Tema de redação - As dificuldades para barrar o casamento infantil no Brasil ...
Umbanda e loucura
1. “Umbanda e Loucura”
Simoni Lahud Guedes
• Bacharelado (1971) e Licenciatura (1973)
em Ciências Sociais pela Universidade
Federal Fluminense (UFF)
• Mestrado e Doutorado (1992) em
Antropologia Social pelo Museu Nacional,
Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ)
• Professora e pesquisadora na área de
Antropologia, com ênfase em Cultura de
Trabalhadores
2. Loucura como categoria social
• A loucura pode ser manipulada socialmente
• Foucault reconstrói a percepção que apresenta
cada sistema cultural, das relações entre razão e
não-razão
• Foucault (1968): “O reconhecimento que
permite dizer: ‘Este é um louco’ não é um ato
simples nem imediato... Cada cultura tem seu
limiar [de sensibilidade] particular e ele evolui
com a configuração desta cultura”
4. O que é a Umbanda?
• “ ...uma religião a pique de fazer-se; ainda não cristalizada, organizada,
multiplicando-se numa infinidade de subseitas, cada uma com seu ritual e
mitologia próprios.” (Roger Bastide, 1971)
• “Se o Espiritismo é crença a procura de uma instituição, Umbanda é
aspiração religiosa em busca de uma forma” (Ferreira de Camargo, 1961)
• Culto afro- brasileiro e ligado ao Espiritismo: Kardec é leitura obrigatória
(informantes)
• Informante A: Umbanda (de mbanda: sacerdote) ≠ Quimbanda (de ki-
mbanda: invocadores de espíritos). Quimbanda como baixo espiritismo e
Umbanda como médio espiritismo
• Informante B: Não há separação entre Umbanda e Quimbanda
• A ausência de uma entidade unificadora e a relativa liberdade que os
chefes de terreiro possuem sobre a definição dos temas rituais ou
doutrinários contribui, por exemplo, para a divergência dos dois
informantes.
5. OqueéaUmbanda?
• “a Umbanda é subdividida em 7 ‘linhas’ e cada uma delas é comandada
por um Orixá ou Santo Católico ... / cada ‘linha’ se desdobra em legiões,
falanges, etc. ... (Ferreira de Camargo, 1961)
6. O queé aUmbanda?
A Umbanda é uma religião heterodoxa, com uma junção de
elementos africanos (“orixás” e culto aos antepassados),
indígenas (culto aos antepassados e elementos da natureza),
católicos (europeus que trouxeram o cristianismo e seus santos)
e do Espiritismo (fundamentos de mediunidade, reencarnação,
lei do carma, progresso espiritual)
7. Conceitos básicos encontrados na maioria das casas:
• A existência de uma fonte criadora universal, um Deus supremo, pode receber os
nomes Zambi, Olorum ou Oxalá. Algumas das entidades, quando incorporadas,
podem nomeá-lo de outra forma, como por exemplo Tupã (para os caboclos)
• O compromisso com "a manifestação do espírito para a caridade". O que significa
que a ajuda ao próximo não deve ser retribuída em dinheiro ou valor de qualquer
espécie
• Ritual variando pela origem / Vestes, em geral, brancas
• Altar, gongá ou peji com imagens católicas, preto-velhos, caboclos, baianos,
marinheiros e boiadeiros.
• Magia branca / Não sacrifício de animais
• Batizado, consagração e casamento
• O culto aos orixás como manifestações divinas
• A manifestação dos guias para exercer o trabalho
espiritual incorporados em seus médiuns ou
"aparelhos", também chamados de "cavalos”
• O mediunismo como forma de contato entre o mundo
físico e o espiritual, manifestado de diferentes formas
/ Crença na imortalidade da alma / Crença na
reencarnação e nas leis cármicas
O queéa Umbanda?
8. A Umbanda e as acusações de loucura
• Nina Rodrigues em seu livro “As Collectidades Anormaes”
(1939) aponta a Umbanda como um dos casos de loucura
coletiva, onde o contágio se dá por imitação. Como causa,
ele aponta a falta de pureza das crenças religiosas,
justificada pelo mestiçamento das raças. Concluiu que o
Brasil resultou da junção do monoteísmo europeu, do
fetichismo africano e da astrolatria aborígene. Assim, a
confusão e conflito de idéias provindas de culturas
diferentes é a principal causadora dessa doença.
• Arthur Ramos, discípulo de Nina Rodrigues, em “Loucura e
Crime” (1937) diz: “ A mentalidade pré-lógica domina em
todas estas práticas de curanderismo naquelles que soffrem
a influência das religiões primitivas do negro e do índio.”
9. • Ainda, para Nina Rodrigues a normalidade está situada na
“pura” tradição ocidental e cristã dos colonizadores
• “Médico da AL – PE combate a macumba
Ao certificar-se no hospital psiquiátrico estadual - na
Tamarineira, subúrbio de Recife - de que 70% dos internados lá
diariamente são pacientes em transe por delírios influenciados
por pais-de-santo, o deputado e médico Dr. Manuel Gilberto
Cavalcanti denunciou a situação ao plenário de AL
pernambucana, e agora sustenta campanha contra os
terreiros de macumba.”
(Publicado no Rio de Janeiro – Jornal médico Pulso – 10 de novembro
de 1972)
A Umbanda e as acusações de loucura
10. UMBANDA = LOUCURA
Ambas estão fundadas na poluição de idéias e por
isso se equacionam, de onde a luta que se trava
contra a loucura e a Umbanda, pode ser resumida
na oposição básica: racional/ irracional
11. Umbanda e loucura para os informantes
Informante A:
“ Nos casos de loucura que encontramos por aí – pessoas com
alteração de fala, na locomoção, que gritam, esbravejam à toa,
que apresentam mudanças de comportamento – cerca de 90%
não são doença, somente 10% são realmente doença. A maior
parte das manifestações de ordem nervosa correm por conta de
EXU e dos EGUNS... São influências espirituais”
Informante B:
“Há casos de loucura com origem física com os quais a Umbanda
nada tem que ver. A maioria, entretanto, são problemas
espirituais – o encosto de um espírito na vítima. A mediunidade
não desenvolvida ou paralisada provoca perturbações mentais”
12. Conclusão da autora
“Tanto na teoria que acusa a Umbanda de loucura
quanto na teoria que esta apresenta, estamos
tratando de poluição. A lógica é a mesma. Só que a
Umbanda desloca a poluição para as relações entre os
indivíduos... Por isto a Umbanda não trata com
‘LOUCURA’, problema situado numa mente individual,
mas com ‘PERTURBAÇÃO’, que envolve uma relação. É
por isso que a sua teoria está repleta de referências a
comunicação: ’O Exu é um mensageiro’; ‘a
comunicação entre os espíritos se dá por
aproximação e afastamento’...
Todos clamam pela ordem: no indivíduo (isto é, na
cultura individualizada) ou nas relações.”