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Economia Criativa - Panorama do Mercado da
Música no Brasil e no Mundo.

Outubro/2013

Relatório preparado pela Cysneiros Consultores Associados
para a Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado de
Pernambuco.
Pesquisador Responsável
Economia Criativa: Emanoel Querette
2

Sumário
1

Introdução........................................................................................................................ 5

2

Análise das Tendências de Mercado em Economia Criativa ......................................... 6
2.1

Panorama do Setor da Música ............................................................................................. 7

2.2

Análise do Mercado da Música ............................................................................................ 8

2.2.1 O mercado Global da Música ........................................................................................................... 8
2.2.2 Repercussões da música na economia global ................................................................................. 15
2.2.3 A Indústria Nacional ...................................................................................................................... 15
2.2.3.1 Globalização e mercado transnacional ..................................................................................... 20
2.2.3.2 Pirataria e propriedade intelectual ............................................................................................ 20

2.3

Macrotendências para o Mercado da Música ................................................................... 22

2.3.1
2.3.2
2.3.3
2.3.4
2.3.5
2.3.6

2.4

Plataformas móveis ........................................................................................................................ 23
Plataforma Online .......................................................................................................................... 24
Novas oportunidades para artistas e gravadoras independentes ..................................................... 25
Crowdfunding: uma alternativa para microfinanciamento ............................................................. 26
Música em outros setores de rápido crescimento: .......................................................................... 27
Redes Sociais ................................................................................................................................. 27

Recomendações às Empresas do Setor da Música ............................................................ 29

3

Conclusão....................................................................................................................... 31

4

Referências..................................................................................................................... 32
3

Índice de Tabelas
Tabela 1. Análise SWOT da setor da Música em Pernambuco face às tendências globais ................................. 30
4

Índice de Figuras
Figura 1. Receitas globais das vendas de música gravada (fonogramas), 2011. (milhões de US$) ...................... 9
Figura 2. Vendas Físicas de Álbuns (CDs, LPs e Cassetes) nos EUA. 1973-2008(1.000 unidades) ................... 10
Figura 3. Taxas de Crescimento dos Segmentos da Indústria Fonográfica Global, 2011 (%) ............................ 11
Figura 4. Vendas totais de segmentos da Indústria Fonográfica Global, 2011 (US$ milhões) ........................... 11
Figura 5. Receitas totais da indústria fonográfica global, 2012 .......................................................................... 12
Figura 6. Receitas totais da indústria fonográfica global, 2007-2016 (previsão) ............................................... 12
Figura 7. Usuários ativos de serviços de assinatura e downloads em 2012 (%) ................................................. 14
Figura 8. Participação do repertório nacional na música consumida no Brasil ................................................. 19
5

1

Introdução

Este relatório foi produzido apresenta um panorama do setor de Economia Criativa
em Pernambuco, no Brasil e no Mundo, suas principais características, as tendências
competitivas e de mercado, e os desafios e oportunidades decorrentes destes cenários para as
empresas pernambucanas.
Neste relatório abordaremos em maior detalhe as tendências dentro de um contexto
competitivo, relativos ao setor da Música no Brasil e no Mundo, que também sofre os
impactos da digitalização e encontra-se em um momento de consolidação do segmento
digital. Apresentamos, então, as principais transformações decorrentes do novo paradigma
digital, e os desafios e oportunidades decorrentes destes cenários para as empresas
pernambucanas do setor.
6

2

Análise das Tendências de Mercado em Economia Criativa

Um importante setor da Economia Criativa é o setor da música. Segmento que
tradicionalmente combina conteúdo cultural e criatividade para geração de rendimentos e
calor econômico – uma possível definição do que seja Economia Criativa -, este setor pode
ser considerado o que mais fortemente enfrentou os impactos da digitalização, e se apresenta
como exemplo de adaptação às mudanças do ambiente de competição provocadas por estas
tecnologias. As tedências de mercado para a Indústria da Música são o foco desta seção.
7

2.1

Panorama do Setor da Música

O setor da música em todo mundo sofreu importantes transformações decorrentes da
introdução do paradigma digital. Na década de 1980 apresentou forte crescimento
impulsionado pela introdução do CD e consequente digitalização do acervo que promoveu o
consumo de títulos novos assim como antigos. Em decorrência das mesmas tecnologias de
digitalização, a indústria presenciou a corrosão nas receitas decorrentes da distribuição
massiva de conteúdos sem licença (piratas) através de tecnologias como o Napster ou mesmo
da Web, que resultou em perdas profundas para o setor e se apresenta como o maior desafio
até a presente data. A substituição dos suportes físicos por digitais é um fenômeno crescente e
inexorável, no entanto, pela primeira vez em mais de 10 anos o mercado volta a crescer uma
vez que o crescimento das receitas das vendas digitais superou a retração das vendas físicas.
Ainda o maior segmento da indústria, gradualmente o lado físico vai dando lugar ao digital
como nova plataforma da música no mundo.
Suportado por tecnologias digitais, o negócio da música é impactado pela constante
evolução tecnológica e decorrentes mudanças estruturais. Assim como impactam as demais
indústrias criativas, o setor da música sofre grande influência de tendências como o
crescimento do acesso à internet banda larga e da base de usuários de plataformas móveis, em
especial dispositivos inteligentes (tablets e smartphones); a crescente importância das redes
sociais e dos modelos de negócios associados; a profunda mudança no papel dos usuários que
gradualmente impactam em praticamente todos os elos da cadeia de valor, desde o
financiamento, através de crowdfunding, passando pela inovação e produção, até mesmo na
distribuição, por meio da tecnologia P2P e compartilhamento em sua rede social; redução das
barreiras de entrada e nivelamento do campo de jogos por meio do uso de novas e inovadoras
ferramentas digitais de produção e distribuição, entre outras. Neste contexto, o negócio os
artistas, produtores e gravadoras encontra-se em redefinição estratégica, assim como visto em
muitos outros segmentos da Economia Criativa: redefinição que desloca líderes estabelecidos
de suas posições de segurança e catapulta novos atores meteórica liderança por meio de
recolucionários modelos de negócios e tecnologias. Assim, oportunidades e ameaças –
possivelmente, mais oportunidades que ameaças - aos integrantes do setor, em particular aos
independentes.
8

2.2

Análise do Mercado da Música

2.2.1 O mercado Global da Música

O mercado global da música experimentou crescimento em suas receitas em 2012 –
combinando vendas digitais e físicas – pela primeira vez desde 1999, apresentando
crescimento de 0,2% nas receitas de vendas e um volume total de US$16,5 bilhões 1. O
segmento de download digital continua a se expandir fortemente, apresentando crescimento
de 8% e tamanho de US$5,4 bilhões neste ano. As receitas com assinaturas também
cresceram (2,1%), responsáveis por receitas globais de US$337 milhões. As receitas com
direitos autorais advindos de apresentações ao vivo responderam por US$943 milhões, sendo
o segmento com maior crescimento em 2012 (9,4%). Apesar do crescimento global da
indústria fonográfica, as receitas com vendas físicas continuam caindo – 5% em 2012 em
relação ao ano anterior – chegando a US$9,4 bilhões. Apesar da queda, ainda representam a
maior parcela das receitas da indústria, com 57% das vendas totais.
Os Estados Unidos são o maior mercado, com vendas totais da ordem de US$4,48
bilhões: uma suave queda de meio ponto percentual em relação ao ano anterior. Em 2012, as
vendas físicas neste país representaram US$1,53 bilhões, respondendo por 34% do mercado.
As vendas digitais respondem pela maior parcela da receita, US$2,06 bilhões ou 58% do
mercado.
O segundo maior mercado mundial é o Japão, com US$4,42 bilhões em 2012 e
crescimento de 4% em relação ao ano anterior. Em seguida vem o Reino Unido, que graças
ao Euro fraco em relação ao dólar americano, superou o mercado alemão apesar da redução
de 6,1% nas vendas de fonogramas em relação a 2011. O mercado britânico correspondeu a
US$1,33 bilhões em 2012, contra US$1,41 em 2011. A Alemanha caiu 4,6% em 2012 em
relação a 2011, com receitas totais de US$1,29 bilhões. O Brasil é o sétimo maior mercado
do mundo, com receitas totais de US$257 milhões em 2012 e apresentando crescimento de
8,9% em relação a 2011, logo após a França (US$907 milhões, queda de 2,9% em 2012),

1

IFPI 2013 Recording Industry in Numbers. International Federation of the Phonographic Industry
9

Austrália (US$507 milhões e crescimento de 6,8%) e Canadá (US$453 milhões, crescimento
de 5,8%).
Até 2012, o crescimento das vendas digitais não tinha sido capaz de contrapor a
redução das vendas físicas, fazendo com que a indústria global reduzisse seu tamanho, como
demonstrado na Figura 1. As tecnologias digitais proporcionaram um rápido crescimento da
indústria no período entre 1983 e 2000 com a introdução do CD; no entanto, o avanço
tecnológico da digitalização foi responsável pela introdução do compartilhamento de músicas
digitais em formatos como o MP3 – por exemplo, o Napster – resultando em profunda
disrupção na indústria, como demonstrado na Figura 2.

Figura 1. Receitas globais das vendas de música gravada
(fonogramas), 2011. (milhões de US$)

Digital

Físico

Fonte: Forrester Research, 2011. 2012-2014: previsão.
10

Figura 2. Vendas Físicas de Álbuns (CDs, LPs e Cassetes) nos EUA. 1973-2008(1.000
unidades)
Napster

Pico das vendas de LPs, 1977: 344 milhões
Cassetes, 1988: 450 milhÕes
CDs, 2000: 943 milhões

CD

Fonte: RIAA: Recording Industry Association of America Statistics Database.

A partir de 2012 o crescimento das receitas com vendas digitais superou a redução do
mercado físico, resultando em crescimento (ainda que muito pequeno) da indústria global e
indicando uma reversão de tendência, como apresentado nas FigurasError! Reference
source not found. e Figura 4. Embora a participação do mercado digital ainda seja inferior à
do segmento físico (Cf. figura 2), a previsão é de que o digital supere as vendas físicas em
2015, como visto nas Figura 4 e Figura 6.
11

Figura 3. Taxas de Crescimento dos Segmentos da Indústria Fonográfica Global, 2011 (%)

Fonte: PWC, 2012. 2012-2016: previsão.

Figura 4. Vendas totais de segmentos da Indústria Fonográfica Global, 2011 (US$ milhões)

Fonte: PWC, 2012. 2012-2016: previsão.
12

Figura 5. Receitas totais da indústria fonográfica global, 2012
Vendas
Físicas

Digitais

Fonte: IFPI, 2012.

Figura 6. Receitas totais da indústria fonográfica global, 2007-2016 (previsão)

Vendas Físicas

Vendas Digitais

Fonte: PWC, 2011. 2012-2016: Previsão.

Por trás da recuperação da indústria – impulsionada pelo crescimento do segmento
digital – estão a diversificação das fontes de receitas e modelos de negócios; a expansão dos
serviços digitais impulsionando o crescimento da demanda e o crescimento das tecnologias
digitais Online (streaming e Download, a exemplo do que ocorre com o setor de jogos
digitais) e Móveis (dispositivos inteligentes tais como smartphones e tablets). Os serviços
existentes estão melhorando sua qualidade, com impactos positivos na experiência do
consumidor, o que atrai novos usuários. Pelo menos oito dos 20 principais mercados devem
crescer nos próximos anos, inclusive Austrália, Brasil, Canadá, Índia, Japão, México,
Noruega e Suécia. Observa-se um crescimento em todas as modalidades de receitas digitais;
13

com vendas através de downloads, serviços de assinatura, streaming de vídeo e música, rádio
digital, direitos de performances ao vivo e receitas de sincronização.
Os serviços de varejo de música digital continuam se expandindo no mundo. Em
2011, os principais serviços internacionais estavam presentes em 23 países. Hoje, já estão em
mais de 100 países. A globalização tem resultado na abertura de novos mercados, permitindo
às gravadoras atingir consumidores em territórios onde antes havia pouca infraestrutura de
varejo. Existem mais de 500 serviços de música digital licenciados operando em todo o
mundo, com portfólio que excede 30 milhões de faixas2.
As lojas de download continuam a experimentar um constante crescimento das vendas
e ampliam sua atuação em todo o mundo. Estes atores representam cerca de 70% das receitas
digitais globais3. A entrada dos principais líderes do mercado tecnológico - Amazon, Apple,
Google e Microsoft – é sintomática do potencial de geração de receitas desse segmento. As
vendas por downloads aumentaram 12% em 2012, para 4,3 bilhões de unidades no mundo,
dentre singles e álbuns digitais4. Observa-se o crescimento da venda de álbuns completos em
relação à venda de singles –17% e 8%, respectivamente, em 2012 em relação a 2011 – o que
aponta a preferência dos consumidores por álbuns e a gradual utilização de canais digitais
para aquisição de álbuns, em substituição aos meios físicos.
Os serviços de assinatura já são uma parte importante do mercado de fonogramas,
com 20 milhões de assinantes pagantes no mundo em 2012 – um aumento de 44% sobre
2011. Estes serviços já respondem por mais de 10% das receitas totais de música digital. Na
Europa este valor é consideravelmente maior, cerca de 20%, impulsionado pelo mercado
escandinavo: o modelo de assinatura de serviços digitais é o predominante em diversos países
da região5. Em muitos mercados, o modelo por assinatura ou downloads são opções
excludentes, como demonstra a Figura 7.

2

IFPI, 2012.
IFPI, 2012.
4
IFPI, 2012.
5
Ipsos MediaCT, 2012.
3
14

Figura 7. Usuários ativos de serviços de assinatura e downloads em 2012 (%)

Suécia

Coréia

FRA

UK

EUA

ALE

JAP

Serviço de assinatura (pago/ gratuito)
Downloads pagos

Fonte: IpsosMediaCT, 2013

Os serviços de streaming de vídeo de música (vídeo clipes) também apresentou um
forte crescimento. O Youtube, o serviço de vídeo digital mais popular no mundo, tem mais de
800 milhões de usuários ativos. Nove em cada 10 vídeos dentre os mais populares no serviço
são relacionados a música. Os serviços especializados em vídeo clipes como Vevo6 e Warner
Sound7, estão entre os três principais canais no Youtube. As rádios na internet também estão
crescendo, e o Pandora8 já representa 8% de toda a audiência de rádio nos Estados Unidos e
outros serviços como o IHeartRadio9 cresce em popularidade.
Embora a indústria seja menos dependente das receitas de vendas de formatos físicos,
com 58% do mercado em 2012, este segmento ainda representa a maior fonte de receitas da
indústria. A comercialização de boxes especiais e kits são uma das principais estratégias para
impulsionar as vendas e elevar a rentabilidade.
As receitas geradas com direitos de exibição – direitos autorais decorrentes da
execução de música em TV e rádio, e locais públicos como bares, discotecas, restaurantes e

6

http://www.vevo.com/
http://www.thewarnersound.com/
8
http://www.pandora.com
9
http://www.iheart.com/
7
15

lojas – continua aumentando, apresentando crescimento de 9,3% em 2012. Na América
Latina a participação deste segmento chega a 10% das receitas gerais da indústria.

2.2.2 Repercussões da música na economia global

A indústria fonográfica também estimula diversos outros setores relacionados da
economia, tais como os fabricantes dispositivos reprodutores (players), de acessórios diversos
e de aparelhos celulares habilitados para música, as emissoras de rádio, o segmento de shows
ao vivo em bares e boates, entre outros. Neste sentido, o investimento em novos artistas e na
ampliação do repertório é fundamental ao desenvolvimento da indústria. Como determinantes
ao desenvolvimento da indústria e à ampliação dos mercados consumidores, podem-se
mencionar a existência de gravadoras e selos fortes, investindo no desenvolvimento de
talentos locais e repertório; um varejo saudável, com investimento nos serviços digitais e em
inovação; infraestrutura digital que permite a expansão da distribuição e consumo digitais; e
um contexto intitucional e de regulação que reprima a pirataria e estimule o crescimento de
serviços licenciados.

2.2.3 A Indústria Nacional

No Brasil, a indústria da música é certamente um dos mais importantes segmentos
das indústrias culturais, com significativo impacto sobre a geração de emprego e renda.
As receitas dos diversos formatos da área digital tiveram um crescimento de 12,8% em 2011
em relação a 2010, totalizando R$ 60.852.970. Houve crescimento em todos os setores, com
destaque para os downloads pela Internet de músicas avulsas (+310,7%) e álbuns completos
(+51,2%), e subscrição de serviços de streaming (+20,6%). Em 2011 as vendas dos formatos
físicos, (CDs, DVDs e Blu-Rays), voltaram a crescer no Brasil, tendo as maiores companhias
em operação no País faturado mais de R$ 312 milhões em vendas físicas. O crescimento
registrado foi de 7,6% em relação a 2010. Estes valores corresponderam a um total (áudio e
vídeo) de 25 milhões de unidades.
16

As tendências para o mercado fonográfico brasileiro apontam para um rápido
crescimento digital, impulsionado pelo grande mercado interno, crescimento da economia, a
expansão da classe média e inclusão no consumo de extratos inferiors da pirâmide social,
aumento da penetração de dispositivos capazes a reproduzir música (iPods, MP3 Players,
celulares e tablets, entre outros) e uso crescente de mídia social. O mercado total de
fonogramas cresceu 11,2% no primeiro semestre de 2012 e 8,6% em 2011. As vendas digitais
decolaram em 2012, após o lançamento do iTunes no fim de 2011, com expectativa de
crescimento das receitas de quase 100% nos primeiros 12 meses. O crescimento na receita de
direitos também tem crescido no Brasil, um aumento de 29,6% em 2012: a maior taxa dos
últimos oito anos. O lançamento do serviço Vevo também foi bem sucedido, tendo atingido
mais de 100 mil downloads nas primeiras semanas. Desafiando uma tendência global, o
serviço de ringback tones cresceu exponencialmente em 2012, com o suporte das operadoras
de telefonia móvel.
A obtenção e produção de dados na Indústria Musical apresentam os mesmo desafios
observados em outros segmentos das Indústrias Criativas no país: elevado grau de
informalidade, complexidade da cadeia produtiva e uma classificação industrial não
adequada, que impede a utilização de estatísticas públicas para o setor. A uma análise da
indústria da música no Brasil interessaria abordar todos os elos que compõem a cadeia
produtiva da música, bem como os agentes institucionais relacionados.
A cadeia produtiva da música inclui principalmente a indústria fonográfica, os meios
de comunicação responsáveis pela execução pública das músicas (emissoras de rádio e
televisão) e a indústria de espetáculos, mas também engloba os fornecedores de insumos
(mídia para gravação), instrumentos musicais, equipamentos de audio e acessórios. Também
são uma importante fonte de receita para a indústria a arrecadação de direitos de exibição
pública.
A indústria fonográfica, como é característico das indústrias criativas, é marcada pela
existência de intermediários entra a produção criativa/ musical e o acesso aos mercados. Esta
intermediação é necessária em função da elevada incerteza de demanda que marca a
produção criativa e musical, isto é, não é possível saber ex ante qual música fará maior ou
menor sucesso comercial, de modo que eleva a condição do risco produtivo à situação de
incerteza. Esta incerteza, por sua vez, dificulta enormemente o financiamento da produção.
17

Além disso, por se produzir principalmente bens informacionais passíveis de reprodução por
tecnologias de informação e comunicação, o setor é passível de ganhos de escala que
estimula a integração vertical. Esta última característica não se aplica ao segmento de
espetáculos, que, não obstante, apresenta concentração em decorrência de outra característica
da indústria, as externalidades de rede. Estes intermediários possuem diferentes perfis,
refletindo os distintos graus de concentração, podendo se apresentar como: (i) editora ou
produtora musical, responsável por descobrir novos talentos, financiar a produção, promover
e assegurar sua exploração comercial e administrar os direitos autorais oriundos das
explorações primária e secundária da obra; (ii) grandes gravadoras, que atuam também na
descoberta de novos talentos, produção das gravações e do produto físico, distribuição,
promoção e marketing do produto, e administração dos direitos autorais oriundos das
execuções públicas do fonograma; e, (iii) gravadoras independentes, que costumam
terceirizar tanto a produção do suporte físico como sua distribuição, e que têm importante
papel no desenvolvimento de novos artistas; atuam majoritariamente em mercados
nacionais e, frequentemente, voltadas para mercados de nicho e gêneros musicais
específicos. Este papel de seleção pré-mercado é uma importante função destes
intermediários na redução do risco global da indústria.
Observa-se no mercado fonográfico um movimento de consolidação e integração
vertical intenso, com a fusão e aquisição das grandes gravadoras por líderes mundiais e
gradual integração com distribuidores e canais de varejo (físico e digital), como forma de
maximizar os ganhos de escala. Até mesmo gravadoras independentes passaram a fazer parte
de grandes conglomerados como mecanismo de expansão de mercado, atacando os mercados
de nicho em uma estratégia de exploração da cauda longa.
As tecnologias digitais alteraram profundamente as estruturas competitivas da
indústria nos últimos 30 anos, a partir da introdução do CD. A gradual digitalização de títulos
de acervo, inclusive antigos fonogramas, levou a uma expansão do mercado – tanto pela
venda de álbuns como pelo aumento das execuções ao vivo, em rádio e televisão. No entanto,
uma vez disponíveis em suporte digital, esta vasta biblioteca tornou-se passível de
distribuição digital e com a introdução das tecnologias de compartilhamento de arquivos –
particularmente a partir do Napster – a pirataria passou a dilapidar as receitas da indústria, ao
mesmo tempo em que o formato digital se consolidava como o principal meio de consumo de
18

música (especialmente através do iPod e mp3 players). Como visto acima, a maturação da
plataforma digital começa a acontecer, como evidencia o crescimento da arrecadação com
consumo de música digital licenciada, mediante aquisição paga de conteúdos.
Outro impacto fundamental das tecnologias digitais à estrutura da indústria musical
foi a redução dos custos de produção e gravação digitais, os quais estão hoje acessíveis a uma
gama de novos artistas. As barreiras de entrada no mercado se reduzem, permitindo que mais
artistas se lacem – inclusive de maneira independente – se utilizando de ferramentas de baixo
custo e meios de distribuição digitais, a exemplo do MySpace e do exemplo da banda Arctic
Monkeys, que em menos de três anos após distribuir suas gravações domésticas pela Internet
conseguiu um contrato com grande gravadora e emplacou diversos prêmios com seu disco de
estréia, vendendo mais de 225 mil cópias na primeira semana somente no Reino Unido10.
A indústria fonográfica brasileira é dominada por poucas grandes empresas
multinacionais. A década de 1970 correspondeu à definitiva consolidação da atuação de
empresas estrangeiras no mercado fonográfico

brasileiro, com a instalação oficial de

gravadoras como a WEA (do grupo Warner) e a modernização e ampliação de infraestrutura
de gravadoras como a RCA e EMI-Odeon11. Os movimentos de fusão e aquisição que
decorreram das mudanças estruturais impulsionadas pelo paradigma digital resultaram na
dominação da indústria fonográfica nacional pelas mesmas quadro líderes globais (EMI,
Sony-BMG, Universal e Warner) e pelo selo nacional SomLivre. Conjuntamente,estas
empresas respondiam por 81% da venda de fonogramas no país em 200812. Apesar da
dominância dessas poucas empresas líderes, o mercado presencia a atuação de uma miríade
de pequenas gravadoras, produtoras e distribuidoras independentes às centenas no país.
Além da grande concentração do mercado, verifica-se também uma concentração
geográfica do setor: os selos e gravadoras independentes atuam em todo território nacional,
mas observa-se uma significativa concentração das atividades de criação, produção e
distribuição nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, em decorrência da aglomeração de
talentos e real constituição de um cluster regional de música; e da fabricação do produto

10

http://en.wikipedia.org/wiki/Arctic_Monkeys
Cassiolato, J.E. (org) (2005) Perspectivas do Invetimento no Brasil, vol.3 Economia do Conhecimento.
Synergia.
12
ABMI – Associação Brasileira da Música Independente, 2008.
11
19

físico (CDs, DVDs e BluRays) no Pólo Industrial de Manaus, em virtude dos incentivos
fiscais ao pólo.
As gravadoras independentes gradualmente ganham relevância no mercado nacional,
impulsionadas pelas tecnologias digitais que reduzem custos de produção, diminuem
barreiras de entrada e favorecem mecanismos alternativos de distribuição, por exemplo, a
Trama, Abril Music e Biscoito Fino. Ainda que as independentes respondessem por cerca de
80% da produção nacional de fonogramas

em 2008, sua participação de mercado não

excedia 25%13.
Um aspecto de mercado significativo à indústria brasileira é a preferência por
conteúdos nacionais. O Brasil é um dos países com maior participação da música nacional no
repertório consumido (74,5% em 20114), comparável globalmente apenas aos EUA e Japão
(com participação da música nacional em cerca de 90% e 80%, respectivamente). Não se
observa tendência significativa de modificação deste perfil ao longo dos anos, demonstrando
a consolidação da posição da música nacional e do repertório estrangeiro em nosso mercado,
conforme apresentado na Figura 8.

Figura 8. Participação do repertório nacional na música consumida no Brasil

Fonte: Extraído de Cassiolato (org.) (2005), Perspectivas do Investimento na Economia do
Conhecimento, versão preliminar. Dados da ABPD.

13
14

Sebrae, 2008.
ABPD – Associação Brasileira de Produtores de Discos, 2013.
20

2.2.3.1 Globalização e mercado transnacional

É característica do mercado de bens informacionais e culturais a dificuldade de
restrição de demanda ou controle do mercado. Não é possível a nenhum país, no atual
contexto de mercado globalizado e mediado por tecnologias de informação e comunicação, o
controle eficaz do consumo de produtos culturais ou informacionais. Se por um lado esta
característica representa ameaça competitiva aos produtores locais, por outro lado abrem a
possibilidade de exploração de mercados externo com enorme potencial de rentabilidade. As
listas dos singles digitais mais vendidos no mundo incluem artistas da Austrália, Brasil,
Canadá, Coréia do Sul, Trinidad e Reino Unido, além dos artistas norte-americanos,
demonstrando como a internet torna possível aos artistas saírem de seus mercados locais e
alcançarem sucessos globais. O cantor brasileiro Michel Teló alcançou sucesso mundial com
“Ai Se Eu Te Pego”, e mesmo cantada em português a música rompeu barreiras linguísticas e
vendeu 7,2 milhões de cópias em 2012. Ao ter a dança associada a esta música utilizada
como comemoração de gols no futebol por craques como Neymar, a música tornou-se um
viral no Youtube, atraindo quase meio bilhão de views e se tornando um dos 10 vídeos mais
vistos no serviço. “Ai Se Eu Te Pego” foi número um em 23 países na Europa e América
Latina, fazendo de Teló o primeiro artista solo brasileiro em cinco décadas a ter uma música
entre a 100 mais tocadas na Billboard dos EUA.

2.2.3.2 Pirataria e propriedade intelectual

A discussão acerca da propriedade intelectual e pirataria ganhará ainda mais destaque
nos próximos anos. Por um lado, o atual sistema de propriedade intelectual que considera as
fronteira nacionais como limites para a arrecadação tem sido crescentemente questionada (Cf.
Towse, 2002). Com a redução dos custos de produção e crescente terceirização (outsourcing)
da produção – até mesmo nas indústrias culturais e criativas – o núcleo de valor se encontra
nos direitos autorais e direitos de distribuição e comercialização, por sua vez concentrados
nas mãos de grandes players, que atuam como cartéis ou oligopólios da Economia Criativa.
Tais atores mantêm os preços artificialmente elevados no esforço pela manutenção do imenso
21

fluxo de capitais decorrentes da crescente demanda por produtos criativos. Esta manutenção
dos preços elevados aumenta os incentivos para a distribuição e consumo de bens não
licenciados (piratas), o qual movimenta um volume crescente de conteúdo principalmente via
compartilhamento ponto-a-ponto (peer-to-peer15). O acirramento da disputa pela proteção aos
direitos autorais e punição exemplar de infratores, tendo como palco principal os Estados
Unidos, mas envolvendo diversos países signatários dos tratados anti-pirataria da WIPO, já
apresentou desdobramentos interessantes, como o julgamento e prisão dos responsáveis pelo
site de compartilhamento de arquivos „The Pirate Bay’16, a prisão e processo contra os
responsáveis pelo site „Megaupload‟17, e rumores sobre uma inovação tecnológica anunciada
para o console de jogos digitais Sony Playstation 4 que registraria cada unidade de jogo a um
console específico, impossibilitando que o jogo seja utilizado em outro console18. Este
embate terá ainda implicações importantes em virtude do resultado dos diversos esforços do
governo americano em intensificar a legislação anti-pirataria em seu país e no mundo.
O ambiente de direitos autorais é vital para as perspectivas do setor. É preciso
promover a igualdade de condições para os serviços licenciados se desenvolverem e
prosperarem, de modo que a indústria procura impedir os negócios ilegais, tornando-os mais
difíceis de encontrar pelos consumidores, informando estes negócios sobre as alternativas
jurídicas para legalização e auxiliando os usuários a migrarem para serviços de música digital
licenciados. A música gratuita ilegal continua sendo um enorme obstáculo ao crescimento
futuro dos mercados de música legítimos. A IFPI19 estima que cerca de um terço dos usuários
de internet no mundo (32%) ainda acessem regularmente locais não licenciados.

15

No compartilhamento ponto-a-ponto (peer-to-peer, P2P), usuários utilizam um software que busca e obtém
partes de arquivos nos computadores de outros usuários. Este modelo dispensa o armazenamento dos arquivos
em servidores, portanto, fora do âmbito público e comercial.
16
Cf. http://en.wikipedia.org/wiki/The_Pirate_Bay_trial
17
Cf. http://en.wikipedia.org/wiki/Megaupload_legal_case
18
Cf. http://techland.time.com/2013/02/21/will-the-playstation-4-play-used-games-maybe-maybe-not/
19
IFPI, 2012
22

2.3

Macrotendências para o Mercado da Música

Os novos canais de distribuição e a crescente realização da estratégia da cauda longa
para os negócios levanta a possibilidade de uma desintermediação no setor da música, tão
caracterizado pela concentração de poder de mercado nas mãos de distribuidores e
publishers. O aumento no número de trabalhos publicados e distribuídos independentemente
por canais digitais, tais como na rede social MySpace, e o declínio de grandes cadeias
varejistas da música, por exemplo a HMV inglesa, frente à ascensão da venda de música por
downloads parecem apontar para a viabilidade deste cenário. No entanto, esta
desintermediação física (redução do poder relativo de cadeias varejistas de distribuição física)
tem sido acompanhada de uma re-intermediação digital com o surgimento de novos canais,
concentradores e distribuidores digitais de conteúdo, como a própria Amazon.com, a loja
digital iTunes ou mesmo dos serviços de streaming como Pandora, Spotify ou Last.fm.
Logo, não há tendência clara de desintermediação, uma vez que estes novos intermediários
têm ganhado enorme poder de mercado, apontando para uma possível concentração ainda
maior: a dominância no mercado de download de música pelo iTunes, por exemplo, e o
sucesso do Facebook podem ser o indício de uma era de menor número e mais poderosos
intermediários de conteúdo digital.
Estudos apontam também para uma ilusória independência associada à ideia de
publicação independente. No modelo de publicação independente ou auto-publicação (self
publishing) há uma transição nos papeis e responsabilidades: a responsabilidade por
financiar, produzir e editar o conteúdo passa para o produtor, no entanto, o acesso ao mercado
permanece dependente de um concentrador (portal de conteúdo na Internet) com poder de
aprovar ou não o conteúdo enviado, ou seja, atuando como gatekeeper tal qual os publishers
tradicionais. Assim, o que fica claro é um momento de transformação que ameaça os modelos
estabelecidos de comercialização e distribuição ao mesmo tempo em que possibilita
oportunidades de novos modelos utilizando tecnologias e canais inovadores.
Como alternativa à concentração de mercado por parte dos distribuidores,
apresentam-se os novos canais de distribuição advindos das tecnologias de digitalização e da
Internet, em particular devido aos novos formatos para entrega de conteúdo aos consumidores
23

e à convergência de mídias. Tais novos canais e transformações no panorama de
comercialização de conteúdos digitais ainda não provaram com certeza a sua eficácia na
diluição do poder de mercado dos grandes distribuidores, mas certamente são caminhos
complementares ao acesso aos mercados, em particular para os microprodutores criativos
com acesso restrito aos canais convencionais. A distribuição online é, certamente, uma
alternativa aos canais tradicionais de distribuição por varejo e pode favorecer o
desenvolvimento de mercados de nicho, especialmente produtos com baixo apelo aos
intermediários e distribuidores e baixo poder de barganha.
Tais novos canais de distribuição digital passam por serviços pagos e licenciados, tais
como os serviços de downloads (iTunes, Mercado da Música), serviços de música pór
streaming pagos (Pandora, Spotify) ou gratuitos (GoogleMusic, Grooveshark), serviços de
social media (YouTube, MySpace, entre outros) até o compartilhamento de conteúdo via web
ou P2P com ou sem licença. Os principais canais que aberm oportunidades de distribuição
particularmente para os empreendimentos musicais independentes certamente incluem a
plataforma móvel (celulares, smartphones e tablets), online (download e streaming) e social
(redes sociais).

2.3.1 Plataformas móveis

A crescente penetração de celulares, smartphones, tablets e dispositivos móveis
amplia a base de consumidores potenciais de música, seja mediante a aquisiçÃo de música
por download em lojas especializadas para celulares, seja através de serviços de straeming de
música mediante pagamento de assinatura. Até mesmo a capacidade de ouvir rádio
(convencional, via aérea) em celulares amplia o mercado potencial da música por ampliar a
audiência de emissoras de rádio convencionais. Além das funcionalidades relacionadas a
música presente nestes dispositivos, à medida que cresce também a disponibilidade de
internet móvel e com o crescente consumo de aplicativos (apps), artistas, gravadoras e
distribuidores experimentam novos modelos de distribuição de comercialização de música
através de Apps. Uma vez que a música constitui grande parte da mídia consumida na
atualidade (em jogos digitais, televisão, cinema e vídeo, até mesmo em páginas web), além,
24

claro do seu próprio mercado, os demais setores de mídia potencialmente desenvolvidos nos
dispositivos móveis terão impacto indireto na indústria da música.

2.3.2 Plataforma Online

Sob a perspectiva do artista ou produtor, é possível distinguir dois tipos de serviços de
música online: aqueles através dos quais o artista ou produtor musical pode comercializar,
distribuir ou promover suas músicas diretamente – por exemplo os serviços como TopSpin20,
Bandzoogle21 ou Myspace, através dos quais artistas podem criar uma página própria e
distribuir/promover suas músicas – e aqueles que têm pouco ou nenhum contato direto com
artistas, mas que possibilita a expansão do consumo de música via Internet, ainda assim
impulsionando a indústria, tais como iTunes e Amazon.
É crescente o consumo de música através de serviços de streaming via web, tanto no
PC como em dispositivos portáteis, especialmente smartphones e tablet. Grandes atores do
mercado de tecnologia e mídia estão entrando neste segmento, por exemplo a Google com
seu GoogleRadio e a possibilidade de lançamento de um serviço iRadio pela Apple22
apontando o potencial de retorno desta plataforma. Diversos serviços atualmente existentes
crescem em base de usuários e geração de receitas, tais como Spotify, Last.fm e Pandora. A
expansÃo destes serviços é de interesse de artistas e gravadoras pois gera receitas de direitos
autorais, assim como as rádios comerciais. A expansão da rádio via web abre margem para
artistas de quaisquer partes do globo terem suas músicas reproduzidas e remuneradas em uma
base de usuários potencialmente muito maior do que qualquer emissora convencional.
O modelo de negócios dos serviços de streaming se baseiam no pagamento de uma
assinatura mensal. Este modelo tem sido responsavel pela recuperação do setor da música em
diversos mercados, por exemplo na Suácia, em que o gasto per capita com música cresceu
15% entre 2008 e 201223. Em contraste com o modelo baseado em downloads, serviços de
20

http://www.topspinmedia.com/
http://bandzoogle.com/
22
http://www.techradar.com/news/computing/apple/apple-reportedly-pushing-hard-for-iradio-summer-launch1141613
23
IFPI, 2013.
21
25

assinatura pagam royalties cada vez que uma música é tocada. Transações individuais são
realizadas cada vez que uma música é tocada por isso são geralmente menores, mas geram
renda por um tempo muito superior à expectativa de geração de renda em rádios
convencionais. Neste modelo, o retorno sobre o investimento para o artista ou a gravadora
vem em um prazo muito mais longo do que usualmente se está acostumado, mas de acordo
com uma lógica de distribuição em cauda longa, no longo prazo gera-se um montante de
retorno muito superior. Ao se sumar curvas cumulativas de retorno – para cada uma das
músicas disponibilizadas no serviço – tem-se uma expectativa de retornos crescentes com o
tempo. É o caso da Universal Music Sweden, que tem apresentado crescimento sustentado de
rendimentos há três anos, devido à predominância deste modelo na Suécia; uma situação bem
diferente do passado em que as vendas disparavam no período de Natal e permaneciam
estaganadas no restante do ano.

2.3.3 Novas oportunidades para artistas e gravadoras independentes

A redução nas barreiras de entrada decorrentes das tecnologias digitais – seja pela
redução dos custos de produção, seja pela abertura de novos canais de distribuição – aliada à
ampliação da demanda resultam na facilitada entrada no mercado musical por um número
crescente de artista, produtoras e gravadoras independentes. Estas mesmas condições de
mercado que criam possibilidades para modelos inovadores constituem oportunidade de
exploração de mercado para as indies. Seja através de redes sociais, serviços de distribuição
digital pela internet, seja através de apps ou na cadeia de valor de outros produtos culturais
como vídeo e games, as indies têm oportunidades muito maiores de sobrevivência e
crescimento no atual paradigma digital.
Acredita-se que a cauda longa possibilite aos produtores muito pequenos encontrar
nichos de mercado de modo a competirem sustentadamente mesmo com os grandes varejistas
e distribuidores. Por outro lado, o entendimento de que existe tal cauda longa de pequeninos
nichos não explorados pelos grandes varejistas atraiu a atenção das grandes distribuidoras
para a exploração também destes mercados. A tendência é de que grandes publishers
procurem firmar contratos com artistas e produtoras independentes (indies) como forma de
26

alcançar as demandas, interesses e gostos de públicos específicos e de nichos, e assim derivar
rendimentos de uma parcela maior na distribuição da cauda longa, diversificar sua carteira de
investimentos e reduzir o risco.

2.3.4 Crowdfunding: uma alternativa para microfinanciamento

Em todo o mundo o fenômeno do crowdfunding tem obtido sucessos crescentes no
apoio a iniciativas inovadoras e criativas, como alternativa à inadequação das instituições
financeiras em lidar com projetos marcados pela inovação, intangibilidade e elevada
incerteza. O site Kickstarter.com, pioneiro e mais popular dos concentradores de
crowdfunding na Internet, já financiou 39 mil projetos, com recursos na ordem de US$570
milhões doados por 3,8 milhões de pessoas24. Nos Estados Unidos uma alteração recente na
regulamentação financeira abriu margem para a possibilidade dos doadores de
microfinanciamento por crowdfunding tornarem-se acionistas dos empreendimentos, uma
espécie de capital de risco pulverizado. Esta alternativa tem sido estudada por especialistas
para a adoção no Brasil, mas ainda é controversa sua aplicabilidade e viabilidade25. De todo
modo, frente ao sucesso do modelo e volume de recursos, não deve ser desprezado como
mecanismo de financiamento de microempreedimentos criativos e inovadores.
Como mecanismo de financiamento de projetos o crowdfunding se mostra eficaz e
desafiador dos modelos de financiamento convencionais, contornando o papel seletivo dos
intermediários e se conectando diretamente com a sua demanda potencial, que financia a
produção diretamente. Os potenciais do crowdfunding como mecanismo de financiamento
para a música são muito significativos e diversas inciativas estão surgindo, diversificando os
instrumentos e modelos. Tem se tornado cada vez mais comum o crowdfunding de
espetáculos e apresentação ao vivo (por exemplo, GigFunder26 e Picatic27) e de artistas na
produção de singles ou álbuns (por exemplo, Indiegogo28 e o popular Kickstarter, que já
24

Fonte: http://www.kickstarter.com/help/stats, acessado em 17/04/2013.
Cf. Flavio Picchi. Mercado de Capitais para Microempresas. Valor, 22/02/2013. Disponível em:
http://www.valor.com.br/brasil/3017560/mercado-de-capitais-para-microempresas
26
http://gigfunder.com/welcome
27
http://www.picatic.com/
28
http://www.indiegogo.com/
25
27

financiou centenas de artistas29), e gradualmente surgem também especialistas para apoiar
artistas e gravadoras na captação destes recursos (por exemplo, Scott Steinberg e seu livro
“The Crowdfunding Bible: How To Raise Money For Any Startup, Video Game, or
Project”30). Gravadoras e editoras aguardam com expectativa a regulamentação do
crowdfunding equity, possibilidade de capitalização de uma empresa via crowdfunding.

2.3.5 Música em outros setores de rápido crescimento:

A economia criativa tem crescido a taxas aceleradas em seus diversos segmentos,
sendo o de Jogos Digitais um dos mais rápidos. Também o segmento de vídeo apresenta um
intenso crescimento impulsionado pela predominância do formato vídeo nas mais diversas
mídias, desde televisores e computadores até mesmo as redes sociais e dispositivos móveis. A
música é parte da cadeia de valor destes dois segmentos, desempenhando papel essencial na
experiência do usuário e inclusive gerando spillovers tais como álbuns de trilha sonora de
filmes e jogos. Além disso, a existência de um gênero específico de jogo digital voltado para
música (music games), cuja participação no mercado de jogos dos Estados Unidos chegava a
15% em 2008, reforça a importância da música neste segmento. A adoção de estratégias para
entrar nestas cadeias de valor é uma oportunidade para artistas e empreendimentos
independentes.

2.3.6 Redes Sociais

Não é novidade o importante papel que as redes sociais desempenham no contexto de
competição das indústrias criativas contemporâneas. A profunda capacidade de mobilização
social, a importância das recomendações nas redes sociais e a convergências de formatos
(texto, música, vídeo, jogos) aliadas a novos modelos de monetização torna estas plataformas
centrais à competição de negócios criativos no contexto digital, inclusive em virtude das
29

Lições sobre como captar recursos pelo Kickstarter são discutidas em “100 Music Kickstarters To Learn
From”, http://launchandrelease.com/category/100-music-kickstarters/
30
Disponível
para
download
gratuito
em:
http://www.booksabouttechnology.com/
The%20Crowdfunding%20Bible.pdf
28

muitas avenidas ainda não exploradas para criação de novos modelos de negócios. O
YouTube, como portal de vídeos que possui também um carater de rede social, é sem dúvidas
o maior promotor dos conteúdos de música na internet. Nove em cada 10 vídeos dentre os
mais populares no serviço são relacionados a música. Os serviços especializados em vídeo
clipes como Vevo31 e Warner Sound32, estão entre os três principais canais no Youtube.
Recentemente o Twitter lançou seu serviço de “descobrir” músicas populares e apontar
artistas emergentes com base nos trending topics do portal, o Twitter#Music33. Estratégias
competitivas para artistas e empresas do setor da música não podem deixar de incluir uma
estratégia de Social Media sob pena de perderem as oportunidades abertas por esta
plataforma; oportunidades como a de se tornar um dos maiores hits globais, a exemplo de “Ai
Se Eu Te Pego”, que se baseou principalmente no caráter viral, na recomendação entre
consumidores e na divulgação pelo Youtube para alcançar tamanho sucesso.

31

http://www.vevo.com/
http://www.thewarnersound.com/
33
Cf. https://blog.twitter.com/2013/now-playing-twitter-music
32
29

2.4

Recomendações às Empresas do Setor da Música

As tecnologias digitais abrem novas oportunidades de competição a pequenos
empreendimentos e criam novos modelos de negócios e monetização de conteúdos,
ameaçando os modelos tradicionais. Em todo o mundo, gigantes da indústria da música se
vêm forçados a repensar as suas estartégias competitivas face à diminuição sustentada e
inexoravel das vendas de música em suporte físico e crescente consumo de música digital nas
mais diversas plataformas, seja online (download e streaming), móvel, até mesmo
experiências de realidade aumentada, jogos digitais, cinema e TV.
Da mesma forma como as tecnologias digitais reduzem barreiras de entrada,
possibilitam algum grau de desintermediação da distribuição, ampliam mercados
consumidores e abrem oportunidades competitivas para novos negócios de música
(particularmente digitais), também intensificam o ambiente de competição a partir da entrada
de novos concorrentes e do enfraquecimento das fronteiras entre profissionais e amadores.
Empeendimentos devem buscar explorar as oportunidades competitivas – distribuição digital,
financiamento por crowdfunding – em conjunto com estratégias físicas que complementem a
experiência do usuários. Ao mesmo tempo em que se vê o crescente consumo digital,
observa-se a existência de lojas físicas especializadas que comercializam LPs em vinil para
aficcionados. As demandas do usuário final e a busca por uma experiência imersiva e
gratificante devem ser os norteadores de negócios criativos em geral, também no setor de
música. A análise e compreensão dos feedbacks produzidos nas redes sociais e através de
dados – mediante ferramentas de analytics – são intrumentos de apoio estratégico.
Além disso, não se deve perder de vista o insumo mais importante da produção
criativa em geral e da música em particular: o componente cultural e criativo dos artistas e
produtores. Todas as vantagens possibilitadas pelas tecnologias digitais somente são úteis se
houver conteúdo a ser distribuído e comercializado. Tal conteúdo somente se produz a partir
dos insumos culturais, do talento e das habilidades de profissionais da música. O vasto
repertório cultural Pernambucano fornece mais que abundante suprimento de conteúdo
cultural para a produção de produtos criativos, bastando a aplicação de uma lógica industrial
de transformação da cultura em bens e conteúdos com potencial de rentabilidade.
30

Tabela 1. Análise SWOT do setor da Música em Pernambuco face às tendências globais
Forças

 Amplo
repertório
cultural e talento
local
 Indústria
musical local
com perfil e
tradição de ser
importante
celeiro de novos
artistas e estilos

Fraquezas

Oportunidades

 Incerteza de
demanda e
exigência de
elevados
investimentos
iniciais antes do
lançamento no
mercado

 Tecnologias digitais
favorecem
desintermediação e
reduzem barreiras de
entrada à indústria

 Concentração de
mercado por
parte de
gravadoras,
restringindo
acesso ao
mercado

 Amplo mercado
interno e tendência
de crescimento do
acesso a internet e
plataformas móveis,
ampliando mercado
consumidor de
música digital

 Novas oportunidades
para artistas e
gravadoras/
produtoras
independentes
 Multiplicam-se
tecnologias
automatizadas de
busca, descoberta e
recomendação de
música

Fonte: elaboração própria.

 Proliferação de
serviços de música
digital (download/
streaming)
legítimos,
resultando em
receita de royalties
 Crescimento do
consumo digital em
seus diversos
formatos
 Novas e
diversificadas
oportunidades de
monetização
 Crescimento de
redes sociais
favorecem
promoção e
distribuição de
música e artistas
 Consolidação da
tecnologia de cloud
computing e
multiplicação de
serviços de cloud
music abre
oportunidades de
negócios
inteiramente digitais

Ameaças

 Pirataria e
compartilhamento de
música através
de meios
“gratuitos”
ainda é grave
ameaça à
indústria
 Desafio de
convencer
consumidores a
pagar por
conteúdo que
pode ser obtido
grátis
 Uma vez que as
tecnologias de
data analysis se
encontram nas
mãos dos
grandes players
(grandes selos),
informações
fundamentais
sobre comportamento de
consumo
poderão ficar
fora do alcance
de
independentes e
artistas
31

3

Conclusão
Neste relatório, abordamos as tendências e oportunidade competitivas relacionadas à

tecnologia e mercado para a Economia Criativa, através de um panorama do mercado da
Música.
Nele foram analisadas as oportunidades de competição que as tecnologias digitais
abrem a pequenos empreendimentos criativos, especialmente na Indústria da Música,
possibilitando a criação de novos modelos de negócios e monetização de conteúdos, e
ameaçando os modelos tradicionais face à diminuição contínua das vendas de música em
suporte físico e crescente consumo de música digital, seja online (download e streaming),
móvel, até mesmo experiências de realidade aumentada, jogos digitais, cinema e TV.
Por fim, destacamos que as oportunidades geradas pelas tecnologias digitais incluem a
redução de barreiras de entrada, algum grau de desintermediação da distribuição, ampliação
de mercados consumidores e novos negócios de música (particularmente digitais),
intensificando o ambiente de competição e até mesmo possibilitando novas formas de
financiamento através do crwodfunding.
32

4

Referências

ABPD (2013) Mercado Brasileiro da Música 2013. Associação Brasileira de Produtores de
Discos.
BPI (2013) Digital Music Nation. The British Recorded Music Industry.
CASSIOLATO, J.E. (org) (2005) Perspectivas do Invetimento no Brasil, vol.3 Economia do
Conhecimento. Synergia.
IFPI (2013) Recording Industry in Numbers. International Federation of the Phonographic
Industry.
PWC (2012) Global Entertainment and Media Outlook 2012-2016. Pricewaterhouse
Coopers.
SEBRAE (2008) Música Independente. Série Estudos de Mercado Sebrae/ESPM. Serviço
Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa.

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O mercado global da música em 2012

  • 1. Economia Criativa - Panorama do Mercado da Música no Brasil e no Mundo. Outubro/2013 Relatório preparado pela Cysneiros Consultores Associados para a Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco. Pesquisador Responsável Economia Criativa: Emanoel Querette
  • 2. 2 Sumário 1 Introdução........................................................................................................................ 5 2 Análise das Tendências de Mercado em Economia Criativa ......................................... 6 2.1 Panorama do Setor da Música ............................................................................................. 7 2.2 Análise do Mercado da Música ............................................................................................ 8 2.2.1 O mercado Global da Música ........................................................................................................... 8 2.2.2 Repercussões da música na economia global ................................................................................. 15 2.2.3 A Indústria Nacional ...................................................................................................................... 15 2.2.3.1 Globalização e mercado transnacional ..................................................................................... 20 2.2.3.2 Pirataria e propriedade intelectual ............................................................................................ 20 2.3 Macrotendências para o Mercado da Música ................................................................... 22 2.3.1 2.3.2 2.3.3 2.3.4 2.3.5 2.3.6 2.4 Plataformas móveis ........................................................................................................................ 23 Plataforma Online .......................................................................................................................... 24 Novas oportunidades para artistas e gravadoras independentes ..................................................... 25 Crowdfunding: uma alternativa para microfinanciamento ............................................................. 26 Música em outros setores de rápido crescimento: .......................................................................... 27 Redes Sociais ................................................................................................................................. 27 Recomendações às Empresas do Setor da Música ............................................................ 29 3 Conclusão....................................................................................................................... 31 4 Referências..................................................................................................................... 32
  • 3. 3 Índice de Tabelas Tabela 1. Análise SWOT da setor da Música em Pernambuco face às tendências globais ................................. 30
  • 4. 4 Índice de Figuras Figura 1. Receitas globais das vendas de música gravada (fonogramas), 2011. (milhões de US$) ...................... 9 Figura 2. Vendas Físicas de Álbuns (CDs, LPs e Cassetes) nos EUA. 1973-2008(1.000 unidades) ................... 10 Figura 3. Taxas de Crescimento dos Segmentos da Indústria Fonográfica Global, 2011 (%) ............................ 11 Figura 4. Vendas totais de segmentos da Indústria Fonográfica Global, 2011 (US$ milhões) ........................... 11 Figura 5. Receitas totais da indústria fonográfica global, 2012 .......................................................................... 12 Figura 6. Receitas totais da indústria fonográfica global, 2007-2016 (previsão) ............................................... 12 Figura 7. Usuários ativos de serviços de assinatura e downloads em 2012 (%) ................................................. 14 Figura 8. Participação do repertório nacional na música consumida no Brasil ................................................. 19
  • 5. 5 1 Introdução Este relatório foi produzido apresenta um panorama do setor de Economia Criativa em Pernambuco, no Brasil e no Mundo, suas principais características, as tendências competitivas e de mercado, e os desafios e oportunidades decorrentes destes cenários para as empresas pernambucanas. Neste relatório abordaremos em maior detalhe as tendências dentro de um contexto competitivo, relativos ao setor da Música no Brasil e no Mundo, que também sofre os impactos da digitalização e encontra-se em um momento de consolidação do segmento digital. Apresentamos, então, as principais transformações decorrentes do novo paradigma digital, e os desafios e oportunidades decorrentes destes cenários para as empresas pernambucanas do setor.
  • 6. 6 2 Análise das Tendências de Mercado em Economia Criativa Um importante setor da Economia Criativa é o setor da música. Segmento que tradicionalmente combina conteúdo cultural e criatividade para geração de rendimentos e calor econômico – uma possível definição do que seja Economia Criativa -, este setor pode ser considerado o que mais fortemente enfrentou os impactos da digitalização, e se apresenta como exemplo de adaptação às mudanças do ambiente de competição provocadas por estas tecnologias. As tedências de mercado para a Indústria da Música são o foco desta seção.
  • 7. 7 2.1 Panorama do Setor da Música O setor da música em todo mundo sofreu importantes transformações decorrentes da introdução do paradigma digital. Na década de 1980 apresentou forte crescimento impulsionado pela introdução do CD e consequente digitalização do acervo que promoveu o consumo de títulos novos assim como antigos. Em decorrência das mesmas tecnologias de digitalização, a indústria presenciou a corrosão nas receitas decorrentes da distribuição massiva de conteúdos sem licença (piratas) através de tecnologias como o Napster ou mesmo da Web, que resultou em perdas profundas para o setor e se apresenta como o maior desafio até a presente data. A substituição dos suportes físicos por digitais é um fenômeno crescente e inexorável, no entanto, pela primeira vez em mais de 10 anos o mercado volta a crescer uma vez que o crescimento das receitas das vendas digitais superou a retração das vendas físicas. Ainda o maior segmento da indústria, gradualmente o lado físico vai dando lugar ao digital como nova plataforma da música no mundo. Suportado por tecnologias digitais, o negócio da música é impactado pela constante evolução tecnológica e decorrentes mudanças estruturais. Assim como impactam as demais indústrias criativas, o setor da música sofre grande influência de tendências como o crescimento do acesso à internet banda larga e da base de usuários de plataformas móveis, em especial dispositivos inteligentes (tablets e smartphones); a crescente importância das redes sociais e dos modelos de negócios associados; a profunda mudança no papel dos usuários que gradualmente impactam em praticamente todos os elos da cadeia de valor, desde o financiamento, através de crowdfunding, passando pela inovação e produção, até mesmo na distribuição, por meio da tecnologia P2P e compartilhamento em sua rede social; redução das barreiras de entrada e nivelamento do campo de jogos por meio do uso de novas e inovadoras ferramentas digitais de produção e distribuição, entre outras. Neste contexto, o negócio os artistas, produtores e gravadoras encontra-se em redefinição estratégica, assim como visto em muitos outros segmentos da Economia Criativa: redefinição que desloca líderes estabelecidos de suas posições de segurança e catapulta novos atores meteórica liderança por meio de recolucionários modelos de negócios e tecnologias. Assim, oportunidades e ameaças – possivelmente, mais oportunidades que ameaças - aos integrantes do setor, em particular aos independentes.
  • 8. 8 2.2 Análise do Mercado da Música 2.2.1 O mercado Global da Música O mercado global da música experimentou crescimento em suas receitas em 2012 – combinando vendas digitais e físicas – pela primeira vez desde 1999, apresentando crescimento de 0,2% nas receitas de vendas e um volume total de US$16,5 bilhões 1. O segmento de download digital continua a se expandir fortemente, apresentando crescimento de 8% e tamanho de US$5,4 bilhões neste ano. As receitas com assinaturas também cresceram (2,1%), responsáveis por receitas globais de US$337 milhões. As receitas com direitos autorais advindos de apresentações ao vivo responderam por US$943 milhões, sendo o segmento com maior crescimento em 2012 (9,4%). Apesar do crescimento global da indústria fonográfica, as receitas com vendas físicas continuam caindo – 5% em 2012 em relação ao ano anterior – chegando a US$9,4 bilhões. Apesar da queda, ainda representam a maior parcela das receitas da indústria, com 57% das vendas totais. Os Estados Unidos são o maior mercado, com vendas totais da ordem de US$4,48 bilhões: uma suave queda de meio ponto percentual em relação ao ano anterior. Em 2012, as vendas físicas neste país representaram US$1,53 bilhões, respondendo por 34% do mercado. As vendas digitais respondem pela maior parcela da receita, US$2,06 bilhões ou 58% do mercado. O segundo maior mercado mundial é o Japão, com US$4,42 bilhões em 2012 e crescimento de 4% em relação ao ano anterior. Em seguida vem o Reino Unido, que graças ao Euro fraco em relação ao dólar americano, superou o mercado alemão apesar da redução de 6,1% nas vendas de fonogramas em relação a 2011. O mercado britânico correspondeu a US$1,33 bilhões em 2012, contra US$1,41 em 2011. A Alemanha caiu 4,6% em 2012 em relação a 2011, com receitas totais de US$1,29 bilhões. O Brasil é o sétimo maior mercado do mundo, com receitas totais de US$257 milhões em 2012 e apresentando crescimento de 8,9% em relação a 2011, logo após a França (US$907 milhões, queda de 2,9% em 2012), 1 IFPI 2013 Recording Industry in Numbers. International Federation of the Phonographic Industry
  • 9. 9 Austrália (US$507 milhões e crescimento de 6,8%) e Canadá (US$453 milhões, crescimento de 5,8%). Até 2012, o crescimento das vendas digitais não tinha sido capaz de contrapor a redução das vendas físicas, fazendo com que a indústria global reduzisse seu tamanho, como demonstrado na Figura 1. As tecnologias digitais proporcionaram um rápido crescimento da indústria no período entre 1983 e 2000 com a introdução do CD; no entanto, o avanço tecnológico da digitalização foi responsável pela introdução do compartilhamento de músicas digitais em formatos como o MP3 – por exemplo, o Napster – resultando em profunda disrupção na indústria, como demonstrado na Figura 2. Figura 1. Receitas globais das vendas de música gravada (fonogramas), 2011. (milhões de US$) Digital Físico Fonte: Forrester Research, 2011. 2012-2014: previsão.
  • 10. 10 Figura 2. Vendas Físicas de Álbuns (CDs, LPs e Cassetes) nos EUA. 1973-2008(1.000 unidades) Napster Pico das vendas de LPs, 1977: 344 milhões Cassetes, 1988: 450 milhÕes CDs, 2000: 943 milhões CD Fonte: RIAA: Recording Industry Association of America Statistics Database. A partir de 2012 o crescimento das receitas com vendas digitais superou a redução do mercado físico, resultando em crescimento (ainda que muito pequeno) da indústria global e indicando uma reversão de tendência, como apresentado nas FigurasError! Reference source not found. e Figura 4. Embora a participação do mercado digital ainda seja inferior à do segmento físico (Cf. figura 2), a previsão é de que o digital supere as vendas físicas em 2015, como visto nas Figura 4 e Figura 6.
  • 11. 11 Figura 3. Taxas de Crescimento dos Segmentos da Indústria Fonográfica Global, 2011 (%) Fonte: PWC, 2012. 2012-2016: previsão. Figura 4. Vendas totais de segmentos da Indústria Fonográfica Global, 2011 (US$ milhões) Fonte: PWC, 2012. 2012-2016: previsão.
  • 12. 12 Figura 5. Receitas totais da indústria fonográfica global, 2012 Vendas Físicas Digitais Fonte: IFPI, 2012. Figura 6. Receitas totais da indústria fonográfica global, 2007-2016 (previsão) Vendas Físicas Vendas Digitais Fonte: PWC, 2011. 2012-2016: Previsão. Por trás da recuperação da indústria – impulsionada pelo crescimento do segmento digital – estão a diversificação das fontes de receitas e modelos de negócios; a expansão dos serviços digitais impulsionando o crescimento da demanda e o crescimento das tecnologias digitais Online (streaming e Download, a exemplo do que ocorre com o setor de jogos digitais) e Móveis (dispositivos inteligentes tais como smartphones e tablets). Os serviços existentes estão melhorando sua qualidade, com impactos positivos na experiência do consumidor, o que atrai novos usuários. Pelo menos oito dos 20 principais mercados devem crescer nos próximos anos, inclusive Austrália, Brasil, Canadá, Índia, Japão, México, Noruega e Suécia. Observa-se um crescimento em todas as modalidades de receitas digitais;
  • 13. 13 com vendas através de downloads, serviços de assinatura, streaming de vídeo e música, rádio digital, direitos de performances ao vivo e receitas de sincronização. Os serviços de varejo de música digital continuam se expandindo no mundo. Em 2011, os principais serviços internacionais estavam presentes em 23 países. Hoje, já estão em mais de 100 países. A globalização tem resultado na abertura de novos mercados, permitindo às gravadoras atingir consumidores em territórios onde antes havia pouca infraestrutura de varejo. Existem mais de 500 serviços de música digital licenciados operando em todo o mundo, com portfólio que excede 30 milhões de faixas2. As lojas de download continuam a experimentar um constante crescimento das vendas e ampliam sua atuação em todo o mundo. Estes atores representam cerca de 70% das receitas digitais globais3. A entrada dos principais líderes do mercado tecnológico - Amazon, Apple, Google e Microsoft – é sintomática do potencial de geração de receitas desse segmento. As vendas por downloads aumentaram 12% em 2012, para 4,3 bilhões de unidades no mundo, dentre singles e álbuns digitais4. Observa-se o crescimento da venda de álbuns completos em relação à venda de singles –17% e 8%, respectivamente, em 2012 em relação a 2011 – o que aponta a preferência dos consumidores por álbuns e a gradual utilização de canais digitais para aquisição de álbuns, em substituição aos meios físicos. Os serviços de assinatura já são uma parte importante do mercado de fonogramas, com 20 milhões de assinantes pagantes no mundo em 2012 – um aumento de 44% sobre 2011. Estes serviços já respondem por mais de 10% das receitas totais de música digital. Na Europa este valor é consideravelmente maior, cerca de 20%, impulsionado pelo mercado escandinavo: o modelo de assinatura de serviços digitais é o predominante em diversos países da região5. Em muitos mercados, o modelo por assinatura ou downloads são opções excludentes, como demonstra a Figura 7. 2 IFPI, 2012. IFPI, 2012. 4 IFPI, 2012. 5 Ipsos MediaCT, 2012. 3
  • 14. 14 Figura 7. Usuários ativos de serviços de assinatura e downloads em 2012 (%) Suécia Coréia FRA UK EUA ALE JAP Serviço de assinatura (pago/ gratuito) Downloads pagos Fonte: IpsosMediaCT, 2013 Os serviços de streaming de vídeo de música (vídeo clipes) também apresentou um forte crescimento. O Youtube, o serviço de vídeo digital mais popular no mundo, tem mais de 800 milhões de usuários ativos. Nove em cada 10 vídeos dentre os mais populares no serviço são relacionados a música. Os serviços especializados em vídeo clipes como Vevo6 e Warner Sound7, estão entre os três principais canais no Youtube. As rádios na internet também estão crescendo, e o Pandora8 já representa 8% de toda a audiência de rádio nos Estados Unidos e outros serviços como o IHeartRadio9 cresce em popularidade. Embora a indústria seja menos dependente das receitas de vendas de formatos físicos, com 58% do mercado em 2012, este segmento ainda representa a maior fonte de receitas da indústria. A comercialização de boxes especiais e kits são uma das principais estratégias para impulsionar as vendas e elevar a rentabilidade. As receitas geradas com direitos de exibição – direitos autorais decorrentes da execução de música em TV e rádio, e locais públicos como bares, discotecas, restaurantes e 6 http://www.vevo.com/ http://www.thewarnersound.com/ 8 http://www.pandora.com 9 http://www.iheart.com/ 7
  • 15. 15 lojas – continua aumentando, apresentando crescimento de 9,3% em 2012. Na América Latina a participação deste segmento chega a 10% das receitas gerais da indústria. 2.2.2 Repercussões da música na economia global A indústria fonográfica também estimula diversos outros setores relacionados da economia, tais como os fabricantes dispositivos reprodutores (players), de acessórios diversos e de aparelhos celulares habilitados para música, as emissoras de rádio, o segmento de shows ao vivo em bares e boates, entre outros. Neste sentido, o investimento em novos artistas e na ampliação do repertório é fundamental ao desenvolvimento da indústria. Como determinantes ao desenvolvimento da indústria e à ampliação dos mercados consumidores, podem-se mencionar a existência de gravadoras e selos fortes, investindo no desenvolvimento de talentos locais e repertório; um varejo saudável, com investimento nos serviços digitais e em inovação; infraestrutura digital que permite a expansão da distribuição e consumo digitais; e um contexto intitucional e de regulação que reprima a pirataria e estimule o crescimento de serviços licenciados. 2.2.3 A Indústria Nacional No Brasil, a indústria da música é certamente um dos mais importantes segmentos das indústrias culturais, com significativo impacto sobre a geração de emprego e renda. As receitas dos diversos formatos da área digital tiveram um crescimento de 12,8% em 2011 em relação a 2010, totalizando R$ 60.852.970. Houve crescimento em todos os setores, com destaque para os downloads pela Internet de músicas avulsas (+310,7%) e álbuns completos (+51,2%), e subscrição de serviços de streaming (+20,6%). Em 2011 as vendas dos formatos físicos, (CDs, DVDs e Blu-Rays), voltaram a crescer no Brasil, tendo as maiores companhias em operação no País faturado mais de R$ 312 milhões em vendas físicas. O crescimento registrado foi de 7,6% em relação a 2010. Estes valores corresponderam a um total (áudio e vídeo) de 25 milhões de unidades.
  • 16. 16 As tendências para o mercado fonográfico brasileiro apontam para um rápido crescimento digital, impulsionado pelo grande mercado interno, crescimento da economia, a expansão da classe média e inclusão no consumo de extratos inferiors da pirâmide social, aumento da penetração de dispositivos capazes a reproduzir música (iPods, MP3 Players, celulares e tablets, entre outros) e uso crescente de mídia social. O mercado total de fonogramas cresceu 11,2% no primeiro semestre de 2012 e 8,6% em 2011. As vendas digitais decolaram em 2012, após o lançamento do iTunes no fim de 2011, com expectativa de crescimento das receitas de quase 100% nos primeiros 12 meses. O crescimento na receita de direitos também tem crescido no Brasil, um aumento de 29,6% em 2012: a maior taxa dos últimos oito anos. O lançamento do serviço Vevo também foi bem sucedido, tendo atingido mais de 100 mil downloads nas primeiras semanas. Desafiando uma tendência global, o serviço de ringback tones cresceu exponencialmente em 2012, com o suporte das operadoras de telefonia móvel. A obtenção e produção de dados na Indústria Musical apresentam os mesmo desafios observados em outros segmentos das Indústrias Criativas no país: elevado grau de informalidade, complexidade da cadeia produtiva e uma classificação industrial não adequada, que impede a utilização de estatísticas públicas para o setor. A uma análise da indústria da música no Brasil interessaria abordar todos os elos que compõem a cadeia produtiva da música, bem como os agentes institucionais relacionados. A cadeia produtiva da música inclui principalmente a indústria fonográfica, os meios de comunicação responsáveis pela execução pública das músicas (emissoras de rádio e televisão) e a indústria de espetáculos, mas também engloba os fornecedores de insumos (mídia para gravação), instrumentos musicais, equipamentos de audio e acessórios. Também são uma importante fonte de receita para a indústria a arrecadação de direitos de exibição pública. A indústria fonográfica, como é característico das indústrias criativas, é marcada pela existência de intermediários entra a produção criativa/ musical e o acesso aos mercados. Esta intermediação é necessária em função da elevada incerteza de demanda que marca a produção criativa e musical, isto é, não é possível saber ex ante qual música fará maior ou menor sucesso comercial, de modo que eleva a condição do risco produtivo à situação de incerteza. Esta incerteza, por sua vez, dificulta enormemente o financiamento da produção.
  • 17. 17 Além disso, por se produzir principalmente bens informacionais passíveis de reprodução por tecnologias de informação e comunicação, o setor é passível de ganhos de escala que estimula a integração vertical. Esta última característica não se aplica ao segmento de espetáculos, que, não obstante, apresenta concentração em decorrência de outra característica da indústria, as externalidades de rede. Estes intermediários possuem diferentes perfis, refletindo os distintos graus de concentração, podendo se apresentar como: (i) editora ou produtora musical, responsável por descobrir novos talentos, financiar a produção, promover e assegurar sua exploração comercial e administrar os direitos autorais oriundos das explorações primária e secundária da obra; (ii) grandes gravadoras, que atuam também na descoberta de novos talentos, produção das gravações e do produto físico, distribuição, promoção e marketing do produto, e administração dos direitos autorais oriundos das execuções públicas do fonograma; e, (iii) gravadoras independentes, que costumam terceirizar tanto a produção do suporte físico como sua distribuição, e que têm importante papel no desenvolvimento de novos artistas; atuam majoritariamente em mercados nacionais e, frequentemente, voltadas para mercados de nicho e gêneros musicais específicos. Este papel de seleção pré-mercado é uma importante função destes intermediários na redução do risco global da indústria. Observa-se no mercado fonográfico um movimento de consolidação e integração vertical intenso, com a fusão e aquisição das grandes gravadoras por líderes mundiais e gradual integração com distribuidores e canais de varejo (físico e digital), como forma de maximizar os ganhos de escala. Até mesmo gravadoras independentes passaram a fazer parte de grandes conglomerados como mecanismo de expansão de mercado, atacando os mercados de nicho em uma estratégia de exploração da cauda longa. As tecnologias digitais alteraram profundamente as estruturas competitivas da indústria nos últimos 30 anos, a partir da introdução do CD. A gradual digitalização de títulos de acervo, inclusive antigos fonogramas, levou a uma expansão do mercado – tanto pela venda de álbuns como pelo aumento das execuções ao vivo, em rádio e televisão. No entanto, uma vez disponíveis em suporte digital, esta vasta biblioteca tornou-se passível de distribuição digital e com a introdução das tecnologias de compartilhamento de arquivos – particularmente a partir do Napster – a pirataria passou a dilapidar as receitas da indústria, ao mesmo tempo em que o formato digital se consolidava como o principal meio de consumo de
  • 18. 18 música (especialmente através do iPod e mp3 players). Como visto acima, a maturação da plataforma digital começa a acontecer, como evidencia o crescimento da arrecadação com consumo de música digital licenciada, mediante aquisição paga de conteúdos. Outro impacto fundamental das tecnologias digitais à estrutura da indústria musical foi a redução dos custos de produção e gravação digitais, os quais estão hoje acessíveis a uma gama de novos artistas. As barreiras de entrada no mercado se reduzem, permitindo que mais artistas se lacem – inclusive de maneira independente – se utilizando de ferramentas de baixo custo e meios de distribuição digitais, a exemplo do MySpace e do exemplo da banda Arctic Monkeys, que em menos de três anos após distribuir suas gravações domésticas pela Internet conseguiu um contrato com grande gravadora e emplacou diversos prêmios com seu disco de estréia, vendendo mais de 225 mil cópias na primeira semana somente no Reino Unido10. A indústria fonográfica brasileira é dominada por poucas grandes empresas multinacionais. A década de 1970 correspondeu à definitiva consolidação da atuação de empresas estrangeiras no mercado fonográfico brasileiro, com a instalação oficial de gravadoras como a WEA (do grupo Warner) e a modernização e ampliação de infraestrutura de gravadoras como a RCA e EMI-Odeon11. Os movimentos de fusão e aquisição que decorreram das mudanças estruturais impulsionadas pelo paradigma digital resultaram na dominação da indústria fonográfica nacional pelas mesmas quadro líderes globais (EMI, Sony-BMG, Universal e Warner) e pelo selo nacional SomLivre. Conjuntamente,estas empresas respondiam por 81% da venda de fonogramas no país em 200812. Apesar da dominância dessas poucas empresas líderes, o mercado presencia a atuação de uma miríade de pequenas gravadoras, produtoras e distribuidoras independentes às centenas no país. Além da grande concentração do mercado, verifica-se também uma concentração geográfica do setor: os selos e gravadoras independentes atuam em todo território nacional, mas observa-se uma significativa concentração das atividades de criação, produção e distribuição nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, em decorrência da aglomeração de talentos e real constituição de um cluster regional de música; e da fabricação do produto 10 http://en.wikipedia.org/wiki/Arctic_Monkeys Cassiolato, J.E. (org) (2005) Perspectivas do Invetimento no Brasil, vol.3 Economia do Conhecimento. Synergia. 12 ABMI – Associação Brasileira da Música Independente, 2008. 11
  • 19. 19 físico (CDs, DVDs e BluRays) no Pólo Industrial de Manaus, em virtude dos incentivos fiscais ao pólo. As gravadoras independentes gradualmente ganham relevância no mercado nacional, impulsionadas pelas tecnologias digitais que reduzem custos de produção, diminuem barreiras de entrada e favorecem mecanismos alternativos de distribuição, por exemplo, a Trama, Abril Music e Biscoito Fino. Ainda que as independentes respondessem por cerca de 80% da produção nacional de fonogramas em 2008, sua participação de mercado não excedia 25%13. Um aspecto de mercado significativo à indústria brasileira é a preferência por conteúdos nacionais. O Brasil é um dos países com maior participação da música nacional no repertório consumido (74,5% em 20114), comparável globalmente apenas aos EUA e Japão (com participação da música nacional em cerca de 90% e 80%, respectivamente). Não se observa tendência significativa de modificação deste perfil ao longo dos anos, demonstrando a consolidação da posição da música nacional e do repertório estrangeiro em nosso mercado, conforme apresentado na Figura 8. Figura 8. Participação do repertório nacional na música consumida no Brasil Fonte: Extraído de Cassiolato (org.) (2005), Perspectivas do Investimento na Economia do Conhecimento, versão preliminar. Dados da ABPD. 13 14 Sebrae, 2008. ABPD – Associação Brasileira de Produtores de Discos, 2013.
  • 20. 20 2.2.3.1 Globalização e mercado transnacional É característica do mercado de bens informacionais e culturais a dificuldade de restrição de demanda ou controle do mercado. Não é possível a nenhum país, no atual contexto de mercado globalizado e mediado por tecnologias de informação e comunicação, o controle eficaz do consumo de produtos culturais ou informacionais. Se por um lado esta característica representa ameaça competitiva aos produtores locais, por outro lado abrem a possibilidade de exploração de mercados externo com enorme potencial de rentabilidade. As listas dos singles digitais mais vendidos no mundo incluem artistas da Austrália, Brasil, Canadá, Coréia do Sul, Trinidad e Reino Unido, além dos artistas norte-americanos, demonstrando como a internet torna possível aos artistas saírem de seus mercados locais e alcançarem sucessos globais. O cantor brasileiro Michel Teló alcançou sucesso mundial com “Ai Se Eu Te Pego”, e mesmo cantada em português a música rompeu barreiras linguísticas e vendeu 7,2 milhões de cópias em 2012. Ao ter a dança associada a esta música utilizada como comemoração de gols no futebol por craques como Neymar, a música tornou-se um viral no Youtube, atraindo quase meio bilhão de views e se tornando um dos 10 vídeos mais vistos no serviço. “Ai Se Eu Te Pego” foi número um em 23 países na Europa e América Latina, fazendo de Teló o primeiro artista solo brasileiro em cinco décadas a ter uma música entre a 100 mais tocadas na Billboard dos EUA. 2.2.3.2 Pirataria e propriedade intelectual A discussão acerca da propriedade intelectual e pirataria ganhará ainda mais destaque nos próximos anos. Por um lado, o atual sistema de propriedade intelectual que considera as fronteira nacionais como limites para a arrecadação tem sido crescentemente questionada (Cf. Towse, 2002). Com a redução dos custos de produção e crescente terceirização (outsourcing) da produção – até mesmo nas indústrias culturais e criativas – o núcleo de valor se encontra nos direitos autorais e direitos de distribuição e comercialização, por sua vez concentrados nas mãos de grandes players, que atuam como cartéis ou oligopólios da Economia Criativa. Tais atores mantêm os preços artificialmente elevados no esforço pela manutenção do imenso
  • 21. 21 fluxo de capitais decorrentes da crescente demanda por produtos criativos. Esta manutenção dos preços elevados aumenta os incentivos para a distribuição e consumo de bens não licenciados (piratas), o qual movimenta um volume crescente de conteúdo principalmente via compartilhamento ponto-a-ponto (peer-to-peer15). O acirramento da disputa pela proteção aos direitos autorais e punição exemplar de infratores, tendo como palco principal os Estados Unidos, mas envolvendo diversos países signatários dos tratados anti-pirataria da WIPO, já apresentou desdobramentos interessantes, como o julgamento e prisão dos responsáveis pelo site de compartilhamento de arquivos „The Pirate Bay’16, a prisão e processo contra os responsáveis pelo site „Megaupload‟17, e rumores sobre uma inovação tecnológica anunciada para o console de jogos digitais Sony Playstation 4 que registraria cada unidade de jogo a um console específico, impossibilitando que o jogo seja utilizado em outro console18. Este embate terá ainda implicações importantes em virtude do resultado dos diversos esforços do governo americano em intensificar a legislação anti-pirataria em seu país e no mundo. O ambiente de direitos autorais é vital para as perspectivas do setor. É preciso promover a igualdade de condições para os serviços licenciados se desenvolverem e prosperarem, de modo que a indústria procura impedir os negócios ilegais, tornando-os mais difíceis de encontrar pelos consumidores, informando estes negócios sobre as alternativas jurídicas para legalização e auxiliando os usuários a migrarem para serviços de música digital licenciados. A música gratuita ilegal continua sendo um enorme obstáculo ao crescimento futuro dos mercados de música legítimos. A IFPI19 estima que cerca de um terço dos usuários de internet no mundo (32%) ainda acessem regularmente locais não licenciados. 15 No compartilhamento ponto-a-ponto (peer-to-peer, P2P), usuários utilizam um software que busca e obtém partes de arquivos nos computadores de outros usuários. Este modelo dispensa o armazenamento dos arquivos em servidores, portanto, fora do âmbito público e comercial. 16 Cf. http://en.wikipedia.org/wiki/The_Pirate_Bay_trial 17 Cf. http://en.wikipedia.org/wiki/Megaupload_legal_case 18 Cf. http://techland.time.com/2013/02/21/will-the-playstation-4-play-used-games-maybe-maybe-not/ 19 IFPI, 2012
  • 22. 22 2.3 Macrotendências para o Mercado da Música Os novos canais de distribuição e a crescente realização da estratégia da cauda longa para os negócios levanta a possibilidade de uma desintermediação no setor da música, tão caracterizado pela concentração de poder de mercado nas mãos de distribuidores e publishers. O aumento no número de trabalhos publicados e distribuídos independentemente por canais digitais, tais como na rede social MySpace, e o declínio de grandes cadeias varejistas da música, por exemplo a HMV inglesa, frente à ascensão da venda de música por downloads parecem apontar para a viabilidade deste cenário. No entanto, esta desintermediação física (redução do poder relativo de cadeias varejistas de distribuição física) tem sido acompanhada de uma re-intermediação digital com o surgimento de novos canais, concentradores e distribuidores digitais de conteúdo, como a própria Amazon.com, a loja digital iTunes ou mesmo dos serviços de streaming como Pandora, Spotify ou Last.fm. Logo, não há tendência clara de desintermediação, uma vez que estes novos intermediários têm ganhado enorme poder de mercado, apontando para uma possível concentração ainda maior: a dominância no mercado de download de música pelo iTunes, por exemplo, e o sucesso do Facebook podem ser o indício de uma era de menor número e mais poderosos intermediários de conteúdo digital. Estudos apontam também para uma ilusória independência associada à ideia de publicação independente. No modelo de publicação independente ou auto-publicação (self publishing) há uma transição nos papeis e responsabilidades: a responsabilidade por financiar, produzir e editar o conteúdo passa para o produtor, no entanto, o acesso ao mercado permanece dependente de um concentrador (portal de conteúdo na Internet) com poder de aprovar ou não o conteúdo enviado, ou seja, atuando como gatekeeper tal qual os publishers tradicionais. Assim, o que fica claro é um momento de transformação que ameaça os modelos estabelecidos de comercialização e distribuição ao mesmo tempo em que possibilita oportunidades de novos modelos utilizando tecnologias e canais inovadores. Como alternativa à concentração de mercado por parte dos distribuidores, apresentam-se os novos canais de distribuição advindos das tecnologias de digitalização e da Internet, em particular devido aos novos formatos para entrega de conteúdo aos consumidores
  • 23. 23 e à convergência de mídias. Tais novos canais e transformações no panorama de comercialização de conteúdos digitais ainda não provaram com certeza a sua eficácia na diluição do poder de mercado dos grandes distribuidores, mas certamente são caminhos complementares ao acesso aos mercados, em particular para os microprodutores criativos com acesso restrito aos canais convencionais. A distribuição online é, certamente, uma alternativa aos canais tradicionais de distribuição por varejo e pode favorecer o desenvolvimento de mercados de nicho, especialmente produtos com baixo apelo aos intermediários e distribuidores e baixo poder de barganha. Tais novos canais de distribuição digital passam por serviços pagos e licenciados, tais como os serviços de downloads (iTunes, Mercado da Música), serviços de música pór streaming pagos (Pandora, Spotify) ou gratuitos (GoogleMusic, Grooveshark), serviços de social media (YouTube, MySpace, entre outros) até o compartilhamento de conteúdo via web ou P2P com ou sem licença. Os principais canais que aberm oportunidades de distribuição particularmente para os empreendimentos musicais independentes certamente incluem a plataforma móvel (celulares, smartphones e tablets), online (download e streaming) e social (redes sociais). 2.3.1 Plataformas móveis A crescente penetração de celulares, smartphones, tablets e dispositivos móveis amplia a base de consumidores potenciais de música, seja mediante a aquisiçÃo de música por download em lojas especializadas para celulares, seja através de serviços de straeming de música mediante pagamento de assinatura. Até mesmo a capacidade de ouvir rádio (convencional, via aérea) em celulares amplia o mercado potencial da música por ampliar a audiência de emissoras de rádio convencionais. Além das funcionalidades relacionadas a música presente nestes dispositivos, à medida que cresce também a disponibilidade de internet móvel e com o crescente consumo de aplicativos (apps), artistas, gravadoras e distribuidores experimentam novos modelos de distribuição de comercialização de música através de Apps. Uma vez que a música constitui grande parte da mídia consumida na atualidade (em jogos digitais, televisão, cinema e vídeo, até mesmo em páginas web), além,
  • 24. 24 claro do seu próprio mercado, os demais setores de mídia potencialmente desenvolvidos nos dispositivos móveis terão impacto indireto na indústria da música. 2.3.2 Plataforma Online Sob a perspectiva do artista ou produtor, é possível distinguir dois tipos de serviços de música online: aqueles através dos quais o artista ou produtor musical pode comercializar, distribuir ou promover suas músicas diretamente – por exemplo os serviços como TopSpin20, Bandzoogle21 ou Myspace, através dos quais artistas podem criar uma página própria e distribuir/promover suas músicas – e aqueles que têm pouco ou nenhum contato direto com artistas, mas que possibilita a expansão do consumo de música via Internet, ainda assim impulsionando a indústria, tais como iTunes e Amazon. É crescente o consumo de música através de serviços de streaming via web, tanto no PC como em dispositivos portáteis, especialmente smartphones e tablet. Grandes atores do mercado de tecnologia e mídia estão entrando neste segmento, por exemplo a Google com seu GoogleRadio e a possibilidade de lançamento de um serviço iRadio pela Apple22 apontando o potencial de retorno desta plataforma. Diversos serviços atualmente existentes crescem em base de usuários e geração de receitas, tais como Spotify, Last.fm e Pandora. A expansÃo destes serviços é de interesse de artistas e gravadoras pois gera receitas de direitos autorais, assim como as rádios comerciais. A expansão da rádio via web abre margem para artistas de quaisquer partes do globo terem suas músicas reproduzidas e remuneradas em uma base de usuários potencialmente muito maior do que qualquer emissora convencional. O modelo de negócios dos serviços de streaming se baseiam no pagamento de uma assinatura mensal. Este modelo tem sido responsavel pela recuperação do setor da música em diversos mercados, por exemplo na Suácia, em que o gasto per capita com música cresceu 15% entre 2008 e 201223. Em contraste com o modelo baseado em downloads, serviços de 20 http://www.topspinmedia.com/ http://bandzoogle.com/ 22 http://www.techradar.com/news/computing/apple/apple-reportedly-pushing-hard-for-iradio-summer-launch1141613 23 IFPI, 2013. 21
  • 25. 25 assinatura pagam royalties cada vez que uma música é tocada. Transações individuais são realizadas cada vez que uma música é tocada por isso são geralmente menores, mas geram renda por um tempo muito superior à expectativa de geração de renda em rádios convencionais. Neste modelo, o retorno sobre o investimento para o artista ou a gravadora vem em um prazo muito mais longo do que usualmente se está acostumado, mas de acordo com uma lógica de distribuição em cauda longa, no longo prazo gera-se um montante de retorno muito superior. Ao se sumar curvas cumulativas de retorno – para cada uma das músicas disponibilizadas no serviço – tem-se uma expectativa de retornos crescentes com o tempo. É o caso da Universal Music Sweden, que tem apresentado crescimento sustentado de rendimentos há três anos, devido à predominância deste modelo na Suécia; uma situação bem diferente do passado em que as vendas disparavam no período de Natal e permaneciam estaganadas no restante do ano. 2.3.3 Novas oportunidades para artistas e gravadoras independentes A redução nas barreiras de entrada decorrentes das tecnologias digitais – seja pela redução dos custos de produção, seja pela abertura de novos canais de distribuição – aliada à ampliação da demanda resultam na facilitada entrada no mercado musical por um número crescente de artista, produtoras e gravadoras independentes. Estas mesmas condições de mercado que criam possibilidades para modelos inovadores constituem oportunidade de exploração de mercado para as indies. Seja através de redes sociais, serviços de distribuição digital pela internet, seja através de apps ou na cadeia de valor de outros produtos culturais como vídeo e games, as indies têm oportunidades muito maiores de sobrevivência e crescimento no atual paradigma digital. Acredita-se que a cauda longa possibilite aos produtores muito pequenos encontrar nichos de mercado de modo a competirem sustentadamente mesmo com os grandes varejistas e distribuidores. Por outro lado, o entendimento de que existe tal cauda longa de pequeninos nichos não explorados pelos grandes varejistas atraiu a atenção das grandes distribuidoras para a exploração também destes mercados. A tendência é de que grandes publishers procurem firmar contratos com artistas e produtoras independentes (indies) como forma de
  • 26. 26 alcançar as demandas, interesses e gostos de públicos específicos e de nichos, e assim derivar rendimentos de uma parcela maior na distribuição da cauda longa, diversificar sua carteira de investimentos e reduzir o risco. 2.3.4 Crowdfunding: uma alternativa para microfinanciamento Em todo o mundo o fenômeno do crowdfunding tem obtido sucessos crescentes no apoio a iniciativas inovadoras e criativas, como alternativa à inadequação das instituições financeiras em lidar com projetos marcados pela inovação, intangibilidade e elevada incerteza. O site Kickstarter.com, pioneiro e mais popular dos concentradores de crowdfunding na Internet, já financiou 39 mil projetos, com recursos na ordem de US$570 milhões doados por 3,8 milhões de pessoas24. Nos Estados Unidos uma alteração recente na regulamentação financeira abriu margem para a possibilidade dos doadores de microfinanciamento por crowdfunding tornarem-se acionistas dos empreendimentos, uma espécie de capital de risco pulverizado. Esta alternativa tem sido estudada por especialistas para a adoção no Brasil, mas ainda é controversa sua aplicabilidade e viabilidade25. De todo modo, frente ao sucesso do modelo e volume de recursos, não deve ser desprezado como mecanismo de financiamento de microempreedimentos criativos e inovadores. Como mecanismo de financiamento de projetos o crowdfunding se mostra eficaz e desafiador dos modelos de financiamento convencionais, contornando o papel seletivo dos intermediários e se conectando diretamente com a sua demanda potencial, que financia a produção diretamente. Os potenciais do crowdfunding como mecanismo de financiamento para a música são muito significativos e diversas inciativas estão surgindo, diversificando os instrumentos e modelos. Tem se tornado cada vez mais comum o crowdfunding de espetáculos e apresentação ao vivo (por exemplo, GigFunder26 e Picatic27) e de artistas na produção de singles ou álbuns (por exemplo, Indiegogo28 e o popular Kickstarter, que já 24 Fonte: http://www.kickstarter.com/help/stats, acessado em 17/04/2013. Cf. Flavio Picchi. Mercado de Capitais para Microempresas. Valor, 22/02/2013. Disponível em: http://www.valor.com.br/brasil/3017560/mercado-de-capitais-para-microempresas 26 http://gigfunder.com/welcome 27 http://www.picatic.com/ 28 http://www.indiegogo.com/ 25
  • 27. 27 financiou centenas de artistas29), e gradualmente surgem também especialistas para apoiar artistas e gravadoras na captação destes recursos (por exemplo, Scott Steinberg e seu livro “The Crowdfunding Bible: How To Raise Money For Any Startup, Video Game, or Project”30). Gravadoras e editoras aguardam com expectativa a regulamentação do crowdfunding equity, possibilidade de capitalização de uma empresa via crowdfunding. 2.3.5 Música em outros setores de rápido crescimento: A economia criativa tem crescido a taxas aceleradas em seus diversos segmentos, sendo o de Jogos Digitais um dos mais rápidos. Também o segmento de vídeo apresenta um intenso crescimento impulsionado pela predominância do formato vídeo nas mais diversas mídias, desde televisores e computadores até mesmo as redes sociais e dispositivos móveis. A música é parte da cadeia de valor destes dois segmentos, desempenhando papel essencial na experiência do usuário e inclusive gerando spillovers tais como álbuns de trilha sonora de filmes e jogos. Além disso, a existência de um gênero específico de jogo digital voltado para música (music games), cuja participação no mercado de jogos dos Estados Unidos chegava a 15% em 2008, reforça a importância da música neste segmento. A adoção de estratégias para entrar nestas cadeias de valor é uma oportunidade para artistas e empreendimentos independentes. 2.3.6 Redes Sociais Não é novidade o importante papel que as redes sociais desempenham no contexto de competição das indústrias criativas contemporâneas. A profunda capacidade de mobilização social, a importância das recomendações nas redes sociais e a convergências de formatos (texto, música, vídeo, jogos) aliadas a novos modelos de monetização torna estas plataformas centrais à competição de negócios criativos no contexto digital, inclusive em virtude das 29 Lições sobre como captar recursos pelo Kickstarter são discutidas em “100 Music Kickstarters To Learn From”, http://launchandrelease.com/category/100-music-kickstarters/ 30 Disponível para download gratuito em: http://www.booksabouttechnology.com/ The%20Crowdfunding%20Bible.pdf
  • 28. 28 muitas avenidas ainda não exploradas para criação de novos modelos de negócios. O YouTube, como portal de vídeos que possui também um carater de rede social, é sem dúvidas o maior promotor dos conteúdos de música na internet. Nove em cada 10 vídeos dentre os mais populares no serviço são relacionados a música. Os serviços especializados em vídeo clipes como Vevo31 e Warner Sound32, estão entre os três principais canais no Youtube. Recentemente o Twitter lançou seu serviço de “descobrir” músicas populares e apontar artistas emergentes com base nos trending topics do portal, o Twitter#Music33. Estratégias competitivas para artistas e empresas do setor da música não podem deixar de incluir uma estratégia de Social Media sob pena de perderem as oportunidades abertas por esta plataforma; oportunidades como a de se tornar um dos maiores hits globais, a exemplo de “Ai Se Eu Te Pego”, que se baseou principalmente no caráter viral, na recomendação entre consumidores e na divulgação pelo Youtube para alcançar tamanho sucesso. 31 http://www.vevo.com/ http://www.thewarnersound.com/ 33 Cf. https://blog.twitter.com/2013/now-playing-twitter-music 32
  • 29. 29 2.4 Recomendações às Empresas do Setor da Música As tecnologias digitais abrem novas oportunidades de competição a pequenos empreendimentos e criam novos modelos de negócios e monetização de conteúdos, ameaçando os modelos tradicionais. Em todo o mundo, gigantes da indústria da música se vêm forçados a repensar as suas estartégias competitivas face à diminuição sustentada e inexoravel das vendas de música em suporte físico e crescente consumo de música digital nas mais diversas plataformas, seja online (download e streaming), móvel, até mesmo experiências de realidade aumentada, jogos digitais, cinema e TV. Da mesma forma como as tecnologias digitais reduzem barreiras de entrada, possibilitam algum grau de desintermediação da distribuição, ampliam mercados consumidores e abrem oportunidades competitivas para novos negócios de música (particularmente digitais), também intensificam o ambiente de competição a partir da entrada de novos concorrentes e do enfraquecimento das fronteiras entre profissionais e amadores. Empeendimentos devem buscar explorar as oportunidades competitivas – distribuição digital, financiamento por crowdfunding – em conjunto com estratégias físicas que complementem a experiência do usuários. Ao mesmo tempo em que se vê o crescente consumo digital, observa-se a existência de lojas físicas especializadas que comercializam LPs em vinil para aficcionados. As demandas do usuário final e a busca por uma experiência imersiva e gratificante devem ser os norteadores de negócios criativos em geral, também no setor de música. A análise e compreensão dos feedbacks produzidos nas redes sociais e através de dados – mediante ferramentas de analytics – são intrumentos de apoio estratégico. Além disso, não se deve perder de vista o insumo mais importante da produção criativa em geral e da música em particular: o componente cultural e criativo dos artistas e produtores. Todas as vantagens possibilitadas pelas tecnologias digitais somente são úteis se houver conteúdo a ser distribuído e comercializado. Tal conteúdo somente se produz a partir dos insumos culturais, do talento e das habilidades de profissionais da música. O vasto repertório cultural Pernambucano fornece mais que abundante suprimento de conteúdo cultural para a produção de produtos criativos, bastando a aplicação de uma lógica industrial de transformação da cultura em bens e conteúdos com potencial de rentabilidade.
  • 30. 30 Tabela 1. Análise SWOT do setor da Música em Pernambuco face às tendências globais Forças  Amplo repertório cultural e talento local  Indústria musical local com perfil e tradição de ser importante celeiro de novos artistas e estilos Fraquezas Oportunidades  Incerteza de demanda e exigência de elevados investimentos iniciais antes do lançamento no mercado  Tecnologias digitais favorecem desintermediação e reduzem barreiras de entrada à indústria  Concentração de mercado por parte de gravadoras, restringindo acesso ao mercado  Amplo mercado interno e tendência de crescimento do acesso a internet e plataformas móveis, ampliando mercado consumidor de música digital  Novas oportunidades para artistas e gravadoras/ produtoras independentes  Multiplicam-se tecnologias automatizadas de busca, descoberta e recomendação de música Fonte: elaboração própria.  Proliferação de serviços de música digital (download/ streaming) legítimos, resultando em receita de royalties  Crescimento do consumo digital em seus diversos formatos  Novas e diversificadas oportunidades de monetização  Crescimento de redes sociais favorecem promoção e distribuição de música e artistas  Consolidação da tecnologia de cloud computing e multiplicação de serviços de cloud music abre oportunidades de negócios inteiramente digitais Ameaças  Pirataria e compartilhamento de música através de meios “gratuitos” ainda é grave ameaça à indústria  Desafio de convencer consumidores a pagar por conteúdo que pode ser obtido grátis  Uma vez que as tecnologias de data analysis se encontram nas mãos dos grandes players (grandes selos), informações fundamentais sobre comportamento de consumo poderão ficar fora do alcance de independentes e artistas
  • 31. 31 3 Conclusão Neste relatório, abordamos as tendências e oportunidade competitivas relacionadas à tecnologia e mercado para a Economia Criativa, através de um panorama do mercado da Música. Nele foram analisadas as oportunidades de competição que as tecnologias digitais abrem a pequenos empreendimentos criativos, especialmente na Indústria da Música, possibilitando a criação de novos modelos de negócios e monetização de conteúdos, e ameaçando os modelos tradicionais face à diminuição contínua das vendas de música em suporte físico e crescente consumo de música digital, seja online (download e streaming), móvel, até mesmo experiências de realidade aumentada, jogos digitais, cinema e TV. Por fim, destacamos que as oportunidades geradas pelas tecnologias digitais incluem a redução de barreiras de entrada, algum grau de desintermediação da distribuição, ampliação de mercados consumidores e novos negócios de música (particularmente digitais), intensificando o ambiente de competição e até mesmo possibilitando novas formas de financiamento através do crwodfunding.
  • 32. 32 4 Referências ABPD (2013) Mercado Brasileiro da Música 2013. Associação Brasileira de Produtores de Discos. BPI (2013) Digital Music Nation. The British Recorded Music Industry. CASSIOLATO, J.E. (org) (2005) Perspectivas do Invetimento no Brasil, vol.3 Economia do Conhecimento. Synergia. IFPI (2013) Recording Industry in Numbers. International Federation of the Phonographic Industry. PWC (2012) Global Entertainment and Media Outlook 2012-2016. Pricewaterhouse Coopers. SEBRAE (2008) Música Independente. Série Estudos de Mercado Sebrae/ESPM. Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa.