Têm dedicado a sua vida à investigação e marcado a
actividade de mulheres na ciência em Portugal. Maria Emília
Monteiro e Leonor Saúde seguiram rumos diferentes mas partilham da mesma paixão: descobrir algo que não se conhece.»
// 60 anos dos Prémios Pfizer \\
Artigo: Conversas sobre Ciência - Ciência no feminino
1. feito um caminho fantástico, o
progresso tem sido incrível. Temos
investigadores de topo no IMM e te-
mos conseguido ganhar cada vez
mais projectos internacionais no
O optimismo é partilhado por
Maria Emília Monteiro. “Estamos
na melhor fase de desenvolvimen-
to nacional de investigação clínica,
como nunca se assistiu. O Governo
anterior criou um grande diploma
de apoio à investigação clínica e o
actual criou um grupo de trabalho
para implementar os Centros Mé-
dicos Académicos e outro para dis-
E fazer ciência no feminino é
mais difícil e exigente? É certo que
as mulheres têm apostado mais
nesta área. “Por coincidência, sou a
única mulher catedrática nesta Fa-
culdade. O meu grupo é maiorita-
riamente composto por mulheres
mas este não é um critério. Acon-
teceu". O facto de ter cargos direc-
tivos na faculdade mostra “que é
Segundo o Relatório “ABC da
Igualdade de Género em Educa-
ção: Aptidão, Comportamento e
-
sado, pelo PISA (The Programme for
International Student Assessment),
a percentagem de mulheres licen-
ciadas nas áreas da ciência é de
56%, acima da média da Organiza-
ção para a Cooperação e Desenvol-
vimento Económico (OCDE) que se
situa nos 41%. A percentagem co-
loca Portugal na tabela dos cinco
países com mais mulheres licen-
ciadas nestas áreas.
Na opinião de Leonor Saúde,
“claro que as mulheres são capa-
zes, não há nenhuma razão para
não serem, mas crescemos com
ideias preconcebidas. A nossa pre-
sidente é uma mulher, a nossa di-
retora também, e temos muitas
-
dera, no entanto, que quando che-
ga ao momento de concorrer a lu-
gares de topo, são as mulheres as
que mais se retraem. “É uma ques-
tão de educação. As mulheres têm
sempre sentimentos de culpa se
-
ra casa mais tarde, se têm de vir
Sentem uma enorme divisão entre
as obrigações familiares e as exi-
Mulheres
cientistas
premiadas
Maria Emília Monteiro e Leo-
nor Saúde foram duas das in-
vestigadoras premiadas com
os Prémios Pfizer, nos anos
de 1987 e 2005, respecti-
vamente. Alguns números
mostram a evolução da par-
ticipação de mulheres inves-
tigadoras nos últimos anos
nesta distinção, que come-
mora este ano o seu 60º ani-
versário, notando-se uma
tendência de crescimento
da participação feminina.
Ciência
no feminino
São mulheres,
cientistas,
lideram grupos
de investigação
em duas
instituições
reconhecidas
em Lisboa,
e falam da
ciência com
entusiasmo.
Da imprevi-
sibilidade
da descoberta
ao facto de
a investigação
ser, por vezes,
surpreendente,
o caminho
tem sido
de progresso
CONVERSASSOBRECIÊNCIA
T
êm dedicado a sua vida à
investigação e marcado a
actividade de mulheres na
ciência em Portugal. Maria Emí-
lia Monteiro e Leonor Saúde segui-
ram rumos diferentes mas parti-
lham da mesma paixão: descobrir
algo que não se conhece.
“O que me move é o facto de to-
dos os dias resolvermos peque-
nos problemas que esperamos
que um dia venham a solucionar
-
nor Saúde. Para a investigadora
do Instituto de Medicina Molecu-
lar (IMM), em Lisboa, a investiga-
ção sempre esteve presente, em-
bora não consiga explicar porque
é que escolheu ser bióloga. “Lem-
bro-me de passar a minha infân-
cia no campo e de o meu avô me
explicar muitas coisas relaciona-
das com a progressão da vida. Os
professores que tive também me
Já Maria Emília Monteiro está
numa fase da vida em que atingiu
-
-se em actividades. É investigado-
ra principal no grupo Translatio-
nal Pharmacology na Nova Medical
School. “Vivo de projectos, tenho
vários estímulos, e o que me move
mais, além da responsabilidade de
deixar uma Faculdade de Medicina
diferente daquela que encontrei, é
o compromisso sobre muitas pes-
soas que estão à minha volta e que
trabalham comigo ou que ajudei
-
-se em Medicina, na Universida-
de de Navarra, com o intuito de
acabou por realizar o seu primei-
ro doutoramento tendo tirado um
segundo, já de regresso a Portugal.
Apesar de nunca ter exercido
prática clínica, não se arrepende.
“Foi por opção que aproveitei ou-
tras oportunidades. Gosto muito
do que faço e prezo a minha liber-
-
curso fácil mas é com orgulho que
nos conta o que implicou construir
um laboratório de raiz, na Nova
Medical School. “Quando cheguei,
não havia nada. Foi difícil. Havia
-
pamentos velhinhos de um anti-
go professor que nunca tinham si-
do utilizados. Existiam alunos para
dar aulas e um espaço de laborató-
Descobertas imprevisíveis
e surpreendentes
O curso de biologia na Universida-
de de Aveiro foi decisivo para Leo-
nor Saúde. A também professora
convidada da Faculdade de Medi-
cina de Lisboa, destaca as “mui-
tas aulas práticas, não só de cam-
bem como o facto de que, na altura
em que tirou curso, serem poucos
os alunos, situação não compará-
vel com a atualidade. “Foi nesta fa-
se que percebi que queria trabalhar
em laboratório mas foi em Londres
que ganhei interesse pela área a
que me dedico: a biologia do de-
A partir do momento em que se
inicia uma investigação, há um
longo e, por vezes, surpreenden-
te caminho a percorrer. “Uma das
belezas da investigação é o facto
de as descobertas serem imprevi-
síveis e isso também faz parte do
entusiasmo. Há que ser perseve-
rante ainda que tenhamos o de-
-
Considera que a comunidade
Segundo de cinco artigos Conversas sobre Ciência
CONTEÚDO PUBLICITÁRIO
Leonor
Saúde
Maria Emília
Monteiro
PRÉMIOS PRINCIPAIS
111 em 287 investigadores
ATÉ 1999
ATÉ HOJE
Em vigor desde 2005
Percentagem geral
de mulheres vencedoras
Percentagem comparada
de mulheres vencedoras
(todos os prémios)
Percentagem comparada
de mulheres vencedoras
(todos os prémios)
TODOS OS PRÉMIOS
220 em 692 investigadores
DEPOIS DE 2000
Estamos na
melhor fase de
desenvolvimento
nacional de
investigação clínica,
como nunca se
assistiu
Maria Emília Monteiro
Uma das belezas
da investigação
é o facto de as
descobertas serem
imprevisíveis e isso
também faz parte
do entusiasmo
Leonor Saúde