2. O sonho e a vontade do Homem
A par da dimensão histórica e da dimensão crítica,
Memorial do Convento possui uma clara dimensão
simbólica que radica na ideia:
O HOMEM, COM A SUA VONTADE, É O
CONSTRUTOR DO SONHO
3. O sonho e a vontade do Homem
O sonho megalómano do rei em construir uma
basílica tão grande como a basílica de S. Pedro em
Roma.
(ironicamente, o rei nada faz para a concretização material
desse sonho, pois a única basílica que consegue edificar é
uma miniatura, espécie de brinquedo que torna ridícula a
sua vaidade. Para levantar a verdadeira basílica, precisará
do esforço dos milhares de trabalhadores que não
partilharão do sonho, ficando marginalizados da História,
até que o autor os traz para a sua narrativa.
4. O sonho e a vontade do Homem
O sonho do Padre Bartolomeu Lourenço, o sonho
de voar, de ir mais além, ultrapassando os limites
impostos pela condição humana.
(ao contrário do sonho egocêntrico do rei, este é o sonho
partilhado e possível, graças à união de esforços de
Bartolomeu, Baltasar e Blimunda, ajudados por
Scarlatti – o sonho que a vontade colectiva
concretizou.
5. O sonho e a vontade do Homem
ELEMENTOS SIMBÓLICOS
A trindade: Bartolomeu-Baltasar-Blimunda
+
Scarlatti
3 (número mágico, o número da trindade divina)
+ 1 = 4
4 (número da totalidade)
6. O sonho e a vontade do Homem
ELEMENTOS SIMBÓLICOS
A passarola: a construção da obra que conduz à
perseguição do sonho; o ovo inicial, a origem.
O voo: metáfora e símbolo do sonho, da liberdade, da
capacidade de ultrapassar os limites.
As vontades que fazem avançar o sonho, que o tornam
possível e o realizam.
7. OUTROS SÍMBOLOS
Os sonhos do rei e da rainha: a árvore de Jessé que se
ergue do sexo do rei; a lama que a rainha pisa.
Os nomes de Baltasar Sete-Sóis e Blimunda Sete-
Luas (o 7, número mágico; a Lua, símbolo feminino; o
Sol, símbolo masculino.
O poder mágico de Blimunda: a capacidade de ver por
dentro; os olhos de Blimunda.
8. OUTROS SÍMBOLOS
O ritual do casamento de Baltasar e Blimunda (o
sangue, a cruz).
A pedra transportada pelos trabalhadores desde Pero
Pinheiro até Mafra, símbolo do esforço, do sacrifício
necessário para a construção da obra; mas também
símbolo do trabalho escravo e desumano a que era
submetido o povo; (a “nau da índia”).
9. OUTROS SÍMBOLOS
A história contada por Manuel Milho – nesta
história, a grande questão que se coloca é, afinal, sobre
a essência do ser humano, o que é ser homem, o que é
ser mulher? Decorrente desta, como ignorar a
condição social, as circunstâncias de tempo e lugar, e
viver a condição humana? Para estas questões não se
encontra resposta, adiada para um futuro sem data
prevista.
10. ESPAÇO SIMBÓLICO
Casa de Lisboa:
a lareira que Blimunda e Baltasar ateiam, centro do
lar, fogo, calor; o alimento que partilham; a luz da
candeia, a esteira no chão, o despojamento, um espaço
mantido vivo quando habitado, sacralizado por nele
ter tido lugar o ritual do “casamento”.
11. ESPAÇO SIMBÓLICO
Abegoaria de S. Sebastião da Pedreira:
paredes de pano, a arca com os parcos haveres, a
esteira, um espaço reduzido ao essencial, que garante
intimidade dos dois, também o recolhimento de
Blimunda, “que às vezes até a mais aventureiras
apetece”.
12. ESPAÇO SIMBÓLICO
Palheiro:
o lugar do amor vivido em plenitude, envolvendo
“almas, corpos e vontades”; espaço primitivo e natural,
de harmonia e fusão dos elementos, expressa através
da sensação do cheiro; a ancestralidade realçada pela
referência do narrador ao gesto de Blimunda, que
“dobrou a manta, era apenas uma mulher repetindo um
gesto antigo”; espaço sacralizado, quando o narrador
compara o amor à celebração de uma missa, afirmando
que, se comparação houvesse, “a missa perderia”.
13. ESPAÇO SIMBÓLICO
A passarola:
o sonho; o ovo simbólico da génese do mundo, da
totalidade e perfeição, de renovação da natureza, casa-
ovo construída por ambos, na qual realizam o voo
sonhado.
14. ESPAÇO SIMBÓLICO
a natureza:
espaço idílico, de integração, fusão entre seres e
elementos, “sente na pele o suspiro do ar como outra
pele…”
15. ESPAÇO SIMBÓLICO
A barraca da burra:
onde a cama era “a antiga e larga manjedoura…
confortável como um leito real”, que não pode deixar
de associar-se ao berço da tradição cristã e, noutra
dimensão, de ser posta em contraste com o luxuoso
leito real de D. Maria Ana, lugar de desamor, minado
por percevejos; este espaço, isolado e protetor da
intimidade, é o da última noite de amor entre Baltasar
e Blimunda.
16. ESPAÇO SIMBÓLICO
o olhar:
“Olharem-se era a casa de ambos”, a casa entendida em
toda a sua dimensão simbólica, de proteção do ser, da
interioridade, de preservação do amor e da vida.