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Design de coisas públicas
Frederick van Amstel @usabilidoido
DADIN - UTFPR
www.usabilidoido.com.br
O professor Pelle Ehn (Malmö) é
um dos principais pensadores
dessa corrente.
in which the political
technology and the deskilling of
the worker is challenged,
”a utopia where workers craft
new technology” is imagined
through serious play and
prototyping in ”language-games
of design and use”, the ground
for alternative production is
outlined
O design participativo
escandinavo começou a
partir de parcerias entre
institutos de pesquisa e
sindicatos nos anos
1970.
Design participativo em sistemas de informação (1980).
Design participativo em ateliês de projetos de interação
e experiências (1990).
Design participativo em laboratórios vivos urbanos
(2010).
Contexto: crise da democracia
• Fim das grandes narrativas (Jean-François
Lyotard)
• Acumulação excessiva de capital financeiro
(Thomas Piketty)
• Neoliberalismo (David Harvey)
• Crescimento do antagonismo (Chantal Mouffe)
Segundo a cientista política Chantal Mouffe, o
antagonismo está crescendo no vácuo deixado pela falta
de identificação com os representantes políticos.
Ainda segundo ela, o déficit de identificação se deve à
prática do consensualismo de centro, que dilui o embate
político em troca de acordos pela governabilidade.
O espetáculo do antagonismo na política anteriormente
explorado pela mídia de massa é agora encenado pelos
usuários de redes sociais na Internet.
Para evitar a polarização do
antagonismo, é preciso
encontrar uma maneira de
decidir democraticamente sem
consenso total: o agonismo.
Agonismo é uma disputa política entre adversários que
estão dispostos tanto ao dissenso quanto ao consenso.
A organização do espaço público é fundamental para
permitir o dissenso, por exemplo, a ágora grega.
Espaços públicos representam e sustentam à coisa
pública, res publica, ding, thing.
O design participativo tenta
recuperar e atualizar o
sentido da república
desenvolvendo projetos de
coisas públicas.
A coisa pública é um aglomerado de atores humanos e
não-humanos envolvidos em uma controvérsia.
O objetivo da coisa não é acabar com a controvérsia,
mas estimular os atores a se manifestar.
A alternância entre discussão e ação faz a coisa parecer
ora um parlamento, ora um laboratório.
Tanto as discussões quanto os experimentos são
projetados em conjunto com os participantes.
A participação de não-humanos contribui para perceber
a materialidade das relações humanas.
As perspectivas dos não-humanos são, muitas vezes,
negligenciadas pela democracia.
O design de coisas públicas pode colocar em evidência a
perspectiva dos não-humanos.
A compreensão das perspectivas conflitantes que dão
origem à controvérsia conduzem à deliberação.
A deliberação, quando bem sucedida, estabelece o
cultivo coletivo de um bem comum.
Um bem privado pode ser tornar um bem comum pela
doação. Já o bem público depende da ocupação.
O cultivo do bem comum depende tanto de
infraestruturas tanto quanto de metaestruturas.
Ações infraestruturantes e metaestruturantes redefinem
ou mantém as estruturas do bem comum.
Ações desestruturantes destróem o trabalho coletivo e
colocam em risco a existência do bem comum.
Reconhecer e valorizar bens comuns é uma forma de
ativismo (Architecture Sans Frontières).
Mostrar dados e visualizações em coisas públicas
enriquece o debate.
Ativistas organizados conseguem demandar a
participação de poderosos atores públicos e privados.
O projeto de coisas públicas
não termina nunca, pois,
na democracia, uma coisa
leva à outra.
Obrigado!
Frederick van Amstel @usabilidoido
DADIN - UTFPR
www.usabilidoido.com.br

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Design de coisas públicas

  • 1. Design de coisas públicas Frederick van Amstel @usabilidoido DADIN - UTFPR www.usabilidoido.com.br
  • 2. O professor Pelle Ehn (Malmö) é um dos principais pensadores dessa corrente. in which the political technology and the deskilling of the worker is challenged, ”a utopia where workers craft new technology” is imagined through serious play and prototyping in ”language-games of design and use”, the ground for alternative production is outlined O design participativo escandinavo começou a partir de parcerias entre institutos de pesquisa e sindicatos nos anos 1970.
  • 3. Design participativo em sistemas de informação (1980).
  • 4. Design participativo em ateliês de projetos de interação e experiências (1990).
  • 5. Design participativo em laboratórios vivos urbanos (2010).
  • 6. Contexto: crise da democracia • Fim das grandes narrativas (Jean-François Lyotard) • Acumulação excessiva de capital financeiro (Thomas Piketty) • Neoliberalismo (David Harvey) • Crescimento do antagonismo (Chantal Mouffe)
  • 7. Segundo a cientista política Chantal Mouffe, o antagonismo está crescendo no vácuo deixado pela falta de identificação com os representantes políticos.
  • 8. Ainda segundo ela, o déficit de identificação se deve à prática do consensualismo de centro, que dilui o embate político em troca de acordos pela governabilidade.
  • 9. O espetáculo do antagonismo na política anteriormente explorado pela mídia de massa é agora encenado pelos usuários de redes sociais na Internet.
  • 10. Para evitar a polarização do antagonismo, é preciso encontrar uma maneira de decidir democraticamente sem consenso total: o agonismo.
  • 11. Agonismo é uma disputa política entre adversários que estão dispostos tanto ao dissenso quanto ao consenso.
  • 12. A organização do espaço público é fundamental para permitir o dissenso, por exemplo, a ágora grega.
  • 13. Espaços públicos representam e sustentam à coisa pública, res publica, ding, thing.
  • 14. O design participativo tenta recuperar e atualizar o sentido da república desenvolvendo projetos de coisas públicas.
  • 15. A coisa pública é um aglomerado de atores humanos e não-humanos envolvidos em uma controvérsia.
  • 16. O objetivo da coisa não é acabar com a controvérsia, mas estimular os atores a se manifestar.
  • 17. A alternância entre discussão e ação faz a coisa parecer ora um parlamento, ora um laboratório.
  • 18. Tanto as discussões quanto os experimentos são projetados em conjunto com os participantes.
  • 19. A participação de não-humanos contribui para perceber a materialidade das relações humanas.
  • 20. As perspectivas dos não-humanos são, muitas vezes, negligenciadas pela democracia.
  • 21. O design de coisas públicas pode colocar em evidência a perspectiva dos não-humanos.
  • 22. A compreensão das perspectivas conflitantes que dão origem à controvérsia conduzem à deliberação.
  • 23. A deliberação, quando bem sucedida, estabelece o cultivo coletivo de um bem comum.
  • 24. Um bem privado pode ser tornar um bem comum pela doação. Já o bem público depende da ocupação.
  • 25. O cultivo do bem comum depende tanto de infraestruturas tanto quanto de metaestruturas.
  • 26. Ações infraestruturantes e metaestruturantes redefinem ou mantém as estruturas do bem comum.
  • 27. Ações desestruturantes destróem o trabalho coletivo e colocam em risco a existência do bem comum.
  • 28. Reconhecer e valorizar bens comuns é uma forma de ativismo (Architecture Sans Frontières).
  • 29. Mostrar dados e visualizações em coisas públicas enriquece o debate.
  • 30. Ativistas organizados conseguem demandar a participação de poderosos atores públicos e privados.
  • 31. O projeto de coisas públicas não termina nunca, pois, na democracia, uma coisa leva à outra.
  • 32. Obrigado! Frederick van Amstel @usabilidoido DADIN - UTFPR www.usabilidoido.com.br