O documento discute a figura de Judas e o seu papel na traição de Jesus. Em três frases, o texto argumenta que (1) Judas levou toda a culpa pela crucificação de Jesus, mas na verdade foram os homens que O crucificaram; (2) Judas apenas apontou quem era Jesus, enquanto os homens O açoitaram e crucificaram; (3) ao invés de condenar Judas, devemos refletir sobre como também traímos Jesus com nossa hipocrisia e indiferença.
1. Confissão de um traidor
(quanto vale a confissão daquele que traiu?)
Dizem que Judas foi o traidor! Pode ser que sim, mas ele foi sincero, o
seu beijo foi único e o seu coração decidiu e foi até o fim. Ele não foi
perfeito, mas não se escondeu. “Quem irá te trair Senhor?” Todos
perguntaram, mas só um no silêncio da decisão foi capaz de se aproximar e
dividir o “pão amargo” com o sabor de rejeição.
“Ai daquele por quem o filho do homem for entregue, melhor seria que
não tivesse nascido!” Que situação a sua ó Judas, ou estás condenado pelo
destino, pois as “Escrituras” deveriam se cumprir, e como o seria se você
não fosse sincero e rejeitasse o fardo da hipocrisia, fazendo-se então
instrumento da “traição”, ou, sendo traído por si mesmo, pregando uma
doutrina sem a preocupação de vivê-la? Quem é o maior traidor, aquele que
trai o outro ou a si mesmo? Oh! Judas, vês? Vós não estais sós, quantos
hipócritas te seguem e são por natureza “ética” os mais perversos que o
filho da própria perversão!
Judas, eu vou lhe contar um segredo... Você levou a culpa, toda a
culpa! Mas fomos nós que O crucificamos. Você traiu o Filho de Deus, mas
não o enganou. Talvez a tua maior maldade tenha sido não ter escolhido
melhor a quem o iria entregar. O entregou a nós, essa humanidade ferida por
inveja e falseada de soberbas, especialista em produzir os próprios dejetos
que, cedo ou tarde, irão nos afogar em nossos próprios leitos.
Mas o maior dos males, não foi você Judas que o fez, Jesus foi entregue a
nós e, os assassinos foram os mesmos que a pouco gritaram “Hosana nas
alturas, bendito o que vem em nome do Senhor”.
Você partilhou da mesma refeição, nós o açoitamos! Você apontou o
dedo e indicou quem era Jesus, nós colamos em suas costas um madeiro
com o peso da mediocridade do mundo e o fizemos arrastar pelas veredas
da vergonha de ser um justo em meio a tantos mentirosos! Você o beijou,
nós cravamos pregos em suas mãos, atravessamos o seu corpo com uma
lança, à lança da covardia. Agora te pergunto Judas, quem aqui é o traidor?
Grite Judas! Quem pode te acusar sem tentar compreender? Agora
vou te deixar descansar em paz, mas cuidado, pois acordar deste “sono
culposo” pode ser perigoso por que a realidade aqui é um tanto quanto cruel.
Estamos disfarçados e mascarados, impregnados pela arte de “fingir”,
munidos da capacidade de ser “indiferente” e, finalmente silenciados pela
traição de si mesmos. E sabe o que é pior? Muitas vezes fazemos tudo isso
em nome do Evangelho...
Quanto vale a confissão daquele que traiu?
Vale a dignidade do perdão de quem foi traído
(Um velho da esquina)