Resumo do trabalho:
No ano de 2014, o Studio Seasons – um grupo formado por mulheres que roteirizam e desenham suas próprias obras – publicou pela editora NewPop uma adaptação ao estilo mangá, isto é, seguindo os moldes dos quadrinhos japoneses, do livro Helena, de Machado de Assis. A adaptação de clássicos da literatura para os quadrinhos em nosso país não é uma novidade, mas uma prática comum desde meados do século XX. Com caráter francamente didático, ou paradidático, a adaptação da literatura para quadrinhos nunca foi uma unanimidade. Vista como uma forma de apresentar a literatura para os jovens, era por vezes, também, encarada como uma espécie de engodo, retardando a introdução dos clássicos aos novos leitores.
Como toda adaptação é em si mesma uma nova obra, ela tem o sabor de sua própria época e pode ser atravessada por questões e ansiedades estranhos ao original. Nos últimos anos, os clássicos em quadrinhos estão se tornando cada vez mais comuns nas livrarias e listas escolares. As razões para a produção de tais adaptações são variados e vão desde o desejo de tornar a literatura mais acessível à juventude até o mero interesse mercadológico. Seu sucesso certamente se assenta na capacidade de dialogar com os leitores, um público consumidor que pode, ou não, ser o mesmo público do clássico original.
No caso de Helena, este é talvez o mais importante romance da fase romântica de Machado de Assis e foi publicado em 1876. Vários anos antes da Abolição e da República, a obra marcadamente urbana retratava uma sociedade patriarcal de rígidas hierarquias e extremas desigualdades de classe, raça e gênero. Mesmo que alguns considerem Helena uma obra convencional, marcada por um sentimentalismo que depois seria abandonado por Machado de Assis e um trabalho muito aquém do que o autor ofereceria em suas obras realistas, é possível ver a obra de outra forma, como espaço de representação e subversão dos papéis de gênero vigentes na época de sua publicação.
Ancorada nessa possibilidade, discutiremos em nosso trabalho como se deu a apropriação e releitura do romance Helena pelo Studio Seasons. Como se deu a transição do romance para uma mídia popular de entretenimento e qual o impacto da autoria feminina na releitura da obra de Machado de Assis. Analisaremos se é possível perceber tensões de gênero no material quadrinizado e como as autoras dialogam tanto com a obra machadiana, quanto com o tipo de quadrinhos produzido no Japão.
P.s.: Depois acrescento a bibliografia e coloco link para o trabalho completo. Será apresentado, hoje (25/07), à tarde.
Polígonos, Diagonais de um Polígono, SOMA DOS ANGULOS INTERNOS DE UM POLÍGON...
E Machado de Assis virou Mangá: Reflexões sobre a releitura em quadrinhos do romance Helena
1. E Machado de Assis virou
Mangá: Reflexões sobre a releitura
em quadrinhos do romance Helena
Prof.ª Dr.ª Valéria Fernandes da Silva
Colégio Militar de Brasília
2. • Helena, de Machado de Assis, foi
publicado em 1876, retratando
acontecimentos ocorridos 25
anos antes.
• Helena, do Studio Seasons, foi
feito sob encomenda e publicado
em 2014.
• Objetivos:
1. discutir a adaptação de
clássicos para os quadrinhos;
2. A importância do PNBE para a
publicação desse material;
3. Analisar o mangá Helena a
3. • Quadrinhos são arte sequencial e
utilizam-se de texto e imagem.
• Trata-se de uma mídia que foi (*e
ainda é*) discriminada e
apresentada como prejudicial
para o público infanto-juvenil.
• Adaptações de clássicos para os
quadrinhos são comuns desde a
década de 1940 no Brasil.
• A EBAL, ao publicar clássicos
adaptados tinha como um dos
objetivos atrair a simpatia de
educadores e políticos.
4. “Não existe uma obra ou uma tradição literária
que seja valiosa em si, a despeito do que se
tenha dito, ou se venha a dizer, sobre isso.
"Valor" é um termo transitivo: significa tudo
aquilo que é considerado como valioso por
certas pessoas em situações específicas, de
acordo com critérios específicos e à luz de
determinados objetivos.”
(Terry Eagleton, 2006, p. 17)
5. • Jacqueline Danziger-Russel
(2013) teoriza que a perseguição
à literatura popular, e aos
quadrinhos, vem do elitismo e do
desejo de controle sobre as
classes trabalhadoras e os jovens.
• Para Terry Eagleton, “Todas as
obras literárias, (...) são
“reescritas”, mesmo que
inconscientemente, pelas
sociedades que as lêem; na
verdade, não há releitura de uma
obra que não seja também uma
6. • A coleção Edição Maravilhosa da
EBAL foi publicada entre 1948 e
1962, além de republicada em
vários formatos.
• Foram ao todo 200 títulos, os 23
primeiros estrangeiros, a partir
daí, clássicos nacionais foram
acrescentados.
• Era um material simplificado,
com o uso constante do texto
original, poucas páginas e um
tipo de arte padronizada.
• Toda adaptação literária tende a
7. • A LDB (1996) fala em
“conhecimento das formas
contemporâneas de linguagem”,
abrindo caminho para os
quadrinhos.
• O PNBE (Programa Nacional
Biblioteca na Escola) incluiu HQs
pela primeira vez em 2006.
• Começou a corrida das editoras
para a produção e publicação de
quadrinhos objetivando ampliar
as vendas para o Governo
Federal.
8. • “O Alienista”, de Gabriel Bá e Fábio Moon, venceu o
prêmio de melhor livro didático e paradidático de ensino
fundamental e médio (2009).
9. • Paulo Ramos e Waldomiro
Vergueiro identificam:
1. Ampliação das publicações por
puro interesse mercadológico.
2. Qualidade questionável.
3. Ainda uma percepção da HQ
como material infantil.
4. Quadrinhos são literatura, ou
outra coisa?
5. Publicações dependentes das
verbas estatais.
→Inadequação do material
10. • Problemas de analisar o
Machado de Assis romântico
como o autor incompleto.
• Subordinar as análises de Helena
à critérios evolucionistas. Helena
seria, então, a pré-Capitu, uma
heroína romântica em conflito.
• A adaptação não consegue trazer
para o quadrinho algumas
discussões de gênero
importantes presentes no livro
original.
11. • Helena domina os códigos
daquilo que Chaloub chama de
ideologia patriarcal senhorial, ou
seja, os papéis de gênero
esperados.
• O texto de Machado de Assis
reproduz uma série de
estereótipos de gênero associados
ao feminino e ao masculino.
• Estácio incorpora não as virtudes
cristãs, ao acolher Helena, mas a
precedência do senhor, seu papel
atual, em decidir o destino dos
13. CONSIDERAÇÕES FINAIS:
1. O mangá de Helena consegue
transpor a obra de Machado de
Assis para o quadrinho, mas
representa uma simplificação
frente o original.
2. As questões de gênero, portanto,
não estão devidamente
contempladas.
3. Quanto às políticas públicas, o
PNBE, o futuro dos quadrinhos é
incerto, afinal, há uma restrição