Este documento discute a importância do jogo na educação física escolar e como ele pode ser usado de forma cooperativa ou competitiva. Ele explora como o jogo pode promover o desenvolvimento integral dos alunos ao incentivar valores como cooperação, tolerância e consideração pelo próximo. Também analisa como a competição no jogo pode levar a diferentes interpretações dependendo de como é aplicada pelo professor.
2. O Jogo é uma atividade física ou mental organizada por um sistema de regras que definem perda ou
ganho. A palavra “jogo” se origina do vocábulo latino iocus que significa diversão, brincadeira.
Em alguns dicionários jogo aparece como sendo “atividade lúdica que comporta um fim em si mesmo,
com independência de que em certas ocasiões se realize por um motivo extrínseco”.
Seybold (1983) coloca o jogo numa posição de não aniquilamento do adversário e, sim, unicamente,
de comparação de certas aptidões e habilidades. Sugere que na Educação Física seja estimulado o
principio de coletividade, criando uma atmosfera de jogo, onde não se atribua um “valor sério”, para
desarmar a ambição egoísta e buscar a realização conjunta do grupo. No jogo existe competência social,
alegre e vital. A comunidade de jogo é uma comunidade “natural”, onde ele, o jogo, é o motivo e a meta
do agrupamento.
Jogo envolve conjunto dos participantes, assim como regras que determinam o que vai ser e o que
não vai ser permitido. O jogo quando trabalhado em escolas deve ser apresentado de uma forma lúdica,
que garanta a diversão e satisfação de todos os alunos, sem motivo para qualquer exclusão.
Na atmosfera do jogo e na escola, utilizando princípios pedagógicos de competência, onde tanto
alunos bem capacitados como os poucos capacitados contribuam para um resultado comum, o jogo pode
aguçar a compreensão para com o próximo, para com suas dificuldades especiais, assim como pode
desenvolver a tolerância, ajuda e consideração para com os demais. O jogo ensina a técnica da
convivência, pois tem por base a ordem e a liberdade.
Com uma abordagem sociocultural, o jogo apresenta condições básicas a liberdade, a separação nos
limites de tempo e espaço e a utilização de regras.
Jogo é um meio para a socialização, onde o “bom” ou “mal” jogador, esta inserido em um grupo, e
cada pessoa pode mostrar diferentes habilidades e capacidades.
[...] a oportunidade de jogar repercute na ativação de todos os níveis do
desenvolvimento humano: físico, emocional, mental e espiritual. Temos no jogo, uma
oportunidade concreta de nos expressarmos como um todo harmonioso, um todo que
integra virtudes e defeitos, habilidades e dificuldades, bem como, as possibilidades de
aprender a Ser... inteiro, e não pela metade ( BROTTO, 1999)
Desta forma, a importância de se jogar esta no desenvolvimento humano do aluno e na valorização
dele como individuo único, com suas deficiências e suas virtudes.
Jogo Competitivo
A competição permeia os mais variados aspectos da vida cotidiana do ser humano. Cada aspecto seja
social, psicológico, econômico ou pedagógico, dentre outros, focaliza a competição por visões
especificas, próprias de seus objetos de investigação. Freire fala que “fazer esporte pressupõe uma
prática (eminentemente competitiva) da qual emerge uma visão radical do homem, donde se descortina
os seus anseios mais profundos”.
O jogo, representando um meio de relacionamento entre um indivíduo com os outros, com o meio
ambiente e consigo mesmo, tem na competição um de seus elementos intrínsecos, traz consigo,
portanto, essas diversas visões: sociológicas, psicológicas, econômicas e pedagógicas. Dependendo da
situação, umas visões se sobrepõem as outras.
3. Dependendo da forma como é trabalhada a competição pode levar a diferentes intenções de sentido
que se pretende dar ao jogo.
No entanto, como um todo “competição” se relaciona à cooperação entre companheiros, conflito com
o adversário, interação e rivalidade (jogo em si). O que pressupõe a orientação da competição par a
meta ou para a recompensa e não para os demais competidores, tornandoa impessoal.
A competição geralmente oposta a cooperação, designa uma forma de interação entre
indivíduos ou grupos, pela qual cada um procura maximizar seus próprios ganhos, ocorre
em presença de outros ou de um obstáculo. (Doron & Parot, 1998, p. 155).
No jogo, a competição implica em disputa por um objetivo comum no qual somente um será o
vencedor. A utilização de regras convencionais adotadas exige um comportamento ético regulado, que
une os excessos de força e violência, entre os participantes com advertências, suspensão ou exclusão.
Da organização do professor em criar as regras e definir objetivos, é que o jogo competitivo pode ou
não ser atrativo aos alunos.
A lógica da competição esportiva, o “podium” que pertence ao melhor, minimiza o sentido cooperativo
com o adversário aumentando o de dentro da equipe. Portanto, mesmo em jogos competitivos o
professor pode ressaltar a importância do outro e a valorização do ser humano.
A competição deve se concentrar em atingir determinada meta e não em prejudicar os competidores.
Sendo o jogo uma atividade social, através da competição, dos reflexos positivos e negativos nela
encontrados e por ela gerados, inclusive a cooperação, os competidores vivenciam diversas experiências
no contexto esportivo, que servirão de experiência em suas relações sociais.
No âmbito escolar, a competição tem sido reprodução e não reflexão. Os valores formativos da
competição no jogo ficaram encobertos por essa mistificação da busca da vitória a qualquer preço.
Segundo Freire (1994), ao buscar uma melhor compreensão do esporte, podemos concluir que não se
trata de algo, por si, moral: não é bom, nem mal. O arranjo de seus ingredientes tais como a
competição, desafio, solidariedade, bem como do contexto que é praticado, é que determina seus
efeitos.
Assim, a competição é importante para o contexto do jogo. Seja qual for o apelo mais forte que
caracterize o jogo como uma manifestação ou outra, a competição será sempre um elemento intrínseco
a ele, um elemento que não deve ser exagerado, nem renegado.
Jogo Cooperativo
Entendese cooperação como algo coletivo, onde a presença do outro se faz necessária; uma
presença participativa onde cada um dá a sua parcela de contribuição, para se atingir um objetivo
comum, integrandose para beneficio ou melhoria de todos.
Segundo Brotto (1996) a cooperação favorece a integração dos “diferentes” e potencializa os
“semelhantes”. É, portanto, uma prática de inclusão, onde as diferenças podem ser amenizadas com o
auxilio do grupo, a ao mesmo tempo, valorizar o que cada um tem de melhor.
Aprendendo o verdadeiro significado da
5. Os jogos cooperativos são divertidos para todos; Todos os jogadores têm um sentimento de vitória; Todos se
envolvem independente da sua habilidade; Aprendese a compartilhar e a confiar; Aprendese a solidarizar com os
sentimentos dos outros; Os jogadores aprendem a ter um senso de unidade; A habilidade de perseverança é
fortalecida; É agradável a todos os participantes, sem exclusão.
Já os jogos competitivos trazem benefícios para autosuperação; Desenvolvem aprendizagem de bens úteis a
formação total; Aprimora habilidades de identificar erros com objetivo de reflexão e fornecendo incentivos; Ser
orientado pela meta e não para os demais competidores; Ter o reconhecimento da conquista; Ser um espaço de
criações esportivas; Incentivar a inclusão e a democratização (quando bem trabalhado); Associar a competência
esportiva ao prazer e ao divertimento.
A visão que cada um tem de jogo é que influenciará o modo com que essa pessoa vai jogar, e dependendo dessa
percepção, poderá escolher jogar competitivamente ou cooperativamente.
No que diz respeito às aulas de Educação Física o mais importante, independente do estilo adotado, é que o
professor ajude a introduzir valores adequados ao jogo e assim contribuir para o desenvolvimento do aluno como um
todo.
O jogo é o local ideal para discutir o verdadeiro significado dos valores importantes para o ser humano, tais como
ganhar, perder, sucesso, fracasso, ansiedade, rejeição, aceitação, amizade, cooperação e competição sadia.
Cabe pensar no jogo com o seu potencial de aprendizagem e com as suas possibilidades para o desenvolvimento de
outros conceitos (sociedade, cultura, esporte, etc.). O jogo é um elemento muito importante na escola, principalmente
nas aulas de educação física.
Ele serve como base para o entendimento de outros conceitos esportivos, como por exemplo: técnica, tática, ataque
e defesa. É através do jogo esportivo que flui o entendimento de diferentes papéis (jogos de poder, de força, de
comando, etc.).
O principal papel do jogo no ambiente escolar é o de dar outras possibilidades de compreensão para o esporte e
proporcionar aos alunos o desenvolvimento integral. No que tange à educação física em específico, em síntese,
propiciar o desenvolvimento global da criança é permitir que a própria corporeidade manifeste uma intencionalidade
operante na respectiva motricidade, sem distinção alguma, porque vida é constituída de movimento que tem um
alcance pessoal, social, cultural e político.
Referências bibliográficas
BROTTO, F. O. Jogos Cooperativos: Se o importante é competir o fundamental é cooperar; Santos; Projeto
Cooperação, 1997.
BROTTO, F. O. Jogos Cooperativos: O jogo e o esporte como exercício de convivência. Tese (mestrado) –
Faculdade de Educação Física. Universidade Estadual de Campinas, Campinas 1999.
FREIRE, João B. Educação de Corpo Inteiro; São Paulo; Scipione
LOURO, G. L. O currículo e as diferenças sexuais e de gênero. In: Marisa Costa (Org.). O currículo nos limiares
do contemporâneo. Rio de Janeiro. 1998.
Saraydarian A. Otuzzi. A psicologia da cooperação e a consciência grupal; São Paulo; Aquarian, 1990.
SEYBOLD, A. Educação Física: Princípios Pedagógicos. Rio de Janeiro; Ao Livro Técnico, 1983.