2. A obra da salvação continuada pela Igreja realiza-se na liturgia
Portanto, como Cristo foi enviado pelo Pai, assim também
ele enviou os apóstolos, cheios do Espírito Santo, não só
porque, pregando o Evangelho a todos os homens
anunciassem que o Filho de Deus com a sua morte e
ressurreição nos livrou do poder de satanás e da morte e
nos transferiu para o reino do Pai, mas também para que
levassem a efeito, por meio do sacrifício e dos
sacramentos, sobre os quais gira toda a vida litúrgica,
a obra de salvação que anunciavam. (SC 6)
3. Presença de Cristo na liturgia
Para realizar tão grande obra, Cristo está sempre presente em sua Igreja,
e especialmente nas ações litúrgicas. Está presente no sacrifício da
Missa, tanto na pessoa do ministro, pois aquele que agora se oferece
pelo ministério sacerdotal é o "mesmo que, outrora, se ofereceu na
cruz", como sobretudo nas espécies eucarísticas. Ele está presente
pela sua virtude nos sacramentos, de tal modo que, quando alguém
batiza, é o próprio Cristo quem batiza. Está presente na sua palavra,
pois é ele quem fala quando na Igreja se lêem as Sagradas Escrituras.
Está presente, por fim, quando a Igreja ora e salmodia, ele que
prometeu: "onde se acharem dois ou três reunidos em meu nome, aí
estou eu no meio deles" (Mt 18, 20). (SC 7)
4. Presença de Cristo na liturgia
Realmente, nesta grandiosa obra, pela qual Deus é
perfeitamente glorificado e os homens são santificados,
Cristo sempre associa a si a Igreja, sua amadíssima
esposa, que invoca seu Senhor, e por ele presta culto ao
eterno Pai.
Com razão, portanto, a liturgia é considerada como
exercício da função sacerdotal de Cristo. Ela simboliza
através de sinais sensíveis e realiza em modo próprio a
cada um a santificação dos homens; nela o corpo místico
de Jesus Cristo, cabeça e membros, presta a Deus o
culto público integral.
5. Presença de Cristo na liturgia
Por isso, toda celebração litúrgica, como
obra de Cristo sacerdote e do seu corpo,
que é a Igreja, é uma ação sagrada por
excelência, cuja eficácia nenhuma outra
ação da Igreja iguala, sob o mesmo título e
grau. (SC 7)
6. Liturgia terrestre e liturgia celeste
Na liturgia da terra nós participamos,
saboreando-a já, da liturgia celeste, que se
celebra na cidade santa de Jerusalém, para
a qual nos encaminhamos como peregrinos,
onde o Cristo está sentado à direita de
Deus, qual ministro do santuário e do
verdadeiro tabernáculo. (SC 8)
7. Liturgia terrestre e liturgia celeste
Com toda a milícia do exército celeste
entoamos um hino de glória ao Senhor e,
venerando a memória dos santos, esperamos
fazer parte da sociedade deles; esperamos
pelo salvador, nosso Senhor Jesus Cristo, até
que ele, nossa vida, se manifeste, e nós
apareceremos com ele na glória. (SC 8)
8. A liturgia não é a única atividade da Igreja
A sagrada liturgia não esgota toda a ação da Igreja;
com efeito, antes que os homens possam achegar-
se à liturgia, é necessário que sejam chamados à fé
e à conversão: "Como poderiam invocar aquele em
quem não creram? E como poderiam crer naquele que
não ouviram? E como poderiam ouvir sem pregador? E
como podem pregar se não forem enviados? " (Rm 10,
14-15). (SC 9)
9. A liturgia não é a única atividade da Igreja
E por este motivo que a Igreja anuncia a mensagem de
salvação àqueles que ainda não crêem, a fim de que
todos os homens conheçam o único verdadeiro
Deus e o seu enviado, Jesus Cristo, e se convertam
de seus caminhos, fazendo penitência. E aos que
crêem tem o dever de pregar constantemente a fé e a
penitência, de dispô-los à recepção dos
sacramentos, de ensinar-lhes a guardar tudo o que
Cristo mandou, de estimulá-los a todas as obras de
caridade, piedade e apostolado, através das quais se
torne manifesto que os fiéis cristãos não são deste
mundo, e, contudo, são a luz do mundo e dão glória
ao Pai diante dos homens. (SC 9)
10. A liturgia é o cimo é a fonte da vida da Igreja
Contudo, a Liturgia é o cimo para o qual se dirige a
ação da Igreja e, ao mesmo tempo, a fonte donde
emana toda a sua força. Na verdade, o trabalho
apostólico ordena-se a conseguir que todos os que
se tornaram filhos de Deus pela fé e pelo batismo,
se reúnam em assembleia, louvem a Deus na Igreja,
participem no sacrifício e comam a Ceia do Senhor.
(SC 10)
11. Noção de Liturgia segundo o Vaticano II. Aspectos:
A liturgia é obra do Cristo total, de Cristo
primariamente, e da Igreja por associação.
A finalidade da liturgia é o culto ao Pai e a
santificação dos Homens – O Sacerdócio de Cristo
se realiza nos dois aspectos.
A liturgia pertence a todo o povo de Deus que, em
virtude do batismo, é sacerdócio régio, com o
direito e o dever de participar das ações litúrgicas.
12. Noção de Liturgia segundo o Vaticano II. Aspectos:
A liturgia, constituída de gestos e palavras que
significam e realizam a salvação, é ela mesma um
acontecimento no qual se manifesta a Igreja,
sacramento do Verbo Encarnado.
A liturgia configura e determina o tempo da Igreja do
ponto de vista escatológico.
A liturgia é fonte e ápice da vida da Igreja.
13. Noção de Liturgia segundo o Vaticano II. Aspectos:
Síntese: A liturgia – “função santificadora e
cultual da Igreja, esposa e corpo sacerdotal do
Verbo Encarnado, para continuar no tempo a
obra de Cristo por meio dos sinais que o
tornam presente até a sua vinda.” (MARTIN, p.
96)
14. A liturgia, fonte e cume da vida da Igreja
O sacerdócio de Cristo realiza sua única missão – glorificação de
Deus, salvação dos homens – mediante um triplo ministério: o
profético, o litúrgico e o pastoral. Os ministérios profético e pastoral
estão subordinados ao litúrgico; nele encontram sua máxima
expressão e dele extraem sua força e eficácia.
Efetivamente, o ponto culminante do ministério litúrgico de Cristo:
sua morte na Cruz é, de uma parte, a máxima revelação do amor do
Pai aos homens (ministério profético) e a prova mais eloquente do
“não há maior amor que dar a vida pelas ovelhas” (ministério
pastoral); e, de outra, o ponto focal do qual se contempla toda a
atividade profética de Cristo e a fonte de onde brota a eficácia de seu
ministério pastoral.
15. A liturgia, fonte e cume da vida da Igreja
A Igreja, cuja missão e ministérios se identificam com os de seu
fundador, encontra na liturgia “o cume para o qual orienta toda
a sua atividade e, ao mesmo tempo, a fonte de onde extrai toda
a sua força” (SC 10).
Assim sendo, a evangelização e o pastoreio culminam na
sacramentalização (liturgia). A evangelização, porque o “ide e
ensinai todas as gentes” (Mt 28,19a) está radicalmente
orientado e completado com o “batizando-os em nome do Pai e
do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,19b). O pastoreio, porque
“os trabalhos apostólicos se ordenam a que, uma vez feitos
filhos de Deus pela fé e pelo batismo, todos se reúnam, louvem
a Deus no meio da Igreja, participem no sacrifício e comam a
Ceia do Senhor” (SC 10).
16. A liturgia, fonte e cume da vida da Igreja
Por outro lado, a sacramentalização confere eficácia ao pastoreio e à
evangelização, posto que a liturgia impele “aos fiéis a que, saciados
com os sacramentos pascais, sejam concordes na piedade” (SC 10);
e mais concretamente, “a Eucaristia solicita e estimula os fiéis à
imperiosa caridade de Cristo” (SC 10).
Por este motivo, pôde afirmar o Concílio Vaticano II que nenhuma
vida cristã e nenhuma comunidade local se constrói à margem da
liturgia (PO 6), sobretudo à margem da Eucaristia; e, ao contrário,
uma forte vida litúrgica e eucarística é o meio mais eficaz para
potencializar a evangelização e o apostolado, tanto a nível pessoal
como comunitário.
17. A liturgia, fonte e cume da vida da Igreja
Seria, porém, ilegítimo derivar destas afirmações um pan-liturgismo
teórico ou prático, pois a liturgia não esgota toda a atividade eclesial
nem toda a vida espiritual.
Não esgota toda a atividade eclesial, porque “a Igreja proclama aos
não-crentes a mensagem da salvação, para que todos os homens
conheçam ao Deus verdadeiro e a seu enviado Jesus Cristo e se
convertam de seus caminhos fazendo penitência” (SC 9); e “aos
crentes lhes deve pregar continuamente a fé e a penitência, e deve
ademais, prepará-los para os demais sacramentos, ensinar-lhes a
cumprir tudo quando mandou Cristo e estimular-lhes a toda classe de
obras de caridade, piedade e apostolado” (Ibidem). O ministério
litúrgico, portanto, pressupõe e exige o profético e o pastoral.
18. A liturgia, fonte e cume da vida da Igreja
Tampouco esgota toda a vida espiritual, porque “o cristão, chamado a
orar em comum, deve, não obstante, entrar em seu quarto para orar ao
Pai em segredo” e “levar sempre a mortificação de Jesus” em seu corpo
(SC 12). Por isso, a piedade litúrgica e a piedade extra-litúrgica nem se
contrapõem nem se excluem, mas se integram e se potencializam,
segundo o ensinamento de Pio XII na Mediator Dei, ratificado pelo
Concílio Vaticano II na Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a
liturgia, ao recomendar “encarecidamente os exercícios piedosos do
povo cristão”, sobretudo “as práticas de piedade das igrejas particulares
que se celebram por mandato dos bispos” (SC 12-13), contanto que
sejam “conformes às leis e normas da Igreja”, “organizem-se tendo em
conta os tempos litúrgicos”, “estejam de acordo com a sagrada liturgia e,
de certo modo, derivem dela e a ela conduzam” (SC 13).
19. Um ponto concreto: piedade litúrgica e piedade popular
Frente aos erros doutrinais de alguns liturgistas – eminentes,
muitas vezes, em outros campos – dizia o Papa Paulo VI na
Evangelii nuntiandi: “Tanto nas regiões onde está estabelecida
desde há séculos, com naquelas onde se está implantando,
descobrem-se no povo expressões particulares de busca de Deus
e de fé. Consideradas durante muito tempo como menos puras, e
às vezes, desprezadas, estas expressões constituem hoje o
objeto de um novo descobrimento quase generalizado. Durante o
Sínodo, os bispos estudaram a fundo o significado das mesmas,
com um realismo pastoral e um zelo admiráveis”.
20. Um ponto concreto: piedade litúrgica e piedade popular
A religiosidade popular, há que confessá-lo, tem
certamente seus limites. Está exposta
frequentemente a muitas deformações da religião,
isto é, às superstições. Detém-se frequentemente
a um nível de manifestações culturais, sem chegar
a uma verdadeira adesão da fé. Pode inclusive
conduzir à formação de seitas e pôr em perigo a
verdadeira comunidade eclesial.
21. Um ponto concreto: piedade litúrgica e piedade popular
Porém, quando está bem orientada, sobretudo mediante uma
pedagogia da evangelização, contém muitos valores. Reflete uma
sede de Deus que somente os pobres e simples podem conhecer.
Torna capaz de generosidade e sacrifício até o heroísmo, quando
se trata de manifestar a fé. Comporta um sólido sentido dos
atributos profundos de Deus: a paternidade, a providência, a
presença amorosa e constante. Engendra atitudes interiores que
raramente podem observar-se no mesmo grau naqueles que não
possuem essa religiosidade: paciência, sentido da cruz na vida
cotidiana, desapego, aceitação dos demais, devoção. Tendo em
conta esses aspectos, a chamamos de bom grado, piedade
popular, no sentido de religião do povo, em vez de religiosidade.
22. Um ponto concreto: piedade litúrgica e piedade popular
A caridade pastoral deve ditar, a quantos o Senhor
colocou como chefes das comunidades eclesiais, as
normas de conduta a respeito destas realidades, ao
mesmo tempo tão rica e tão ameaçada. Antes de tudo,
devem mostrar-se sensíveis a ela, saber perceber suas
dimensões interiores e seus valores inegáveis, estar
disposto a ajudá-la a superar todo risco de desvio. Bem
orientada, esta religiosidade popular pode ser cada vez
mais, para nossas massas populares, um verdadeiro
encontro com Deus em Jesus Cristo” (EN 48)
23. Um ponto concreto: piedade litúrgica e piedade popular
João Paulo II reiterou a mesma doutrina em todas as suas
viagens apostólicas aos mais variados países do mundo.
Assim, em sua primeira viagem à América, em 1979, dizia
em Guadalajara (México): “Esta piedade popular não é
necessariamente um sentimento vago, carente de sólida
base doutrinal, como uma forma inferior de manifestação
religiosa. Quantas vezes é, pelo contrário, como a expressão
verdadeira da alma de um povo, enquanto tocada pela graça
e forjada pelo encontro feliz entre a obra da evangelização e
a cultura local.
24. Um ponto concreto: piedade litúrgica e piedade popular
Guiada e sustentada, e se for o caso, purificada pela
ação permanente dos pastores, e exercitada
diariamente na vida do povo, a piedade popular é
verdadeiramente a piedade dos ‘pobres e simples’.
É a maneira como estes prediletos do Senhor vivem
e traduzem em suas atitudes humanas e em todas
as dimensões de sua vida, o ministério da fé que
receberam” (Santuário de N. S. de Zapopán,
30.XI.1979).