O documento discute os desafios do atual sistema político brasileiro, incluindo a falta de credibilidade, liderança e organização. Também aborda a necessidade de aperfeiçoar a democracia representativa para melhor refletir os anseios da população, por meio de novas formas de participação política mediadas pelas redes e mídias sociais.
Quem é o seu líder e com quem eu negocio? Dilemas do defasado sistema político brasileiro.
1. Quem é o seu líder e com quem eu negocio?
Dilemas do defasado sistema político brasileiro.
Marcelo Pilon
Graduado em Administração de Empresas, pós-graduado em Administração
Empresarial. Coordenador do Curso Superior de Tecnologia em Gestão
Comercial, conferencista em Educação Empresarial, professor dos cursos de
graduação, MBA e pós-graduação.
O Brasil passa por uma crise de credibilidade em seu sistema político com uma falta de clareza e
liderança, sem precedentes. O sistema político brasileiro é definido da seguinte forma, “O Brasil é
uma República Federativa Presidencialista, formada pela União, estados e municípios, em que o
exercício do poder é atribuído a órgãos distintos e independentes, submetidos a um sistema de
controle para garantir o cumprimento das leis e da Constituição”. (Portal Brasil, 2013).
Há necessidade da presença de alguém com a dimensão necessária para o momento, que pense a
salvação da democracia brasileira? A meu ver, não! Não precisamos de salvadores da pátria,
queremos ser ouvidos e respeitados. O perigo que vivemos é a falta de credibilidade e a
desconfiança no atual sistema político brasileiro.
É notório que nas últimas décadas tivemos grandes progressos no Brasil: a redução das
desigualdades, a ampliação da riqueza distribuída e a diminuição da pobreza. Em função destes
avanços ampliamos a faixa social, com a melhoria no padrão de vida da população mais pobre e o
surgimento de uma nova classe média. Esta faixa social não quer perder a aquisição recente e irá
lutar por suas conquistas. Estudando a história, vemos que os que efetivamente lutam e reagem não
são os miseráveis, mas os que tiveram conquistas e têm algo a perder. Essa nova faixa social reagirá
a qualquer risco de retrocesso. Mas a que custo?
Nas manifestações de junho havia ondas de manifestantes com expectativas diferentes, uma grande
obra coletiva, que não apenas carregavam cartazes; eles interpretavam e davam sentido a seus
anseios. Havia um questão de “performance”, cada um tinha de fazer a sua manifestação, e à sua
maneira, se apropriando da própria manifestação. Não precisava de um líder ou liderança para
representá-lo, pois ele era a própria manifestação. Mas ao seu lado havia uma corrente, que formava
uma onda de indignação.
Estamos em uma fase de aprendizado. Quando o jovem vai às ruas e começa a fazer perguntas sobre
política, é inevitável que ele aprenda o funcionamento do processo político. Ele acaba buscando
outros meios de interlocução: na sala de aula, amigos, familiares, professores e nas ruas. É como se
a história do pensamento político ocidental tivesse retornado às ruas, rapidamente questionando e
interpretando:
O que é democracia?
2. O que é participação?
Qual o limite de cada um e do outro?
O que é liberdade?
Quais são meus direitos?
Mas a falta de foco, liderança e organização foi uma dádiva ou um problema? Na minha análise, um
movimento desorganizado, inorgânico, sem liderança, meta, clareza, definição e sem um plano.
Existiu, e funcionou! Demonstra que algo está errado no sistema político brasileiro, há um repúdio
generalizado contra o baile de máscaras que virou a política brasileira e o distanciamento proposital
que nossos representantes mantêm do povo brasileiro; chegamos ao limite.
O que mais assustou a pseudo-esquerda, as oligarquias políticas e o velho modo de se fazer
política? O povo demonstrou que os movimentos de massa não precisam de um salvador da pátria
ou de um dono. Precisamos criar um novo modelo, que os partidos políticos se organizem
ideologicamente e não de uma forma pragmática. Chega de interesses escusos que só visam a
manutenção do poder ou a renovação de mandatos.
Na história recente brasileira houve o impeachment de um presidente; rapidamente as velhas
raposas da política afirmaram: “o impeachment ocorreu pela falta de uma ‘super maioria’ no
congresso que poderia ter blindado o presidente”. Quanto ao tratamento, a Constituição Federal
contempla o impeachment como consequência de condutas que atentem contra a Constituição, “Art.
85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que atentem contra a
Constituição Federal e, especialmente, contra...”. (BRASIL. Constituição Federal, 1988).
Essa blindagem do sistema político brasileiro é conhecida com o neologismo “pmdbismo” e seu
pilar mestre: só se consegue governar e se manter no poder se o mandatário obtiver uma “super
maioria” de apoio legislativo. Na realidade vemos um mandatário refém e envolto em um processo
de chantagem permanente. Este modo de fazer política tem consequências; quando todos estão no
poder, o sistema político polarizado e a oposição desaparecem. Vemos também o “pmdbismo
social”, movimentos sociais, instituições, sindicatos e organizações estudantis cooptados pelo
governo. Os sentimentos da população se opõem a estas instituições e aos partidos políticos
brasileiros, e a velha forma de fazer política não vem ao encontro dos anseios dos jovens brasileiros.
Estamos aprendendo juntos, mas devemos ter cuidado para não perder o que já conquistamos, como
a democracia e a Constituição. Devemos sair da retórica, avançar e não perder nossas crenças, mas
potencializá-las. A nossa crença é parte da construção do futuro; agindo de acordo com nossas
expectativas positivas, há possibilidade de construção da mesma. Isso vai depender da nossa
capacidade de entender a política e não nos colocar à margem, apenas criticando a política.
Devemos tomar cuidado com o desinteresse e a repugnância à política, com a enclausura individual
e a rejeição ao coletivo da cidade. A questão não é estar contra a democracia, mas como a
democracia representativa brasileira se organizou, e revela-se no limite.
Quais são as consequências e os reflexos na vida política brasileira? Os partícipes do sistema
político brasileiro não entenderam esse processo e os políticos não souberam lidar com os anseios
da população. No inicio das mobilizações, muitos políticos vieram a publico e deram um caráter
partidário e não social às mesmas. Ouvia-se em alto e bom tom o slogan “Vocês não nos
3. representam”. A lição que fica às velhas raposas da política brasileira é que a democracia não se
encerra na hora do voto, a democracia é capaz de influenciar o sistema político e direcioná-lo a uma
determinada direção. Estamos em um processo de prontidão na sociedade e caso as respostas não
sejam minimamente satisfatórias o povo voltará às ruas.
Muitas das reivindicações eram orçamentárias, o que demonstra uma evolução democrática e a
preocupação do povo com o que fazem com o nosso dinheiro e quais são as prioridades do
orçamento público. Podemos ver a definição do orçamento público na cartilha da Fundação João
Pinheiro e UNICEF, segundo Reiko (2001: 92):
“Documento do Poder Executivo, aprovado pelo Poder Legislativo, que estima receitas e despesas
para o período de um ano para todos os seus órgãos, discriminando o programa de trabalho
autorizado a ser realizado, elaborado segundo os princípios da unidade, universalidade e
anualidade. Do ponto de vista político, corresponde ao contrato formulado anualmente entre
governo, administração e sociedade sobre as ações a serem implementadas pelo Poder Público”.
A meu ver no Brasil existe uma falta de transparência: na elaboração, votação, execução e controle
do orçamento público, em todas as esferas do sistema político. As questões não são discutidas
corretamente e na maioria das vezes as prioridades não são as mesmas da população. Nós queremos
que nossas prioridades sejam levadas em conta. Não queremos que o sistema político brasileiro se
brinde contra estes anseios.
O clamor popular espelha as redes sociais, onde qualquer um pode se manifestar livremente.
Notava-se ao longo dos anos sinais de insatisfação nas mídias sociais, mas de difícil identificação
nas redes sociais. Mas qual a diferença entre redes e mídias sociais? As mídias sociais são as
ferramentas como o facebook e o Twitter.
As "ferramentas de mídias sociais" são sistemas online projetados para permitir a interação social a
partir do compartilhamento e da criação colaborativa de informação nos mais diversos formatos.
Eles possibilitaram a publicação de conteúdos por qualquer pessoa, baixando a praticamente zero o
custo de produção e distribuição ao longtail - antes esta atividade se restringia a grande grupos
econômicos. Elas abrangem diversas atividades que integram tecnologia, interação social e a
construção de palavras, fotos, vídeos e áudios. Esta interação e a maneira na qual a informação é
apresentada dependem nas várias perspectivas da pessoa que compartilhou o conteúdo, visto que
este é parte de sua história e entendimento de mundo. (Wikipédia, 2013)
Já as redes sociais são as pessoas interagindo com as mídias sociais.
Rede social é uma estrutura social composta por pessoas ou organizações, conectadas por um ou
vários tipos de relações, que partilham valores e objetivos comuns. Uma das características
fundamentais na definição das redes é a sua abertura e porosidade, possibilitando relacionamentos
horizontais e não hierárquicos entre os participantes. "Redes não são, portanto, apenas uma outra
forma de estrutura, mas quase uma não estrutura, no sentido de que parte de sua força está na
habilidade de se fazer e desfazer rapidamente." (Wikipédia, 2013)
Hoje o cidadão pode interagir, estruturar e propor de forma direta, sem interlocutores, usa-se as
redes e mídias sociais como canais de interação. Há uma defasagem do sistema político atual e
devemos repensar o funcionamento da democracia representativa brasileira. De acordo com a
4. (Wikipédia, 2013), “Democracia representativa é o ato de um grupo ou pessoa ser eleito,
normalmente por votação, para "representar" um povo ou uma população, isto é, para agir, falar e
decidir em "nome do povo". Os "representantes do povo" se agrupam em instituições chamadas
Parlamento, Câmara, Congresso ou Assembleia.”.
Quando este tipo de representação foi instituído no Brasil não se pensava em outro meio de
interlocução. Precisamos aperfeiçoar estes meios para melhor entender e interagir com os anseios da
população. Há um descompasso claro entre a cultura política democrática da sociedade brasileira e
do sistema político brasileiro. Devemos expressar uma nova forma de fazer política, a política
coletiva. O sistema político, tal como ele funciona hoje não corresponde com a vida democrática.
Como fortalecer esta nova democracia? Independente de bandeiras fica claro que uma nova forma
de democracia está nascendo. Esta nova democracia não é contra a democracia representativa, mas
a favor de seu alargamento, com possibilidades reais da democracia e representatividade.
5. Bibliografia:
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm.
Acesso em: 06. Mar. 2010
CONTEÚDO aberto. In: Wikipédia: a enciclopédia livre. Disponível em:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%ADdias_sociais> Acesso em: 24. Jul. 2013.
CONTEÚDO aberto. In: Wikipédia: a enciclopédia livre. Disponível em: <
http://pt.wikipedia.org/wiki/Redes_sociais> Acesso em: 24. Jul. 2013.
CONTEÚDO aberto. In: Wikipédia: a enciclopédia livre. Disponível em: <
http://pt.wikipedia.org/wiki/Democracia_representativa> Acesso em: 24. Jul. 2013.
NIIMI, Reiko. Orçamento Público: decifrando a mensagem. Minas Gerais: Unicef- Fundação João Pinheiro,
2001.
Portal Brasil. Disponível em: < http://www.brasil.gov.br/sobre/o-brasil/estado-brasileiro/sistema-politico>.
Acessado em: 23/ jul./ 2013.