ELLISON, Nicole; HANCOCK, Jeffrey; TOMA, Catalina. Profile as promise: A framework for conceptualizing veracity in online dating self-presentations. 2011.
Perfil como promessa: autoapresentação em sites de encontro
1. ELLISON, Nicole; HANCOCK, Jeffrey; TOMA, Catalina. Profile as promise: A framework for
conceptualizing veracity in online dating self-presentations. 2011.
Sobre os Autores:
Nicole Ellison é professora associada do Departamento de Telecomunicações, Estudos de
Informação e Mídia da Universidade de Michigan. Pesquisa ambientes digitais como sites de
redes sociais, sites de encontro e buscadores. Seus trabalhos podem ser acessados em
https://www.msu.edu/~nellison/pubs.html
Jeffrey Hancock é professor associado da Cornell University. Pesquisa gerenciamento de
impressões, relacionamentos interpessoais e estratégias deceptivas em ambientes digitais.
http://communication.cals.cornell.edu/cals/comm/people/faculty-and-staff.cfm?netId=jth34
Catalina Toma é professora da Universidade de Wisconsin-Madison. Pesquisa interações em
sites de encontro. http://commarts.wisc.edu/directory/?person=ctoma
Objetivos do Artigo:
A proposta do artigo é analisar o processo de auto-apresentação de pessoas em sites de
encontro. Tais ambientes, por visarem o estabelecimento de encontros afetivo-sexuais,
possuem a particularidade de, idealmente, transpor as interações online a encontros face a
face. Soma-se a isto as dinâmicas próprias de busca por parceiros, que envolvem a idealização
de traços de si com objetivos de interessar a um possível parceiro. A partir dessas dinâmicas,
os autores utilizam as perspectivas teóricas de interação hiperpessoal, proposta por Walther e
colaboradores, e de common ground, proposta por Clark, para analisar como os perfis nestes
sites são “perfis como promessas” (profile as promises).
Argumentação Central:
- Auto-Apresentação em Perfis
- Perfis de Sites de Encontro
Os autores iniciam o trabalho realizando uma revisão do conceito de perfil em ambientes
digitais. No caso específico de sites de encontro, citam trabalhos que mostraram como
frequentemente uma leitura rápida dos perfis nestes sites é decisiva para uma pessoa ignorar
ou acompanhar outro usuário.
Sobre a produção do perfil, são comuns “exageros” de características positivas. Tais exageros
são constritos até certo ponto, pois os sites de encontro pressupõem e promovem a
possibilidade de interação face a face. Dessa forma, essa antecipação de um encontro
presencial cria uma tensão entre a honestidade completa e o prejuízo na iniciação de relações
interpessoais.
Para entender como as pessoas e apresentam nestes ambientes, os autores vão utilizar o
modelo hiperpessoal de interação, que leva em conta as propriedades dos ambientes digitais
relativas ao canal e possibilidades de emissão e recepção. Proposto por Joseph Walther, este
modelo dá conta das pistas reduzidas nos ambientes digitais, foco na interação textual e maior
alocação de recursos cognitivos na construção das mensagens. Para entender os fatores
contextuais, os autores citam o conceito de common ground proposto por Clark, que explica
como os participantes de uma comunidade online desenvolvem e se baseiam em expectativas
compartilhadas.
2. - Apresentação do Self em ambientes de pistas reduzidas
O modelo da interação hiperpessoal fala de auto-apresentação seletiva, conceito que bebe das
teorias de auto-apresentação e gerenciamento de impressões. O modelo hiperpessoal mostra
como, nos ambientes digitais, essa auto-apresentação se torna mais seletiva, uma vez que o
usuário deve adicionar as informações sobre si, geralmente em inputs textuais. Assim,
características simbólicas como aparência, gestualidade e outras não estão diretamente
disponíveis aos interagentes. São mediadas pelos processos de auto-apresentação seletiva
durante o preenchimento das informações dos perfis e nas trocas interacionais. No caso de
características mais subjetivas, dois fatores podem promover um maior deslocamento entre a
auto-apresentação e a percepção que o interagente pode fazer do indivíduo. O primeiro é a
simples falta de auto-conhecimento e o segundo é o esforço em disfarçar traços negativos do
self. No caso dos sites de encontros, ambos os fatores podem entrar em jogo.
- Assincronicidade e fatores temporais
Outra característica chave dos ambientes digitais, segundo o modelo de interação
hiperpessoal, é assincronicidade. Existe um gap entre o momento de criação e preenchimento
dos perfis e o possível encontro face a face com os interagentes nestes ambientes. Dessa
forma, a aceitabilidade de discrepâncias pode emergir. Existe uma diferença entre o self ideal
e o self real e os indivíduos tendem a se apresentar como o self ideal, que pode ter sido
alcançado no passado ou ser um desejo futuro.
- Expectativas contextuais compartilhadas
Uma vez postos os fatores sociotécnicos, os autores vão tratar das normas sociais presentes
nas comunidades online. A partir do conceito de communal common ground, de Clark, é
possível entender como normas, procedimentos e léxicos são compartilhados pelos membros
dos sites de encontro.
Trabalhos anteriores mostraram como os usuários destes sites levam em consideração a
expectativa de que os outros exagerem algumas características e, por isso, fazem o mesmo.
Não se trataria exatamente de “mentiras”, mas de idealizações esperadas.
- O estudo
A proposta do estudo é analisar como participantes de sites de encontro avaliam deturpações
informacionais. A questão de pesquisa é: “como participantes de sites de encontro
conceitualizam a aceitabilidade de discrepâncias entre a auto-apresentação no perfil e a
presença off-line?”
- Métodos
Os participantes, nova-iorquinos, foram recrutados através do Village Voice e Craiglist. 37
foram entrevistados e 8 participaram do estudo geral, realizado na Universidade New School.
Métodos qualitativos foram utilizados na entrevista, para entender a aceitabilidade dos
usuários a diferentes tipos de distorção das informações.
A análise das respostas codificadas permitiu identificar categorias temáticas relacionadas ao
gerenciamento de impressões, fotografias, aceitabilidade e definição de mentira. O tema do
“perfil como promessa” emergiu nesta fase de análise.
Descobertas
- Deslocamento Temporal nos Perfis: assincronicidade ou licença para mentir?
3. A natureza temporal destes perfis digitais, que são representações de indivíduos vistas antes
dos encontros face a face, mostrou-se relevante. Frequentemente os participantes do estudo
citaram métodos de idealização do self de acordo com a imagem futura que projetam de si.
Dessa forma, a efetivação de um encontro pode acontecer em um momento no qual os
objetivos de ajuste do self tenham sido realizados.
A maleabilidade do traço idealizado também foi observada. Alguns tipos de traços são mais
alcançáveis do que outros. Os percebidos como efetivamente maleáveis, modificáveis em
curto período de tempo, foram vistos como traços mais abertos a idealização. Também foi
observada a magnitude da idealização, uma vez que modificações exageradas dos traços foram
mais vistas como inapropriadas.
- Pistas reduzidas: ter que falar ao invés de mostrar
Nos ambientes digitais, alguns fatores como corpo não são passivamente mostradas como no
contexto face a face. No caso dos sites de encontro, alguns traços do tipo são explicitamente
“ditos”. Em parte das casos, a falta de auto-conhecimento incorre em descrições de si
imprecisas. Diversos participantes relataram estratégias de uso de ambiguidade, ao utilizar
descrições médias ou padronizadas de si para evitar a precisão, que poderia explicitar traços
não atrativos.
- Deturpações esperadas em contextos online
Em seguida, os autores falam sobre estratégias de idealização “que não fazem mal”. A
comunidade se autorregula, estabelecendo práticas, expectativas e proibições tácitas.
Debate
- Framework do perfil como promessa
A ideia do “perfil como promessa”, para os autores, é um framework para o entendimento da
auto-apresentação em sites de encontro. Os participantes observam um repositório mental de
selves presentes, passados e futuros para construir as qualidades que querem expor online.
Para os autores, existe o “entendimento que o perfil constitui uma promessa feita para uma
audiência imaginada e que a futura interação face a face acontecerá com alguém que não
difere fundamentalmente da pessoa representada no perfil”. Dessa forma, esse perfil como
promessa é um contrato psicológico entre os possíveis usuários do site.
Os autores listam três propriedades relevantes das promessas na construção dos perfis.
Primeiro, as promessas não são enunciadas de forma explicita. Segundo, as promessas
incorporam um aspecto de temporalidade, pois estão direcionadas ao futuro. Terceiro,
promessas são tipicamente incompletas.
- Aplicando o framework do perfil como promessa aos dados das entrevistas
Os autores mostram como o conceito proposto permite entender a aceitabilidade de
inexatidões na auto-apresentação online, uma vez que os participantes racionalizam os dados
de acordo com a natureza temporal das promessas.
- Direções futuras e limitações
Em relação a pesquisas futuras, os autores indicam que a influência das dimensões temporais
na avaliação da auto-apresentação online merecem ser investigados. Chamam a atenção para
a análise destes processos em outros contextos assíncronos. Ainda oferecem como questões
de pesquisas como os atos de criação de perfis afetam identidade, auto-estima e
4. conhecimento de si. Por fim, alegam que a perspectiva hiperpessoal pode ser extendida ao
adicionar dimensões contextuais. As limitações do estudo se referem especialmente a
possíveis distorções do método e amostra.
- Conclusões
Os autores concluem revisando as duas linhas de pesquisa sobre ambientes digitais. De um
lado, representado pelo trabalho de Walther, estão os trabalhos que analisaram fatores
específicos das plataformas digitais. De outro, a pesquisa sobre comunidade online e
desenvolvimento de relações interpessoais e intergrupais. Clamam pela integração destas duas
abordagens, como no caso do presente estudo que procura levar em conta tanto os aparatos
sociotécnicos quanto as regras e normas sociais ali desenvolvidas.