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A HISTÓRIA DA MALDIÇÃO DA RUA VELHA COMO MITO E TEMA PARA
                                          LITERATURA*
                                                                Marta Maria de Sousa Matos**




RESUMO
O presente artigo tem como objetivo analisar se a HISTÓRIA DA MALDIÇÃO DA
RUA VELHA (em anexo) pode ser considerada um mito e adequada como tema
para Literatura. Pretende-se explicitar no decorrer do artigo as características
básicas de mito diferenciando-o do conceito de lenda. Ao estabelecer um paralelo
entre os dois, verificaremos em qual conceito a história em anexo se enquadra.
PALAVRAS-CHAVES: Mito. Lenda. Literatura.



INTRODUÇÃO


        O mito é uma das mais antigas formas de que se tem conhecimento sobre
a origem do mundo, sobre os fenômenos naturais e a vida humana. Deriva do
grego mythos, palavra, narração ou discurso, e dos verbos mytheyo (contar,
narrar) e mytheo (anunciar e conversar). Sua função é descrever, lembrar e
interpretar todas as origens, seja dos fenômenos naturais como vento, chuva,
relâmpago, seja das causas primordiais que impuseram ao homem as suas
condições de vida e seus comportamentos. Em síntese, mito é a primeira
manifestação de um sentido que cada pessoa atribui para o mundo.
        Em Aurélio (2000, p. 466) Mito é um


                          Relato sobre os seres e acontecimentos imaginários acerca dos
                          primeiros tempos ou de épocas heróicas; narrativa de significação
                          simbólica, transmitida de geração em geração dentro e determinado
                          grupo, e considerada verdadeira por ele; Pessoa fato ou coisa real
                          valorizados pela imaginação popular, pela tradição.
*




*Artigo exigido como requisito para Avaliação Parcial da disciplina Grego I ministrada pelo Prof. Kleber
Rocha.
**Aluna do 4º período do Curso de Letras Licenciatura em Língua Inglesa da Universidade Estadual Vale do
Acaraú – UVA.
O mito, nos dias de hoje, assumiu um sentido de história inventada, uma
mentira. Para entendermos o que é mito, devemos abandonar esse conceito, pois
o mito é uma história narrada, indiferente do julgamento que se faça sobre ela de
verdadeira ou falsa. Esse sentido original do mito está ligado a oralidade, pois a
Grécia Antiga possuía uma cultura estritamente oral. Como as histórias não eram
escritas, eram passadas de geração a geração através do canto.
       Segundo Boof (1971, p. 62-63), o mito não é só uma forma de expressão,


                     Os símbolos e as imagens coligadas no mito refletem a realidade
                     verdadeira existente, porém tão profunda e vasta que não poderá ser
                     apreendida por conceitos próprios. Por isso, o mito não nasce do nada,
                     mas, sim, de uma experiência profunda. O mito, porém, será vivido e
                     vestido como material representativo de cada época. De tempos em
                     tempos, morreram os mitos. Mas a realidade que os fez nascer está
                     sempre aí a desafiar os homens e buscando irromper na consciência do
                     espírito. Por isso, nascem de novo outros mitos, que por sua vez serão
                     outras tantas tentativas de apreender o inapreensível, de formular o
                     informulável, e deixar falar o que é de por si, indizível.


       Com base nas palavras de Boof, entendemos que a HISTÓRIA DA
MALDIÇÃO DA RUA VELHA possuiu características de Mito, pois se trata da
tentativa dos moradores da cidade de Tejuçuoca em “apreender o inapreensível”,
assim como coloca Boof anteriormente. A história é a resposta aceitável para
explicar a maldição que Frei Vidal proferiu sobre o vilarejo, em manifesto da
reprovação do comportamento dos moradores, que estavam agindo de forma que
ofendiam a religião do Frei.
       Por vezes, o mito é utilizado de forma pejorativa para se referir às crenças
comuns, aquelas que não apresentam fundamento objetivo ou científico. No
entanto, até histórias com caráter fantástico ou histórico só podem se transformar
em mitos, se adquire uma determinada carga simbólica para uma determinada
cultura.
       Partindo desse pressuposto, verificamos que a HISTÓRIA DA MALDIÇÃO
DA RUA VELHA (em anexo) carrega fortes aspectos de mito, pois a referida
história apresenta grande importância na vida dos moradores da cidade de
Tejuçuoca. Mesmo tendo se passado mais de meio século da morte de Frei Vidal,
considerado pela população o grande responsável da cidade não evoluir, essa
história ainda possui muita significação para os moradores locais, eles crêem
profundamente que a cidade não consegue prosperar devido as palavras de
maldição que o Frei Vidal proferiu sobre ela.
       Segundo Mircea Eliade (2000, p. 12-13), o mito é uma realidade cultural
extremamente complexa,


                      que pode ser abordada e interpretada em perspectivas múltiplas e
                      complementares. O mito conta uma história sagrada, relata um
                      acontecimento que teve lugar no tempo primordial, o tempo fabuloso dos
                      começos. O mito conta graças aos feitos dos seres sobrenaturais, uma
                      realidade que passou a existir, quer seja uma realidade tetal, o Cosmos,
                      quer apenas um fragmento, uma ilha, uma espécie vegetal, um
                      comportamento humano, é sempre portanto uma narração de uma
                      criação, descreve-se como uma coisa foi produzida, como começou a
                      exisitir.


       As palavras de Mircea fundamenta a tese que a HISTÓRIA DA MALDIÇÃO
DA RUA VELHA (em anexo) pode ser considerada um mito, pois essa história se
trata de uma crença interpretada sob ponto de vista de cada morador que a
repassa. Mircea esclarece que o mito é interpretado em perspectivas múltiplas, e
é uma realidade que passa a existir. Foi o que aconteceu na cidade de Tejuçuoca,
os moradores depositam tamanha credibilidade na referida história, que esta
passou a se tornar real e a fazer parte de suas vidas.
       O mito fala daquilo que realmente aconteceu, do que se manifestou, sendo
as suas personagens conhecidas a partir dos seus feitos. Nas palavras de Mircea
Eliade (2000, p. 13), o mito é considerado como uma história sagrada,


                      e portanto uma história verdadeira, porque se refere sempre a
                      realidades. O mito cosmogónico é verdadeiro porque a existência do
                      mundo está aí para o provar, o mito da origem da morte é também
                      verdadeiro porque a mortalidade do homem prova-o. E pelo fato de o
                      mito relatar as gestas dos seres sobrenaturais e manifestações dos seus
                      poderes sagrados, ele torna-se o modelo exemplar de todas as
                      atividades humanas significativas.


       Por esse motivo que a HISTÓRIA DA MALDIÇÃO DA RUA VELHA (em
anexo) se trata de um mito, pois o fato da cidade não evoluir é considerado a
prova concreta de que o Frei Vidal a amaldiçôo. Por esse motivo os moradores
defendem a referida história e esclarecem que não se trata de uma invenção, nem
calúnia contra o Frei Vidal.
       O verdadeiro objeto do mito, contudo, não são os deuses nem os nossos
ancestrais, mas a apresentação de um conjunto de ocorrências, mesmo que
extraordinárias, com que se procura dar sentido ao mundo. O mito funciona como
mediação simbólica entre o sagrado e o profano, e essa é uma condição
necessária para se explicar a origem do mundo e a relação entre os seres.


                     “Porém, o mito não é um relato qualquer, ordinário, profano. O mito conta
                     uma história sagrada, isto é, exemplar, ocorrida num tempo originário e
                     continuamente recuperável por meio do seu relato e da vivência dos
                     ritos”. (XISTO, 2002, p. 88)

      A HISTÓRIA DA MALDIÇÃO DA RUA VELHA (em anexo) se trata de um
mito porque não é uma história qualquer, ela apresenta fundamento para as
pessoas que a repassam. A história é fruto da vivência dos moradores, que
conhecem a realidade da cidade, e encontram na história da maldição do Frei
Vidal a resposta mais concreta para o fato da cidade não conseguir prosperar.
      O mito detém de tanta importância e força que até mesmo Freud utilizou
dos mitos para explicar várias de suas teses, mesmo dando-lhe uma nova
orientação.


                     Mais que uma recordação ancestral de situações históricas e culturais,
                     ou uma elaboração fantasiosa sobre fatos reais, os mitos seriam,
                     segundo propõe Freud, uma expressão simbólica dos sentimentos e
                     atitudes inconscientes de um povo, de forma perfeitamente análoga ao
                     que são os sonhos na vida do indivíduo. (FRAGOSO, 2001)


      Talvez tenha sido por esse motivo que Freud recorreu ao famoso mito
grego do “Édipo Rei” para denominar o Complexo de Édipo. Segundo Freud, o
mito do rei que mata o pai e casa com a própria mãe simboliza e manifesta a
atração de caráter sexual inconsciente que o filho, na primeira infância, sente pela
mãe e o desejo de substituir o pai. "Não será verdade que cada ciência, no final
das contas, se reduz a um certo tipo de Mitologia?" (Sigmund Freud, 2009)
      O conceito de Mito muitas vezes é confundido com o de Lenda, porém esta
não tem compromisso nenhum com a realidade, são histórias sobrenaturais,
como é o caso da „Mula sem Cabeça‟ e do „Saci Pererê‟.
      As Lendas são narrativas transmitidas oralmente pelas pessoas com o
objetivo de explicar acontecimentos misteriosos ou sobrenaturais. Para isso há
uma mistura de fatos reais com imaginários. Ao se tornarem conhecidas, as
lendas são registradas na linguagem escrita. Do latim lejenda „aquilo que deve ser
lido‟, as lendas inicialmente contavam histórias de santos, mas ao longo do tempo
o conceito se transformou em histórias que falam sobre a tradição de um povo e
que fazem parte de sua cultura.
Os mitos, por sua vez, são narrativas utilizadas pelos povos para explicar
fatos da realidade e fenômenos da natureza que não são compreendidos por eles.
Todos estes componentes são misturados a fatos reais, características humanas
e pessoas que realmente existem. Um dos objetivos do mito é transmitir
conhecimento e explicar fatos que a ciência ainda não explicou.
         Com base nessa distinção, é possível verificar que a HISTÓRIA DA
MALDIÇÃO DA RUA VELHA (em anexo) não poderia ser considerada uma lenda,
pois se tem certificação que o personagem principal da história, o Frei Vidal,
existiu e morou por algum tempo na cidade de Retiro, e como a Lenda trata do
sobrenatural, da cultura popular, a HISTÓRIA DA MALDIÇÃO DA RUA VELHA
(em anexo) não se encaixa no conceito de Lenda. A referida história é, portanto,
um mito, pois se trata da representação simbólica utilizada pelos moradores para
explicar algo que eles desconhecem, o fato da cidade não evoluir.
         Segundo ARAÚJO (2007) o Mito tem caráter explicativo ou simbólico,
procura explicar as origens do mundo e do homem. O mito não faz uso de
nenhum tipo de embasamento para ser aceito como verdade. Alguns
acontecimentos históricos podem se tornar mitos, desde que as pessoas de
determinada cultura agreguem uma simbologia que tornem o fato relevante para
as suas vidas. Por esse motivo é que todas as culturas possuem seus mitos.
         „Alguns acontecimentos históricos podem se tornar mitos, desde que as
pessoas de determinada cultura agreguem uma simbologia que tornem o fato
relevante para as suas vidas‟. É exatamente essa característica que nos leva a
concluir que a HISTÓRIA DA MALDIÇÃO DA RUA VELHA (em anexo) se trata de
um mito. O fato de o padre ter proferido ou não aqueles palavras de maldições,
não pode ser comprovado, porém a história é um mito porque os moradores da
região a usam como uma simbologia para explicar o fato da cidade não evoluir,
para dar sentido a algo que eles não compreendem. E essa é a característica de
maior relevância para entendermos o que é mito e podermos diferenciá-lo de
lenda.
         Partindo do pressuposto que, em latim, a palavra Literatura “significa uma
instrução ou um conjunto de saberes ou habilidades de escrever e ler bem, e se
relaciona com as artes da gramática, da retórica e da poética” (Wikipédia, 2009).
Verificaremos se a HISTÓRIA DA MALDIÇÃO DA RUA VELHA (em anexo)
poderia ser adaptada como tema para Literatura.
Segundo Afrânio Coutinho (1980, p. 9-10) a Literatura, como toda arte, é
uma transfiguração do real,


                      É a realidade recriada através do espírito do artista e retransmitida
                      através da língua para as formas, que são os gêneros, e com os quais
                      ela toma corpo e nova realidade. Passa, então, a viver outra vida,
                      autônoma, independente do autor e da experiência de realidade de onde
                      proveio. A Literatura é, assim, a vida, parte da vida, não se admitindo
                      possa haver conflito entre uma e outra. Através das obras literárias,
                      tomamos contato com a vida, nas suas verdades eternas, comuns a
                      todos os homens e lugares, porque são as verdades da mesma condição
                      humana.



       Com base nas sábias palavras de Coutinho verificamos que a HISTÓRIA
DA MALDIÇÃO DA RUA VELHA (em anexo) poderia ser adaptada como tema
para literatura. A literatura é um dinâmico instrumento com o qual o ser humano
pode viajar pelos mundos em que ele crer, pois a realidade criada por cada
escritor passa a ser também a realidade para quem ler uma obra literária.
Poderíamos dizer que a HISTÓRIA DA MALDIÇÃO DA RUA VELHA (em anexo) já
é a literatura dos moradores de Tejuçuoca, uma literatura que não necessita dos
livros para se propagar, pois já ganhou força pela forma oral como é transmitida. É
Literatura porque os moradores repassam a história como eles acreditam que
aconteceu. E a função do poeta não é falar dos fatos da maneira como eles
acontecem, mas como eles poderiam ou deveriam acontecer.
       A Literatura é um instrumento de comunicação, pois transmite os
conhecimentos e a cultura de uma comunidade. E como ela nasce vinculada a
certa realidade, interferindo nessa realidade, auxiliando no processo de
transformação social, a HISTÓRIA DA MALDIÇÃO DA RUA VELHA (em anexo)
poderia ser adaptada como tema para literatura. Pois é uma história fictícia que
recria a realidade, e esse é o papel da literatura, expressar fatos reais ou fictícios
a partir da visão e da interpretação do escritor.
       Conclui-se então que a história da MALDIÇÃO DA RUA VELHA não é uma
lenda, pois não é uma história que trata do sobrenatural e as lendas não têm
compromisso nenhum com a realidade, são histórias que misturam realidade e
fantasia. A história em anexo é, portanto, um mito porque as pessoas da
comunidade que a repassam oralmente agregam uma simbologia, tomando o fato
de o padre ter amaldiçoado o vilarejo como uma explicação viável para a cidade
não prosperar. Outra característica do mito é o seu caráter explicativo ou
simbólico, que através de uma narração tenta explicar fatos da realidade e
fenômenos que não são compreendidos pelas pessoas. Então como ninguém
daquela comunidade sabe realmente o motivo do padre ter amaldiçoado a cidade,
eles fazem uso da história para dá sentido ao que eles desconhecem. Verifica-se
também que a história em anexo poderia ser adaptada como tema para literatura,
pois a literatura pode se referir a fatos da realidade não como eles aconteceram,
mas como poderiam acontecer, e foi exatamente isso que os moradores de
Tejuçuoca fizeram. Por não saberem a verdadeira história eles a contam como ela
deveria ter se sucedido, as novas versões que vão surgindo se enriquecem, pois
são contadas sob o ponto de vista de cada morador que a repassa.
BIBLIOGRAFIA


1. ARAÚJO. Ana Paula de. “Mito ou Lenda?”. Disponível em
http://www.infoescola.com/redacao/mito-ou-lenda. Acesso em 25 de Out. 2009. Às
20:08h.

2. BOOF, Leonardo. O Evangelho do Cristo Cósmico. A realidade de um mito:
O mito de uma realidade. Centro de investigação e divulgação, teologia/I.
Petrópolis - Rio de Janeiro: Vozes, 1971.

3. CASSIRER, Ernest. Linguagem e Mito. São Paulo: Editora Perspectiva, 1992.

4. COUTINHO. Afrânio. Notas de teoria literária. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora
Civilização Brasileira,1978.

5. ELIADE, Mircea. Aspectos do Mito. Edições70, 2000.

6. ELIADE, Mircea. Mito e realidade. 6ª ed. São Paulo: Perspectiva, 2006.

7. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Miniaurélio Século XXI Escolar. 4ª
ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.

8. FRAGOSO. Vítor. “O Mito, uma necessidade do homem?”. Disponível em
http://psicoforum.br.tripod.com/index/artigos/mito1.htm. Acesso em 25 de Out.
2009. Às 20:22h.

9. Literatura. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Literatura. Acesso em 20
de Nov. 2009. Às 19:26h.

10. NICOLA, José de. Literatura Brasileira das origens aos nossos dias. 15º
ed. São Paulo: Editora Scipione, 2000.

11. Sigmund Freud. Disponível em: http://www.iadi.com.br/Pensamentos1. Acesso
em 26 de Out. 2009. Às 21:30h.

12. XISTO, Daniela T. Ribeiro. Mito: a fala originária e sempre imperante.
Leopoldianum: Revista de Estudos e Comunicação da Universidade Católica de
Santos. Abril/2002, nº 76.
A HISTÓRIA DA MALDIÇÃO DA RUA VELHA
                                                    Por Marta Maria de Sousa Matos


      Contam os mais velhos da cidade de Retiro, distrito do município de
Tejuçuoca, sobre um fato curioso e difícil de se crer, mas que às vezes parece
deter de tanto sentido, que leva aos mais jovens da comunidade a tamanha
curiosidade, impossível de se saciar.
      Segundo Raimunda Matos de Sousa, 72 anos, tudo começou ao redor de
umas pequenas casas, que formaram um vilarejo, primeiramente denominado
Rua Velha, depois receberia o nome de Retiro. Sentiu-se a necessidade de se
construir uma capela no vilarejo então formado, o primeiro vigário a visitar a
região foi o Frei Vidal da Penha. Conta a senhora Raimunda Matos que algumas
pessoas do povoado começaram a faltar com o respeito ao Frei, passavam em
frente a capela cantando músicas libidinosas, com letras que ofendiam ao Frei e a
sua religião. Em uma das vezes o Frei Vidal tomou um grande susto, pois afirmou
ter visto o próprio diabo na corcunda de um dos moradores. O frei, irritado com o
comportamento da população, se dirigiu até um açude próximo e ao subir na
parede do açude disse “o Retiro jamais irá passar de Retiro”.
      Alguns anos se passaram, e após o falecimento do Frei Vidal, os
moradores demoliram a capela e construíram outra, em um lugar bem próximo a
antiga.
      Não se pode afirmar que a cidade prosperou, os moradores tentam de
todas as maneiras levar a evolução para o lugar, mas parece que a maldição do
Frei Vidal ainda se mantém forte. Os moradores que desejam prosperar na vida
têm que abandonar a sua terra natal, pois por lá, nada evolui. Alguns chegam a
duvidar dessa história, que é repassada até hoje, pelos mais velhos, em meio as
conversas nas calçadas das casas, ao cair da noite. O fato é que sempre quando
ocorre algo de retrocesso na cidade, todos lembram das palavras do Frei, do dia
em que o Frei Vidal proferir as palavras carregadas de maldição.
      Retiro é uma cidade tranquila, conhecida pela acolhedora recepção do
povo e pelo belo artesanato, mas não passa disso. Parece que essa maldição do
Frei Vidal permanece até os dias atuais. E mesmo aqueles que duvidam da
maldição do Frei, uma vez por outra comentam que a culpa da cidade não evoluir
é toda dele.

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A história da maldição como mito e tema literário

  • 1. A HISTÓRIA DA MALDIÇÃO DA RUA VELHA COMO MITO E TEMA PARA LITERATURA* Marta Maria de Sousa Matos** RESUMO O presente artigo tem como objetivo analisar se a HISTÓRIA DA MALDIÇÃO DA RUA VELHA (em anexo) pode ser considerada um mito e adequada como tema para Literatura. Pretende-se explicitar no decorrer do artigo as características básicas de mito diferenciando-o do conceito de lenda. Ao estabelecer um paralelo entre os dois, verificaremos em qual conceito a história em anexo se enquadra. PALAVRAS-CHAVES: Mito. Lenda. Literatura. INTRODUÇÃO O mito é uma das mais antigas formas de que se tem conhecimento sobre a origem do mundo, sobre os fenômenos naturais e a vida humana. Deriva do grego mythos, palavra, narração ou discurso, e dos verbos mytheyo (contar, narrar) e mytheo (anunciar e conversar). Sua função é descrever, lembrar e interpretar todas as origens, seja dos fenômenos naturais como vento, chuva, relâmpago, seja das causas primordiais que impuseram ao homem as suas condições de vida e seus comportamentos. Em síntese, mito é a primeira manifestação de um sentido que cada pessoa atribui para o mundo. Em Aurélio (2000, p. 466) Mito é um Relato sobre os seres e acontecimentos imaginários acerca dos primeiros tempos ou de épocas heróicas; narrativa de significação simbólica, transmitida de geração em geração dentro e determinado grupo, e considerada verdadeira por ele; Pessoa fato ou coisa real valorizados pela imaginação popular, pela tradição. * *Artigo exigido como requisito para Avaliação Parcial da disciplina Grego I ministrada pelo Prof. Kleber Rocha. **Aluna do 4º período do Curso de Letras Licenciatura em Língua Inglesa da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA.
  • 2. O mito, nos dias de hoje, assumiu um sentido de história inventada, uma mentira. Para entendermos o que é mito, devemos abandonar esse conceito, pois o mito é uma história narrada, indiferente do julgamento que se faça sobre ela de verdadeira ou falsa. Esse sentido original do mito está ligado a oralidade, pois a Grécia Antiga possuía uma cultura estritamente oral. Como as histórias não eram escritas, eram passadas de geração a geração através do canto. Segundo Boof (1971, p. 62-63), o mito não é só uma forma de expressão, Os símbolos e as imagens coligadas no mito refletem a realidade verdadeira existente, porém tão profunda e vasta que não poderá ser apreendida por conceitos próprios. Por isso, o mito não nasce do nada, mas, sim, de uma experiência profunda. O mito, porém, será vivido e vestido como material representativo de cada época. De tempos em tempos, morreram os mitos. Mas a realidade que os fez nascer está sempre aí a desafiar os homens e buscando irromper na consciência do espírito. Por isso, nascem de novo outros mitos, que por sua vez serão outras tantas tentativas de apreender o inapreensível, de formular o informulável, e deixar falar o que é de por si, indizível. Com base nas palavras de Boof, entendemos que a HISTÓRIA DA MALDIÇÃO DA RUA VELHA possuiu características de Mito, pois se trata da tentativa dos moradores da cidade de Tejuçuoca em “apreender o inapreensível”, assim como coloca Boof anteriormente. A história é a resposta aceitável para explicar a maldição que Frei Vidal proferiu sobre o vilarejo, em manifesto da reprovação do comportamento dos moradores, que estavam agindo de forma que ofendiam a religião do Frei. Por vezes, o mito é utilizado de forma pejorativa para se referir às crenças comuns, aquelas que não apresentam fundamento objetivo ou científico. No entanto, até histórias com caráter fantástico ou histórico só podem se transformar em mitos, se adquire uma determinada carga simbólica para uma determinada cultura. Partindo desse pressuposto, verificamos que a HISTÓRIA DA MALDIÇÃO DA RUA VELHA (em anexo) carrega fortes aspectos de mito, pois a referida história apresenta grande importância na vida dos moradores da cidade de Tejuçuoca. Mesmo tendo se passado mais de meio século da morte de Frei Vidal, considerado pela população o grande responsável da cidade não evoluir, essa história ainda possui muita significação para os moradores locais, eles crêem profundamente que a cidade não consegue prosperar devido as palavras de
  • 3. maldição que o Frei Vidal proferiu sobre ela. Segundo Mircea Eliade (2000, p. 12-13), o mito é uma realidade cultural extremamente complexa, que pode ser abordada e interpretada em perspectivas múltiplas e complementares. O mito conta uma história sagrada, relata um acontecimento que teve lugar no tempo primordial, o tempo fabuloso dos começos. O mito conta graças aos feitos dos seres sobrenaturais, uma realidade que passou a existir, quer seja uma realidade tetal, o Cosmos, quer apenas um fragmento, uma ilha, uma espécie vegetal, um comportamento humano, é sempre portanto uma narração de uma criação, descreve-se como uma coisa foi produzida, como começou a exisitir. As palavras de Mircea fundamenta a tese que a HISTÓRIA DA MALDIÇÃO DA RUA VELHA (em anexo) pode ser considerada um mito, pois essa história se trata de uma crença interpretada sob ponto de vista de cada morador que a repassa. Mircea esclarece que o mito é interpretado em perspectivas múltiplas, e é uma realidade que passa a existir. Foi o que aconteceu na cidade de Tejuçuoca, os moradores depositam tamanha credibilidade na referida história, que esta passou a se tornar real e a fazer parte de suas vidas. O mito fala daquilo que realmente aconteceu, do que se manifestou, sendo as suas personagens conhecidas a partir dos seus feitos. Nas palavras de Mircea Eliade (2000, p. 13), o mito é considerado como uma história sagrada, e portanto uma história verdadeira, porque se refere sempre a realidades. O mito cosmogónico é verdadeiro porque a existência do mundo está aí para o provar, o mito da origem da morte é também verdadeiro porque a mortalidade do homem prova-o. E pelo fato de o mito relatar as gestas dos seres sobrenaturais e manifestações dos seus poderes sagrados, ele torna-se o modelo exemplar de todas as atividades humanas significativas. Por esse motivo que a HISTÓRIA DA MALDIÇÃO DA RUA VELHA (em anexo) se trata de um mito, pois o fato da cidade não evoluir é considerado a prova concreta de que o Frei Vidal a amaldiçôo. Por esse motivo os moradores defendem a referida história e esclarecem que não se trata de uma invenção, nem calúnia contra o Frei Vidal. O verdadeiro objeto do mito, contudo, não são os deuses nem os nossos ancestrais, mas a apresentação de um conjunto de ocorrências, mesmo que extraordinárias, com que se procura dar sentido ao mundo. O mito funciona como
  • 4. mediação simbólica entre o sagrado e o profano, e essa é uma condição necessária para se explicar a origem do mundo e a relação entre os seres. “Porém, o mito não é um relato qualquer, ordinário, profano. O mito conta uma história sagrada, isto é, exemplar, ocorrida num tempo originário e continuamente recuperável por meio do seu relato e da vivência dos ritos”. (XISTO, 2002, p. 88) A HISTÓRIA DA MALDIÇÃO DA RUA VELHA (em anexo) se trata de um mito porque não é uma história qualquer, ela apresenta fundamento para as pessoas que a repassam. A história é fruto da vivência dos moradores, que conhecem a realidade da cidade, e encontram na história da maldição do Frei Vidal a resposta mais concreta para o fato da cidade não conseguir prosperar. O mito detém de tanta importância e força que até mesmo Freud utilizou dos mitos para explicar várias de suas teses, mesmo dando-lhe uma nova orientação. Mais que uma recordação ancestral de situações históricas e culturais, ou uma elaboração fantasiosa sobre fatos reais, os mitos seriam, segundo propõe Freud, uma expressão simbólica dos sentimentos e atitudes inconscientes de um povo, de forma perfeitamente análoga ao que são os sonhos na vida do indivíduo. (FRAGOSO, 2001) Talvez tenha sido por esse motivo que Freud recorreu ao famoso mito grego do “Édipo Rei” para denominar o Complexo de Édipo. Segundo Freud, o mito do rei que mata o pai e casa com a própria mãe simboliza e manifesta a atração de caráter sexual inconsciente que o filho, na primeira infância, sente pela mãe e o desejo de substituir o pai. "Não será verdade que cada ciência, no final das contas, se reduz a um certo tipo de Mitologia?" (Sigmund Freud, 2009) O conceito de Mito muitas vezes é confundido com o de Lenda, porém esta não tem compromisso nenhum com a realidade, são histórias sobrenaturais, como é o caso da „Mula sem Cabeça‟ e do „Saci Pererê‟. As Lendas são narrativas transmitidas oralmente pelas pessoas com o objetivo de explicar acontecimentos misteriosos ou sobrenaturais. Para isso há uma mistura de fatos reais com imaginários. Ao se tornarem conhecidas, as lendas são registradas na linguagem escrita. Do latim lejenda „aquilo que deve ser lido‟, as lendas inicialmente contavam histórias de santos, mas ao longo do tempo o conceito se transformou em histórias que falam sobre a tradição de um povo e que fazem parte de sua cultura.
  • 5. Os mitos, por sua vez, são narrativas utilizadas pelos povos para explicar fatos da realidade e fenômenos da natureza que não são compreendidos por eles. Todos estes componentes são misturados a fatos reais, características humanas e pessoas que realmente existem. Um dos objetivos do mito é transmitir conhecimento e explicar fatos que a ciência ainda não explicou. Com base nessa distinção, é possível verificar que a HISTÓRIA DA MALDIÇÃO DA RUA VELHA (em anexo) não poderia ser considerada uma lenda, pois se tem certificação que o personagem principal da história, o Frei Vidal, existiu e morou por algum tempo na cidade de Retiro, e como a Lenda trata do sobrenatural, da cultura popular, a HISTÓRIA DA MALDIÇÃO DA RUA VELHA (em anexo) não se encaixa no conceito de Lenda. A referida história é, portanto, um mito, pois se trata da representação simbólica utilizada pelos moradores para explicar algo que eles desconhecem, o fato da cidade não evoluir. Segundo ARAÚJO (2007) o Mito tem caráter explicativo ou simbólico, procura explicar as origens do mundo e do homem. O mito não faz uso de nenhum tipo de embasamento para ser aceito como verdade. Alguns acontecimentos históricos podem se tornar mitos, desde que as pessoas de determinada cultura agreguem uma simbologia que tornem o fato relevante para as suas vidas. Por esse motivo é que todas as culturas possuem seus mitos. „Alguns acontecimentos históricos podem se tornar mitos, desde que as pessoas de determinada cultura agreguem uma simbologia que tornem o fato relevante para as suas vidas‟. É exatamente essa característica que nos leva a concluir que a HISTÓRIA DA MALDIÇÃO DA RUA VELHA (em anexo) se trata de um mito. O fato de o padre ter proferido ou não aqueles palavras de maldições, não pode ser comprovado, porém a história é um mito porque os moradores da região a usam como uma simbologia para explicar o fato da cidade não evoluir, para dar sentido a algo que eles não compreendem. E essa é a característica de maior relevância para entendermos o que é mito e podermos diferenciá-lo de lenda. Partindo do pressuposto que, em latim, a palavra Literatura “significa uma instrução ou um conjunto de saberes ou habilidades de escrever e ler bem, e se relaciona com as artes da gramática, da retórica e da poética” (Wikipédia, 2009). Verificaremos se a HISTÓRIA DA MALDIÇÃO DA RUA VELHA (em anexo) poderia ser adaptada como tema para Literatura.
  • 6. Segundo Afrânio Coutinho (1980, p. 9-10) a Literatura, como toda arte, é uma transfiguração do real, É a realidade recriada através do espírito do artista e retransmitida através da língua para as formas, que são os gêneros, e com os quais ela toma corpo e nova realidade. Passa, então, a viver outra vida, autônoma, independente do autor e da experiência de realidade de onde proveio. A Literatura é, assim, a vida, parte da vida, não se admitindo possa haver conflito entre uma e outra. Através das obras literárias, tomamos contato com a vida, nas suas verdades eternas, comuns a todos os homens e lugares, porque são as verdades da mesma condição humana. Com base nas sábias palavras de Coutinho verificamos que a HISTÓRIA DA MALDIÇÃO DA RUA VELHA (em anexo) poderia ser adaptada como tema para literatura. A literatura é um dinâmico instrumento com o qual o ser humano pode viajar pelos mundos em que ele crer, pois a realidade criada por cada escritor passa a ser também a realidade para quem ler uma obra literária. Poderíamos dizer que a HISTÓRIA DA MALDIÇÃO DA RUA VELHA (em anexo) já é a literatura dos moradores de Tejuçuoca, uma literatura que não necessita dos livros para se propagar, pois já ganhou força pela forma oral como é transmitida. É Literatura porque os moradores repassam a história como eles acreditam que aconteceu. E a função do poeta não é falar dos fatos da maneira como eles acontecem, mas como eles poderiam ou deveriam acontecer. A Literatura é um instrumento de comunicação, pois transmite os conhecimentos e a cultura de uma comunidade. E como ela nasce vinculada a certa realidade, interferindo nessa realidade, auxiliando no processo de transformação social, a HISTÓRIA DA MALDIÇÃO DA RUA VELHA (em anexo) poderia ser adaptada como tema para literatura. Pois é uma história fictícia que recria a realidade, e esse é o papel da literatura, expressar fatos reais ou fictícios a partir da visão e da interpretação do escritor. Conclui-se então que a história da MALDIÇÃO DA RUA VELHA não é uma lenda, pois não é uma história que trata do sobrenatural e as lendas não têm compromisso nenhum com a realidade, são histórias que misturam realidade e fantasia. A história em anexo é, portanto, um mito porque as pessoas da comunidade que a repassam oralmente agregam uma simbologia, tomando o fato de o padre ter amaldiçoado o vilarejo como uma explicação viável para a cidade não prosperar. Outra característica do mito é o seu caráter explicativo ou
  • 7. simbólico, que através de uma narração tenta explicar fatos da realidade e fenômenos que não são compreendidos pelas pessoas. Então como ninguém daquela comunidade sabe realmente o motivo do padre ter amaldiçoado a cidade, eles fazem uso da história para dá sentido ao que eles desconhecem. Verifica-se também que a história em anexo poderia ser adaptada como tema para literatura, pois a literatura pode se referir a fatos da realidade não como eles aconteceram, mas como poderiam acontecer, e foi exatamente isso que os moradores de Tejuçuoca fizeram. Por não saberem a verdadeira história eles a contam como ela deveria ter se sucedido, as novas versões que vão surgindo se enriquecem, pois são contadas sob o ponto de vista de cada morador que a repassa.
  • 8. BIBLIOGRAFIA 1. ARAÚJO. Ana Paula de. “Mito ou Lenda?”. Disponível em http://www.infoescola.com/redacao/mito-ou-lenda. Acesso em 25 de Out. 2009. Às 20:08h. 2. BOOF, Leonardo. O Evangelho do Cristo Cósmico. A realidade de um mito: O mito de uma realidade. Centro de investigação e divulgação, teologia/I. Petrópolis - Rio de Janeiro: Vozes, 1971. 3. CASSIRER, Ernest. Linguagem e Mito. São Paulo: Editora Perspectiva, 1992. 4. COUTINHO. Afrânio. Notas de teoria literária. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira,1978. 5. ELIADE, Mircea. Aspectos do Mito. Edições70, 2000. 6. ELIADE, Mircea. Mito e realidade. 6ª ed. São Paulo: Perspectiva, 2006. 7. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Miniaurélio Século XXI Escolar. 4ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000. 8. FRAGOSO. Vítor. “O Mito, uma necessidade do homem?”. Disponível em http://psicoforum.br.tripod.com/index/artigos/mito1.htm. Acesso em 25 de Out. 2009. Às 20:22h. 9. Literatura. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Literatura. Acesso em 20 de Nov. 2009. Às 19:26h. 10. NICOLA, José de. Literatura Brasileira das origens aos nossos dias. 15º ed. São Paulo: Editora Scipione, 2000. 11. Sigmund Freud. Disponível em: http://www.iadi.com.br/Pensamentos1. Acesso em 26 de Out. 2009. Às 21:30h. 12. XISTO, Daniela T. Ribeiro. Mito: a fala originária e sempre imperante. Leopoldianum: Revista de Estudos e Comunicação da Universidade Católica de Santos. Abril/2002, nº 76.
  • 9. A HISTÓRIA DA MALDIÇÃO DA RUA VELHA Por Marta Maria de Sousa Matos Contam os mais velhos da cidade de Retiro, distrito do município de Tejuçuoca, sobre um fato curioso e difícil de se crer, mas que às vezes parece deter de tanto sentido, que leva aos mais jovens da comunidade a tamanha curiosidade, impossível de se saciar. Segundo Raimunda Matos de Sousa, 72 anos, tudo começou ao redor de umas pequenas casas, que formaram um vilarejo, primeiramente denominado Rua Velha, depois receberia o nome de Retiro. Sentiu-se a necessidade de se construir uma capela no vilarejo então formado, o primeiro vigário a visitar a região foi o Frei Vidal da Penha. Conta a senhora Raimunda Matos que algumas pessoas do povoado começaram a faltar com o respeito ao Frei, passavam em frente a capela cantando músicas libidinosas, com letras que ofendiam ao Frei e a sua religião. Em uma das vezes o Frei Vidal tomou um grande susto, pois afirmou ter visto o próprio diabo na corcunda de um dos moradores. O frei, irritado com o comportamento da população, se dirigiu até um açude próximo e ao subir na parede do açude disse “o Retiro jamais irá passar de Retiro”. Alguns anos se passaram, e após o falecimento do Frei Vidal, os moradores demoliram a capela e construíram outra, em um lugar bem próximo a antiga. Não se pode afirmar que a cidade prosperou, os moradores tentam de todas as maneiras levar a evolução para o lugar, mas parece que a maldição do Frei Vidal ainda se mantém forte. Os moradores que desejam prosperar na vida têm que abandonar a sua terra natal, pois por lá, nada evolui. Alguns chegam a duvidar dessa história, que é repassada até hoje, pelos mais velhos, em meio as conversas nas calçadas das casas, ao cair da noite. O fato é que sempre quando ocorre algo de retrocesso na cidade, todos lembram das palavras do Frei, do dia em que o Frei Vidal proferir as palavras carregadas de maldição. Retiro é uma cidade tranquila, conhecida pela acolhedora recepção do povo e pelo belo artesanato, mas não passa disso. Parece que essa maldição do Frei Vidal permanece até os dias atuais. E mesmo aqueles que duvidam da maldição do Frei, uma vez por outra comentam que a culpa da cidade não evoluir é toda dele.