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E se, olhando atentamente,
a realidade desliza e acontece
A Ruptura do Improvável,
então que ela sirva para dele se
fazer o maior elogio!
Tem de se ter cuidado e fazer
muita atenção. Há que lhe dar
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De noite as portas do armário dão para a cidade. Acontece!
Para a cidade obsessivamente iluminada em cada uma das janelas. Do rio
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Pasmado de tanto olhar, o cais naufragou, o que foi notícia em tudo
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Pela noite adentro de tudo se falou. Concepções tautológicas do mundo dá-
me a garrafa, visões filosóficas, mesmo teosóficas, passa-me aí o copo.
Noite adentro tudo era possível, mais um pouco de vinho e o amanhecer
seria definitivamente diferente no dia seguinte igual ao sempre igual.
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  • 1. E se, olhando atentamente, a realidade desliza e acontece A Ruptura do Improvável, então que ela sirva para dele se fazer o maior elogio! Tem de se ter cuidado e fazer muita atenção. Há que lhe dar extremoso carinho. De acordo assim se fará! Ter-se-á o maior cuidado!
  • 2. A torrente passa ao lado, que é modo de dizer: passa por baixo. O aqueduto não conduz a água. O aqueduto, vindo de nenhum lado e indo para lado algum, nem sequer ponte pode ser. Altaneiro, agigantado, mostra-se inútil. O aqueduto falhou. O Aqueduto Falhado Óleo sobre tela 90 X 70 2009
  • 3. Das mil e uma cores desembrulhado, o palácio ficou sem sítio para estar. Que é feito do jardim do lago espelhado, das alamedas, do calor e das sombras refrescantes?! Assim sozinho, o palácio não tem sítio para estar. Que é feito das mil e uma noites do palácio, do palácio desembrulhado ?! O Palácio Desembrulhado Óleo sobre tela 90 X 70 2009
  • 4. Uma vez, à noite, a paisagem partiu-se. O que havia antes perdeu sentido e o vale apresenta-se ufano e conta com firmeza a história do seu estar assim. Do antes guarda a nitidez das cores. Do agora mostra as fracturas que o definem. A Paisagem Quebrada Óleo sobre tela 90 X 70 2009
  • 5. A nascente nasce rio por baixo de uma paisagem pousada por camadas de folhas finas sobre folhas. Dizem que são extractos geológicos sobrepostos por convulsões agigantadas arrumadas e desarrumadas em sequências logicamente explicadas. Assim o cremos! A Nascente Óleo sobre tela 30 x 40 2008
  • 6. Sem Horizonte Óleo sobre tela 30 x 40 2008 O horizonte diz onde está o alto e o baixo, organiza os espaços, define a origem e dá sentido. Aqui falta o horizonte e não há sentido o que, em si mesmo, é a sua razão de ser.
  • 7. O Ornato Deslocado Óleo sobre tela 30 x 40 2008 Seria como se fosse a história de um ornato deslocado num sítio sem saber muito bem onde se colocar, se junto à nascente, se no não- horizonte ou se fica onde está, ali onde não pertence, ao pé do lírio vermelho que há muito deixou de ser flor. É que isto de ornatos nunca se pode dizer se ficam bem ou não.
  • 8. É a porta para a escada que não sobe, ela a porta que não abre. O que estava à volta e o que estava além interpenetraram-se e escada e porta são agora tão somente presenças diluidas na paisagem. A Porta para a Escada Aguarela sobre tela 80x100 2009
  • 9. Todos os enfeites: serpentinas, confeitos e balões, tecidos e muitos artefactos, mais lindas coisas e muitas delas e foram todas levadas para o bosque e tudo lá se deixou. É a festa do bosque, muito bonita e há muito celebrada em todos os arredores. A Festa do Bosque Óleo sobre tela 30 X 40 2009
  • 10. O rio fechou a cidade na tentativa de simetria. Na cidade dos homens, o rio em baixo procura arremedo de espelho lá no cimo. Tem verticais, muitas verticais para dizer que sobe e que há-de chegar lá ao alto. A cidade dos homens é assim: procura sempre o rio de cima. O Rio de Cima Óleo sobre tela 100 X 80 2009
  • 11. O livro sobre a mesa não se pode ler, não está escrito. Os objectos não têm sombras próprias nem projectadas. O candeeiro ilumina as superfícies afastadas. A figuração quebra-se nas perspectivas múltiplas. A biblioteca guarda a memória de si mesma. A Biblioteca Óleo sobre tela 80 X 100 2009
  • 12. De noite as portas do armário dão para a cidade. Acontece! Para a cidade obsessivamente iluminada em cada uma das janelas. Do rio parado sobe a névoa esverdeada dos limos e tinge os céus. Pois é: de noite as portas do armário dão para a cidade. As Portas do Armário Óleo sobre tela 80 X 100 2009
  • 13. Pasmado de tanto olhar, o cais naufragou, o que foi notícia em tudo quanto contou o episódio por todos falado. E ele caiu no fundo, mais o horizonte que é dele e olha pasmado para o que o cerca. O destino do cais é olhar o mar. O Cais Naufragado Óleo sobre tela, 80X100 2009  
  • 14. Pela noite adentro de tudo se falou. Concepções tautológicas do mundo dá- me a garrafa, visões filosóficas, mesmo teosóficas, passa-me aí o copo. Noite adentro tudo era possível, mais um pouco de vinho e o amanhecer seria definitivamente diferente no dia seguinte igual ao sempre igual. A Pela Noite Adentro Óleo sobre tela sobre tela 100 x80 2009
  • 15. Porfírio Alves Pires 2009 Em exposição de 3 de Outubro a 7 de Novembro de 2009 na Galeria Vieira Portuense Largo dos Lóios nº50 Porto