Ciro Biderman - Como Financiar Movilidad Urbana de Alta Calidad
1. COMO FINANCIAR UNA
MOVILIDAD URBANA DE ALTA
CALIDAD PARA TODOS?
VI Congreso "Mejores Prácticas SIBRT en América
Latina”
Ciro Biderman
Jefe de Gabinete SPTrans
ciro.biderman@sptrans.com.br
Agosto, 2014
2. FINANCIAMENTO DE INFRA-
ESTRUTURA DE MOBILIDADE DE
ALTA QUALIDADE
• Independente da definição de alta qualidade em
mobilidade sempre implica em investimento adicional
às vias já estabelecidas.
• Os investimentos vão desde cerca de USD200 mil/km
para faixas exclusivas até USD200 milhões/km para um
sistema metroviário sem considerar o material rodante.
• O problema de financiamento ocorre sobretudo para
investimentos intermediários e altos.
• Nessa apresentação me concentro na infra-estrutura
que apresenta dificuldades de financiamento com um
certo viés para o caso brasileiro.
3. O PROBLEMA DE
FINANCIAMENTO
• Para uma infra-estrutura com valores da ordem de USD10
milhões/km, o investimento se torna considerável para um
governo subnacional.
• Para se gerar 100km de infra-estrutura seria necessário
USD1 bilhão em investimento sem considerar o material
rodante.
• Tipicamente esses valores não estão disponíveis no
orçamento anual de um município ou mesmo de um
estado.
• Não há sentido de se financiar infra-estrutura com
dinheiro de custeio. Há, conceitualmente, a necessidade
de diluir o pagamento ao longo dos anos de maturação do
projeto.
4. AGENDA
• Fontes de Financiamento: Vantagens, Desvantagens e
Consequências.
• O problema da desapropriação.
• Custo de capital e sua manutenção.
• Tarifa como fonte de recursos.
• Outros itens de capital: material rodante e garagens.
• Considerações Finais: A Diferença entre Fluxo e Estoque
no Financiamento da Mobilidade com qualidade para
todos.
5. FONTES USUAIS DE
FINANCIAMENTO
• Recursos Próprios/Tarifas
• Governo Nacional
• Empréstimos
• Bancos de Fomento Nacionais
• Instituições Multilatareis
• Bancos Privados
• Parcerias Público-Privadas (PPP)
• Arrecadação Especial
• Contribuições baseadas na Terra
• Impostos sobre a gasolina
• Pedágio Urbano
• Cobrança especiais sobre vagas de estacionamento
6. RECURSOS
PRÓPRIOS/TARIFAS
• Parte dos recursos são necessariamente do governo local.
• Mesmo para um orçamento como o do Município de São
Paulo, da ordem de USD20 bilhões, USD1 bilhão representa
5% do orçamento.
• Não tem sentido utilizar o orçamento anual ou as tarifas de
um ano para um investimento que deve se amortizar em
dezenas de anos.
• A manutenção faz parte do orçamento anual mas depende do
nível de investimento.
• Tipicamente se subsidia inclusive a operação então não há
espaço para financiamento usando a tarifa. A exceção é o
BRT que apresenta custos operacionais mais baixos.
• No Brasil apenas os municípios e algumas empresas
públicas podem pagar custos de desapropriação exceto no
caso de PPP.
7. GOVERNO NACIONAL
• Em alguns países o governo nacional simplesmente
assume a responsabilidade dos investimentos pesados
em infra-estrutura.
• Para que esse procedimento não signifique que, em última
instância, o morador local pague o custo, deveria ocorrer
uma transferência de recursos dos municípios menores
para os maiores.
• O resultado líquido depende do pacto federativo e não de
uma política de mobilidade.
• O governo nacional tipicamente tem maior acesso a
empréstimos nacionais e internacionais.
8. EMPRÉSTIMOS
• Bancos de Fomento Nacionais
• Maneira indireta de tomar empréstimo do governo nacional.
• Avaliação do projeto geralmente de qualidade levando em conta
benefícios sociais porém muitas vezes subestimando impactos
urbanos no entorno e ambientais.
• Possível ingerência política.
• No Brasil problema graves com garantias.
• Instituições Multilatareis: Banco Mundial, BID, etc.
• Avaliação de alta qualidade inclusive com relação ao impacto urbano
e ambiental.
• Recursos cada vez mais limitados para a América Latina.
• Bancos Privados
• Crowded out pelas fontes anteriores.
• Avaliação puramente do ponto de vista privado.
• Para casos de bens privados a precificação é a mais correta e não
sobreusa os recursos sociais.
9. PARCERIAS PÚBLICO-
PRIVADAS (PPP)
• As empresas tomam empréstimos para financiar os
investimentos o que implica em custos semelhantes ao
dos bancos privados.
• A PPP gera uma redução potencial de custos pois o setor
público em geral compra pior do que o setor privado.
• É possível dar o direito de desapropriação para o ente
privado agilizando o processo.
• O setor privado não leva em conta o externalidades
positivas nem ganhos sociais.
• O poder de fiscalização do governo é limitado e os
contratos são incompletos.
• O Estado precisa de mecanismos de incentivo para
garantir seus objetivos.
10. CONTRIBUIÇÕES
BASEADAS NA TERRA
• Ganhos de mobilidade implicam em aumento do preço da terra.
Aumento da carga sobre a terra associada a uma melhora da
mobilidade pode ter impacto neutro sobre o cidadão. Transporte
e uso do solo precisam ser pensados juntos.
• Cobrança pelo direito de construir
• Em corredores de transporte a densidade deve aumentar para maximizar seu
uso.
• O município pode definir os direitos de contruir maximizando a densidade ao
longo dos corredores.
• A cobrança pelo direito de construir antecipa o recurso que precisa ser pago
com maturação do mercado imobiliário.
• Contribuição de melhoria
• Método mais direto e tradicional em muitos paises porém com prazos de
maturação curtos (tipicamente um máximo de 4 anos).
• Fundo de Investimento Imobiliário
• Possibilidade de se comprar as propriedades ao invés de desapropriar.
11. IMPOSTOS SOBRE O
COMBUSTÍVEL
• Possibilidade de se cobrar dos geradores de externalidades
negativas (transporte individual motorizado) e transferir para
os geradores de externalidades negativas (transporte
coletivo e não motorizado).
• Geração apenas de fluxo; continua requerendo
financiamento para o estoque.
• Pode gerar inflação se não for compensada por redução na
tarifa; compensada por redução na tarifa não gera recurso
adicional para o financiamento da mobilidade.
• Cobra igual de quem gera congestionamento e de quem não.
• Mistura uma taxa ambiental com uma taxa sobre o
congestionamento.
12. PEDÁGIO URBANO
• A melhor maneira de cobrar por congestionamento é…
cobrando por congestionamento.
• O pedágio urbano é mais eficiente pois pode ser
diferenciado no tempo e no espaço.
• Pedágio urbano também só adiciona ao fluxo e
usualmente a arrecadação é limitada.
• Há grande resistência política provavelmente por alguma
forma de ilusão considerando que sistemas que não
permitem a circulação em certos dias/períodos
apresentam menos resistência.
13. COBRANÇAS ESPECIAIS SOBRE
VAGAS DE ESTACIONAMENTO
• Apresenta características semelhantes ao pedágio urbano
com menor resistência política
• Pode ser diferenciado no tempo e no espaço.
• Adiciona recursos somente ao fluxo.
• Arrecadação Limitada.
• Com a tendência de limitar estacionamento nas grandes
cidades o potencial de arrecadação deve se reduzir.
• A limitação de estacionamento está de acordo com uma
política de mobilidade urbana mais eficiente e mais
igualitária.
• Há o potencial de se cobrar do setor imobiliário através de
mecanismos como o PGT no Brasil.
14. DESAPROPRIAÇÃO
• Um dos grandes elementos de custo no investimento em
mobilidade é o custo de dasapropriação que tipicamente
representa 20% do custo total e pode chegar a 70%.
• A desapropriação de habitação informal tem grande
resistência política pois a falta de titulação traz grande
incerteza para o morador e representa um problema
social.
• A desapropriação de habitação de classes médias e altas
tipicamente gera demandas jurídicas aumentando o custo
do projeto acima do mercado.
• A necessidade de usar recursos próprios e de pagamento
antecipado na legislação brasileira fazem com que esse
seja um dos elementos mais problemáticos.
15. MANUTENÇÃO
• Qualquer investimento gera um custo de manutenção que
tipicamente é absorvido pelo fluxo de recursos o que é
consistente com sua característica.
• Conectando a manutenção ao contrato de construção da
infra-estrutura é uma maneira natural de dar incentivos
corretos: um investimento sub-ótimo deve gerar maior
custo de manutenção.
• Uma vez estabelecido um estoque razoável a manutenção
passa a ser o principal custo da infra-estrutura até o ponto
em que seja necessário renovar-la.
• Maiores investimentos implicam em maior prazo para
renovação e portanto maior custo de manutenção (e
monor flexibilidade).
16. FINANCIAMENTO DE BRT
PARTIR DA TARIFA
• Sistemas de BRT tipicamente reduzem o custo
operacional em proporções que vão de 20 a 40%.
• Em um ambiente de tarifa uniforme é natural que, para um
dado grau de subsídio, se gere um excedente na operação
de BRT dentro da arrecadação total.
• Um grau de subsídio à operação abaixo de 40%
potencialmente pode financiar (parcialmente) a
implantação de BRT em um regime de PPP.
• O financiamento do investimento com (parte da) tarifa
amarra construtores e operadores traz novos atores para
o ambiente e compromete a obra com a eficiência da
operação.
17. FINANCIAMENTO DO MATERIAL
RODANTE E GARAGENS
• Em geral preocupa-se com o financiamento da parte
construtiva deixando o material rodante bem como as
garagens para a operação.
• Ainda que a depreciação do material rodante seja mais
rápida (da ordem de uma década) não deixa de
representar um custo de capital.
• Domínio do material rodante e, sobretudo, de garagens
aumenta o poder de monopólio do operador. O seu
financiamento não pode ser pensado de maneira separada
dos outros elementos de capital.
18. CONSIDERAÇÕES
FINAIS 1/4
• A única maneira de garantir alta qualidade na mobilidade
urbana é através do aumento do investimento em infra-
estrutura para esse fim.
• O nível de investimento pode variar consideravelmente;
deve-se utilizar o nível necessário em função da demanda.
Super-estimação de capacidade implica em limitação da
abrangência.
• A demanda típica das grandes cidades latino-americanas
requer no mínimo investimento em BRT nos pontos de
demanda mais elevada.
• Orçamentos municipais não permitem o financiamento com
recursos de fluxo anual do investimento em estoque
associado a um BRT muito menos associados a um sistema
metroviário nem faz sentido financiar-los com fluxo.
19. CONSIDERAÇÕES
FINAIS 2/4
• Qualquer investimento em infra-estrutura apresenta dois
tipos de custo: o custo operacional (fluxo) e o custo de
capital (estoque).
• Os níveis de subsídio entre as diversas cidades não são
comparáveis visto que algumas métricas incluem material
rodante e garagens como elementos de capital e outras
não.
• Há um mito de que o investimento em construção deve
ser necessariamente pago com recursos próprios do
governo (independente do ente) e que os demais
investimentos devem ser pagos com recursos tarifários
mais um subsídio do governo local. Não há nenhum
argumento teórico justificando essa postura.
20. CONSIDERAÇÕES
FINAIS 3/4
• Custos de capital (obras, material rodante, garagens,
terminais, etc.) necessitam de financiamento.
• Custos operacionais (mão-de-obra, combustível,
manutenção, etc.) são pagos com tarifas e subsídios.
• O financiamento é fundamental para ajustar o prazo de
duração de estoque com o fluxo de pagamento.
• O prazo de financiamente deve ser compatível com o prazo
de duração do estoque.
• Com isso transformamos o estoque em fluxo que deve ser
pago com o fluxo de receitas associado à mobilidade.
• O fluxo de receitas inclui a tarifa e a arrecadação local mas
também pode incluir impostos sobre gasolina, pedágio
urbano, cobranças pelo uso do solo, etc.
21. CONSIDERAÇÕES
FINAIS 4/4
• Sempre será necessário o financiamento do capital
através de fundos públicos nacionais ou internacionais
e/ou através de fundos privados (incluindo PPP) para
transformar estoque em fluxo.
• O fluxo de receitas deve pagar os custos operacionais, a
remuneração do capital e sua manutenção.
• A forma como essas fontes e usos se equacionam tem
consequências não triviais sobre a qualidade do serviço
ofertado bem como sobre a possibilidade de
financiamento futuro.
• A questão de um milhão de dólares é como realizar esse
equacionamento.