Visando abordar cientificamente o vírus Zika e o que já há de estudos e constatações sobre ele é que o evento foi organizado
Ontem (16) foi realizada na Unesp de Botucatu, com organização da Liga de Infectologia, a conferência “Desmistificando o Zika e outras epidemias”. O médico infectologista Alexandre Naime Barbosa foi o responsável pela condução do debate. “A ignorância perambula nos períodos de epidemia”, cita Naime. Como tudo ainda é muito novo sobre o vírus, muita informação errada, equivocada e até distorcida circula entre a população.
Inteligência Artificial na Saúde - A Próxima Fronteira.pdf
DESMISTIFICANDO O ZIKA E OUTRAS EPIDEMIASÉ TEMA DE CONFERÊNCIA
1. DIÁRIOBOTUCATU, QUARTA-FEIRA,
17 DE FEVEREIRO DE 2016
Saúde
Revista
GentequeBrilha
B
BRUNA ZECHEL
opiniao@diariodaserra.jor.br
“DESMISTIFICANDO O ZIKA E OUTRAS
EPIDEMIAS” É TEMA DE CONFERÊNCIA
Visando abordar cientificamente o vírus Zika e o que já há de estudos e constatações sobre ele é que o evento foi organizado
Ontem (16) foi realiza-
da na Unesp de Botucatu,
com organização da Liga
de Infectologia, a confe-
rência “Desmistificando o
Zika e outras epidemias”.
O médico infectologista
Alexandre Naime Barbo-
sa foi o responsável pela
condução do debate. “A ig-
norância perambula nos
períodos de epidemia”,
cita Naime. Como tudo
ainda é muito novo sobre
o vírus, muita informação
errada, equivocada e até
distorcida circula entre a
população.
“Com o objetivo de
discutir cientificamente
o assunto, a Liga de Infec-
tologia, em conjunto com
a Disciplina de Moléstias
Infecciosas da Faculda-
de de Medicina da Unesp
promoveu a conferência
“Desmistificando o Zika
e outras Epidemias”. A in-
tenção era discutir cienti-
ficamente as informações
sobre o Zika e epidemias
correlatas, que chegam
em grande quantidade,
muitas vezes causando
dúvidas e confusão”, ex-
plica o infectologista Ale-
xandre Naime.
O Brasil enfrenta hoje
uma epidemia complexa,
já que não estamos falan-
do apenas do vírus Zika,
mas de Dengue e Chikun-
gunya. “Essa epidemia tem
como figura central um só
problema: a incompetência
do poder público e da po-
pulação em eliminar o Ae-
des. Esse mosquito entrou
no Brasil com os coloniza-
dores, e depois de muita
luta, foi possível eliminá-
-lo de nosso país em 1955.
Mas infelizmente, devido à
falta de cuidados no con-
trole dos focos de procria-
ção, ele voltou no final da
década de 1960, causando
várias epidemias de den-
gue desde então. Além da
dengue, o Aedes também
tem o potencial de trans-
missão da Febre Amarela,
mas essa felizmente é uma
situação mais rara”, salien-
ta Naime.
Além de uma “epide-
mia de Aedes”, vivemos
uma grande epidemia de
desinformação. “Vivemos
uma época de muitas in-
certezas, pois o Zika vírus
é um inimigo novo, com
poucos estudos científicos
concluídos, e, portanto, há
que se ter cuidado com
resultados de pesquisas
incompletas e pessoas
mal-intencionadas que
querem propagar o pânico
através de teorias da cons-
piração diversas”, salienta.
O Zika foi descrito pela
primeira vez na literatura
médica, no final da década
de 1940, mas só ganhou
notoriedade internacional
em novembro do ano pas-
sado, quando foi associado
a casos de recém-nascidos
com microcefalia. “A partir
dessa data, uma enxurrada
de informações científicas
se iniciou, algumas de fácil
assimilação pela relevân-
cia, e outras sem ainda um
significado claro. E ainda
vários boatos gaiatos com-
pletamente infundados
trouxeram preocupação às
pessoas, que ficaram per-
didas sem saber em que
acreditar”, frisa.
CONSTRUÇÃO & CIA
Nãopassecalor,instalejáseuarcondicionado
O verão chegou com tudo e com ele, o calor excessivo. Não
deixe que as altas temperaturas atrapalhem seu sono. A
Zilogástech realiza a instalação do seu ar condicionado
com segurança e qualidade. Aproveite e marque a sua em
até 6 x sem juros no cartão de crédito. Confira também,
a linha completa de ares condicionados em até 10 x sem
juros no cartão. Não passe calor nessa estação! Agende
uma visita em sua residência com quem entende e tem
profissionalismo no que faz.
Av. Floriano Peixoto, 517 - (14) 99635-0188
Dicas, Produtos e Soluções
Preocupe-se
com o mosquito
Substância
Pyriproxifen
Independente da doença que
falarmos, seja Zika, Dengue ou
Chikungunya, podemos evitar
o problema de uma forma
bem simples: eliminando os
criadouros do mosquito Aedes.
Sem mosquito, não tem doença.
Embora a Zika tenha ganhado
grande repercussão na mídia é
importante lembrar que temos
uma doença, que já convivemos
há muito mais tempo, que em
termos individuais é muito mais
grave: a dengue.
“Potencialmente a dengue é
muito mais grave em termos
individuais, pois a população
em risco é maior que somente
as gestantes, e o Brasil ainda
têm índices alarmantes de
mortes por essa doença todo o
ano”, salienta o infectologista
Alexandre Naime Barbosa.
No final de semana,
diversas mídias e pessoas
compartilharam notícias sobre
a associação de uma substância
(Pyriproxifen) utilizada no
combate ao Aedes, com casos
de microcefalia. A informação
mais uma vez gerou dúvidas na
população.
“Um boato espalhado por
ambientalistas afirma que o
uso do larvicida pyroproxyfen,
produzido pela empresa
Monsanto estaria por trás
dos casos de microcefalia,
principalmente no Nordeste e
em lugares de maior pobreza.
Isso é mito. Não existe nenhum
estudo epidemiológico que
comprove a associação do
uso de pyriproxifen e a
microcefalia. O pyriproxifen
está entre os produtos
aprovados pela Organização
Mundial de Saúde (OMS). A
Associação Brasileira de Saúde
Coletiva (ABRASCO), que
inicialmente soltou nota que
dava margem à tal associação,
teve que vir à público se
retratar, alegando ter sido mal
interpretada”, afirma Naime.
O QUE JÁ SABEMOS DE FATO SOBRE O VÍRUS ZIKA?
Nexo causal entre Zika e Malformações Neurológicas Congênitas
Alto Grau de Probabilidade, pois há uma forte associação geográfica, epidemiológica e temporal
(coexistência). É altamente provável que os dois problemas estejam relacionados e alguns estudos
recentes mostram danos graves e irreversíveis ao cérebro desses fetos. Estudos caso-controle
estão em andamento para confirmar essa hipótese. O Zika talvez seja condição necessária, mas não
suficiente para as Malformações Congênitas (cofatores do hospedeiro, do vírus ou ambientais).
Magnitude da Infecção pelo Zika e Mal-Formações Neurológicas Congênitas
Incerteza, pois há indícios que a microcefalia era subdiagnosticada antes do aumento
de casos gerado pelo Zika (até 2014), o que levou à maior busca ativa, aumento
das notificações e mesmo sobre-diagnóstico (2015 em diante), deixando dúvidas
sobre qual a real magnitude do Zika na epidemia de microcefalia no Brasil.
Nexo causal entre Zika e Síndrome de Guillain Barré
Alto Grau de Probabilidade, pois a presença do Zika é suspeita de elevar o número de casos da síndrome
de Guillain-Barré, um evento relativamente raro que ocorre quando o sistema imune ataca o sistema
nervoso, causando paralisia e outros problemas neurológicos. Estudos epidemiológicos estão sendo
feitos para verificar se essa relação realmente existe, mas está claro que mesmo que o vírus esteja
aumentando a incidência da síndrome, ela só ocorre em um número minoritário de casos entre infectados.
Risco Individual em Não Gestantes
Baixo, pois o Zika vírus sempre esteve associado a uma leve
doença febril exantemática (manchas pelo corpo).
Alexandre Naime Barbosa: “Medicina não é
matemática, o conhecimento muda de acordo com
variáveis biológicas, sociais e comportamentais”
A ERA DA INFORMAÇÃO
Essa não é a primeira, nem a última
epidemia que enfrentaremos. Porém,
o diferencial da facilidade de acesso a
muitas informações, tem seu lado bom e
ruim, principalmente quando falamos de
construção de conhecimento cientifico.
“Vivemosnaeradainformação,emquemuitas
vezesoexcessodelas,eprincipalmenteafalta
de qualidade e, às vezes, a má fé de alguns,
dificultam a caminhada na construção do
conhecimento científico, que é um processo
lento e meticuloso. Devemos fugir das
respostas rápidas e fáceis, e seguir os trilhos
de métodos científicos bem rigorosos, para
não termos o ônus de desmentir afirmações
e ter que consertar consequências de
atos impensados no futuro. Medicina não
é matemática, o conhecimento muda de
acordo com variáveis biológicas, sociais e
comportamentais. Como lembra um outro
colega, a Medicina é a ciência das verdades
transitórias”, finaliza.
SIDNEY TROVÃO