1. o planejamento como instrumento de gestão educacional
9. as formas de planejar do professor
1. AS FORMAS DE PLANEJAR DO PROFESSOR
Planejamento do Ensino
:: Por que planejar?
O papel da escola na construção de um país mais justo é
fundamental, e ele se concretiza pela ação educativa.
Desse modo, o trabalho do educador é tão complexo e
importante que não pode ser improvisado. Cada
professor, conhecendo os alunos com os quais
trabalhará, tem de saber o que vai ensinar, para quê e
como fará isso ao longo do trabalho educativo. Assim
também, a escola como um todo, a partir das diretrizes
gerais para a rede pública, define-se estabelecendo
prioridades e ações, ou seja, seu Projeto de escola.
Planejar é prever e organizar as ações com determinadas finalidades, para se conseguir atingir
mudanças.
:: O Projeto de Escola
Em seu Projeto de Escola, cada unidade escolar deve estabelecer quais são seus objetivos
educativos:
• Que transformações pretende gerar em seus alunos e na comunidade escolar?
• Que ações educativas irá promover?
• Que recursos humanos e materiais a escola possui?
• Qual será o período de tempo disponível?
• Qual será o período de tempo disponível?
O Projeto de Escola deve considerar as reais necessidades da comunidade na qual a escola está
inserida, em particular as necessidades educativas de seus alunos:
• Qual é a realidade da escola?
• Quais são os principais problemas?
• Os alunos têm realmente aprendido?
Veja mais questões para o Projeto de Escola.
Assim, ao identificar e analisar as dificuldades que a escola enfrenta e o que pretende mudar, é
possível estabelecer objetivos e metas comuns a toda a equipe. As diferentes ações pedagógicas,
desde o atendimento dos pais à realização de uma aula de Biologia, vão ser pensadas e
organizadas a partir dessas linhas comuns e das metas combinadas.
Nesse sentido, uma das funções centrais do Projeto de Escola é selecionar e organizar os
conteúdos necessários para dar conta dos objetivos educativos.
Esses conteúdos, por sua vez, são informações, conceitos, conhecimentos, valores, práticas e
todas as formas culturais que os alunos devem aprender para que o processo educativo se realize
de acordo com as intenções traçadas no Projeto de Escola.
:: Planejamento de Ensino
Sem planejamento é difícil dar
conta do recado
2. Em uma escola democrática, o Projeto de Escola é feito coletivamente
e deve ser a base para todas as atividades de ensino e de
aprendizagem planejadas pelos professores para serem desenvolvidas
em sala de aula.
Esse planejamento do processo de ensino e aprendizagem que os
professores devem construir para orientar sua ação pedagógica na sala
de aula é aqui chamado de Planejamento do Ensino.
:: O Planejamento do Ensino em ação
A concretização do Planejamento de Ensino ocorre na sala de aula, com um professor e sua classe
desenvolvendo atividades de ensino e de aprendizagem. Sala de aula, aqui, não deve ser
considerada apenas o espaço entre quatro paredes, com carteiras e uma lousa; mas sim, todo e
qualquer espaço no qual atividades de ensino e aprendizagem estejam ocorrendo. Por exemplo,
quando um professor e os alunos de uma classe encontram-se em um bosque, num parque
distante da escola, desenvolvendo uma atividade de educação ambiental, então, aquele bosque
torna-se uma sala de aula. Assim também, um laboratório, o pátio da escola, um museu, uma
oficina ou um estabelecimento industrial ou comercial no qual, por motivos educativos, o professor
se encontra com seus alunos, desenvolvendo atividades de ensino e aprendizagem.
:: Ingredientes para planejar
Para falarmos de planejamento – seja o da escola ou da sala de aula – é preciso, primeiramente,
deixar claro entre o grupo algumas idéias:
• de que tipo de escola estamos falando?que relações estabelecemos entre escola e
sociedade?
• qual o sentido social da profissão de educador, seja ele professor, coordenador,
supervisor, diretor de escola, membro de equipe técnica ou de apoio?
Conheça mais sobre o assunto no texto de Mário Cortella
Quando um professor, em cooperação com seus colegas, elabora seu Planejamento do Ensino, é
importante ter em conta que sua ação profissional deve ser pensada em termos de um otimismo
crítico, ou seja, o professor deve ter claro que as escolhas que faz quando elabora seus planos e
as orientações que imprime no decorrer de cada aula devem ser coerentes com o Projeto de
Escola, assim como, com uma perspectiva crítica e transformadora da realidade.
Essa preocupação com a concepção de educação que rege as ações do professor é fundamental
para que o espaço da sala de aula não se transforme em um local de reprodução de injustiças,
onde o conhecimento é visto como um pacote fechado a ser transmitido mecanicamente aos
alunos.
:: A importância de conhecer o aluno
O Planejamento do Ensino começa com o professor considerando:
• quem são meus alunos?
• quais são os conhecimentos e as experiências de vida que eles têm com relação aos
conteúdos das atividades que estarei propondo?
• quais são as suas expectativas e dificuldades?
Conferindo o planejado
3. Essa preocupação em conhecer os
alunos é muito importante, pois o
professor pode se enganar quando
confunde os alunos reais, aqueles que
estão em sua sala de aula, com um
modelo idealizado, geralmente aquele
que “todo professor gostaria de ter”:
saudável, bem alimentado, cuidado
pela família, com acesso a livros,
computador, centros culturais e lazer.
Leia mais sobre o tema
Diante dessas observações, fica claro que o Planejamento do Ensino não pode ser feito para
qualquer aluno, considerando apenas as características do conhecimento, ou do conteúdo, em
jogo nas atividades de ensino e aprendizagem.
Para o educador que trabalha com uma perspectiva inclusiva, que se preocupa com as reais
condições culturais de seus alunos, o Planejamento do Ensino deve considerar os valores, os
saberes e as experiências práticas que eles possuem, selecionando e organizando os
conteúdos do ensino coerentemente com essas condições.
Dessa forma, se os alunos têm origem em famílias com pouca escolaridade, que não possuem
livros em casa, que não lêem jornal cotidianamente, crianças que não têm a experiência de
ganhar livros de literatura infantil, ou juvenil, então, o Planejamento do Ensino precisa considerar
que essas práticas sociais devem estar presentes na própria escola. Esta, por sua vez, deve se
organizar para suprir da melhor forma possível todas as faltas que a condição de exclusão de seus
alunos possa estabelecer.
:: Acompanhar e avaliar o projeto
Os projetos de escola e o planejamento do ensino não são documentos prontos e acabados. Na
verdade, são estruturados como um processo. São alterados de acordo com mudanças
processadas no ambiente escolar, na comunidade e nos alunos na sala de aula.
No caso, por exemplo, do Projeto de Escola é preciso observar as mudanças que vão ocorrendo,
acompanhar o desencadeamento das ações, perceber seus resultados e, quando necessário,
modificar os rumos do projeto. É preciso que a comunidade escolar, liderada pela equipe de
educadores, assuma uma posição atenta, crítica e autocrítica quanto ao percurso do projeto.
Veja mais questões
Conhecer o aluno real é fundamental para o Projeto
Projeto de qualidade,
aluno autônomo
4. Além da avaliação feita pelos educadores, sem dúvida indispensável, é importante incentivar as
críticas vindas dos alunos, dos pais que podem contribuir para o desenvolvimento do projeto. Por
isso, é importante abrir a escola para a avaliação da comunidade.
Quanto ao Planejamento de Ensino, a avaliação diversificada é fundamental para o replanejamento
das ações pedagógicas futuras. É preciso saber se:
• os alunos compreenderam os conceitos?
• as atividades propostas foram adequadas?
• atingiram os objetivos propostos? suas habilidades foram desenvolvidas?
• que atitudes revelam mudanças?
• houve trabalhos em grupos e individuais e com todos?
• as propostas foram diversificadas?
O Planejamento do Ensino que, como foi dito, se realiza no espaço da sala de aula, envolve
sempre quatro componentes que não podem ser
considerados isoladamente:
• o aluno que aprende;
• o professor que ensina;
• um ou mais conteúdos de aprendizagem;
• a avaliação.
Texto original: Vinicius Signoreli
Edição: Equipe EducaRede
Ilustrações: Michele Iacocca/Arquivo CENPEC
Planejamento na escola...
:: Sala de aula: planejar ou improvisar?
Em uma sala de aula, durante a fala do professor, um aluno formula uma pergunta. O professor
ouve atentamente e se vê diante de um dilema: O que fazer? Responder a pergunta
objetivamente e continuar a exposição? Anotar a questão no quadro e dizer que responderá ao
terminar o que está expondo? Anotar a pergunta e pedir a toda classe que pense na resposta?
Solicitar ao aluno que anote a pergunta e a repita ao final da exposição? Qual a conduta mais
correta?
Escolher uma resposta adequada depende de vários
fatores que devem ser considerados pelo professor. Entre
eles, se a pergunta contribui para o desenvolvimento da
atividade de ensino e aprendizagem naquele momento,
ou ainda se existe pertinência em relação ao conteúdo
em jogo na atividade.
A pergunta pode evidenciar um nível de compreensão
conceitual mais elaborado de um aluno se comparado à
maioria da classe. Respondê-la naquele momento
transformaria a aula em uma conversa entre o professor
e aquele aluno, que dificilmente seria acompanhada
pelos demais. Pode também revelar uma criança ou
jovem com dificuldade de compreender o conceito em
questão, o que sugere algum tipo de atenção mais individualizada. É possível concluir ainda que a
questão seria uma ótima atividade de aprendizagem em um momento posterior, quando certos
aspectos do conteúdo já estiverem esclarecidos.
:: Planejar: coerência para as ações educativas
Planejar para construir o ensino
5. O professor tem um papel fundamental de coordenar o processo de ensino e aprendizagem da sua
classe. “É preciso organizar todas as suas ações em torno da educação de seus alunos. Ou seja,
promover o crescimento de todos eles em relação à compreensão do mundo e à participação na
sociedade”. Para isso, ele precisa ter claro quais são as intenções educativas que presidem esta ou
aquela atividade proposta. Na verdade, ele precisa saber que atitudes, habilidades, conceitos,
espera que seus alunos desenvolvam ao final de um período letivo.
Certamente isso significa fazer opções quanto aos conteúdos, às atividades, ao modo como elas
serão desenvolvidas, distribuir o tempo adequadamente, assim como fazer escolhas a respeito da
avaliação pretendida. Se essas intenções estiverem claras, as respostas a esta ou àquela pergunta
ou a diferentes situações do cotidiano de uma sala de aula serão mais coerentes com os objetivos
e propósitos definidos.
O Planejamento do Ensino tem como principal função garantir a coerência entre as atividades
que o professor faz com seus alunos e as aprendizagens que pretende proporcionar a
eles.
Veja mais sobre o assunto
::Quem faz o planejamento
A elaboração do Planejamento do
Ensino é uma tarefa que cada
professor deve realizar tendo em
vista o conjunto de alunos de uma
determinada classe, sendo, por isso,
intransferível. O ideal é desenvolver
esse Planejamento em cooperação
com os demais professores, com a
ajuda da coordenação pedagógica e
mesmo da direção da escola, mas
cada professor deve ser o autor de
seu Planejamento do Ensino. Quantas
vezes nós, professores, ouvimos um
aluno perguntar: - Professor, por que
a gente precisa saber isso? Quantas vezes, no tempo em que éramos alunos, fizemos essa mesma
pergunta a nossos professores, sem nunca obter uma resposta satisfatória?
:: Flexibilidade
Vale lembrar que nenhum Planejamento deve ser uma camisa-de-força para o professor. Existem
situações da vida dos alunos, da escola, do município, do país e do mundo que não podem ser
desprezadas no cotidiano escolar e, por vezes, elas têm tamanha importância que justificam por si
adequações no Planejamento do Ensino.
No processo de desenvolvimento do ensino e da aprendizagem, novos conteúdos e objetivos
podem entrar em jogo; outros, escolhidos na elaboração do plano, podem ser retirados ou
adiados. É aconselhável que o professor reflita sobre suas decisões durante e após as atividades,
registrando suas idéias, que serão uma das fontes de informação para melhor avaliar as
aprendizagens dos alunos e decidir sobre que caminhos tomar.
Além disso, as pessoas aprendem o mesmo conteúdo de formas diferentes; portanto, o
Planejamento do Ensino é um orientador da prática pedagógica e não um “ditador de ritmo”, no
qual todos os alunos devem seguir uniformemente. Ao longo do ano letivo e a partir das
avaliações, algumas atividades podem se mostrar inadequadas, e será necessário redirecionar e
diversificá-las, rever os conteúdos, fazer ajustes.
:: Registro
O planejamento é um trabalho individual e de equipe
6. Vale destacar que a forma de organizar o Planejamento
do Ensino aqui apresentado é uma escolha. O importante
é o professor ter alguma forma de registro de suas
intenções, procurando agir pedagogicamente de forma
coerente com os objetivos específicos e gerais traçados
no Projeto de Escola e em seu Planejamento do Ensino. A
forma como cada professor registra seu Planejamento
não deve ser fixa, para que cada profissional possa fazê-
lo da forma como se sente melhor. Mas, se um educador
deseja ser um profissional reflexivo, que pensa
criticamente sobre sua prática pedagógica e se
desenvolve profissionalmente com esse processo, ele
precisa registrar seu Planejamento do Ensino.
"Redigir o projeto não é uma simples formalidade administrativa. É a tradução do processo
coletivo de sua elaboração [...]. Deve resultar em um documento simples, completo, claro,
preciso, que constituirá um recurso importante para seu acompanhamento e avaliação."
:: Componentes do planejamento do ensino
O Planejamento do Ensino, chamado também de planejamento da ação pedagógica ou
planejamento didático, deve explicitar:
• as intenções educativas – por meio dos conteúdos e dos objetivos educativos, ou das
expectativas de aprendizagem;
• como esse ensino será orientado pelo professor – as atividades de ensino e
aprendizagem que o professor seleciona para coordenar em sala de aula, com o propósito de
cumprir suas intenções educativas, o tempo necessário para desenvolvê-las);
• como será a avaliação desse processo.
:: Conteúdos e objetivos
Conteúdo é uma forma cultural, um tipo de conhecimento que a escola seleciona para ensinar a
seus alunos. Informações, conceitos, métodos, técnicas, procedimentos, valores, atitudes e
normas são tipos diferentes de conteúdos. Informações, por exemplo, podem ser aprendidas em
uma atividade, já o algoritmo da multiplicação de números inteiros, que é um procedimento, não.
Esse é um tipo de conteúdo cuja aprendizagem envolve grandes intervalos de tempo e que
necessita de atividades planejadas ao longo de meses, pelo menos.
Valores são conteúdos aprendidos nas relações humanas, ocorram elas no espaço escolar ou não.
Muitas vezes, aprender um valor pode significar também mudar de valor, o que torna o ensino e a
aprendizagem de valores, e de atitudes também, um processo complexo, que não se resolve
apenas com a preparação de atividades localizadas. Em uma escola onde o respeito mútuo e o
combate a qualquer tipo de preconceito de gênero, de etnia ou de classe social estejam ausentes
no dia-a-dia, não há como ensinar valores e atitudes por meio de atividades ou “sérias conversas”
sobre esses temas.
Os conteúdos do Planejamento do Ensino são aqueles que guiaram a escolha das
atividades na elaboração do plano e são os conteúdos em relação aos quais o professor
tentará observar, e avaliar, como se desenvolvem as aprendizagens, pois isso não seria
possível fazer com relação a “todos” os conteúdos presentes na atividade.
Mais conteúdos de planejamento e atividades
:: Objetivos
Registrar ajuda a avaliação
7. Os objetivos educativos do Planejamento do Ensino, também chamados objetivos didáticos ou
específicos, ou ainda de expectativas de aprendizagem, definem o que os professores desejam
que seus alunos aprendam sobre os conteúdos selecionados. A forma tradicional de redigir um
objetivo é utilizar a frase “ao final do conjunto de atividades, cada aluno deverá ser capaz
de...”. Não há problema em definir dessa forma os objetivos no Planejamento do Ensino,
desde que os alunos não sejam obrigados a atingi-los todos ao mesmo tempo. É possível
definir esses objetivos descrevendo as expectativas de aprendizagem da forma que for mais
fácil de compreendê-las.
Os objetivos educativos do Planejamento do Ensino são importantes porque muitos
conteúdos, os conceitos científicos entre eles, são aprendidos em processos que se
complementam ao longo da escolaridade. Por exemplo, se um aluno das séries iniciais do
Ensino Fundamental afirmar que célula é uma “coisa” muito pequena que forma o corpo dos
seres vivos, pode-se considerar que seu conhecimento sobre o conceito de célula está em bom
andamento. Mas, se esse for um aluno de 1a série do Ensino Médio, então, ele está precisando
aprender mais sobre esse conceito.
Os objetivos educativos do Planejamento do Ensino definem o grau de aprendizagem a que
se quer chegar com o trabalho pedagógico. São faróis, guias para os professores, mas não
devem se tornar “trilhos fixos”, em seqüências que se repetem independentemente da
aprendizagem de cada aluno.
:: Organização das atividades
A principal função do conjunto articulado de atividades de ensino e
aprendizagem que devem compor o Planejamento do Ensino é
provocar nos alunos uma atividade mental construtiva em torno de
conteúdo(s) previamente selecionado(s), no Projeto de Escola, no
Planejamento do Ensino ou durante sua realização.
Ao escolher uma atividade de ensino e aprendizagem para desenvolver
com seus alunos, o professor precisa considerar principalmente a
coerência entre suas intenções – explicitadas pelos conteúdos e
objetivos – e as ações que vai propor a eles. Precisa também pensar
em como aquela atividade irá se articular com a(s) anterior(es) e com
a(s) seguinte(s). Uma atividade que está iniciando o trabalho sobre
um ou mais conteúdos é muito diferente de uma atividade na qual os
alunos estão discutindo um problema real, visto no jornal, por
exemplo, baseados em seus estudos anteriores sobre conceitos que
estão em jogo no problema.
As atividades devem ser de acordo com aquilo que se quer ensinar,
seja a curto, médio ou longo prazo. A diversidade é uma de suas
Organizar as atividades
8. características principais: assistir a um filme, a uma peça teatral ou a um programa de TV;
realizar produções em equipe; participar de debates e praticar argumentação e contra-
argumentação; fazer leituras compartilhadas (em voz alta); práticas de laboratório; observações
em matas, campos, mangues, áreas urbanas e agrícolas; observações do céu; acompanhamento
de processos de médio e longo prazo em Biologia e Astronomia. Idas a museus, bibliotecas
públicas, exposições de arte. Pesquisa em livros e revistas, com ou sem uso de informática e
Internet. Assistir a uma exposição por parte do professor.
Novamente, deve-se insistir no fato de que a seqüência de atividades que compõe o Planejamento
do Ensino deve levar em conta as experiências dos próprios alunos no decorrer de cada atividade
escolhida. Existem planos que se realizam quase integralmente, os que se realizam em grande
parte, ou aqueles que, simplesmente, precisam ser refeitos tendo como critério a avaliação da
aprendizagem dos alunos.
:: Avaliação continuada
A avaliação continuada, ou mediadora da aprendizagem, indispensável no Planejamento do
Ensino, é o instrumento por meio do qual o professor procura observar o desenvolvimento de seus
alunos à medida que o processo de ensino e aprendizagem está em andamento. Essa observação
tem por objetivo regular as atuações do professor, ou seja, dar a ele informações para que seja
possível decidir se o que foi traçado no planejamento está correspondendo ao esperado ou não.
Sendo que, no segundo caso, o professor precisa, então, refletir sobre o que deve mudar para que
as aprendizagens esperadas comecem a se realizar ou melhorem. É importante frisar que essa
avaliação não tem por objetivo dar nota aos alunos, mas sim regular o processo de ensino e
aprendizagem.
Quando uma professora inicia seu trabalho em uma 2ª série e percebe que quase metade de seus
alunos não consegue ler um pequeno bilhete de boas-vindas que ela havia preparado, então, deve
começar a pensar no que fazer imediatamente, ou seja, tem que pensar em como irá articular as
atividades de forma a proporcionar o desenvolvimento da leitura a todos os alunos, cada um
partindo do estágio em que se encontra.
Sempre que um professor dá início ao trabalho com algum conteúdo, deve observar o que os
alunos já sabem sobre esse conteúdo. Essa avaliação pode ser chamada de inicial Mas ela não se
refere ao início do ano ou do bimestre e, sim, ao início do trabalho pedagógico com um
determinado conteúdo. A avaliação inicial auxilia o professor a ajustar seu plano de ensino,
principalmente considerando as diferenças entre seus alunos no momento de desenvolver as
atividades selecionadas no planejamento.
Quando um professor de Ciências descobre que seus alunos da 6a série não conseguem resolver
problemas porque têm dificuldades de leitura, deverá, então, colaborar com o desenvolvimento da
competência leitora de seus alunos, ainda que trabalhando com textos específicos de sua área,
como por exemplo, de divulgação científica, textos expositivos ou argumentativos.
Ao refletirmos sobre a avaliação mediadora do ensino e da aprendizagem em sala de aula,
explicitamos uma função importante do Planejamento do Ensino: ser a referência que o
professor utiliza para avaliar continuamente o processo de ensino e aprendizagem, com
o propósito de garantir as aprendizagens dos alunos naqueles conteúdos eleitos no
Planejamento.
Texto original: Vinicius Signoreli
Edição: Equipe EducaRede
Ilustrações: Michele Iacocca/Acerco CENPEC
:: A organização de atividades de ensino e aprendizagem
9. O objetivo desse texto é refletir sobre o segundo componente:
a organização de atividades de ensino e aprendizagem. Essas
idéias de organização das atividades de ensino podem e
devem ser adotadas para todos os ciclos, tanto no Ensino
Fundamental quanto no Médio.
Uma aula expositiva e dialogada pode ser uma ótima atividade
para formalizar um conceito que já vem sendo estudado há
semanas em um projeto didático. Mas a mesma aula
expositiva pode ser uma péssima escolha quando se trata de
iniciar o trabalho com novos conteúdos ainda não
problematizados com os alunos. Conteúdos diferentes
precisam ser trabalhados com atividades diferentes. Mas, para
além de cada atividade e seu conteúdo, é preciso pensar sobre
a melhor articulação entre os diferentes conteúdos eleitos
para serem ensinados e aprendidos, e os diferentes tipos de atividades presentes no trabalho
pedagógico.
A aprendizagem não é um processo linear e ocorre com sucessivas reorganizações do
conhecimento. Por isso, se o ensino estiver baseado em fragmentos de conhecimento
correspondendo a intervalos de tempo iguais, estará fadado ao fracasso. Esse problema tem se
repetido em nossas escolas no que diz respeito ao ensino e aprendizagem da leitura e da escrita.
Os professores propõem a mesma atividade a todos os alunos e espera que todos a realizem no
mesmo tempo, para dar prosseguimento ao “planejamento”. Mas as crianças não aprendem no
mesmo ritmo e, em poucas semanas, várias já não conseguem compreender as propostas de
atividade que o professor faz.
Para criar condições a fim de flexibilizar o tempo e a retomada dos conteúdos, a autora Delia
Lerner sugere que se ponha em ação diferentes modalidades organizativas do ensino, que são: os
projetos, as atividades habituais, as seqüências de atividades e as atividades independentes.
Essas quatro diferentes modalidades organizativas devem coexistir e se articular ao longo do
trabalho pedagógico.
:: Os projetos
Os projetos (também chamados de projetos didáticos), que não devem ser confundidos com os
Projetos de Escola, são formas organizativas do ensino cuja principal característica é ter início em
uma situação-problema e se articular em função de um propósito, um produto final, que pode ser
um objeto, uma ação ou os dois (um livro, um mural, um prospecto de campanha, uma peça de
teatro, uma peça radiofônica, um seminário). Uma qualidade importante dos projetos é oferecer
um contexto no qual o esforço de estudar tenha sentido, e no qual os alunos realizem
aprendizagens com alto grau de significação.
Não há um tempo ideal de duração de um projeto, pois, dependendo dos objetivos traçados, ele
pode durar dias ou até meses. Os projetos de duração mais longa permitem ao professor
compartilhar o planejamento das ações voltadas à construção do produto final com seus alunos,
desenvolvendo também suas capacidades para elaborar cronogramas. Nesses casos, “uma vez
fixada a data em que o produto final deve estar elaborado, é possível discutir um cronograma
retroativo e definir as etapas que será necessário percorrer, as responsabilidades que cada grupo
deverá assumir e as datas que deverão ser respeitadas para se alcançar o combinado no prazo
previsto ”. É a modalidade organizativa do ensino que mais se afina com os trabalhos
interdisciplinares.
:: Atividades habituais
As atividades habituais são situações propostas com regularidade – uma vez por semana ou por
quinzena, por exemplo. Podem ser utilizadas quando um dos objetivos do trabalho é formar
Para construir é preciso organizar
10. hábitos ou construir atitudes. A roda de notícias é um exemplo desse tipo de atividade: uma vez
por semana, professor e alunos trazem para a sala de aula matérias colhidas recentemente nos
jornais, lêem e comentam as notícias. A leitura de um romance também pode ser feita, passo a
passo, por meio de atividades habituais.
Um professor de Matemática de 1ª série do Ensino Médio, que tem quatro encontros semanais
com uma classe, desenvolve o estudo de funções em três desses encontros, por meio de
atividades seqüenciadas, e uma vez por semana, desenvolve estudos estatísticos relacionados a
um projeto interdisciplinar que a turma está realizando, em colaboração com os professores de
Geografia e História. Esse encontro passa, então, a ser uma atividade habitual, relativa ao
desenvolvimento do projeto.
:: Seqüências de atividades
As seqüências de atividades são situações articuladas que possuem um objetivo educativo comum
relativo a um ou mais conteúdos de aprendizagem. É a modalidade organizativa mais utilizada
pelos professores em seus planejamentos do ensino. Seu tempo de duração varia de acordo com
os conteúdos e com os objetivos.
:: Situações independentes
As situações independentes são aquelas que, geralmente, correspondem a necessidades didáticas
surgidas no decorrer do processo de ensino e aprendizagem. Uma aula em que o professor
sistematiza um conhecimento que esteve em jogo no desenvolvimento de um projeto recém-
terminado. Dois exemplos:
• professores de um determinado ciclo preparam um debate, a partir de um documentário
em vídeo, em função da ocorrência nas imediações da escola de fato que envolve questões de
violência, ética e que pedem uma intervenção educativa por parte dos professores;
• durante uma discussão sobre notícias de jornal (atividade habitual), um aluno trás um
artigo de jornal comentando uma descoberta científica. A classe demonstra grande interesse pelo
assunto, então, o professor sugere a uma equipe de alunos que prepare um seminário sobre o
tema e marca uma atividade independente para a apresentação.
Esse último exemplo nos faz lembrar que o Planejamento do Ensino deve ser construído com
flexibilidade, tendo um espaço para que atividades independentes possam ser realizadas. A
característica mais marcante do ensino “tradicional” é colocar todos os alunos a “marchar” em
passo rápido e uniforme, pois sempre há uma quantidade enorme de conteúdos a serem “dados”.
Nada pode fugir ao rígido plano elaborado no início do ano e que deve ser cumprido custe o que
custar.
Combinando as diferentes modalidades, o professor tem condições de organizar seu Plano de
Ensino de modo a proporcionar aos alunos processos de aprendizagem mais significativos,
articulando os diferentes conteúdos com as diferentes modalidades e, dessa forma, evitando a
fragmentação do conhecimento e respondendo melhor ao desafio de ensinar.
Observação: Sugere-se que para ter uma visão mais ampla da questão o professor se reporte
também às atividades apresentadas para todos os níveis.
Texto original: Vinicius Signoreli
Edição: Equipe EducaRede
Ilustrações: Michele Iacocca/Acerco CENPEC
:: O ensino e as condições iniciais dos alunos
11. “O ensino deve partir dos conhecimentos prévios dos alunos”. O que quer dizer esta expressão
bastante utilizada atualmente? O que ela pode significar em relação ao Planejamento do Ensino?
Para começar, é necessário definir os “conhecimentos prévios”, já que é comum haver uma
confusão com relação a essa idéia, inclusive chegando a
significar o conjunto de “conteúdos que os professores da
série anterior ensinou e que os alunos deveriam ter
aprendido”.
Conhecimento prévio é um conceito que se tornou famoso
entre os educadores a partir de reflexões em educação com
base teórica na pesquisa piagetiana. A construção do
conhecimento pelo sujeito que pensa é a principal
preocupação dessas pesquisas. Compreender como é o
conhecimento que esse sujeito tem em um determinado
momento de sua vida e com relação a um objeto é
fundamental para refletir sobre a forma como esse sujeito
aprende, ou seja, como ele transforma esse conhecimento
prévio, passando a ter um maior conhecimento sobre o
objeto.
Para os pesquisadores que trabalham com a construção do
conhecimento, ou seja, com a forma como se dá a
aprendizagem em relação a diferentes objetos de
conhecimento, saber como são os conhecimentos prévios de
uma pessoa (criança, jovem ou adulto) significa fazer uma pesquisa científica. Isso implica
cuidados metodológicos, fundamentação teórica e tempo de observação, no mínimo. Muitas
pesquisas têm sido feitas em torno dessa questão. Os educadores, sem dúvida, devem conhecê-
las, pois elas podem nos orientar sobre decisões a tomar do ponto de vista didático. No entanto,
um professor não precisa, e nem deve, a não ser que exista uma justificativa pedagógica para
isso, desenvolver pesquisas em sala de aula para determinar quais são os conhecimentos prévios
dos alunos toda vez que inicia uma ação pedagógica em relação a determinado conteúdo.
O que é preciso conhecer são as condições iniciais dos alunos, para planejar e desenvolver com
eles as atividades de ensino e aprendizagem. Sempre que há aprendizagem, os conhecimentos
prévios do sujeito que aprende estão em jogo, e isso faz parte das condições iniciais dos alunos,
mas isso não é tudo. É preciso levar em conta também, entre outros aspectos:
• a relação que os alunos têm com o esforço de aprender;
• como eles encaram novos desafios;
• que aprendizagens precisam ter vivido para dar conta das atividades na forma como elas
estão planejadas.
Os conhecimentos prévios do aluno devem ser considerados na medida em que entram em ação
durante a atividade. Ou seja, quando o professor percebe que um aluno não consegue responder a
uma questão, ou escrever um texto, ou ainda, se a atividade não teve interesse porque ele já
sabia as respostas, deve observar melhor o que esses alunos já sabem para ajustar as propostas
de ensino às condições iniciais.
Durante a elaboração do Planejamento do Ensino, as condições iniciais dos alunos, em particular
os conhecimentos prévios, precisam ser considerados também para que esse planejamento fique o
mais próximo possível de sua realização. No entanto, somente durante a ação pedagógica é
possível certificar-se se as hipóteses sobre as condições iniciais dos alunos foram adequadas ou
não, para alterar o plano inicial e torná-lo melhor para aquele grupo de alunos, caso seja
necessário.
Professores do Ensino Fundamental – guardadas as diferenças - convivem com cenas comuns nas
escolas públicas ou privadas de todo o país, que envolvem as condições iniciais dos alunos.
Logo no início do ano letivo, na segunda semana de aula, um professor de Matemática entra na
sala dos professores e, vendo seus colegas, afirma: “Esses alunos da 5ª série não vão aprender
nada. Estou começando a ensinar frações e eles não sabem nem multiplicar. Dividir então, nem
pensar”. Por que esse professor não pára imediatamente seu trabalho e reavalia seu
O aluno já chega na escola com
algum conhecimento prévio
12. planejamento? Por que não conversa com a coordenação pedagógica a respeito dessas
dificuldades do grupo e solicita uma parceria para reorientar seu plano de trabalho de modo a dar
conta das dificuldades de aprendizagem de seus alunos?
Existem muitas respostas para essas questões e uma delas diz respeito à formação dos
professores nos cursos de licenciatura que, em geral, não abordam esse tipo de problema. Muito
raramente em Matemática, por exemplo, estudam como deve ser a didática do ensino das
operações fundamentais. Em conseqüência, aqueles que tentam realizar esse ensino na quinta ou
sexta série, o fazem por meio de aulas expositivas. O professor resolve algumas contas na lousa,
explicando “detalhadamente” cada “passagem” do algoritmo e perguntam se os alunos
entenderam. Em seguida, considerando que o silêncio da classe significa “Sim, entendemos”,
passa uma lista de contas para fazer em classe e em casa. E os alunos continuam sem saber
multiplicar e dividir.
:: Problematizar – uma competência que o professor deve ter
Em todo início de trabalho com um conteúdo, mesmo que este já tenha sido trabalhado
anteriormente, é necessário que o professor se preocupe em mobilizar os alunos para as
aprendizagens que deverão ocorrer. Essa mobilização, que depende das condições iniciais dos
alunos, pode ser despertada pelo professor por meio de problematizações do conteúdo.
Problematizar significa criar questões que possam ser entendidas pelos alunos, mas que
não podem ser respondidas de imediato, provocando-lhes uma vontade de saber. Em
muitos casos, o Projeto de Escola já apresenta problematizações apropriadas para o
desenvolvimento do ensino e da aprendizagem. Mas, em geral, os professores precisam, a partir
do Projeto de Escola, selecionar conteúdos e, considerando as condições iniciais de seus alunos,
realizar o Planejamento do Ensino e as problematizações necessárias ao desenvolvimento das
atividades de ensino e aprendizagem.
É importante que fique bem claro que, se os alunos não se interessarem pelas questões que o
professor faz a eles, então, são as questões que precisam mudar, não os alunos.
Essas reflexões podem ser aplicadas ao trabalho de todos os professores da educação básica, seja
uma professora alfabetizadora, um professor de 5ª a 8ª série ou de Ensino Médio.
Texto original: Vinicius Signoreli
Edição: Equipe EducaRede
Ilustrações: Michele Iacocca/Acerco CENPEC
Leia:
CENPEC Projeto de escola Raízes e Asas. São Paulo, s/d
______Trabalho Coletivo na Escola Raízes e Asas. São Paulo, s/d
CORTELLA, Mario Sergio. A escola e o conhecimento – fundamentos epistemológicos e políticos. 3ª
ed. São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 2000.
LERNER, Delia. Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário. trad. Ernani Rosa. Porto
13. Alegre: Artmed, 2002.
ZABALA, Antonio. A prática educativa: como ensinar. trad. de Ernani Rosa – Porto Alegre: ArtMed,
1998.
HOFFMANN, Jussara. Avaliar para promover: as setas do caminho - Porto Alegre: Mediação, 2001.
GANDIN, Danilo,& GANDIN,Luis Armando.Temas para um projeto político-pedagógico Petrópolis,
RJ: Vozes, 1999.
PERRENOUD, Philippe. Dez novas competências para ensinar trad. Patrícia Chittomi Ramos. Porto
Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.
__________________. Avaliação: da excelência à regulação da aprendizagem – entre duas
lógicas trad. Patrícia Chittomi Ramos.Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.
Referências Eletrônicas:
O site da revista Nova Escola, da editora Abril, (http://novaescola.abril.com.br/) possui algumas
seções dedicadas ao planejamento.
Abaixo, dois endereços dessas seções:
http://novaescola.abril.com.br/ed/154_ago02/html/volta.htm
http://novaescola.abril.com.br/index.htm?ed/168_dez03/html/ensinar
PLANO DE AULA
Módulo mínimo de planejamento, esta atividade é dada em uma única aula. Pode ser
avulsa ou estar inserida em uma seqüência didática ou em um projeto. Devem estar claros
para o professor: o conteúdo a ser trabalhado, os objetivos de aprendizagem, que recursos
serão necessários para desenvolver a aula e como será avaliado o aproveitamento do aluno.
PROJETOS DE ENSINO
14. Tem duração longa, pode levar até um ano. Envolve a construção de um produto final
– um livro, uma exposição, uma campanha, por exemplo – destinado a um público definido,
que podem ser outros alunos, os pais, os moradores do bairro, etc. Nesse caso, a participação
da turma se dá em todas as etapas do planejamento.
SEQUENCIA DIDÁTICA
Nessa modalidade, a duração é limitada a algumas semanas de aula. O conteúdo é
mais específico que o de um projeto e é explorado em atividade seguidas, que se tornam cada
vez mais complexas.
PLANO DE ENSINO
É o planejamento do que vai ser trabalhado durante o semestre ou o ano letivo. No
caso do professor polivalente, envolvem os objetivos de aprendizagem de todas as disciplinas,
os conteúdos a serem trabalhados, os procedimentos a serem utilizados, os recursos didáticos
e as formas de avaliação.