Iv seminario pesca artesanal e sustentabilidade socioambiental apresentação...
Quem diria
1. Vem aí a
sucata eólica
Energia gerada pelos ventos também
tem impacto ambiental. As pás que
movem as turbinas precisam ser trocadas
a cada 20 anos, gerando toneladas de
resíduos praticamente indestrutíveis
Shutterstock
Luiz Gustavo Cristino
luizcristino@reitoria.unesp.br
Q
uando o assunto é energia re- A preocupação com o destino das pás hidrelétricas. Mas os investimentos no para o incômodo entulho eólico e inves- blocos em pedaços menores, que depois fibra de vidro e resina“, explica Maria Lú-
novável, produzida segundo os com prazo de validade vencido surgiu setor só aumentam. No leilão de energia tiu 5 milhões de euros na construção de são triturados”, explica. cia. “Decidimos usá-lo no lugar da areia
princípios da sustentabilidade, nos últimos anos na Europa, onde muitos realizado pela Agência Nacional de Ener- uma planta industrial, em operação desde Outro desafio da pesquisadora é fazer [normalmente misturada ao cimento],
o uso da força dos ventos é praticamente parques eólicos já começam a completar gia Elétrica (Aneel) em dezembro de 2011, 2010, para processar as pás inutilizadas com que cimento enriquecido com o ma- em aplicações da construção civil.”Os
à prova de críticas. Mas não é bem assim. duas décadas de existência. 39 dos 42 empreendimentos licitados fo- e prepará-las para a incorporação ao ci- terial se encaixe nas normas técnicas bra- estudos feitos em Sorocaba já mostraram
Se qualquer obra humana tem impacto Segundo a revista americana Wind Po- ram de usinas eólicas, a maioria a serem mento, reduzindo seu custo de fabricação. sileiras, meta que ainda não foi atingida. ser possível incorporar até 15% desse pó
no ambiente, com a produção de energia wer Monthly, até 2020 o velho continente instaladas na região Nordeste. Guardadas as devidas proporções, Ma- Em compensação, resultados promissores sem prejuízo da qualidade da mistura.
eólica não poderia ser diferente. descartará cerca de 50 mil toneladas de ria Lúcia trilha um caminho parecido em foram obtidos com outro tipo de resíduo,
À medida que cresce o número de usinas pás para manter suas turbinas em fun- Destruidor de moinhos Sorocaba. Suas pesquisas, porém, não de mesma composição. Localização estratégica
eólicas no mundo, aumenta a preocupação cionamento. Quase um terço disso virá da Um aerogerador – como os especialistas se baseiam nas pás vencidas – já que o “Para que as pás sejam penduradas no Além da sustentabilidade ambiental, a
em relação à imensa quantidade de sucata Alemanha, país que mais investe nesse tipo costumam chamar as turbinas eólicas – é parque eólico brasileiro é jovem demais aerogerador, são feitos furos, onde são viabilidade econômica é crucial para a
associada a essa modalidade energética de geração de energia – cerca de 6,5% de formado por três pás, cada uma com até para isso –, mas nos resíduos produzidos encaixados os parafusos. Esse processo aplicação do projeto. Por isso, uma das
que é a queridinha dos ambientalistas. sua matriz energética provém dos ventos. 60 metros de comprimento. Sua estru- durante o processo de fabricação delas, gera um pó, composto basicamente por maiores preocupações é com a logística,
Componentes essenciais das turbinas, as E a tendência é que o percentual au- tura interna de madeira é envolvida por o que também é um problema conside- explica Maria Lúcia. “Se as fábricas de pás
pás eólicas funcionam por no máximo 20 mente nos próximos anos, já que até 2022 uma resina epóxi, extremamente dura, rável, segundo a pesquisadora. e de cimento estiverem muito longe uma
anos, tempo após o qual têm de ser subs- o governo alemão pretende fechar todas e reforçada por fibra de vidro. “Usando esse material, teremos um da outra, pode ficar mais barato explorar
tituídas. Cada pá descartada, com cerca as suas usinas nucleares (hoje responsá- O material é quase indestrutível, segun- conhecimento prévio para poder, poste- areia da região, por exemplo”, compara
de sete toneladas, é um entulho gigante veis por 28% de sua matriz energética), do Maria Lúcia. Sua queima não elimina riormente, transformar a pá inutilizada a pesquisadora.
muito difícil de reciclar, explica Maria conforme anunciou a chanceler Angela os fragmentos de vidro e acaba danifican- para reuso”, diz. A fabricação de cada tur- Pesando cerca de Na Alemanha, a planta industrial da
Lúcia Pereira Antunes, pesquisadora da Merkel no ano passado, pouco depois do do o incinerador. Sua trituração destrói bina gera até três toneladas de resíduos. seis toneladas, cada pá Holcim foi estrategicamente situada em
acidente de Fukushima.
eólica, uma vez vencido
Unesp em Sorocaba que estuda formas de rapidamente os moinhos. “Por enquanto, Tal como no caso da pá descartada, a Melbeck, no norte do país, próximo de
seu prazo de validade,
reaproveitá-lo na construção civil. O problema é menos urgente no Brasil, não há outra solução a não ser o aterro dificuldade para lidar com o resíduo de indústrias de cimento e de parques eólicos.
transforma-se em um
“As pessoas costumam se concentrar onde o parque eólico é bem mais jovem sanitário”, afirma a pesquisadora. fabricação está na moagem da duríssima gigantesco entulho. Sorocaba apresenta vantagem semelhan-
na geração de energia [eólica] em si, sem que o europeu. Com 73 usinas em fun- Na Alemanha já se faz diferente. Depois resina. “Passamos muito tempo tentando Sua queima acaba te. Tradicional polo produtor de cimento,
considerar a grande quantidade de re- cionamento, os ventos geram pouco mais de cinco anos de pesquisas em parceria triturá-la em moinhos e quebrar com crio- danificando o incinerador a região concentra também fabricantes de
síduos cujo impacto ambiental ainda é de 1% da energia elétrica produzida no com universidades germânicas, a empresa genia [baixas temperaturas]. Acabamos e sua trituração destrói equipamentos para o emergente mercado
pouco explorado”, afirma ela. país, contra quase 67% proveniente de Holcim encontrou uma solução lucrativa usando uma furadeira para quebrar os rapidamente os moinhos brasileiro de energia eólica.
42 unespciência .:. abril de 2012 abril de 2012 .:. unespciência 43