O documento discute a palestra de uma estilista brasileira, Flávia Aranha, sobre moda sustentável para estudantes. Ela fala sobre seu trabalho com fibras naturais e tintura vegetal, além de parcerias com artesãos para produzir roupas de forma sustentável e ética. A estilista é apresentada como exemplo de empreendedorismo comprometido com questões socioambientais.
1. 1
do estudanteNúm. 38 - ANO IV 1ª quinzena - Agosto/2015
Folhetim do estudante é uma
publicação de cunho cultural e
educacional com artigos e textos de
Professores, alunos, membros de
comunidades das Escolas Públicas
do Estado de SP e pensadores
humanistas.
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EDITORIAL
MODA SUTENTÁVEL
da estilista brasileira
Flávia Aranha
Para ampliar os horizontes
do intercâmbio cultural entre
Brasil e Mali, com o projeto
“Caminhos Cruzados” e as ações
que envolviam o mergulho na
descoberta da arte milenar de
tingimento de tecidos conhecida
como Bogolan, cultura imaterial
do Mali, convidamos a estilista
Flávia Aranha que também
trabalha com o resgate da cultura
tradicional do Brasil nesta área de
produção de tecidos e utilização
de fibras naturais e seus
pigmentos para o tingimento dos
mesmos.
Esta atividade envolveu
estudantes da escola E. E
Comendador Miguel Maluhy
situada no bairro de Campo
Limpo (SP), que visitaram a loja e
o ateliê da estilista para uma
vivência profunda na busca de
compreensão de como se cria um
produto voltado à um determinado
segmento de mercado, todavia,
respeitando as tradições e
garantindo a sustentabilidade em
seus espectros mais profundos.
O Projeto Caminhos
Cruzados, bem como as ações que
visam manter viva a Arte do
Bogolan, transita por vários temas
como tradição, modernidade,
cultura, identidade, sustentabili-
dade e consumo consciente.
Flávia contou um pouco
da sua história, sua filosofia
criativa em relação à moda além
de sua trajetória como estilista
após a formação superior.
Utilizando fibras naturais
e pigmentos extraídos de plantas,
a estilista cria roupas com design
contemporâneo.
A paixão pelas cores
naturais foi a base de todo o
desenvolvimento do seu trabalho,
e o motivo de todas as viagens
que tem feito pelo Brasil e mundo
afora, buscando aperfeiçoar e
aprender novas técnicas com
mestres tintureiros de diferentes
culturas e regiões.
Hoje, ela, mantêm
parcerias com cerca de 30
projetos, entre comunidades,
famílias e artesãos de diferentes
regiões. Numa sinergia, eles
desenvolvem juntos a matéria-
prima usada nas coleções da
estilista, que prima pelo design
minimalista e atemporal, pelas
modelagens fluidas e pelas
inovações do material, sempre
sustentável.
De Pirenópolis, interior do
Goiás, vem o algodão fiado à
mão. Do Acre, chega grande parte
do trabalho de marchetaria. Do
Sul, vem a lã de seda.
Agora, Flávia também está se
relacionando com São Paulo,
capital, desenvolvendo parceria
com grupos produtivos mais
próximos da vida urbana, como é
o caso da oficina dos anjos, em
Itupeva, onde são desenvolvidas
peças de tricô confeccionadas
manualmente.
Flávia utiliza seus
experimentos e pesquisa com
tintura natural através dos
elementos como urucum,
carqueja, índigo, açafrão e
eucalipto.
Pessoas como Flávia, que
estão desenvolvendo seu negócio
antenada nas questões
socioambientais, são exemplos
importantes que devem ser
compartilhados e discutidos para
dar significado ao conhecimento
sobre temas atuais em todas as
escolas.
É neste paradigma que a
rede do Instituto Rizoma inspira
seu participante, na produção
conjunta de conhecimento para
uma Escola Viva.
Prof. Valter Gomes, Flávia e estudantes
Folhetim
2. 2
do estudante ano IV agosto/2015
EDUCAÇÃO
O CEP Bortolozzo, um dos locais que abrigou a 1ª
Jornada do Conhecimento (Foto: Flávio Aquino)
A Jornada do Conhecimento de Poá foi
realizada em cinco pontos da cidade e
destinada aos gestores e professores da
rede municipal de ensino
Sempre procurando a excelência em
educação, a Prefeitura de Poá, por
meio da Secretaria Municipal de
Educação, realizou na última semana
de Julho a “1ª Jornada do
Conhecimento de Poá”, um grande
evento educacional que teve por
finalidade promover formação aos
profissionais da rede municipal de
ensino com o tema “Os desafios da
educação comprometida com a
qualidade”.
O evento aconteceu em cinco
espaços da cidade através de 28
oficinas e 33 palestras, totalizando
61 atividades de capacitação, com 40
horas de trabalho simultâneo.
Este projeto definido pela Secretaria
de Educação como “diferenciado e
inovador” foi destinado a 1.600
participantes, dentre eles, 1.300
professores e gestores das escolas
municipais responsáveis pelo melhor
resultado de qualidade em educação
da região do Alto Tietê, de acordo
com o Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica (IDEB) – nota 6.0,
alcançado em 2013.
Os trabalhos seguiram-se em dois
períodos, das 08h às 12h e das 14h às
17h. Outros quatro pontos receberam
os gestores da rede municipal:
Cantinho da Melhor Idade,
Complexo Educacional Poaense
(CEP) Professor José Antônio
Bortolozzo, Rotary Club de Poá e
EMEB Walter de Almeida Monteiro.
O evento contou com a presença de
palestrantes especialistas em diversas
áreas que tinham como objetivo
propiciar reflexões e mobilizar novas
aprendizagens para os participantes.
Entre os profissionais envolvidos
esteve presente o educador Rafael
Pereira que veio de Portugal
especialmente para o evento
promovido pela Educação.
Segundo a Secretária de Educação,
professora Sonia Regina Fernandes
Afonso, o trabalho de pesquisa deste
palestrante tem sido referência
internacional na área de atendimento
às crianças com dificuldades de
aprendizagem da leitura e escrita.
Para a abertura, o evento teve ainda a
presença do conhecido Tião Rocha,
popular educador de Minas Gerais.
“Qualidade de educação com
referência em desenvolvimento de
habilidades e alta aprendizagem dos
alunos se faz com competência
técnica e compromisso, por esse
motivo escolhemos esse tema para
iniciar o projeto das jornadas anuais
de formação” declarou a Secretária
de Educação Sônia Regina.
RESENHA
Metodologias para o uso de
documentários e filmes com
temática histórica para produzir
conhecimentos significativos em
história – Palestra 26 ministrada pelo
Prof. Valter Gomes
A construção do conhecimento
a partir de elementos visuais
compreendem não somente o uso da
técnica, mas também o objetivo no qual
eles são usados; pensar em objetivos não
é somente entender o que queremos
como produto de um processo de
aprendizagem, mas no mecanismo em
que esta aprendizagem está ocorrendo.
Para tanto, utilizar elementos
visuais em sala de aula, parte sim do
pressuposto ideológico, mas também
deve considerar o arcabouço dos alunos
para que a comunicação mediada pela
técnica ocorra de forma satisfatória. Ter
clareza do objetivo a ser atingido com
essa estratégia não é certeza que a
aprendizagem será atingida na sua
plenitude se não considerarmos o outro
como agente dessa construção do
conhecimento.
Essa construção do
conhecimento deve levar, também, em
consideração, quem e para quem está
sendo formulado esse conhecimento,
qual a ideologia envolvida. Isso nos
permite permanecer em debate sobre o
que é a realidade criada por uma classe
dominante e qual é a realidade que
devemos desconstruir.
Essa desconstrução deve ser
então, baseada na realidade que estamos
vivenciando e não aquela criada pela
postura hegemônica dos meios de
produção visual.
Profa. Lígia Souza Petrini –
EMEB do município de POÁ
folhetim
3. 3
do estudante ano IVv agosto/2015
CRÔNICA
PAULO FREIRE: A
LEITURA DO MUNDO
Frei Beto
"Ivo viu a uva", ensinavam
os manuais de alfabetização. Mas
o professor Paulo Freire, com o
seu método de alfabetizar
conscientizando, fez adultos e
crianças, no Brasil e na Guiné-
Bissau, na Índia e na Nicarágua,
descobrirem que Ivo não viu
apenas com os olhos. Viu também
com a mente e se perguntou se
uva é natureza ou cultura.
Ivo viu que a fruta não
resulta do trabalho humano. É
Criação, é natureza. Paulo Freire
ensinou a Ivo que semear uva é
ação humana na e sobre a
natureza. É a mão, multi-
ferramenta, despertando as
potencialidades do fruto. Assim
como o próprio ser humano foi
semeando pela natureza em anos e
anos de evolução do Cosmo.
Colher a uva, esmagá-la e
transformá-la em vinho é cultura,
assinalou Paulo Freire. O trabalho
humaniza a natureza e, ao realizá-
lo, o homem e a mulher se
humanizam. Trabalho que
instaura o nó de relações, a vida
social. Graças ao professor, que
iniciou sua pedagogia revolucio-
nária com trabalhadores do Sesi
de Pernambuco, Ivo viu também
que a uva é colhida por boias
frias, que ganham pouco, e
comercializada por atravessa-
dores, que ganham melhor.
Ivo aprendeu com Paulo
que, mesmo sem ainda saber ler,
ele não é uma pessoa ignorante.
Antes de aprender as letras, Ivo
sabia erguer uma casa, tijolo a
tijolo. O médico, o advogado ou o
dentista, com todo o seu estudo,
não era capaz de construir como
Ivo. Paulo Freire ensinou a Ivo
que não existe ninguém mais
culto que o outro, existem culturas
paralelas, distintas, que se
complementam na vida social.
Ivo viu a uva e Paulo
Freire mostrou-lhe os cachos, a
parreira, a plantação inteira.
Ensinou a Ivo que a leitura de um
texto é tanto melhor compreen-
dida quanto mais se insere o texto
no contexto do autor e do leitor. É
dessa relação dialógica entre texto
e contexto que Ivo extrai o
pretexto para agir. No início e no
fim do aprendizado é a práxis do
Ivo que importa. Práxis-teoria-
práxis, num processo indutivo que
torna o educando sujeito histórico.
Ivo viu a uva e não viu a
ave que, de cima, enxerga a
parreira e não vê a uva. O que Ivo
vê é diferente do que vê a ave.
Assim, Paulo Freire ensinou a Ivo
um princípio fundamental da
epistemologia: a cabeça pensa
onde os pés pisam. O mundo
desigual pode ser lido da ótica do
opressor ou pela ótica do
oprimido. Resulta uma leitura tão
diferente uma da outra como entre
a visão de Ptolomeu, ao observar
o sistema solar com os pés na
Terra, e a de Copérnico, ao
imaginar-se com os pés no Sol.
Agora Ivo vê a uva, a
parreira e todas as relações sociais
que fazem do fruto festa no cálice
de vinho, mas já não vê Paulo
Freire, que mergulhou no Amor
na manhã de 2 de maio. Deixa-
nos uma obra inestimável e um
testemunho admirável de
competência e coerência.
Paulo deveria estar em
Cuba, onde receberia o título de
Doutor Honoris Causa, da
Universidade de Havana. Ao
sentir dolorido seu coração que
tanto amou, pediu que eu fosse
representá-lo. De passagem
marcada para Israel, não me foi
possível atendê-lo. Contudo, antes
de embarcar fui rezar com Nita,
sua mulher, e os filhos em torno
de seu semblante tranquilo: Paulo
via Deus.
DEBATE
Intervenção militar: a
volta da ditadura
O Brasil tem vivido uma
onda de protestos pedindo por
melhores condições de saúde,
educação, transporte e vários outros
aspectos relacionados à sociedade,
mas infelizmente, uma grande
parcela da população ainda pede pela
intervenção militar.
Quando vivemos o regime
militar, que durou mais de vinte
anos, a população ia para as ruas
lutar pelos “direitos já” e sofria com
a opressão feita pelos militares.
Aqueles que eram julgados como
“subversivos” eram cruelmente
agredidos e maltratados pelas
autoridades (que na época eram os
militares).
Muitos dos indivíduos que
desejam a intervenção militar são
pessoas que viveram o período da
folhetim
4. 4
do estudante ano IV agosto/2015
ditadura. Será que eles não se
lembram do quanto essa época foi
injusta com a população? O simples
fato de alguém, um cidadão, não
poder expressar o seu ponto de vista
político e ideológico faz da prática da
intervenção militar um crime contra a
democracia.
A volta da intervenção militar
seria o retorno aos difíceis anos
ditatoriais pelos quais o Brasil passou.
Os radicais que defendem a
intervenção devem pesquisar mais
sobre o assunto e ver o que realmente
é a intervenção militar e como ela
pune as pessoas. Todos os cidadãos
têm o direito de protestar e
demonstrar insatisfação diante dos
problemas sociais que nos afetam.
Hoje, o poder não está mais
concentrado nas mãos das
autoridades, e sim, nas mãos do povo.
Lília Martins Alves – 3º ano do EM.
- E. E. João Amos Comenius
DEBATE
Prisão: a pior solução
A violência é um fator que
assusta cada vez mais a população
das grandes e pequenas cidades, e
junto com a insegurança gerada
pela criminalidade, surgiu à
proposta da redução da maioridade
penal. Mas, será que a violência no
Brasil diminuiria se a redução
fosse aprovada?
A Alemanha, país altamente
desenvolvido, aprovou a redução
da maioridade penal de dezoitos
para dezesseis anos e não obteve a
diminuição dos crimes cometidos
por jovens. Em um país como o
Brasil, os resultados também não
seriam alcançados, pois muitos
jovens criminosos ainda não
possuem o discernimento e
maturidade necessários para
perceber as consequências da
atrocidade cometida.
O sistema carcerário
brasileiro já sofre uma
superlotação e com jovens de 16
anos indo para a cadeia, a
sobrecarga ficaria muito pior. Na
prisão comum haveria o contato de
adolescentes com pessoas mais
velhas, que já estão no mundo do
crime há muito tempo, podendo
influenciar esses adolescentes a
cometer crimes ainda mais graves.
Na Fundação Casa os jovens
tem acesso à educação e contato
com indivíduos da mesma faixa
etária, possibilitando a sua
reinserção na sociedade, sem que
voltem a ter comportamento
errôneo, algo que não seria
possível na cadeia comum.
Devemos lembrar que a
grande parte das pessoas que
roubam, ou participam de tráficos
de drogas, não o fazem porque
querem, mas sim, porque não
tiveram outra oportunidade e a
mesma coisa acontece com os
adolescentes da periferia. O
investimento em melhores
condições sociais para essa
população levaria à diminuição da
criminalidade, e não a redução da
maioridade penal.
Lília Martins Alves – 3º ano do EM.
- E. E. João Amos Comenius
POESIA
Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era
[e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Álvaro de Campos
Tabacaria
folhetim