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“Os Ciganos no Brasil – Tabajara lança a
Sorte: Magias e Encantamentos”
A Tabajara Sociedade Recreativa lança a sorte e encantamentos na avenida ao
contar, cantar e dançar sobre o povo cigano no Brasil. Vindos do extremo oriente, esse
povo nômade percorreu vários territórios e deles absorveu culturas e tradições diversas.
Sem chão, os ciganos foram migrando para o ocidente até chegar à Europa e por fim às
Américas e ao Brasil. Envoltos em preconceitos (assim como os índios e os negros -
povos naturalmente ou forçosamente nômades), os ciganos sobrevivem até hoje em
suas tendas, entre artefatos de cobre, músicas, danças e misticismos. É sobre essa
alegria colorida e musical que a Tabajara pretende levar para a avenida mais do que
uma festa como o Carnaval. Queremos lembrar que minorias existem e ainda são
massacradas e discriminadas. Estamos em tempos de valorização da diversidade
cultural. Misturando ritos indígenas, o samba afro-brasileiro e o gingado gitano,
esperamos contribuir para a reflexão sobre tolerância e respeito a todas as diferenças.
Uberlândia, 06 de fevereiro de 2015.
Flávio Arciole
Carnavalesco
3
“Os Ciganos no Brasil – Tabajara lança a
Sorte: Magias e Encantamentos”
Para o Carnaval de 2015 a Tabajara Sociedade Recreativa traz a presença do
povo Cigano no Brasil, contando um pouco de suas histórias e lendas “que tem no mito
do segredo e da ambigüidade (sustentados basicamente pela tradição oral e pelo
nomadismo) um importante aspecto de sua defesa cultural e de sua permanência quase
fantástica como minoria étnica ao longo dos tempos” (Pereira, 1985).
Cigano é o nome em português dado ao povo Rom ( no singular) ou Roma (no
plural). A origem do nome mais próxima da língua portuguesa vem do grego bizantino
athígganos que significa “intocável”. Também chamados de gitanos, boêmios, calons e
por vários outros nomes dados de acordo com as línguas das terras por onde passaram.
É um povo nômade, sem território e sem a tradição da escrita. Por isso, suas origens até
hoje, não são muito claras e sua história tem sido escrita por não ciganos, o que dificulta
a conferência da veracidade dos fatos.
Presume-se que se originaram no noroeste da Índia antiga onde faziam parte de
uma casta de caldeireiros e músicos sendo forçados a migrar entre 500 a 1000 d.C.
após invasões dos territórios do Punjab e do Rajastão. Foram vendidos como escravos
para o Império Persa (atual Irã). Após guerras internas foram obrigados a deixar o país e
a peregrinar pelo mundo sofrendo influência dos lugares por onde passaram e, claro,
deixando suas influências também. Em diferentes ondas migratórias chegaram ao
restante do Oriente Médio como Egito, Síria, Palestina e finalmente até a Europa
Oriental (Grécia e Império Bizantino – atual Turquia). Em 1500 já estavam por toda a
Europa, povoando a Rússia, Romênia (onde foram escravizados), Alemanha, França,
4
Itália, Portugal e Espanha, país este que deixou marcado sua maior influência: o
Flamenco - música e dança folclórica que possui adeptos no mundo todo.
Figura 1 – Migrações Ciganas Disponível em http://migre.me/lhWpb (Acesso em 27.08.14)
Em 1449 um bando de ciganos vindo dos Pirineus entrou na Espanha e chegou
até Portugal. As primeiras medidas tomadas contra o “incômodo social” provocado pelos
chamados andarilhos exóticos, foi decretada em 1535 por d. João III com expulsão de
ciganos estrangeiros e a proibição aos ciganos nacionais da prática de seus costumes
como: o uso de seus trajes, a execução de suas músicas, a adesão à ociosidade e o
exercício da magia ou da prática da buena dicha ou leitura da sina ou do futuro.
Figura 2 – A buena Dicha ou leitura das mãos e da sorte Disponível em: http://migre.me/li2TH (Acesso em 27.08.2014)
5
No Brasil os ciganos chegaram como degredados em 1574 sob o reinado de d.
Sebastião que desejava se livrar da “inundação de gente tão ociosa e prejudicial por sua
vida e costumes” (Pieroni, 2005). A cultura cigana é muito rica e deixou sua marca no
imaginário folclórico do Brasil desde chegada dos primeiros ciganos: os degredados
João Torres e sua família. Posteriormente mais ciganos chegaram com a corte de D.
João VI. Eram ourives, músicos, dançarinos, feiticeiros, negociantes e artistas. Mais
tarde, não pararam de vir para a terra onde passaram a difundir seus conhecimentos e
costumes como a dança, além dos tachos de cobre e de ferro bules e chaleiras, já que
eram grandes ferreiros.
Figura 3 - Interior da casa de ciganos, aquarela de Debret. Disponível em http://migre.me/li2jD (Acesso em 27.08.2014)
Em Uberlândia temos uma grande presença do povo Cigano, especialmente no
Bairro Brasil onde existe uma rua em homenagem aos ciganos: Rua Ciganos do Brasil
ao lado da BR-050. Há também acampamentos perto do CAMARU.
Sempre presentes no imaginário popular como povo exótico, estranho e
estrangeiro, sempre foram considerados um povo marginal como os escravos e os
índios, mas não se tornaram escravos. Sua resistência cultural baseada na liberdade
não permitia tal condição. Espalhando-se por todo o território brasileiro, sempre
podemos notar sua presença em diversas regiões seja por meio de seus
acampamentos, seja pela presença nas ruas com o comércio de seus artefatos de cobre
ou pela leitura da sorte por meio da interpretação das linhas das mãos.
6
Figura 4 - Morada Cigana. Tendas. Disponível em http://migre.me/li3AL (Acesso em 27.08.2014)
Outra marca deste povo são as festas e os ritos mágicos, destacando-se três
acontecimentos marcantes da vida cigana: Nascimento, Casamento e Morte.
A Tabajara Sociedade Recreativa tem como tradição trazer para a avenida a
discussão de temas polêmicos e que possam gerar debates acerca da necessidade da
garantia da diversidade cultural e o respeito às diferenças e às minorias. Os ciganos
foram os escolhidos por representarem uma minoria atraente porque ao longo dos
séculos, migrando por todo o mundo, foram convivendo com diferentes culturas,
assimilando-as.
Os ciganos representam bem a diversidade étnica e o multiculturalismo que tanto
caracteriza o Brasil. São de diversas nacionalidades e ao mesmo tempo de nenhuma.
Carregam suas riquezas materiais e culturais não se prendendo ao sedentarismo do
chão. A transmissão dos seus conhecimentos é feita de forma oral – não escrita – falam
o romani ou romanês, mas também falam as línguas dos lugares por onde vivem.
A liberdade é sua religião e tem como santa padroeira Santa Sara Kali (Negra),
cujo santuário fica em Camargue no sul da França e seu dia é 24 de Maio, que também
foi instituído como Dia Nacional do Cigano em 2008 pelo governo brasileiro.
Sua cultura também foi assimilada parcialmente pelos povos que convivem.
Podemos identificar a influência da cultura cigana, por exemplo, na religiosidade afro-
brasileira. Eles também absorvem a cultura dos povos dos territórios por onde migram
como podemos notar na peregrinação à Santa Sara Kali no sul da França, aos moldes
da fé católica. Cumprem ritos das religiões que adotam paralelamente às suas crenças.
7
Figura 5 - Santa Sara Kali. Disponível em http://migre.me/li3hJ (Acesso em 27.08.2014)
Mas a magia ocupa um grande espaço em sua história, até hoje seja pela leitura
das cartas (Tarot, cartas ciganas), seja pela leitura das mãos, da borra do café, do chá,
ou pelo jogo de moedas, de dados, a adivinhação por meio da bola de cristal. Os
instrumentos de ferro (adagas, punhais) e de cobre (tachos, chaleiras, bules), o culto aos
ancestrais, suas músicas e danças também os caracterizam bem.
Figura 6 - Festa Cigana. Disponível em http://migre.me/li3OO (Acesso em 27.08.2014)
A opção da Escola de Samba Tabajara pela etnia Cigana justifica-se pela
necessidade de divulgação mais ampla dessa cultura – símbolo de perseguição e
resistência étnica no mundo por serem apátridas e não se deixarem dominar. Sua
alegria também influenciou nesta escolha, pois é a forma mais bela de homenagear a
liberdade que resume seu estilo de vida. Altamente espiritualizados são amantes da
8
natureza e das artes divinatórias, especialmente a Quiromancia, Tarot, Baralho Cigano e
sortilégios que serão retratados neste tema.
Bandeira Cigana:
Figura 7 – Bandeira Cigana. Disponível em http://www.bandeirashop.com.br/lojas/00015329/prod/cigana.jpg
É essa colorida cultura que a Tabajara Sociedade Recreativa escolheu como
tema para o Carnaval de Rua de Uberlândia de 2015. Combatendo estereótipos e
preconceitos além de contribuir para divulgar a presença de um povo que tem como
maior filosofia de vida o desejo irrenunciável à liberdade, nem que para isso, tenham que
ser errantes para sempre.
Para isso a Tabajara Sociedade Recreativa organizou seu enredo em quatro
partes de acordo com os quatro naipes do jogo de cartas associados aos quatro
elementos formadores da natureza que tanto caracterizam a cultura e os ritos místicos
ciganos. Lançando a sorte e os encantamentos na avenida:
9
O primeiro Naipe: Ouros – elemento Terra
Bens materiais, financeiros, realização, praticidade, objetividade
O segundo Naipe: Espadas – elemento Ar
Atividade mental, pensamento, comunicação, coragem, audácia, ambição.
O terceiro Naipe: Copas – elemento Água
As emoções, vida afetiva, sentimentos, paixão, imaginação
O quarto Naipe: Paus – elemento Fogo
O poder, a força, ação, energia, intelecto, criatividade, expansão, realização.
10
Figura 8 – Cartomante. Disponível em: http://migre.me/li2AB (Acesso em 24.08.2014)
11
ANEXO
Segue o “briefing” (conjunto de informações) da sugestão para o tema do
Carnaval 2015 da Escola de Samba Tabajara (Sugestão de Miton Matos)
Pontos importantes a serem considerados para o enredo:
Filosofia: Liberdade, não tem pátria (mas tem bandeira nas cores, vermelho, verde e
azul), alegria, festa, magia, embuste, negócios.
Origem: Índia, Egito, Rússia, Europa especialmente França, Espanha e Portugal
Dança: Flamenco (Temos grupos de dança flamenca em Uberlândia, a melhor
professora chama-se Veruska)
Música: Flamenco com violinos, pandeiros, banjos.
Indumentária: Saias longas coloridas com babados, boleros, lenços, xales, faixas,
blusas com babados, adereços com moedas, jóias. Foi inspiração para o movimento
Hippie e moda Folk.
Elementos cênicos: Carroças, tendas, acampamento, fogueira, cavalos (hoje carros),
tachos de cobres, adagas, punhais, moedas, baralhos Tarot e 04 naipes, Bola de cristal,
Vinho, Sol, Lua, Estrela, Astros e Astrologia, Quiromancia (leitura das mãos), Circo.
Religiosidade: Cultuam sua ancestralidade em rituais fechados, praticam a leitura de
mãos (Quiromancia), jogo de cartas (Tarot e cartas ciganas), jogo de moedas e a
devoção à Santa Sara Kali ( a negra) cujo santuário fica no sul da França, seu dia é 24
de Maio, onde ciganos do mundo inteiro vão venerá-la (Ver lenda).
Sincretismo: Ciganos na Umbanda e no Candomblé, Cigano Wladimir, Igor, etc.,
Ciganas Natasha, Yasmim, Madalena, Pomba-Gira Cigana, etc. Sempre ligados às
Yabás: Oxum, Yemanjá, Yansã.
Fonte de inspiração: Ópera Carmen de Bizet (interpretada por Maria Callas) onde a
Cigana Carmen usa seus talentos de dança e canto para enfeitiçar e seduzir vários
homens, Novela “Explode Coração” Rede Globo mostra a relação da Cigana Dara com
um homem não cigano (Gadjé) e seu pretendente Cigano Igor.
Personalidades no Brasil: Presidente JK, Wagner Tiso.
Obs. Levar em consideração o contexto histórico social das minorias étnicas e suas
formas de resistências, especialmente no Brasil e Uberlândia.
12
REFERÊNCIAS
MATTA, Rosalinda da. Cartas Ciganas: a magia das cartas. Porto Alegre, Editora
Artha, 2012.
MENDONÇA, Evandro. Ciganos: magias do passado de volta ao presente. São
Paulo, Editora Anúbis, 2012.
PEREIRA, Cristina da Costa. Povo cigano. Rio de Janeiro, Gráfica MEC, 1985.
______________________. Lendas e histórias ciganas. Rio de Janeiro, Editora
Imago, 1991.
______________________. Os ciganos ainda estão na estrada. Rio de Janeiro.
Editora Rocco. 2009.
PIERONI, Geraldo. Os corvos do Egito. in: Revista Nossa História nº 26. São Paulo.
Editora Vera Cruz. dezembro 2005 (p.76-79).
PIRES FILHO, Nelson. Ciganos: Rom um povo sem fronteiras. São Paulo. Editora
Madras, 2005.
RUIZ, Marcelo e RUIZ, Solange M. O poder dos clãs ciganos: o livro dos
encantamentos. São Paulo. Editora Madras, 2011.
TORRES, Ramona. Segredos da Magia cigana. Rio de Janeiro. Editora Pallas, 2011.
REFERÊNCIAS ELETRÔNICAS
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ciganos
http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/eliane-brum/noticia/2012/03/senhor-procurador-
leia-o-verbete-dicionario.html
http://www.galeriadosamba.com.br/carnavais/unidos-do-viradouro/1992/10/
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  • 1. 1
  • 2. 2 “Os Ciganos no Brasil – Tabajara lança a Sorte: Magias e Encantamentos” A Tabajara Sociedade Recreativa lança a sorte e encantamentos na avenida ao contar, cantar e dançar sobre o povo cigano no Brasil. Vindos do extremo oriente, esse povo nômade percorreu vários territórios e deles absorveu culturas e tradições diversas. Sem chão, os ciganos foram migrando para o ocidente até chegar à Europa e por fim às Américas e ao Brasil. Envoltos em preconceitos (assim como os índios e os negros - povos naturalmente ou forçosamente nômades), os ciganos sobrevivem até hoje em suas tendas, entre artefatos de cobre, músicas, danças e misticismos. É sobre essa alegria colorida e musical que a Tabajara pretende levar para a avenida mais do que uma festa como o Carnaval. Queremos lembrar que minorias existem e ainda são massacradas e discriminadas. Estamos em tempos de valorização da diversidade cultural. Misturando ritos indígenas, o samba afro-brasileiro e o gingado gitano, esperamos contribuir para a reflexão sobre tolerância e respeito a todas as diferenças. Uberlândia, 06 de fevereiro de 2015. Flávio Arciole Carnavalesco
  • 3. 3 “Os Ciganos no Brasil – Tabajara lança a Sorte: Magias e Encantamentos” Para o Carnaval de 2015 a Tabajara Sociedade Recreativa traz a presença do povo Cigano no Brasil, contando um pouco de suas histórias e lendas “que tem no mito do segredo e da ambigüidade (sustentados basicamente pela tradição oral e pelo nomadismo) um importante aspecto de sua defesa cultural e de sua permanência quase fantástica como minoria étnica ao longo dos tempos” (Pereira, 1985). Cigano é o nome em português dado ao povo Rom ( no singular) ou Roma (no plural). A origem do nome mais próxima da língua portuguesa vem do grego bizantino athígganos que significa “intocável”. Também chamados de gitanos, boêmios, calons e por vários outros nomes dados de acordo com as línguas das terras por onde passaram. É um povo nômade, sem território e sem a tradição da escrita. Por isso, suas origens até hoje, não são muito claras e sua história tem sido escrita por não ciganos, o que dificulta a conferência da veracidade dos fatos. Presume-se que se originaram no noroeste da Índia antiga onde faziam parte de uma casta de caldeireiros e músicos sendo forçados a migrar entre 500 a 1000 d.C. após invasões dos territórios do Punjab e do Rajastão. Foram vendidos como escravos para o Império Persa (atual Irã). Após guerras internas foram obrigados a deixar o país e a peregrinar pelo mundo sofrendo influência dos lugares por onde passaram e, claro, deixando suas influências também. Em diferentes ondas migratórias chegaram ao restante do Oriente Médio como Egito, Síria, Palestina e finalmente até a Europa Oriental (Grécia e Império Bizantino – atual Turquia). Em 1500 já estavam por toda a Europa, povoando a Rússia, Romênia (onde foram escravizados), Alemanha, França,
  • 4. 4 Itália, Portugal e Espanha, país este que deixou marcado sua maior influência: o Flamenco - música e dança folclórica que possui adeptos no mundo todo. Figura 1 – Migrações Ciganas Disponível em http://migre.me/lhWpb (Acesso em 27.08.14) Em 1449 um bando de ciganos vindo dos Pirineus entrou na Espanha e chegou até Portugal. As primeiras medidas tomadas contra o “incômodo social” provocado pelos chamados andarilhos exóticos, foi decretada em 1535 por d. João III com expulsão de ciganos estrangeiros e a proibição aos ciganos nacionais da prática de seus costumes como: o uso de seus trajes, a execução de suas músicas, a adesão à ociosidade e o exercício da magia ou da prática da buena dicha ou leitura da sina ou do futuro. Figura 2 – A buena Dicha ou leitura das mãos e da sorte Disponível em: http://migre.me/li2TH (Acesso em 27.08.2014)
  • 5. 5 No Brasil os ciganos chegaram como degredados em 1574 sob o reinado de d. Sebastião que desejava se livrar da “inundação de gente tão ociosa e prejudicial por sua vida e costumes” (Pieroni, 2005). A cultura cigana é muito rica e deixou sua marca no imaginário folclórico do Brasil desde chegada dos primeiros ciganos: os degredados João Torres e sua família. Posteriormente mais ciganos chegaram com a corte de D. João VI. Eram ourives, músicos, dançarinos, feiticeiros, negociantes e artistas. Mais tarde, não pararam de vir para a terra onde passaram a difundir seus conhecimentos e costumes como a dança, além dos tachos de cobre e de ferro bules e chaleiras, já que eram grandes ferreiros. Figura 3 - Interior da casa de ciganos, aquarela de Debret. Disponível em http://migre.me/li2jD (Acesso em 27.08.2014) Em Uberlândia temos uma grande presença do povo Cigano, especialmente no Bairro Brasil onde existe uma rua em homenagem aos ciganos: Rua Ciganos do Brasil ao lado da BR-050. Há também acampamentos perto do CAMARU. Sempre presentes no imaginário popular como povo exótico, estranho e estrangeiro, sempre foram considerados um povo marginal como os escravos e os índios, mas não se tornaram escravos. Sua resistência cultural baseada na liberdade não permitia tal condição. Espalhando-se por todo o território brasileiro, sempre podemos notar sua presença em diversas regiões seja por meio de seus acampamentos, seja pela presença nas ruas com o comércio de seus artefatos de cobre ou pela leitura da sorte por meio da interpretação das linhas das mãos.
  • 6. 6 Figura 4 - Morada Cigana. Tendas. Disponível em http://migre.me/li3AL (Acesso em 27.08.2014) Outra marca deste povo são as festas e os ritos mágicos, destacando-se três acontecimentos marcantes da vida cigana: Nascimento, Casamento e Morte. A Tabajara Sociedade Recreativa tem como tradição trazer para a avenida a discussão de temas polêmicos e que possam gerar debates acerca da necessidade da garantia da diversidade cultural e o respeito às diferenças e às minorias. Os ciganos foram os escolhidos por representarem uma minoria atraente porque ao longo dos séculos, migrando por todo o mundo, foram convivendo com diferentes culturas, assimilando-as. Os ciganos representam bem a diversidade étnica e o multiculturalismo que tanto caracteriza o Brasil. São de diversas nacionalidades e ao mesmo tempo de nenhuma. Carregam suas riquezas materiais e culturais não se prendendo ao sedentarismo do chão. A transmissão dos seus conhecimentos é feita de forma oral – não escrita – falam o romani ou romanês, mas também falam as línguas dos lugares por onde vivem. A liberdade é sua religião e tem como santa padroeira Santa Sara Kali (Negra), cujo santuário fica em Camargue no sul da França e seu dia é 24 de Maio, que também foi instituído como Dia Nacional do Cigano em 2008 pelo governo brasileiro. Sua cultura também foi assimilada parcialmente pelos povos que convivem. Podemos identificar a influência da cultura cigana, por exemplo, na religiosidade afro- brasileira. Eles também absorvem a cultura dos povos dos territórios por onde migram como podemos notar na peregrinação à Santa Sara Kali no sul da França, aos moldes da fé católica. Cumprem ritos das religiões que adotam paralelamente às suas crenças.
  • 7. 7 Figura 5 - Santa Sara Kali. Disponível em http://migre.me/li3hJ (Acesso em 27.08.2014) Mas a magia ocupa um grande espaço em sua história, até hoje seja pela leitura das cartas (Tarot, cartas ciganas), seja pela leitura das mãos, da borra do café, do chá, ou pelo jogo de moedas, de dados, a adivinhação por meio da bola de cristal. Os instrumentos de ferro (adagas, punhais) e de cobre (tachos, chaleiras, bules), o culto aos ancestrais, suas músicas e danças também os caracterizam bem. Figura 6 - Festa Cigana. Disponível em http://migre.me/li3OO (Acesso em 27.08.2014) A opção da Escola de Samba Tabajara pela etnia Cigana justifica-se pela necessidade de divulgação mais ampla dessa cultura – símbolo de perseguição e resistência étnica no mundo por serem apátridas e não se deixarem dominar. Sua alegria também influenciou nesta escolha, pois é a forma mais bela de homenagear a liberdade que resume seu estilo de vida. Altamente espiritualizados são amantes da
  • 8. 8 natureza e das artes divinatórias, especialmente a Quiromancia, Tarot, Baralho Cigano e sortilégios que serão retratados neste tema. Bandeira Cigana: Figura 7 – Bandeira Cigana. Disponível em http://www.bandeirashop.com.br/lojas/00015329/prod/cigana.jpg É essa colorida cultura que a Tabajara Sociedade Recreativa escolheu como tema para o Carnaval de Rua de Uberlândia de 2015. Combatendo estereótipos e preconceitos além de contribuir para divulgar a presença de um povo que tem como maior filosofia de vida o desejo irrenunciável à liberdade, nem que para isso, tenham que ser errantes para sempre. Para isso a Tabajara Sociedade Recreativa organizou seu enredo em quatro partes de acordo com os quatro naipes do jogo de cartas associados aos quatro elementos formadores da natureza que tanto caracterizam a cultura e os ritos místicos ciganos. Lançando a sorte e os encantamentos na avenida:
  • 9. 9 O primeiro Naipe: Ouros – elemento Terra Bens materiais, financeiros, realização, praticidade, objetividade O segundo Naipe: Espadas – elemento Ar Atividade mental, pensamento, comunicação, coragem, audácia, ambição. O terceiro Naipe: Copas – elemento Água As emoções, vida afetiva, sentimentos, paixão, imaginação O quarto Naipe: Paus – elemento Fogo O poder, a força, ação, energia, intelecto, criatividade, expansão, realização.
  • 10. 10 Figura 8 – Cartomante. Disponível em: http://migre.me/li2AB (Acesso em 24.08.2014)
  • 11. 11 ANEXO Segue o “briefing” (conjunto de informações) da sugestão para o tema do Carnaval 2015 da Escola de Samba Tabajara (Sugestão de Miton Matos) Pontos importantes a serem considerados para o enredo: Filosofia: Liberdade, não tem pátria (mas tem bandeira nas cores, vermelho, verde e azul), alegria, festa, magia, embuste, negócios. Origem: Índia, Egito, Rússia, Europa especialmente França, Espanha e Portugal Dança: Flamenco (Temos grupos de dança flamenca em Uberlândia, a melhor professora chama-se Veruska) Música: Flamenco com violinos, pandeiros, banjos. Indumentária: Saias longas coloridas com babados, boleros, lenços, xales, faixas, blusas com babados, adereços com moedas, jóias. Foi inspiração para o movimento Hippie e moda Folk. Elementos cênicos: Carroças, tendas, acampamento, fogueira, cavalos (hoje carros), tachos de cobres, adagas, punhais, moedas, baralhos Tarot e 04 naipes, Bola de cristal, Vinho, Sol, Lua, Estrela, Astros e Astrologia, Quiromancia (leitura das mãos), Circo. Religiosidade: Cultuam sua ancestralidade em rituais fechados, praticam a leitura de mãos (Quiromancia), jogo de cartas (Tarot e cartas ciganas), jogo de moedas e a devoção à Santa Sara Kali ( a negra) cujo santuário fica no sul da França, seu dia é 24 de Maio, onde ciganos do mundo inteiro vão venerá-la (Ver lenda). Sincretismo: Ciganos na Umbanda e no Candomblé, Cigano Wladimir, Igor, etc., Ciganas Natasha, Yasmim, Madalena, Pomba-Gira Cigana, etc. Sempre ligados às Yabás: Oxum, Yemanjá, Yansã. Fonte de inspiração: Ópera Carmen de Bizet (interpretada por Maria Callas) onde a Cigana Carmen usa seus talentos de dança e canto para enfeitiçar e seduzir vários homens, Novela “Explode Coração” Rede Globo mostra a relação da Cigana Dara com um homem não cigano (Gadjé) e seu pretendente Cigano Igor. Personalidades no Brasil: Presidente JK, Wagner Tiso. Obs. Levar em consideração o contexto histórico social das minorias étnicas e suas formas de resistências, especialmente no Brasil e Uberlândia.
  • 12. 12 REFERÊNCIAS MATTA, Rosalinda da. Cartas Ciganas: a magia das cartas. Porto Alegre, Editora Artha, 2012. MENDONÇA, Evandro. Ciganos: magias do passado de volta ao presente. São Paulo, Editora Anúbis, 2012. PEREIRA, Cristina da Costa. Povo cigano. Rio de Janeiro, Gráfica MEC, 1985. ______________________. Lendas e histórias ciganas. Rio de Janeiro, Editora Imago, 1991. ______________________. Os ciganos ainda estão na estrada. Rio de Janeiro. Editora Rocco. 2009. PIERONI, Geraldo. Os corvos do Egito. in: Revista Nossa História nº 26. São Paulo. Editora Vera Cruz. dezembro 2005 (p.76-79). PIRES FILHO, Nelson. Ciganos: Rom um povo sem fronteiras. São Paulo. Editora Madras, 2005. RUIZ, Marcelo e RUIZ, Solange M. O poder dos clãs ciganos: o livro dos encantamentos. São Paulo. Editora Madras, 2011. TORRES, Ramona. Segredos da Magia cigana. Rio de Janeiro. Editora Pallas, 2011. REFERÊNCIAS ELETRÔNICAS http://pt.wikipedia.org/wiki/Ciganos http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/eliane-brum/noticia/2012/03/senhor-procurador- leia-o-verbete-dicionario.html http://www.galeriadosamba.com.br/carnavais/unidos-do-viradouro/1992/10/
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