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Este suplemento faz parte integrante
do Diário Económico Nº 6202 e não pode ser vendido
separadamente | 26 Junho 2015
“Ofavorainda
éalgoinfluente
emPortugal”
PaulaNunes
PresidentedoTribunaldeContas,Guilherme
d’OliveiraMartinsétambémlíderdoConselhode
PrevençãodaCorrupção.Edefendequeénecessário
“combateraindiferença”paranãodarlugar“aos
medíocreseaoscorruptos”.
GOLFE
Os bastidores do
primeiro torneio
organizado pelo
Económico
TECNOLOGIA
Conheça uma
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topo chamada
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4 E+Fim-de-Semana Sexta-feira, 26 de Junho 2015
A
“Ninguémsozinhotemasolução
paraofuturodoPaís”
CONVERSAS COM VIDA PorMartaRangel
parentemente sisudo, não se compromete, mas
vai deixando recados nas entrelinhas. Defende
que é preciso combater a indiferença para não
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vitável”, mas podia ter sido executado de outra
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co-partidário estrito”, Guilherme d’Oliveira
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nhotemasoluçãoparaofuturodoPaís.”
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sóquemnãopensanãomudadeideias.Apolítica
éumaactividademuitonobre,umavezqueaindi-
ferença é algo muito perigoso. Os cidadãos, se fo-
rem indiferentes, dão lugar aos medíocres e aos
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tendem fundamentar a sua posição política ga-
rantindoadefesaesalvaguardadobemcomum.
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lias portuguesas duplicaram as suas poupanças e
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dimentodisponívelreduziu-se.Istoéimportante
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paraodesenvolvimentodasociedade.
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d’Oliveira Martins é presidente
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algo de influente” em Portugal.
FotografiasdePaulaNunes
Soares,
SáCarneiro
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sãoreferências
cívicascom
umpercurso
quemerece
onossorespeito
“
E+Fim-de-Semana 5Sexta-feira, 26 de Junho 2015
Mas sente que também faz política como
presidentedoTribunaldeContas?
O cidadão nunca deixa de fazer política no sen-
tido de tratar do bem da cidade como na ‘polis’
de etimologia grega. A política é tudo isto: par-
tidária, nos órgãos de soberania, no Estado, no
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ximogoverno…
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berania,tambémnãovouabordar.
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definidonaConstituiçãoéadequado.
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paísdecunhasedefavores?
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portuguesa, a ideia de que o favor ainda é algo
de influente, mas temos de entender também
aquilo que o Eurobarómetro nos diz – em Por-
tugal, apenas 1% das pessoas consideram que
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terço a um quarto da média europeia. E esse é o
elemento mais preocupante desse inquérito,
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menodacorrupção.
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mos nós bem, mas há países com níveis de per-
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Disse numa entrevista que a liberdade não
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indiferentes,
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doscidadãosnão
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dade sobretudo através do programa de
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correu bem e menos bem. O que correu bem? O
facto de, como a Irlanda, termos saído do resgate
e,nestemomento,precisamosdetirarasdevidas
lições para não correr o risco de voltar a cair
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tura, é um trabalho do Estado, da sociedade e
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ideia que a coligação está a lançar sobre as
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Não vou entrar no debate político-partidário es-
trito, mas numa perspectiva positiva: ninguém
sozinhotemasoluçãoparaofuturodoPaís.
Sãonecessárioscompromissos?
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Depois há a distinção política do dia-a-dia, os
programas que devem ser claros para as pes-
soas terem a possibilidade de escolher em li-
berdade, no fundo, a superioridade da socieda-
de democrática. Não é dizer que tudo é objecto
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ças políticas assumam um compromisso
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rável e, em simultâneo, é indispensável que
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cos para a escolha das pessoas em consciência.
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ção,democraciaéisto.
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Nestemomentoestamosemvésperasdeeleições
eestouoptimista,poisoscidadãosvãosercoloca-
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briedade. A austeridade, tal como foi associada
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teriorizadasenquantosobriedade.
naldeContasque,empermanência,fazumaava-
liação de como as coisas funcionam. Temos reco-
mendado, assinalado as questões que estão me-
nosbem,sancionamosquemcometeinfracçõese
sublinhamos uma preocupação: não podemos
cairnumaespéciedefatalismodoatraso.AHistó-
ria portuguesa diz que, em nove séculos, os mo-
mentosdeprovaçãoedificuldadetiveramrespos-
tas positivas. Uma vez pediram a Alexandre Her-
culano que enumerasse as razões para Portugal
existirenãoexistir.Erespondeu:talvezhajamais
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queremos,seremosenquantoquisermos.Háessa
determinação, pelo que a indiferença tem de ser
combatida, mobilizando e atraindo os melhores
paraavidacívicaepolítica.
Comoéqueissosefaz?
Dignificando-as, praticando uma real transpa-
rência que não se confunde com ‘voyeurismo’. A
transparência não é espreitar pelo buraco da fe-
chadura,masterainformaçãosobreoqueédoin-
teresse geral. Há questões que têm a ver com a
vida particular de cada um e essa protecção é in-
dispensável. Uma vida cívica sã separa aquilo que
édointeressegeraldaquiloqueéaprivacidade.
Sigilo fiscal ou dívidas à Segurança Social são
daprivacidadeoudointeressepúblico?
Estãonafronteira.Devemosdistinguiraquiloque
é do interesse geral e aquilo que é do puramente
particular.Refiroocasodobranqueamentodeca-
pitais ou das fraudes fiscais – são do interesse ge-
ral, não pode haver segredo. As instituições ban-
cárias e os instrumentos jurídicos de que dispo-
mos apontam muito claramente para que tudo
aquiloquepossaafectarasociedadenãopodeser
retirado da informação ou estar fora da transpa-
rência. Questão diferente é o domínio da privaci-
dadepuradecadaumquedeveserprotegida.
Sá Carneiro e Sousa Franco são duas grandes
referênciasparasinapolítica?
Sim. Mário Soares, Francisco Sá Carneiro, Antó-
nio Sousa Franco são referências cívicas com um
percursoquemereceonossorespeitoeestáaoní-
vel daquilo que de mais importante existe na so-
ciedadedemocráticaportuguesa.
Enquanto secretário de Estado e ministro no
governo de António Guterres, quais foram as
principaisdificuldadesquesentiu?
Tive condições muito importantes, pois, sendo
secretáriodeEstadodeumministrodequemsou
grande amigo, Marçal Grilo, e tendo feito toda a
minha vida académica como assistente e colabo-
rador muito próximo de Sousa Franco, que era
ministrodasFinanças,conteisemprecomgrande
capacidade de compreensão dele sobre a priori-
dade para a educação. A generalização da educa-
ção pré-escolar, a partir de 1995, teve um efeito
extraordinário e pela maneira como foi feita –
atravésdacomplementaridadeentreoEstadoea
iniciativa social com importância crucial das ins-
tituições particulares de solidariedade social; a
proximidade face às famílias e à sociedade. O Es-
tado é muito importante como catalisador, mas
nãopodeocuparolugardasociedade.Ofuturodo
Estado social vai corresponder à partilha entre o
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tuir o Estado pelo mercado, é garantir que haja
cadavezmaisiniciativadaprópriasociedade.
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çãodêemlugaramaisiniciativadasociedade.
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pendente,estounoexercíciodeumafunçãoqueé
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Entrev Guilherme d'Oliveira Martins

  • 1. Este suplemento faz parte integrante do Diário Económico Nº 6202 e não pode ser vendido separadamente | 26 Junho 2015 “Ofavorainda éalgoinfluente emPortugal” PaulaNunes PresidentedoTribunaldeContas,Guilherme d’OliveiraMartinsétambémlíderdoConselhode PrevençãodaCorrupção.Edefendequeénecessário “combateraindiferença”paranãodarlugar“aos medíocreseaoscorruptos”. GOLFE Os bastidores do primeiro torneio organizado pelo Económico TECNOLOGIA Conheça uma nova tecnologia de topo chamada OLED
  • 2. 4 E+Fim-de-Semana Sexta-feira, 26 de Junho 2015 A “Ninguémsozinhotemasolução paraofuturodoPaís” CONVERSAS COM VIDA PorMartaRangel parentemente sisudo, não se compromete, mas vai deixando recados nas entrelinhas. Defende que é preciso combater a indiferença para não dar lugar “aos medíocres e corruptos” e consi- dera que o programa de ajuda externa foi “ine- vitável”, mas podia ter sido executado de outra maneira. Sem querer entrar “no debate políti- co-partidário estrito”, Guilherme d’Oliveira Martins aponta um caminho: “Ninguém sozi- nhotemasoluçãoparaofuturodoPaís.” Começou a sua vida política à direita, como militante da JSD, mas acabou por alinhar maisàesquerda.Comofoiessepercurso? Acoerênciamanteve-se.Selerosmeustextosdos anos 70 sobre o pensamento social-democrata, vai verificar que há uma grande coerência em re- lação ao que eu pensava e hoje ainda penso. Mas sóquemnãopensanãomudadeideias.Apolítica éumaactividademuitonobre,umavezqueaindi- ferença é algo muito perigoso. Os cidadãos, se fo- rem indiferentes, dão lugar aos medíocres e aos corruptosquevãoocuparoslugaresdequempre- tendem fundamentar a sua posição política ga- rantindoadefesaesalvaguardadobemcomum. Sente que a sociedade portuguesa está mais indiferente? Sinto que tem respondido bem à crise. Costumo dizerqueoEstadodeveestaràalturadaquiloque a sociedade tem dado. Nos últimos anos, as famí- lias portuguesas duplicaram as suas poupanças e fizeram-noemcondiçõesadversas,poisoseuren- dimentodisponívelreduziu-se.Istoéimportante porque, se nos prevenirmos com recursos dispo- níveis para investir, podemos estar a contribuir paraodesenvolvimentodasociedade. OEstadotemsabidoestaràalturadessecom- portamentodoscidadãosportugueses? Falo na minha qualidade de presidente do Tribu- Entrou na vida política à direita e, pouco tempo depois, virou à esquerda, mas garante: “A coerência manteve-se.” Actualmente, Guilherme d’Oliveira Martins é presidente do Tribunal de Contas, do Centro Nacional de Cultura e do Conselho de Prevenção da Corrupção e não tem dúvidas em afirmar que “o favor ainda é algo de influente” em Portugal. FotografiasdePaulaNunes Soares, SáCarneiro eSousaFranco sãoreferências cívicascom umpercurso quemerece onossorespeito “
  • 3. E+Fim-de-Semana 5Sexta-feira, 26 de Junho 2015 Mas sente que também faz política como presidentedoTribunaldeContas? O cidadão nunca deixa de fazer política no sen- tido de tratar do bem da cidade como na ‘polis’ de etimologia grega. A política é tudo isto: par- tidária, nos órgãos de soberania, no Estado, no serviço público e, por isso, não sou indiferente àvidapolítica. Seoconvidassemparaserministronumpró- ximogoverno… Nãoestoujánessafase. E para a presidência da República? O seu nome tem sido apontado por algumas pes- soasdoPS… É um tema que, como titular de um órgão de so- berania,tambémnãovouabordar. Masimaginava-seaaceitarumdesafiodessa natureza? Nestemomento,não. Enquanto figura do Estado, o presidente da Repúblicadevesermaisinterventivo? O perfil do presidente da República como está definidonaConstituiçãoéadequado. É também presidente do Conselho de Pre- venção da Corrupção: Portugal ainda é um paísdecunhasedefavores? É um país que me preocupa nesse domínio. É indispensável perceber que há, na sociedade portuguesa, a ideia de que o favor ainda é algo de influente, mas temos de entender também aquilo que o Eurobarómetro nos diz – em Por- tugal, apenas 1% das pessoas consideram que tiveramcontactodirectoouindirectocomofe- nómeno da corrupção, o que representa um terço a um quarto da média europeia. E esse é o elemento mais preocupante desse inquérito, pois grande parte dos cidadãos não tem cons- ciência de que está paredes-meias com o fenó- menodacorrupção. Estáenraizadanasociedadeportuguesa? A sociedade portuguesa não é diferente de ou- tras. É verdade que, com o mal dos outros pode- mos nós bem, mas há países com níveis de per- cepção mais elevados do que os nossos, pelo que nãoentronessadiscussão. Disse numa entrevista que a liberdade não é um dado adquirido: temos perdido liber- Oscidadãos, seforem indiferentes, dãolugaraos medíocres eaoscorruptos Grandeparte doscidadãosnão temconsciência dequeestá paredes-meias comofenómeno dacorrupção “ dade sobretudo através do programa de ajuda externa? Esse programa foi inevitável. O resultado é que nos libertámos desse programa e isso é o mais importante. Eaexecuçãopodiatersidodeoutramaneira? Podia. A esse respeito aconselho que sejam lidos os relatórios do Tribunal de Contas que todos os anosacompanhouaaplicação,assinalandooque correu bem e menos bem. O que correu bem? O facto de, como a Irlanda, termos saído do resgate e,nestemomento,precisamosdetirarasdevidas lições para não correr o risco de voltar a cair numasituaçãodestas. Queliçõessãoessas? Em primeiro lugar, um grande rigor em relação às finanças públicas e ainda o cumprimento da sua verdadeira regra de ouro: só devemos con- trair empréstimos para realizar despesas de in- vestimento reprodutivas e criadoras de empre- go. Mas só cumpriremos esta regra de ouro se formos inovadores, criativos e capazes de criar riqueza, pois não podemos distribuí-la sem a criarmos. Mas é um trabalho de todos, não des- teoudaquelegoverno,destaoudaquelalegisla- tura, é um trabalho do Estado, da sociedade e domercado. Também disse que uma das lições a retirar da crise é que “não se resolvem problemas a atirar-lhes com dinheiro para cima”: é essa ideia que a coligação está a lançar sobre as propostasdoPS? Não vou entrar no debate político-partidário es- trito, mas numa perspectiva positiva: ninguém sozinhotemasoluçãoparaofuturodoPaís. Sãonecessárioscompromissos? Sim, em relação àquilo que é essencial, durável e vai corresponder ao médio e longo prazos. Depois há a distinção política do dia-a-dia, os programas que devem ser claros para as pes- soas terem a possibilidade de escolher em li- berdade, no fundo, a superioridade da socieda- de democrática. Não é dizer que tudo é objecto de compromisso – deixo três exemplos: educa- ção e ciência; saúde; estruturação do Estado, que não pode alienar aquilo que há de melhor. Não podemos criar condições de sangria dos melhoresvalorestodososdias. Maséissoquetemsucedido... Nãopodeacontecerenãoédeagora,temdeparar. O que é preciso para que as principais for- ças políticas assumam um compromisso para a reforma do Estado, Segurança So- cial, domínio fiscal? É fundamental que as coisas se coloquem nos justos termos, distinguindo-se aquilo que é du- rável e, em simultâneo, é indispensável que haja clareza em relação aos programas políti- cos para a escolha das pessoas em consciência. Há espaços de compromisso e de diferencia- ção,democraciaéisto. Etemhavidoessescompromissos? Nestemomentoestamosemvésperasdeeleições eestouoptimista,poisoscidadãosvãosercoloca- dosperanteasopçõeseescolheremliberdade. Quando se diz optimista isso significa o quê? Acredito nas forças da sociedade e na capacida- de desta para responder aos desafios que lhe sãocolocados. Por que razão diz que disciplina e austerida- desãocoisasdiferentes? Associo a disciplina a algo de permanente e à so- briedade. A austeridade, tal como foi associada aos programas de resgate e ajustamento, corres- ponde a medidas excepcionais que devem ser in- teriorizadasenquantosobriedade. naldeContasque,empermanência,fazumaava- liação de como as coisas funcionam. Temos reco- mendado, assinalado as questões que estão me- nosbem,sancionamosquemcometeinfracçõese sublinhamos uma preocupação: não podemos cairnumaespéciedefatalismodoatraso.AHistó- ria portuguesa diz que, em nove séculos, os mo- mentosdeprovaçãoedificuldadetiveramrespos- tas positivas. Uma vez pediram a Alexandre Her- culano que enumerasse as razões para Portugal existirenãoexistir.Erespondeu:talvezhajamais razões para não existirmos, mas somos porque queremos,seremosenquantoquisermos.Háessa determinação, pelo que a indiferença tem de ser combatida, mobilizando e atraindo os melhores paraavidacívicaepolítica. Comoéqueissosefaz? Dignificando-as, praticando uma real transpa- rência que não se confunde com ‘voyeurismo’. A transparência não é espreitar pelo buraco da fe- chadura,masterainformaçãosobreoqueédoin- teresse geral. Há questões que têm a ver com a vida particular de cada um e essa protecção é in- dispensável. Uma vida cívica sã separa aquilo que édointeressegeraldaquiloqueéaprivacidade. Sigilo fiscal ou dívidas à Segurança Social são daprivacidadeoudointeressepúblico? Estãonafronteira.Devemosdistinguiraquiloque é do interesse geral e aquilo que é do puramente particular.Refiroocasodobranqueamentodeca- pitais ou das fraudes fiscais – são do interesse ge- ral, não pode haver segredo. As instituições ban- cárias e os instrumentos jurídicos de que dispo- mos apontam muito claramente para que tudo aquiloquepossaafectarasociedadenãopodeser retirado da informação ou estar fora da transpa- rência. Questão diferente é o domínio da privaci- dadepuradecadaumquedeveserprotegida. Sá Carneiro e Sousa Franco são duas grandes referênciasparasinapolítica? Sim. Mário Soares, Francisco Sá Carneiro, Antó- nio Sousa Franco são referências cívicas com um percursoquemereceonossorespeitoeestáaoní- vel daquilo que de mais importante existe na so- ciedadedemocráticaportuguesa. Enquanto secretário de Estado e ministro no governo de António Guterres, quais foram as principaisdificuldadesquesentiu? Tive condições muito importantes, pois, sendo secretáriodeEstadodeumministrodequemsou grande amigo, Marçal Grilo, e tendo feito toda a minha vida académica como assistente e colabo- rador muito próximo de Sousa Franco, que era ministrodasFinanças,conteisemprecomgrande capacidade de compreensão dele sobre a priori- dade para a educação. A generalização da educa- ção pré-escolar, a partir de 1995, teve um efeito extraordinário e pela maneira como foi feita – atravésdacomplementaridadeentreoEstadoea iniciativa social com importância crucial das ins- tituições particulares de solidariedade social; a proximidade face às famílias e à sociedade. O Es- tado é muito importante como catalisador, mas nãopodeocuparolugardasociedade.Ofuturodo Estado social vai corresponder à partilha entre o Estado,asociedadeeomercado,masnãoésubsti- tuir o Estado pelo mercado, é garantir que haja cadavezmaisiniciativadaprópriasociedade. OEstadosocialdeveserreformado? Sim,demodoaqueocentralismoeaburocratiza- çãodêemlugaramaisiniciativadasociedade. Temsaudadesdapolítica? Apolíticanuncapodeestarforadenós.Souinde- pendente,estounoexercíciodeumafunçãoqueé de serviço público, em obediência ao princípio da separaçãodepoderes. HD Conversas com Vida, hoje, 22h00 Veja a entrevista com o presidente do Tribunal de Contas, Guilherme d’Oliveira Martins.