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O elemento vital

     O elemento Vital -[Brasil]: Agosto 2004
     85 paginas.

     CRA:
     Nº Registro: 329.308 Livro: 603 Folha: 468
     Autor: Simeão de Souza Marchiori


                       Prólogo
    Se pudéssemos nos transportar às mais variadas
dimensões, fluir livremente nos universos paralelos
que mais intrigam a existência humana, poderíamos
aventurar-se nas mais incríveis experiências,
explorar dimensões onde a realidade, a física, a
ficção e a própria existência se confundem. Nesta
historia veremos como isso seria possível.

                       xxxxx

    Esse    é o meu primeiro romance, não sou
escritor, apenas coloquei no papel um ideia que tive
    Propositadamente procurei usar uma escrita
atual visando uma leitura acessível e agradável para
todos.
    Dedicado aos meus pais, e alguns raros amigos,
que respeitam a minha modesta natureza artística.
    Espero que os erros não prejudique a
interpretação.
CAPÍTULO      1


   T   arde de Sábado,     algumas poucas nuvens
brancas pairavam com infinita paciência no céu azul,
estava quente porém agradável, eu estava andando
sem muita pressa no centro da cidade onde moro,
considerada uma grande metrópole com seus
grandes edifícios cinzas fincados na terra desafiando
o céu. Muitas pessoas de tipos variados iam e
vinham,    integrando-se e contribuindo com sua
parte ao terrível e ao mesmo tempo belo caos
urbano, e assim aproveitando a conflitante tarde de
folga para gastar seus ganhos quase sempre justo,
satisfazendo     e    realizando    seus     desejos,
provavelmente atiçados por algum comercial da
tevê, comprando todo tipo de quincalharia, e claro
coisas realmente essenciais, bem ou mal,
contribuindo com sua parte para o funcionamento
de uma intrincada máquina chamada sociedade
humana.
    Mesmo acostumado com a agitação de uma
cidade grande e vitrines, volta e meia a gente se
depara, olhando para uma vitrine sempre há alguma
novidade ou... algum objeto que nos chama a
atenção.
    Se existe realmente o sexto sentido, ou será o
sétimo? devia estar presente agora, porque
enquanto olhava a vitrine, senti uma sensação
estranha, pressentia que algo estaria por acontecer,
porém não dei importância e logo me distraí,
continuei caminhando, sem muita pressa, volta e
meia voltava a sensação, então calmamente parei e
passei a olhar disfarçadamente para os lados só
para ter certeza que estava tudo normal, as pessoas
continuavam indo e vindo, tudo parecia normal,
então voltei a andar. Quando passei em frente à
uma loja, um produto em exposição me chamou a
atenção, então fiquei olhando, totalmente distraído,
instintivamente e sem motivo olhei para o lado e
dentre a      multidão vi surgir uma garota, muito
bonita, que deveria ter uns vinte e poucos anos, não
era alta nem baixa, eu diria o normal, pele clara,
cabelos dourados e lisos, pouco abaixo dos ombros,
olhos esverdeados, uma enorme menina dos olhos
que a deixava meio... angelical. Até aí tudo normal,
há muitas pessoas com essas características ou
esses dotes por aí, há não ser o fato que estava
vindo     justamente em minha direção, quando
chegou bem perto de mim parou, ficou me olhando,
totalmente imóvel, eu sem entender o que se
passava, os poucos segundos pareciam uma
eternidade, instintivamente       admirava todo o
contorno do seu corpo, parecia irreal, como uma
escultura perfeita moldada pelo mais hábil escultor
em seu momento de maior inspiração, e naquele
rosto de queixo suavemente arredondados, lábios
vermelhos, provocantes, que enfeitiçaria qualquer
cidadão normal. Ela trajava roupas modestas, destas
que os jovens costumam usar, uma calça jeans
apertada no corpo, uma camiseta cinza de seda que
parecia meio prateada, e com um grande degote,
que lhe proporcionava um certo ar futurista, e
tão      curta     que dava para ver seu pequeno
umbigo, flutuando, como que se estivesse
suspensos por jovens pelos dourados. Aproximou-
se tanto de mim que tive que recuar um passo,
poderia até beijá-la se quisesse e sem que ela
pudesse reagir, mas claro que esse não era o caso.
Pelo meu conceito de beleza ela seria uma mulher
perfeita, numa visão poética pra exemplificar como
me sentia, eu diria me que me sentia ao lado de um
anjo.
     Talvez até seja outras pessoas não a vissem
assim, ou um pouco de exagero da minha parte, mas
a verdade é que ela fazia meu gênero. Poderia ser
tudo aquilo que sonhei na vida, pelo menos
fisicamente.
     Isso tudo passou muito rápido e nesse mesmo
tempo indagava... Porque ela me olha? Será que
ela confundiu-me com alguém? Talvez queira alguma
informação.
     Tentava manter-me mais natural possível mas
meu coração batia na garganta, tão forte que se
alguém chegasse mais próximo não duvido que
pudesse ouvi-lo. Ali estava ela parada, olhando-me,
sem falar uma única palavra como se estivesse me
analisando      ou  fazendo   um    reconhecimento,
enquanto ela olhava pra mim seus olhos me
hipnotizava, eu como uma presa dominada tremia e
a admirava, ao mesmo tempo as pessoas passavam
por nós indiferentes.
     Finalmente ela falou, eu me distraí olhando
seus dois dentes da frente que combinava
perfeitamente com o discreto sorriso que esboçava
ao falar.
     Foi quando finalmente voltei a mim, balancei
levemente a cabeça, pedi desculpas e o favor que
repetisse o que havia falado.
     Ela falou:
     -Puxa! É você mesmo! Como foi bom te
encontrar.
Finalmente prestei atenção. Tudo nela me
agradava até mesmo a sua voz, suave e clara. Como
não tinha a menor noção do que se tratava, e
quando ela falou que me procurava me deixou
ainda mais intrigado, então perguntei;
    -Como você vem me procurando? Não me
lembro de conhecê-la, aliás nunca esqueceria se a
realmente tivesse a conhecido. Você me conhece?
    Ela apenas balançou a cabeça afirmando que
sim, depois perguntei seu nome, ela ficou calada,
como se quisesse emitir um som, mas não pudesse,
dando a sensação que não poderia dizer seu nome,
ou que nem mesmo nome teria.
    Instintivamente a fiz algumas suposições; Será
que ela está com amnésia e não se lembra de seu
próprio nome? Provavelmente está me confundindo
com outra pessoa.
    -Acho que você está me confundindo com outra
pessoa, porque realmente não a conheço.
    Ela fica meio aflita, e insiste em dizer que me
conhece. Eu curiosamente perguntei de onde, ela
me conhecia.
    -Eu não sei estou um pouca confusa, nem sei lhe
explicar, mas eu sabia que iria te encontrar aqui e
quando eu o vi, logo reconheci, de alguma forma eu
lhe conheço.
    Ela está confusa, talvez não esteja passando
bem, pensei. Também não posso negar um pedido
de ajuda. Algo grave poderia estar acontecendo isso
aguçou      minha curiosidade, falei pra ela que
precisava ir a uma loja e se ela quisesse poderíamos
conversar enquanto andávamos, ainda meio
desconfiado olhei discretamente para os lados para
ver se não estava-nos sendo seguido ou caindo em
algum tipo de cilada, mas não vi nada suspeito.
     Seguimos em direção à uma loja de tintas, onde
eu pretendia comprar alguns materiais, antes de
ter encontrado a tal jovem.
    Sempre tive o hábito de andar com os braços
cruzados ou com as mãos no bolso, imagino que isso
faça parte do meu complexo de mim mesmo, ou
seria timidez, não sei. Más para minha surpresa, e
sem menor cerimônia, ela primeiro cruzou os seus
braços no meu, como se eu lhe oferecesse
segurança, mas não se contentando, me abraçou
pela cintura, apertando-se contra mim, como se já
fossemos     íntimos,   me    senti  estranhamente
confortável.
    Andamos um pouco e já dava para avistar a loja.
Chegando      à    loja  encostei-me   ao   balcão,
prontamente um vendedor vem me atender, notei
que deu uma olhada na moça, talvez estranhando,
pelo fato que sempre vou à loja desacompanhado.
    -”Vê” pra mim uma lata de tinta branca acrílica.
    -Mais alguma coisa?
    -Um pincel de duas polegadas e um pincel de
ceda de meia polegada, só.
    Assim que ele emite a nota, dirigi-me ao caixa
para pagar, e voltei para pegar o embrulho, quando
estava saindo a moça do caixa me chamou.
    -Moço não vai querer o troco?
    Bati a mão na testa e sorrindo meio sem graça,
voltei pegar o troco, eu ainda estava          meio
atordoado. A moça que encontrei ou melhor que
me encontrou, me seguia o tempo todo.
    Com a        compra feita saímos da loja, e
continuamos a caminhar já era meio tardinha, o sol
ruborizado como minha própria timidez, nos
presenteava com uma bela e avermelhada tarde.
    Caminhando algum tempo afastando-nos do
centro da cidade. Sem falarmos nada um pro
outro, ela junto a mim como se não pudesse me
perder, era estranho. As primeiras luzes dos postes
começavam à acender, o comércio estava fechando
as portas, enquanto outros estavam abrindo, como é
o caso de uma pequena lanchonete que costumo
frequentar, e que tinha acabado de abrir, o dono,
que era um homem meio gordo, estava com um
jaleco branco na mão,       encostado na porta se
espreguiçando.
    Como era sábado, e realmente não estava a
trabalho, apenas pretendia      fazer uns pequenos
retoques na pintura da casa no domingo, e hoje eu
não tinha pressa para nada e essa situação me oras
me deixava com um conflitante desconforto, ofereci
algo    para ela beber ou comer, enquanto isso
procuraria conversar com ela sobre o que estava
acontecendo,     esse encontro não foi e não era
normal, portanto algo estava acontecendo e eu
pretendia descobrir o motivo, ela aceitou sem
problemas, entramos, puxei a cadeira para que ela
sentasse, sentei em seguida. Falei para o dono da
lanchonete para continuar nos preparativos         da
lanchonete antes de nos atender, afinal ele havia
acabado de abri-la.
    Falei para ela que precisava ir ao banheiro, ela
se ajeitou na cadeira e nada falou, aliás não falamos
praticamente nada até agora. Antes de me levantar,
o garçom trouxe o menu, então pedi à ele que
trouxesse uma cerveja, e um suco para a jovem e
dois lanches, em seguida fui ao banheiro.
    Todo mundo tem seus complexos. E eu tenho
mais de um, entre eles, não consigo urinar se tiver
mais pessoas no banheiro, mas nesse momento não
tinha ninguém, e estranhamente não consegui
urinar, mesmo estando com uma certa vontade.
     Como não urinei, fui ao lavatório, onde acima
tinha um pequeno espelho trincado, enquanto
lavava       as     mãos minha imagem refletia
desenquadrada no espelho.
     Eu falava pra mim mesmo no espelho
     -Que coisa! Quando eu imaginava ela me
acompanhando, havia momentos que nem queria
saber o que estava acontecendo, mas a realidade
era outra, isso me intrigava, melhor voltar para
mesa e continuar e esperar uma oportunidade para
puxar o assunto.
     Como não havia toalhas, bati as mãos na calça
para secá-las, quando retornei, o garçom já havia
servido a cerveja e o suco, enchi meu copo, ofereci
o suco, mas ela recusou.
     -Não obrigada, não tenho vontade.
     -Fale sobre você, até agora não sei quem você é,
de onde veio, o que realmente está acontecendo, se
você estiver com algum problema talvez possa
ajudá-la.
     Seus olhos avermelharam como se fosse chorar,
mas nenhuma lágrima escorreu. Pelo menos agora
eu tenho certeza que ela tem algum problema, já é
um começo. Ela levou as mãos aos olhos, e antes
que ela voltasse à abaixar completamente, segurei-
as, falei que eu queria lhe ajudar, mas precisava que
ela se abrisse comigo.
     Ela começou a falar.
     -Eu não lembro quem sou, de onde venho,
do meu nome, não lembro o que aconteceu
ontem, nada. De repente como se do nada,
eu estava andando na rua.         E quando eu te
encontrei, senti uma sensação de alívio, como
se algo me dissesse, que você poderia me ajudar.
Sinto como se já o conhecesse.
    Voltei à fazer suposições. Está parecendo que
ela perdeu a memória, por algum trauma talvez,
quem sabe foi assaltada ou raptada?
    -Você me deixa numa situação difícil, como vou
poder ajudá-la? Você tem documentos? Posso te
levar à uma delegacia, se quiser ou até mesmo à um
hospital.
    -Não tenho documentos... Posso ficar com você
por enquanto? Não me deixe sozinha, talvez daqui a
pouco     eu recupere minha memória, e tudo se
resolve, diga que sim.
    Ainda acho que deveria tê-la levado a uma
delegacia, não sei porque mas voltei à pegar as suas
mãos confortando-a.
    Ela sorriu, como ganha-se um novo ânimo, e
falou que não adiantava ficar preocupada sendo
que cedo ou tarde as coisas deveriam se esclarecer.
    -Você acha que me conhece, mas não me
conhece, não tem medo de ficar com estranhos?
    -De você não.
    Ela sabia que tinha encontrado a pessoa certa,
eu de certa forma também, senti aliviado por ela,
sabe lá o que poderia acontecer com uma garota
perdida numa cidade como essa.
    O tempo estava passando, eu havia apenas
tomado alguns goles de cerveja e sequer estava
com vontade de comer o lanche, ela por sua vez,
após se sentir confortada, começou à comer com
uma certa voracidade, como estivesse semanas sem
se alimentar, debrucei-me com os cotovelos
apoiados à mesa, achava graça e me deliciava em
ver seu apetite repentino, e nem se importava com o
molho de tomate que escorria pelo seu queixo. Após
ter lanchado, ela pegou um guardanapo e limpou os
lábios, então eu peguei outro guardanapo e limpei
suavemente do seu queixo, um pouquinho de molho
que ainda restava bem juntinho aos lábios.
     Um beijo resolveria, poderia parecer anti-
higiênico, mas e daí? Mas isso não passava de uma
fantasia minha... Ela agora estava mais à vontade e
saciada.
     -Já que eu não lembro de mim, fale-me de você
o que você gosta seus sonhos...
     Nem mesmo saberia o que dizer sobre mim,
mas mesmo antes que tenta-se, ela falou...
     -Apesar de você ser pintor, não é o que
realmente gosta, acertei?
     -Acertou, até parece que me conhece mesmo, já
que é assim, tente adivinhar do que eu mais gosto
de fazer.
     -Hum! Deixe-me ver, você tem um jeito de
gosta de coisas artísticas, escultor não, desenho
talvez.
     -Você me assusta garota. Gosto de tudo que seja
arte, escrever, tocar música, mas minha vocação
desde de criança foi desenhar, me sinto muito a
vontade com um lápis na mão, meu desejo é um dia
construir meu próprio estúdio.
     -Gostaria que você me mostrasse algum
trabalho seu.
     -Não tenho algo que valha a pena mostrar, mas
posso lhe mostrar alguns desenhos que já fiz.
     -E você não lembra nada mesmo? Todo mundo
tem uma história pra contar, por falar em você, onde
você acomodou-se nesses dias e aonde vai passar
hoje?
    -Puxa! Sabia que eu não havia pensado nisso?
    Seu semblante mudou, notei nela um certo ar de
preocupação.
    -Mas não se preocupe, você poderá hospedar-se
na minha casa o quanto tempo necessitar.
    Ela me ofereceu um belo sorriso como
agradecimento.
    Acenei ao garçom e pedi que trouxesse a conta.
    Logo ele volta.
    -A despesa.
    Não gastamos muito, peguei dez reais, dei ao
garçom e falei que ficasse com o troco, enquanto
isso ela foi lavar as mãos no banheiro, mas logo
voltou então saímos.



                 CAPÍTULO    2

    Dois homens, que pelo que parece, resolveram
começar a noite mais cedo, pois já estavam
bêbados,    quando   entraram    naquela  mesma
lanchonete, sentaram e pediram uma cerveja,
estavam muito sorridentes, típico dessas pessoas
que só bebem de vez em quando, e curtem o
máximo o grande momento de “embriagues”, não
faziam provocações, achavam graça de qualquer
assunto, riam das piadas que para eles pareciam
realmente engraçadas.
    Começaram conversar “filosoficamente” sobre a
natureza humana, se é que isso seja possível para
bêbados.
    -Já percebeu que a personalidade da gente
depende das pessoas de nosso convívio, até mesmo
sofremos influência das pessoas que não são muito
chegados a nós?
    -Porque está falando isso?
    -Há, sei lá! Por exemplo se acaso eu tivesse
crescido junto de índios, eu iria me sentir um índio
nato mesmo sendo um branco, e se um índio fosse
criado numa família em alguma cidade, ele
certamente iria sentir um urbano, desconheceria sua
origem indígena, ou seja o que nós somos depende
do ambiente em que vivemos, e das pessoas que
nos cercam, somos fisicamente partes em
proporções     diferentes    do    nosso     pais, e
psicologicamente, recebemos um pouquinho de
personalidade de outras pessoas que conhecemos,
    -Então“D.N.A” não significa nada, a cultura em
que vivemos é tudo, ou seja somos um pouquinho
de todos, não somos o que pensamos que somos.
    - “Mardita” cerveja, tá vendo o efeito que dá?




                   CAPÍTULO 3

    Enquanto caminhava-nos ela me perguntou para
onde eu iria, falei que era em direção à minha casa.
    -Não vai ser incômodo se eu for com você, vai?
    -Se você for algum tipo de demônio disfarçado,
então já estou condenado.
    Nem sequer imaginei que ela iria achar graça,
mas ela soltou uma espontânea          gargalhada, e
abraçou-se a mim, me deixando sem jeito.
     -Você não tem com o que se preocupar, pode
considerar minha casa como fosse a sua própria
casa.
     -Posso lhe fazer uma pergunta pessoal?
     -Claro que pode! -Falei.
     -Você mora com alguém?
     -Se você está se referindo à esposa ou
namorada a resposta é ainda não.
     -É que não gostaria de arrumar problemas com
sua família.
     -Quanto a isso não há problema.
     -Pelo jeito é exigente com as mulheres- Ela falou.
     -Pelo contrário. Sou muito tímido, é um defeito
imperdoável eu sei, as vezes me sinto angustiado de
ser assim. Dificilmente eu chego em alguma mulher,
por mais interessado que eu esteja, até já fiz isso e
não deu certo, e me senti muito mal. O que eu tento,
é chegar como um amigo qualquer e do meu jeito
fazer a pessoa se interessar por mim, depois esperar
que ela dê um sinal, aí será meio caminho andado.
     -Como seria esse sinal?
     -Seria um recadinho mais ou menos assim; O
trouxa não vê que quero namorar com você.- Ela
riu, e perguntou;
     -Mas e se a outra pessoa for tímida também?
     -Aí vão ser dois bobos que se gostam, solitários.
     -Mas não se preocupe tudo tem seu tempo, e
todos tem alguma limitação.
     Tem momentos que ela se parece muito segura.
Fiquei pensando; Seria agora o meu tempo?
     Continuamos caminhando, e o centro da cidade
foi ficando mais distante, pois moro num bairro
próximo do centro, ela ficou ainda mais à vontade
comigo, mas ao mesmo tempo que me meu lado
emocional estava em êxtase, a minha razão se
comportava arredio com a situação, afinal faziam
poucas horas que nos conhecemos. Assim que
chegamos, o cachorro muito magro, que não era de
fome, pois era muito bem tratado, veio nos receber
fazendo a maior festa, como ele sempre faz quando
alguém chega.
     A porta não estava trancada, ela entrou
primeiro, falei para ela se acomodar no sofá, que eu
iria tomar um banho rápido pois estava meio suado.
Fui ao meu quarto e peguei algumas roupas e uma
toalha limpa e fui tomar banho.
     Enquanto deixava a água do chuveiro escorrer
pelo meu rosto sentia que não havia nada
confortante como um banho refrescante no final
do dia, alivia a tensão, rejuvenesce o espirito e faz
a gente raciocinar melhor.
     Após me secar e vestir outra roupa, penteei o
cabelo, e passei algumas gotinhas de perfume sobre
a camisa, voltei ao quarto. Em seguida trouxe uma
outra toalha limpa para ela, enquanto lhe dava a
toalha, sentei ao seu lado, falei que infelizmente não
tinha nenhum tipo de roupas femininas para
emprestá-la.     Falei pra ela que podia usar o meu
quarto, até mesmo para dormir que eu ficaria à
vontade nesse “confortável” e rasgado sofá. Antes
que ela entrasse à alertei;
     -Só cuidado para não tropeçar na bagunça,
porque normalmente eu deixo espalhado pela quarto
as telas, pinceis tintas, os meus apetrechos de
passatempo.
     Mais uma vez ela esboçou um belo sorriso, num
misto de malícia e acanhamento, seguiu ao quarto,
demorou um pouco, provavelmente, enquanto se
despia distraía-se olhando os desenhos espalhados
por toda a parte, devo imaginar que ela tenha
deixado suas roupas sobre a cama, se enrolando
então à toalha, logo após seguiu ao banheiro, bem
pequeno por sinal e bastante modesto, afinal não
sou de origem rica.
     Liguei o aparelho de som, num volume baixo e
me acomodei no sofá, aliás, me “estarrei”, é como
nós dizemos por aqui quando alguém se acomoda à
vontade sobre o sofá, ouvindo o som, fiquei
imaginado ela se ensaboando, começando a passar
o sabonete pelo seus braços, seios, deslizando até
sua cintura e pernas até chegar aos pés e
depois de alguns minutos e após um delicioso
enxague, suavemente a toalha deslizaria por
todos os contornos do seu corpo, secando-o.
     Logo ela sai do banho, com a toalha enrolada ao
corpo, foi ao quarto e tornou vestir as suas roupas.
     Normalmente aos sábados, a essa hora estaria
me preparando para sair para curtir a noite, mas
hoje não vou sair, vou ficar fazendo companhia a
ela.
     Após recolocar suas roupas, ela volta com os
cabelos ainda úmidos e senta-se.
     -Se você quiser dormir, fique à vontade usando o
meu quarto, Hum... Mas ela não tinha nome, pelo
menos ela ainda não lembrara.
     -Eu fico por aqui mesmo no sofá.
     A combinação de seu corpo com xampu, ou
sabonete,      exalava   uma     suave    e   sedutora
fragrância...
     ...jasmim? Pensei.
     -Posso te chamar Jasmim? Não! Melhor, Jasmine
para diferenciar da flor, pelo menos enquanto você
não lembrar seu nome?
    Ela estendeu a mão e muito descontraída se
apresentou.
    -Muito prazer... , eu sou Jasmine.
    -Esse não é meu nome apenas meu apelido, com
que gosto de assinar minhas artes.
    -Eu já sei seu nome, mas se não se importar
prefiro lhe chamar assim, acho mais simpático.
    Apesar de ter nos conhecido à algumas horas,
havia esquecido de me apresentar, ela me chamou
pelo meu apelido, provavelmente viu assinado em
algum desenho meu, mas como pode ela saber meu
verdadeiro nome?
    -Encantado -Brincamos.
    -Por que escolheu esse nome, Jasmine?
    -Jasmim! é uma planta de onde é tirada a
essência para perfumes, que por sinal você está
cheirando.
    -Legal!
    -Gostou mesmo?
    -Gostei mesmo, é criativo. Mas não estou com
sono, e você vai dormir já?
    -Não, estava pensando em assistir algum filme
na tv, se você quiser assistir também fique à
vontade, mas se você tiver uma outra ideia para
sugerir...Não falei de forma que insinuasse algum
tipo de relacionamento íntimo, não era oportuno e
detestaria aproveitar-me de sua delicada situação, e
de qualquer outra pessoa que estivesse fragilizada
ou que precisasse de algum tipo de ajuda.
    -Estive pensando se você, estiver disposto à
andar, poderia me mostrar a cidade.
    -Qualquer coisa que não seja ficar em casa num
sábado, seria uma boa pedida. Falei.
    -Vamos já, deixe-me calçar um tênis. Sabe
porque mais gosto do sábado?
    -Posso imaginar.
    -Então diga!
    -Ora! porque sábado é o dia em que as pessoas
saem para se pra paquerar.
    -Não é bem isso!
    -Não?
    -É por causa do domingo.
    -Não entendi, você gosta do sábado ou do
Domingo?
    -Eu explico, gosto mais do sábado por que no
outro dia é domingo, a gente pode ficar a noite toda
na rua, conhecer alguma pessoa interessante, beber
conversar...sem ter que preocupar-se em levantar
cedo no outro dia, mas por outro lado não gosto do
domingo, porque no outro dia é segunda feira, dia do
“batente”.
    -Pelo jeito você não gosta muito do seu
trabalho.
    -É... não dá pra dizer que amo, mas o problema
é a rotina, que desgasta qualquer um.
    -Vamos!
    Logo que ela sai, fecho a porta com as chaves,
em seguida retiro o carro da garagem, meio velho
mas conservado, ela fecha o portão, então abro a
porta do carro por dentro, e ela se acomoda.
    Arranquei o carro mas não acelerei, continuei
andando devagar, para que ela pudesse ver melhor.
Como a cidade é grande limitei ao nosso próprio
bairro, não havia muito o que se ver, à não ser
apartamentos e as luzes dos postes iluminado nosso
caminho, após algum tempo estacionei o carro para
caminharmos.
    Enquanto caminhávamos passamos próximo à
um clube, já era por volta de meia noite, e já havia
muito movimento, pois muitas pessoas, na maior
parte jovens, aglomeravam-se do lado de fora
enquanto decidiam o melhor momento para entrar.
Já havíamos passado o clube quando ela falou;
    -O que fazem essas pessoas à essa hora da
noite?
    -Isto aqui é um clube recreativo, onde as
pessoas na maioria jovens veem para divertir-se,
dançar, paquerar...
    -Qualquer um pode entrar?
    -Pode, desde que compre o ingresso.
    -Há bom.
    Percebi que ela ficou curiosa, então...
    -Se você quiser conhecer, temos a noite inteira.
    Ela não falou que sim mas pelo sorriso... Então
voltamos, fui à bilheteria, comprei dois ingressos
e entramos, a “casa” ainda não estava cheia, por
sorte achei uma mesa desocupada, puxei a cadeira
para que ela senta-se, sentei em seguida, como eu
não sei dançar, costumo só ficar olhando tomando
alguma bebida, caipirinha de preferência, se bem
que por enquanto preferi pedir uma cerveja, nesse
clima abafado uma cerveja desceria mais redonda.
Cinco pessoas estavam no palco, integrantes da
banda que já estava tocando e alternando entre
ritmos nacionais do momento, e eu somente batia o
pé acompanhando o compasso da música, como o
som é muito alto não falávamos nada, apenas
olhávamos o ambiente Algum tempo depois já
estava muito mais a vontade, efeito da bebida, ela
parecia meio agitada, parecia que a música mexia
com seu espirito, não resistindo me puxou para o
salão, mas eu tentei gesticular explicando que não
tinha muito jeito para a dança.
    -Não faz mal, eu também não sei se sei! Ela
falou quase berrando.
    -Ficando perto de mim está bom demais, não
precisa dançar.
    Aquela sensação de satisfação que a gente tem
quando está com alguém que nos completa, era
confortante, ela parecia que me completava com
sua alegria e descontração, justamente o que as
vezes sentia que faltava em mim. Quando ela me
puxou a banda estava tocando uma balada nacional,
eu apenas acompanhava com os ombros.
    Já estávamos no meio da pista de dança, ela
dançava muito bem para quem supostamente não
sabia dançar, dançava como quando se aquilo fosse
alguma coisa totalmente nova e não parecia que
teria a menor vontade de parar, e eu tentava
acompanhá-la mas sem menor jeito. O clima mudou
um pouco quando em seguida a banda passou a
tocar uma música um pouco mais lenta, foi quando
ela me abraçou pelo pescoço e eu pela primeira a
senti de verdade, toquei nela segurando pela sua
cintura e dançamos, não era uma música
essencialmente romântica, mais era suave, a voz da
cantora, entrava e viajava pela minha cabeça,
parecia que estava-nos sozinhos num salão
flutuando sobre nuvens. Ainda dançamos outras
músicas, enquanto luzes coloridas passeavam pelo
salão.
    Quando se está feliz as horas parecem passar
diferente, na verdade a gente não sente o tempo
passar, ao contrário de quando se está ansioso, o
tempo parece renegado a passar. Quase no mesmo
instante que a banda para de tocar, e os músicos
acomodam os instrumentos nos seus devidos
suportes, começa o som mecânico, uma batida forte
marcava o ritmo da música dessas do tipo “dance”,
em que os compassos fazem uma marcação
repetitiva, alguns músicos saem do palco e se
misturam no salão, outros procuram alguma bebida,
e    os    que    ficaram        no   palco    ficam
despreocupadamente olhando os jovens dançando.
Eu voltei para a mesa onde me aguardava a garrafa
de cerveja, e Jasmine ficou dançando um pouco
mais. Da mesa fiquei vendo ela dançando, e o
piscar rápido de uma forte luz branca fazia seus
movimentos parecerem meio robotizado. Ela nem
sequer bebeu, eu estava feliz e quase podia
imaginar como ela se sentia, conforme a música
sugeria, ela dava sem ser vulgar um toque sensual
na dança e abria um sorriso extremamente lindo,
ela rodava em torno de si        mesmo, as vezes
parecia que havia alguém invisível conduzindo a
sua dança, para mim devido ao efeito do álcool a
sensação que dava era que tudo estava passando
em “câmera lenta”.
    A energia que ela irradiava de seus movimentos,
mais um toque de embriagues me fazia sentir feliz
como se aquilo tudo fosse o próprio paraíso, a gente
sabe que não é, mas o momento é muito bom.

     Tudo estava maravilhoso demais, e como não
existe felicidade, eterna, e tão somente momentos
felizes, logo me vem a sensação de que tudo
poderia acabar, assim que ela recobrasse a
memória, por um momento me esfriou a barriga em
pensar que teria que viver com a desilusão de que
alguém já tivesse conquistado seu coração.
    Coincidentemente, notei que havia um homem
encostado em uma coluna e estava olhando para
ela, como se o meu maior temor tivesse tomado
forma, aí falei pra mim mesmo que era pura
bobagem, quem em estado normal, não ficaria
olhando uma pessoa tão linda dançando com tanta
alegria.
    O álcool tem efeito de potencializar tudo desde
remédio a alegria, tristeza, traumas o temor e por
aí, conforme as luzes iam revelando a face daquele
homem, eu o via de alguma forma como uma
ameaça.
    Estava elegantemente trajado muito bonito de
rosto e muito mais jovem que eu, sorria de uma
forma sedutora, insistentemente à olhava,      tomo
um gole de cerveja e esfrego os olhos, como se
estivesse tentando acordar e forço a vista na
tentativa melhorar a visão, e como num piscar dos
olhos, já não havia mais ninguém encostado na
coluna, como se nunca tivesse existido, estranho...
pensei.
    Voltei os olhos para “Jasmine”, ela ainda estava
no salão mas não estava mais dançando, então
levantei-me e fui ao seu encontro, ela demonstrou-
se muito contente, quando cheguei ela me abraçou,
quase derramei a cerveja nela pois sem querer
acabei levando o copo comigo, perguntei se havia
cansado de dançar.
    -Não! De repente me deu uma sensação
estranha, então parei de dançar, mas logo passou.
    -Deve ser por causa do excesso de fumaça de
cigarro que a gente respira, deixa a gente meio
sufocado, quem sabe causando confusões, acontece
muito comigo.



                  CAPÍTULO 4

    Ainda naquela mesma lanchonete, estavam os
dois homens que resolveram começar a noite mais
cedo e pelo jeito não pretendiam parar logo, muitas
garrafas estavam sobre a mesa, à essa altura o
garçom já não estava disposto à recolhe-as, meio
cansado e entediado ligou a tv que ficava pendurada
em um canto da parede, naquele momento estava
sendo exibido      as ultimas notícias do dia, o
apresentador noticiava um ataque terrorista feito
por um grupo de radicais numa estação de metrô de
uma grande cidade, que matou e mutilou várias
pessoas inocentes.
    Isso provocou o estarrecimento em um dos dois
homens, que já estava pra lá de bêbado, quando foi
exibida algumas imagens fortes, então comentou,
quase como um discurso...
    -No que o fanatismo transforma o homem, o
que se passa na cabeça de uma criatura dessa!
    O outro com a fala já meio dificultada continuou;
    -Na verdade essa sede de vingança e destruição
faz parte da natureza, já vi isso num ducumentário
sobre índios, é a auto destruição, uma auto defesa
da própria espécie contra o excesso de população,
uma garantia de alimento e da sobrevivência do
mais forte, também acontece no reino animal, e o
ser humano não passa de mais um bicho.
    O outro que parecia que estava com a língua
enrolada, típico de quem já passou das contas
complementou.
    -Mas como tudo faz parte do processo evolutivo,
o bicho homem irá aos poucos, evoluir e superar
esse instinto de auto destruição e irá racionalmente
conservar a própria espécie.
    O garçom apenas negativamente balançava a
cabeça, talvez não pelo fato de ouvir a opinião
deles, mas sim pelo fato de terem passado da conta.
    -Pena que não vou viver pra ver isso acontecer,
apesar de o homem ter avançado na ciência, em
alguns lugares      pessoas mentalmente estão em
processo de regressão, como se a possibilidade de
evolução, fosse uma coisa maléfica, vivem como na
pré-história.
    -As vezes fico meio bobo de ver como as
pessoas, mesmo aqui, transformam coisas naturais
em algo, insano e bestial como se certas coisas
fossem o próprio mal. É o caso da sexualidade que
é visto de tal forma, de quem o faz está fazendo
algo impuro, repugnante, no entanto a essência e
concepção da própria existência esta infinitamente
ligado ao ato sexual, é a própria essência da vida.
Sem isso          jamais poderíamos estar aqui
conversando. Mudando de assunto você sabia que
no futuro quando as pessoas tiverem evoluído eles
olharão a história e ficarão indignados com o
tratamento dados dado aos macacos.
    -Por que?
    -Porque eles não vão considerar que os macacos
são da mesma árvore que os humanos.
    -Pirou? isso todo mundo sabe.
    -Na verdade os humanos é que serão colocados
na     árvore     dos    macacos,    nós     seremos
definitivamente macacos.
    -E o que tem ver isso?
    -Ora! Com o descobrimento das Américas, os
colonizadores, portugueses, espanhóis e ingleses,
não escravizaram índios e negros alegando que
eram raça inferior?
    -Isso foi verdade.
    -Então hoje os macacos são tratados da mesma
forma, não acha que nossos ancestrais merecem um
pouco de consideração?
    -Não sei de onde você tira essas ideias.
    -Nem eu...
    -Nessas horas todo mundo, tem opinião e
solução para tudo, melhor esquecer, as vezes isso
me deixa depressivo.
    -Riram, brindando os copos de cerveja.
    -Bebemos demais!
    -Acho que está na hora de parar.
    Estalando os dedos chamou o garçom. - “Trás” a
conta por favor.
    -Deixe que eu pago!
    -Não! Vamos rachar as despesas, se não vai
perder o amigo!
    Então racharam as       despesas e pagaram a
conta.
    Quando tentaram levantar, as pernas dos dois
fraquejaram, então se firmando um no outro põem-
se em pé.
    Saíram devagar, cantarolando pela calçada.




                  CAPÍTULO 5
Voltamos sentar à mesa, ela tomou um gole de
cerveja e achou muito ruim enfarruscando a cara, eu
sorri, como poucas vezes, pois a cerveja à essa
altura já estava quente e “choca”, o que a deixa
extremamente amarga e ruim, pedi que ela
esperasse um pouco, que eu iria buscar uma outra
bebida, e fui ao bar, pedi ao “barmem” que
preparasse uma caipirinha, e um martini rosé.
    Fiquei encostado no balcão, de onde eu podia
avistá-la, nisso percebi um velho conhecido, que
tomava uma bebida despreocupadamente.
    -Você por aqui! Como é que está?
    -Estou bem obrigado! Toma aí um gole.
    Como em baile a gente não costuma recusar
bebidas tomei um gole.
    -”Tá” por aí perdido?
    -Não, estou com uma menina.
    -Trouxe uma gata hem? Quero conhecê-la uma
hora dessas.
    -Sem problemas ela está sentada ali naquela
mesa.
    Apontei para a direção dela e acenei para ela,
ela deu um tchauzinho sorrindo.
    Ele me deu tapa nas costas.
    -Onde você arranjou aquela gata?
    -Quando descobrir o que está acontecendo eu te
conto.
    -Você com esse complexo de inferioridade,
ninguém é demais pra ninguém.
    -Não é isso eu...
    Nisso chega dois copos tipo de uísque, um com
caipirinha e uma rodela de limão presa em cima do
copo e o outro com martini e uma cereja espetada
em um palitinho. Despedi-me.
    -Outra hora a gente conversa!
    Então voltei para mesa, onde Jasmine esperava
com os cotovelos sobre a mesa, e as mãos no queixo
como se tivesse segurando          delicadamente a
cabeça, e      com um leve sorriso de satisfação.
Coloquei os copos sobre a mesa, deslizei
suavemente o copo de martini em sua direção.
    -O que é isso? parece muito bonito.
    -É martini, uma espécie de vinho, que combina
ervas aromáticas, tem sabor doce suave e médio
teor alcoólico, experimente você vai gostar.
    Ela pegou o copo afastou os palitos e sorveu
apenas uma pequena quantidade, praticamente só
molhou os lábios, mas suficiente para sentir o sabor,
passou suavemente a língua sobre os lábios para
absorver a bebida que ficou sobre os lábios, sorrindo
como se estivesse desconfiada, por fim exclamou;
    -É bom!
    E tomou um gole maior, fazendo aquele típico
gesto de aprovação .
    Não abaixou o copo, colocou novamente os
cotovelos sobre a mesa, retirou o guardanapo que
veio preso ao copo e colocou sobre a mesa e ficou
girando o copo, na altura dos olhos, achei até meio
engraçado ver como ela ficava meio vesga por estar
olhando fixamente para a cereja.
    -Essa frutinha vermelha, é só para enfeitar a
bebida?
    -Eu acho que é, afinal que eu saiba, ela não solta
o sabor na bebida.
    -Parece tão deliciosa.
    -Por que não a experimenta?
    -Será?...
Ela pegou o palitinho com a cereja e mordeu a
metade, fechou os olhos saboreando, depois
estendeu a mão em minha direção e me ofereceu a
outra metade, era apenas uma metade de uma
frutinha e por um instante quase rejeitei, mas era
tão tentador, que mordi tão rápido, que ela se
assustou, porque pensou que iria morder seus
dedos, apertei o palito entre os dentes, ela puxava
com uma certa força, tentando soltar. Até que
finalmente conseguiu, ou melhor, eu soltei.
     Acho que nem senti o gosto da fruta em
compensação        nem conseguiria descrever com
palavras a profunda satisfação pessoal, provocado
por uma brincadeira boba, e ela também se divertia.
     Afastei a cadeira e estiquei as pernas. Ao mesmo
tempo, que estava feliz e olhava para ela, não
conseguia deixar de fazer suposições sobre o que
teria realmente acontecido com ela, antes de
conhecê-la. Já ouvi muito comentários            sobre
lavagem cerebral , apesar de não ter certeza que
isso seja possível, supondo isso, poderia indagar-me
que, se a mente dela não poderia ter sido apagada,
por ela ter sofrido algum choque, testemunhado
algum crime, ou...
     -Isso está parecendo coisa de filme. Mas em todo
caso é bom ficar atento.
      -Falou alguma coisa?
     -Não é nada,         só estava pensando alto.




                   CAPÍTULO 6
Logo após que os dois homens saíram da
lanchonete, chega um homem de uns 40 anos,
talvez menos, moreno, bem vestido de terno e
gravata e carregando uma valise, parecia ser um
executivo, entra e ajeita uma banqueta coloca a
valise sobre o balcão, senta-se e acena ao
“barmem”.
    Ele achou meio estranho um executivo à essa
hora da noite mas...
    -Boa noite senhor, o que vai beber?
    -Boa noite, estou aceitando sugestões.
    -Temos um ótimo coquetel com frutas frescas,
muito apreciado pelos nossos fregueses.
    -Vou experimentar.
    -Pode ficar a vontade enquanto preparo, se
desejar algo mais, é só me chamar.
    Enquanto preparava o drinque, viu, meio que de
“rabo de olho”, quando o suposto executivo abriu a
valise e entre alguns papeis havia uma arma e um
foto de uma mulher, e imaginou que ele poderia
estar ao encontro de alguém, ou está afogando
alguma mágoa. Nesse caso uma arma pode fazer a
diferença, também poderia ser simplesmente um
guarda costas, não parecia um tipo de criminoso,
supôs, se bem que as aparências enganam.
    Já havia passado algum tempo, ele já tinha
tomado o coquetel, e parecia entediado. Como é de
costume, após alguns drinques, a pessoa tende a
aparentar um certo ar de desânimo, principalmente
se não estiver acompanhado, vai se cansando e
procura apoiar-se em alguma coisa.
    Para animar um pouco, o rapaz do bar puxou
conversa com ele.
-Estava bom o coquetel?
    -Estava muito bom.
    -Marcou um encontro com alguém?
    -Não aqui, vim ao encontro de uma mulher, na
realidade eu cheguei de viagem à pouco tempo,
resolvi tomar alguma coisa.
    Abriu a valise e retirou a foto mostrando ao
rapaz.
    -Já que perguntou por acaso não tem visto esta
essa mulher?
    Ele olhou e achou muito parecida com alguém
que havia estado ali um pouco antes.
    -Você falando agora me lembro à pouco, veio
mesmo um casal, mas não prestei muita atenção na
moça, se era a mesma.
    -E esse casal que veio aqui, você os conhece?
    -O rapaz conheço, sempre vem aqui, mas a
moça não tenho certeza, ela sentou-se de costas
para o balcão, não posso lhe dizer se é a mesma.
    -Você não se importaria de me dizer como posso
encontrá-los. É muito importante.
    Alguma coisa fez com que ele se arrependesse
de ter falado que viu alguém parecido com ela, pois
tinha receio de se envolver em problemas alheios, e
recuou de forma discreta, não estava disposto a
dizer     onde ele morava, porém... podia ser
realmente importante. -Eu não sei com precisão
onde ele mora mas posso dizer, mais ou menos...
    Tentou explicar-lhe de uma forma que ele
demorasse um pouco para encontrá-lo, afim de dar
tempo de achar o número do telefone para poder
avisar o rapaz que alguém talvez o procurasse,
perguntando sobre uma mulher.
    O homem pagou a conta, agradeceu, pegou a
valise, retirou o aparelho de telefone celular, e ligou
para alguém, enquanto ia saindo calmamente da
lanchonete.
    -Alô! Sou eu, não à encontrei, mas já tenho
alguma pista do paradeiro dela...
    Assim que o rapaz do bar achou o número do
telefone, foi até o aparelho e o discou, apesar de
ouvir o tom que indicava que o telefone estava
chamando ninguém atendia, provavelmente não
havia ninguém em casa, pensou ele.
    -Bom, fiz a minha parte.
    Conforme indicou o rapaz do bar a casa não
ficava muito longe de onde ele estava, então deixou
o carro estacionado onde estava e foi a pé pelo
caminho mais longo indicado pelo rapaz do bar.
    Logo ele chega à casa indicada, onde está
tudo escuro, com exceção de um cômodo,
mas não toca a campainha, talvez por          não ter
certeza se é mesmo onde mora as pessoas que ele
procura, olhou para a casa ao lado como se quisesse
memorizar      alguma    referência   e    se    retira,
provavelmente procurará aonde passar a noite
e voltará no dia seguinte.
    Retorna pelo mesmo caminho, de volta ao centro
da cidade ele começa a procurar algum hotel onde
possa passar a noite, chegou há uma rua
movimentada, onde muitas pessoas circulavam,
algumas mulheres estavam encostadas nas paredes,
e retrucavam alguma coisa conforme ele passava,
resolveu então perguntar à uma delas, onde
encontraria um hotel. Mas quem falou primeiro foi
uma moça que veio ao seu encontro.
    -Olá, está procurando companhia?
    Sua voz soava artificialmente vulgar, enquanto
ela falava ia se aproximando em passos curtos
sensuais, a moça era muita bonita e trajava uma
vestimenta muito extravagante, apropriada aquela
profissão, e suficiente provocante para balançar
qualquer cidadão, solitário ou não.
     -Quem sabe uma próxima oportunidade, eu só
gostaria de saber se existe algum hotel por perto.
     Com um sutil deboche ela falou:
     -Tem meu apartamento, não serve?
     Então ele levantou um pouco a valise, para que
ela percebesse, que ele estava a trabalho.
     -Hum! Está a trabalho? Já acompanhei muitos
homens como você, que mesmo a trabalho não
dispensam uma boa companhia, é claro que com
trajes mais tradicionais.
     -Estou encantado com você, mas não é isso, eu
estou apenas procurando um hotel e estou um
pouco cansado, só pretendo descansar.
     -Tem uma pousada, logo ali na esquina
     -Obrigado, desculpe por hoje não estar disposto.
     Ela não falou nada, ele se virou para ir em
direção à pousada. Sem ele perceber caiu do seu
bolso um pequeno cartão. Ela pegou para entregá-
lo, mas logo percebeu que era apenas um cartão de
visitas e ele devia ter mais. Caminhando na direção
indicada pela moça,       ele chega à pensão,       na
portaria pergunta se há algum quarto disponível.
     -Tem algum quarto disponível?
     -Temos... por quantas noites vai querer o quarto?
     Falou um senhor bocejando.
     -Somente essa noite.
     -São 30 reais, e o pagamento deve ser
antecipado, sabe como é, aqui as pessoas entram e
saem a toda hora. Ele lembrou das garotas
-Há sim! e sorriu.
    -Há, entendi, tudo bem!
    Assim que pagou, o senhor lhe dá as chaves.
    -Há uma tolha limpa sobre a cama, quarto
número quinze.
    Dirigiu-se então ao quarto, havia uma cama de
casal e uma toalha dobrada sobre a cama, colocou a
valise sobre a cabeceira, tirou os sapatos e ficou
apenas de meias, foi ao banheiro tão pequeno que
mal dava pra se mexer, lavou o rosto, passou os
dedos nos dentes como se estivesse escovando-os
e forçou um sorriso para o espelho para ver se não
estavam sujos.
    Finalmente deitou-se, pôs as mãos sob a cabeça
e sobre ao travesseiro, colocou uma perna sobre a
outra, ficando esticado e confortável.
    Mas sequer fechava os olhos, o motivo de vir a
esta cidade lhe deixava com uma certa ansiedade,
que o impedia de pegar no sono, apesar de estar
cansado. Na tentativa de dormir ficou tentando
imaginar por mais ou menos uma hora pensamentos
mais relaxantes, mas a única imagem relaxante que
ficava voando nos seus pensamentos era da garota
que ele havia pedido informações à pouco. A cortina
estava meia aberta e nesse meio tempo ele
percebeu alguma estrelas, estrelas que pareciam
olhos lhe vigiando.
    Fantasiou que a mais brilhante era uma deusa
mitológica, que     mudava de brilho para ele, e
sugeria que havia muita coisa interessante para se
fazer no frescor da noite.
    Então ele se levantou e calçou de novo o
sapato, e saiu do quarto.
    Enquanto caminhava pelo corredor, o porteiro
apenas olhou de desinteressado.
    Apesar de não ter dormido, e ter ficado apenas
uma hora descansando, isso foi suficiente para
deixá-lo um pouco mais relaxado, já na rua, foi
caminhando, agora prestando mais atenção nas
redondezas, meio que sem querer querendo, como
diz o personagem da tv mexicana, ele estava
caminhando em direção a garota que ele havia à
pouco pedido informação.
    Havia várias      garotas, mas aquela que ele
havia conhecido,        não     estava    mais    lá,
provavelmente saiu com algum cliente. A noite
estava muito agradável,      a   temperatura    devia
estar em torno de 20 graus, apesar de ainda
estar um pouco cansado da viajem ele resolveu
que não iria, voltar tão cedo para a pensão. Andando
mais um pouco ele viu que havia um clube bem
movimentado, decidiu então dar uma olhada.



                      CAPÍTULO 7
     Andando pela rua, os dois rapazes, que a pouco
conversavam na lanchonete, avistam um velho
conhecido sentado num banco e olhando a noite.
Logo que ele os vê, ele se levanta.           Quando
chegaram mais perto notaram um certo olhar de
desânimo, e foram conversar com ele.
     -Beleza? Perdido por aí? Faz tempo que não te
via.
     -Vai se levando.
     -Dando uma arejada na cabeça?
     -Não consegui pregar os olhos, então saí por aí.
     -Pois é quando o vimos, já deu para perceber
que estava abatido.
    -Na verdade estou mais que cansado, as vezes
procuro um sentido pra minha          vida, a gente
trabalha tanto para conquistar o que deseja, e
quando consegue percebe que já passou boa parte
da vida, investiu-se toda a energia da juventude
num objetivo, e o que se ganhou não trás de volta o
vigor, grande vantagem.
    -Se você viver procurando sentido para a vida,
você vai passar a vida toda assim, menos que você
acabe com ela.
    -Ainda não cheguei nesse estremo.
    -Então, de que adianta ficar triste, já que você
não pretende morrer logo, você tem duas opções
pode passar o que lhe resta da medíocre vida pelos
cantos, ou aproveitar e viver a vida da melhor
maneira, que tal uma saideira?
    -Que saideira, não tomei nada hoje!
    -Você, não, mas nós já.
    -Vocês já estão torrados, vão tomar mais?
    -É um sacrifício que faremos por uma boa causa.
    -Não é mesmo?
    E sorriram, e abraçaram-no, um de cada lado,
praticamente levaram-no arrastado.
    Logo encontram um bar aberto, e se sentam
numa mesa que estava na calçada. Sinalizam ao
garçom que trouxesse uma “gelada”. Que
prontamente foram atendido.
    Quando o cidadão que estava deprimido, tomou
o primeiro gole, fechou os olhos, como se fosse o
maior experimento de sua vida.
    -Sabe que faz tempo que não saía para tomar
uma cerveja.
    -Amigo é para essas coisas, apesar de não haver
mais ninguém nas ruas e isto aqui estar quase
deserto, nós não estarmos fazendo nada especial,
nós estamos contentes, isso é o que importa.
    E o outro retrucou.
    -Essas coisas que nos parecem bobas agora,
quando nós estivermos velhos, é justamente a que
sentiremos mais saudades.
    -Se o trabalho fosse considerado uma obra de
arte, todos os homens seriam estrelas e
trabalhariam mais felizes.
    -Por falar em estrelas, as vezes fico olhando elas,
mas às vejo como se fosse parte de um ser vivo,
chamado universo, posso até imaginar, outros
planetas orbitando elas sustendo a vida de outros
seres...
    -Lá vem ele com esse papo filosófico.
    Cotovelou o colega discretamente, e falou;
    -Ei tenho que falar alguma coisa pra alegrar,
nosso deprimido colega.
    O homem que estava deprimido pergunta,
dando início à uma calorosa e amigável discussão.
    -Você acredita que existe vida em outros
planetas?
    -Claro que existe, o universo é muito grande
para estarmos nele sozinhos.
    O outro rapaz se entretia com a cerveja, ficava
apenas ouvindo a conversa dos dois.
    -Acredito também que até exista, mas estão tão
longe que nem mesmo na velocidade da luz, nunca
chegariam na terra.
    -Como será que eles seriam? Será que seriam
mesmo cabeçudos como a gente vê na tevê?
    -Eu acho que a evolução segue os mesmos
passos em qualquer lugar do universo, talvez alguns
sejam ainda macacos, ou talvez como nós mesmo
seremos no futuro, a cada geração os humanos
estão perdendo os pelos e aumentando o tamanho
do cérebro, já dá pra imaginar como vai ficar.
    O outro que até então estava quieto falou.
    -Então o ser humano é que vai se tornar o
temível alienígena que irá amedrontar os seres de
algum outro planeta subdesenvolvido.
    -O outro então sorrindo.
    -É o homem já mostrou do que é capaz,
imaginou Hitler alienígena.
    -Eu acho que eles já tiveram aqui. Falou o que
estava em silêncio.
    -Por que você acha?
    -Eu acho que o homem foi colocado aqui, por
exemplo; em algum lugar do universo, surgiu a
primeira forma de vida, uma espécie primitiva,
claro, que com o tempo se evoluiu e se separou em
uma nova ramificação, mas os ancestrais não se
extinguiram como era de se esperar, conviviam
entre eles, porém a tolerância estava cada vez
menos suportável, então os dominantes decidiram
não mais conviver com a ramificação inferior, mas
por sua vez e por serem mais evoluídos, também
não admitiriam a exterminação de seus ancestrais e
de qualquer outra espécie, eles transferiram essa
raça inferior, que até então não passava de um
macaco um pouco mais evoluído para um outro
planeta para que ele tivesse outra chance de
evoluir, sem influência alguma.
    -Você é mais maluco do que imaginei, de onde
tirou essa história?
    -E tem mais, Após certos períodos eles voltam
para ver e estudar a adaptação evolução da espécie
introduzida, e quando eles perceberam que eles não
estão evoluído completamente e estava pondo em
risco as espécies nativas, eles passaram à fazer
viagens mais frequentes para poder resgatar
exemplares das espécies ameaçadas.
    Então entre um gole de cerveja um deles falou;
    -Nesse caso os dinossauros, mamutes e outros
bichos extintos, podem ainda existirem em algum
outro planeta.
    -É minha teoria.
    -Todos acham que Darwin tinha uma visão muito
avançada para sua época, isso porque não
conhecem você.
      Até o garçom que ao contrário do outro era
magrela e estava olhando a conversa, não
conseguiu manter a postura, e gargalhou quando
todos três caíram na gargalhada. Então o dito
garçom complementou falando alto do balcão;
    -Vou incrementar essa história, como já
evoluímos bastante que já estamos parecidos com
eles, pelo menos fisicamente, quando eles vêem à
terra alguns deles se misturam conosco pra poder
estudar nossa evolução.
    -Só dá louco nesse lugar.
    -E não há como descobrir. Pois o homem evoluiu
o bastante para ser parecido à eles, ou seja a
evolução segue o mesmo caminho em qualquer
lugar.
    -Supondo isso verdade, o que aconteceria se um
suposto aliem sentisse atração por um humano?
    -Poderia surgir um híbrido.
    -Acho que conheci uma assim.
    -Como?
    -Minha mãe disse que quando ela era mais
jovem conheceu um menino que era super
inteligente, mas era tão esquisito que parecia um
“e.t”.
    -Ela transou com ele?!
    -Como você adivinhou?
    -Pela tua cara ele era seu pai.
    Riram tanto que a rapaz que estava deprimido,
falou que iria levar alguns anos luz para ele voltar
a ficar deprimido.
    -Já ouvi muito papo maluco de bêbados mas isso
já é demais.
    -É sério! Já viu que algumas pessoas somem de
repente, poderia ser algum alienígena que se
misturou       conosco     para     estudar   nosso
comportamento e depois voltou, alguns que vieram
acabaram sendo abandonados pois não podem mais
retornar ao seu planeta natal, devido ter sido
contaminado com alguma doença humana ou
porque devido ao convívio humano, eles passam à
assimilar o lado selvagem ainda presente no
homem, quando eles passam a agir como humano,
não mais respeitando seus superiores eles são
recapturados e apagam qualquer vestígio de sua
mente sobre a sua origem, e deixam-no na terra
agora como um humano normal.
    -Alguns recobram parte de sua memória, e
passam à perambular pelas ruas como profetas ou
esotéricos, fazendo profecias ou pregando a
existência de seres superiores que nos vigiam,
outros se destacam em alguma coisa como nas
ciências, artes. Quem sabe algum deles pode estar
por aí e nem sabemos.
CAPÍTULO 8
    Sem um motivo aparente ela me beijou.
    -Beijo tem um gosto estranho.
    -Não gostou?
    -Não sei, acho...
    E me beijou de novo, depois espremeu         os
lábios, como se estivesse espalhando um batom.
    -Você nunca beijou antes?
    -Bom! Pelo menos que eu me lembre, não.
    E sorriu achando graça da própria situação que
passava.
    -Esqueci que você está sem memória. Falei. -Não
procure achar explicação, é estranho mesmo, na
verdade é como um aperto de mão ou um abraço,
serve    para estreitar o relacionamento entre as
pessoas, claro que em graus diferentes. As vezes
falo aos meus amigos tem coisas na vida que dá
para comparar à uma cerveja, não precisa ser doce
para ser gostoso, e é melhor se for tomada com os
amigos. E você realmente não precisa fazer isso, à
menos que queira mesmo. Não quero que pense que
está em dívida comigo.
    Na verdade nem sei porque falei aquilo, talvez
porque não poderia deixar envolver-me demais,
pelo menos por enquanto, provavelmente acabaria
por    criar   uma    afeição,  por   alguém    que
possivelmente não poderia partilhar.
    Então ela falou;
    -Enquanto eu dançava eu vi um, não um, mais
vários casais se beijando, então fiquei com
curiosidade para saber qual era a sensação.
    Então falei;
    -Tem vezes que a gente pode até não achar
sentido, mas noutro minuto está com vontade de
novo. É como uma vontade que nunca se satisfaz.
     Alguns conhecidos que passavam, as vezes
paravam para        nos cumprimentar. Enquanto eu
conversava com eles, Jasmine ficava olhando para a
parede do bar havia um cartaz anunciando uma
tradicional festa numa cidade litorânea.
     Assim que meus amigos saíram, ela me
perguntou;
     -Você já viu o mar?
     -Já, sempre que posso eu vou, e não é muito
longe daqui, são mais ou menos meia hora de
viajem.
     -Parece ser muito bonito.
     -E é! Talvez a melhor parte, seja durante o
percurso a gente passa por um serra, pequenas
cidades antigas, rios de águas limpas, cachoeiras,
muitos lugares bonitos.       Só de imaginar já dá
vontade de ir.
     Acenei para um garçom que estava passando
por perto e pedi mais uma caipirinha. Ele perguntou;
     -E a moça vai querer alguma bebida?
     -Gostei dessa bebida, mas quem está pagando é
ele.
     Fiz um sinal com dois dedos, indicando que era
para servir nós dois.
     Jasmine tomou o restante de martini que ainda
restava e eu como costumo ter muito resistência pra
bebidas, estava dentro do que eu chamo de normal,
e Jasmine estava extremamente à vontade.
     Alguns minutos depois o garçom nos serve as
bebidas. Depois ele pega os outros dois copos que
estava sobre a mesa e passa um pano para limpar a
mesa, enquanto eu tomava um pequeno gole de
caipirinha. Os integrantes da banda voltavam ao
palco para dar continuidade ao baile, havia uma
moça que        se revezava com um rapaz como
vocalista, e foi ela que entrou cantando, uma balada
acústica com uma letra romântica, por sinal era uma
música que eu gostava muito, enquanto cantava
sentou-se num banqueta, colocou o microfone no
pedestal      e continuou cantando acompanhada
somente de um violão. Poucas pessoas dançavam,
porque preferiram olhar a apresentação, sentados
em suas mesas, ou mesmo de pé.
    Assim que ela acaba de cantar, Jasmine
discretamente a aplaude, outros também aplaudem,
logo estão todos em pé aplaudindo, e assobiando
pela excelente interpretação, isso não é comum em
baile. A cantora agradeceu, e sem a maior cerimônia
passou à cantar músicas carnavalescas, numa
explosão de percussão e ritmos tropicais, típicos do
Brasil, então o salão novamente se enche. Aí já não
há mais regra, cada um por si pulando no salão, à
não ser quando a música sugeria alguma coreografia
própria.
    Não resistindo, Jasmine vai para o salão, me
arrastando consigo, isso depois de ter tomado quase
todo o martini de uma só vez, eu levei meu copo
junto para ir bebendo antes que derretesse todo o
gelo.
    Após uma meia hora que ficamos dançando
bateu um pouco de cansaço, voltei à mesa enquanto
Jasmine continuou dançando. Encostei a cadeira
entre a parede, levantei a cabeça para cima e fiquei
olhando para o globo refletindo as luzes, a bebida
nessas alturas também já estava fazendo efeito, ou
seja estava um pouco bêbado.
    Por um instante esqueci-me do mundo, como se
estivesse entrado num transe profundo, isso não
deve ter durado mais que alguns segundos, apesar
da sensação de ter sido bem mais.
     Pela primeira vez devo ter        esquecido de
Jasmine. Quando eu me dei conta, e olhei ao salão
estavam quase todos parados apesar da música,
então percebi que havia acontecido algo estranho,
pensei que estava havendo algum desentendimento,
já vi muitas vezes isso acontecer, só então lembrei-
me de Jasmine, e fui procurá-la.
     Para minha surpresa ela estava caída no meio do
salão e rodeada por pessoas, enquanto algumas
procuravam ajudá-la se levantar. Quando cheguei
ela já estava em pé, então à segurei, e a levei para
fora do clube para respirar um pouco de ar mais
fresco.
     Enquanto estava-nos saindo, eu lhe perguntei;
     -Você está bem?
     -Quer que eu a leve à um hospital ?
     -Não, imagine, eu estou ótima.
     -Então o que aconteceu com você? Sentiu se
mal?
     -Não sei o que aconteceu, só me lembro que
estava dançando, e de uma luz muito clara e forte
que ofuscou minha visão, então devo ter perdido a
consciência.
     -Tem certeza que está bem?
     -Tenho, agora lembro, que estranho parecia que
essa luz queria envolver-me, levar-me, ou como se
abrisse uma passagem que eu poderia passar,
seguir, não consigo explicar direito.
     Tinha uma outra moça que antes eu havia
cumprimentado e saiu junto com a gente, e ouvindo,
falou que ela não tinha visto nenhum tipo de luz ou
clarão anormal.
     -Ela simplesmente desmaiou sem ter algum
motivo aparente!
     Devagar fomos até o carro, ela já tinha se
recuperado, mas não entramos no carro, ficamos
encostados, conversando, apesar de tudo ela se
sentia muito feliz, nem queria mais conversar sobre
o ocorrido.
     -Durante o tempo que você desmaiou, você não
lembrou de alguma coisa de você mesmo?
     -Não, não lembrei de nada, continuo da mesma
forma em que nos conhecemos.
     -Como queria que você se lembrasse quem é, de
onde veio, isso me deixa meio angustiado, tenho
medo que você desapareça assim de repente, tal
como apareceu.
     Ela encostou a cabeça no meu ombro e nada
falou. Há momentos que o silêncio fala por si.
     Certas pessoas pensam que são incapazes de
serem amadas, e se enganam completamente,
provavelmente há pessoas próximas ou nem tanto
próximas, que nutrem um sentimento forte, mesmo
sem sequer ter trocado uma palavra, gosta por
gostar e pronto, as vezes ignorando até mesmo a
aparência física. Pena que a gente se prende à
fantasia e não assume, as vezes justamente por
medo de fracassar. Conheci-a à apenas um dia, e
já fico preocupado que alguma coisa acontecesse
com ela.
     Nós estávamos encostados no carro sob uma
árvore que encobria a luz do poste, então vi
claramente quando um homem que estava
passando do outro lado da rua, em direção ao clube,
que trajava uma calça de social e uma camisa de
botões, roupas impróprias para aquele tipo de
distração, não era o mesmo que havia visto
encostado na coluna olhando para Jasmine, olhou
para nós, como se tivesse nos conhecido ou fosse
nos cumprimentar, e como estava escuro e Jasmine
estava com a cabeça em meu ombro, ele não nos
viu direito, ele teria que passar bem mais próximo
de nós para que pudesse reconhecer-nos melhor.
Um carro preto passa numa certa velocidade por
nós, e para repentinamente na frente do clube,
três portas se abrem e saem três homens e entram
rapidamente no clube.
    Talvez que por medo de perdê-la eu tenha ficado
receoso, achando que alguém estivesse à sua
procura. Mas o homem que havia passado por nós à
pouco parou e ficou olhando para a entrada do
clube, depois virou-se, como se também estranhasse
a chegada repentina dos três homens disfarçou e
começou e retornar enquanto atravessava para o
nosso lado da rua. Será que havia alguma ligação
entre eles? Poderia algum deles estar à procura
dela? Ou ambos com propósitos diferentes? Se
alguém estava à sua procura, poderia também
solucionar o que estava acontecendo com Jasmine.
Mas entre a dúvida e a razão optei por sair dali.
Cedo ou tarde tudo deveria se esclarecer, melhor
dar mais um tempo. Lembrei então que ela tinha
falado que gostaria de ver o mar, me veio uma idéia.
    -Quer dar um passeio à um lugar muito bonito?
    -Vou a qualquer lugar que você sugerir.
    Peguei as chaves e abri a porta do carro do lado
do passageiro, ela prontamente se aconchega
ficando bem à vontade.
    Assim que eu entro ela fala alegremente.
-Então vamos!
     Liguei o rádio para manter o clima alegre.
     Ainda no começo da estrada parei em posto de
combustível onde estava aberta uma pequena loja
de conveniência, peguei algumas latas de
refrigerantes e uns pacotes de salgadinhos, no caixa
já havia acabado de chegar o jornal do dia, eu
peguei para ver se não havia alguma mensagem de
desaparecimento, ou algo que envolvesse Jasmine,
enquanto isso ela se entretia olhando as
mercadorias expostas na prateleira.
     -O que você comprou?
     -Algo para salgar o estômago.
     Entramos novamente no carro, ficamos        um
pouco parado enquanto dava uma rápida folheada
no jornal, mas não vi nada interessante, joguei o
jornal no banco traseiro e seguimos o percurso.
     Andamos por vários quilômetros por uma BR, até
que chegamos ao começo de um portal que dava
acesso a uma estrada secundaria. A partir de então
quase não conversávamos, porque Jasmine, ficava o
tempo todo olhando para fora, apesar do luar não
dava pra ver quase nada, então ela abriu um pouco
a janela e passamos à ouvir claramente o som grilos,
de rãs ou sapos por toda a extensão da estrada, ela
deixava o vento bater no seu rosto, inspirava o ar
como se tivesse sentindo o cheiro do mato.
     Continuamos na estrada por mais algum tempo,
e a lua aparecia de vez em quando entre as nuvens,
continuava escuro, mas com pouco de esforço dava
para ver ao lado da estrada,           bem como a
vegetação. Após uma longa subida uma placa avisa
que logo a mais à frente termina o asfalto e começa
o calçamento, a estrada fica mais estreita e começa
um longo declive, com curvas uma após a outra.
    Mais alguns minutos chegamos à um mirante,
onde eu estaciono o carro, o clima muda bastante do
outro lado da serra, por sorte nesse dia não havia
muita neblina.
    Apesar de ainda estar escuro o luar deixava tudo
meio prateado, assim desliguei o motor, mas deixei
as luzes baixas acesas, ela percebeu que era este o
lugar que falei que a levaria, então ela saiu do
carro, antes mesmo que eu, ergueu as mãos para o
alto espreguiçando-se tanto que parecia querer
alcançar o céu e suavemente se rodeava como se
estivesse em êxtase.
    - O ar é tão refrescante. Que lugar é esse?
    Ela me perguntou.
    -Pudera nós estamos quase no topo da serra,
daqui a pouco o sol vai nascer tenho certeza que
você vai gostar.
    Caminhei em direção ao parapeito de balaústres,
cruzo os braços e me debruço, fico olhando algumas
estrelas, como estava escuro era a única coisa
distante visível.
    Mesmo com o ar gelado e refrescante o silêncio
relaxante, quebrado apenas pela melodia dos
insetos, senti que minhas pálpebras se tornaram
mais pesadas, e bocejava.
    A voz de Jasmine começou à ficar mais distante,
mas eu ouvia muito baixo ela dizendo alguma coisa
assim; você está vendo? Balancei a cabeça para
despertar, havia me relaxado, que quase acabei
adormecendo. Então virei-me para ela.
    -O que?
    -Você não viu?
    -O que? O que você viu?
Afoita ela falava.
     -Você não viu? Uma bola de luz bem clara que
apareceu flutuando e ia aumentando? Saía um som
como um sussurro ou uma voz suave, que falava
que me levaria de volta para o lugar de onde vim!
     -Não vi nada, você está cansada. Acho de certa
forma, inconciente você procura alguma forma
fantasiosa para aliviar o trauma que fez você
esquecer quem é.
     Peguei-a pelas mãos e a levei ao parapeito, onde
ela se debruçou, eu fiquei ao seu lado, coloquei a
mão por trás dela sobre o ombro e a aconcheguei.
Ficamos em silêncio sem falarmos uma única
palavra, ficamos apenas respirando o ar fresco
quase gélido da montanha, pouco depois parecia
que ela já havia esquecido o ocorrido. Então olho
para Jasmine, ela continua em silêncio, com o piscar
dos olhos lentos, como se tivesse em transe,
olhando a paisagem que vai se revelando com o
alvorecer. Foi um dia de sorte, uma curvatura
amarelo/laranja começava à tingir o mar, já estava
um pouco claro mas o sol ainda não havia aparecido.
     Ela então encosta-se em mim, então ficamos
olhando esperando o sol apontar, enquanto seu
contorno ia se revelando por completo ia ficando
mais vivo.
     Agora já era possível ver o verde da floresta
mais realçado e vivo, avistava-se um vale rodeado
por uma exuberante montanha, olhando em outra
direção avistava-se uma pequena cidade, banhada
por um braço de mar, ficamos algum tempo
admirando, era como se estivéssemos revelando
uma fotografia que a cada minuto vai ficando mais
nítida, até revelar-se um belo cartão postal.
Ela estava tão fascinada que só quando estava
claro, que ela percebeu o som das águas.
     -Gozado! Não havia prestado atenção nesse
barulho, Passa um rio lá embaixo! Mas não dá para
ver.
     Então falei.
     -Deve passar algum rio sim, tem um pequeno
carreiro ali. Pode ser que dê lá. Tá a fim de arriscar?
     Ela topou, eu fui na frente dela descendo pelo
estreito carreiro, ela vinha logo atrás tomando
cuidado de apoiar-se entre grandes pedras, ainda
tínhamos que nos segurar em galhos e raízes de
árvores para que não escorregasse-nos, pois era um
carreiro muito íngreme, mais foi bastante curto,
assim que chegamos ela falou;
     -Puxa! Pelo barulho que fazia eu imaginei que
era bem maior.
     Quem ouve o barulho que fazia, conforme se
aproximava, realmente acharia que passava um
grande rio abaixo, mas se tratava apenas de uma
pequena cachoeira e o leito que formava não dava
mais que meio metro.




                    CAPÍTULO 9

    Jamais existirá um dia igual ao outro, porém
todos os dias são muito parecidos, o sol mal havia
aparecido e o homem que procurava uma mulher, já
estava acordado, e se preparava para sair, vestiu
sua roupa, e calçou os sapatos, pegou um pequeno
pente e alisou os cabelos, organizou a valise, em
seguida sai do quarto, fechando-o, caminhou pelo
corredor, e entregou as chaves na recepção.
    Uma mulher morena, com uma vasta cabeleira,
estava fazendo o turno do dia.
    -Bom dia!
    -Bom dia.
    E entregou as chaves.
    -Espero que tenha tido uma noite agradável.
    Ele disse;
    -Tive sim, muito obrigado.
    Já na rua, ele caminhou um pouco até avistar
uma lanchonete aberta, para fazer um lanche
rápido, entrou na primeira que avistou, sentou-se ao
balcão, logo uma bela jovem ruiva lhe atende.
    -Bom dia! o que vai querer.
    Nisso uma outra mulher, havia acabado de
colocar alguns pasteis numa pequena estufa. Vendo
aquele pasteis quentinhos lhe aguçou a vontade.
    -Vou querer um pastel daqueles.
    -Café puro, ou pingado?
    -Pingado?
    Estranhou o nome pois de onde vinha não
conhecia o que era pingado.
    -Café com leite.
    -Há! sim, café com leite por favor.
    Ou ele estava com muita fome ou o pastel
estava muito bom, pois ainda comeu mais dois
pastéis. Depois de satisfeito perguntou à moça o
quanto haveria de pagar.
    -Seis reais, pode pagar ali no caixa.
    Levantou-se e foi até o caixa, onde pagou a
conta.
Depois de ter tomado seu café da manhã, seguiu
em direção à casa onde ele havia estado na noite
passada, ao chegar à casa notou uma campainha e
então a tocou duas vezes e esperou para ver se
alguém apareceria, mas ninguém atendeu, então
tocou de novo, agora prolongando um pouco mais,
mas de nada adiantou.
    Foi até o vizinho ao lado, tocou a campainha,
prontamente vem uma senhora atender, mas não
abriu o portão, atendeu-o pela grade.
    Retirou o retrato da valise e mostrou à senhora.
    -A senhora podia me informar, se por um acaso
tem visto se esta moça mora nessa casa ao lado?
    Ela olhou por alguns segundos, e torceu a
cabeça.
    -Não, acho que não.
    Ele guardou a foto no bolso.
    -Pois é eu toquei a campainha, não apareceu
ninguém, uma pessoa me disse que viu ela com um
rapaz cujo endereço é esse.
    -Só se for recentemente, porque não vi nenhuma
mulher por aí nesses dias.
    A senhora perguntou a ele;
    -O carro dele está na garagem?
    -Não, não tem nenhum carro na garagem.
    -Então provavelmente não chegou, quase
sempre eu escuto quando ele chega durante a
madrugada, mas hoje não ouvi.           -Eu agradeço,
pela atenção.
    Então a senhora volta para dentro de sua casa.
    O celular que então estava preso à sua cintura
toca, sabendo de quem se tratava, ele logo fala;
    -Por enquanto a única pista que tinha, não deu
resultado positivo, pois não pude localizá-la.
Alguém que está do outro lado da linha fala.
    -Isso não podia ter acontecido, você sabe o que
pode acontecer.
    Ele responde;
    -Eu sei, mas o que posso fazer se não cheguei à
tempo de encontrá-la, a cidade é mais grande que
imaginava se algo estranho aconteceu com ela, e eu
vou descobrir, não se preocupe!
    Parecia ser algo muito importante, pois ele
demonstrava uma pequena tensão ao falar.
    Uma frase em tom mais ameaçador ele houve.
    -O que aconteceu com o rastreador?
    -Estava funcionando até ontem a noite, o último
sinal que recebi foi até quando cheguei à uma
lanchonete, mas mesmo antes de chegar o sinal
havia sumido de vez. Como não vi ela, por um
momento fiquei sem saber o que fazer, então entrei
para especular, pode ser que ela tenha descoberto o
sinalizador, e então o destruiu, nesse caso ela pode
estar a quilômetros daqui. E desligou o telefone,
que não era um telefone comum pois possuía um
sistema de rastreamento do tipo gps. Por via das
dúvidas verificou ainda mais uma vez se não
havia algum sinal, mas não havia.
    Algumas perguntas        lhe “martelavam” na
cabeça, o que teria acontecido à ela, porque fugiria
para um lugar tão longe, o que será que ela sabia?
    Qualquer indagação que se fizesse seria apenas
uma possibilidade, e tão somente.
    Pegou o seu carro, e passou a circular pela
cidade na tentativa de detectar algum sinal, dirigia
com apenas uma mão enquanto na outra segurava o
aparelho de telefone com rastreador. Apertou um
botão que ativava o sistema de aviso sonoro e
colocou o aparelho sobre o painel. Quando ele já
estava fora do centro da cidade, em direção à um
bairro, um apito de curta duração pode ser ouvido.
Por estar numa parte alta da cidade imaginou que
essa posição facilitou a captação do sinal, que
também logo sumiu.
    Mas apesar de o sinal ter sumido a sua
localização foi memorizada. Já havia parado o carro
no acostamento deu uma ré, jogando a traseira do
carro entre o mato e numa rápida manobra mudou
de sentido. Agora de frente e voltando podia ver
melhor os prédios que antes havia deixado para
trás, pensou que até uma cidade grande pode ter
alguma beleza, principalmente se for vista de longe.
Pensou no contraste da organização humana,
quantas coisas que não funcionam direito, guerras,
poluição o caos e ao mesmo              tempo      a
surpreendente       organização humana, medicina
eletricidade... alimentos para todos, (pelo menos
para quem tiver dinheiro).      Entrou no carro e
começou a voltar, os prédios a cada quilômetro iam
ficando maiores, enquanto dirigia verificou mais
uma vez no aparelho a direção que deveria seguir.
Ele teria que atravessar a cidade para seguir na
direção indicada, contudo a cidade era grande,
fazendo com que ele demorasse um pouco entre os
engarrafamentos. E para sua surpresa o sinal voltou
a ser captado, e estava cada vez mais forte. Ele
então percebeu que ela estava se movimentando.
Assim passou à ir ao encontro do sinal, e quanto se
aproximava o sinal ficava forte. Pouco depois ele
chega ao local onde ela deveria estar. Ele estaciona
o carro, desce e vai caminhando, olhando para os
lados para ver se à avistava.
Mas que estranho, ele pensou, o sinal está forte,
mas não havia nem sinal dela, discretamente
olhando para o aparelho ele foi andando para o local
exato em que ele deveria estar. O sinal mais forte
captado indicava um ponto de táxi, onde vários
taxistas ociosos       esperavam algum passageiro.
Como ela não estava resolveu verificar mais de
perto.
    Foi caminhando ao carro de onde o sinal parecia
estar vindo,          enquanto continuava olhando
discretamente no aparelho.
    -Olá tudo bem?
    -Vou bem, vai fazer uma corrida?
    Enquanto isso ele deu uma rápida olhada no
interior do carro.
    -Não eu só gostaria de pedir algumas
informações.
    -Por um acaso o senhor não teria feito uma
corrida para uma mulher à pouco tempo?
    -Fiz, para várias, e como é essa pessoa?
    -Ela é jovem muito bonita, deixe lhe mostrar
uma foto.
    Retirou a fotografia do bolso e mostrou ao
taxista.
    Ele ficou olhando um pouco, e falou que não
lembrava se havia feito uma corrida para essa
mulher.
    -É acho que não.
    -Sabe o que é, essa mulher estava carregando
um protótipo de um aparelho muito caro, e uma
peça, essencial deve ter caído, justamente prevendo
algo desse tipo,        e também por      motivo de
segurança, todas as peças carregam um sistema de
rastreamento, e por algum motivo o sinal mais forte
indica o seu veículo.
     -Você falou em peça? Não seria essa coisinha
brilhante parecido com um botão? Quando viu o
sinalizado, falou;
     -É essa peça mesmo, ainda bem que não o abriu
pois ela contém elementos químicos, muito
perigosos.
     -Fique com isso!
     Largou a peça na mão dele, assustado.
     -Não há o que temer desde não esteja aberta,
então ela esteve no seu carro?
     -Não, não esteve, eu achei isso numa pia de
banheiro de uma lanchonete. Eu estava tomando
algumas cervejas com alguns amigos, quando senti
vontade de ir ao banheiro, só que o banheiro
masculino estava ocupado, então o garçom falou
que poderia ir ao banheiro feminino, já que não
havia nenhuma mulher naquela hora, então quando
estava lavando as mãos vi essa coisinha brilhante,
presa no ralo da pia, por curiosidade e com jeitinho à
puxei, depois sem querer acabei colocando-a no
bolso, onde estava até agora, já nem lembrava mais.
     -Eu agradeço pelo senhor ter guardado, não
tanto pela peça mas pelo perigo que ela apresenta
as pessoas.
     -Não tem de que.
     Ele não quis perguntar qual lanchonete ele
achou o transmissor, pois de certo modo já sabia,
então despediu-se do taxista.
     -Até mais, obrigado!
     O taxista, apenas abaixou a cabeça, aliviado por
ter esquecido do tal objeto, escapando assim da
curiosidade de abri-lo.
     Enquanto voltava para o carro, ele começa à
analisar melhor a situação.
    -Agora as coisas estão começando a fazer
sentido,    provavelmente quando ela estava no
banheiro, percebeu que havia algo estranho no
botão de sua roupa, então a rasgou tirou e jogou na
pia do banheiro, a umidade então fez com que
deixasse de funcionar, voltando e emitir o sinal
depois de seco.
    Enquanto entrava no carro lhe vem a lembrança
de como isso tudo começou.
    Ela trabalhava em uma empresa              que faz
pesquisas e experimentos químicos. Durante uma
etapa de testes, um pequeno frasco contendo uma
substância recentemente pesquisada que foi
produzida com a mistura de vários produtos
químicos e até mesmo genes animais e que se
estava sendo testada uma provável aplicação,
escapou de sua mão e caiu no chão, espatifando-se
e espalhando o produto, com a queda produziu um
vapor, mesmo estando dentro das normas de
segurança, havia sido exposta ao produto.
    No ambulatório dentro da firma ela ficou
desacordada por alguns minutos, depois que
recuperou-se ficou sob quarentena, enquanto os
médicos à vigiavam, como não teve nenhuma
consequência aparente, após a quarentena ela
voltou ao seu posto de trabalho e assim continuou
seu trabalho normalmente por algum tempo. Depois
de algum tempo, começou aconteceu dela deixar
de fazer coisas rotineiras, ficava por longo tempo em
silêncio, outras vezes quando à chamavam ela não
respondia ficando imóvel, noutras trabalhava horas
sem parar superando seu ritmo normal, como se
tivesse sobre efeito de estimulantes, houve também
casos que ela esquecia o nome de seu próprio
colega de trabalho. Percebendo o que estava
acontecendo os chefes aconselharam que ela fosse
transferida de setor, porque poderia causar mais
algum acidente.
    Apesar dela ser um pouco jovem já estava muito
avançada em relação as outras pessoas de sua
equipe, todos sabiam que ela teria uma carreira
promissora pela frente, e era        uma excelente
profissional. Por receio de que ela possa estar
sofrendo algum efeito retardado da exposição ao
produto químico, apesar dela insistir que estava
bem, decidiram que ela deveria ser vigiada de
perto, porque ela poderia sem querer espalhar a
notícia que um acidente, liberou produto tóxico, se
isso chegasse a imprensa, poderia trazer sérias
consequências. Mas não à retiraram completamente
do seu trabalho, após os acompanhamentos médico,
ela voltava ao seu posto de trabalho, mas dedicando
as experiências mais simples, que não envolviam
riscos. Eles haviam lhe explicado que ela poderia
estar tendo alguma reação à exposição química, e
seria bom evitar contato com as outras pessoas, ela
estava ciente disso e entendeu e aceitou as novas
condições propostas. Ela passou à ficar na empresa
recebendo tratamento,      não estava confinada à
empresa, ela tinha liberdade para sair fazer
compras, lanches, mas deveria sempre avisar, e
assim foi sucedendo-se. Algumas vezes ela parecia
tão normal trabalhando com seus experimentos, que
nem      se   importava    com     seu   temporário
rebaixamento profissional.
    Então numa tarde tranquila ela passou pelo
porteiro, fez um sinal pondo a mão na barriga,
insinuando que estava com fome em seguida fez um
gesto com a mão que já voltava e saiu. O porteiro
balançou a cabeça e sorriu para ela pois era querida
de todos, o porteiro imaginou, como ela sugeriu
pelos gestos, que ela iria comprar algo para comer.
     O porteiro estava tão acostumado com o entra e
sai dela, que não percebeu que ela não tinha
voltado.
     Já era bem tarde, quando chega um outro
funcionário da empresa perguntando ao porteiro por
ela.
     Ele respondeu;
     -Ela não voltou? Ela saiu para fazer um lanche,
mas isso foi a mais de três horas, eu achei que ela
tinha voltado.
     Rapidamente ele retorna para dentro da
empresa, para avisar aos seus superiores que ela
poderia ter algum problema...
     Então fui incumbido de procurá-la.
     Aqui estava e para ele não havia mais o que
fazer pois definitivamente não teria como encontrá-
la sem o sinalizador.
     Ligou para o seu superior, lhe informando sobre
a situação atual.
     -Senhor, não há mais como encontrá-la, eu
encontrei o sinalizador e está comigo, de alguma
forma ela descobriu e livrou-se dele.
     Lhe ocorreu então de perguntar:
     -O computador que ela usava está ligado em
rede?
     -Todos os computadores da empresa estão
ligados
em rede, por quê?
     -De repente me deu uma curiosidade de saber o
que ela estava fazendo.
    -Ela   não   estava    trabalhando    em   nada
importante, nós à separamos do projeto principal.
    -Se o que me veio na cabeça, for verdade, o
senhor poderá ter uma surpresa. Me passe o
endereço eletrônico dela, que eu vou procurar alugar
um terminal.
    Logo em seguida o seu chefe lhe passa o
endereço eletrônico, então ele sai à procura de um
computador.
    Em poucos minutos ele encontra um clube, onde
jovens se reuniam para se divertirem com jogos
eletrônicos.
    Perguntou ao dono do estabelecimento se havia
algum computador ligado à internet.
    -O senhor poderia me informar se há algum
computador que eu possa alugar e acessar a
internet?
    -Todos os computadores são ligados a rede,
todos os jogos são realizados com participação de
outros jogadores via internet, se quiser usar pra
outras coisas também alugo.
    -Que bom era disso que precisava!
    Após acomodar-se numa cadeira, ele ativa o
computador, que estava em espera, entra no
navegador e digita o endereço, demorou um pouco
mas logo ele está no servidor principal da empresa e
que exibe um belo logotipo.
    Numa janela que se abre ele digita mais um
endereço que não é acessível à estranhos, somente
ao digitar sua senha, aparece outra janela onde um
gráfico mostra todos os outros computadores da
empresa. Ele procura o ícone do computador
referente ao que ela estava trabalhando, uma
mensagem aparece solicitando uma outra senha.
Bateu com as mãos fechadas sobre a mesa, pois
certamente só ela sabia a senha e como não era
muito entendido em computador ele não conseguiria
ter acesso aos arquivos.
     Mas isso não passou desapercebido, pois logo
apareceu um rapaz esquisito meio narigudo.
     -Problemas, não consegue acessar?
     -Pois é, não consigo acessar sequer o
computador da empresa onde trabalho.
     Ele olhou para o monitor e falou.
     -Está protegido por senha, você só vai conseguir
se pedir “emprestado” a senha.
     -Sem     chance    a   dona     do  computador
desapareceu, é isso que estou tentando fazer,
encontrá-la.
     -Você não entendeu, eu posso conseguir a
senha, por uma pequena contribuição para os
menores.
     -Há! Então você é um racker, mas não se parece
com os racker`s que aparece na tevê.
     -É que estou disfarçado.
     -Mas você parece normal. ]
     -Pois é estou disfarçado de uma pessoa normal,
quem é que vai desconfiar? Mas antes lhe aviso é
ilegal e se alguma coisa acontecer, eu nem mesmo
sei mexer em computador, negarei tudo e qualquer
coisa.
     -Quanto?
     -Cinquenta, tá bom?
     -Pode começar.
     Saiu da cadeira e deu para o rapaz sentar-se, ele
retira um pequeno cd          do bolso e coloca no
compartimento de cd do computador.
-Essa belezinha nunca me deixa na mão.
     Logo na tela do computador aparece uma janela
com as inscrições: iniciando o programa, um novo
programa se abre, ele aperta uma tecla que abre
uma tela com letras inteligíveis, fecha-se então,
abrindo outra que começa à mostrar a letra x uma
após à outra, indicando que algo estava em
andamento.
     O racker falou pra ele relaxar que ia demorar
um pouquinho.
     Após alguns minutos, alguns números começam
à passar rapidamente.
     Então para e na tela aparece a possível senha.
Ele anotou num papel para não esquecer. Então
retira o cd do compartimento e guarda no bolso, e
fala;
     -Aqui está a senha.
     Ficou com o papel na mão, insinuando que
deveria receber.
     O investigador então pega a carteira, retira
cinqüenta reais e dá ao racker, e pega o papel.
     -Obrigado     pela    “doação”   as     “crianças”
agradecem.       Ele deu uma olhada ao racker como
se quisesse dizer “cara de pau”, e balançou a
cabeça negativamente.
     -É para as crianças sim, eu tenho filhos...
     Deu um leve sorriso, voltou à sentar-se. Abriu a
caixa onde aparecia para digitar a senha, e assim o
fez. Logo teve acesso aos arquivos dela.
     Então ele falou ao ,racker;
     -Valeu, você é bom mesmo!
     -Não tem de que, a gente se vê por aí.
     Começou a procurar pelo correio eletrônico, pra
ver se achava em alguma mensagem uma possível
pista, entre umas e outras mensagens não achou
nada suspeito.
     Resolveu ver em que pesquisa        ela estava
trabalhando, entre formulas e gráficos também não
achou nada interessante. Então havia uma pasta
onde estava escrito “eureca”, e achou curioso,
quando tentou ver o conteúdo clicando na pasta,
havia dois arquivos executáveis, eram algum
programa, ficou pensando no qual ele iria abrir
primeiro, então clicou em um ícone em forma de
uma lâmpada do aladin. Então aparece uma caixa
dizendo: Digite a senha. Então ele digita a mesma
senha que ele usou antes. Outra mensagem pediu
para confirmar, ele confirmou. Então aparece outra
caixa onde dizia: senha inválida, acesso não
autorizado, apagando todos os arquivos. Uma barra
aparece indicando o andamento. Apertou a tecla
Esc. para abortar, mas nada adiantou
     Ele passou à desconfiar que ela não era tão
santa como parecia, ficou pensando que ela estava
fazendo algo sem o conhecimento da empresa, só
poderia pois chegou         restringir o acesso ao
computador à ponto de chegar apagar o conteúdo
do disco caso fosse violado.
     Já não havia mais o que procurar, mas com
certeza alguma coisa estranha estava acontecendo
e ele estava decidido a descobrir e falou consigo
mesmo;
     -Vou ter que voltar ao começo e tentar localizar
o homem que estava com ela.
     Levantou-se foi até o balcão onde pagou uma
pequena taxa pela utilização do computador, e saiu.
     -Como não pensei nisso antes? Se o sinalizador
foi achado na lanchonete, prova que ela esteve lá, e
se ela esteve lá, foi ela mesmo que o garçom viu
acompanhada de um homem, vou ter que tentar
achar o homem.
    Enquanto voltava ao carro, ficou tentado à
invadir a casa, do suposto homem que estava em
companhia dela, para ver se conseguia encontrar
alguma coisa que pudesse indicar seu possível
paradeiro.
    Voltou ao veículo e se acomodou, colocou as
chaves na ignição dando a partida em seguida,
arrancou, já com rumo decidido.
    Pouco depois ele se encontra no bairro onde ele
já havia estado de manhã, algumas quadras a mais
ele chega na rua, então ele para o carro, um pouco
distante da casa, desliga o motor, mas não sai, de
dentro do carro ele fica olhando para ver se há
alguma movimentação na casa. Nota que a luz que
estava acesa na noite anterior continuava acesa. Ele
liga o rádio, enquanto ouve uma música, fica por
alguns     minutos     olhando,     como   não   viu
movimentação alguma decidiu sair do carro,
atravessou a rua e foi discretamente andando pela
calçada, quando chegou perto percebeu o que ele
não tinha visto antes, havia algumas cartas na caixa
do correio que não haviam sido corretamente
colocada, então diminuiu os passos, quando chegou
bem próximo da caixa puxou os envelopes
rapidamente e colocou-os no bolso, continuou
andando até a esquina, atravessou a rua e voltou
para o carro, entrou no carro e arrancou.
    Procurou uma outra rua menos movimentada, e
novamente estacionou, então pois se a verificar os
envelopes,     primeiro    verificou   o  nome    do
destinatário, todas as cartas estavam endereçadas à
mesma pessoa, que provavelmente seria o suposto
homem que estava com a mulher, mas não abriu os
envelopes, tão somente um que lhe interessou que
era a fatura de telefone. Abriu o envelope e passou a
olhar as chamadas telefônicas que ele havia
recebido, pensou que pudesse reconhecer algum
número, mas não havia nem um conhecido.
    De posse da fatura telefônica, ele pegou o seu
próprio celular e discou para o número principal da
casa, insistiu várias vezes, o telefone chamava, mas
ninguém atendia, com certeza ele não está em casa,
estava tentado à invadir a casa, já que pelo visto
não havia ninguém, mas desistiu, escolheu um outro
número      e    discou,    logo     alguém   atende,
cumprimentou e perguntou quem estava atendendo.
A pessoa mostrou-se receptiva, falou que estava à
procura de um amigo seu, arriscou o nome que
estava na fatura e perguntou;
    -Como eu disse ele é um velho amigo, vim fazer
uma visita à ele, mas não o encontrei em casa, já
liguei também
e ninguém atende o telefone, o vizinho dele me
disse que vocês são conhecidos e poderiam me
informar melhor.
    Arriscou umas mentiras e deu certo, a voz
amigável fala do outro lado da linha.
    -Conheço, sim somos parentes, eu não sei onde
ele se encontra, mas posso te dar o número do
celular dele.
    -Seria muito gentil de sua parte.
    -Tenho dois números, um dos dois é o dele, tem
uma caneta aí?
    -Tenho sim, pode falar
    Enquanto prendia o celular pelo ombro pegou
uma caneta, e anotou os números do celular na
palma da mão. Literalmente com os números
telefone na mão, ele disca o primeiro, 91052134 em
seguida ouve o tom indicando que estava
chamando, esperou um pouco            mas ninguém
atendeu.



                   CAPÍTULO 10

    Jasmine levou a mão à pequena cachoeira e
falou;
    -Nossa! Como é gelada, e é tão cristalina.
    Juntou as mãos em forma de cuia, e encheu de
água e jogou no rosto, logo depois ela enche de
novo a mão e então toma alguns goles. A água
escorria pelo vão dos dedos, voltando para o
pequeno leito. Eu também enchi as mãos de água
para beber, enquanto molhava a cabeça pra ver se
passava um pouco o cansaço, apesar de ser uma
pequena cachoeira a água jorrava com força devido
a altura que vinha, os respingos escorriam pelo meu
pescoço molhando parte da minha camisa. Em
outras condições, provavelmente molharia Jasmine,
mas ainda era cedo e ainda não havia esquentado
então descartei a ideia , pois quem acabaria saindo
molhado da brincadeira seria eu mesmo, e não tinha
nem uma roupa de reserva.
    Subindo de volta ao mirante, ouvi bem distante
um som de telefone chamando, e achei estranho
pois o telefone estava no carro e a distancia que o
carro estava, não era para se ouvir, continuei
subindo, me agarrando em raízes e pequenos
troncos, pouco à frente de Jasmine, de vez em
quando parava para ajudá-la, subir era mais difícil
do que descer.
    De novo no mirante, vou ao carro verificar o
telefone, peguei o telefone e olhei no visor, percebi
que não havia nenhuma chamada perdida.
Estranho... Quando já estava colocando o telefone
de volta sobre o painel, ele toca, me dando um
pequeno susto, fiquei intrigado imaginando até que
estava ficando doido pois pouco antes achava que
tinha ouvido o telefone tocar e não havia e agora
que toca ninguém responde.
    -O que aconteceu? Perguntou Jasmine.
    -Alguém ligou mas não falou nada, pode ter sido
engano, e nem deve ser importante pois o número
não é de alguém que eu conheça, e se for
importante, não tardará religar.
    Foi uma manhã diferente de todas que já passei,
e estava feliz como pouca vezes.
    -Vamos embora? Precisamos descansar, nem
tudo é alegria ainda temos que procurar solucionar o
teu problema.
    -Mas já? O mar daqui parece verde, pena que
está longe.
    -Que pique que você tem, parece que não sente
sono.
    Estava mesmo cansado, mas, sabe lá quando
que vou poder fazer isso novamente, normalmente
sou um cara difícil de dizer não e nem seria agora
que iria dizer.
    -Vamos fazer o seguinte, nós vamos voltar por
um outro caminho, é mais longo, mas a estrada é
melhor, vamos pelo menos poder passar pela praia.
    Peguei na mão dela e à puxei para o carro
-Você vai me levar pra ver o mar, mesmo?
    -Ué? Você não quer ir?
    -Quero, não precisa ser hoje, eu sei que você
está cansado vamos numa outra oportunidade.
    -Agora já me decidi, e se eu resolvo fazer
alguma coisa e acabo não fazendo fico muito
frustrado.
    Ela abriu aquele sorriso típico , que todo
mundo já viu e conhece, daquele que desmancha
a gente, deixando-nos indefeso como um coelho
para uma onça.
    Ela olhou para mim e percebeu em mim um sutil
sorriso, e então me perguntou;
    -Por que você está com esse sorriso estranho?
    Eu falei;
    -Nada só bobagens que veio na cabeça.
    Na verdade estava pensando que se ela me
falasse que era um demônio, se bem que algumas
mulheres se comportam como tal, fazem o que
querem de seres indefesos chamados homens,         e
me pedisse para leva-a até o inferno, meio
contrariado, provavelmente à levaria.
    Entramos no carro, liguei o som para relaxar, em
seguida dei a partida, nós estávamos bem no alto da
serra, então continuamos à descer, bem devagar,
pois a estrada é estreita e cheia de curvas. Logo
abaixo em alguns trechos,       a estrada seguia o
contorno de um rio pedregoso, aonde fosse o rio a
estrada o seguia, íntimos, que pareciam-se
namorados. Mais um pouco à frente algumas
pessoas, com seus instintos ancestrais primitivos
aflorados faziam um pequeno acampamento.
    Passamos por dentro da cidade que havíamos
visto do alto da serra, era uma cidade muito antiga
quase da época do descobrimento, mas não
paramos, passamos direto em direção à outra cidade
que era banhada pelo mar, afinal ela queria
conhecer o mar.
    Alguns     minutos     depois    já   estava-nos
aproximando da baía,        atravessamos o pequeno
centro da cidade, e entramos numa avenida que
chamavam de avenida beira mar, após uma curva
já era possível ver o mar, grandes ondas morriam na
areia da praia, ainda no carro andamos mais ou
menos dois quilômetros de praia deserta, sem ver
nenhuma pessoa, afinal ainda era cedo e num
domingo, quando as pessoas dormem até mais
tarde. Estacionei o carro, e fomos caminhando na
areia da praia, até bem próximo de onde as ondas
morriam, Jasmine agachou-se e retirou o tênis
amarrou-o um no outro com o cardaço, também fiz o
mesmo e continuamos à caminhar pela praia,
estávamos andando juntos de braços dados, ela
balançava o tênis, demonstrando estar muito feliz.
Uma onda um pouco mais forte fez com que a água
molhasse nossos pés, então ela me abraçou-se à
minha cintura, como se procurasse        segurança,
talvez porque a água estivesse gelada ou
provavelmente por puro charme e sorriu. Se eu
novamente procura-se palavras para explicar a
sensação que sentia provavelmente não conseguiria.
Fomos até uma grande pedra que dividia a praia,
mas não à transpassamos, resolvemos voltar dali,
ela ficava fascinada, com a beleza do mar que agora
parecia mais azulado do que verde, ela fazia questão
de andar por onde a onda chegava, à cada nova
onda as marcas de nossos pés que ficavam na areia
desapareciam.
Lembrei-me de quando numa reportagem um
homem falou que a atração que o ser humano tem
pelo mar, é pelo fato de a vida ter surgido nele.
Faltava bastante para chegar ao        carro, ela sai
correndo na areia erguendo os braços como se
estivesse agarrando à vida, eu continuei lentamente,
ela parecia tão feliz, vi de longe quando ela chegou
e encostou-se no carro enquanto me esperaria.


                    CAPÍTULO 11
    A noite havia acabado e era domingo, e o
homem que havia bebido algumas cervejas com os
colegas, já havia levantado, mesmo após ter ido
dormir tarde. Parecia muito bem, ao contrário do que
deveria aparentar após uma noite de bebedeira.
    A sua esposa já tinha preparado o café, e seus
dois filhos estavam na mesa. Após ter tomado um
banho, foi até a cozinha, e beijou a sua esposa.
    -Nossa! O que aconteceu? parece radiante.
    -Não sabia que beber, fazia tão bem -Falou a
esposa
    -Não bebi tanto, mas me diverti muito ontem à
noite, com alguns colegas. Antes disso eu não
estava legal.
    -O que aconteceu?
    -Alguns amigos me encontraram e fomos beber
cerveja, foi lá que esqueci de procurar sentido pra
minha vida, agora percebo que se a gente procurar
razão pra vida, perderá a vida procurando e
certamente não encontrará.
    Ela falou.
    -Explique melhor.
    -Estava meio deprimido, sempre fico ouvindo
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O elemento vital

  • 1.
  • 2. O elemento vital O elemento Vital -[Brasil]: Agosto 2004 85 paginas. CRA: Nº Registro: 329.308 Livro: 603 Folha: 468 Autor: Simeão de Souza Marchiori Prólogo Se pudéssemos nos transportar às mais variadas dimensões, fluir livremente nos universos paralelos que mais intrigam a existência humana, poderíamos aventurar-se nas mais incríveis experiências, explorar dimensões onde a realidade, a física, a ficção e a própria existência se confundem. Nesta historia veremos como isso seria possível. xxxxx Esse é o meu primeiro romance, não sou escritor, apenas coloquei no papel um ideia que tive Propositadamente procurei usar uma escrita atual visando uma leitura acessível e agradável para todos. Dedicado aos meus pais, e alguns raros amigos, que respeitam a minha modesta natureza artística. Espero que os erros não prejudique a interpretação.
  • 3. CAPÍTULO 1 T arde de Sábado, algumas poucas nuvens brancas pairavam com infinita paciência no céu azul, estava quente porém agradável, eu estava andando sem muita pressa no centro da cidade onde moro, considerada uma grande metrópole com seus grandes edifícios cinzas fincados na terra desafiando o céu. Muitas pessoas de tipos variados iam e vinham, integrando-se e contribuindo com sua parte ao terrível e ao mesmo tempo belo caos urbano, e assim aproveitando a conflitante tarde de folga para gastar seus ganhos quase sempre justo, satisfazendo e realizando seus desejos, provavelmente atiçados por algum comercial da tevê, comprando todo tipo de quincalharia, e claro coisas realmente essenciais, bem ou mal, contribuindo com sua parte para o funcionamento de uma intrincada máquina chamada sociedade humana. Mesmo acostumado com a agitação de uma cidade grande e vitrines, volta e meia a gente se depara, olhando para uma vitrine sempre há alguma novidade ou... algum objeto que nos chama a atenção. Se existe realmente o sexto sentido, ou será o sétimo? devia estar presente agora, porque enquanto olhava a vitrine, senti uma sensação estranha, pressentia que algo estaria por acontecer, porém não dei importância e logo me distraí, continuei caminhando, sem muita pressa, volta e meia voltava a sensação, então calmamente parei e passei a olhar disfarçadamente para os lados só
  • 4. para ter certeza que estava tudo normal, as pessoas continuavam indo e vindo, tudo parecia normal, então voltei a andar. Quando passei em frente à uma loja, um produto em exposição me chamou a atenção, então fiquei olhando, totalmente distraído, instintivamente e sem motivo olhei para o lado e dentre a multidão vi surgir uma garota, muito bonita, que deveria ter uns vinte e poucos anos, não era alta nem baixa, eu diria o normal, pele clara, cabelos dourados e lisos, pouco abaixo dos ombros, olhos esverdeados, uma enorme menina dos olhos que a deixava meio... angelical. Até aí tudo normal, há muitas pessoas com essas características ou esses dotes por aí, há não ser o fato que estava vindo justamente em minha direção, quando chegou bem perto de mim parou, ficou me olhando, totalmente imóvel, eu sem entender o que se passava, os poucos segundos pareciam uma eternidade, instintivamente admirava todo o contorno do seu corpo, parecia irreal, como uma escultura perfeita moldada pelo mais hábil escultor em seu momento de maior inspiração, e naquele rosto de queixo suavemente arredondados, lábios vermelhos, provocantes, que enfeitiçaria qualquer cidadão normal. Ela trajava roupas modestas, destas que os jovens costumam usar, uma calça jeans apertada no corpo, uma camiseta cinza de seda que parecia meio prateada, e com um grande degote, que lhe proporcionava um certo ar futurista, e tão curta que dava para ver seu pequeno umbigo, flutuando, como que se estivesse suspensos por jovens pelos dourados. Aproximou- se tanto de mim que tive que recuar um passo, poderia até beijá-la se quisesse e sem que ela
  • 5. pudesse reagir, mas claro que esse não era o caso. Pelo meu conceito de beleza ela seria uma mulher perfeita, numa visão poética pra exemplificar como me sentia, eu diria me que me sentia ao lado de um anjo. Talvez até seja outras pessoas não a vissem assim, ou um pouco de exagero da minha parte, mas a verdade é que ela fazia meu gênero. Poderia ser tudo aquilo que sonhei na vida, pelo menos fisicamente. Isso tudo passou muito rápido e nesse mesmo tempo indagava... Porque ela me olha? Será que ela confundiu-me com alguém? Talvez queira alguma informação. Tentava manter-me mais natural possível mas meu coração batia na garganta, tão forte que se alguém chegasse mais próximo não duvido que pudesse ouvi-lo. Ali estava ela parada, olhando-me, sem falar uma única palavra como se estivesse me analisando ou fazendo um reconhecimento, enquanto ela olhava pra mim seus olhos me hipnotizava, eu como uma presa dominada tremia e a admirava, ao mesmo tempo as pessoas passavam por nós indiferentes. Finalmente ela falou, eu me distraí olhando seus dois dentes da frente que combinava perfeitamente com o discreto sorriso que esboçava ao falar. Foi quando finalmente voltei a mim, balancei levemente a cabeça, pedi desculpas e o favor que repetisse o que havia falado. Ela falou: -Puxa! É você mesmo! Como foi bom te encontrar.
  • 6. Finalmente prestei atenção. Tudo nela me agradava até mesmo a sua voz, suave e clara. Como não tinha a menor noção do que se tratava, e quando ela falou que me procurava me deixou ainda mais intrigado, então perguntei; -Como você vem me procurando? Não me lembro de conhecê-la, aliás nunca esqueceria se a realmente tivesse a conhecido. Você me conhece? Ela apenas balançou a cabeça afirmando que sim, depois perguntei seu nome, ela ficou calada, como se quisesse emitir um som, mas não pudesse, dando a sensação que não poderia dizer seu nome, ou que nem mesmo nome teria. Instintivamente a fiz algumas suposições; Será que ela está com amnésia e não se lembra de seu próprio nome? Provavelmente está me confundindo com outra pessoa. -Acho que você está me confundindo com outra pessoa, porque realmente não a conheço. Ela fica meio aflita, e insiste em dizer que me conhece. Eu curiosamente perguntei de onde, ela me conhecia. -Eu não sei estou um pouca confusa, nem sei lhe explicar, mas eu sabia que iria te encontrar aqui e quando eu o vi, logo reconheci, de alguma forma eu lhe conheço. Ela está confusa, talvez não esteja passando bem, pensei. Também não posso negar um pedido de ajuda. Algo grave poderia estar acontecendo isso aguçou minha curiosidade, falei pra ela que precisava ir a uma loja e se ela quisesse poderíamos conversar enquanto andávamos, ainda meio desconfiado olhei discretamente para os lados para ver se não estava-nos sendo seguido ou caindo em
  • 7. algum tipo de cilada, mas não vi nada suspeito. Seguimos em direção à uma loja de tintas, onde eu pretendia comprar alguns materiais, antes de ter encontrado a tal jovem. Sempre tive o hábito de andar com os braços cruzados ou com as mãos no bolso, imagino que isso faça parte do meu complexo de mim mesmo, ou seria timidez, não sei. Más para minha surpresa, e sem menor cerimônia, ela primeiro cruzou os seus braços no meu, como se eu lhe oferecesse segurança, mas não se contentando, me abraçou pela cintura, apertando-se contra mim, como se já fossemos íntimos, me senti estranhamente confortável. Andamos um pouco e já dava para avistar a loja. Chegando à loja encostei-me ao balcão, prontamente um vendedor vem me atender, notei que deu uma olhada na moça, talvez estranhando, pelo fato que sempre vou à loja desacompanhado. -”Vê” pra mim uma lata de tinta branca acrílica. -Mais alguma coisa? -Um pincel de duas polegadas e um pincel de ceda de meia polegada, só. Assim que ele emite a nota, dirigi-me ao caixa para pagar, e voltei para pegar o embrulho, quando estava saindo a moça do caixa me chamou. -Moço não vai querer o troco? Bati a mão na testa e sorrindo meio sem graça, voltei pegar o troco, eu ainda estava meio atordoado. A moça que encontrei ou melhor que me encontrou, me seguia o tempo todo. Com a compra feita saímos da loja, e continuamos a caminhar já era meio tardinha, o sol ruborizado como minha própria timidez, nos
  • 8. presenteava com uma bela e avermelhada tarde. Caminhando algum tempo afastando-nos do centro da cidade. Sem falarmos nada um pro outro, ela junto a mim como se não pudesse me perder, era estranho. As primeiras luzes dos postes começavam à acender, o comércio estava fechando as portas, enquanto outros estavam abrindo, como é o caso de uma pequena lanchonete que costumo frequentar, e que tinha acabado de abrir, o dono, que era um homem meio gordo, estava com um jaleco branco na mão, encostado na porta se espreguiçando. Como era sábado, e realmente não estava a trabalho, apenas pretendia fazer uns pequenos retoques na pintura da casa no domingo, e hoje eu não tinha pressa para nada e essa situação me oras me deixava com um conflitante desconforto, ofereci algo para ela beber ou comer, enquanto isso procuraria conversar com ela sobre o que estava acontecendo, esse encontro não foi e não era normal, portanto algo estava acontecendo e eu pretendia descobrir o motivo, ela aceitou sem problemas, entramos, puxei a cadeira para que ela sentasse, sentei em seguida. Falei para o dono da lanchonete para continuar nos preparativos da lanchonete antes de nos atender, afinal ele havia acabado de abri-la. Falei para ela que precisava ir ao banheiro, ela se ajeitou na cadeira e nada falou, aliás não falamos praticamente nada até agora. Antes de me levantar, o garçom trouxe o menu, então pedi à ele que trouxesse uma cerveja, e um suco para a jovem e dois lanches, em seguida fui ao banheiro. Todo mundo tem seus complexos. E eu tenho
  • 9. mais de um, entre eles, não consigo urinar se tiver mais pessoas no banheiro, mas nesse momento não tinha ninguém, e estranhamente não consegui urinar, mesmo estando com uma certa vontade. Como não urinei, fui ao lavatório, onde acima tinha um pequeno espelho trincado, enquanto lavava as mãos minha imagem refletia desenquadrada no espelho. Eu falava pra mim mesmo no espelho -Que coisa! Quando eu imaginava ela me acompanhando, havia momentos que nem queria saber o que estava acontecendo, mas a realidade era outra, isso me intrigava, melhor voltar para mesa e continuar e esperar uma oportunidade para puxar o assunto. Como não havia toalhas, bati as mãos na calça para secá-las, quando retornei, o garçom já havia servido a cerveja e o suco, enchi meu copo, ofereci o suco, mas ela recusou. -Não obrigada, não tenho vontade. -Fale sobre você, até agora não sei quem você é, de onde veio, o que realmente está acontecendo, se você estiver com algum problema talvez possa ajudá-la. Seus olhos avermelharam como se fosse chorar, mas nenhuma lágrima escorreu. Pelo menos agora eu tenho certeza que ela tem algum problema, já é um começo. Ela levou as mãos aos olhos, e antes que ela voltasse à abaixar completamente, segurei- as, falei que eu queria lhe ajudar, mas precisava que ela se abrisse comigo. Ela começou a falar. -Eu não lembro quem sou, de onde venho, do meu nome, não lembro o que aconteceu
  • 10. ontem, nada. De repente como se do nada, eu estava andando na rua. E quando eu te encontrei, senti uma sensação de alívio, como se algo me dissesse, que você poderia me ajudar. Sinto como se já o conhecesse. Voltei à fazer suposições. Está parecendo que ela perdeu a memória, por algum trauma talvez, quem sabe foi assaltada ou raptada? -Você me deixa numa situação difícil, como vou poder ajudá-la? Você tem documentos? Posso te levar à uma delegacia, se quiser ou até mesmo à um hospital. -Não tenho documentos... Posso ficar com você por enquanto? Não me deixe sozinha, talvez daqui a pouco eu recupere minha memória, e tudo se resolve, diga que sim. Ainda acho que deveria tê-la levado a uma delegacia, não sei porque mas voltei à pegar as suas mãos confortando-a. Ela sorriu, como ganha-se um novo ânimo, e falou que não adiantava ficar preocupada sendo que cedo ou tarde as coisas deveriam se esclarecer. -Você acha que me conhece, mas não me conhece, não tem medo de ficar com estranhos? -De você não. Ela sabia que tinha encontrado a pessoa certa, eu de certa forma também, senti aliviado por ela, sabe lá o que poderia acontecer com uma garota perdida numa cidade como essa. O tempo estava passando, eu havia apenas tomado alguns goles de cerveja e sequer estava com vontade de comer o lanche, ela por sua vez, após se sentir confortada, começou à comer com uma certa voracidade, como estivesse semanas sem
  • 11. se alimentar, debrucei-me com os cotovelos apoiados à mesa, achava graça e me deliciava em ver seu apetite repentino, e nem se importava com o molho de tomate que escorria pelo seu queixo. Após ter lanchado, ela pegou um guardanapo e limpou os lábios, então eu peguei outro guardanapo e limpei suavemente do seu queixo, um pouquinho de molho que ainda restava bem juntinho aos lábios. Um beijo resolveria, poderia parecer anti- higiênico, mas e daí? Mas isso não passava de uma fantasia minha... Ela agora estava mais à vontade e saciada. -Já que eu não lembro de mim, fale-me de você o que você gosta seus sonhos... Nem mesmo saberia o que dizer sobre mim, mas mesmo antes que tenta-se, ela falou... -Apesar de você ser pintor, não é o que realmente gosta, acertei? -Acertou, até parece que me conhece mesmo, já que é assim, tente adivinhar do que eu mais gosto de fazer. -Hum! Deixe-me ver, você tem um jeito de gosta de coisas artísticas, escultor não, desenho talvez. -Você me assusta garota. Gosto de tudo que seja arte, escrever, tocar música, mas minha vocação desde de criança foi desenhar, me sinto muito a vontade com um lápis na mão, meu desejo é um dia construir meu próprio estúdio. -Gostaria que você me mostrasse algum trabalho seu. -Não tenho algo que valha a pena mostrar, mas posso lhe mostrar alguns desenhos que já fiz. -E você não lembra nada mesmo? Todo mundo
  • 12. tem uma história pra contar, por falar em você, onde você acomodou-se nesses dias e aonde vai passar hoje? -Puxa! Sabia que eu não havia pensado nisso? Seu semblante mudou, notei nela um certo ar de preocupação. -Mas não se preocupe, você poderá hospedar-se na minha casa o quanto tempo necessitar. Ela me ofereceu um belo sorriso como agradecimento. Acenei ao garçom e pedi que trouxesse a conta. Logo ele volta. -A despesa. Não gastamos muito, peguei dez reais, dei ao garçom e falei que ficasse com o troco, enquanto isso ela foi lavar as mãos no banheiro, mas logo voltou então saímos. CAPÍTULO 2 Dois homens, que pelo que parece, resolveram começar a noite mais cedo, pois já estavam bêbados, quando entraram naquela mesma lanchonete, sentaram e pediram uma cerveja, estavam muito sorridentes, típico dessas pessoas que só bebem de vez em quando, e curtem o máximo o grande momento de “embriagues”, não faziam provocações, achavam graça de qualquer assunto, riam das piadas que para eles pareciam realmente engraçadas. Começaram conversar “filosoficamente” sobre a natureza humana, se é que isso seja possível para
  • 13. bêbados. -Já percebeu que a personalidade da gente depende das pessoas de nosso convívio, até mesmo sofremos influência das pessoas que não são muito chegados a nós? -Porque está falando isso? -Há, sei lá! Por exemplo se acaso eu tivesse crescido junto de índios, eu iria me sentir um índio nato mesmo sendo um branco, e se um índio fosse criado numa família em alguma cidade, ele certamente iria sentir um urbano, desconheceria sua origem indígena, ou seja o que nós somos depende do ambiente em que vivemos, e das pessoas que nos cercam, somos fisicamente partes em proporções diferentes do nosso pais, e psicologicamente, recebemos um pouquinho de personalidade de outras pessoas que conhecemos, -Então“D.N.A” não significa nada, a cultura em que vivemos é tudo, ou seja somos um pouquinho de todos, não somos o que pensamos que somos. - “Mardita” cerveja, tá vendo o efeito que dá? CAPÍTULO 3 Enquanto caminhava-nos ela me perguntou para onde eu iria, falei que era em direção à minha casa. -Não vai ser incômodo se eu for com você, vai? -Se você for algum tipo de demônio disfarçado, então já estou condenado. Nem sequer imaginei que ela iria achar graça, mas ela soltou uma espontânea gargalhada, e
  • 14. abraçou-se a mim, me deixando sem jeito. -Você não tem com o que se preocupar, pode considerar minha casa como fosse a sua própria casa. -Posso lhe fazer uma pergunta pessoal? -Claro que pode! -Falei. -Você mora com alguém? -Se você está se referindo à esposa ou namorada a resposta é ainda não. -É que não gostaria de arrumar problemas com sua família. -Quanto a isso não há problema. -Pelo jeito é exigente com as mulheres- Ela falou. -Pelo contrário. Sou muito tímido, é um defeito imperdoável eu sei, as vezes me sinto angustiado de ser assim. Dificilmente eu chego em alguma mulher, por mais interessado que eu esteja, até já fiz isso e não deu certo, e me senti muito mal. O que eu tento, é chegar como um amigo qualquer e do meu jeito fazer a pessoa se interessar por mim, depois esperar que ela dê um sinal, aí será meio caminho andado. -Como seria esse sinal? -Seria um recadinho mais ou menos assim; O trouxa não vê que quero namorar com você.- Ela riu, e perguntou; -Mas e se a outra pessoa for tímida também? -Aí vão ser dois bobos que se gostam, solitários. -Mas não se preocupe tudo tem seu tempo, e todos tem alguma limitação. Tem momentos que ela se parece muito segura. Fiquei pensando; Seria agora o meu tempo? Continuamos caminhando, e o centro da cidade foi ficando mais distante, pois moro num bairro próximo do centro, ela ficou ainda mais à vontade
  • 15. comigo, mas ao mesmo tempo que me meu lado emocional estava em êxtase, a minha razão se comportava arredio com a situação, afinal faziam poucas horas que nos conhecemos. Assim que chegamos, o cachorro muito magro, que não era de fome, pois era muito bem tratado, veio nos receber fazendo a maior festa, como ele sempre faz quando alguém chega. A porta não estava trancada, ela entrou primeiro, falei para ela se acomodar no sofá, que eu iria tomar um banho rápido pois estava meio suado. Fui ao meu quarto e peguei algumas roupas e uma toalha limpa e fui tomar banho. Enquanto deixava a água do chuveiro escorrer pelo meu rosto sentia que não havia nada confortante como um banho refrescante no final do dia, alivia a tensão, rejuvenesce o espirito e faz a gente raciocinar melhor. Após me secar e vestir outra roupa, penteei o cabelo, e passei algumas gotinhas de perfume sobre a camisa, voltei ao quarto. Em seguida trouxe uma outra toalha limpa para ela, enquanto lhe dava a toalha, sentei ao seu lado, falei que infelizmente não tinha nenhum tipo de roupas femininas para emprestá-la. Falei pra ela que podia usar o meu quarto, até mesmo para dormir que eu ficaria à vontade nesse “confortável” e rasgado sofá. Antes que ela entrasse à alertei; -Só cuidado para não tropeçar na bagunça, porque normalmente eu deixo espalhado pela quarto as telas, pinceis tintas, os meus apetrechos de passatempo. Mais uma vez ela esboçou um belo sorriso, num misto de malícia e acanhamento, seguiu ao quarto,
  • 16. demorou um pouco, provavelmente, enquanto se despia distraía-se olhando os desenhos espalhados por toda a parte, devo imaginar que ela tenha deixado suas roupas sobre a cama, se enrolando então à toalha, logo após seguiu ao banheiro, bem pequeno por sinal e bastante modesto, afinal não sou de origem rica. Liguei o aparelho de som, num volume baixo e me acomodei no sofá, aliás, me “estarrei”, é como nós dizemos por aqui quando alguém se acomoda à vontade sobre o sofá, ouvindo o som, fiquei imaginado ela se ensaboando, começando a passar o sabonete pelo seus braços, seios, deslizando até sua cintura e pernas até chegar aos pés e depois de alguns minutos e após um delicioso enxague, suavemente a toalha deslizaria por todos os contornos do seu corpo, secando-o. Logo ela sai do banho, com a toalha enrolada ao corpo, foi ao quarto e tornou vestir as suas roupas. Normalmente aos sábados, a essa hora estaria me preparando para sair para curtir a noite, mas hoje não vou sair, vou ficar fazendo companhia a ela. Após recolocar suas roupas, ela volta com os cabelos ainda úmidos e senta-se. -Se você quiser dormir, fique à vontade usando o meu quarto, Hum... Mas ela não tinha nome, pelo menos ela ainda não lembrara. -Eu fico por aqui mesmo no sofá. A combinação de seu corpo com xampu, ou sabonete, exalava uma suave e sedutora fragrância... ...jasmim? Pensei. -Posso te chamar Jasmim? Não! Melhor, Jasmine
  • 17. para diferenciar da flor, pelo menos enquanto você não lembrar seu nome? Ela estendeu a mão e muito descontraída se apresentou. -Muito prazer... , eu sou Jasmine. -Esse não é meu nome apenas meu apelido, com que gosto de assinar minhas artes. -Eu já sei seu nome, mas se não se importar prefiro lhe chamar assim, acho mais simpático. Apesar de ter nos conhecido à algumas horas, havia esquecido de me apresentar, ela me chamou pelo meu apelido, provavelmente viu assinado em algum desenho meu, mas como pode ela saber meu verdadeiro nome? -Encantado -Brincamos. -Por que escolheu esse nome, Jasmine? -Jasmim! é uma planta de onde é tirada a essência para perfumes, que por sinal você está cheirando. -Legal! -Gostou mesmo? -Gostei mesmo, é criativo. Mas não estou com sono, e você vai dormir já? -Não, estava pensando em assistir algum filme na tv, se você quiser assistir também fique à vontade, mas se você tiver uma outra ideia para sugerir...Não falei de forma que insinuasse algum tipo de relacionamento íntimo, não era oportuno e detestaria aproveitar-me de sua delicada situação, e de qualquer outra pessoa que estivesse fragilizada ou que precisasse de algum tipo de ajuda. -Estive pensando se você, estiver disposto à andar, poderia me mostrar a cidade. -Qualquer coisa que não seja ficar em casa num
  • 18. sábado, seria uma boa pedida. Falei. -Vamos já, deixe-me calçar um tênis. Sabe porque mais gosto do sábado? -Posso imaginar. -Então diga! -Ora! porque sábado é o dia em que as pessoas saem para se pra paquerar. -Não é bem isso! -Não? -É por causa do domingo. -Não entendi, você gosta do sábado ou do Domingo? -Eu explico, gosto mais do sábado por que no outro dia é domingo, a gente pode ficar a noite toda na rua, conhecer alguma pessoa interessante, beber conversar...sem ter que preocupar-se em levantar cedo no outro dia, mas por outro lado não gosto do domingo, porque no outro dia é segunda feira, dia do “batente”. -Pelo jeito você não gosta muito do seu trabalho. -É... não dá pra dizer que amo, mas o problema é a rotina, que desgasta qualquer um. -Vamos! Logo que ela sai, fecho a porta com as chaves, em seguida retiro o carro da garagem, meio velho mas conservado, ela fecha o portão, então abro a porta do carro por dentro, e ela se acomoda. Arranquei o carro mas não acelerei, continuei andando devagar, para que ela pudesse ver melhor. Como a cidade é grande limitei ao nosso próprio bairro, não havia muito o que se ver, à não ser apartamentos e as luzes dos postes iluminado nosso caminho, após algum tempo estacionei o carro para
  • 19. caminharmos. Enquanto caminhávamos passamos próximo à um clube, já era por volta de meia noite, e já havia muito movimento, pois muitas pessoas, na maior parte jovens, aglomeravam-se do lado de fora enquanto decidiam o melhor momento para entrar. Já havíamos passado o clube quando ela falou; -O que fazem essas pessoas à essa hora da noite? -Isto aqui é um clube recreativo, onde as pessoas na maioria jovens veem para divertir-se, dançar, paquerar... -Qualquer um pode entrar? -Pode, desde que compre o ingresso. -Há bom. Percebi que ela ficou curiosa, então... -Se você quiser conhecer, temos a noite inteira. Ela não falou que sim mas pelo sorriso... Então voltamos, fui à bilheteria, comprei dois ingressos e entramos, a “casa” ainda não estava cheia, por sorte achei uma mesa desocupada, puxei a cadeira para que ela senta-se, sentei em seguida, como eu não sei dançar, costumo só ficar olhando tomando alguma bebida, caipirinha de preferência, se bem que por enquanto preferi pedir uma cerveja, nesse clima abafado uma cerveja desceria mais redonda. Cinco pessoas estavam no palco, integrantes da banda que já estava tocando e alternando entre ritmos nacionais do momento, e eu somente batia o pé acompanhando o compasso da música, como o som é muito alto não falávamos nada, apenas olhávamos o ambiente Algum tempo depois já estava muito mais a vontade, efeito da bebida, ela parecia meio agitada, parecia que a música mexia
  • 20. com seu espirito, não resistindo me puxou para o salão, mas eu tentei gesticular explicando que não tinha muito jeito para a dança. -Não faz mal, eu também não sei se sei! Ela falou quase berrando. -Ficando perto de mim está bom demais, não precisa dançar. Aquela sensação de satisfação que a gente tem quando está com alguém que nos completa, era confortante, ela parecia que me completava com sua alegria e descontração, justamente o que as vezes sentia que faltava em mim. Quando ela me puxou a banda estava tocando uma balada nacional, eu apenas acompanhava com os ombros. Já estávamos no meio da pista de dança, ela dançava muito bem para quem supostamente não sabia dançar, dançava como quando se aquilo fosse alguma coisa totalmente nova e não parecia que teria a menor vontade de parar, e eu tentava acompanhá-la mas sem menor jeito. O clima mudou um pouco quando em seguida a banda passou a tocar uma música um pouco mais lenta, foi quando ela me abraçou pelo pescoço e eu pela primeira a senti de verdade, toquei nela segurando pela sua cintura e dançamos, não era uma música essencialmente romântica, mais era suave, a voz da cantora, entrava e viajava pela minha cabeça, parecia que estava-nos sozinhos num salão flutuando sobre nuvens. Ainda dançamos outras músicas, enquanto luzes coloridas passeavam pelo salão. Quando se está feliz as horas parecem passar diferente, na verdade a gente não sente o tempo passar, ao contrário de quando se está ansioso, o
  • 21. tempo parece renegado a passar. Quase no mesmo instante que a banda para de tocar, e os músicos acomodam os instrumentos nos seus devidos suportes, começa o som mecânico, uma batida forte marcava o ritmo da música dessas do tipo “dance”, em que os compassos fazem uma marcação repetitiva, alguns músicos saem do palco e se misturam no salão, outros procuram alguma bebida, e os que ficaram no palco ficam despreocupadamente olhando os jovens dançando. Eu voltei para a mesa onde me aguardava a garrafa de cerveja, e Jasmine ficou dançando um pouco mais. Da mesa fiquei vendo ela dançando, e o piscar rápido de uma forte luz branca fazia seus movimentos parecerem meio robotizado. Ela nem sequer bebeu, eu estava feliz e quase podia imaginar como ela se sentia, conforme a música sugeria, ela dava sem ser vulgar um toque sensual na dança e abria um sorriso extremamente lindo, ela rodava em torno de si mesmo, as vezes parecia que havia alguém invisível conduzindo a sua dança, para mim devido ao efeito do álcool a sensação que dava era que tudo estava passando em “câmera lenta”. A energia que ela irradiava de seus movimentos, mais um toque de embriagues me fazia sentir feliz como se aquilo tudo fosse o próprio paraíso, a gente sabe que não é, mas o momento é muito bom. Tudo estava maravilhoso demais, e como não existe felicidade, eterna, e tão somente momentos felizes, logo me vem a sensação de que tudo poderia acabar, assim que ela recobrasse a memória, por um momento me esfriou a barriga em
  • 22. pensar que teria que viver com a desilusão de que alguém já tivesse conquistado seu coração. Coincidentemente, notei que havia um homem encostado em uma coluna e estava olhando para ela, como se o meu maior temor tivesse tomado forma, aí falei pra mim mesmo que era pura bobagem, quem em estado normal, não ficaria olhando uma pessoa tão linda dançando com tanta alegria. O álcool tem efeito de potencializar tudo desde remédio a alegria, tristeza, traumas o temor e por aí, conforme as luzes iam revelando a face daquele homem, eu o via de alguma forma como uma ameaça. Estava elegantemente trajado muito bonito de rosto e muito mais jovem que eu, sorria de uma forma sedutora, insistentemente à olhava, tomo um gole de cerveja e esfrego os olhos, como se estivesse tentando acordar e forço a vista na tentativa melhorar a visão, e como num piscar dos olhos, já não havia mais ninguém encostado na coluna, como se nunca tivesse existido, estranho... pensei. Voltei os olhos para “Jasmine”, ela ainda estava no salão mas não estava mais dançando, então levantei-me e fui ao seu encontro, ela demonstrou- se muito contente, quando cheguei ela me abraçou, quase derramei a cerveja nela pois sem querer acabei levando o copo comigo, perguntei se havia cansado de dançar. -Não! De repente me deu uma sensação estranha, então parei de dançar, mas logo passou. -Deve ser por causa do excesso de fumaça de cigarro que a gente respira, deixa a gente meio
  • 23. sufocado, quem sabe causando confusões, acontece muito comigo. CAPÍTULO 4 Ainda naquela mesma lanchonete, estavam os dois homens que resolveram começar a noite mais cedo e pelo jeito não pretendiam parar logo, muitas garrafas estavam sobre a mesa, à essa altura o garçom já não estava disposto à recolhe-as, meio cansado e entediado ligou a tv que ficava pendurada em um canto da parede, naquele momento estava sendo exibido as ultimas notícias do dia, o apresentador noticiava um ataque terrorista feito por um grupo de radicais numa estação de metrô de uma grande cidade, que matou e mutilou várias pessoas inocentes. Isso provocou o estarrecimento em um dos dois homens, que já estava pra lá de bêbado, quando foi exibida algumas imagens fortes, então comentou, quase como um discurso... -No que o fanatismo transforma o homem, o que se passa na cabeça de uma criatura dessa! O outro com a fala já meio dificultada continuou; -Na verdade essa sede de vingança e destruição faz parte da natureza, já vi isso num ducumentário sobre índios, é a auto destruição, uma auto defesa da própria espécie contra o excesso de população, uma garantia de alimento e da sobrevivência do mais forte, também acontece no reino animal, e o ser humano não passa de mais um bicho. O outro que parecia que estava com a língua
  • 24. enrolada, típico de quem já passou das contas complementou. -Mas como tudo faz parte do processo evolutivo, o bicho homem irá aos poucos, evoluir e superar esse instinto de auto destruição e irá racionalmente conservar a própria espécie. O garçom apenas negativamente balançava a cabeça, talvez não pelo fato de ouvir a opinião deles, mas sim pelo fato de terem passado da conta. -Pena que não vou viver pra ver isso acontecer, apesar de o homem ter avançado na ciência, em alguns lugares pessoas mentalmente estão em processo de regressão, como se a possibilidade de evolução, fosse uma coisa maléfica, vivem como na pré-história. -As vezes fico meio bobo de ver como as pessoas, mesmo aqui, transformam coisas naturais em algo, insano e bestial como se certas coisas fossem o próprio mal. É o caso da sexualidade que é visto de tal forma, de quem o faz está fazendo algo impuro, repugnante, no entanto a essência e concepção da própria existência esta infinitamente ligado ao ato sexual, é a própria essência da vida. Sem isso jamais poderíamos estar aqui conversando. Mudando de assunto você sabia que no futuro quando as pessoas tiverem evoluído eles olharão a história e ficarão indignados com o tratamento dados dado aos macacos. -Por que? -Porque eles não vão considerar que os macacos são da mesma árvore que os humanos. -Pirou? isso todo mundo sabe. -Na verdade os humanos é que serão colocados na árvore dos macacos, nós seremos
  • 25. definitivamente macacos. -E o que tem ver isso? -Ora! Com o descobrimento das Américas, os colonizadores, portugueses, espanhóis e ingleses, não escravizaram índios e negros alegando que eram raça inferior? -Isso foi verdade. -Então hoje os macacos são tratados da mesma forma, não acha que nossos ancestrais merecem um pouco de consideração? -Não sei de onde você tira essas ideias. -Nem eu... -Nessas horas todo mundo, tem opinião e solução para tudo, melhor esquecer, as vezes isso me deixa depressivo. -Riram, brindando os copos de cerveja. -Bebemos demais! -Acho que está na hora de parar. Estalando os dedos chamou o garçom. - “Trás” a conta por favor. -Deixe que eu pago! -Não! Vamos rachar as despesas, se não vai perder o amigo! Então racharam as despesas e pagaram a conta. Quando tentaram levantar, as pernas dos dois fraquejaram, então se firmando um no outro põem- se em pé. Saíram devagar, cantarolando pela calçada. CAPÍTULO 5
  • 26. Voltamos sentar à mesa, ela tomou um gole de cerveja e achou muito ruim enfarruscando a cara, eu sorri, como poucas vezes, pois a cerveja à essa altura já estava quente e “choca”, o que a deixa extremamente amarga e ruim, pedi que ela esperasse um pouco, que eu iria buscar uma outra bebida, e fui ao bar, pedi ao “barmem” que preparasse uma caipirinha, e um martini rosé. Fiquei encostado no balcão, de onde eu podia avistá-la, nisso percebi um velho conhecido, que tomava uma bebida despreocupadamente. -Você por aqui! Como é que está? -Estou bem obrigado! Toma aí um gole. Como em baile a gente não costuma recusar bebidas tomei um gole. -”Tá” por aí perdido? -Não, estou com uma menina. -Trouxe uma gata hem? Quero conhecê-la uma hora dessas. -Sem problemas ela está sentada ali naquela mesa. Apontei para a direção dela e acenei para ela, ela deu um tchauzinho sorrindo. Ele me deu tapa nas costas. -Onde você arranjou aquela gata? -Quando descobrir o que está acontecendo eu te conto. -Você com esse complexo de inferioridade, ninguém é demais pra ninguém. -Não é isso eu... Nisso chega dois copos tipo de uísque, um com caipirinha e uma rodela de limão presa em cima do copo e o outro com martini e uma cereja espetada
  • 27. em um palitinho. Despedi-me. -Outra hora a gente conversa! Então voltei para mesa, onde Jasmine esperava com os cotovelos sobre a mesa, e as mãos no queixo como se tivesse segurando delicadamente a cabeça, e com um leve sorriso de satisfação. Coloquei os copos sobre a mesa, deslizei suavemente o copo de martini em sua direção. -O que é isso? parece muito bonito. -É martini, uma espécie de vinho, que combina ervas aromáticas, tem sabor doce suave e médio teor alcoólico, experimente você vai gostar. Ela pegou o copo afastou os palitos e sorveu apenas uma pequena quantidade, praticamente só molhou os lábios, mas suficiente para sentir o sabor, passou suavemente a língua sobre os lábios para absorver a bebida que ficou sobre os lábios, sorrindo como se estivesse desconfiada, por fim exclamou; -É bom! E tomou um gole maior, fazendo aquele típico gesto de aprovação . Não abaixou o copo, colocou novamente os cotovelos sobre a mesa, retirou o guardanapo que veio preso ao copo e colocou sobre a mesa e ficou girando o copo, na altura dos olhos, achei até meio engraçado ver como ela ficava meio vesga por estar olhando fixamente para a cereja. -Essa frutinha vermelha, é só para enfeitar a bebida? -Eu acho que é, afinal que eu saiba, ela não solta o sabor na bebida. -Parece tão deliciosa. -Por que não a experimenta? -Será?...
  • 28. Ela pegou o palitinho com a cereja e mordeu a metade, fechou os olhos saboreando, depois estendeu a mão em minha direção e me ofereceu a outra metade, era apenas uma metade de uma frutinha e por um instante quase rejeitei, mas era tão tentador, que mordi tão rápido, que ela se assustou, porque pensou que iria morder seus dedos, apertei o palito entre os dentes, ela puxava com uma certa força, tentando soltar. Até que finalmente conseguiu, ou melhor, eu soltei. Acho que nem senti o gosto da fruta em compensação nem conseguiria descrever com palavras a profunda satisfação pessoal, provocado por uma brincadeira boba, e ela também se divertia. Afastei a cadeira e estiquei as pernas. Ao mesmo tempo, que estava feliz e olhava para ela, não conseguia deixar de fazer suposições sobre o que teria realmente acontecido com ela, antes de conhecê-la. Já ouvi muito comentários sobre lavagem cerebral , apesar de não ter certeza que isso seja possível, supondo isso, poderia indagar-me que, se a mente dela não poderia ter sido apagada, por ela ter sofrido algum choque, testemunhado algum crime, ou... -Isso está parecendo coisa de filme. Mas em todo caso é bom ficar atento. -Falou alguma coisa? -Não é nada, só estava pensando alto. CAPÍTULO 6
  • 29. Logo após que os dois homens saíram da lanchonete, chega um homem de uns 40 anos, talvez menos, moreno, bem vestido de terno e gravata e carregando uma valise, parecia ser um executivo, entra e ajeita uma banqueta coloca a valise sobre o balcão, senta-se e acena ao “barmem”. Ele achou meio estranho um executivo à essa hora da noite mas... -Boa noite senhor, o que vai beber? -Boa noite, estou aceitando sugestões. -Temos um ótimo coquetel com frutas frescas, muito apreciado pelos nossos fregueses. -Vou experimentar. -Pode ficar a vontade enquanto preparo, se desejar algo mais, é só me chamar. Enquanto preparava o drinque, viu, meio que de “rabo de olho”, quando o suposto executivo abriu a valise e entre alguns papeis havia uma arma e um foto de uma mulher, e imaginou que ele poderia estar ao encontro de alguém, ou está afogando alguma mágoa. Nesse caso uma arma pode fazer a diferença, também poderia ser simplesmente um guarda costas, não parecia um tipo de criminoso, supôs, se bem que as aparências enganam. Já havia passado algum tempo, ele já tinha tomado o coquetel, e parecia entediado. Como é de costume, após alguns drinques, a pessoa tende a aparentar um certo ar de desânimo, principalmente se não estiver acompanhado, vai se cansando e procura apoiar-se em alguma coisa. Para animar um pouco, o rapaz do bar puxou conversa com ele.
  • 30. -Estava bom o coquetel? -Estava muito bom. -Marcou um encontro com alguém? -Não aqui, vim ao encontro de uma mulher, na realidade eu cheguei de viagem à pouco tempo, resolvi tomar alguma coisa. Abriu a valise e retirou a foto mostrando ao rapaz. -Já que perguntou por acaso não tem visto esta essa mulher? Ele olhou e achou muito parecida com alguém que havia estado ali um pouco antes. -Você falando agora me lembro à pouco, veio mesmo um casal, mas não prestei muita atenção na moça, se era a mesma. -E esse casal que veio aqui, você os conhece? -O rapaz conheço, sempre vem aqui, mas a moça não tenho certeza, ela sentou-se de costas para o balcão, não posso lhe dizer se é a mesma. -Você não se importaria de me dizer como posso encontrá-los. É muito importante. Alguma coisa fez com que ele se arrependesse de ter falado que viu alguém parecido com ela, pois tinha receio de se envolver em problemas alheios, e recuou de forma discreta, não estava disposto a dizer onde ele morava, porém... podia ser realmente importante. -Eu não sei com precisão onde ele mora mas posso dizer, mais ou menos... Tentou explicar-lhe de uma forma que ele demorasse um pouco para encontrá-lo, afim de dar tempo de achar o número do telefone para poder avisar o rapaz que alguém talvez o procurasse, perguntando sobre uma mulher. O homem pagou a conta, agradeceu, pegou a
  • 31. valise, retirou o aparelho de telefone celular, e ligou para alguém, enquanto ia saindo calmamente da lanchonete. -Alô! Sou eu, não à encontrei, mas já tenho alguma pista do paradeiro dela... Assim que o rapaz do bar achou o número do telefone, foi até o aparelho e o discou, apesar de ouvir o tom que indicava que o telefone estava chamando ninguém atendia, provavelmente não havia ninguém em casa, pensou ele. -Bom, fiz a minha parte. Conforme indicou o rapaz do bar a casa não ficava muito longe de onde ele estava, então deixou o carro estacionado onde estava e foi a pé pelo caminho mais longo indicado pelo rapaz do bar. Logo ele chega à casa indicada, onde está tudo escuro, com exceção de um cômodo, mas não toca a campainha, talvez por não ter certeza se é mesmo onde mora as pessoas que ele procura, olhou para a casa ao lado como se quisesse memorizar alguma referência e se retira, provavelmente procurará aonde passar a noite e voltará no dia seguinte. Retorna pelo mesmo caminho, de volta ao centro da cidade ele começa a procurar algum hotel onde possa passar a noite, chegou há uma rua movimentada, onde muitas pessoas circulavam, algumas mulheres estavam encostadas nas paredes, e retrucavam alguma coisa conforme ele passava, resolveu então perguntar à uma delas, onde encontraria um hotel. Mas quem falou primeiro foi uma moça que veio ao seu encontro. -Olá, está procurando companhia? Sua voz soava artificialmente vulgar, enquanto
  • 32. ela falava ia se aproximando em passos curtos sensuais, a moça era muita bonita e trajava uma vestimenta muito extravagante, apropriada aquela profissão, e suficiente provocante para balançar qualquer cidadão, solitário ou não. -Quem sabe uma próxima oportunidade, eu só gostaria de saber se existe algum hotel por perto. Com um sutil deboche ela falou: -Tem meu apartamento, não serve? Então ele levantou um pouco a valise, para que ela percebesse, que ele estava a trabalho. -Hum! Está a trabalho? Já acompanhei muitos homens como você, que mesmo a trabalho não dispensam uma boa companhia, é claro que com trajes mais tradicionais. -Estou encantado com você, mas não é isso, eu estou apenas procurando um hotel e estou um pouco cansado, só pretendo descansar. -Tem uma pousada, logo ali na esquina -Obrigado, desculpe por hoje não estar disposto. Ela não falou nada, ele se virou para ir em direção à pousada. Sem ele perceber caiu do seu bolso um pequeno cartão. Ela pegou para entregá- lo, mas logo percebeu que era apenas um cartão de visitas e ele devia ter mais. Caminhando na direção indicada pela moça, ele chega à pensão, na portaria pergunta se há algum quarto disponível. -Tem algum quarto disponível? -Temos... por quantas noites vai querer o quarto? Falou um senhor bocejando. -Somente essa noite. -São 30 reais, e o pagamento deve ser antecipado, sabe como é, aqui as pessoas entram e saem a toda hora. Ele lembrou das garotas
  • 33. -Há sim! e sorriu. -Há, entendi, tudo bem! Assim que pagou, o senhor lhe dá as chaves. -Há uma tolha limpa sobre a cama, quarto número quinze. Dirigiu-se então ao quarto, havia uma cama de casal e uma toalha dobrada sobre a cama, colocou a valise sobre a cabeceira, tirou os sapatos e ficou apenas de meias, foi ao banheiro tão pequeno que mal dava pra se mexer, lavou o rosto, passou os dedos nos dentes como se estivesse escovando-os e forçou um sorriso para o espelho para ver se não estavam sujos. Finalmente deitou-se, pôs as mãos sob a cabeça e sobre ao travesseiro, colocou uma perna sobre a outra, ficando esticado e confortável. Mas sequer fechava os olhos, o motivo de vir a esta cidade lhe deixava com uma certa ansiedade, que o impedia de pegar no sono, apesar de estar cansado. Na tentativa de dormir ficou tentando imaginar por mais ou menos uma hora pensamentos mais relaxantes, mas a única imagem relaxante que ficava voando nos seus pensamentos era da garota que ele havia pedido informações à pouco. A cortina estava meia aberta e nesse meio tempo ele percebeu alguma estrelas, estrelas que pareciam olhos lhe vigiando. Fantasiou que a mais brilhante era uma deusa mitológica, que mudava de brilho para ele, e sugeria que havia muita coisa interessante para se fazer no frescor da noite. Então ele se levantou e calçou de novo o sapato, e saiu do quarto. Enquanto caminhava pelo corredor, o porteiro
  • 34. apenas olhou de desinteressado. Apesar de não ter dormido, e ter ficado apenas uma hora descansando, isso foi suficiente para deixá-lo um pouco mais relaxado, já na rua, foi caminhando, agora prestando mais atenção nas redondezas, meio que sem querer querendo, como diz o personagem da tv mexicana, ele estava caminhando em direção a garota que ele havia à pouco pedido informação. Havia várias garotas, mas aquela que ele havia conhecido, não estava mais lá, provavelmente saiu com algum cliente. A noite estava muito agradável, a temperatura devia estar em torno de 20 graus, apesar de ainda estar um pouco cansado da viajem ele resolveu que não iria, voltar tão cedo para a pensão. Andando mais um pouco ele viu que havia um clube bem movimentado, decidiu então dar uma olhada. CAPÍTULO 7 Andando pela rua, os dois rapazes, que a pouco conversavam na lanchonete, avistam um velho conhecido sentado num banco e olhando a noite. Logo que ele os vê, ele se levanta. Quando chegaram mais perto notaram um certo olhar de desânimo, e foram conversar com ele. -Beleza? Perdido por aí? Faz tempo que não te via. -Vai se levando. -Dando uma arejada na cabeça? -Não consegui pregar os olhos, então saí por aí. -Pois é quando o vimos, já deu para perceber
  • 35. que estava abatido. -Na verdade estou mais que cansado, as vezes procuro um sentido pra minha vida, a gente trabalha tanto para conquistar o que deseja, e quando consegue percebe que já passou boa parte da vida, investiu-se toda a energia da juventude num objetivo, e o que se ganhou não trás de volta o vigor, grande vantagem. -Se você viver procurando sentido para a vida, você vai passar a vida toda assim, menos que você acabe com ela. -Ainda não cheguei nesse estremo. -Então, de que adianta ficar triste, já que você não pretende morrer logo, você tem duas opções pode passar o que lhe resta da medíocre vida pelos cantos, ou aproveitar e viver a vida da melhor maneira, que tal uma saideira? -Que saideira, não tomei nada hoje! -Você, não, mas nós já. -Vocês já estão torrados, vão tomar mais? -É um sacrifício que faremos por uma boa causa. -Não é mesmo? E sorriram, e abraçaram-no, um de cada lado, praticamente levaram-no arrastado. Logo encontram um bar aberto, e se sentam numa mesa que estava na calçada. Sinalizam ao garçom que trouxesse uma “gelada”. Que prontamente foram atendido. Quando o cidadão que estava deprimido, tomou o primeiro gole, fechou os olhos, como se fosse o maior experimento de sua vida. -Sabe que faz tempo que não saía para tomar uma cerveja. -Amigo é para essas coisas, apesar de não haver
  • 36. mais ninguém nas ruas e isto aqui estar quase deserto, nós não estarmos fazendo nada especial, nós estamos contentes, isso é o que importa. E o outro retrucou. -Essas coisas que nos parecem bobas agora, quando nós estivermos velhos, é justamente a que sentiremos mais saudades. -Se o trabalho fosse considerado uma obra de arte, todos os homens seriam estrelas e trabalhariam mais felizes. -Por falar em estrelas, as vezes fico olhando elas, mas às vejo como se fosse parte de um ser vivo, chamado universo, posso até imaginar, outros planetas orbitando elas sustendo a vida de outros seres... -Lá vem ele com esse papo filosófico. Cotovelou o colega discretamente, e falou; -Ei tenho que falar alguma coisa pra alegrar, nosso deprimido colega. O homem que estava deprimido pergunta, dando início à uma calorosa e amigável discussão. -Você acredita que existe vida em outros planetas? -Claro que existe, o universo é muito grande para estarmos nele sozinhos. O outro rapaz se entretia com a cerveja, ficava apenas ouvindo a conversa dos dois. -Acredito também que até exista, mas estão tão longe que nem mesmo na velocidade da luz, nunca chegariam na terra. -Como será que eles seriam? Será que seriam mesmo cabeçudos como a gente vê na tevê? -Eu acho que a evolução segue os mesmos passos em qualquer lugar do universo, talvez alguns
  • 37. sejam ainda macacos, ou talvez como nós mesmo seremos no futuro, a cada geração os humanos estão perdendo os pelos e aumentando o tamanho do cérebro, já dá pra imaginar como vai ficar. O outro que até então estava quieto falou. -Então o ser humano é que vai se tornar o temível alienígena que irá amedrontar os seres de algum outro planeta subdesenvolvido. -O outro então sorrindo. -É o homem já mostrou do que é capaz, imaginou Hitler alienígena. -Eu acho que eles já tiveram aqui. Falou o que estava em silêncio. -Por que você acha? -Eu acho que o homem foi colocado aqui, por exemplo; em algum lugar do universo, surgiu a primeira forma de vida, uma espécie primitiva, claro, que com o tempo se evoluiu e se separou em uma nova ramificação, mas os ancestrais não se extinguiram como era de se esperar, conviviam entre eles, porém a tolerância estava cada vez menos suportável, então os dominantes decidiram não mais conviver com a ramificação inferior, mas por sua vez e por serem mais evoluídos, também não admitiriam a exterminação de seus ancestrais e de qualquer outra espécie, eles transferiram essa raça inferior, que até então não passava de um macaco um pouco mais evoluído para um outro planeta para que ele tivesse outra chance de evoluir, sem influência alguma. -Você é mais maluco do que imaginei, de onde tirou essa história? -E tem mais, Após certos períodos eles voltam para ver e estudar a adaptação evolução da espécie
  • 38. introduzida, e quando eles perceberam que eles não estão evoluído completamente e estava pondo em risco as espécies nativas, eles passaram à fazer viagens mais frequentes para poder resgatar exemplares das espécies ameaçadas. Então entre um gole de cerveja um deles falou; -Nesse caso os dinossauros, mamutes e outros bichos extintos, podem ainda existirem em algum outro planeta. -É minha teoria. -Todos acham que Darwin tinha uma visão muito avançada para sua época, isso porque não conhecem você. Até o garçom que ao contrário do outro era magrela e estava olhando a conversa, não conseguiu manter a postura, e gargalhou quando todos três caíram na gargalhada. Então o dito garçom complementou falando alto do balcão; -Vou incrementar essa história, como já evoluímos bastante que já estamos parecidos com eles, pelo menos fisicamente, quando eles vêem à terra alguns deles se misturam conosco pra poder estudar nossa evolução. -Só dá louco nesse lugar. -E não há como descobrir. Pois o homem evoluiu o bastante para ser parecido à eles, ou seja a evolução segue o mesmo caminho em qualquer lugar. -Supondo isso verdade, o que aconteceria se um suposto aliem sentisse atração por um humano? -Poderia surgir um híbrido. -Acho que conheci uma assim. -Como? -Minha mãe disse que quando ela era mais
  • 39. jovem conheceu um menino que era super inteligente, mas era tão esquisito que parecia um “e.t”. -Ela transou com ele?! -Como você adivinhou? -Pela tua cara ele era seu pai. Riram tanto que a rapaz que estava deprimido, falou que iria levar alguns anos luz para ele voltar a ficar deprimido. -Já ouvi muito papo maluco de bêbados mas isso já é demais. -É sério! Já viu que algumas pessoas somem de repente, poderia ser algum alienígena que se misturou conosco para estudar nosso comportamento e depois voltou, alguns que vieram acabaram sendo abandonados pois não podem mais retornar ao seu planeta natal, devido ter sido contaminado com alguma doença humana ou porque devido ao convívio humano, eles passam à assimilar o lado selvagem ainda presente no homem, quando eles passam a agir como humano, não mais respeitando seus superiores eles são recapturados e apagam qualquer vestígio de sua mente sobre a sua origem, e deixam-no na terra agora como um humano normal. -Alguns recobram parte de sua memória, e passam à perambular pelas ruas como profetas ou esotéricos, fazendo profecias ou pregando a existência de seres superiores que nos vigiam, outros se destacam em alguma coisa como nas ciências, artes. Quem sabe algum deles pode estar por aí e nem sabemos.
  • 40. CAPÍTULO 8 Sem um motivo aparente ela me beijou. -Beijo tem um gosto estranho. -Não gostou? -Não sei, acho... E me beijou de novo, depois espremeu os lábios, como se estivesse espalhando um batom. -Você nunca beijou antes? -Bom! Pelo menos que eu me lembre, não. E sorriu achando graça da própria situação que passava. -Esqueci que você está sem memória. Falei. -Não procure achar explicação, é estranho mesmo, na verdade é como um aperto de mão ou um abraço, serve para estreitar o relacionamento entre as pessoas, claro que em graus diferentes. As vezes falo aos meus amigos tem coisas na vida que dá para comparar à uma cerveja, não precisa ser doce para ser gostoso, e é melhor se for tomada com os amigos. E você realmente não precisa fazer isso, à menos que queira mesmo. Não quero que pense que está em dívida comigo. Na verdade nem sei porque falei aquilo, talvez porque não poderia deixar envolver-me demais, pelo menos por enquanto, provavelmente acabaria por criar uma afeição, por alguém que possivelmente não poderia partilhar. Então ela falou; -Enquanto eu dançava eu vi um, não um, mais vários casais se beijando, então fiquei com curiosidade para saber qual era a sensação. Então falei; -Tem vezes que a gente pode até não achar sentido, mas noutro minuto está com vontade de
  • 41. novo. É como uma vontade que nunca se satisfaz. Alguns conhecidos que passavam, as vezes paravam para nos cumprimentar. Enquanto eu conversava com eles, Jasmine ficava olhando para a parede do bar havia um cartaz anunciando uma tradicional festa numa cidade litorânea. Assim que meus amigos saíram, ela me perguntou; -Você já viu o mar? -Já, sempre que posso eu vou, e não é muito longe daqui, são mais ou menos meia hora de viajem. -Parece ser muito bonito. -E é! Talvez a melhor parte, seja durante o percurso a gente passa por um serra, pequenas cidades antigas, rios de águas limpas, cachoeiras, muitos lugares bonitos. Só de imaginar já dá vontade de ir. Acenei para um garçom que estava passando por perto e pedi mais uma caipirinha. Ele perguntou; -E a moça vai querer alguma bebida? -Gostei dessa bebida, mas quem está pagando é ele. Fiz um sinal com dois dedos, indicando que era para servir nós dois. Jasmine tomou o restante de martini que ainda restava e eu como costumo ter muito resistência pra bebidas, estava dentro do que eu chamo de normal, e Jasmine estava extremamente à vontade. Alguns minutos depois o garçom nos serve as bebidas. Depois ele pega os outros dois copos que estava sobre a mesa e passa um pano para limpar a mesa, enquanto eu tomava um pequeno gole de caipirinha. Os integrantes da banda voltavam ao
  • 42. palco para dar continuidade ao baile, havia uma moça que se revezava com um rapaz como vocalista, e foi ela que entrou cantando, uma balada acústica com uma letra romântica, por sinal era uma música que eu gostava muito, enquanto cantava sentou-se num banqueta, colocou o microfone no pedestal e continuou cantando acompanhada somente de um violão. Poucas pessoas dançavam, porque preferiram olhar a apresentação, sentados em suas mesas, ou mesmo de pé. Assim que ela acaba de cantar, Jasmine discretamente a aplaude, outros também aplaudem, logo estão todos em pé aplaudindo, e assobiando pela excelente interpretação, isso não é comum em baile. A cantora agradeceu, e sem a maior cerimônia passou à cantar músicas carnavalescas, numa explosão de percussão e ritmos tropicais, típicos do Brasil, então o salão novamente se enche. Aí já não há mais regra, cada um por si pulando no salão, à não ser quando a música sugeria alguma coreografia própria. Não resistindo, Jasmine vai para o salão, me arrastando consigo, isso depois de ter tomado quase todo o martini de uma só vez, eu levei meu copo junto para ir bebendo antes que derretesse todo o gelo. Após uma meia hora que ficamos dançando bateu um pouco de cansaço, voltei à mesa enquanto Jasmine continuou dançando. Encostei a cadeira entre a parede, levantei a cabeça para cima e fiquei olhando para o globo refletindo as luzes, a bebida nessas alturas também já estava fazendo efeito, ou seja estava um pouco bêbado. Por um instante esqueci-me do mundo, como se
  • 43. estivesse entrado num transe profundo, isso não deve ter durado mais que alguns segundos, apesar da sensação de ter sido bem mais. Pela primeira vez devo ter esquecido de Jasmine. Quando eu me dei conta, e olhei ao salão estavam quase todos parados apesar da música, então percebi que havia acontecido algo estranho, pensei que estava havendo algum desentendimento, já vi muitas vezes isso acontecer, só então lembrei- me de Jasmine, e fui procurá-la. Para minha surpresa ela estava caída no meio do salão e rodeada por pessoas, enquanto algumas procuravam ajudá-la se levantar. Quando cheguei ela já estava em pé, então à segurei, e a levei para fora do clube para respirar um pouco de ar mais fresco. Enquanto estava-nos saindo, eu lhe perguntei; -Você está bem? -Quer que eu a leve à um hospital ? -Não, imagine, eu estou ótima. -Então o que aconteceu com você? Sentiu se mal? -Não sei o que aconteceu, só me lembro que estava dançando, e de uma luz muito clara e forte que ofuscou minha visão, então devo ter perdido a consciência. -Tem certeza que está bem? -Tenho, agora lembro, que estranho parecia que essa luz queria envolver-me, levar-me, ou como se abrisse uma passagem que eu poderia passar, seguir, não consigo explicar direito. Tinha uma outra moça que antes eu havia cumprimentado e saiu junto com a gente, e ouvindo, falou que ela não tinha visto nenhum tipo de luz ou
  • 44. clarão anormal. -Ela simplesmente desmaiou sem ter algum motivo aparente! Devagar fomos até o carro, ela já tinha se recuperado, mas não entramos no carro, ficamos encostados, conversando, apesar de tudo ela se sentia muito feliz, nem queria mais conversar sobre o ocorrido. -Durante o tempo que você desmaiou, você não lembrou de alguma coisa de você mesmo? -Não, não lembrei de nada, continuo da mesma forma em que nos conhecemos. -Como queria que você se lembrasse quem é, de onde veio, isso me deixa meio angustiado, tenho medo que você desapareça assim de repente, tal como apareceu. Ela encostou a cabeça no meu ombro e nada falou. Há momentos que o silêncio fala por si. Certas pessoas pensam que são incapazes de serem amadas, e se enganam completamente, provavelmente há pessoas próximas ou nem tanto próximas, que nutrem um sentimento forte, mesmo sem sequer ter trocado uma palavra, gosta por gostar e pronto, as vezes ignorando até mesmo a aparência física. Pena que a gente se prende à fantasia e não assume, as vezes justamente por medo de fracassar. Conheci-a à apenas um dia, e já fico preocupado que alguma coisa acontecesse com ela. Nós estávamos encostados no carro sob uma árvore que encobria a luz do poste, então vi claramente quando um homem que estava passando do outro lado da rua, em direção ao clube, que trajava uma calça de social e uma camisa de
  • 45. botões, roupas impróprias para aquele tipo de distração, não era o mesmo que havia visto encostado na coluna olhando para Jasmine, olhou para nós, como se tivesse nos conhecido ou fosse nos cumprimentar, e como estava escuro e Jasmine estava com a cabeça em meu ombro, ele não nos viu direito, ele teria que passar bem mais próximo de nós para que pudesse reconhecer-nos melhor. Um carro preto passa numa certa velocidade por nós, e para repentinamente na frente do clube, três portas se abrem e saem três homens e entram rapidamente no clube. Talvez que por medo de perdê-la eu tenha ficado receoso, achando que alguém estivesse à sua procura. Mas o homem que havia passado por nós à pouco parou e ficou olhando para a entrada do clube, depois virou-se, como se também estranhasse a chegada repentina dos três homens disfarçou e começou e retornar enquanto atravessava para o nosso lado da rua. Será que havia alguma ligação entre eles? Poderia algum deles estar à procura dela? Ou ambos com propósitos diferentes? Se alguém estava à sua procura, poderia também solucionar o que estava acontecendo com Jasmine. Mas entre a dúvida e a razão optei por sair dali. Cedo ou tarde tudo deveria se esclarecer, melhor dar mais um tempo. Lembrei então que ela tinha falado que gostaria de ver o mar, me veio uma idéia. -Quer dar um passeio à um lugar muito bonito? -Vou a qualquer lugar que você sugerir. Peguei as chaves e abri a porta do carro do lado do passageiro, ela prontamente se aconchega ficando bem à vontade. Assim que eu entro ela fala alegremente.
  • 46. -Então vamos! Liguei o rádio para manter o clima alegre. Ainda no começo da estrada parei em posto de combustível onde estava aberta uma pequena loja de conveniência, peguei algumas latas de refrigerantes e uns pacotes de salgadinhos, no caixa já havia acabado de chegar o jornal do dia, eu peguei para ver se não havia alguma mensagem de desaparecimento, ou algo que envolvesse Jasmine, enquanto isso ela se entretia olhando as mercadorias expostas na prateleira. -O que você comprou? -Algo para salgar o estômago. Entramos novamente no carro, ficamos um pouco parado enquanto dava uma rápida folheada no jornal, mas não vi nada interessante, joguei o jornal no banco traseiro e seguimos o percurso. Andamos por vários quilômetros por uma BR, até que chegamos ao começo de um portal que dava acesso a uma estrada secundaria. A partir de então quase não conversávamos, porque Jasmine, ficava o tempo todo olhando para fora, apesar do luar não dava pra ver quase nada, então ela abriu um pouco a janela e passamos à ouvir claramente o som grilos, de rãs ou sapos por toda a extensão da estrada, ela deixava o vento bater no seu rosto, inspirava o ar como se tivesse sentindo o cheiro do mato. Continuamos na estrada por mais algum tempo, e a lua aparecia de vez em quando entre as nuvens, continuava escuro, mas com pouco de esforço dava para ver ao lado da estrada, bem como a vegetação. Após uma longa subida uma placa avisa que logo a mais à frente termina o asfalto e começa o calçamento, a estrada fica mais estreita e começa
  • 47. um longo declive, com curvas uma após a outra. Mais alguns minutos chegamos à um mirante, onde eu estaciono o carro, o clima muda bastante do outro lado da serra, por sorte nesse dia não havia muita neblina. Apesar de ainda estar escuro o luar deixava tudo meio prateado, assim desliguei o motor, mas deixei as luzes baixas acesas, ela percebeu que era este o lugar que falei que a levaria, então ela saiu do carro, antes mesmo que eu, ergueu as mãos para o alto espreguiçando-se tanto que parecia querer alcançar o céu e suavemente se rodeava como se estivesse em êxtase. - O ar é tão refrescante. Que lugar é esse? Ela me perguntou. -Pudera nós estamos quase no topo da serra, daqui a pouco o sol vai nascer tenho certeza que você vai gostar. Caminhei em direção ao parapeito de balaústres, cruzo os braços e me debruço, fico olhando algumas estrelas, como estava escuro era a única coisa distante visível. Mesmo com o ar gelado e refrescante o silêncio relaxante, quebrado apenas pela melodia dos insetos, senti que minhas pálpebras se tornaram mais pesadas, e bocejava. A voz de Jasmine começou à ficar mais distante, mas eu ouvia muito baixo ela dizendo alguma coisa assim; você está vendo? Balancei a cabeça para despertar, havia me relaxado, que quase acabei adormecendo. Então virei-me para ela. -O que? -Você não viu? -O que? O que você viu?
  • 48. Afoita ela falava. -Você não viu? Uma bola de luz bem clara que apareceu flutuando e ia aumentando? Saía um som como um sussurro ou uma voz suave, que falava que me levaria de volta para o lugar de onde vim! -Não vi nada, você está cansada. Acho de certa forma, inconciente você procura alguma forma fantasiosa para aliviar o trauma que fez você esquecer quem é. Peguei-a pelas mãos e a levei ao parapeito, onde ela se debruçou, eu fiquei ao seu lado, coloquei a mão por trás dela sobre o ombro e a aconcheguei. Ficamos em silêncio sem falarmos uma única palavra, ficamos apenas respirando o ar fresco quase gélido da montanha, pouco depois parecia que ela já havia esquecido o ocorrido. Então olho para Jasmine, ela continua em silêncio, com o piscar dos olhos lentos, como se tivesse em transe, olhando a paisagem que vai se revelando com o alvorecer. Foi um dia de sorte, uma curvatura amarelo/laranja começava à tingir o mar, já estava um pouco claro mas o sol ainda não havia aparecido. Ela então encosta-se em mim, então ficamos olhando esperando o sol apontar, enquanto seu contorno ia se revelando por completo ia ficando mais vivo. Agora já era possível ver o verde da floresta mais realçado e vivo, avistava-se um vale rodeado por uma exuberante montanha, olhando em outra direção avistava-se uma pequena cidade, banhada por um braço de mar, ficamos algum tempo admirando, era como se estivéssemos revelando uma fotografia que a cada minuto vai ficando mais nítida, até revelar-se um belo cartão postal.
  • 49. Ela estava tão fascinada que só quando estava claro, que ela percebeu o som das águas. -Gozado! Não havia prestado atenção nesse barulho, Passa um rio lá embaixo! Mas não dá para ver. Então falei. -Deve passar algum rio sim, tem um pequeno carreiro ali. Pode ser que dê lá. Tá a fim de arriscar? Ela topou, eu fui na frente dela descendo pelo estreito carreiro, ela vinha logo atrás tomando cuidado de apoiar-se entre grandes pedras, ainda tínhamos que nos segurar em galhos e raízes de árvores para que não escorregasse-nos, pois era um carreiro muito íngreme, mais foi bastante curto, assim que chegamos ela falou; -Puxa! Pelo barulho que fazia eu imaginei que era bem maior. Quem ouve o barulho que fazia, conforme se aproximava, realmente acharia que passava um grande rio abaixo, mas se tratava apenas de uma pequena cachoeira e o leito que formava não dava mais que meio metro. CAPÍTULO 9 Jamais existirá um dia igual ao outro, porém todos os dias são muito parecidos, o sol mal havia aparecido e o homem que procurava uma mulher, já estava acordado, e se preparava para sair, vestiu
  • 50. sua roupa, e calçou os sapatos, pegou um pequeno pente e alisou os cabelos, organizou a valise, em seguida sai do quarto, fechando-o, caminhou pelo corredor, e entregou as chaves na recepção. Uma mulher morena, com uma vasta cabeleira, estava fazendo o turno do dia. -Bom dia! -Bom dia. E entregou as chaves. -Espero que tenha tido uma noite agradável. Ele disse; -Tive sim, muito obrigado. Já na rua, ele caminhou um pouco até avistar uma lanchonete aberta, para fazer um lanche rápido, entrou na primeira que avistou, sentou-se ao balcão, logo uma bela jovem ruiva lhe atende. -Bom dia! o que vai querer. Nisso uma outra mulher, havia acabado de colocar alguns pasteis numa pequena estufa. Vendo aquele pasteis quentinhos lhe aguçou a vontade. -Vou querer um pastel daqueles. -Café puro, ou pingado? -Pingado? Estranhou o nome pois de onde vinha não conhecia o que era pingado. -Café com leite. -Há! sim, café com leite por favor. Ou ele estava com muita fome ou o pastel estava muito bom, pois ainda comeu mais dois pastéis. Depois de satisfeito perguntou à moça o quanto haveria de pagar. -Seis reais, pode pagar ali no caixa. Levantou-se e foi até o caixa, onde pagou a conta.
  • 51. Depois de ter tomado seu café da manhã, seguiu em direção à casa onde ele havia estado na noite passada, ao chegar à casa notou uma campainha e então a tocou duas vezes e esperou para ver se alguém apareceria, mas ninguém atendeu, então tocou de novo, agora prolongando um pouco mais, mas de nada adiantou. Foi até o vizinho ao lado, tocou a campainha, prontamente vem uma senhora atender, mas não abriu o portão, atendeu-o pela grade. Retirou o retrato da valise e mostrou à senhora. -A senhora podia me informar, se por um acaso tem visto se esta moça mora nessa casa ao lado? Ela olhou por alguns segundos, e torceu a cabeça. -Não, acho que não. Ele guardou a foto no bolso. -Pois é eu toquei a campainha, não apareceu ninguém, uma pessoa me disse que viu ela com um rapaz cujo endereço é esse. -Só se for recentemente, porque não vi nenhuma mulher por aí nesses dias. A senhora perguntou a ele; -O carro dele está na garagem? -Não, não tem nenhum carro na garagem. -Então provavelmente não chegou, quase sempre eu escuto quando ele chega durante a madrugada, mas hoje não ouvi. -Eu agradeço, pela atenção. Então a senhora volta para dentro de sua casa. O celular que então estava preso à sua cintura toca, sabendo de quem se tratava, ele logo fala; -Por enquanto a única pista que tinha, não deu resultado positivo, pois não pude localizá-la.
  • 52. Alguém que está do outro lado da linha fala. -Isso não podia ter acontecido, você sabe o que pode acontecer. Ele responde; -Eu sei, mas o que posso fazer se não cheguei à tempo de encontrá-la, a cidade é mais grande que imaginava se algo estranho aconteceu com ela, e eu vou descobrir, não se preocupe! Parecia ser algo muito importante, pois ele demonstrava uma pequena tensão ao falar. Uma frase em tom mais ameaçador ele houve. -O que aconteceu com o rastreador? -Estava funcionando até ontem a noite, o último sinal que recebi foi até quando cheguei à uma lanchonete, mas mesmo antes de chegar o sinal havia sumido de vez. Como não vi ela, por um momento fiquei sem saber o que fazer, então entrei para especular, pode ser que ela tenha descoberto o sinalizador, e então o destruiu, nesse caso ela pode estar a quilômetros daqui. E desligou o telefone, que não era um telefone comum pois possuía um sistema de rastreamento do tipo gps. Por via das dúvidas verificou ainda mais uma vez se não havia algum sinal, mas não havia. Algumas perguntas lhe “martelavam” na cabeça, o que teria acontecido à ela, porque fugiria para um lugar tão longe, o que será que ela sabia? Qualquer indagação que se fizesse seria apenas uma possibilidade, e tão somente. Pegou o seu carro, e passou a circular pela cidade na tentativa de detectar algum sinal, dirigia com apenas uma mão enquanto na outra segurava o aparelho de telefone com rastreador. Apertou um botão que ativava o sistema de aviso sonoro e
  • 53. colocou o aparelho sobre o painel. Quando ele já estava fora do centro da cidade, em direção à um bairro, um apito de curta duração pode ser ouvido. Por estar numa parte alta da cidade imaginou que essa posição facilitou a captação do sinal, que também logo sumiu. Mas apesar de o sinal ter sumido a sua localização foi memorizada. Já havia parado o carro no acostamento deu uma ré, jogando a traseira do carro entre o mato e numa rápida manobra mudou de sentido. Agora de frente e voltando podia ver melhor os prédios que antes havia deixado para trás, pensou que até uma cidade grande pode ter alguma beleza, principalmente se for vista de longe. Pensou no contraste da organização humana, quantas coisas que não funcionam direito, guerras, poluição o caos e ao mesmo tempo a surpreendente organização humana, medicina eletricidade... alimentos para todos, (pelo menos para quem tiver dinheiro). Entrou no carro e começou a voltar, os prédios a cada quilômetro iam ficando maiores, enquanto dirigia verificou mais uma vez no aparelho a direção que deveria seguir. Ele teria que atravessar a cidade para seguir na direção indicada, contudo a cidade era grande, fazendo com que ele demorasse um pouco entre os engarrafamentos. E para sua surpresa o sinal voltou a ser captado, e estava cada vez mais forte. Ele então percebeu que ela estava se movimentando. Assim passou à ir ao encontro do sinal, e quanto se aproximava o sinal ficava forte. Pouco depois ele chega ao local onde ela deveria estar. Ele estaciona o carro, desce e vai caminhando, olhando para os lados para ver se à avistava.
  • 54. Mas que estranho, ele pensou, o sinal está forte, mas não havia nem sinal dela, discretamente olhando para o aparelho ele foi andando para o local exato em que ele deveria estar. O sinal mais forte captado indicava um ponto de táxi, onde vários taxistas ociosos esperavam algum passageiro. Como ela não estava resolveu verificar mais de perto. Foi caminhando ao carro de onde o sinal parecia estar vindo, enquanto continuava olhando discretamente no aparelho. -Olá tudo bem? -Vou bem, vai fazer uma corrida? Enquanto isso ele deu uma rápida olhada no interior do carro. -Não eu só gostaria de pedir algumas informações. -Por um acaso o senhor não teria feito uma corrida para uma mulher à pouco tempo? -Fiz, para várias, e como é essa pessoa? -Ela é jovem muito bonita, deixe lhe mostrar uma foto. Retirou a fotografia do bolso e mostrou ao taxista. Ele ficou olhando um pouco, e falou que não lembrava se havia feito uma corrida para essa mulher. -É acho que não. -Sabe o que é, essa mulher estava carregando um protótipo de um aparelho muito caro, e uma peça, essencial deve ter caído, justamente prevendo algo desse tipo, e também por motivo de segurança, todas as peças carregam um sistema de rastreamento, e por algum motivo o sinal mais forte
  • 55. indica o seu veículo. -Você falou em peça? Não seria essa coisinha brilhante parecido com um botão? Quando viu o sinalizado, falou; -É essa peça mesmo, ainda bem que não o abriu pois ela contém elementos químicos, muito perigosos. -Fique com isso! Largou a peça na mão dele, assustado. -Não há o que temer desde não esteja aberta, então ela esteve no seu carro? -Não, não esteve, eu achei isso numa pia de banheiro de uma lanchonete. Eu estava tomando algumas cervejas com alguns amigos, quando senti vontade de ir ao banheiro, só que o banheiro masculino estava ocupado, então o garçom falou que poderia ir ao banheiro feminino, já que não havia nenhuma mulher naquela hora, então quando estava lavando as mãos vi essa coisinha brilhante, presa no ralo da pia, por curiosidade e com jeitinho à puxei, depois sem querer acabei colocando-a no bolso, onde estava até agora, já nem lembrava mais. -Eu agradeço pelo senhor ter guardado, não tanto pela peça mas pelo perigo que ela apresenta as pessoas. -Não tem de que. Ele não quis perguntar qual lanchonete ele achou o transmissor, pois de certo modo já sabia, então despediu-se do taxista. -Até mais, obrigado! O taxista, apenas abaixou a cabeça, aliviado por ter esquecido do tal objeto, escapando assim da curiosidade de abri-lo. Enquanto voltava para o carro, ele começa à
  • 56. analisar melhor a situação. -Agora as coisas estão começando a fazer sentido, provavelmente quando ela estava no banheiro, percebeu que havia algo estranho no botão de sua roupa, então a rasgou tirou e jogou na pia do banheiro, a umidade então fez com que deixasse de funcionar, voltando e emitir o sinal depois de seco. Enquanto entrava no carro lhe vem a lembrança de como isso tudo começou. Ela trabalhava em uma empresa que faz pesquisas e experimentos químicos. Durante uma etapa de testes, um pequeno frasco contendo uma substância recentemente pesquisada que foi produzida com a mistura de vários produtos químicos e até mesmo genes animais e que se estava sendo testada uma provável aplicação, escapou de sua mão e caiu no chão, espatifando-se e espalhando o produto, com a queda produziu um vapor, mesmo estando dentro das normas de segurança, havia sido exposta ao produto. No ambulatório dentro da firma ela ficou desacordada por alguns minutos, depois que recuperou-se ficou sob quarentena, enquanto os médicos à vigiavam, como não teve nenhuma consequência aparente, após a quarentena ela voltou ao seu posto de trabalho e assim continuou seu trabalho normalmente por algum tempo. Depois de algum tempo, começou aconteceu dela deixar de fazer coisas rotineiras, ficava por longo tempo em silêncio, outras vezes quando à chamavam ela não respondia ficando imóvel, noutras trabalhava horas sem parar superando seu ritmo normal, como se tivesse sobre efeito de estimulantes, houve também
  • 57. casos que ela esquecia o nome de seu próprio colega de trabalho. Percebendo o que estava acontecendo os chefes aconselharam que ela fosse transferida de setor, porque poderia causar mais algum acidente. Apesar dela ser um pouco jovem já estava muito avançada em relação as outras pessoas de sua equipe, todos sabiam que ela teria uma carreira promissora pela frente, e era uma excelente profissional. Por receio de que ela possa estar sofrendo algum efeito retardado da exposição ao produto químico, apesar dela insistir que estava bem, decidiram que ela deveria ser vigiada de perto, porque ela poderia sem querer espalhar a notícia que um acidente, liberou produto tóxico, se isso chegasse a imprensa, poderia trazer sérias consequências. Mas não à retiraram completamente do seu trabalho, após os acompanhamentos médico, ela voltava ao seu posto de trabalho, mas dedicando as experiências mais simples, que não envolviam riscos. Eles haviam lhe explicado que ela poderia estar tendo alguma reação à exposição química, e seria bom evitar contato com as outras pessoas, ela estava ciente disso e entendeu e aceitou as novas condições propostas. Ela passou à ficar na empresa recebendo tratamento, não estava confinada à empresa, ela tinha liberdade para sair fazer compras, lanches, mas deveria sempre avisar, e assim foi sucedendo-se. Algumas vezes ela parecia tão normal trabalhando com seus experimentos, que nem se importava com seu temporário rebaixamento profissional. Então numa tarde tranquila ela passou pelo porteiro, fez um sinal pondo a mão na barriga,
  • 58. insinuando que estava com fome em seguida fez um gesto com a mão que já voltava e saiu. O porteiro balançou a cabeça e sorriu para ela pois era querida de todos, o porteiro imaginou, como ela sugeriu pelos gestos, que ela iria comprar algo para comer. O porteiro estava tão acostumado com o entra e sai dela, que não percebeu que ela não tinha voltado. Já era bem tarde, quando chega um outro funcionário da empresa perguntando ao porteiro por ela. Ele respondeu; -Ela não voltou? Ela saiu para fazer um lanche, mas isso foi a mais de três horas, eu achei que ela tinha voltado. Rapidamente ele retorna para dentro da empresa, para avisar aos seus superiores que ela poderia ter algum problema... Então fui incumbido de procurá-la. Aqui estava e para ele não havia mais o que fazer pois definitivamente não teria como encontrá- la sem o sinalizador. Ligou para o seu superior, lhe informando sobre a situação atual. -Senhor, não há mais como encontrá-la, eu encontrei o sinalizador e está comigo, de alguma forma ela descobriu e livrou-se dele. Lhe ocorreu então de perguntar: -O computador que ela usava está ligado em rede? -Todos os computadores da empresa estão ligados em rede, por quê? -De repente me deu uma curiosidade de saber o
  • 59. que ela estava fazendo. -Ela não estava trabalhando em nada importante, nós à separamos do projeto principal. -Se o que me veio na cabeça, for verdade, o senhor poderá ter uma surpresa. Me passe o endereço eletrônico dela, que eu vou procurar alugar um terminal. Logo em seguida o seu chefe lhe passa o endereço eletrônico, então ele sai à procura de um computador. Em poucos minutos ele encontra um clube, onde jovens se reuniam para se divertirem com jogos eletrônicos. Perguntou ao dono do estabelecimento se havia algum computador ligado à internet. -O senhor poderia me informar se há algum computador que eu possa alugar e acessar a internet? -Todos os computadores são ligados a rede, todos os jogos são realizados com participação de outros jogadores via internet, se quiser usar pra outras coisas também alugo. -Que bom era disso que precisava! Após acomodar-se numa cadeira, ele ativa o computador, que estava em espera, entra no navegador e digita o endereço, demorou um pouco mas logo ele está no servidor principal da empresa e que exibe um belo logotipo. Numa janela que se abre ele digita mais um endereço que não é acessível à estranhos, somente ao digitar sua senha, aparece outra janela onde um gráfico mostra todos os outros computadores da empresa. Ele procura o ícone do computador referente ao que ela estava trabalhando, uma
  • 60. mensagem aparece solicitando uma outra senha. Bateu com as mãos fechadas sobre a mesa, pois certamente só ela sabia a senha e como não era muito entendido em computador ele não conseguiria ter acesso aos arquivos. Mas isso não passou desapercebido, pois logo apareceu um rapaz esquisito meio narigudo. -Problemas, não consegue acessar? -Pois é, não consigo acessar sequer o computador da empresa onde trabalho. Ele olhou para o monitor e falou. -Está protegido por senha, você só vai conseguir se pedir “emprestado” a senha. -Sem chance a dona do computador desapareceu, é isso que estou tentando fazer, encontrá-la. -Você não entendeu, eu posso conseguir a senha, por uma pequena contribuição para os menores. -Há! Então você é um racker, mas não se parece com os racker`s que aparece na tevê. -É que estou disfarçado. -Mas você parece normal. ] -Pois é estou disfarçado de uma pessoa normal, quem é que vai desconfiar? Mas antes lhe aviso é ilegal e se alguma coisa acontecer, eu nem mesmo sei mexer em computador, negarei tudo e qualquer coisa. -Quanto? -Cinquenta, tá bom? -Pode começar. Saiu da cadeira e deu para o rapaz sentar-se, ele retira um pequeno cd do bolso e coloca no compartimento de cd do computador.
  • 61. -Essa belezinha nunca me deixa na mão. Logo na tela do computador aparece uma janela com as inscrições: iniciando o programa, um novo programa se abre, ele aperta uma tecla que abre uma tela com letras inteligíveis, fecha-se então, abrindo outra que começa à mostrar a letra x uma após à outra, indicando que algo estava em andamento. O racker falou pra ele relaxar que ia demorar um pouquinho. Após alguns minutos, alguns números começam à passar rapidamente. Então para e na tela aparece a possível senha. Ele anotou num papel para não esquecer. Então retira o cd do compartimento e guarda no bolso, e fala; -Aqui está a senha. Ficou com o papel na mão, insinuando que deveria receber. O investigador então pega a carteira, retira cinqüenta reais e dá ao racker, e pega o papel. -Obrigado pela “doação” as “crianças” agradecem. Ele deu uma olhada ao racker como se quisesse dizer “cara de pau”, e balançou a cabeça negativamente. -É para as crianças sim, eu tenho filhos... Deu um leve sorriso, voltou à sentar-se. Abriu a caixa onde aparecia para digitar a senha, e assim o fez. Logo teve acesso aos arquivos dela. Então ele falou ao ,racker; -Valeu, você é bom mesmo! -Não tem de que, a gente se vê por aí. Começou a procurar pelo correio eletrônico, pra ver se achava em alguma mensagem uma possível
  • 62. pista, entre umas e outras mensagens não achou nada suspeito. Resolveu ver em que pesquisa ela estava trabalhando, entre formulas e gráficos também não achou nada interessante. Então havia uma pasta onde estava escrito “eureca”, e achou curioso, quando tentou ver o conteúdo clicando na pasta, havia dois arquivos executáveis, eram algum programa, ficou pensando no qual ele iria abrir primeiro, então clicou em um ícone em forma de uma lâmpada do aladin. Então aparece uma caixa dizendo: Digite a senha. Então ele digita a mesma senha que ele usou antes. Outra mensagem pediu para confirmar, ele confirmou. Então aparece outra caixa onde dizia: senha inválida, acesso não autorizado, apagando todos os arquivos. Uma barra aparece indicando o andamento. Apertou a tecla Esc. para abortar, mas nada adiantou Ele passou à desconfiar que ela não era tão santa como parecia, ficou pensando que ela estava fazendo algo sem o conhecimento da empresa, só poderia pois chegou restringir o acesso ao computador à ponto de chegar apagar o conteúdo do disco caso fosse violado. Já não havia mais o que procurar, mas com certeza alguma coisa estranha estava acontecendo e ele estava decidido a descobrir e falou consigo mesmo; -Vou ter que voltar ao começo e tentar localizar o homem que estava com ela. Levantou-se foi até o balcão onde pagou uma pequena taxa pela utilização do computador, e saiu. -Como não pensei nisso antes? Se o sinalizador foi achado na lanchonete, prova que ela esteve lá, e
  • 63. se ela esteve lá, foi ela mesmo que o garçom viu acompanhada de um homem, vou ter que tentar achar o homem. Enquanto voltava ao carro, ficou tentado à invadir a casa, do suposto homem que estava em companhia dela, para ver se conseguia encontrar alguma coisa que pudesse indicar seu possível paradeiro. Voltou ao veículo e se acomodou, colocou as chaves na ignição dando a partida em seguida, arrancou, já com rumo decidido. Pouco depois ele se encontra no bairro onde ele já havia estado de manhã, algumas quadras a mais ele chega na rua, então ele para o carro, um pouco distante da casa, desliga o motor, mas não sai, de dentro do carro ele fica olhando para ver se há alguma movimentação na casa. Nota que a luz que estava acesa na noite anterior continuava acesa. Ele liga o rádio, enquanto ouve uma música, fica por alguns minutos olhando, como não viu movimentação alguma decidiu sair do carro, atravessou a rua e foi discretamente andando pela calçada, quando chegou perto percebeu o que ele não tinha visto antes, havia algumas cartas na caixa do correio que não haviam sido corretamente colocada, então diminuiu os passos, quando chegou bem próximo da caixa puxou os envelopes rapidamente e colocou-os no bolso, continuou andando até a esquina, atravessou a rua e voltou para o carro, entrou no carro e arrancou. Procurou uma outra rua menos movimentada, e novamente estacionou, então pois se a verificar os envelopes, primeiro verificou o nome do destinatário, todas as cartas estavam endereçadas à
  • 64. mesma pessoa, que provavelmente seria o suposto homem que estava com a mulher, mas não abriu os envelopes, tão somente um que lhe interessou que era a fatura de telefone. Abriu o envelope e passou a olhar as chamadas telefônicas que ele havia recebido, pensou que pudesse reconhecer algum número, mas não havia nem um conhecido. De posse da fatura telefônica, ele pegou o seu próprio celular e discou para o número principal da casa, insistiu várias vezes, o telefone chamava, mas ninguém atendia, com certeza ele não está em casa, estava tentado à invadir a casa, já que pelo visto não havia ninguém, mas desistiu, escolheu um outro número e discou, logo alguém atende, cumprimentou e perguntou quem estava atendendo. A pessoa mostrou-se receptiva, falou que estava à procura de um amigo seu, arriscou o nome que estava na fatura e perguntou; -Como eu disse ele é um velho amigo, vim fazer uma visita à ele, mas não o encontrei em casa, já liguei também e ninguém atende o telefone, o vizinho dele me disse que vocês são conhecidos e poderiam me informar melhor. Arriscou umas mentiras e deu certo, a voz amigável fala do outro lado da linha. -Conheço, sim somos parentes, eu não sei onde ele se encontra, mas posso te dar o número do celular dele. -Seria muito gentil de sua parte. -Tenho dois números, um dos dois é o dele, tem uma caneta aí? -Tenho sim, pode falar Enquanto prendia o celular pelo ombro pegou
  • 65. uma caneta, e anotou os números do celular na palma da mão. Literalmente com os números telefone na mão, ele disca o primeiro, 91052134 em seguida ouve o tom indicando que estava chamando, esperou um pouco mas ninguém atendeu. CAPÍTULO 10 Jasmine levou a mão à pequena cachoeira e falou; -Nossa! Como é gelada, e é tão cristalina. Juntou as mãos em forma de cuia, e encheu de água e jogou no rosto, logo depois ela enche de novo a mão e então toma alguns goles. A água escorria pelo vão dos dedos, voltando para o pequeno leito. Eu também enchi as mãos de água para beber, enquanto molhava a cabeça pra ver se passava um pouco o cansaço, apesar de ser uma pequena cachoeira a água jorrava com força devido a altura que vinha, os respingos escorriam pelo meu pescoço molhando parte da minha camisa. Em outras condições, provavelmente molharia Jasmine, mas ainda era cedo e ainda não havia esquentado então descartei a ideia , pois quem acabaria saindo molhado da brincadeira seria eu mesmo, e não tinha nem uma roupa de reserva. Subindo de volta ao mirante, ouvi bem distante um som de telefone chamando, e achei estranho pois o telefone estava no carro e a distancia que o carro estava, não era para se ouvir, continuei subindo, me agarrando em raízes e pequenos
  • 66. troncos, pouco à frente de Jasmine, de vez em quando parava para ajudá-la, subir era mais difícil do que descer. De novo no mirante, vou ao carro verificar o telefone, peguei o telefone e olhei no visor, percebi que não havia nenhuma chamada perdida. Estranho... Quando já estava colocando o telefone de volta sobre o painel, ele toca, me dando um pequeno susto, fiquei intrigado imaginando até que estava ficando doido pois pouco antes achava que tinha ouvido o telefone tocar e não havia e agora que toca ninguém responde. -O que aconteceu? Perguntou Jasmine. -Alguém ligou mas não falou nada, pode ter sido engano, e nem deve ser importante pois o número não é de alguém que eu conheça, e se for importante, não tardará religar. Foi uma manhã diferente de todas que já passei, e estava feliz como pouca vezes. -Vamos embora? Precisamos descansar, nem tudo é alegria ainda temos que procurar solucionar o teu problema. -Mas já? O mar daqui parece verde, pena que está longe. -Que pique que você tem, parece que não sente sono. Estava mesmo cansado, mas, sabe lá quando que vou poder fazer isso novamente, normalmente sou um cara difícil de dizer não e nem seria agora que iria dizer. -Vamos fazer o seguinte, nós vamos voltar por um outro caminho, é mais longo, mas a estrada é melhor, vamos pelo menos poder passar pela praia. Peguei na mão dela e à puxei para o carro
  • 67. -Você vai me levar pra ver o mar, mesmo? -Ué? Você não quer ir? -Quero, não precisa ser hoje, eu sei que você está cansado vamos numa outra oportunidade. -Agora já me decidi, e se eu resolvo fazer alguma coisa e acabo não fazendo fico muito frustrado. Ela abriu aquele sorriso típico , que todo mundo já viu e conhece, daquele que desmancha a gente, deixando-nos indefeso como um coelho para uma onça. Ela olhou para mim e percebeu em mim um sutil sorriso, e então me perguntou; -Por que você está com esse sorriso estranho? Eu falei; -Nada só bobagens que veio na cabeça. Na verdade estava pensando que se ela me falasse que era um demônio, se bem que algumas mulheres se comportam como tal, fazem o que querem de seres indefesos chamados homens, e me pedisse para leva-a até o inferno, meio contrariado, provavelmente à levaria. Entramos no carro, liguei o som para relaxar, em seguida dei a partida, nós estávamos bem no alto da serra, então continuamos à descer, bem devagar, pois a estrada é estreita e cheia de curvas. Logo abaixo em alguns trechos, a estrada seguia o contorno de um rio pedregoso, aonde fosse o rio a estrada o seguia, íntimos, que pareciam-se namorados. Mais um pouco à frente algumas pessoas, com seus instintos ancestrais primitivos aflorados faziam um pequeno acampamento. Passamos por dentro da cidade que havíamos visto do alto da serra, era uma cidade muito antiga
  • 68. quase da época do descobrimento, mas não paramos, passamos direto em direção à outra cidade que era banhada pelo mar, afinal ela queria conhecer o mar. Alguns minutos depois já estava-nos aproximando da baía, atravessamos o pequeno centro da cidade, e entramos numa avenida que chamavam de avenida beira mar, após uma curva já era possível ver o mar, grandes ondas morriam na areia da praia, ainda no carro andamos mais ou menos dois quilômetros de praia deserta, sem ver nenhuma pessoa, afinal ainda era cedo e num domingo, quando as pessoas dormem até mais tarde. Estacionei o carro, e fomos caminhando na areia da praia, até bem próximo de onde as ondas morriam, Jasmine agachou-se e retirou o tênis amarrou-o um no outro com o cardaço, também fiz o mesmo e continuamos à caminhar pela praia, estávamos andando juntos de braços dados, ela balançava o tênis, demonstrando estar muito feliz. Uma onda um pouco mais forte fez com que a água molhasse nossos pés, então ela me abraçou-se à minha cintura, como se procurasse segurança, talvez porque a água estivesse gelada ou provavelmente por puro charme e sorriu. Se eu novamente procura-se palavras para explicar a sensação que sentia provavelmente não conseguiria. Fomos até uma grande pedra que dividia a praia, mas não à transpassamos, resolvemos voltar dali, ela ficava fascinada, com a beleza do mar que agora parecia mais azulado do que verde, ela fazia questão de andar por onde a onda chegava, à cada nova onda as marcas de nossos pés que ficavam na areia desapareciam.
  • 69. Lembrei-me de quando numa reportagem um homem falou que a atração que o ser humano tem pelo mar, é pelo fato de a vida ter surgido nele. Faltava bastante para chegar ao carro, ela sai correndo na areia erguendo os braços como se estivesse agarrando à vida, eu continuei lentamente, ela parecia tão feliz, vi de longe quando ela chegou e encostou-se no carro enquanto me esperaria. CAPÍTULO 11 A noite havia acabado e era domingo, e o homem que havia bebido algumas cervejas com os colegas, já havia levantado, mesmo após ter ido dormir tarde. Parecia muito bem, ao contrário do que deveria aparentar após uma noite de bebedeira. A sua esposa já tinha preparado o café, e seus dois filhos estavam na mesa. Após ter tomado um banho, foi até a cozinha, e beijou a sua esposa. -Nossa! O que aconteceu? parece radiante. -Não sabia que beber, fazia tão bem -Falou a esposa -Não bebi tanto, mas me diverti muito ontem à noite, com alguns colegas. Antes disso eu não estava legal. -O que aconteceu? -Alguns amigos me encontraram e fomos beber cerveja, foi lá que esqueci de procurar sentido pra minha vida, agora percebo que se a gente procurar razão pra vida, perderá a vida procurando e certamente não encontrará. Ela falou. -Explique melhor. -Estava meio deprimido, sempre fico ouvindo