INTRODUÇÃO: A asma é uma patologia com grande impacto socioeconômico que afeta cerca de 300 milhões de pessoas no mundo, sendo que o Brasil se destaca negativamente como um dos 10 países com maiores índices de prevalência. Os corticosteroides são o tratamento de escolha para a maioria dos pacientes asmáticos, sendo recomendados atualmente por importantes diretrizes internacionais de manejo da patologia.
OBJETIVO: O objetivo do presente trabalho é revisar e analisar criticamente a literatura científica sobre a evolução do uso de corticosteroides no tratamento da asma, analisando o histórico de mudanças dessa classe terapêutica ao longo da cronologia médica e farmacêutica global, com intuito de inferir a viabilidade de novos tratamentos com tais moléculas nessa patologia.
MATERIAIS E MÉTODOS: Este trabalhou utilizou os principais guidelines de tra-tamento e manejo da asma e bases de dados como Pubmed/Medline, ISI Web of Knowledge e SCOPUS. A busca de palavras-chave como “asthma” e “corticoste-roids” foi cuidadosamente combinada com os termos “inhaler”, “metered-dose inhaler”, “hydrofluoroalkane”, “chlorofluorocarbon” e “epidemiology”, bem como esses termos em português. Os critérios de inclusão foram a data das publicações (1990 até 2012) e o idioma do artigo (inglês, português, espanhol ou italiano) e os de exclusão foram adotados para aqueles artigos cuja discussão da troca do propelente CFC para HFA fosse puramente ambiental ou artigos que trataram apenas de questões anatômicas da patologia.
RESULTADOS: Os estudos analisados mostram que os corticosteroides evoluíram consideravelmente desde seu primeiro uso no tratamento da asma, tanto em aspectos moleculares, nos seus dispositivos farmacotécnicos, na potência e segurança e em questões ligadas ao meio ambiente, dada a necessidade de um propelente para veiculação do fármaco. Nos últimos anos houve a descoberta de uma nova, e muito mais tecnológica, classe dessa família de moléculas, na forma de pró-fármacos (mais seguros dada sua ativação in situ), sendo a ciclesonida o principal exemplo dessa classe.
CONCLUSÃO: Novas terapias com corticosteroides para o tratamento da asma são possíveis e desejáveis, e podemos citar como prováveis próximos passos a melhoria da tecnologia de entrega do fármaco ao local de ação (hoje obtida pelos MDIs). Idealmente podemos chegar à perfeita terapia tópica com corticosteroides no tratamento da asma, no caso do advento de uma formulação com 100% de aproveitamento pul-monar e zero biodisponibilidade sistêmica, sendo essa uma importante lacuna a ser preenchida nessa patologia de grande prevalência e importância mundial.
ENFERMAGEM - MÓDULO I - HISTORIA DA ENFERMAGEM, ETICA E LEGISLACAO.pptx.pdf
A evolução de terapias baseadas em corticosteroides para o tratamento da asma
1. Defesa de Trabalho de Conclusão de Curso
Aluno: Thalles Diório Peixoto
Orientadora: Profa. Dra. Carlota de
Oliveira Rangel Yagui
“A diferença entre um remédio e um veneno está só na dosagem”
Paracelso – Médico e físico do séc. XVI
3. Asma: doença inflamatória crônica das vias
aéreas
Afeta cerca de 300 milhões de pessoas no
mundo
Brasil: 8º lugar em
prevalência
4.
5.
6. Corticosteroides:
◦ Potentes anti-inflamatórios
◦ Classe terapêutica estudada para o tratamento da
asma desde 1900
◦ Diversos avanços na classe durante o séc. XX, tanto
molecularmente quanto nos dispositivos de
veiculação e mesmo evoluções ambientais
◦ Tratamento de escolha para a maioria dos pacientes
asmáticos
8. O objetivo do presente trabalho é revisar e analisar
criticamente a literatura científica sobre a evolução
do uso de corticosteroides no tratamento da asma,
discorrendo e analisando o rico histórico de
mudanças e progressos dessa classe terapêutica ao
longo da cronologia médica e farmacêutica global,
com intuito de inferir a viabilidade de novos
tratamentos com tais moléculas nessa patologia.
13. Corticosteroides na asma:
◦ Mais potente e efetivo tratamento disponível para
asma atualmente
◦ Amplo espectro de ação anti-inflamatória nas vias
aéreas
◦ Seu uso constante auxilia a reduzir as consequências
fisiológicas da asma (edema de
mucosa, hipersecreção e remodelamento das vias
aéreas)
14. Cortisol:
◦ Hormônio corticosteroide humano, produzido pela
glândula suprarrenal
◦ Diretamente envolvido na resposta ao estresse
◦ Uso farmacológico: potente imunossupressor e anti-
inflamatório
◦ A cortisona (derivado desse hormônio) foi a
molécula pioneira para comprovação da alta eficácia
dessa classe no tratamento sintomático de doenças
inflamatórias, dentre elas a asma
15.
16.
17. Uso de terapias anti-inflamatórias na asma:
◦ Corticosteroides inalatórios (CIs) – mais potente e
efetivo grupo de moléculas
◦ Estabilizadores de mastócitos – Ex. cromoglicato
sódico (tratamento de crianças com asma leve)
◦ Antagonistas de receptores de leucotrienos – Ex.
montelucaste (têm como alvo a síntese e a atividade
desses mediadores inflamatórios essenciais)
18. Tabela 1: Medicações recomendadas de acordo com a intensidade da asma em adultos e crianças maiores de 5 anos.
Grau de Outras opções
Medicação de controle diário
intensidade de tratamento
Etapa 1
Não necessário ---
Intermitente*
• Teofilina de liberação
Etapa 2 Corticoide inalatório (CI) de lenta;
Leve Persistente baixa dose • Cromona;
• Modificador de leucotrieno
• CI média dose + teofilina
de liberação lenta, ou
• CI média dose + β2
Etapa 3
CI de média dose agonista de longa ação, ou
Moderada Persistente
• CI alta dose, ou
• CI dose média +
modificador de leucotrieno
CI dose elevada + um ou mais
dos seguintes, se necessário:
Etapa 4 - teofilina de liberação lenta;
---
Grave Persistente - β2 agonista de longa ação;
- modificador de leucotrieno;
- glicocorticoide oral.
Em todos os níveis: em adição ao medicamento de controle diário, β2 agonista de curta ação pode ser necessário para alívio dos
sintomas, mas não devem ser usados mais do que 3 a 4 vezes ao dia. A educação do paciente é necessária em todas as etapas.
* Pacientes com asma intermitente, mas exacerbações graves, devem ser tratados como tendo asma moderada persistente.
Fonte: Global Initiative for Asthma (GINA). Global strategy for asthma management and prevention. 2011.
19. Benefícios clínicos dos CIs:
◦ Melhoram os sintomas da asma e a função pulmonar
◦ Diminuem a necessidade de medicações de resgate
◦ Diminuem os índices de exacerbações agudas e
assistência emergencial, quando o paciente faz uso
regular da terapêutica com CIs
◦ Reduz a evolução das alterações da mucosa
(remodelamento das vias aéreas)
20. Segurança e biodisponibilidade dos CIs:
◦ Anos 50: uso pela via intramuscular: baixa
segurança devido aos efeitos do cortisol sistêmico
◦ Atualmente: predomínio da terapia inalatória
Ainda hoje existem tratamentos com corticosteroides
orais na asma, pricipalmente naqueles pacientes que
são sensíveis à terapêutica inalatória e em crises
Efeitos adversos principais no uso contínuo de corticoides
sistêmicos: osteoporose, aumento da pressão
intraocular, catarata, adelgaçamento e equimoses da pele e
descompensação da glicemia
21. Inaladores de dose dosimetrada (MDI-spray):
◦ Grande evolução na veiculação dos ativos até o
órgão alvo (pulmão)
◦ Necessário uso de gás propelente (questões
ambientais envolvidas)
◦ Pode causar efeitos adversos orais, como candidíase,
devido à deposição do agente imunossupressor na
mucosa da boca
22. Moléculas principais dessa classe terapêutica:
◦ beclometasona
◦ fluticasona
◦ mometasona
◦ ciclesonida
Uso como sprays (inalatórios orais ou nasais)
ou pó secos (inalatórios orais)
23. Ciclesonida:
◦ CI inalatório mais recentemente introduzido na
terapêutica
◦ Principal exemplo no quesito segurança
fração livre na forma de metabólito inativo
molécula necessita da presença das estearases
pulmonares para ser transformada em des-CIC, sua
molécula ativa
25. Evolução Farmacotécnica:
◦ 1950: via IM
◦ Necessidade de um tratamento tópico
◦ 1958: prednisolona em spray (MDI com gás fréon)
Via inalatória:
Melhora adesão ao tratamento
Menor taxa de eventos adversos
Menores doses necessárias para obtenção da mesma
eficácia clínica
27. Tabela 2: Parâmetros farmacocinéticos dos corticoides utilizados por inalação no tratamento da asma.
Disponibil
Disponibilidade Meia- Cmáx CL
Corticoide idade oral Vd (L/kg)
sistêmica inalada vida (h) (pg/mL) (L/min)
sistêmica
ciclesonida < 0,1% <1% (estimado) 0,36-3,4 40 2,07 2,53-3,8
mometasona < 0,1% <1% (estimado) 4,5 49,8 4,5 0,892
12-16% (Diskhaler*) 3,7-14,4 500 3,7-12,1 0,9-1,3
17% (Accuhaler*) --- --- --- ---
fluticasona < 1%
26-31% - (MDI-
7,8 500 --- ---
Spray)
39% (Turbuhaler*) 2,8 700 2,7-4,3 0,9-1,4
budesonida 6 – 13%
26% (MDI-Spray) 2,9 --- --- ---
beclometasona 15 – 25% 25% (MDI-Spray) 0,5 --- --- 3,8
32-39% - (MDI-
flunisolida 21% 1,6 2800 1,8 1,0
Spray)
triancinolona 23% 22% (MDI-Spray) 1,5-3,6 500 1,3-2,1 0,7-1,2
Abreviaturas: Cmáx = concentração máxima do fármaco no plasma; Vd = volume de distribuição; CL = clearance do plasma.
* Formas farmacêuticas comercializadas como pó para inalação.
Fonte: Global Initiative for Asthma (GINA). Global strategy for asthma management and prevention. 2011.
28. A evolução ambiental ligada ao tratamento da asma:
◦ Propelente usado até meados do séc. XXI – CFC
Gás conhecido pelos efeitos nocivos à camada de ozônio
◦ No Brasil – RDC 88/2008
Dispõe sobre a adequação dos medicamentos que contém
clorofluorcarbonos
Tornou proibida a fabricação dos mesmos
a partir de janeiro de 2011
Gás substituinte HFA (hidrofluoralcano)
29. Vantagens do gás HFA:
◦ Não interage com a camada de ozônio
◦ Gera maior deposição pulmonar, pois:
Os MDIs de HFA geram maior massa de partículas finas, com
tamanho próximo a 1,1 μm, em comparação com os tamanhos de
partículas de 3,5 μm a 5,0 μm gerados em MDIs por
clorofluorcarbono (CFC)
As formulações em solução produzem aerossol de partículas mais
finas que as formulações de CIs em suspensão tradicionalmente
utilizadas na maioria dos MDI de CFC, proporcionando assim melhor
deposição pulmonar e maior percentagem de deposição da dose
inalada nas vias aéreas menores
32. Corticosteroides são tratamento de escolha para a
maioria dos pacientes com asma
São altamente recomendados por importantes
diretrizes internacionais de manejo da patologia
Classe terapêutica que sofreu grandes evoluções ao
longo dos últimos 100 anos
Descoberta de subclasses mais seguras dessa
família de moléculas nos últimos anos
33. Forma mais comum de usar-se os corticosteroides
na asma – MDIs (“bombinhas” para asma)
Uso de gás propelente para veiculação do ativo
Evolução ambiental nos últimos anos, dada a troca
do gás propelente CFC para HFA
◦ Não danifica a camada de ozônio
◦ Importante destaque ao que se refere à deposição pulmonar
e eficácia nas pequenas vias aéreas
34. Existe ainda muito espaço para evoluções nessa
importante classe terapêutica
Novas terapias com corticosteroides para o tratamento
da asma são possíveis e desejáveis
Próximos passos mais prováveis:
◦ Melhoria da tecnologia de entrega do fármaco ao local de ação
(atualmente na forma de MDIs)
◦ Perfeição da terapia tópica?
Advento de uma formulação com 100% de aproveitamento
pulmonar e zero biodisponibilidade sistêmica
Importante lacuna a ser preenchida nessa patologia de grande
prevalência e importância mundial
35. Muito
Obrigado!
A evolução de terapias baseadas em corticosteroides
para o tratamento da asma
Aluno: Thalles Diório Peixoto
Orientadora: Profa. Dra. Carlota de
Oliveira Rangel Yagui