O documento analisa relatórios de três agrupamentos de escolas e encontra poucas referências às bibliotecas escolares. A biblioteca é mencionada brevemente em termos de espaço físico, mas seus projetos e contribuições para a aprendizagem não são considerados. A importância da biblioteca parece ser ignorada nos relatórios de avaliação externa.
Considerando as pesquisas de Gallahue, Ozmun e Goodway (2013) os bebês até an...
Análise e Comentário Crítico à Presença de Referências a Respeitodas BE nos relatórios da Inspecção Geral da Educação
1. O trabalho desenvolvido pelos elementos que compõem o grupo de trabalho que avalia as escolas tem por base cinco domínios através dos quais procura obter respostas para cada um deles: 1. Resultados – Como conhece a escola os resultados dos seus alunos? Quais são e o que faz para os garantir? 2. Prestação do serviço educativo: Para obter esses resultados, que serviço educativo presta a escola e como o presta? 3. Organização e gestão escolares: Como se organiza e é gerida a escola para prestar esse serviço educativo? 4. Liderança: Que lideranças tem a escola e que visão estratégica está por detrás da organização e da gestão? 5. Capacidade de auto-regulação e progresso da escola: Como garante a escola o controlo e a melhoria deste processo? Assim, escolhi para realizar a análise e comentário crítico à presença de referências a respeito das Bibliotecas Escolares, nesses relatórios da IGE de 2008-2009, em três Agrupamentos de Escolas, um da Direcção Regional do Norte, outro da Direcção Regional do Centro e outro da Direcção Regional do Algarve: 1. Agrupamento de Escolas Augusto Gil (Porto) 2. Agrupamento de Escolas de Carapinheira (Montemor-o-Velho) 3. Agrupamento de Escolas de S. Brás de Alportel O comentário crítico que passo a apresentar, tem por base a leitura atenta e a análise dos relatórios de avaliação externa feitos pela Inspecção Geral da Educação dos referidos agrupamentos. Com esta amostra procurei, na minha análise realçar algumas diferenças da visibilidade das dinâmicas da BE num agrupamento. Preocupei-me em escolher aleatoriamente, agrupamentos situados em regiões do país completamente diferentes. ANÁLISE DOS RELATÓRIOS DOS AGRUPAMENTOS DE ESCOLAS Referências da BE no Relatório do Agrupamento de Escolas Augusto Gil: 3. Organização e gestão escolar “De realçar no entanto, a existência de uma biblioteca/centro de recursos bem equipada.” 3.3 Gestão dos recursos materiais e financeiros “De realçar existência de uma biblioteca/centro de recursos bem equipada e bastante frequentada, que faz parte do grupo fundador da Rede de bibliotecas Escolares do Porto.” 4.4 Parcerias, protocolos e Projectos “Ao longo do ano lectivo decorrem múltiplos projectos de âmbito local, nacional e internacional, podendo ser mencionados, para além de outros projectos, o: “Porto a Ler” – em parceria com a Biblioteca Municipal Almeida Garrett… Referências da BE no Relatório do Agrupamento de Escolas de Carapinheira: II – Caracterização do Agrupamento “… destacando-se a biblioteca da Escola do 1º Ciclo da Carapinheira, devidamente apetrechada e com fundo documental diversificado. “A Escola sede …. Dispõe de biblioteca (integrada na Rede de Bibliotecas Escolares), …” 3.3 Gestão dos recursos materiais e financeiros “…obras para a instalação da biblioteca, …” 4.3 Abertura à Inovação “De referir a abertura ao voluntariado, o que possibilita o funcionamento diário de uma biblioteca na Escola do 1º Ciclo da Carapinheira. Merece ainda destaque a biblioteca da escola sede, com uma página na Internet muito atractiva e funcional (p. ex., catálogo on-line, blogue, notícias, concursos e instruções de apoio aos utilizadores).” 4.4 Parcerias, protocolos e Projectos “Os projectos Escolas Promotoras de Saúde e Plano Nacional de Leitura, em articulação com a biblioteca, reforçam especialmente os hábitos de vida saudável e as competências linguísticas nos dois níveis de educação e ensino.” Referências da BE no Relatório do Agrupamento de Escolas de S. Brás de Alportel: 3.3 Gestão dos recursos materiais e financeiros “A relação privilegiada com a Câmara Municipal tem vindo a permitir modificações dos espaços físicos, a manutenção dos jardins e a criação e o equipamento das bibliotecas escolares (BE) nas EB1, …” 4.4 Parcerias, protocolos e Projectos “Merece especial relevância a parceria com a Câmara Municipal que, para além do financiamento dos JI e das EB1, alarga a sua acção a áreas como a dinamização das BE, através de formação disponibilizada para os seus responsáveis, da constituição de uma rede que articula todo o acervo documental do concelho e do projecto “Livros Sobre Rodas” que possibilita a circulação de publicações pelos estabelecimentos de educação/ensino que não possuem BE.” O que sobressai após a leitura dos 3 relatórios é que apesar das diferenças significativas das três realidades abordadas, a presença de referências da biblioteca nos relatórios da inspecção-geral são similares, ou seja, pouco existentes, com excepção da referência à existência do serviço. Em todos os relatórios, as referências à biblioteca escolar ficam muito aquém do desejado, não fazendo os relatórios menção à sua importância e não sobressaindo a sua actuação em termos de projecto. Nota-se uma diferenciação em relação ao Agrupamento de Escolas de Carapinheira pois a biblioteca é mais referenciada. Nas outras duas a biblioteca raramente é referenciada, e quando o é, é apenas como espaço em si. Os seus projectos, a sua actuação junto da comunidade educativa, a importância das suas acções para o desenvolvimento das aprendizagens dos alunos, o seu papel e contribuição na promoção de literacias e de uma atitude proactiva nos discentes, tão importante para o seu sucesso são completamente negligenciados nos relatórios, os quais minimizam de forma quase inacreditável a importância da biblioteca. Em nenhum dos 3 a biblioteca é referida como ponto forte da escola, como promotora de aprendizagens dos alunos ou zona nuclear da escola. Ora vejamos, no caso do Agrupamento de Escolas Augusto Gil, a biblioteca aparece referida 3 vezes, uma delas como centro de recursos, outra para mencionar que a biblioteca está bem equipada e finalmente é apontada como parceira em projectos de âmbito local, nacional e internacional, podendo ser mencionados, para além de outros projectos, o: “Porto a Ler” . Mesmo a referência ao Plano Nacional de Leitura está ausente no documento. Em relação ao Agrupamento de Escolas de Carapinheira, a biblioteca aparece, apesar de tudo, mais vezes citada do que na escola anteriormente analisada. O espaço em que a biblioteca se insere surge como sendo agradável e bem equipado e com fundo documental diversificado, dado até ideia que no agrupamento existe mais do que uma biblioteca, dado que o agrupamento “detêm algumas unidades bem equipadas e com biblioteca”. A biblioteca é referenciada como um espaço que oferece várias actividades. O plano Nacional de Leitura é referido e o documento também menciona, nos projectos que a escola faz parte a RBE. A biblioteca é referenciada como tendo abertura à inovação desenvolvendo projectos e com uma página na Internet muito atractiva e funcional. Em relação ao terceiro relatório analisado do Agrupamento de Escolas de S. Brás de Alportel, a biblioteca apenas é referida duas vezes, uma delas como centro de recursos e a outra dá relevância à parceria com a Câmara Municipal, a qual disponibiliza formação para os seus responsáveis e ainda a constituição de uma rede que articula todo o acervo documental do concelho e do projecto “Livros Sobre Rodas” que possibilita a circulação de publicações pelos estabelecimentos de educação/ensino que não possuem BE. Em síntese, após uma reflexão e análise atenta pode concluir-se que a importância da biblioteca na vida da escola, a sua missão, o seu envolvimento, a contribuição para o desenvolvimento de competências digitais e literacia dos alunos são praticamente ignoradas nos relatórios analisados, facto que não se circunscreve a uma dada zona do país porque as equipas de inspecção das escolas analisadas procedem de áreas geográficas distintas. Concluiu-se que a biblioteca não é um a ser avaliado pela Inspecção Geral da Educação e por isso as suas mais-valias não surgem referenciadas. Prevê-se e deseja-se que tal facto possa no futuro ser mudado, dado que a portaria veio abrir novos horizontes e novas valências para a acção do professor bibliotecário e da biblioteca. Espera-se que assim seja, pelo que a biblioteca possa vir a receber (maior prestígio dentro da escola, um novo estatuto), mas principalmente pelo muito que a biblioteca pode dar.