O documento discute os conceitos de racismo algorítmico, ignorância branca e como as tecnologias digitais podem perpetuar discriminações raciais de forma invisível. Apresenta autores que analisam como algoritmos são influenciados por vieses sociais e podem reforçar estereótipos, bem como abordagens para lidar com esses problemas.
2. Racismo Algorítmico e Dupla Opacidade
“O racismo é um crime perfeito. É um
crime perfeito, porque ao mesmo tempo
em que temos uma sociedade
extremamente racista, as pessoas dizem
que não são racistas. Ou seja, é uma
sociedade de racistas sem racistas” –
Kabengele Munanga
Dupla opacidade: modo pelo qual os discursos
hegemônicos invisibilizam tanto os aspectos
sociais da tecnologia quanto os debates sobre a
primazia de questões raciais nas diversas esferas
da sociedade – incluindo a tecnologia,
recursivamente
“Technochauvinismo é a crença de que
“mais tecnologia” é sempre a solução.
Geralmente vem acompanhada por crenças
como meritocracia a la Ayn Rand; valores
tecnolibertários; e a noção de que
computadores são mais "objetivos" ou "sem
viés" porque eles transformam questões e
respostas em avaliação matemática” –
Meredith Broussard
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3. Epistemologia da Ignorância Branca
Charles Wade Mills
Miscognição branca como um fenômeno estrutural e não
como uma questão de miopias brancas individuais. É o
resultado (não inevitável, mas como uma forte tendência
psicológica) da localização racial. Por causa do privilégio
racial, um conjunto herdado de conceitos e crenças
racializados, experiência e interesse do grupo racial, a
branquitude compreende mal certos tipos de coisas.
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4. Epistemologia da Ignorância Branca
Charles Wade Mills
Miscognição branca como um fenômeno estrutural e não
como uma questão de miopias brancas individuais. É o
resultado (não inevitável, mas como uma forte tendência
psicológica) da localização racial. Por causa do privilégio
racial, um conjunto herdado de conceitos e crenças
racializados, experiência e interesse do grupo racial, a
branquitude compreende mal certos tipos de coisas.
democracia racial
color blindness
“só há um feminismo”
tecnologias são neutras somos todos iguais
meritocraciaracismo = xingamento
“racismo em 2019, nossa!”
“não tem branco no Brasil”
“raça é biológica”
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5. Raça, genocídio e esquecimento
O ponto de vista da América Nativa, África negra e Ásia
colonial sempre esteve consciente que a civilização Europeia
se baseia em barbarismo extra-Europeu, de modo que o
holocausto Judeu não é de modo algum algo incomum, uma
anomalia no desenvolvimento do Ocidente, mas apenas
particular no uso do Contrato Racial contra europeus.
Charles Mills
6. Algoritmos e Inteligência Artificial
Algoritmos são "uma sequência
finita de instruções precisas
implementáveis em sistemas
computacionais (incluindo mas
não limitadas a cérebros
humanos)”
(Osoba & Welser IV, 2018)
Inteligência Artificial Geral
Inteligência Artificial Estreita
Modalidade que poderia ser imitar escopo,
fluidez e autonomia da inteligência humana
Modalidade efetiva da inteligência artificial em
sistemas automatizados cotidianos, focados
em tarefas relativamente simples (ainda que
enormes em termos quantitativos) em
domínios específicos
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7. Danos Potenciais da
Decisão Automatizada
por Algoritmos/IA
DANOS INDIVIDUAIS DANOS COLETIVOS
SOCIAISDISCRIMINAÇÃO ILEGAL PRÁTICAS INJUSTAS
CONTRATAÇÃO
PERDA DE
OPORTUNIDADES
EMPREGO
SEGURIDADE & BENEFÍCIOS SOCIAIS
HABITAÇÃO
EDUCAÇÃO
ACESSO A CRÉDITO
PERDA FINANCEIRA
PRECIFICAÇÃO DIFERENCIAL
AUMENTO DA VIGILÂNCIA
ESTIGMATIZAÇÃO
SOCIAL
REFORÇO DE ESTEREÓTIPOS
DANOS MORAIS
ACESSO DIFERENCIAL À SAÚDE
NECROPOLÍTICAS
PRIVAÇÃO DE LIBERDADE
(Adap. de Megan Smith
e Joy Buolamwini)
15. A vulgaridade do “viés” algorítmico e a ignorância branca
A moralidade codificada por cor do Contrato
Racial restring a posse da liberdade natural e
igualdade a homens brancos. Através de seu
completa não reconhecimento ou, no máximo,
reconhecimento inadequado, míope, pelos
deveres da lei, Não-brancos são relegados a
degraus inferiores da escada moral
Charles W Mills
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16. Abordagem simbólica e abordagem conexionista
(Cardon et al, 2018)
Modelo Hipotético-
Dedutivo
Simbólico
Modelo Indutivo
Conexionista
17. Abordagem simbólica e abordagem conexionista
(Cardon et al, 2018)
Modelo Hipotético-
Dedutivo
Simbólico
Modelo Indutivo
Conexionista
19. Gap no conhecimento sobre AI
Papers propondo
novos modelos
!
Paper estudando
modelos existentes
!
(Epstein, 2018) tarciziosilva.com.br
20. A injustiça é multifacetada e não
tem apenas uma única fonte ou
solução. É necessário uma virada
reflexiva no debate sobre
discriminação baseada em dados.
O QUÊ?
QUEM
COMO Gangadharan & Niklas
Racismo Algorítmico não é questão apenas de matemática
Racismo algorítmico (Ali)
Technochauvinismo (Broussard)
New Jim Code (Benjamin)
Digital Poorhouse (Eubanks)
Math Destruction (O’Neill)
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21. A “Anti-Caixa Preta” em estudos de tecnologia e sociedade
"Resgato o termo "caixa preta" para
chamar atenção à anti-negritude
rotineira que impregna muito
desenvolvimento de tecnologia. O que
chamo de ‘Anti-Caixa Preta’ liga as
tecnologias supostamente neutras a
desigualdades na lei e políticas públicas
que servem como ferramentas para a
supremacia branca“
Ruha Benjamin
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22. Algoritmos Racistas ou Racismo Algorítmico?
“Feedback Loop”: aprendizado de máquina usa dados
desiguais, intensificando seu impacto negativo
Humanidade Diferencial: instrumentos legais e afetivos não
são aplicados de modo egualitário
Visibilidade/Invisibilidade Diferencial: populações minorizadas,
esp., são sujeitos a diferentes regimes escópicos
Divisão de Trabalho: trabalho operacional de treinamento é
outsourced pra países periféricos
Colonialidade no Negócio da Tecnologia: concentração de
decisões e produção em poucos núcleos
Colonialidade de Campo: áreas da chamada “STEM” engolem
práticas das demais, simplificando e sintetizando dinâmicas
Racismo algorítmico como termo que
dá conta dos modos pelas quais as
práticas de discriminação étnico-raciais
– estruturais, econômicas, políticas e
afetivas – são impulsionadas por
tecnologias digitais e de automação,
tornando ainda mais difícil sua
identificação.
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24. Afirmação humana, étnica e cultural,
a um tempo integrando uma prática
de libertação e assumindo o
comando da própria história. A este
complexo de significações, a esta
praxis afro-brasileira, eu denomino
de quilombismo. – Abdias
Nascimento
Auditorias
Públicas
Regulação
Pesquisa
Mobilização
Civil
Pressão
Legislativa
Educação
Computacional
Contra-projetos
Contra-
Narrativas e
outros mundos
possíveis
26. Referências
BATTLE-BAPTISTE, Witney; RUSERT, Britt (Ed.). WEB Du Bois's Data Portraits: Visualizing Black America. Chronicle Books, 2018.
BENJAMIN, Ruha. Race after technology: Abolitionist tools for the new jim code. John Wiley & Sons, 2019.
BENJAMIN, Ruha (Ed.). Captivating Technology: Race, Carceral Technoscience, and Liberatory Imagination in Everyday Life. Duke University Press, 2019.
BROUSSARD, Meredith. Artificial unintelligence: how computers misunderstand the world. MIT Press, 2018.
BUOLAMWINI, Joy; GEBRU, Timnit. Gender shades: Intersectional accuracy disparities in commercial gender classification. In: Conference on Fairness, Accountability and Transparency. 2018. p. 77-91.
DANIELS, Jessie; NKONDE, Mutale; MIR, Darakhshan. Advancing Racial Literacy in Tech. Relatório do Data & Society Fellowship Program, 2019.
EPSTEIN, Ziv et al. Closing the AI Knowledge Gap. arXiv preprint arXiv:1803.07233, 2018.
ESLAMI, Motahhare et al. I always assumed that I wasn't really that close to [her]: Reasoning about Invisible Algorithms in News Feeds. In: Proceedings of the 33rd annual ACM conference on human factors in computing
systems. ACM, 2015. p. 153-162.
LAPA, Raphael Santos. O fatalismo como estratégia colonial. Revista Epistemologias do Sul, v. 2, n. 2, p. 144-161, 2019.
MILLS, Charles W. The racial contract. Cornell University Press, 2014.
MILLS, Charles W. Black rights/white wrongs: The critique of racial liberalism. Oxford University Press, 2017.
MILLS, Charles W. Ignorância branca. Griot: Revista de Filosofia, v. 17, n. 1, p. 413-438, 2018.
NOBLE, Safiya Umoja. Algorithms of Oppression: How search engines reinforce racism. NYU Press, 2018.
OSOBA, Osonde A.; WELSER IV, William. An intelligence in our image: The risks of bias and errors in artificial intelligence. Rand Corporation, 2017.
RAJI, Inioluwa Deborah; BUOLAMWINI, Joy. Actionable auditing: Investigating the impact of publicly naming biased performance results of commercial ai products. In: AAAI/ACM Conf. on AI Ethics and Society. 2019.
SILVA, Tarcízio. Teoria Racial Crítica e Comunicação Digital: conexões contra a dupla opacidade. Anais do 42º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Intercom, Belém, 2019a.
SILVA, Tarcízio. Visão Computacional e Vieses Racializados: branquitude como padrão no aprendizado de máquina. Anais do Congresso de Pesquisadoras/es Negras/os do Nordeste, João Pessoa, 2019b.
SILVA, Tarcízio. Racismo Algorítmico em Plataformas Digitais: microagressões e discriminação em código. In: Anais do IV Simpósio Internacional LAVITS – Assimetrias e (In)visibilidades: Vigilância, Gênero e Raça. Salvador, Bahia,
Brasil, 2019.
SILVEIRA, Sérgio Amadeu da. Tudo sobre Tod@s: redes digitais, privacidade e venda de dados pessoais. São Paulo: Edições Sesc, 2017a.
SILVEIRA, Sérgio. Democracia e os códigos invisíveis: Como os algoritmos estão modulando comportamentos e escolhas políticas. Edições SESCP SP, 2019.
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