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a dimensão simbólica
O sonho e a vontade do Homem
 A par da dimensão histórica e da dimensão crítica,
Memorial do Convento possui uma clara dimensão
simbólica que radica na ideia:
O HOMEM, COM A SUA VONTADE, É O
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O sonho e a vontade do Homem
 O sonho megalómano do rei em construir uma
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(ironicamente, o rei nada faz para a concretização material
desse sonho, pois a única basílica que consegue edificar é
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sua vaidade. Para levantar a verdadeira basílica, precisará
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partilharão do sonho, ficando marginalizados da História,
até que o autor os traz para a sua narrativa.
O sonho e a vontade do Homem
 O sonho do Padre Bartolomeu Lourenço, o sonho
de voar, de ir mais além, ultrapassando os limites
impostos pela condição humana.
(ao contrário do sonho egocêntrico do rei, este é o sonho
partilhado e possível, graças à união de esforços de
Bartolomeu, Baltasar e Blimunda, ajudados por
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concretizou.
O sonho e a vontade do Homem
 ELEMENTOS SIMBÓLICOS
A trindade: Bartolomeu-Baltasar-Blimunda
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3 (número mágico, o número da trindade divina)
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4 (número da totalidade)
O sonho e a vontade do Homem
 ELEMENTOS SIMBÓLICOS
 A passarola: a construção da obra que conduz à
perseguição do sonho; o ovo inicial, a origem.
 O voo: metáfora e símbolo do sonho, da liberdade, da
capacidade de ultrapassar os limites.
 As vontades que fazem avançar o sonho, que o tornam
possível e o realizam.
OUTROS SÍMBOLOS
 Os sonhos do rei e da rainha: a árvore de Jessé que se
ergue do sexo do rei; a lama que a rainha pisa.
 Os nomes de Baltasar Sete-Sóis e Blimunda Sete-
Luas (o 7, número mágico; a Lua, símbolo feminino; o
Sol, símbolo masculino.
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dentro; os olhos de Blimunda.
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sangue, a cruz).
 A pedra transportada pelos trabalhadores desde Pero
Pinheiro até Mafra, símbolo do esforço, do sacrifício
necessário para a construção da obra; mas também
símbolo do trabalho escravo e desumano a que era
submetido o povo; (a “nau da índia”).
OUTROS SÍMBOLOS
 A história contada por Manuel Milho – nesta
história, a grande questão que se coloca é, afinal, sobre
a essência do ser humano, o que é ser homem, o que é
ser mulher? Decorrente desta, como ignorar a
condição social, as circunstâncias de tempo e lugar, e
viver a condição humana? Para estas questões não se
encontra resposta, adiada para um futuro sem data
prevista.
ESPAÇO SIMBÓLICO
 Casa de Lisboa:
a lareira que Blimunda e Baltasar ateiam, centro do
lar, fogo, calor; o alimento que partilham; a luz da
candeia, a esteira no chão, o despojamento, um espaço
mantido vivo quando habitado, sacralizado por nele
ter tido lugar o ritual do “casamento”.
ESPAÇO SIMBÓLICO
 Abegoaria de S. Sebastião da Pedreira:
paredes de pano, a arca com os parcos haveres, a
esteira, um espaço reduzido ao essencial, que garante
intimidade dos dois, também o recolhimento de
Blimunda, “que às vezes até a mais aventureiras
apetece”.
ESPAÇO SIMBÓLICO
 Palheiro:
o lugar do amor vivido em plenitude, envolvendo
“almas, corpos e vontades”; espaço primitivo e natural,
de harmonia e fusão dos elementos, expressa através
da sensação do cheiro; a ancestralidade realçada pela
referência do narrador ao gesto de Blimunda, que
“dobrou a manta, era apenas uma mulher repetindo um
gesto antigo”; espaço sacralizado, quando o narrador
compara o amor à celebração de uma missa, afirmando
que, se comparação houvesse, “a missa perderia”.
ESPAÇO SIMBÓLICO
 A passarola:
o sonho; o ovo simbólico da génese do mundo, da
totalidade e perfeição, de renovação da natureza, casa-
ovo construída por ambos, na qual realizam o voo
sonhado.
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 a natureza:
espaço idílico, de integração, fusão entre seres e
elementos, “sente na pele o suspiro do ar como outra
pele…”
ESPAÇO SIMBÓLICO
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onde a cama era “a antiga e larga manjedoura…
confortável como um leito real”, que não pode deixar
de associar-se ao berço da tradição cristã e, noutra
dimensão, de ser posta em contraste com o luxuoso
leito real de D. Maria Ana, lugar de desamor, minado
por percevejos; este espaço, isolado e protetor da
intimidade, é o da última noite de amor entre Baltasar
e Blimunda.
ESPAÇO SIMBÓLICO
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  • 2. O sonho e a vontade do Homem  A par da dimensão histórica e da dimensão crítica, Memorial do Convento possui uma clara dimensão simbólica que radica na ideia: O HOMEM, COM A SUA VONTADE, É O CONSTRUTOR DO SONHO
  • 3. O sonho e a vontade do Homem  O sonho megalómano do rei em construir uma basílica tão grande como a basílica de S. Pedro em Roma. (ironicamente, o rei nada faz para a concretização material desse sonho, pois a única basílica que consegue edificar é uma miniatura, espécie de brinquedo que torna ridícula a sua vaidade. Para levantar a verdadeira basílica, precisará do esforço dos milhares de trabalhadores que não partilharão do sonho, ficando marginalizados da História, até que o autor os traz para a sua narrativa.
  • 4. O sonho e a vontade do Homem  O sonho do Padre Bartolomeu Lourenço, o sonho de voar, de ir mais além, ultrapassando os limites impostos pela condição humana. (ao contrário do sonho egocêntrico do rei, este é o sonho partilhado e possível, graças à união de esforços de Bartolomeu, Baltasar e Blimunda, ajudados por Scarlatti – o sonho que a vontade colectiva concretizou.
  • 5. O sonho e a vontade do Homem  ELEMENTOS SIMBÓLICOS A trindade: Bartolomeu-Baltasar-Blimunda + Scarlatti 3 (número mágico, o número da trindade divina) + 1 = 4 4 (número da totalidade)
  • 6. O sonho e a vontade do Homem  ELEMENTOS SIMBÓLICOS  A passarola: a construção da obra que conduz à perseguição do sonho; o ovo inicial, a origem.  O voo: metáfora e símbolo do sonho, da liberdade, da capacidade de ultrapassar os limites.  As vontades que fazem avançar o sonho, que o tornam possível e o realizam.
  • 7. OUTROS SÍMBOLOS  Os sonhos do rei e da rainha: a árvore de Jessé que se ergue do sexo do rei; a lama que a rainha pisa.  Os nomes de Baltasar Sete-Sóis e Blimunda Sete- Luas (o 7, número mágico; a Lua, símbolo feminino; o Sol, símbolo masculino.  O poder mágico de Blimunda: a capacidade de ver por dentro; os olhos de Blimunda.
  • 8. OUTROS SÍMBOLOS  O ritual do casamento de Baltasar e Blimunda (o sangue, a cruz).  A pedra transportada pelos trabalhadores desde Pero Pinheiro até Mafra, símbolo do esforço, do sacrifício necessário para a construção da obra; mas também símbolo do trabalho escravo e desumano a que era submetido o povo; (a “nau da índia”).
  • 9. OUTROS SÍMBOLOS  A história contada por Manuel Milho – nesta história, a grande questão que se coloca é, afinal, sobre a essência do ser humano, o que é ser homem, o que é ser mulher? Decorrente desta, como ignorar a condição social, as circunstâncias de tempo e lugar, e viver a condição humana? Para estas questões não se encontra resposta, adiada para um futuro sem data prevista.
  • 10. ESPAÇO SIMBÓLICO  Casa de Lisboa: a lareira que Blimunda e Baltasar ateiam, centro do lar, fogo, calor; o alimento que partilham; a luz da candeia, a esteira no chão, o despojamento, um espaço mantido vivo quando habitado, sacralizado por nele ter tido lugar o ritual do “casamento”.
  • 11. ESPAÇO SIMBÓLICO  Abegoaria de S. Sebastião da Pedreira: paredes de pano, a arca com os parcos haveres, a esteira, um espaço reduzido ao essencial, que garante intimidade dos dois, também o recolhimento de Blimunda, “que às vezes até a mais aventureiras apetece”.
  • 12. ESPAÇO SIMBÓLICO  Palheiro: o lugar do amor vivido em plenitude, envolvendo “almas, corpos e vontades”; espaço primitivo e natural, de harmonia e fusão dos elementos, expressa através da sensação do cheiro; a ancestralidade realçada pela referência do narrador ao gesto de Blimunda, que “dobrou a manta, era apenas uma mulher repetindo um gesto antigo”; espaço sacralizado, quando o narrador compara o amor à celebração de uma missa, afirmando que, se comparação houvesse, “a missa perderia”.
  • 13. ESPAÇO SIMBÓLICO  A passarola: o sonho; o ovo simbólico da génese do mundo, da totalidade e perfeição, de renovação da natureza, casa- ovo construída por ambos, na qual realizam o voo sonhado.
  • 14. ESPAÇO SIMBÓLICO  a natureza: espaço idílico, de integração, fusão entre seres e elementos, “sente na pele o suspiro do ar como outra pele…”
  • 15. ESPAÇO SIMBÓLICO  A barraca da burra: onde a cama era “a antiga e larga manjedoura… confortável como um leito real”, que não pode deixar de associar-se ao berço da tradição cristã e, noutra dimensão, de ser posta em contraste com o luxuoso leito real de D. Maria Ana, lugar de desamor, minado por percevejos; este espaço, isolado e protetor da intimidade, é o da última noite de amor entre Baltasar e Blimunda.
  • 16. ESPAÇO SIMBÓLICO  o olhar: “Olharem-se era a casa de ambos”, a casa entendida em toda a sua dimensão simbólica, de proteção do ser, da interioridade, de preservação do amor e da vida.