1. E se, olhando atentamente,
a realidade desliza e acontece
A Ruptura do Improvável,
então que ela sirva para dele se
fazer o maior elogio!
Tem de se ter cuidado e fazer
muita atenção. Há que lhe dar
extremoso carinho.
De acordo assim se fará!
Ter-se-á o maior cuidado!
2. A torrente passa
ao lado, que é
modo de dizer:
passa por baixo.
O aqueduto não
conduz a água.
O aqueduto, vindo
de nenhum lado e
indo para lado
algum, nem sequer
ponte pode ser.
Altaneiro,
agigantado,
mostra-se inútil.
O aqueduto falhou.
O Aqueduto Falhado Óleo sobre tela 90 X 70 2009
3. Das mil e uma cores
desembrulhado, o
palácio ficou sem sítio
para estar. Que é feito
do jardim do lago
espelhado, das
alamedas, do calor e
das sombras
refrescantes?! Assim
sozinho, o palácio não
tem sítio para estar.
Que é feito das mil e
uma noites do palácio,
do palácio
desembrulhado ?!
O Palácio Desembrulhado Óleo sobre tela 90 X 70 2009
4. Uma vez,
à noite, a paisagem
partiu-se.
O que havia antes
perdeu sentido e o vale
apresenta-se ufano
e conta com firmeza a
história do seu estar
assim.
Do antes guarda a
nitidez das cores.
Do agora mostra as
fracturas que o
definem.
A Paisagem Quebrada Óleo sobre tela 90 X 70 2009
5. A nascente nasce rio por baixo de uma paisagem pousada por
camadas de folhas finas sobre folhas.
Dizem que são extractos geológicos sobrepostos por convulsões
agigantadas arrumadas e desarrumadas em sequências
logicamente explicadas. Assim o cremos!
A Nascente
Óleo sobre tela
30 x 40 2008
6. Sem Horizonte
Óleo sobre tela
30 x 40 2008
O horizonte diz onde está o alto e o baixo, organiza os espaços,
define a origem e dá sentido.
Aqui falta o horizonte e não há sentido o que, em si mesmo, é a
sua razão de ser.
7. O Ornato Deslocado
Óleo sobre tela
30 x 40 2008
Seria como se fosse a história de um ornato deslocado num sítio sem
saber muito bem onde se colocar, se junto à nascente, se no não-
horizonte ou se fica onde está, ali onde não pertence, ao pé do lírio
vermelho que há muito deixou de ser flor. É que isto de ornatos
nunca se pode dizer se ficam bem ou não.
8. É a porta para a escada que não sobe, ela a porta que não abre. O que
estava à volta e o que estava além interpenetraram-se e escada e porta
são agora tão somente presenças diluidas na paisagem.
A Porta para a Escada
Aguarela sobre tela
80x100
2009
9. Todos os enfeites: serpentinas, confeitos e balões, tecidos e muitos
artefactos, mais lindas coisas e muitas delas e foram todas levadas para o
bosque e tudo lá se deixou. É a festa do bosque, muito bonita e há muito
celebrada em todos os arredores.
A Festa do
Bosque
Óleo sobre tela
30 X 40 2009
10. O rio fechou a
cidade na
tentativa de
simetria. Na
cidade dos
homens, o rio em
baixo procura
arremedo de
espelho lá no cimo.
Tem verticais,
muitas verticais
para dizer que
sobe e que há-de
chegar lá ao alto.
A cidade dos
homens é assim:
procura sempre o
rio de cima.
O Rio de Cima Óleo sobre tela 100 X 80 2009
11. O livro sobre a mesa não se pode ler, não está escrito. Os objectos não
têm sombras próprias nem projectadas. O candeeiro ilumina as
superfícies afastadas. A figuração quebra-se nas perspectivas múltiplas.
A biblioteca guarda a memória de si mesma.
A Biblioteca
Óleo sobre
tela
80 X 100
2009
12. De noite as portas do armário dão para a cidade. Acontece!
Para a cidade obsessivamente iluminada em cada uma das janelas. Do rio
parado sobe a névoa esverdeada dos limos e tinge os céus. Pois é: de noite
as portas do armário dão para a cidade.
As Portas do
Armário
Óleo sobre tela
80 X 100 2009
13. Pasmado de tanto olhar, o cais naufragou, o que foi notícia em tudo
quanto contou o episódio por todos falado. E ele caiu no fundo, mais o
horizonte que é dele e olha pasmado para o que o cerca.
O destino do cais é olhar o mar.
O Cais
Naufragado
Óleo sobre tela,
80X100
2009
14. Pela noite adentro de tudo se falou. Concepções tautológicas do mundo dá-
me a garrafa, visões filosóficas, mesmo teosóficas, passa-me aí o copo.
Noite adentro tudo era possível, mais um pouco de vinho e o amanhecer
seria definitivamente diferente no dia seguinte igual ao sempre igual.
A Pela Noite
Adentro Óleo
sobre tela sobre
tela
100 x80
2009
15. Porfírio Alves Pires
2009
Em exposição
de 3 de Outubro a 7 de Novembro de 2009
na
Galeria Vieira Portuense
Largo dos Lóios nº50 Porto