2. História Antiga?
De quem?
O Mediterrâneo foi o espaço geográfico
onde se desenvolveu a história de duas
“Civilizações” (a Grega e a Romana) que
junto com as “Civilizações” antigas do
Crescente Fértil (Egito e Mesopotâmia)
tradicionalmente compõem o conteúdo
da “História Antiga”.
Contudo, como podemos chamar de “História Antiga” a História que se
desenrola em apenas um lugar muito particular do mundo? Os chineses não
tem História Antiga? Os povos nativos da América não tem História Antiga? Os
africanos só tem História Antiga no Egito? Não podemos fingir que é universal
uma história que é apenas de uma parte do mundo.
Além disso, as antigas Grécia e Roma são muitas vezes consideradas como o “berço” da “Civilização Ocidental”.
Contudo, veremos que isso tem mais relação com a forma como o passado grego e romano foram “apropriados” e lidos
pelos europeus de momentos posteriores da história (especialmente depois do “Renascimento”) do que com a própria
história grega e romana.
Divisões tradicionais da História Universal e da História do Brasil:
repare no ponto de vista dos europeus sobre essas histórias.
3. Mediterrâneo: entre Europa,África e Ásia.
A “História Antiga”, em especial a
história da Grécia e Roma antigas é
normalmente identificada como
um passado da Europa.
Isso pode parecer correto a
princípio: Atenas, Esparta, Roma e
outras grandes cidades dessa
história ficam no continente
europeu.
Contudo, a história dessas cidades
está intimamente ligada às
relações com outras partes do
litoral mediterrânico, tanto no
Norte da África quanto no Oriente
Médio.
Não dá para pensar uma “História
da Europa” separada da conexão
com essas outras regiões.
4. As integrações do
Mediterrâneo na História
Litoral com pequenas planícies circundadas por
montanhas ou desertos: mundo de “microrregiões”.
Mar fechado de fácil navegação, especialmente na
primavera e verão: conexões entre as regiões.
Pré-História
Existem indícios de algum nível de contatos entre diferentes povos
do Mediterrâneo já no Paleolítico. Obsidianas (um tipo de pedra
muito útil para fazer lâminas) de mais de 10 mil anos retiradas da
ilha de Melos são encontradas em várias regiões diferentes.
Idade do Bronze
Desenvolveram-se várias cidades, templos e palácios ricos e
poderosos na região oriental do Mediterrâneo entre 3000 e 1000
a.C.. Contatos entre o Egito Faraônico, os povos do Levante e da
Mesopotâmia, os Hititas e os povos do Egeu (Minóicos e
Micênicos) se intensificaram a partir de 1800 a.C..
Por volta de 1100 a.C., contudo, ocorreu uma grande crise desses
povos, levando a uma desintegração entre eles.
Geografia do
Mediterrâneo
e necessidade
dos contatos:
Poucos grandes rios para irrigação (Nilo é a exceção)
e chuvas irregulares: crises agrícolas frequentes.
Necessidade de diversificar, estocar e trocar a
produção agrícola: mundo conectado.
A história das (des)integrações do Mediterrâneo
Ventos no Mediterrâneo: antes das embarcações a motor,
determinavam as rotas mais fáceis e rápidas de navegação.
6. A “Revolução do Ferro”
A partir de por volta do ano 1000 a.C. sinais da integração entre os
diferentes povos do mediterrâneo começam a surgir. Parte
importante disso é a difusão de uma nova tecnologia, inventada
alguns séculos antes, pelos Hititas: a metalurgia do Ferro.
O ferro era um material mais difícil de se trabalhar, mas depois que a
técnica se difunde, ele se torna muito mais difundido do que o Bronze
era, por ser muito mais comum na natureza do que o cobre e,
especialmente, o estanho (usados para fazer o Bronze). Além disso,
os objetos de ferro são muito mais resistentes que os de bronze.
Além do ferro, outras duas invenções surgem no Mediterrâneo
Oriental e depois se difundem por todo a região: o alfabeto e os
barcos de grande tonelagem.
Um das coisas mais importantes nesse momento é o surgimento de
grupos muito poderosos que tiram seu poder do controle sobre a
produção e circulação dos produtos do resto da população. O maior
indício disso são as grandes e ricas sepulturas encontradas pelos
arqueólogos que datam desse período.
Hierarquização social: surgimento de elites ricas e poderosas
Ferramentas agrícolas
da Idade do Ferro
Tumba etrusca de
Regolini-Galassi (Itália)
Tumba etrusca dos Leopardos (Itália)
7. Movimentos de pessoas, produtos e ideias
Um processo histórico importante que
surge como consequência dessa
integração é a intensificação das
migrações entre as diversas regiões do
Mediterrâneo. Os conjuntos de
migrações mais famosos ficaram
conhecidos como “Colonização Fenícia”
e “Colonização Grega”. Vários fatores
estimulavam essas migrações: a busca
por matérias-primas e comércio,
aumentos populacionais e falta de
terras, conflitos sociais e pobreza. A
relação entre os recém-chegados e os
“nativos” variava muito: em alguns
lugares conviveram pacificamente, em
outros se misturam, em outros viveram
em guerra permanente.
Migrações
Tumba etrusca dos Leopardos (Itália)
As pessoas que se moviam pelo Mediterrâneo levavam junto produtos típicos
de uma região que passavam a ser comuns em outros, assim como ideias.
Ainda que a diversidade regional se mantivessem, temos agora produtos e
ideias “mediterrânicas”, isto é, que circulam por todo o Mediterrâneo.
Circulação de produtos e ideias
8. A formação das Cidades-Estado
Entre 700 e 500 a.C., camponeses não tão pobres passaram a conseguir
ter armas de ferro em várias regiões do Mediterrâneo. Isso levou a uma
mudança importante na forma da guerra ser travada: a quantidade e a
unidade de grandes contingentes de soldados-camponeses (as falanges
gregas ou as legiões romanas são os exemplos mais famosos) passaram a
se sobrepor às pequenas unidades de soldados aristocratas.
Isso ficou conhecido como Revolução Hoplítica (de Hoplita, o típico
soldado-camponês grego) e teve impactos importantes na organização
política. Capazes de resistir ao poder dos aristocratas e a controlar suas
terras, esses camponeses se tornaram a base de comunidades políticas
mais horizontais, igualitárias, que deram origem às cidades-Estado.
A típica falange grega,
formada pelos Hoplitas
As mudanças na propriedade da terra e a
intensificação da agricultura estimularam uma
preocupação maior com o controle territorial.
A delimitação de territórios específicos teve
relação direta com a construção de grandes
templos e santuários tanto no centro dessas
cidades como nas fronteiras (que marcam o
controle da comunidade sobre o território).
Em muitos casos, essas transformações
estiveram ligadas a um processo geográfico
de urbanização. Pessoas que viviam antes em
pequenas aldeias camponesas passaram a
viver em centros urbanos maiores. Esse
processo ficou conhecido como “Sinecismo”.
Exemplo de Sinecismo:
formação da Cidade-
Estado de Nicópolis
(na atual Grécia).
Sinecismo
Fechamento do território
9. O espaço público
e as transformações sociais
A realidade de diversas Cidades-estados mediterrânicas é marcada pelo conflito entre grupos populares e os grupos mais
poderosos. Em algumas cidades esses conflitos obrigaram a elite a aceitar a maior participação das pessoas comuns nas
instâncias de poder. Além disso, garantiu também maior poder paras as instituições ligadas ao povo, como as Assembleias
e os Tribunais. Em outros lugares, as classes dominantes conseguiram suprimir as revoltas populares e concentraram o
poder em instituições que eles controlavam. Uma variável importante nesses conflitos sempre foi o papel do povo no
exército: em lugares em que a marinha, composta muitas vezes por cidadãos pobres era importante, o povo muitas vezes
conseguiu se impor no jogo político. Lugares com um exército poderoso de camponeses-soldados também sempre se viam
na situação de o povo impor-se. Em lugares em que os exércitos eram formados por mercenários, por outro lado, muitas
vezes os poderosos conseguiram jogar o povo para escanteio no jogo político.
Uma consequência importante do poder popular no espaço
público foi a necessidade dos poderosos de cada cidade de
ganharem a simpatia popular e demonstrarem não apenas sua
força e poder, mas também seu interesse pelo bem de todos.
Uma das práticas que essa realidade estimulou foi o evergetismo:
o financiamento pela elite de coisas públicas, como prédios,
navios e armas de guerra, festivais religiosos, etc.. Esses espaços
públicos eram os locais fundamentais para o exercício da Política.
A importância do espaço público e do debate
público tornou fundamental o desenvolvimento
de argumentos mais elaborados. A necessidade
de ganhar dos adversários não apenas na força
física, mas também no debate de ideias, foi o
embrião do desenvolvimento da teoria política e
da filosofia.
O centro urbano da Cidade de Atenas:
Espaços como esse se tornaram nas cidades-
estado do Mediterrâneo Antigo um local
privilegiado para a atuação política tanto dos
grupos poderosos quanto das pessoas comuns.
Enquanto aqueles construíam grandes obras e
bancavam grandes festividades para demonstrar
seu poder, o povo se reunia em espaços públicos
para discutir os temas relevantes para a Cidade.
A Agora, espécie de praça central das cidades
gregas, era o local central para essa atuação
política do povo comum. No caso de Atenas,
especificamente, a população de cidadãos era
tão grande que precisou passar a se reunir em
outro lugar, a colina da Pnyx.
10. As “constituições” políticas
do Mediterrâneo Antigo
A cidade de Atenas ficou conhecida pelo seu
sistema democrático, baseado na
importância dada à Assembleia e à definição
dos cargos políticos por sorteio. Tal
democracia foi resultado de conflitos sociais
entre a aristocracia da cidade e a população
comum, que conseguiu impor àqueles um
sistema político no qual a decisão da maioria
dos cidadãos definia os rumos da política da
cidade.
Atenas e a Democracia Esparta e a Oligarquia Roma e a “Constituição mista”
Cada Cidade-Estado se organizava politicamente de uma maneira diferente.Tradicionalmente se fala em três grandes
modelos, exemplificados abaixo, ainda que muitas outras realidades existissem em várias cidades.
A grande rival de Atenas, Esparta, ficou
conhecida pela Oligarquia (governo de
poucos). Os cidadãos que podiam participar
das decisões eram uma ínfima minoria
dentro do território. Esse quadro se
estabeleceu a partir da conquista pelos
espartanos de várias regiões próximas à
cidade original. As populações dessas
regiões se tornaram cidadãos de segunda
classe, quase sem direitos (os periecos) ou
servos que trabalhavam para os espartanos
(os hilotas).
A cidade de Roma possuía um modelo mais
complexo, com várias Assembleias que
tinham poder mas nas quais o peso do
povo comum era diminuído. Além disso, a
elite controlava os principais cargos. Esse
sistema foi chamado pelo historiador
Políbio de “misto”, porque teria elementos
democráticos (o poder das Assembleias),
da Oligarquia (o poder do Senado) e
mesmo monárquicos (poder dos cônsules,
os magistrados mais importantes).
11. As “constituições” políticas
do Mediterrâneo Antigo
Siracusa Cartago Macedônia
Para além desses três modelos tradicionais, é possível identificar muitas outras realidades políticas no Mediterrâneo Antigo
– inclusive regiões que não se organizavam como Cidades-estado.
Mercenários também foram importantes no
exército de Cartago. Contudo, como a
Marinha cartaginesa era um pilar
fundamental do poder militar da cidade e
era formado basicamente por cidadãos, a
população comum de Cartago conseguiu
manter o regime político mais aberto na
cidade.
Siracusa foi fundada por colonos gregos
ainda no século VIII a.C.. Novas levas de
migrantes vindos de vários lugares nos
séculos seguintes foram importantes para
torna-la uma das maiores cidades do
Mediterrâneo na época. Depois de um
período inicial em que a população mais
pobre conseguiu impor um sistema
democrático, Siracusa foi conquistada e
governa por uma série de “Tiranos”,
governante com poder concentrado em suas
mãos. O poder de tais tiranos vinha,
sobretudo, do seu controle sobre grandes
exércitos de mercenários, antecipando um
processo que pouco depois mudaria a
história do Mediterrâneo.
Em diversas regiões menos urbanizadas
do Mediterrâneo houve a formação de
formas distintas de organização política.
Em muitos casos, elites locais (rurais ou de
pequenas cidade) se articulavam e
controlavam vastos territórios rurais. O
caso mais famoso é o dos Macedônios.
13. Escravidão e outras
formas de trabalho compulsório
Na nossa sociedade, as pessoas são todas iguais perante à lei – isto é, existe
uma igualdade jurídica. Por outro lado, algumas pessoas controlam propriedade
daquilo que é necessário para realizar a produção, e portanto aqueles que não
tem (os proletários) precisam vender sua força de trabalho em troca de um
salário que garanta sua sobrevivência. Trabalhar em troca de um salário para
viver, algo que nos parece a coisa mais natural do mundo, é uma característica
fundamental da nossa sociedade. Contudo, nem sempre foi assim.
No Mediterrâneo antigo, por exemplo, a maior parte da população era
composta por camponeses que tinham, em algum nível, acesso à propriedade
daquilo que era mais importante para sua produção: a terra para agricultura. Por
conta disso, eles não precisavam obter um salário para sobreviver. Podiam
eventualmente trabalhar em troca de um salário para obter uma renda extra,
mas sua sobrevivência era garantida pelo trabalho em suas terras.
Por outro lado, não existia uma igualdade jurídica entre todos. Muitos pessoas
acabavam sendo submetidas a formas de trabalho compulsório (isto é,
obrigatório). A mais extrema dessas formas era a escravidão, que fazia de
pessoas uma mercadoria que podia ser vendida, comprada, alugada, herdade,
como se fosse um objeto qualquer. O trabalho dessas pessoas era a base para a
riqueza das classes dominantes das diversas regiões do Mediterrâneo antigo.
Diversidade de situações dos escravos
Uma das características fundamentais da
escravidão é justamente a possibilidade de
um senhor utilizar um de seus escravos em
qualquer condição. Existiam escravos
vivendo nas piores condições possíveis,
trabalhando de maneira desumana em
minas de prata, por exemplo. Escravos que
trabalhavam na casa de seu senhor
costumavam ter mais oportunidades de
melhora na vida (e até mesmo de liberdade),
mas estavam sempre também mais sujeitos
à violência dos seus donos. Por fim, alguns
poucos escravos se viam
Os escravos não aceitavam passivamente
sua situação. Se na maior parte do tempo
não tinham condições de se rebelar, muitas
vezes eles buscavam formas cotidianas de
resistência, como se negar a fazer algumas
ordens ou trabalhar de maneira improdutiva.
Ademais, muitas vezes os escravos fugiam,
se reuniam em comunidades de fugitivos ou
se estabeleciam em lugares em que as
pessoas não soubessem que fossem escravos
e viviam assim por algum tempo – até
eventualmente serem capturados ou não.
Por fim, em condições específicas, raras mas
muito importantes, os escravos se
rebelevam, formavam exércitos de escravos
e lutavam contra seus senhores.
Resistência dos escravos
A mais importante revolta de escravos no Mediterrâneo Antigo foi a revolta de
Espártaco, que aconteceu entre 73 e 71 a.C. no sul da Itália.
14. Existiam povos muito diversos vivendo no Mediterrâneo antigo, e em cada uma dessas diferentes sociedades as formas de
classificação de gênero e de sexualidade variavam muito. O caso mais famoso e sobre o qual temos mais informações é o
das cidades gregas. Mesmo entre estas existia muita variação em como essas coisas eram pensadas, mas vale a pena
destacar alguns aspectos importantes sobre o mundo grego antigo.
Gênero e Sexualidade
no Mediterrâneo antigo
A forma como as pessoas que nascem biologicamente do sexo masculino e do sexo feminino são socialmente enquadradas
e se identificam tanto em termos de gênero e seus papeis sociais quanto em termos de sexualidade variam enormemente
na História. Nesse sentido, em primeiro lugar é preciso entender a diferença entre “Sexo Biológico”, “Gênero” e
“Sexualidade”: “Sexo Biológico” diz respeito às diferenças anatômicas existentes entre machos, fêmeas e hermafroditas
das diferentes espécies biológicas; “Gênero” se refere à forma como as pessoas se identificam e são enquadradas
socialmente em diferentes modelos sociais (que variam de sociedade para sociedade e ao longo da história);
“Sexualidade”, por fim, diz respeito às afetividades e atrações emocionais e sexuais que uma pessoa desenvolve ao longo
da sua vida – e as etiquetas que usamos para classificar esses desejos também variam historicamente.
As principais formas
como a nossa sociedade
categoriza Expressão e
identidade de gênero e
Orientação sexual.
15. Sexualidade no mundo grego
Os gregos não classificavam as pessoas a partir das orientações sexuais da
mesma maneira que a nossa sociedade faz: acima de tudo, não existia a
distinção entre Heterossexualidade e Homossexualidade. A distinção entre os
comportamentos sexuais não tinha como ponto fundamental o gênero das
pessoas que se envolviam sexualmente, mas sim seu status social.
O ponto fundamental para os gregos era a distinção entre ativos e passivos na
relação sexual (definida pela penetração sexual): alguém de maior status
sempre deveria ser o ativo, sendo vergonhoso estar na posição de passividade
em uma relação com alguém inferior socialmente. Por sua vez, alguém visto
como socialmente inferior assumir o papel de passivo em uma relação não era
visto como reprovável.
O status era determinado por vários elementos: idade (adultos x jovens),
estatuto jurídico (livres x escravos) e gênero (homens x mulheres). Dessa forma,
um jovem rapaz se relacionar sexualmente como passivo com um homem mais
velho era visto como normal pelos gregos, mas o contrário seria reprovado
socialmente. É nesse sentido que se fala hoje que entre os gregos a
homossexualidade era vista como normal. Contudo, é preciso entender isso
melhor: para os gregos, não existia nem mesmo a ideia de homossexualidade.
Existem, tanto na literatura quanto nas
artes visuais gregas, inúmeras referências
às relações sexuais entre homens. Relações
entre mulheres não são tão mencionadas,
mas isso provavelmente é resultado do
fato de a maioria das obras gregas que
conhecemos terem sido escritas ou
pintadas por homens. Na literatura de
Safo, poetisa grega da ilha de Lesbos no
século VII a.C., existem muitas referências à
relações sexuais entre mulheres (ainda que
a identificação da palavra “Lésbica” com a
homossexualidade feminina seja obra do
século XIX – até porque não havia a ideia de
homossexualidade na Grécia Antiga).
Relações sexuais na arte grega
Mural na “Tumba do Mergulhador”, na antiga colônia grega de Paestum, sul da Itália.
Repare que há a indicação clara na representação dos casais de amantes de uma
hierarquia etária entre eles (em ambos os casos um apresenta barba e outro não).
16. Gênero no mundo grego
De maneira geral, as mulheres não tinham direitos políticos oficiais. Mesmo nas cidades democráticas (ou até,
principalmente nelas) as mulheres não participavam das instituições políticas, como a Assembleia e os Tribunais. Além
disso, na maioria dos casos as mulheres estavam submetidas ao poder de seus pais ou de seus maridos.
Isso não significa que as mulheres fossem apenas passivas e aceitassem um papel secundário na sociedade. Viúvas, por
exemplo, tinham independência financeira e social em várias sociedades mediterrânicas. Esposas acabavam tendo muita
influência sobre seus maridos, assim como mães sobre filhos em outras situações. Por fim, as mulheres acabavam
travando relações sociais que fugiam das prisões que a sociedade misógina tentava lhes impor. Sobretudo no campo
religioso, as mulheres tinham um papel muito ativo na sociedade.
De toda forma, a condição das mulheres variava muito dependendo das diferentes cidades do Mediterrâneo, então vale
a pena ver algumas particularidades.
Atenas Esparta
A sociedade ateniense era extremamente
misógina. As mulheres não só não podiam
participar da política: não podiam ter propriedades
e estavam sempre sob a tutela de um parente
masculino ou do marido (sempre escolhido pelo pai
ou parente masculino mais próximo). Mesmo sua
movimentação fora de casa era muito limitada.
Por outro lado, em esparta as mulheres
recebiam rigoroso treinamento físico,
entendido como necessário para gerarem
e criarem filhos que seriam bons soldados.
Além disso, elas tinham grande liberdade
de movimento e podiam ter propriedades
por sua própria conta.
Modelo de uma casa típica
grega mostra o Gineceu:
cômodo específico para as
mulheres da casa. A
sociedade ateniense
tentava conter suas
mulheres à este tipo de
espaço.
Cena representando
um Gineceu pintado
em um vaso grego
antigo.
17. A “Cultura Clássica”
A integração do Mediterrâneo fez várias ideias e práticas sociais circularem e se tornarem
muito comuns em vários lugares. Cultos e divindades, línguas, obras literárias, formas
arquitetônicas, maneiras de realizar uma refeição foram algumas das ideias que circularam no
Mediterrâneo. Muitas ideias de origem grega, como a própria língua grega, algumas de suas
divindades e formas artísticas (como seu tipo de escultura e arquitetura) foram adaptadas por
diversos povos do Mediterrâneo. Essa influência cultural grega se chamou de “Helenização”.
A associação dessa cultura “Helenizada”
com elementos da cultura romana deu
origem ao que os europeus a partir do
renascimento chamaram de “Cultura
Clássica”, ou “Cultura Greco-Romana”. Os
europeus de períodos posteriores
transformaram a história e a cultura de
gregos e romanos da Antiguidade em seus
“mitos de origem”, isto é, como se eles
fossem herdeiros diretos desses povos.
Interações culturais
e “Helenização”
A “Tradição Clássica”
O Partenon, em Atenas, é o mais conhecido exemplo da típica
arquitetura de templos grega, encontrada em diversos lugares do Mediterrâneo.
O “Guerreiro ferido”, escultura no templo de Afaia: um bom exemplo da escultura
clássica grega. Esse tipo de escultura também se difundiu pelo Mediterrâneo.