1. a3DIÁRIO DA SERRA
DOMINGO A TERÇA-FEIRA, DE 11 A 13 DE OUTUBRO DE 2015 Saúde
BRUNA ZECHEL
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Na tarde da última sexta-feira (9), um grupo de 10 mães esteve em frente
à Escola Estadual Cardoso de Almeida, em prol de uma manifestação em
apoio à aluna Victória Xavier. Victória foi impedida de adentrar a escola após
atrasar em 15 minutos sua entrada, por conta de estar amamentando a filha
de dois anos de idade. As mães presentes no movimento chamado de “Ma-
maço” posaram com cartazes e amamentaram seus filhos em frente à esco-
la, pedindo maior respeito e consideração com o direito da amamentação.
SIDNEY TROVÃO
Descaso com vacinação faz doenças ressurgirem
Muitas vezes,
as vacinas são
aplicadas em mais
de uma dose e a
população não
retorna às unidades
de saúde para
tomar todas as
doses necessárias,
sendo assim a
proteção não é
efetiva
Segundo dados do Mi-
nistério da Saúde, a in-
cidência de coqueluche
aumentou 10 vezes em
apenas três anos, casos de
caxumba têm se tornado
mais frequentes em Esta-
dos como São Paulo e Rio
e um surto de sarampo
acaba de atingir o Nordes-
te - o Brasil estava há 12
anos livre da transmissão
interna do vírus. O res-
surgimento de doenças
contagiosas que estavam
praticamente erradicadas
do país vem preocupando
médicos e autoridades sa-
nitárias. O descaso com a
vacinação é um dos prin-
cipais fatores para este
cenário. Muitas vezes,
as vacinas são aplicadas
em mais de uma dose e
a população não retorna
à unidade de saúde para
tomar todas as doses ne-
cessárias, sendo assim a
proteção não é efetiva.
O médico infectologis-
ta, Dr. Alexandre Naime
Barbosa da FMB/Unesp,
afirma que o risco do re-
aparecimento de doenças
que haviam sido controla-
das por vacinação existe
sim no Brasil, e ele é de-
corrente de dois fatores:
falhas na cobertura vaci-
nal e grupos anti-vacina.
“Para que uma doen-
ça imunoprevenível seja
controlada em uma popu-
lação, não é preciso que
100% das pessoas neces-
sariamente estejam va-
cinadas, basta que uma
grande parcela receba a
imunização que todo o
grupo estará protegido.
Esse efeito é conhecido
como imunidade de reba-
nho. Porém, quando uma
parcela significativa da
população não recebe a
vacina, por questões de
campanhas ineficazes, ou
problemas financeiros,
o percentual de pessoas
protegidas cai muito, e
o patógeno circula com
mais força, causando um
grande número de casos
da doença”, explica.
Dr. Alexandre Barbosa
ressalta que a falha na co-
bertura vacinal foi uma das
causas do surto de saram-
po registrado no Nordeste
do Brasil. “O surto no Nor-
deste também está relacio-
nado com o contato com
pessoas do exterior”, frisa.
Com facilidade de
acesso e compartilha-
mento das informações
a propagação de boatos e
falsas notícias científicas
aumentou muito nos últi-
mos anos, o que estimula
a formação de grupos an-
ti-vacinas.
“De tempos em tem-
pos, novas manchetes
sensacionalistas relacio-
nam vacinas à efeitos co-
laterais, e causam ondas
de campanhas contra-
-vacinas. O exemplo mais
famoso foi uma pesquisa
publicada em 1998, que
relacionava a vacina trí-
plice (sarampo, rubéola e
coqueluche) ao autismo,
causando enorme alar-
de em diversos países.
Como resultado, muitos
pais não permitiram a
vacinação de seus filhos,
e houve uma epidemia de
coqueluche na Europa,
com milhares de casos
registrados e muitas mor-
tes. Posteriormente, foi
provado que autor da pes-
quisa fraudou os dados
clínicos do estudo, tendo
sido cassado seu diploma
de médico, e banido da
comunidade científica.
Infelizmente essas ondas
anti-vacina tem ganho
adeptos, principalmente
nos EUA e em países da
Europa, e em menor grau
também no Brasil”, afir-
ma Dr. Alexandre Naime
Barbosa.
Quando temos a sen-
sação de controle, de
segurança geralmente
descuidamos de alguns
cuidados básicos e com a
saúde não é diferente. “É
natural do ser humano
relaxar os cuidados com
prevenção quando uma
potencial situação de ris-
co parece estar controla-
da. Isso explica a falta de
percepção de risco que
muitos pais demonstram
ao não se preocuparem
em deixar a carteira de
vacinação de seus filhos
em dia”, salienta.
De todas as doenças
que estão ressurgindo
nos últimos anos, como a
coqueluche, sarampo, ca-
xumba, a mais perigosa é
o sarampo, como explica
o médico infectologista
Dr. Alexandre. “Dentre es-
sas doenças, a mais peri-
gosa é o sarampo, porque
é uma das patologias in-
fecciosas mais facilmente
trasmissíveis, e pode le-
var à quadros de infecção
generalizada, causando
pneumonias e outros aco-
metimentos, potencial-
mente fatais. Todas essas
doenças são síndromes
febris, podendo cursar
com os mais variados sin-
tomas. O diagnóstico de-
pende de avaliação médi-
ca detalhada, e de exames
laboratoriais”, afirma.
Outra doença que esta-
va praticamente erradica-
da, mas que ressurgiu nos
Estados Unidos e Europa
é a poliomielite. “Ela tam-
bém reapareceu por conta
da onda anti-vacinação.
Essa infecção que atinge
o sistema nervoso cen-
tral pode ser fatal, e deixa
graves sequelas motoras.
O Brasil erradicou a Po-
lio no começo da década
de 90, mas temos que fi-
car alerta, pois epidemias
da doença acontecem no
exterior, e se não houver
cobertura vacinal adequa-
da, ela pode ressurgir por
aqui”, alerta.
Dr. Alexandre Naime Barbosa: “É natural do ser humano relaxar os cuidados
com prevenção quando uma potencial situação de risco parece estar controlada.
Isso explica a falta de percepção de risco que muitos pais demonstram ao não se
preocuparem em deixar a carteira de vacinação de seus filhos em dia”
Mas, a vacina é segura?
Sempre que é acrescen-
tada alguma vacina no ca-
lendário vacinal, muitos
boatos e conversas surgem à
respeito da eficácia e benefí-
cios das vacinas. Quem nun-
ca ouviu que a vacina con-
tra a gripe é para matar os
idosos mais rápido? Que a
vacina contra o HPV estimu-
la as meninas a praticarem
sexo mais cedo? O médico
infectologista Dr. Alexandre
Naime Barbosa ressalta que
vivemos numa sociedade
democrática, onde cada um
tem direito de opinião e li-
vre arbítrio.
“Mas também vivemos em
um mundo em que diversas
teorias da conspiração circu-
lam. Tem gente que acredita
que Elvis não morreu, que
a Nasa esconde alienígenas
da opinião pública, que o
homem não chegou na Lua,
que não se pode tomar leite
com manga ou lavar o cabe-
lo quando se está menstrua-
da. E tem gente que acredita
que as vacinas foram criadas
para gerar lucro para a indús-
tria farmacêutica ou para que
o governo controle a popula-
ção. Ao contrário dos ante-
riores, esses últimos causam
danos não somente para si
próprios e para seus filhos,
mas também à coletividade,
pois a falta de vacinação faz
com que os patógenos cir-
culem com maior força em
uma população, vitimizan-
do quem não tem nada a ver
com isso”, afirma.
Para que uma vacina seja
disponibilizada no merca-
do, ela passa pelos mesmos
passos científicos que outras
medicações. São feitas três
etapas de testes para assegu-
rar inicialmente a segurança,
e posteriormente a proteção
(eficácia). Após os estudos se-
rem concluídos, as agências
regulatórias (FDA nos EUA e
Anvisa no Brasil) analisam
todos esses resultados antes
que as vacinas sejam autori-
zadas para comercialização.
“E para a implantação no
SUS, o Ministério da Saúde
ainda avalia a custo-efetivi-
dade para o país. Todo esse
processo muitas vezes é su-
perior a 10 anos de intensos
estudos e dedicação de toda
a vida de trabalho de milha-
res de cientistas”, salienta Dr.
Alexandre Barbosa.
Porém, o médico infecto-
logista ressalta que toda me-
dicação tem seu possível efei-
to colateral. As vacinas, de
modo geral, tem baixa taxa
de eventos adversos, e quan-
do eles existem se limitam
a reações dermatológicas
no local da aplicação, ou fe-
bre de baixa intensidade nos
dias subsequentes, demons-
trando ativação do sistema
imune em relação aos com-
ponentes imunogênicos. “Ca-
sos comprovados de reações
graves ou fatais existem, mas
são raríssimos quando anali-
sado as milhões de pessoas
imunizadas. Nesse sentido,
o aperfeiçoamento de muitas
vacinas tem como objetivo
eliminar esse risco”, explica.
As vacinas são seguras e
trazem muitos benefícios a
saúde da população de uma
forma geral. Segundo o Dr.
Alexandre Naime Barbosa
são raros os casos de contra-
-indicação de vacinas, devido
ao alto grau de proteção, e
baixíssima taxa de eventos
adversos.
“Em crianças que estão
durante o calendário vaci-
nal, se houver dúvidas so-
bre fazer ou não a vacinação
em determinadas situações
como febre ou resfriado, a
recomendação é ir até a uni-
dade de saúde onde os pro-
fissionais poderão avaliar se
é ou não possível a vacina-
ção, à depender da vacina a
ser aplicada. Em adultos que
tenham doenças imunossu-
pressoras, como a infecção
pelo HIV/Aids, o uso de va-
cinas com patógenos atenu-
ados deve ser avaliada com
cuidado”, afirma.
Alguns números da OMS
Segundo o médico in-
fectologista Dr. Alexandre
Naime Barbosa esse “des-
caso” com a vacinação
nos últimos anos também
pode ser explicado por
conta das novas gerações
não terem conhecimento
de como essas doenças
vitimizaram e levaram a
óbito milhões de pessoas
no século passado.
“Não há na história
da ciência e da medicina
ação que tenham obtido
maior sucesso em termos
de salvar vidas do que a
vacinação contra doen-
ças infecciosas. Por ano,
cerca de 2 a 3 milhões de
mortes são evitadas pela
imunização em todo o
mundo, e se todas as po-
pulações tivessem mais
acesso às vacinas, mais
2 milhões de vidas po-
deriam ser salvas anual-
mente, segundo a Organi-
zação Mundial de Saúde
(OMS)”, afirma.
Foto histórica,
mostrando irmãos
gêmeos, em que um
foi vacinado, e outro
não para Varíola
Não há na história da ciência e da medicina ação que
tenham obtido maior sucesso em termos de salvar
vidas do que a vacinação contra doenças infecciosas
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