O documento faz uma metáfora comparando o comportamento em grupo dos gnus na África, que sempre migram para o mesmo local e correm risco de predadores, com o comportamento humano de seguir a maioria sem reflexão crítica. Também questiona por que ainda vivemos como nossos pais ao invés de co-criar nossa própria realidade, dada a era da personalização, e sugere que o medo do novo pode explicar essa tendência a comportamentos de manada.
Linguagem emocional como estratégia contra Informações cifradas
Metáfora dos Gnus
1. Metáfora dos Gnus
Por Geraldo Seabra*
Vou fazer uma confidência: sempre detestei o comportamento de
boiada, aquele em que todos parecem ir para o mesmo lugar ao
mesmo tempo sem mesmo saber por quê. Sempre detestei fazer a
mesma coisa que a maioria das pessoas, sem me dar conta de que
teria outra opção de escolha num vasto universo de possibilidades.
Na África Oriental, os gnus encaram o mundo sem alternativas.
Invarialvemente são dieta preferida dos leões. Embora conheça
bem os hábitos de seu algoz, os gnus não abrem mão de sua rotina
por nada. Todos os anos, durante o período das chuvas, fazem a
mesma caminhada em busca de pastagem e acabam agrupando-
se no mesmo lugar onde estão os seus maiores predadores. O que
explica tal comportamento se o risco de morte é tão iminente? Por
certo não conseguem ir além do limite do instinto animal. Mal
comparando por que ainda nos comportamos como gnus, mesmo
vivenciando as possibilidades abertas pela era da personalização
encarnada, por exemplo, pela comunidade de games? Muitas
razões podem estar por trás do nosso comportamento de boiada.
Contudo, as implicações da comunicação de massa exigem uma
visão mais crítica para entender os mecanismos que nos fazem
repetir certos comportamentos sem refletir. Por exemplo, por que
sempre nos aglomeramos em volta da TV a cada escândalo
alardeado pela mídia? Por que agimos sempre assim quando temos
capacidade de reflexão? Talvez, o behaviorismo tecnológico possa
explicar o nosso comportamento de massa, que foi bastante
2. explorado pela mídia ao longo do século 20. Mas por que ainda
somos os mesmos e vivemos como nossos pais, quando temos a
oportunidade de co-produzir a nossa própria realidade? Medo do
novo? Medo do desconhecido? Ou medo de errar? Nada disso
justifica qualquer falácia. Vivemos a era da personalização em
massa. Nesse novo cenário, cada um de nós ganha força especial,
pois temos que aprender o que os amantes dos games já sabem:
construir o seu próprio universo cognitivo através de influências que
supram as nossas próprias necessidades. Agora, estar em grupo
soa como uma falsa idéia de abdicar de nós mesmos. Afinal, estar
no mundo é, sobretudo, estar consigo mesmo.
*Jornalista, professor, especialista comunicação, tecnologia e informação visual