste ponto, encontramos a semelhança e, também, a influência de Lutero sobre Wesley. “A relação de Wesley com Lutero não é tão teológica como existencial.”4 O professor Reily aponta essa influência em seu artigo “Martinho Lutero e os Wesley”5 , não apenas sobre João, mas, primeiramente sobre Carlos Wesley. Carlos Wesley foi impactado pela leitura do comentário de Lutero à Carta aos Gálatas. Conforme seu próprio testemunho, Lutero era “nobremente cheio de fé”. Este texto veio confirmar o que ele havia já ouvido de Pedro Bohler. Pensamento que, “face ao ensino comum, a Igreja da Inglaterra da época, parecia ser um novo Evangelho!”6 Lutero estava também em Aldersgate. A conhecida experiência do Coração Aquecido se dá sob a influência de luteranos morávios e no exato momento em que alguém lia o Prefácio de Lutero à Epístola aos Romanos; mais precisamente, no trecho em ele fala da mudança que Deus opera no coração pela fé em Cristo. Mudança que só é possível pela graça atuante de Deus. O professor Reily não deixa de observar que há inúmeras diferenças entre Wesley e Lutero. No entanto, não há como negar a influência sobre Wesley, especialmente em relação à compreensão da justificação pela fé. Além disso, Martinho Lutero não chegou diretamente à Wesley, mas pelas lentes morávias e pela própria Igreja da Inglaterra. As influências recebidas por Wesley são lidas “em um quadro fornecido pela tradição puriatno-pietista em sentido lato.”7 As diferenças se tornam mais evidentes quando observamos a pregação de Wesley sobre a santificação. Aqui, como observa o bispo Arias, surgem os limites da influência de Lutero sobre Wesley. “A diferença fundamental entre Lutero e Wesley, com referência à doutrina da graça, é o conceito de santificação, de graça santificante.” 8 Na verdade, neste ponto, Wesley marca as diferenças tanto com Lutero quanto com a Igreja romana. Ele combina muito bem a ênfase protestante na salvação pela fé (obra da graça) com a ênfase católica na santificação. Avançando, entretanto, em ambos os conceitos. “Devemos reconhecer que Wesley também é um teólogo da graça, com um conceito inclusivo e abarcador, e uma ênfase na santidade que devolve ao crente sua responsabilidade perante o Deus da graça.”9 4 Idem p. 33 Duncan A. REILY, Martinho Lutero e os Wesley. in: Caminhando: Revista da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista, ano 2 nº1 , p.p.59-69. 6 Ídem p. 66 7 Rui JOSGRILBERG, O Caminho da Salvação: A teologia peregrina de João Wesley em nossos caminhos. Texto apresentado no III Encontro Latino-americano de Estudos Wesleyanos, outubro de 2003, faculdade de Teologia – UMESP, São Bernardo do Campo, p. 1 8 ARIAS, op. cit. p. 36 9 Idem p.37 5
  • 3. 3 Com isso, ele não apenas enfatiza a importância do amor de Deus que abre as possibilidades de salvação, mas destaca, ao mesmo tempo, a responsabilidade e a liberdade humanas. “Wesley com sua doutrina ‘arminiana’ sobre a graça foi capaz, de um lado, de adotar, de forma absolutamente conseqüente, o sola gratia dos reformadores; mas podia também afirmar, com toda a convicção, que a graça de Deus toma a sério o homem como criatura capaz de ser responsável.” 10 Para finalizar, vale destacar que ao relacionar Lutero e Wesley, o Bispo Mortimer Arias quer encontrar um ponto de contato entre eles e a realidade vivida hoje na Améirca Latina, fazendo uma interessante aplicação do que ocorreu com Lutero à realidade hoje vivida na América Latina. O bispo aponta a imagem do purgatório, algumas vezes usada por Lutero para falar de sua condição existencial, e a aplica a nosso tempo denunciando os purgatórios modernos. Desta forma, ressalta a importância da graça de Deus como o caminho para a libertação de todos eles. “Os purgatórios humanos têm uma dimensão coletiva e uma raiz individual. O purgatório da culpa, como demonstram a proliferação da psicanálise e das psicoterapias. O purgatório da desesperança tem muitos nomes e manifestações: a depressão, bulimia, anorexia e suicídios, especialmente entre jovens. O purgatório dos sem sentido da vida, ocasionado pelo desemprego, desvalorização da vida humana no mundo de mercado, e a falta de um sentido social e transcendente de cada vida pessoal.” 11 Portanto, em nosso tempo, tanto quanto nos tempos de Lutero e Wesley, deve-se transmitir a mensagem da graça e da justificação pela fé como um caminho para a libertação de tantas situações angustiantes e opressoras vividas por nosso povo. Situações que podem muito bem ser descritas como os purgatórios de hoje. II – COMPREENSÃO WESLEYANA DA GRAÇA A compreensão que Wesley tinha a respeito da graça é a chave para entender todo o seu pensamento soteriológico. Graça que os teólogos ocidentais, de modo geral, definem com o perdão e a absolvição e os teólogos orientais como o poder de Deus em ação em nós para renovar a nossa natureza. Segundo Theodore Runyon, Wesley utiliza as duas tradições. Para ele, graça “é fundamentalmente o amor de Deus pela humanidade manifestado em Cristo. Quando recebida, ao mesmo tempo comunica o perdão e possibilita a renovação”. 12 É o amor de Deus que possibilita a reconciliação e é este mesmo amor que é a base para a necessária resposta humana. É conhecida a imagem que Wesley utiliza da casa para representar o processo de salvação. Nesta imagem, aparecem os três momentos da graça apontados acima: a varanda da casa seria a graça preveniente, a porta a graça justificadora e o interior da casa, onde moramos, a graça santificadora. 10 Walter KLAIBER & Manfred MARQUARDT, Viver a Graça de Deus, p. 239 ARIAS op.cit. p. 37 12 Theodore RUNYON, A Nova Criação – A teologia de João Wesley hoje, p. 39 11
  • 4. 4 1- Graça Preveniente Preveniente é a graça que se antecipa a qualquer vontade humana. Reforça, assim, a iniciativa divina no processo de salvação. Em oposição aos calvinistas que enfatizavam a vontade eletiva de Deus que produz uma graça irresistível e limitada aos eleitos, Wesley, com a doutrina da preveniência, reforça o amor universal de Deus e destaca a necessária reação humana. É uma graça que deve ser acolhida e à qual se pode resistir. A graça preveniente é a única possibilidade de salvação. Após a queda, o ser humano não é mais livre.É o Espírito Santo que lhe restitui a liberdade. Toda ação humana em direção a Deus é, então, uma resposta à iniciativa divina. Não é causa, mas efeito da graça. Mas é, uma ação consciente fruto de uma decisão e um esforço pessoal. Deus não obriga a pessoa a escolhê-lo, mas cria esta possibilidade. Para Wesley, a essência da graça é a iniciativa do Espírito. Enfatiza, assim, o papel da terceira pessoa da Trindade no processo salvífico. “A preveniência divina não pode ser reconhecida se não nos conscientizarmos dela. É por isso que o estímulo dos sentidos espirituais humanos pelo Espírito é pressuposto e a maioria dos testemunhos da graça preveniente ocorre depois que os sentidos espirituais foram despertados. Então reconhecemos que a ação do Espírito era anterior à nossa própria consciência dela.” 13 Em seu sermão de número 85, “Trabalhando para nossa própria salvação”, Wesley descreve o papel da graça preveniente: “A salvação começa com o que é acertadamente chamado uma ‘graça preveniente’. Nos referimos assim ao desejo de agradar a Deus, ao primeiro entendimento da sua vontade e à primeira sensação, leve e transitória, de ter pecado contra ele. E tudo isso é um sinal de vida, de certo grau de salvação; o primeiro passo para nos livrarmos de nossa cegueira e insensibilidade em relação a Deus e a tudo que refere a Ele.”14 Este estágio da graça é o primeiro toque que quer despertar nossos sentidos espirituais para genuinamente conhecermos a Deus. Além disso, a graça preveniente tem um caráter universal. O Espírito age no mundo inteiro, em todos os povos e culturas, distribuindo o amor gratuito de Deus. Uma certa consciência a respeito do que é bom e mal moral, aprovando o primeiro e repudiando o segundo, atesta isso. “Certamente, seja natural ou acrescentada pela graça de Deus, ela (a consciência) é encontrada, pelo menos em certa medida, em todo ser que vem a este mundo. Até certo ponto, está presente em qualquer coração humano, sentenciando sobre o que é bom ou mal, não apenas em todos os cristãos, mas em todos os maometanos, todos os pagãos, até mesmo o mais inculto dos selvagens.”15 Essa universalidade da graça abre a possibilidade de transformação a todo ser humano. Cada um é alvo do amor divino e possui um valor infinito. 13 Ídem p. 42 John WESLEY, Obras de Wesley, tomo IV. p. 120. 15 Idem p. 318 14
  • 5. 5 “Esta é uma perspectiva libertadora”, diz Thomas Lessmann em comentário à visão de Wesley. “ ‘Ele coloca numa situação de esperança até mesmo o ser humano que se afastou de Deus ou se rebelou contra Ele e que está endurecido pelos seus pecados. Podemos nos aproximar de tal pessoa como alguém a quem e em quem Deus está buscando executar sua própria obra’. Se o Espírito não de deixa intimidar pela descrença, por que deveríamos nós? O ‘otimismo da graça’, de que fala Wesley, é uma confiança fundamentada na atividade universal de Deus.” 16 A compreensão wesleyana sobra a graça como preveniente é trinitária, e não apenas cristológica. O Espírito chega onde ainda não chegou o conhecimento explícito de Deus onde Cristo ainda não é conhecido. No entanto, o Espírito não é independente de Cristo. “Assim, a autoridade da revelação de Cristo não é minada, porque o testemunho do Espírito está fundamentado na revelação da existência de Deus que Cristo fez à humanidade, sempre e em toda a parte.” 17 Ao falar a respeito do pecado original, Wesley se revela pouco otimista em relação à condição humana. Para ele, todos os homens são, por natureza, filhos da ira. Entretanto, é exatamente ao tratar deste tema que ele faz afirmações muito positivas a respeito do alcance da graça. É a ação do Espírito no mundo que torna a graça divina acessível a todos, anulando os efeitos do mal. Ele age no mundo todo, oferecendo seu auxílio a toda a humanidade, tanto a cristãos quanto a não-cristãos. 2- Graça Justificadora O próximo passo no processo de salvação, continuando com a imagem da casa, é a porta da justificação, também possibilitada pela graça de Deus. “A justificação é o modo como Deus – usando um termo da informática – realinha a humanidade, restaurando-nos ao relacionamento para o qual fomos criados. Para Wesley, esse realinhamento é possível graças ao perdão a ao amor de Deus manifestados a nós por meio de Cristo, interrompendo o círculo vicioso da alienação e afastamento que nós mesmos impomos e estabelecendo um novo relacionamento baseado na misericórdia reconciliadora de Deus.” 18 Inicia-se, com a justificação, um novo tipo de relacionamento com Deus em que há uma confiança (fé) apenas nEle e não mais nos próprios méritos. Mais do que isso, é o início de um novo processo, o da restauração da imagem de Deus em nós (Novo Nascimento). Ao passar pela porta, um momento, entramos na casa – santificação, um processo. Isso implica, agora, em não apenas receber de Deus (graça), mas, também, repartir com outros o que dEle recebemos. “Portanto, a justificação faz parte de um processo maior conhecido pela combinação ‘justificação-regeneração-santificação, todas elas elementos essenciais no entendimento de Wesley sobre a salvação.... Numa seqüência de raciocínio, diz Wesley, a justificação precede o novo nascimento (regeneração), como a ‘grande obra que Deus por meio de Cristo faz por nós, perdoando nossos pecados’ e nos reconciliando. Já a regeneração ou novo nascimento é a ‘grande obra que Deus por meio do Espírito opera em nós, renovando-nos a natureza decaída’ E esse novo nascimento ou regeneração inaugura o 16 RUNYON op. cit. p. 49 Idem p. 49 18 Ídem p. 58 17
  • 6. 6 processo de santificação, da verdadeira renovação de todos os aspectos de nossas vidas.”19 Todo o processo ocorre porque é uma possibilidade da graça de Deus. Graça que age de formas distintas, na visão de Wesley, mas sempre relacionadas. Wesley, talvez mais do que todos antes dele, tem uma visão muito positiva da graça de Deus. Tem uma visão terapêutica da graça, em contraste com o cristianismo ocidental, em que predominam as imagens forenses a respeito dela. “Wesley usa também as metáforas terapêuticas mais características dos padres do Oriente, as metáforas curativas e renovadoras que indicam não apenas uma libertação do fardo pecado, mas uma restituição da saúde. A graça não é simplesmente um ato generoso de um juiz, mas um processo que envolve a presença constante do Espírito, reconhecida ou não, e que leva a pessoa a um relacionamento que sustenta e reforça o caminho.”20 A justificação é entendida por Wesley como um poder curativo do amor, e não apenas como perdão oferecido por um juiz misericordioso. É um ato de amor que provoca um processo de renovação, de reconstrução da vida. 3- Graça Santificadora Utilizando ainda a metáfora de Wesley, entramos agora no interior da casa: graça santificadora. Santificação é, segundo, Klayber e Marquardt, o centro da teologia metodista. “Não somente a doutrina sobre a santificação, mas a pregação e a vida de santificação se constituem, conforme Wesley, na justificativa para a existência mesma do movimento metodista.”21 Duas coisas são importantes considerar. A primeira é a idéia do processo. A santificação não acontece num momento. É inaugurada com a justificação/regeneração e dura a vida toda. Acontece enquanto se caminha. A segunda é o seu caráter comunitário e social. É um processo de “aperfeiçoamento da imagem de Deus e de ampliação do Novo Testamento a todo o aspecto da existência humana, de modo que a vida torne-se um todo coerente”.22 Diferentemente de Lutero – para quem a “descoberta e a apropriação da graça e do perdão são o objetivo supremo, e a justificação a dádiva maior” 23 – Wesley vê a justificação como o início da vida cristã e não como seu fim; ela continua na santificação e esta é a ênfase wesleyana. “Deus não apenas justifica – provendo, assim, o fundamento da nova vida –, mas abre possibilidades de crescimento na graça até então inimagináveis. O objetivo de Deus é nos criar novamente, transformar-nos, restaurar-nos a saúde e o nosso papel como imagem sua”.24 É um caminho que não se faz solitariamente. Inclui, evidentemente, os atos de piedade, mas não se reduz a eles. Não se pode pensar um conceito, em Wesley, de “santo” como “separado”, tão comum no meio evangélico brasileiro atual. Santificação é santidade em amor e amor se vive no contato; se faz no encontro com Deus, com os 19 Ídem p.59 Idem p. 42 21 KLAIBER & MARQUARDT, op. cit. p.296 22 RUNYON, op. cit., p. 108 23 Idem p. 110 24 Idem p. 111 20
  • 7. 7 outros e com a criação. Santidade é santidade social. “O horizonte da santificação sempre é o da comunidade; o esforço para a comunhão perfeita com Deus inclui o reto relacionamento com os outros homens.”25 Wesley dintingue o papel da fé e do amor no processo de salvação. “Se a fé é o sinal da jusitificação, o amor é o sinal da santificação. O amor, argumentou ele, é o supremo alvo da vida da fé... A fé é exaltada como o meio, somente meio, de servir o amor.”26 Ele descreve a santificação com duas dimensões, uma negativa que seria a superação do pecado e a outra positiva que é a vivência do amor. Santificação não define, portanto, com uma lista de ações que se deve evitar, mas com ações que se devem realizar, motivadas pelo amor. A salvação não é apenas reconciliação com Deus, mas, antes, a restauração da imagem de Deus no ser humano.27 “A santificação é, portanto, a restauração da criatura decaída àquela existência em comunhão com o Criador e àquela vida como mordomo fiel para as quais a humanidade foi feita. É santidade crescente, isto é, vida cada vez mais saudável e plena por meio da comunhão com Deus e com os outros”.28 Enxergar a santificação como possibilidade da graça é vê-la não apenas como resultado do esforço humano para a agradar a Deus, mas como um dom, fruto do amor divino. Não é, portanto, um comportamento exigido Poe um Deus caprichoso que quer de seus servos atitudes que inibam a alegria e o prazer. Não é um peso imposto sobre os ombros humanos. É, antes, um estilo alegre de se viver. “Santificação é o restabelecimento da comunhão paradisíaca com Deus, é a recuperação da imagem de Deus e, através dela, o homem não só fica santo mas também plenamente feliz.”29 III – GRAÇA DIVINA E ESFORÇO HUMANO Há uma evidente ênfase no pensamento e prática wesleyanos na graça divina.É importante frisar, no entanto, que a graça em Wesley é um tema dentro de um processo maior que é o caminho da salvação. “A análise do discurso wesleyano permite verificar, reforçando as análises históricas, que a preocupação com as construções conceituais foi para ele uma preocupação subordinada à prática. Essa primazia da prática veio pela reação a uma situação e não pela elaboração teórica... Há um entrelaçamento natural entre a prática e a teoria. O caminhar cristão é um sinergismo possível criado pela graça. Wesley recusa toda compreensão da graça que não se faça caminho. Recusa todo caminho que não seja uma possibilidade da graça.”30 Pensar em salvação como um caminho a percorrer, caminho que é possibilitado pela graça, mas que ainda requer o esforço de caminhar, enfatiza também a necessária resposta humana. A graça, sem uma resposta humana, torna-se ineficaz. 25 KLAIBER & MARQUARDT, op. cit. , p. 302 RUNYON, op. cit., p. 113 27 Idem p. 113 28 Idem p. 109 29 KLAIBER & MARQUARDT, op. cit. , p. 302 30 JOSGRILBERG , op. cit. p. 1 26
  • 8. 8 A graça de Deus está sempre ativa na vida humana, não depende de uma resposta, é amor incondicional. No entanto, ela terá efeitos de transformação se houver uma resposta positiva do ser humano. “É claro que, independentemente da resposta do ser humano, o amor de Deus é verdadeiro; no entanto, sua intenção óbvia é a de ser recebido e a de criar um laço que possibilite recepção e reciprocidade”.31 Nas palavras do próprio Wesley: “Ó, que possamos todos receber da plenitude (de Cristo) graça sobre graça; graça para perdoar nossos pecados e vencer nossas iniqüidades; para justificar nosso ser e santificar nossas almas; e , para completar, a santa transformação, aquela renovação dos nossos corações, pela qual seremos transformados na bendita imagem em que nos criaste.” 32 Este amor, como vimos, se manifesta em três momentos: na criação, no perdão, e na transformação ou recriação do ser humano – graça preveniente, graça justificadora e graça santificadora.. Nestas três formas, ela pede uma resposta humana. Não pode ser imposta nem é “irresistível”, porque é, essencialmente amor. “Privar o ser humano da liberdade não tem a natureza da graça de Deus nem a natureza de seu amor” 33 Ainda assim, o amor de Deus é tão grande que esta graça o auxilia em sua resposta, é um estímulo que a torna possível. “Tal auxílio são as sugestões do Espírito de Deus em ação em nós para comunicar a graça e iniciar o processo de renovação. Mas, a ação do Espírito é freqüentemente sutil e pode estar ativa em nós antes mesmo que dela tenhamos consciência” 34 Nos três momentos que caracterizam a graça na visão de Wesley vimos que a participação humana é fundamental, assim, como a divina. “Na trajetória de Wesley, a graça de Deus demanda uma resposta participante e participativa. Poderíamos dizer que a teologia da graça, na concepção inclusiva e abarcante de Wesley, devolve ao crente sua responsabilidade, não seu protagonismo, pois a salvação é um dom da graça de Deus, mas o crente é responsivo e responsável.”35 Afirmar a importância da participação da pessoa humana no processo de salvação devolve-lhe a dignidade de alguém que tem valor e potencialidades. “No movimento metodista, homens e mulheres descobriram e recuperaram sua dignidade como filhos de Deus e participantes ativos do plano de Deus para o mundo.”36 Vale considerar a similaridade entre a graça santificadora de Wesley e a distinção entre Graça Barata e Graça Preciosa feita pelo teólogo luterano Dietrich Bonhoeffer, em seu livro Discipulado. Bonhoeffer percebeu que muitos cristãos de seu tempo (primeira metade do século XX) viviam uma religiosidade sem compromisso, sem envolvimento, sem santidade de vida; e a doutrina da salvação pela graça, de certa forma, justificava este tipo de religiosidade. Se somos salvos por graça, não são necessários o compromisso, a ética, a santidade de vida e outras coisas mais – era a lógica. Para ele, este tipo de pensamento e atitude barateiam a Graça de Deus. A pregação do Evangelho se torna eficaz quando há a aceitação do discipulado. Graça barata é o 31 RUNYON, op. cit., p. 40 A collection of forms of prayers, (Jackson) 11.254, citado por RUNYON p. 40 33 Ídem p. 40 34 Idem p. 40 35 ARIAS, op. cit., p. 40 36 Ídem p. 42 32
  • 9. 9 Evangelho sem o chamado ao discipulado. Graça preciosa é o Evangelho acompanhado de resposta. “Essa graça é preciosa porque chama ao discipulado, e é graça por chamar ao discipulado de Jesus Cristo; é preciosa por custar a vida ao homem, e é graça por, assim, lhe dar a vida; é preciosa por condenar o pecado, e é graça por justificar o pecador. Essa graça é sobretudo preciosa por tê-lo sido para Deus, por ter custado a vida de seu Filho – “fostes comprados por preço” – e porque não pode ser barato para nós aquilo que para Deus custou caro. A graça é graça sobretudo por Deus não ter achado que seu Filho fosse preço demasiado caro a pagar pela nossa vida, antes o deu por nós. A graça preciosa é a encarnação de Deus.” 37 A graça de Deus atua em nossa vida de tal forma que produz transformação, mudança, arrependimento. Ele chama e acolhe o pecador do jeito que está, mas não para deixá-lo assim. Quer nos fazer como foi Jesus. Daí, a palavra discipulado, que dá nome ao livro. O discípulo é aquele que segue os passos de seu mestre. Wesley, ao ensinar a respeito do plano salvífico de Deus, demonstra, igualmente, essa visão plena a respeito do evangelho. “Deus tem um propósito de renovação que abarca a totalidade da humanidade e do universo, o que ele chama, às vezes, de ‘o desígnio grandioso da salvação da humanidade’... O anúncio deste plano e o convite para participar ativamente dele – a evangelização e o chamado para a conversão – são a tarefa pela qual se mede a fidelidade do cristão e da Igreja.”38 CONCLUSÃO Wesley não foi totalmente original em sua compreensão a respeito da graça divina. Como caminhante, numa caminhada que não se faz solitariamente, nem poderia ser. Absorveu muito do que há em Lutero e por mediações diversas. Mas, não simplesmente absorve, avança originando uma compreensão do amor salvífico de Deus singular e muito abrangente. O poder renovador (recriador) da graça divina e o seu imenso alcance abre as possibilidades para nossa atuação hoje. Renova a esperança e anima a caminhada. A responsabilidade humana, em resposta à graça, é também desafiadora. Sem trabalho, compromisso e envolvimento pessoal e social, nada acontecerá. Ao unirem-se graça divina e responsabilidade humana, novos caminhos se abrem e a recriação se torna possível. A grande mensagem da graça são as possibilidades que ela abre e para quem ela abre. Num contexto marcado pela “desgraça” e pela falta de perspectiva depois de tantos modelos mostraram-se ineficazes; a graça de Deus nos desafia a redescobrir o poder restaurador de Deus que, unido à boa vontade humana, poderá trazer libertação a um povo sofrido e sem esperanças. 37 38 Dietrich BONHOEFFER, Discipulado, p.10. José Miguez BONINO, Luta pela Vida e Evangelização, p. 144.
  • 10. 10 BIBLIOGRAFIA 1. Livros: - BONHOEFFER, Dietrich. Discipulado. Tradução: Ilson Kayser. 2ª ed.. São Leopoldo: Sinodal, 1984. - KLAIBER, Walter & MARQUARDT, Manfred. Viver a Graça de Deus: um compêndio de teologia metodista. Tradução: Helmuth Alfredo Simon. São Bernardo do Campo: Editeo,1999. - RUNYON, Theodore. A Nova Criação: A teologia de João Wesley hoje.Tradução: Cristina Paixão Lopes. São Bernardo do Campo: Editeo, 2002. - VV.AA. Luta pela Vida e Evangelização. São Paulo: Editora UNIMEP/Paulinas, 1985. - WESLEY. John. Obras de Wesley. Franklin, Tennessee: Providence House Publishers. 1996, tomo IV. 2. Periódicos: - ARIAS, Mortimer. De Lutero a Wesley e de Wesley a nós .Caminhando: Revista da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista. São Bernardo do Campo, Editeo/UMESP, nº 12 , 2º semestre de 2003. - REILY, Duncan A.. Martinho Lutero e os Wesley. Caminhando: Revista da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista. São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, nº1, janeiro,fevereiro e março de 1984. 3. Texto não publicado: - JOSGRILBERG, Rui. O Caminho da Salvação: A teologia peregrina de João Wesley em nossos caminhos. Texto apresentado no III Encontro Latino-americano de Estudos Wesleyanos, outubro de 2003, faculdade de Teologia – UMESP, São Bernardo do Campo.