Estabilidade da produção de frutos e do teor e qualidade de óleo da macaúba (acrocomia aculeata) luiz bertoni final
1. ESTABILIDADE DA PRODUÇÃO DE FRUTOS E DO TEOR E QUALIDADE DE 1 ÓLEO DA MACAÚBA (Acrocomia aculeata) 2
LUIZ HENRIQUE CHORFI BERTON1,3; JOAQUIM ADELINO DE AZEVEDO 3 FILHO2; CÁSSIA REGINA LIMONTA CARVALHO3; WALTER JOSÉ SIQUEIRA3; CARLOS 4 AUGUSTO COLOMBO3 5
INTRODUÇÃO 6
A macaúba é uma planta de alta produtividade e múltiplas potencialidades, sendo o fruto o 7 produto de maior valor econômico. O fruto da macaúba é rico em óleo, estando este concentrado em 8 duas porções: mesocarpo e endosperma. A concentração de óleo no mesocarpo pode atingir valores 9 superiores a 70%, sendo este rico em ácido oléico. 10
As análises de adaptabilidade e estabilidade são procedimentos estatísticos que permitem 11 identificar os cultivares de comportamento mais estável e que respondem previsivelmente às 12 variações ambientais. Dentre as metodologias empregadas, a mais usada é a de Eberhart e Russell 13 (1966). O método de Eberhart e Russel fornece informações sobre o desempenho relativo de cada 14 genótipo em relação à média dos ambientes (anos), bem como em relação a sua resposta linear. 15 Cada ambiente (ano) é indexado pela média dos seus genótipos. A estabilidade de desempenho, 16 embora de baixa herdabilidade, pode ser considerada uma característica como outras que podem ser 17 selecionadas em programas de melhoramento (BORÉM e MIRANDA, 2013). 18
O objetivo do trabalho foi avaliar a estabilidade e adaptabilidade da produção de frutos 19 durante cinco anos, massa seca e teor de óleo e ácido oléico do mesocarpo durante quatro anos, em 20 populações naturais de macaúba. 21
MATERIAL E MÉTODOS 22
O estudo foi conduzido no período de 2009 a 2013, em populações nativas de macaúba no 23 estado de São Paulo, distribuídas nos domínios dos biomas Mata Atlântica e Cerrado, bem como 24 zonas de transição dos mesmos. 25
Para caracterizar a produção de frutos por planta ano-1 foram realizadas expedições a campo 26 durante cinco anos, para avaliação dos genótipos de 15 populações naturais, através de anotações de 27 campo, relatório fotográfico e coleta de frutos e cachos. O número de genótipos avaliados em cada 28 população variou de 4 a 43, num total de 153 indivíduos. Foi avaliado o caráter número de frutos 29 maduros, através da contagem de cachos e frutos por planta em todos os cinco anos de avaliação. Já 30 para a caracterização da produção anual de massa seca, teor de óleo e ácido oléico do mesocarpo, 31 foram realizadas avaliações durante quatro anos, sendo avaliados 46 genótipos pertencentes a nove 32
1 Doutorando – Programa de Pós Graduação – Instituto Agronômico de Campinas, e-mail: lhcberton@gmail.com
2 Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios – Leste Paulista, e-mail: joaquimadelino@apta.sp.gov.br
3 Instituto Agronômico de Campinas – Centro de Recursos Genéticos Vegetais, e-mails: ccolombo@iac.sp.gov.br; siqueirawj@iac.sp.gov.br; climonta@iac.sp.gov.br
2. populações naturais. Os dados de produção, teor e qualidade de óleo foram obtidos por Berton et al 33 2012. 34
Os dados foram submetidos à análise se variância conjunta, conforme o modelo: 35
Yijk = m + Gi + Aj + GAij + Eijk. 36
O parâmetro de estabilidade e adaptabilidade fenotípica foi estimado pelo método de 37 regressão linear proposto por Eberhart e Russel (1966), de acordo com o modelo: 38
Yij = ßoi + ß1iIj + δij + ԑij 39
Todas as análises estatísticas foram feitas utilizando-se o programa computacional GENES 40 (CRUZ, 2006). 41
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RESULTADOS E DISCUSSÃO 43
Observou-se que alguns genótipos produziram em média o mesmo número de cachos ao 44 longo dos anos, enquanto que outros produziram bem em alguns anos, depois havia uma queda na 45 produção. Não se sabe ao certo quais os fatores envolvidos com essa oscilação na produção, pois 46 podem estar envolvidos fatores nutricionais, fisiológicos e genéticos. Fatores ambientais como 47 queimadas, chuvas ou outras condições desfavoráveis à polinização, podem também ser algumas 48 das causas de oscilação na produção de frutos. 49
Observou-se populações com genótipos de maior produtividade, com média de 5648 frutos 50 por planta.ano-1. Houve grande variabilidade do coeficiente de regressão entre e dentro de cada 51 população, sendo possível observar coeficientes de regressão estatisticamente igual a 1 (β1 =1) e 52 oscilações para cima e para baixo em todas as populações, porém todos os desvios da regressão 53 (σ2di) foram significativos. 54
No caso de todos os desvios serem significativo é devido às plantas oscilarem na produção 55 de frutos ao longo dos anos e os desvios dos dados ficam mais imprecisos principalmente nas 56 plantas que não produziram em algum ano. Sendo assim para critérios de seleção de genótipos, a 57 seleção é baseada em genótipos o mais próximo do ideal, ou seja, genótipos que apresentem alta 58 produção (corta o eixo do Y) e no sentido horizontal (Beta zero ou próximo). Plantas que mais se 59 aproximem destas características são selecionáveis em contrastes com plantas da mesma população 60 que tem muito ângulo e saem de baixo nos anos desfavoráveis, mesmo elas cortando o eixo do Y no 61 alto também. O mesmo vale para genótipos sem ângulo, porém lá embaixo (baixa produção). 62
A adaptabilidade seria o Beta =1 ou ângulo de 45 graus (planta ideal). Ou seja, a planta é 63 adaptada, pois é responsiva na medida em que o ambiente (ano) melhora, propondo que a planta 64 pode responder ao manejo do produtor, como correção do solo, adubação, dentre outros. Se o 65 genótipo não responde a melhoria do ambiente (ano), ou seja, não responde ou não se adapta é 66 provável que com tecnificação implantada, não seja observado resultados positivos. 67
3. Nas condições do estudo, busca-se por genótipos que produzem bem em todos os anos e ser 68 bem produtivos (começar no alto do eixo do Y). Porém é difícil distinguir anos bons e ruins nas 69 presentes condições, pois foram localidades com condições bem diferenciadas e sem controle, além 70 de a planta ter o genótipo na história que tem energia para boa produção e depois cai, pois tem que 71 criar reservas novamente para depois no terceiro ou outro ano produzir. Então não é só condições de 72 clima e polinizadores que favorece a produção da planta, mas sim características do genótipo 73 propriamente dito. Propondo isso, genótipos que não apresentem ângulo ou com ligeiros desvios 74 para cima e de maiores produções são aqueles selecionáveis dentro de cada população. 75
Embasado nas premissas descritas anteriormente, observa-se populações que apresentam 76 genótipos com alta produtividade ao longo dos anos, e com mínima angulação de curva. 77 Observaram-se também populações com genótipos de baixa produtividade e que na medida em que 78 o ambiente melhorava (anos) os genótipos diminuíam a produção. 79
Silva (1994) destaca, ainda, que uma mesma palmeira exibe um ciclo de três anos, onde no 80 primeiro ano a produção é alta, no segundo, média e no terceiro, baixa. Para Wandeck e Justo 81 (1982), esta variação de produção ocorre em nível de indivíduo viabilizando a manutenção da 82 exploração dos recursos em nível comercial. Neste sentido, ressalta-se a importância do 83 monitoramento das fenofases por período mais longo e mesmo como parâmetro para avaliação da 84 sustentabilidade da extração. 85
No parâmetro de estabilidade da produção massa seco do mesocarpo, as populações P20 e 86 P24 foram as que apresentaram maiores médias de massa seca do mesocarpo durante os quatro 87 anos, sendo todos superiores a 15 gramas (Figura 1). Os genótipos da população P5 foram os mais 88 estáveis, porem todos com baixa produção anual de massa seca. O genótipo 8 da população P20 foi 89 o que teve melhor desempenho de estabilidade, aliado a alta produção de matéria seca. 90
Para o caráter teor de óleo no mesocarpo, dentre as populações avaliadas, observou-se 91 genótipos que melhor apresentaram estabilidade aliado ao alto teor de óleo, observando-se teores de 92 óleo médio acima de 40% em todos os quatro anos avaliados. 93
Também foram constatadas populações apresentando genótipos com melhor 94 adaptabilidade, em que o teor de óleo de alguns genótipos passou de 40 a 50% nos anos 95 desfavoráveis, para teores acima de 55% nos anos favoráveis. 96
Para o caráter teor de ácido oléico no mesocarpo, observou-se populações com genótipos 97 que mostraram ser mais estáveis para o caráter % de ácido oléico no mesocarpo, enquanto que 98 outras populações apresentaram genótipos menos estáveis para este caráter. Alguns genótipos 99 apresentaram-se estáveis e com teor de ácido oléico em torno de 70%. Observaram-se também 100 genótipos que apresentaram adaptabilidade aliado ao alto teor de ácido oléico, os quais 101
4. apresentaram valores médios de 60% de teor de ácido oléico nos anos desfavoráveis, passando para 102 80% nos anos favoráveis. 103
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105 Figura 1 – Gráfico de Eberhart & Russel (parte superior) para estabilidade da produção de massa seca do 106 mesocarpo de genótipos provenientes de diferentes populações, e gráfico da produção média e desvio padrão 107 (parte inferior) das populações, em quatro anos de avaliações. Período 2009 a 2013. m.p. = média da 108 população. 109
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CONCLUSÕES 111
Em condições naturais, a macaúba apresenta variação na estabilidade e adaptabilidade dos 112 caracteres produção de frutos, massa seca do mesocarpo, teor de óleo do mesocarpo e teor de ácido 113 oléico do mesocarpo em diferentes anos; Genótipos superiores podem ser selecionados para as 114 características avaliadas; Dados de estabilidade e adaptabilidade são fundamentais para práticas de 115 seleção e melhoramento da espécie, bem como testes regionais com ensaios de progênies. 116
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REFERÊNCIAS 118
BORÉM, A.; MIRANDA, G.V. Melhoramento de plantas. 6.ed. Viçosa: (Ed). UFV, 2013. 523 p. 119
CRUZ, C.D. Programa GENES: biometria. Viçosa: UFV, 2006. 382p. 120
EBERHART, S. A.; RUSSEL, W. A. Stability parameters for comparing varieties. Crop Science, v. 1, n. 1, 121 p. 36-40, 1966. 122
SILVA, J. C. Macaúba: fonte de matéria-prima para os setores alimentício, energético e industrial. 1994. 41f. 123 Monografia (Cultivo de essências exóticas e nativas) - Departamento de Engenharia Florestal, Universidade 124 Federal de Viçosa-UFV. Viçosa. 125
WANDECK, F. A.; JUSTO, P. G. A macaúba: fonte energética e insumo industrial – sua significação 126 econômica no Brasil. 1982. 82p. 127