5. 5
“Cada ancião que morre é uma biblioteca que se queima...
A memória das pessoas da minha geração, sobretudo dos povos de
tradição oral, que não podiam apoiar-se na escrita, é de uma fidelida-
de e de uma precisão prodigiosas. Desde a infância éramos treinados
a observar, olhar e escutar com tanta atenção, que todo o aconteci-
mento se inscrevia na nossa memória como em cera virgem. Tudo lá
estava nos menores detalhes: o cenário, as palavras, os personagens
e até as roupas.”
AMADOU HAMPÂTÉ BA – escritor maliano
“En Afrique, quand un vieillard meurt, c’est une bibliothèque qui
brûle.
La mémoire des gens de ma génération, et plus généralement des
peuples de tradition orale qui ne pouvaient s’appuyer sur l’écrit, est
d’une fidélité et d’une précision presque prodigieuses. Dès l’enfance,
nous étions entraînés à observer, à regarder, à écouter, si bien que
tout évènement s’inscrivait dans notre mémoire comme dans une
cire vierge. Tout y était: le décor, les personnages, les paroles, jusqu’à
leurs costumes dans les moindres détails.”
AMADOU HAMPÂTÉ BA – écrivain malien
8. 8
Vou na mesma paisagem reduzida à sua pedra.
A vida veste ainda sua mais dura pele.
Só que aqui há mais homens para vencer tanta pedra,
para amassar com sangue os ossos duros desta terra.
JOÃO CABRAL DE MELO NETO – escritor brasileiro
9. 9
J’avance dans le même paysage réduit à sa pierre.
La vie revêt encore sa peau la plus dure.
Mais ici il y a davantage d’hommes pour vaincre tant de pierre,
Pour broyer avec du sang les durs os de cette terre.
JOÃO CABRAL DE MELO NETO – écrivain brésilien
11. 11
REGARDS CROISÉS EST UN projet capable
de nous sensibiliser autant par sa valeur
estéthique que par sa nature humaniste,
qui encourage le rapprochement entre des
peuples distants géographiquement, mais
ayant des liens culturels communs.
Cette nouvelle édition, qui présente au moyen
de textes et d’images l’échange culturel entres
enfants de la Serra da Capivara, dans l’État
du Piauí, au Brésil, et du village de Songho,
au Mali, conserve l’esprit des éditions pré-
cédentes. Du point de vue de l’actuelle poli-
tique extérieure brésilienne, cette iniciative
donne lieu à une grande satisfaction, car le
Projet intègre parfaitement l’objectif de ren-
forcement du dialogue entre le Brésil et les
Gouvernements et sociétés des nations afri-
caines et latino-américaines.
Les essais photographiques réunis dans cette
publication sont le résultat de moments d’in-
teractions ludiques et créatives, qui révèlent
des similarités entres les cultures des deux
pays, déjà visibles dans les jeux d’enfants,
et mettent en évidence, une fois de plus,
l’importance de la contribution africaine à la
formation de l’identité brésilienne.
Le Projet Regards Croisés, en offrant aux plus
jeunes le contact fructueux avec la diversité,
basé sur le respect et le bénéfice réciproques,
se joint aux efforts du Gouvernement, et
notamment de la diplomatie brésilienne, pour
encourager l’élargissement des frontières et la
promotion de la diversité culturelle.
ANTONIO DE AGUIAR PATRIOTA
Ministre des Relations Extérieures du Brésil
OLHARES CRUZADOS É UM projeto capaz de
nos sensibilizar tanto por seu valor estético
como por sua natureza humanista, ao pro-
mover a aproximação entre povos distantes
geograficamente, mas com laços culturais
comuns.
Esta nova edição, que apresenta por meio de
textos e imagens o intercâmbio cultural entre
crianças da Serra da Capivara, no Piauí, e da
aldeia Dogon de Songho, no Mali, mantém o
espírito das edições anteriores. Do ponto de
vista da atual política externa brasileira, isso
é motivo de grande satisfação, pois o proje-
to se coaduna perfeitamente com o objetivo
de fortalecer a interlocução do Brasil com
governos e sociedades de nações africanas e
latino-americanas.
Os ensaios fotográficos inseridos nesta publi-
cação são resultado de momentos de inte-
ração lúdica e criativa, que revelam seme-
lhanças entre as culturas dos dois países,
evidentes já nas brincadeiras de infância, e
ressaltam, mais uma vez, a importância da
contribuição africana para a formação da
identidade brasileira.
Ao permitir aos mais jovens o contato provei-
toso com a diversidade, baseado no respeito
e no benefício recíproco, o projeto Olhares
Cruzados une-se aos esforços do Governo, e
em particular da diplomacia brasileira, para
estimular o alargamento de fronteiras e a
promoção da diversidade cultural.
ANTONIO DE AGUIAR PATRIOTA
Ministro das Relações Exteriores do Brasil
12. 12
O QUE SE CONQUISTA ao completar a nona
edição do projeto Olhares Cruzados vai além
do reconhecimento das raízes negras do Brasil
e de nossa aproximação com o Continente
Africano. Dirce Carrion e a Imagem da Vida
promoveram o intercâmbio cultural de crian-
ças inseridas em realidades tão distantes,
que as semelhanças entre elas nos fazem
refletir sobre o poder da cultura africana em
si. Ela foi capaz de preservar-se através do
espaço e tempo e de permear a sociedade
brasileira de uma forma muito especial. O
reconhecimento desse poder enriquece nossa
identidade e provoca em nós uma expansão
de consciência sobre o universo cultural em
que vivemos.
No cenário internacional, observou-se nas
últimas décadas o crescimento do interesse
sobre os laços culturais que ligam o Brasil e
a África, tanto por parte dos governos quan-
to das sociedades civis. Isso se percebe no
aumento de programas de intercâmbio, na
expansão de investimento econômico inter-
nacional e na abertura de novas embaixadas.
A aproximação, no entanto, também mos-
tra o quanto ainda temos que aprender uns
com os outros. Por isso, hoje é obrigatório o
ensino da História Africana e da Cultura Afro-
Brasileira nas escolas brasileiras.
A Fundação Cultural Palmares é um órgão
do Governo Federal do Brasil, vinculado ao
Ministério da Cultura, que tem por missão
preservar e promover a cultura afro-brasi-
leira e que atua desde 1988 combatendo a
discriminação racial. Em prol desses obje-
tivos, o conhecimento mútuo entre brasi-
leiros e africanos é imprescindível. Assim,
desejamos construir uma Ponte Cultural
ligando o Brasil ao Continente Africano. Por
essa Ponte poderão tramitar ideias, línguas,
CE QUE NOUS GAGNONS avec l’achèvement de
la neuvième édition du projet Regards Croisés
va au-delà de la reconnaissance des racines
noires du Brésil et de notre rapprochement avec
le Continent Africain. Dirce Carrion et Imagem
da Vida ont mis en œuvre un échange culturel
entre des enfants insérés dans des réalités si
distantes, que les similarités entre eux nous
font réfléchir à propos du pouvoir de la culture
africaine en elle-même. Une culture qui a été
capable de se préserver à travers l’espace et
le temps, et d’imprégner la société brésilienne
d’une manière très spéciale. Reconnaître ce
pouvoir enrichit notre identité et provoque un
épanchement de notre conscience sur l’univers
culturel dans lequel nous vivons.
Sur la scène internationale, les dernières décé-
nies observèrent la croissance de l’intérêt sur les
liens culturels qui unissent le Brésil et l’Afrique,
autant de la part des gouvernements que de
celle des sociétés civiles. Ceci se remarque à
la multiplication des programes d’échanges,
à l’accroissement des investissements écono-
miques internationaux, ainsi qu’à l’institution
de nouvelles ambassades. Cependant, ce rap-
prochement nous montre aussi tout ce que
nous avons encore à apprendre les uns avec
les autres. De la sorte, l’enseignement de l’His-
toire Africaine et de la Culture Afro-Brésilienne
est désormais obligatoire dans les écoles bré-
siliennes.
La Fundação Cultural Palmares est une ins-
titution du Gouvernement Fédéral du Brésil,
sous l’égide du Ministère de la Culture, dont la
mission est de préserver et de promouvoir la
culture afro-brésilienne, et qui intervient depuis
1988 contre la discrimination raciale. Au regard
de ces objectifs, la connaissance mutuelle
entre Brésiliens et Africains est indispensable.
Ainsi, nous désirons construire un Pont Culturel
13. 13
artes, esportes e todas as demais manifes-
tações culturais que enriquecem e dão sen-
tido às nossas vidas.
Ao realizar cada edição do projeto Olhares
Cruzados e ao fomentar o intercâmbio sobre
o Atlântico, a Imagem da Vida celebra a for-
ça da cultura africana e coloca mais uma
pedra na construção de nossa Ponte Cultural.
A Fundação Cultural Palmares parabeniza
este lindo trabalho e agradece a todos os
envolvidos.
ELOI FERREIRA DE ARAUJO
Presidente da Fundação Cultural Palmares
reliant le Brésil au Continent Africain. Grâce à
ce pont, circuleront idées, langues, arts, sports,
et toutes autres manifestations culturelles qui
enrichissent et donnent un sens à nos vies.
À chaque nouvelle édition du projet Regards
Croisés, et à travers la mise en œuvre des
échanges d’un côté à l’autre de l’Atlantique,
Imagem da Vida célèbre la force de la culture
africaine, et apporte une pierre supplémentaire
à la construction de notre Pont Culturel. La
Fundação Cultural Palmares félicite cette œuvre
remarquable et remercie toutes les personnes
concernées.
ELOI FERREIRA DE ARAUJO
Presidente da Fundação Cultural Palmares
14. 14
SONGHO... ESTÁ IMPRESSA na memória
com a cor dos pergaminhos que amarelam
no tempo.
Pó, pedra e areia na aridez do Sahel são
espelhos que refletem o sol iluminando as
vozes das crianças. A alegria se abre em cada
sorriso enquanto o olhar persegue os movi-
mentos congelando os instantes, recortados
do cenário.
Moldando o barro elas vão dando forma a
sua história, agitando os pincéis extraem das
tintas as cores ausentes no Sahel.
Uma tranquilidade plena me envolve.
Contemplando-as tenho a certeza de muito
mais ter aprendido com as crianças do que
as ensinado. Os dias escorrem lentamente,
sempre iguais, as manhãs de um azul inten-
so dão lugar às tardes de um calor escaldan-
te que vai derretendo as sombras das mon-
tanhas, alongando-as até tocar o horizonte,
curvando o dia no encontro com a noite...
tempo de relógios sem ponteiros, que no
silêncio guardam a memória dos homens.
Serra da Capivara... impressa nas paredes
de pedra a história resiste nos desenhos
daqueles que as faziam de abrigo milhares
de anos antes do primeiro europeu pisar em
solo americano. Hoje as crianças ao revi-
sitarem as grutas reinventam sua ances-
tralidade nas cenas gravadas nas rochas
de arenito. Apropriadas do seu passado a
imaginação risca o espaço, simplifica as dis-
tâncias, atravessa o oceano para adivinhar
o lado de lá.
A curiosidade aguçada pelo conteúdo dos
saquinhos de pano de Songho que navegam
de um lado para outro na mesma paisagem,
levando e trazendo palavras, mensagens,
sementes, pedras e tudo aquilo que repre-
sente esses dois lados do mundo separados
SONGHO... EST IMPRIMÉE dans notre
mémoire, de la couleur des parchemins qui
jaunissent avec le temps.
Poussière, pierre et sable dans l’aridité du
Sahel, sont autant de miroirs reflétant le soleil
qui illumine les voix des enfants. Le bonheur
s’épanche dans chaque sourire tandis que le
regard suit les mouvements, immobilisant les
instants, retranchés du décor.
En modelant l’argile, ils façonnent leur his-
toire, en agitant leurs pinceaux, ils extraient
des pots de peinture les couleurs absentes du
Sahel.
Une immense tranquillité m’enveloppe. En les
contemplant, j’ai la certitude d’avoir beaucoup
plus appris avec les enfants qu’ils n’ont appris
avec moi. Les jours s’écoulent lentement, tou-
jours les mêmes, les matins d’un bleu intense
cédant la place aux après-midis torrides qui
font couler les ombres des montagnes, les
allongeant jusqu’à ce qu’elles touchent l’ho-
rizon, courbant le jour à la rencontre de la
nuit... un temps de montres sans aiguilles,
qui, dans le silence, gardent la mémoire des
hommes.
Serra da Capivara... imprimée sur les parois
de pierre, l’histoire résiste sur les dessins de
ceux qui en faisaient leur refuge des milliers
d’années avant que le premier Européen ne
mette le pied sur le sol américain. Aujourd’hui,
quand ils visitent les grottes, les enfants réin-
ventent leur ancestralité à partir des scènes
gravées sur les roches d’arénite. S’appropriant
leur passé, leur imagination esquisse l’espace,
simplifie les distances, traverse l’océan pour
deviner l’autre côté.
La curiosité aiguisée par le contenu des
pochettes en tissus de Songho qui naviguent
d’un côté à l’autre à travers les mêmes pay-
15. 15
no mapa, que se reconhecem agora na troca
de olhares.
Identificando semelhanças e percebendo
diferenças dos seus universos tão distantes
e tão próximos.
Se nós adultos fôssemos humildes o suficien-
te para ouvir as vozes das crianças, e con-
tinuássemos a perceber o mundo da forma
como elas o veem, reaprenderíamos o que é
realmente essencial e verdadeiro.
DIRCE CARRION
sages, emmenant et rapportant paroles, mes-
sages, graines, pierres, tout ce qui repésente
ces deux côtés du monde, séparés sur la
carte, qui se reconnaissent dorénavant dans
l’échange de regards. Identifiant les ressem-
blances et ressentant les différences de leurs
univers si distants et si proches.
Si nous, adultes, étions suffisamment humbles
pour écouter les voix des enfants et conti-
nuions à percevoir le monde de la manière
dont ils le voient, nous réapprendrions ce qui
est réellement essentiel et véritable.
DIRCE CARRION
32. 32
CRONOLOGIA DO PROJETO
O livro e o documentário Brasil Mali Olhares
Cruzados viabilizado pela Fundação Cultural
Palmares em 2011, é uma iniciativa da OSCIP
Imagem da Vida, que teve início em janeiro
de 2007, com recursos próprios e o apoio de
pessoas que se engajaram no projeto como
voluntárias.
A decisão de estabelecer uma troca de olha-
res entre a Serra da Capivara e o País Dogon
se deu pela identidade visual que remete às
mesmas paisagens, já a escolha da aldeia de
Songho deveu-se ao fato de tanto aqui quan-
to lá as paredes de pedra serem testemunho
da ocupação humana, sua história, hábitos e
tradições.
Em fevereiro de 2007 fomos introduzidos na
aldeia de Songho por Denise Barros, antro-
póloga e terapeuta ocupacional que tem
realizado estudos na região desde a década
de 1990. Naquele primeiro contato, apresen-
tamos o projeto Olhares Cruzados, falamos
sobre o Brasil, a Serra da Capivara, sobre
a ideia de aproximar esses dois lados do
Atlântico, e iniciamos o trabalho com um gru-
po de crianças da escola local, com o apoio de
M. Kimbassa Dolo – seu diretor. Debruçados
sobre os livros e as fotos eles foram se reco-
nhecendo na mesma paisagem, e, para se
apresentarem às crianças do Piauí fizeram
desenhos e costuraram saquinhos com o
algodão tecido na própria aldeia. Dentro deles
colocaram pedrinhas, sementes, paus, e tudo
aquilo que neles coubesse e pudesse mostrar
como é o seu cotidiano.
Em dezembro de 2007 viajamos para a Serra
da Capivara, e entregamos os saquinhos das
crianças de Songho para as de São Raimundo
Nonato que, curiosas, os vasculharam e os
devolveram recheados de presentes que
CHRONOLOGIE DU PROJET
Le livre et le documentaire vidéo Brésil-Mali
Regards Croisés, réalisés par la Fundação
Cultural Palmares en 2011, est une initiative
de l’OSCIP Imagem da Vida qui a été entre-
prise en janvier 2007 grâce à des ressources
de l’institution et à l’appui de personnes qui se
sont engagées bénévolement dans le projet.
La décision d’établir un échange de regards
entre la Serra da Capivara et le pays Dogon
relève de l’identité visuelle, des mêmes pay-
sages. En revanche, le choix du village de
Songho s’est fait en raison des parois de pierre
qui, ici comme là-bas, sont les témoins de
l’occupation humaine, de son histoire, de ses
habitudes, de ses traditions.
En février 2007, nous avons été introduits
dans le village de Songho par Denise Barros,
anthropologue et thérapeute occupationnelle,
qui effectue des études dans la région depuis les
années 1990. Au cours de ce premier contact,
nous avons présenté le Projet Regards Croisés,
nous avont raconté le Brésil et la Serra da
Capivara, et nous avons discuté avec la com-
munauté à propos de l’intention de rapprocher
ces deux côtés de l’Atlantique. L’idée a été bien
reçue, et grâce à l’appui de M. Dolo, le directeur
de l’école locale, nous avons entamé les travaux
avec un groupe d’élèves. Penchés sur les livres
et les photos, les enfants de Songho se sont
reconnus dans le même paysage et, pour se
présenter aux enfants de Piauí, ils ont fait des
dessins et ont cousu des pochettes dans du cot-
ton tissé au village, les remplissant de cailloux,
graines, bouts de bois, tout ce qui rentrait
dedans et qui pouvait illustrer leur quotidien.
En décembre 2007, nous sommes allés à la
Serra da Capivara pour mettre en place le Projet
avec un groupe d’enfants du Projeto ProArte
Fundham. Nous avons remis les pochettes en
33. 33
pudessem traduzir o seu entorno. O grupo
participou de oficinas de fotografia, desenho e
produção de maquetes, aí captaram imagens
e reproduziram suas casas para mostrar às
crianças de Songho como é a vida deste lado
do Atlântico.
Com a bagagem recheada de objetos e ima-
gens das crianças da Serra da Capivara,
retornamos a Mali no mês de janeiro de 2008,
levando conosco as fotografias, reproduções
das casas, cartas e saquinhos. Por sua vez as
crianças dogon participaram de oficinas e rea-
tissu des enfants de Songho à ceux de São
Raimundo Nonato. Curieux, ils ont examiné leur
contenu et les ont rendus, remplies d’objets
représentant leur propre environnement. Le
groupe a participé à des ateliers de photogra-
phie, de dessin et de confection de maquettes.
Ils ont enregistré des images et représenté leurs
maisons pour montrer à leurs frères de Songho
comment était la vie de ce côté de l’Atlantique.
Les objets et les photographies des enfants de
la Serra da Capivara dans nos bagages, nous
sommes retournés au Mali en 2008, vers la fin
34. 34
lizaram atividades semelhantes às da Serra
da Capivara. Felizes, esvaziaram os saqui-
nhos de pano para mais uma vez enchê-los
com fragmentos que pudessem materializar
para as crianças brasileiras o seu coidiano.
Fotografaram livremente, e, com o mesmo
barro do qual são feitas suas casas, moldaram
miniaturas delas.
A ideia era que o livro e o documentário em
vídeo fossem produzidos ainda em 2008, mas
isso não se concretizou, e para não interrom-
per o contato retornamos a São Raimundo
Nonato no mês de novembro do mesmo ano
para apresentar os resultados das oficinas
realizadas na aldeia de Songho. Novamente
foram entregues os saquinhos, que mais uma
vez foram esvaziados e recheados de objetos
e mensagens para refazer a viagem a Songho.
Transcorridos mais de três anos do último
contato estabelecido entre as crianças de
Songho e de São Raimundo Nonato, em 2011,
conseguimos o apoio da Fundação Cutural
Palmares para finalizar o projeto, avaliamos
então que não seria justo furtar às crianças
que tinham participado a oportunidade da
releitura sobre a experiência vivida com o pro-
jeto, pois sabemos que na passagem da infân-
cia para a adolescência a vida é repleta de
descobertas, mudanças físicas e psicológicas.
Conscientes de que nessa fase da vida três
anos representam uma eternidade, decidimos
que antes de finalizar o livro seria necessário
voltar a Songho e à Serra da Capivara para
que as crianças da época, hoje jovens adul-
tos, tivessem a oportunidade de revisitar o
intercâmbio, e que o livro que vão receber
seja atual e não apenas a lembrança de uma
experiência vivida por elas no passado.
Retornamos à aldeia de Songho em abril de
2011, levando na bagagem as cartas e os
du mois de janvier. À leur tour, les enfants du
village de Songho ont participé à des ateliers
dans lesquels ils ont réalisé des activités sem-
blables. Ils ont reçu les pochettes en tissu avec
joie, les ont vidées pour les remplir à nouveau
et les renvoyer au Brésil. Parcourant les che-
mins de leur village, ils ont fait des photos à
leur guise. Ils ont aussi modelé des miniatures
de leurs maisons avec la même argile dont
sont bâtis leurs propres foyers.
Notre intention était que le livre et le docu-
mentaire vidéo soient réalisés encore en 2008,
ce qui ne s’est pas concrétisé. Afin de ne pas
interrompre le contact entre les enfants brési-
liens et maliens, nous sommes revenus à São
Raimundo Nonato au mois de novembre de la
même année, pour rapporter les albums de
photographies à leurs auteurs, présenter les
résultats des ateliers mis en œuvre à Songho
et, une fois de plus, remettre les pochettes,
qui furent vidées et remplies de nouveaux
objets destinés aux enfants dogons.
Ce ne fut qu’en 2011 que furent obtenues les
ressources pour la finalisation du Projet – soit
plus de trois ans après le dernier contact avec
les enfants de Songho – et nous avons estimé
qu’il serait judicieux d’offrir aux enfants parti-
cipants une opportunité de relecture des modi-
fications vécues au cours de cette période, car
nous savons bien que le passage de l’enfance à
l’adolescence est chargé de découvertes et de
transformations physiques et phychologiques.
Nous sommes donc repartis à Songho en avril,
et à la Serra da Capivara en mai 2011, pour
que les enfants d’alors, désormais de jeunes
adultes, puissent renouveler l’échange, et que
le livre réalisé accompagne les transformations
survenues dans leur processus de croissance.
Dans nos bagages, les lettres et les cadeaux
dans les pochettes déjà salies par le temps et
35. 35
presentes dentro dos saquinhos já encardidos
pelo tempo e manuseio. Entretanto, mesmo
tendo chegado com considerável atraso não
causaram o menor impacto, foram recebidos
com alegria pelos jovens destinatários das
trocas interatlânticas.
Em Songho, os meninos e meninas que inicia-
ram o projeto já estavam vivendo um outro
momento de suas vidas, muitos dos garotos
já tinham trocado a sua aldeia pela capital,
Bamako. Alguns para estudar, outros na
busca de oportunidades de emprego. Das 49
crianças que entre 2007 e 2008 participaram
do projeto Olhares Cruzados, conseguimos
localizar menos da metade, parte em Songho,
parte em Bamako. A surpresa do reencontro
com o passado iluminou o rosto de muitos
deles, hoje já distantes das imagens congela-
das nas fotografias.
No retorno de Mali para São Raimundo
Nonato convidamos Sumailá Karembe para
vir ao Brasil. Foi o primeiro dogon de Songho
que pôde reconhecer neste outro lado do
Atlântico as paisagens e plantas que reme-
tem à sua aldeia. A vocação turística e arque-
ológica da região da Serra da Capivara, vem
trazendo à população um relativo desenvolvi-
mento, o que faz com que o êxodo não seja
tão expressivo como no restante do estado
do Piauí. Em São Raimundo Nonato fomos
recebidos pelas crianças que participaram
do projeto, e que, mesmo estando no final
da adolescência, demonstram uma alegria
infantil com a possibilidade da retomada do
contato, que, muito provavelmente, não será
feito através dos saquinhos que foram e vol-
taram tantas vezes, mas provavelmente pela
internet que, superando a resistência das
culturas tradicionais, atravessa muito mais
rapidamente o Atlântico.
les manipulations. Malgré leur retard considé-
rable, les présents furent reçus avec enthou-
siasme par les destinataires des échanges
transatlantiques.
La plupart des garçons et des filles qui avaient
participé au Projet en 2007 étaient à un autre
stade de leur vie. Plusieurs garçons avaient
quitté leur village pour Bamako, la capitale.
Les uns pour y faire des études, les autres à la
recherche de travail. Du groupe de 49 enfants
qui ont pris part au Projet Regards Croisés,
nous n’avons réussi à en localiser que moins
de la moitié, une partie à Songho, l’autre à
Bamako. La surprise de la rencontre avec le
passé illumina le visage de beaucoup d’entre
eux, aujourd’hui bien éloignés des images
figées sur les photographies.
Pour mettre en œuvre l’échange de regards,
nous avons invité à la Serra da Capivara
Sumaila Karembe –le premier Dogon de
Songho à retrouver de cet autre côté de l’At-
lantique les paysages et les plantes qui rapel-
lent son village.
La vocation touristique et archéologique le la
région de la Serra da Capivara offre un déve-
loppement relatif à la population locale, multi-
pliant les opportunités de travail local, ce qui
fait que l’exode populationnel n’est pas aussi
significatif que dans le reste de l’État de Piauí.
Nous avons été en mesure de réunir à São
Raimundo Nonato la plupart des participants
du Projet, qui ont accueilli leur invité avec
joie. La reprise du contact a rouvert la possi-
bilité de l’échange, qui, certainement, ne se
poursuivra pas à travers les pochettes en tissu
qui ont tant voyagé, mais grâce aux possibi-
lités offertes par les nouvelles technologies
qui, surmontant la résistance des cultures
traditionnelles, traversent l’Atlantique bien
plus rapidement.
49. 49
O PROJETO OLHARES CRUZADOS E O
PERTENCIMENTO HUMANO
O humano, para se tornar humano, busca per-
tencimento. Encontramo-nos e nos perdemos
no outro, com o outro, pelo outro, e até contra
o outro. E isso ocorre de diferentes formas,
em diferentes culturas e em diferentes luga-
res. Inventamos identidades, nos recriarmos,
nos apropriamos de culturas e, somente nelas,
existimos. Porém, a vida é dinâmica e não cabe
em uma única cultura, assim como nenhum
processo educativo dá conta das possibilidades
de recriação de si e do mundo.
Quando vivemos em pequenos grupos, a res-
ponsabilização pela educação que dá senso de
pertencimento aos infantes tende a ser com-
partilhada entre os membros da comunidade.
Todos se conhecem e há maior controle social
sobre a vida de cada um. A individuação é sin-
gularizada com certa predominância de interes-
ses coletivos. O que não acontece nos centros
urbanos, onde os modos de vida e de perten-
cimento se complexificam. Diminui o controle
social sobre a vida de cada pessoa, e a respon-
sabilização pela educação das crianças passa a
ser mais difusa. A escola surge neste cenário
como o espaço artificial institucionalizado com o
papel de dar às crianças condições de se apro-
priarem de conhecimentos e se reconhecerem
em ambiências distintas, empoderando-as para
a (re)criação de si e do mundo.
Neste contexto, possibilitar o entrecruzamen-
to de olhares entre estudantes da Serra da
Capivara, no interior do nordeste brasileiro,
e da Vila de Songho, no interior do Mali, é
oferecer outras imagens que possam ajudar
as comunidades a se olharem e mirarem
seus processos educativos. O pertencimento
à aldeia também passa pelo reconhecimento
do diverso. Não é por acaso que a etimologia
LE PROJET REGARDS CROISÉS
L’APPARTENANCE HUMAINE
L’humain, pour devenir humain, recherche
l’appartenance. Nous nous retrouvons et nous
nous perdons dans l’autre, avec l’autre, voire
contre l’autre. Et ceci se déroule de différentes
manières, en différentes cultures et en diffé-
rents lieux. Nous inventons des identités, nous
nous recréons, nous nous approprions des
cultures et, uniquement en elles, nous existons.
Cependant, la vie est dynamique et ne relève
pas d’une seule culture, de même qu’aucun
processus éducatif ne peut se charger des pos-
sibilités de recréation de soi et du monde.
Quand nous vivons en petits groupes, la res-
ponsabilité de l’éducation, qui apporte un sens
d’appartenance aux enfants, tend à être parta-
gée entre les membres de la communauté. Tous
se connaissent et il existe un plus grand contrôle
social sur la vie de chacun. L’individuation est
singularisée avec une certaine prédominance
d’interêts collectifs, contrairement aux centres
urbains où les modes de vie et d’appartenance
sont bien plus complexes. Le contrôle social sur
la vie de chaque personne se relâche, et la res-
ponsabilité de l’éducation des enfants devient
plus diffuse. L’école apparaît dans cette scène
comme l’espace artificiel institutionnalisé ayant
le rôle d’apporter aux enfants des moyens
pour qu’ils s’approprient des connaissances
et se reconnaissent dans des environnements
distincts, les renforçant pour la (re)création de
soi et du monde.
Dans ce contexte, permettre l’entrecroisement
de regards entre des étudiants de la Serra da
Capivara, dans la région Nord-Est du Brésil,
et du village de Songho, au Mali, c’est offrir
d’autres images qui puissent aider les com-
munautés à se regarder et contempler leurs
processus éducatifs. L’appartenance au village
50. 50
da palavra “respeito” vem do latim respecta-
re, ou seja, “re-olhar”. Só respeitamos a nós
mesmos e aos outros se conseguimos olhar
para as realidades de uma maneira ainda não
vista. Muitas vezes, desejamos ser iguais pelo
direito de sermos diferentes. Outras tantas,
queremos ser diferentes para alcançar o senso
de igualdade. Existem inúmeras semelhanças
geográficas e similitudes culturais em ambos
os lugares. Contudo, imensas diferenças tam-
bém nos fazem pensar.
De maneira especial, há uma diferença que nos
chama muita atenção. Um jovem de Songho
(que, assim como os chefes da aldeia, não des-
gruda de seu celular em tempo algum) pode
nos levar até inscrições rupestres milenares
e explicar suas simbologias. Não porque ele
tenha aprendido isso na escola, mas porque
ainda são importantíssimos os rituais de ini-
ciação de cultura tradicional, os quais, entre
outras coisas, também ajudam a contornar
desenhos semelhantes, no esforço numinoso
de oferecer pertencimento aos seus jovens.
Enquanto isso, não há mais grupos indígenas
no estado do Piauí. Há, no entanto, um esfor-
ço intelectual de antropólogos engajados que
tentam levantar hipóteses sobre o que signifi-
cavam as inscrições rupestres que existem na
Serra da Capivara, compartilhando tais conhe-
cimentos, por meio da educação formal, aos
jovens habitantes de São Raimundo Nonato.
Não há dúvidas de que o projeto Olhares
Cruzados amplia referenciais de olhares que
possibilitam novas formas de pertencimento.
Porém, ao conversarmos com os jovens de
São Raimundo e de Songho que participaram
do projeto, algumas perguntas mexem com
nossa alma: que tipo de pertencimento é ofe-
recido aos estudantes por meio dos processos
educativos formais? Que africanidades são
passe aussi par la reconnaissance du divers.
Ce n’est pas par hasard que le mot “respect”
provient du latin respectare, c’est-à-dire, re-
regarder. Nous ne respectons nous-mêmes
et autrui que si nous parvenons à regarder
les réalités d’une manière non encore vue.
Souvent, nous désirons être égaux pour le
droit d’être différents. D’autres fois, nous
voulons être différents pour atteindre le sens
d’égalité. D’innombrables ressemblances géo-
graphiques et similarités culturelles existent
des deux côtés. Néanmoins, d’immenses diffé-
rences font aussi réfléchir.
D’une manière spéciale, il y a une différence
qui nous attire beaucoup l’attention. Un jeune
homme de Songho (qui, comme les chefs du vil-
lage, ne lâche pas une seconde son téléphonne
portable) nous a conduit jusqu’aux inscriptions
rupestres millénaires, et nous a expliqué leur
symbolisme. Non pas parce qu’il l’avait appris
à l’école, mais parce qu’au cours des cérémo-
nies rituelles de circoncision, les peintures sont
renouvelées par les jeunes garçons. En effet,
les rites d’initiation de la culture traditionnelle
sont encore très importants, dans l’effort numi-
neux d’offrir une appartenance à ses jeunes.
En revanche, il n’y a plus de groupes indigènes
dans l’État de Piauí. Il y a, toutefois, un effort
intellectuel d’anthropologues engagés, qui se
sont attachés à soulever des hypothèses sur
la signification des inscriptions rupestres de la
Serra da Capivara, partageant leurs connais-
sances, à travers l’éducation formelle, avec les
jeunes habitants de São Raimundo Nonato.
Il n’y a pas de doute que le Projet Regards
Croisés élargit les référentiels de regards qui
permettent de nouvelles formes d’apparte-
nance. Mais au cours des conversations avec les
jeunes de São Raimundo Nonato et de Songho
qui ont participé au Projet, certaines questions
51. 51
nous ont touché l’âme. Quel type d’apparte-
nance est offert aux étudiants par les processus
d’éducation formelle? Quelles africanités sont
partagées et (re)crées quand on s’aperçoit que
“l’Afrique” ne se trouve pas dans un continent,
mais dans la reconaissance identitaire qui s’ac-
complit à travers les relations humaines tout
au long de l’histoire? Comment reconnaître des
appartenances communautaires et globales en
même temps? Comment des notions d’apparte-
nances culturelles, qui impliquent des relations
hiérarchiques rigides, coexistent et s’opposent
à des générations immergées dans un monde
chaque fois plus mondialisé, connectif et simul-
tané? Et, surtout, comment pouvons-nous nous
reconnaître dans tous ces mondes qui tiennent
dans ce que nous appellons “monde”?
PR. DR. ALEXSANDRO DOS SANTOS MACHADO
Professeur de psychologie de l'Université Fédérale
du Vale do São Francisco (UNIVASF)
compartilhadas e (re) criadas ao perceber que
a “África” não está em um continente, mas no
reconhecimento identitário que ocorre por meio
das relações humanas ao longo da história?
Como reconhecer pertencimentos comunitários
e globais ao mesmo tempo? Como noções de
pertencimentos culturais que pressupõem rela-
ções hierárquicas rígidas coexistem e conflitu-
am com gerações imersas em um mundo cada
vez mais globalizado, conectivo e simultâneo?
E, sobretudo, como podemos nos reconhecer
nesses tantos mundos que cabem dentro disso
que chamamos de “mundo”?
PROF. DR. ALEXSANDRO MACHADO
Psicólogo, professor da UNIVASF
(Universidade Vale do São Francisco)
54. 54
A ARTE QUE NOS UNE – OLHARES CRUZADOS
ENTRE SERRA DA CAPIVARA E O POVO DOGON
O Parque Nacional Serra da Capivara hoje
é uma realidade, modelo de preservação de
sítios arqueológicos repleto de arte pintada
e gravada nas paredes de seus abrigos de
rocha. E, por meio da pesquisa, da infraes-
trutura e das ações sociais que a FUMDHAM,
Fundação Museu do Homem Americano, com
o apoio de instituições governamentais e pri-
vadas, nacionais e internacionais e a comuni-
dade local, construímos dia a dia, condições
melhores para a natureza, a cultura, a nossa
gente.
Nossa equipe é interdisciplinar e, com a preo-
cupação de proteger os patrimônios cultural e
natural da região sudeste do Estado do Piauí,
realizamos atividades de pesquisa, manejo e
desenvolvimento regional desde os anos 70.
Iniciamos em 2000 um trabalho pedagógi-
co centrado em arte-educação, em horá-
rios extracurriculares, chamado PRÓ-ARTE
FUMDHAM. Juntos, educandos, educadores,
voluntários, patrocinadores, funcionários e
comunidade, formamos um time que se forti-
fica a cada ação. Nossa intenção é assegurar
o direito de integridade e dignidade para as
comunidades da região. Estamos conseguindo
criar momentos de crescimento, socialização e
conhecimento e, alguns deles já são agentes
multiplicadores em seus bairros e povoados.
E estão fora das drogas, do alcoolismo e da
prostituição infantil, comum e devastadora
não só nesta região. Lutamos para manter
essas atividades e contamos com o apoio dos
que acreditam, como nós, que somente com
educação pública de qualidade, ao alcance
de todos, mudamos um país, promovendo,
realmente, a igualdade social.
L’ART QUI NOUS UNIT – REGARDS CROISÉS
ENTRE LA SERRA DA CAPIVARA ET LE PEUPLE
DOGON
Le Parc National Serra da Capivara est
aujourd’hui une réalité, un modèle de pré-
servation de sites archéologiques débordant
d’œuvres d’art peintes et gravées sur les
parois des abris sous la roche. Et, grâce aux
recherches, à l’infrastructure et aux actions
sociales menées par la FUMDHAM, Fundação
Museu do Homem Americano, comptant avec
l’appui d’institutions gouvernementales et pri-
vées, nationales et internationales, ainsi que de
la communauté locale, nous avons créé, jour
après jour, des meilleures conditions pour la
nature, la culture, pour nos gens.
Notre équipe étant interdisciplinaire et, dans
le souci de protéger le patrimoine culturel et
naturel de la région Sud-Est de l’État de Piauí,
nous avons réalisé des activités de recherche,
d’exploitation et de développement régional
depuis les années 70.
Nous avons inauguré en 2000 un programme
pédagogique extra-curriculaire d’art-éducation,
appelé PRÓ-ARTE FUMDHAM. Tous ensemble,
élèves, enseignants, bénévoles, parrains, fonc-
tionnaires, communauté, nous formons une
équipe qui se renforce à chaque action. Notre
intention est d’assurer aux communautés de
la région le droit à l’intégrité et à la dignité.
Nous sommes parvenus à créer des moments
de croissance, de socialisation et de savoir.
Des actions qui ont fructifié, se multipliant
dans d’autres quartiers et d’autres villages.
Éloignant drogues, alcoolisme et prostitution
infantile, fléaux communs et dévastateurs,
présents aussi dans cette région. Nous luttons
pour maintenir ces activités et comptons sur
l’appui de ceux qui croient, comme nous, que
ce n’est qu’à travers une éducation publique de
55. 55
Tivemos a oportunidade de nos miscigenar,
trocar olhares entre crianças e jovens de
dois continentes, África e América, ligados
desde a Pangéia, passando pela Pré-história,
chegando aos dias de hoje com o projeto
Olhares Cruzados. As fotos, os depoimentos
e, principalmente, a emoção de cada um,
foram únicas, o que vemos e o que lemos
fazem parte da memória, das nossas origens
culturais transatlânticas que nos faz refletir
sobre nossos papéis neste passado-futuro.
Como podemos proporcionar um mundo
melhor oferecendo oportunidades iguais a
todos, sem discriminação?
PROFA. DRA. NIÉDE GUIDON
Antropóloga, presidente da
Fundação do Homem Americano
qualité à la portée de tous que nous changeons
un pays, engendrant une réelle égalité sociale.
Nous avons eu l’occasion de nous mêler,
d’échanger des regards, entre enfants et jeunes
de deux continents, l’Afrique et l’Amérique, unis
depuis la Pangée, passant par la préhistoire,
jusqu’à nos jours, grâce au Projet Regards
Croisés. Les photos, les histoires et, surtout,
l’émotion de chacun, furent uniques. Ce que
nous voyons, ce que nous lisons fait partie de
la mémoire, de nos origines transatlantiques,
nous faisant réfléchir sur nos rôles dans ce
passé-futur. Comment pouvons-nous assurer
un monde meilleur qui puisse offrir les mêmes
opportunités à tous, sans discrimination?
PR. DR. NIÉDE GUIDON
Anthropologue, Présidente de la
Fundação do Homem Americano
57. 57
MUITO ANTIGAMENTE, mais de 100 milhões
de anos atrás, na época do Gondwana a
massa continental austral era uma só e
havia continuidade entre a África equatorial
e América do Sul. Ligadas estavam, fruto de
uma mesma história geológica, como ainda
hoje se assemelham as rochas que susten-
tam a terra e o homem de ambos os lados
do Atlântico.
Após, lentamente, afastaram-se, as rochas,
as pedras, a terra que dela descendem
guardam a memória dessa antiga fraterni-
dade. Espécies de diferentes tipos povoaram
ambientes que iam se diferenciando, pelo cli-
ma, pela influencia das correntes marinhas,
pelos ventos.
O homem veio, só depois, quando a diversi-
dade estava tão arraigada que nem sequer
era imaginável a existência do além-mar. Os
primeiros hominídeos da mais antiga pré-
história africana, que datam de pelo menos
dois milhões de anos, foram à busca de
outras terras, eles e provavelmente os bichos
que os rastreavam. Ásia e Europa, a segun-
da nada mais que um pequeno apêndice da
primeira, hospedaram a rápida evolução de
muitas espécies diferentes de humanidade.
Todas com antigas origens africanas, e mui-
tas com as novas mudanças apareceram na
Eurásia; porém a África nunca parou: conti-
nuou produzindo diversidade física e cultural,
evolução, criatividade biológica e social. E
a América restou um paraíso sem o perigo-
so enfeite da presença humana. Quando o
povoamento já estava bem desenvolvido nas
costas do Pacifico, em toda a África isso já
ocorria há tempos. Alguns povos – poucos e
várias vezes – estiveram em busca da última
grande terra que faltava: a América, que per-
maneceu desabitada até há cerca de 100.000
IL Y A TRÈS LONGTEMPS, plus de 100 millions
d’années auparavant, à l’époque du Gondwana,
la masse continentale australe n’était qu’une,
et l’Afrique Équatoriale était reliée à l’Amérique
du Sud. Deux continents unis, fruits d’une
même histoire géologique, de même qu’encore
aujourd’hui se ressemblent les roches qui ont
soutenu la terre et l’homme des deux côtés de
l’Atlantique.
Ensuite, lentement, se séparèrent les roches,
les pierres, la terre, qui gardent la mémoire de
cette ancienne fraternité. Des espèces de diffé-
rents types peuplèrent les environements, qui,
petit à petit, se distinguèrent par le climat, par
l’influence des courants maritimes, par les vents.
L’homme n’est venu qu’après, alors que la
diversité était tellement ancrée que rien ne
laissait concevoir l’existence de l’outre-mer.
Les premiers hominidés de la plus ancienne
préhistoire africaine, qui datent d’au moins
deux millions d’années, sont partis en quête
d’autres terres, de même que, probablement,
les animaux qui suivaient leurs traces. L’Asie
et l’Europe, la seconde pas plus grande qu’un
petit appendice de la première, ont accueilli
l’évolution rapide de nombre d’espèces diffé-
rentes d’humanité. Tout en conservant leurs
anciennes origines africaines, beaucoup d’entre
elles apparurent en Eurasie dénotant les nou-
veaux changements. Mais l’Afrique ne s’est
jamais arrêtée, produisant toujours diversité
physique et culturelle, évolution, créativité bio-
logique et sociale. Et l’Amérique est demeurée
à l’état de paradis, sans le bijou dangereux
de la présence humaine. Lorsque le peuple-
ment était déjà bien établi le long des côtes
du Pacifique, – il l’était depuis longtemps dans
toute l’Afrique –, quelques uns, en petit nombre
et à plusieurs reprises, sont partis à la recher-
che de la dernière grande terre qu’il manquait,
l’Amérique, qui est demeurée inhabitée jusqu’à
58. 58
anos; não sabemos, e talvez não seja relevan-
te, de onde e como chegaram à América, mas
sabemos que acontecia antes da primeira, ter-
rível, chegada: dos navios europeus. Os ame-
ríndios eram povos que sabiam viver e lidar
com pedras: para cortar, moer, bater, caçar.
Os restos minerais são a única herança desses
tempos que reconhecemos na terra vermelha
da caatinga e do sahel. É o esqueleto fossiliza-
do do comportamento; se não fosse por eles,
seixos quebrados, lasquinhas perdidas dentro
de grutas e tocas, nada poderíamos imaginar
sobre os verdadeiros descobridores dessas
terras americanas; nada poderíamos dizer da
vida deles e nada teríamos para construir uma
história sincera e durável.
Quartzo, arenito, silex, de ambos os lados
do Atlântico são os testemunhos calados e
mais fiéis da ridícula pretensão europeia da
descoberta da América. Milhares de anos de
sabedoria sustentaram a vida do homem em
regiões com água rara e preciosa, com vege-
tação espinhosa, e talvez essa resistência
tenha fomentando uma criatividade artística,
vestígios gravados do passado do homem
nas pedras.
Hoje, nos últimos séculos, as crianças brin-
cam nos abrigos escavados nos mesmos
arenitos avermelhados, respiram da mesma
poeira e desejam os mesmos sonhos. Quando
ouço os pássaros da caatinga e rasteio o chão
ressecado, sinto-me antigo e feliz, sinto que
minha vida individual pode ser maravilhosa-
mente perdida entre as pedras, para delas
adquirir nobreza e tranquilidade. O olhar se
cruza com o silêncio.
PROF. DR. FABIO PARENTI
Arqueólogo, diretor do Istituto
Italiano di Paleontologia Umana
il y a environ 100 000 ans. Nous ne savons
pas, et cela n’a peut-être pas d’importance,
d’où et comment sont-ils arrivés en Amérique,
mais nous savons que cela s’est passé avant la
première, et terrible, arrivée des navires euro-
péens. Les Amérindiens étaient des peuples qui
savaient vivre et se servir de pierres pour cou-
per, moudre, battre et chasser. Les vestiges
minéraux sont les seuls témoins de ces temps
que nous reconnaissons dans la terre rouge
de la caatinga et du Sahel. C’est le squelette
fossilisé du comportement. Si ce n’était par ces
cailloux cassés, ces petits débris perdus dans
les grottes et les tanières, nous ne pourrions
rien imaginer sur les vrais découvreurs de ces
terres américaines. Nous ne pourrions rien dire
au sujet de leur vie et nous n’aurions rien pour
construire une histoire sincère et durable.
Quartz, arénite, silex, des deux côtés de
l’Atlantique sont des témoignages silencieux
et plus fidèles que la ridicule prétention euro-
péenne de la découverte de l’Amérique. Des
milliers d’annés de savoir ont assuré la vie de
l’homme dans des régions où l’eau était rare et
précieuse, la végétation épineuse, et il se peut
que cette endurance ait éveillé une créativité
artistique, des vestiges du passé de l’homme
gravés sur les pierres.
Aujourd’hui, ces derniers siècles, les enfants
jouent dans les abris creusés dans les mêmes
arénites rougeâtres, respirent la même pous-
sière et désirent les mêmes rêves. Quand
j’écoute les oiseaux de la caatinga, quand je
scrute le sol désséché, je me sens ancien et
heureux, je sens que ma vie individuelle peut
se perdre merveilleusement entre les pierres,
pour en acquérir la noblesse et la tranquilité.
Le regard se croise en silence.
PR. DR. FABIO PARENTI
Archéologue, Directeur de l'Instituto
Italiano di Paleontologia Umana
61. 61
Fotos das crianças
de São Raimundo Nonato
P H O T O S D E S E N F A N T S D E S Ã O R A I M U N D O N O N A T O
A L I C Y A B A R R O S A M A N D A B A S T O S A N A K A R I N A D A S I L V A B R U N O
H E N R I Q U E B R U N O P A E S L A N D I M C L A U D I A A M A N D A C O S M E P E R E I R A
E M A N O E L A D E J E S U S E M A N U E L T O M A Z F L Á V I A S O A R E S D O N A S C I M E N T O
G U I L I A N A M I L H O M E S D E A B R E U G U S T A V O G O M E S I N G R I D E M A R I A
J A R D E L W A L T E R K Á T I A V A L É R I A K A Y O Y U R I D A S I L V A L A R I S S A D E
N E G R E I R O S L U C A S B R E N O L U C A S F E R R E I R A M A N U E L V E N T U R A N E T O
M A T E U S D E S O U S A M A T H I A S D I A S M I C A E L A R A Ú J O N I L V A N P A E S
R A I A N E R I B E I R O R E N A T O D E S O U Z A R I C A R D O A L V E S R I C H A R D
G O M E S R O S E L Y D E N E G R E I R O S T I A G O M A C E D O W I L L A N E R I B E I R O
73. 73
SONGO DE TODOS NÓS
Entre quatro grandes rochedos vemos surgir
uma paisagem de cor bege, marrom, ocre e
cinza, são tons recobertos pelo dourado do
sol intenso. No período das águas a terra
permanece forrada pelo verde do milhete, o
principal cereal da agricultura dogon e por
parcelas espalhadas aqui e ali dos jardins de
cebola e hortaliças. Mas, há que lembrar as
árvores como os baobás, as tamarineiras, as
palmeiras e as acácias, compondo os espaços
dos animais – sobretudo, carneiros e burros
– e das pessoas.
Eis Songo! Assongê! Assongê! Benvido, ben-
vido ouvirá o viajante ou o recém chegado a
esta vila da República do Mali.
Vivem em Songho (ou Songo) perto de duas
mil pessoas das famílias Yanogê, Karambê,
Degogá, Gindo e Seibá. Mas há também,
alguns membros de outras unidades fami-
liares dogon como Bannu, Tapili, Arama,
Kassogê, Tembeli, Kelepili e uma família de
pastores fula, os Bari. Lá habitam, igualmen-
te, dois ferreiros de uma mesma unidade
familiar. Recentemente alguns agentes do
Estado, como professores e enfermeiros,
vieram com suas famílias integrar-se aos
moradores. Eles são originários de diferentes
áreas dogon ou de outras regiões do Mali. A
população está divida em quatro bairros prin-
cipais que compõem o povoado: amiru tondó
(bairro do chefe); tondó bilanga; Ing&duló
tondó e tanga tondó. Suas casas e celeiros,
construídos com materiais locais, estão per-
feitamente mimetizados à paisagem.
Há no bojo de sua diversidade, uma forte
identidade coletiva constituída incessante-
mente na história e no processo da cons-
trução da convivência. As decisões mais
SONGHO EST À NOUS TOUS
Entre quatre grands rochers, nous voyons
surgir un paysage aux couleurs beige, mar-
ron, ocre et gris, dont les nuances sont recou-
vertes par le doré du soleil intense. Pendant la
période des pluies, la terre est tapissée de mil,
la principale céréale de l’agriculture dogon, et
de parcelles dispersées çà et là de carrés d’oi-
gnons et de légumes. Mais il faut aussi parler
des arbres, comme les baobabs, les dattiers,
les palmiers et les acacias, qui composent les
territoires des animaux – moutons et ânes,
notamment – et des personnes.
Voici Songho! Assongé! Assongé! Bienvenue,
bienvenue, entendra le voyageur ou le nouvel
arrivant dans ce village de la République du Mali.
À Songho (ou Songo) vivent près de deux mille
personnes des familles Yanogué, Karembé,
Dégoga, Guindo et Seiba. Mais aussi quelques
membres d’autres familles dogon, comme les
Banou, Tapily, Arama, Kassogué, Tembely,
Kelepily et une famille de bergers fula, les Bari.
Y habitent également deux forgerons d’une
même unité familiale. Récemment, des agents
de l’État, des professeurs et un infirmier,
sont venus avec leurs familles s’intégrer aux
résidents. Ils sont originaires de différentes
régions Dogon ou d’autres provinces du Mali.
La population se partage en quatre quartiers
principaux qui composent le village: Amiltondo
(quartier du chef), Tondobilanga, Indjedolila et
Tangoutondo. Leurs maisons et leurs granges,
construites à l’aide de matériaux locaux, se
fondent parfaitement dans le paysage.
Il y a, dans le sein de sa diversité, une forte
identité collective qui s’est construite continuel-
lement au cours de l’histoire et du processus
de la construction de la vie en commun. Les
décisions les plus importantes sont prises après
74. 74
importantes são tomadas em meio a muitos
debates, discussões e negociações entre as
diferentes famílias e os diferentes grupos
de idade. Songo Dere wo Dere, significa que
Songo não é de uma só pessoa nem perten-
ce a uma só família, Songo pertence a todos
nós, dizem seus habitantes.
Palavra e comunicação formam elementos
sociais vitais, elas são tecidas em diferentes
línguas: a própria do local é denominada por
eles ejege domu. No entanto, os habitantes
falam igualmente outros idiomas, como o
fulfude dos pastores Fula, o bamanan dos
Bambara, que é a principal forma de expres-
são oral na capital. A população de Songo
domina, ainda, diversos falares dogon. Mesmo
sendo língua oficial, o francês é utilizado por
poucas pessoas, ainda que seja o idioma
usado na escola e que seja conhecido por
alguns entre aqueles que viveram na Costa
do Marfim. Por constituir uma localidade de
população muçulmana, outra língua de refe-
rência é o árabe, pois o Alcorão – que deve
ser memorizado e recitado – é ensinado pelos
marabus presentes nos diferentes bairros.
maints débats, discussions et négociations
entre les différentes familles et les différents
groupes d’âge. Songo Dere wo Dere, signifie
que Songho n’est pas à une seule personne ni
n’appartient à une seule famille. Songho appar-
tient à nous tous, disent ses habitants.
Parole et communication sont les éléments
sociaux vitaux, tissés en différentes langues:
celle propre au local est appelée par eux
ejege dom. Cependant, les habitants parlent
d’autres langues, comme le fulfude des ber-
gers Fula, ou le bambara, qui est la principale
forme d’expression orale dans la capitale. La
population de Songho domine encore plusieurs
parlers Dogon. Très peu de personnes parlent
le français, langue officielle, bien que ce soit
la langue d’enseignement dans les écoles et
qu’elle soit connue de ceux qui ont vécu en
Côte d’Ivoire. La population étant musulmane,
l’arabe est une autre langue de référence, car
le Coran – qui doit être appris par cœur et
récité – est enseigné par les marabouts des
différents quartiers.
La terre est la source vitale de l’organisation
de la société. Selon les règles locales, elle est
75. 75
héréditaire et peut être cédée, mais non ven-
due. Elle est divisée à partir d’un point imagi-
naire qui sépare le village entre deux groupes,
les maîtres de la terre, les Yanogué, au sud, et
les Karembé, au nord. L’économie provient le
l’agriculture – qui est la principale activité –,
de l’élevage (principalement caprins et ovins),
du tissage, du tourisme et des migrations sai-
sonnières.
Le tissage est une activité importante caracté-
risée par la coopération du processus de tra-
vail: les femmes filent le coton les les hommes
le tissent. Une activité qui est surtout réalisée
durant les périodes de sécheresse, et très
importante pour ceux qui ne se déplacent pas
vers les villes ou la récolte du riz. Outre les
espaces domestiques, il existe dans chaque
quartier au moins un local collectif réservé
aux tisseurs. Beaucoup d’entre eux exposent
et vendent leurs produits ainsi que d’autres
objets artisanaux aux touristes.
Songho est entrée dans les routes touristiques
grâce aux peintures rupestres de l’une de
ses grottes. Ces peintures sont rénovées lors
des rites de circoncision, qui font partie du
processus d’initiation des petits garçons à la
vie adulte. Entre les mois de décembre et de
février principalement, les touristes parcourent
un itinéraire fixé par la population qui inclut la
mosquée principale, le jawa-bain (espace de la
parole et du repos des plus vieux) du quartier
du chef, une des places de tissage, différents
points de vente d’objets d’artisanat ainsi que
la grotte où se trouvent les peintures rituelles.
Les visiteurs qui décident de passer la nuit au
village peuvent descendre dans une auberge
montée et gérée communautairement. Tous
les trois ans, un groupe est choisi, comprenant
au moins un représentant de chaque quartier
et des différentes familles.
A terra é a fonte vital da organização da socie-
dade. Ela é hereditária, pode ser cedida, mas
não vendida segundo os preceitos locais. Está
dividida com base em um ponto imaginário
que separa o povoado entre dois grupos que
são os mestres da terra, os Yanogê, ao sul,
e os Karambê, ao norte. A economia advém
da agricultura – que é a principal atividade
– da criação de animais (caprinos e bovinos,
sobretudo), da tecelagem, do turismo e da
migração sazonal.
A tecelagem é atividade importante caracteri-
zada pela cooperação do processo de trabalho
em que às mulheres cabe a fabricação do fio
de algodão e aos homens a produção do teci-
do. É durante a seca que é mais regularmente
praticada, sendo de grande importância para
aqueles que não se deslocam para as cidades
ou para a colheita do arroz. Além dos espa-
ços domésticos, existe em cada bairro pelo
menos uma área coletiva reservada aos tece-
lões. Muitos expõem e vendem seus produtos
e outros artesanatos aos turistas.
Songo entrou na rota do turismo pelas pin-
turas rupestres em uma de suas cavernas.
Essas pinturas são renovadas durante os
rituais de circuncisão, parte do processo de
iniciação dos meninos na vida adulta. Entre
os meses de dezembro e fevereiro principal-
mente, os turistas percorrem um itinerário
fixado pela população que inclui a mesquita
principal, a jawa-bain (espaço da palavra e do
repouso dos mais velhos) do bairro do che-
fe, uma das praças de tecelagem, diferentes
pontos de venda de artesanato e a gruta na
qual se observam as pinturas rituais. Aqueles
visitantes que resolvem passar a noite podem
se hospedar num albergue criado e gerido
comunitariamente. A cada três anos um gru-
po é escolhido, contando com pelo menos
76. 76
uma pessoa de cada bairro que representa,
também, as diferentes famílias.
Apesar dos esforços e do dinamismo local, um
grande número de pessoas, homens e mulhe-
res de diferentes idades, deslocam-se para
Bamako entre outubro e abril, especialmente.
A falta de chuva tem criado dificuldades para
a produção dos cereais necessários à alimen-
tação de todos. Há, então, um vai-e-vem
constante, o que favorece a aceleração das
mudanças na sociedade.
Pertencentes a uma cultura de tradição que
valoriza o coletivo, várias associações foram
criadas no povoado por iniciativa de pessoas
diferentes. Uma delas é a Associação Songo
Dere wo Dere que desenvolve projetos com
apoio brasileiro. Entre suas atividades desta-
cam-se aquelas destinadas aos jovens como
as oficinas de imagem e as iniciativas volta-
das ao apoio de pessoas sem rede social, à
educação, à cultura e à tecelagem.
Olhares Cruzados Songho-Serra da Capivara
foi realizado em duas fases e em dois anos
diferentes no que se refere ao processo afri-
cano. Todavia, o projeto inscreveu-se em
relações que vêm sendo tecidas desde 1994.
Foi favorecido, ainda, pela abertura das famí-
lias, o interesse das crianças e jovens, pelo
apoio de membros da Associação Songo Dere
wo Dere e pelo diretor da escola.
Lugar de atmosfera sugestiva, Songo sur-
preende e seduz o visitante com sua lumino-
sidade avermelhada e as formas marcantes
dos rochedos que desenham seu contorno.
O ritmo do chamado para as cinco orações,
saandi, integra a experiência cotidiana dos
habitantes e de quem ali chegar.
PROFA. DRA. DENISE BARROS
Antropóloga e Terapeuta Ocupacional – USP
Malgré les efforts et le dynamisme local, un
grand nombre de personnes, hommes et
femmes de différentes tranches d’âge, se
déplacent vers Bamako, surtout entre les
mois d’octobre et d’avril. Le manque de pluie
engendre des difficultés pour la production des
céréales nécessaires à l’alimentation de tous.
Il y a donc un constant va-et-vient, ce qui
favorise l’accélération des changements dans
la société.
Appartenant à une culture qui valorise le col-
lectif, plusieurs associations ont été créées au
village d’après différentes iniciatives. L’une
d’elles est l’Association Songo Dere Wo Dere
qui développe des programmes avec l’appui
brésilien. Parmi ses activités se détachent les
activités consacrées aux jeunes, comme les
ateliers d’images, ainsi que les initiatives diri-
gées vers le soutien de personnes sans réseau
social, l’éducation, la culture et le tissage.
Le Projet Regards Croisés Songho-Serra da
Capivara a été réalisé en deux phases et au
cours de deux années differentes pour le
processus africain. Cependant, le Projet s’est
inscrit dans le contexte des relations qui se
sont tissées depuis 1994. Il a été favorisé, en
outre, par l’ouverture des familles, l’interêt des
enfants et des jeunes, par l’appui de membres
de l’Association Songo Dere Wo Dere et par le
directeur de l’école.
Local d’atmosphère suggestive, Songho sur-
prend et séduit le visiteur par sa luminosité
rougeâtre et les formes marquantes de ses
rochers qui en dessinent le contour. Le rythme
des appels à la prière, saandi, intègre l’expé-
rience quotidienne de ses habitants, et de tout
autre qui y viendra.
PR. DR. DENISE BARROS
Anthropologue et Thérapeute Occupationnelle
– Universidade de São Paulo – USP
78. 78
LES ENFANTS, ENTRE FORCE ET FRAGILITÉ
DANS LA SOCIÉTÉ DOGON
Le magnifique travail entrepris par Dirce
Carrion dans le cadre de Olhares Cruzados
reflète bien les enjeux et les contradictions
qui peuvent exister au sein des communautés
enfantines en pays dogon. Si l’avenir de la
société dogon en particulier et malienne en
général repose sur leurs épaules, force est
de reconnaître que leurs conditions de vie
leur permettent de développer de formidables
capacités d’endurance et d’adaptation.
La situation géographique et climatique peu-
vent en partie expliquer ces conditions sin-
gulières d’éducation mais n’oublions pas de
rappeler la place privilégiée occupée par les
enfants en pays dogon. Liens généalogiques
par excellence, ils sont dénommés en fonction
de la place particulière occupée au sein de la
fratrie, ou encore en fonction d’événements
remarquables survenus au sein du clan ou de la
société en général. Dès le sevrage terminé, vers
trois ans, ils se voient souvent responsabiliser
pour s’occuper des plus jeunes ou pour veiller
au bon déroulement de la vie domestique.
La scolarisation des enfants vers 7 ou 8 ans
permet aux plus jeunes de rester au village,
sous la surveillance de leurs grands-parents
rarement inactifs. C’est ainsi qu’il est fréquent
de rencontrer, dans les ruelles désertées du
quartier, des petites filles et des garçonnets
jouant, avec les cailloux, la terre et tous
objets hétéroclites laissés par les visiteurs de
passage. Ils forment des communautés régies
par les règles de la classe d’âge et chacun sait
rapidement les droits et les responsabilités qui
lui incombent.
Si l’organisation de la société traditionnelle
offrait une autorité respectée et entretenue
AS CRIANÇAS, ENTRE FORÇA E
FRAGILIDADE NA SOCIEDADE DOGON
O magnífico trabalho empreendido por
Dirce Carrion no âmbito do projeto Olhares
Cruzados reflete bem os interesses e as
contradições que podem existir no seio das
comunidades infantis em Dogon. Se o futuro
da sociedade dogon em particular e maliana
em geral recai sobre seus ombros, devemos
reconhecer que suas condições de vida per-
mitem que desenvolvam formidáveis capaci-
dades de resistência e de adaptação.
A situação geográfica e climática pode expli-
car em parte essas singulares condições de
educação, mas não nos esqueçamos do lugar
privilegiado ocupado pelas crianças no país
Dogon. Laços genealógicos por excelência,
elas são denominadas em função do lugar
particular que ocupam na fraternidade, ou
ainda em relação aos acontecimentos notáveis
ocorridos no seio do clã ou da sociedade em
geral. Assim que se tornam um pouco mais
independentes, com cerca de 3 anos de idade,
os pequenos logo se veem incumbidos da res-
ponsabilidade de cuidar dos mais jovens, ou
do bom andamento da vida doméstica.
A escolarização das crianças por volta dos 7
aos 8 anos permite que os mais jovens fiquem
na aldeia, sob a guarda dos avós, raramente
inativos. Dessa forma, veem-se frequente-
mente, nas ruelas desertas do bairro, meninas
e meninos brincando com pedrinhas, terra e
os objetos mais diversos deixados pelos visi-
tantes de passagem. Eles formam comunida-
des regidas pelas regras da classe de idade
e cada um logo fica ciente dos direitos e das
responsabilidades que lhe cabem.
Se a organização da sociedade tradicional
oferecia uma autoridade respeitada e mantida
79. 79
par les différents membres de la famille élar-
gie, les profondes transformations provoquées
par la recrudescence du tourisme, la péné-
tration d’une économie de marché ont consi-
dérablement malmené l’autorité parentale.
Confrontés directement à ces transformations
de l’autorité, les enfants sont fragilisés.
Face à cette situation, des initiatives comme
celles offertes par Dirce Carrion et son équipe
laissent espérer que ces échanges fondés sur
la découverte respectueuse et enrichissante
de l’autre, sur la matérialisation de leur créati-
vité et la mise en valeur de la personnalité de
ces jeunes créateurs favorisent de nouveaux
modes de communication entre enfants brési-
liens et maliens.
A travers l’échange des représentation de leur
habitat, de leur environnement géographique
et culturelle les enfants de Serra da Capivara
et de Songho verront la similitude des modes
de vie et des valeurs propres à leur culture. En
plaçant les enfants au cœur de leur apprentis-
sage, en encourageant leur créativité, l’enjeu
est de favoriser l’émergence d’un langage où
respect, différence et échange seront les pre-
miers mots de leur répertoire commun.
Chacun de nous peut apprécier combien cet
enjeu est un véritable défi lancé à la face de
l’humanité et il est intéressant de souligner
que ce sont à ces mêmes enfants, symboles
de fragilité et de force que nous demandons
d’avoir le courage de porter cet espoir.
PROF. NADINE WANONO
Chercheure, Cinéaste et Anthropologue au CNRS,
France
pelos diferentes membros da família expandi-
da, as profundas transformações provocadas
pela intensificação do turismo e a penetração
de uma economia de mercado abalaram a
autoridade parental. Confrontadas direta-
mente com essas transformações da autori-
dade, as crianças ficam fragilizadas.
Diante dessa situação, iniciativas como as
propostas por Dirce Carrion e sua equi-
pe criam a esperança de que essas trocas
baseadas no descobrimento respeitoso e
enriquecedor do outro, na materialização da
criatividade e na valorização da personalida-
de desses jovens criadores favoreçam novos
modos de comunicação entre crianças brasi-
leiras e malianas.
Por meio da troca das reproduções de suas
casas e de seus ambientes geográficos e
culturais, as crianças da Serra da Capivara e
de Songho perceberão a semelhança de seus
modos de vida e dos valores de suas cultu-
ras. Ao colocar as crianças no centro de sua
aprendizagem, ao encorajar sua criatividade,
contribui-se para a emergência de uma lin-
guagem em que respeito, diferença e troca
serão as primeiras palavras do seu vocabulá-
rio comum.
Cada um de nós pode avaliar como esse
trabalho é um verdadeiro desafio lançado à
humanidade e é interessante salientar que são
para essas mesmas crianças, símbolos de fra-
gilidade e de força, que pedimos que tenham
a coragem de carregar essa esperança.
PROFA. NADINE WANONO
Pesquisadora, Cineasta e Antropóloga CNRS, França
81. 81
Fotos das crianças
de Songho
P H O T O S D E S E N F A N T S D E S O N G H O
A L Y O U M A R G U I N D O A L Y S E C O U G U I N D O A M A D O U I S S A Y A N O G U E
A N T A M A L I C Y A N O G U E A N T A M U S S A K A R E M B E A Y S S A T T A H A M I D U
Y A N O G U E A Y S S A T A I S S A S E I B A B A B A O U S M A N E G U I N D O B I N T O U
S E Y D O G U I N D O B R A H I M A A M A D O U K A R E M B E B R A H I M A M A M A D O U
Y A N O G U E B O U C A R Y A M A D O U D É G O G A B O U C A R Y L A Y A K A R E M B É
B O U C A R Y Y O U S S U F Y A N O G U E B O U R E I M A L A Y A K A R E M B E F A T M A T A
B R A H Y M A G U I N D O F A T M A T A A L I K A R E M B E F A T M A T A B U C A R I G U I N D O
H A M A A L I Y A N O G U E H A W A A M A D O U K A R E M B E I S S A E L H A I D A M A D O U
K A R E M B E I S S A M A M A D O U B A N O U I S S A S É K O U G U I N D O K A D J A
M A M A G U I N D O L A L A S E I D O U S E I B A M A D I N A A L I G U I N D O M A M A
A M A D O U D E G O G A M A M B A L A M A K O U T E M E M A M U N Á I S S A S E Y B A
M A R I A M H A S S I M D E G O G A M A R I A M O M A R K A R E M B E M O U S S A A B D I N A
G U I N D O N A N A D A L I B K A R E M B E N E M A A L I K A R E M B E N E M A M A M U T O U
Y A N O G U E O U M A R A L A Y Y A N O G U E O U M O U B A B A K A R E M B E O U M O U
S E Y D O U K A R E M B E O U S M A N E D O U G A L K A R E M B E S A M B I R A E L H A D I
S I D I K A R E M B E S E K O U O U S M A N G U I N D O S O U L E Y M A N E I S S A G U I N D O
S O U L E Y M A N E L A Y A K A R E M B E S O U M A I L A A L I K A R E M B E S O U M A I L A
A M A D O U K A R E M B E Y A M O N O N B U C A R I K A R E M B E Y A Y A A M A D O U
K A R E M B E Y A Y A S O U L E Y M A N E K A R E M B E Y O U S S E F N O U H H K A R E M B E
90. 90
Oficinas de criação
em São Raimundo Nonato
A T E L I E R S D E C R É A T I O N À S Ã O R A I M U N D O N O N A T O
A L I C Y A B A R R O S A M A N D A B A S T O S A N A K A R I N A D A S I L V A B R U N O
H E N R I Q U E B R U N O P A E S L A N D I M C L A U D I A A M A N D A C O S M E P E R E I R A
E M A N O E L A D E J E S U S E M A N U E L T O M A Z F L Á V I A S O A R E S D O N A S C I M E N T O
G U I L I A N A M I L H O M E S D E A B R E U G U S T A V O G O M E S I N G R I D E M A R I A
J A R D E L W A L T E R K Á T I A V A L É R I A K A Y O Y U R I D A S I L V A L A R I S S A D E
N E G R E I R O S L U C A S B R E N O L U C A S F E R R E I R A M A N U E L V E N T U R A N E T O
M A T E U S D E S O U S A M A T H I A S D I A S M I C A E L A R A Ú J O N I L V A N P A E S
R A I A N E R I B E I R O R E N A T O D E S O U Z A R I C A R D O A L V E S R I C H A R D
G O M E S R O S E L Y D E N E G R E I R O S T I A G O M A C E D O W I L L A N E R I B E I R O
91. 91
Oficinas de criação
em Songho
A T E L I E R S D E C R É A T I O N À S O N G H O
A L Y O U M A R G U I N D O A L Y S E C O U G U I N D O A M A D O U I S S A Y A N O G U E
A N T A M A L I C Y A N O G U E A N T A M U S S A K A R E M B E A Y S S A T T A H A M I D U
Y A N O G U E A Y S S A T A I S S A S E I B A B A B A O U S M A N E G U I N D O B I N T O U
S E Y D O G U I N D O B R A H I M A A M A D O U K A R E M B E B R A H I M A M A M A D O U
Y A N O G U E B O U C A R Y A M A D O U D É G O G A B O U C A R Y L A Y A K A R E M B É
B O U C A R Y Y O U S S U F Y A N O G U E B O U R E I M A L A Y A K A R E M B E F A T M A T A
B R A H Y M A G U I N D O F A T M A T A A L I K A R E M B E F A T M A T A B U C A R I G U I N D O
H A M A A L I Y A N O G U E H A W A A M A D O U K A R E M B E I S S A E L H A I D A M A D O U
K A R E M B E I S S A M A M A D O U B A N O U I S S A S É K O U G U I N D O K A D J A
M A M A G U I N D O L A L A S E I D O U S E I B A M A D I N A A L I G U I N D O M A M A
A M A D O U D E G O G A M A M B A L A M A K O U T E M E M A M U N Á I S S A S E Y B A
M A R I A M H A S S I M D E G O G A M A R I A M O M A R K A R E M B E M O U S S A A B D I N A
G U I N D O N A N A D A L I B K A R E M B E N E M A A L I K A R E M B E N E M A M A M U T O U
Y A N O G U E O U M A R A L A Y Y A N O G U E O U M O U B A B A K A R E M B E O U M O U
S E Y D O U K A R E M B E O U S M A N E D O U G A L K A R E M B E S A M B I R A E L H A D I
S I D I K A R E M B E S E K O U O U S M A N G U I N D O S O U L E Y M A N E I S S A G U I N D O
S O U L E Y M A N E L A Y A K A R E M B E S O U M A I L A A L I K A R E M B E S O U M A I L A
A M A D O U K A R E M B E Y A M O N O N B U C A R I K A R E M B E Y A Y A A M A D O U
K A R E M B E Y A Y A S O U L E Y M A N E K A R E M B E Y O U S S E F N O U H H K A R E M B E
102. 102
AGRADECIMENTOS
O nosso primeiro agradecimento vai para as crianças brasilei-
ras e malianas que participaram do projeto Olhares Cruzados.
Em São Raimundo Nonato no Piauí agradecemos à Dra. Niéde
Guidon, diretora da Fundação Museu do Homem Americano,
Cristiane Buco, Rosa Maria Gonçalvez e à educadora Marlene
Costa, do programa ProArte – FUMDHAM. Nosso agradeci-
mento também ao arqueólogo prof. dr. Fabio Parenti.
Nosso muito obrigada a Zelita de Aragão Ferreira, Jéssica
Lima da Silva e Venderléia Lima da Silva de São Raimundo
Nonato; e também para Nailde Marques, D. Raimunda Pereira
Marques, Giovana Marques, Amaury Souza, Leandro Souza,
da Comunidade Quilombola Lagoa das Emas.
Agradecemos a contribuição da arqueóloga francesa profes-
sora Dra. Nadine Wanono, que há muitos anos desenvolve
pesquisas sobre os Dogon. A participação do professor Marcio
Tascheto.
O importante apoio do professor Alexsandro Machado –
Assessor de Relações Interinstitucionais e Internacionais da
UNIVASF – que se engajou como voluntário no projeto em
2011, e viajou ao Mali para acompanhar o reencontro com
as crianças em Songho e em Bamako. Agradecemos ainda o
apoio das professoras Jocilene, Luciana e Selma, da UNIVASF
em São Raimundo Nonato.
Amigos e apoiadores que acreditaram no projeto Brasil-Mali
Olhares Cruzados foram fundamentais para a concretização
desta iniciativa. Deixamos nosso agradecimento especial ao
Dr. Cezar Alvarez, e também ao Dr. Zulu Araújo e Dr. Elói
Ferreira de Araújo, respectivamente, anterior e atual presi-
dente da Fundação Cultural Palmares.
Em Songho, nosso agradecimento à Profa. Dra. Denise
Barros, antropóloga e terapeuta ocupacional que tem realiza-
do estudos na região desde a década de 1990, pesquisadora
da Casa das Áfricas, e fundadora da Associação Songho Dere
wo Dere, que nos introduziu na comunidade, e ao professor
Kimbassa Dolo, diretor da École de Songho – 1ér Cycle, que
participou das oficinas com as crianças dogon. Agradecemos
também a Talita Vecchia, que nos auxiliou nas oficinas em
Songho em janeiro de 2007.
Um carinhoso muito obrigada a Vera Pereira Brauner – amiga
de infância – que viajou ao Mali como voluntária para nos
apoiar na realização das oficinas com as crianças em janeiro
de 2008, e aos amigos Katia Gilaberte – à época embaixadora
do Brasil no Senegal –, e Cheikh Tidiane Guissé, do grupo
musical Frere Guisse do Senegal, que encantou as crianças
de Songho com sua música.
Agradecimento especial a Soumailá Karembe, que veio ao
Brasil a convite do projeto em maio de 2011, para encontrar
com as crianças de São Ramundo Nonato. Muito obrigada
também a Laya Karembe, a Amadou Karembe do Campment
de Songho, e a tantas outras pessoas da comunidade que
nos acolheram durante a permanência na aldeia de Songho.
REMERCIEMENTS
Notre premier remerciement est pour les enfants brésiliens et
maliens qui ont participé au Projet Regards Croisés.
À São Raimundo Nonato, au Piauí, nous remercions Dr. Niéde
Guidon, directrice de la Fundação Museu do Homem Americano,
Cristiane Buco, Rosa Maria Gonçalvez et l’éducatrice Marlene
Costa du programme ProArte – FUNDHAM. Notre remercie-
ment aussi à l’archéologue Prof. Dr. Fabio Parenti.
Notre merci beaucoup à Zelita de Aragão Ferreira, Jéssica
Lima da Silva et Venderléia Lima da Silva de São Raimundo
Nonato, ainsi qu’à Nailde Marques, D. Raimunda Pereira
Marques, Giovana Marques, Amaury Souza, Leandro Souza
de la Communauté Quilombola Lagoa das Emas.
Nous saluons la contribution de l’archéologue française Dr.
Nadine Wanono, qui développe de recherche sur les Dogon.
Laparticipation du professeur Marcio Tascheto.
L’important soutien du Professeur Alexsandro Machado –
Assistant de Relations Interinstitutionnelles et Internationales
de l’UNIVASF – qui s’est engagé comme volontaire dans le
projet en 2011 et s’est rendu au Mali pour accompagner la
rencontre des enfants à Songho et à Bamako. Nous remer-
cions aussi l’appui des professeures Jocilene, Luciana et
Selma de l’UNIVASF à São Raimundo Nonato.
Les amis qui ont cru au Projet Brésil Mali - Regards Croisés
ainsi que tous ceux qui l’ont appuié furent essentiels à la
réalisation de ce programme. Notre remerciement spécial au
Dr. Cezar Alvarez, ainsi qu’au Dr. Zulu Araújo et au Dr. Elói
Ferreira de Araújo, ancien et actuel présidents de la Fundação
Cultural Palmares.
À Songho, notre remerciement à la professeure Denise Barros,
anthropologue et thérapeute occupationnelle qui mène des
études dans la région depuis les années 1990, chercheuse de
la Casa das Áfricas et fondatrice de l’Association Songho Dere
wo Dere, qui nous a introduit dans la communauté, et au
professeur Kimbassa Dolo, directeur de l’École de Songho –
1er Cycle, qui a participé des ateliers avec les enfants dogon.
Nous remercions aussi Talita Vecchia, qui nous a assisté dans
les ateliers à Songho en janvier 2007.
Un remerciement affectueux à Vera Pereira Brauner – une
amie d’enfance – qui s’est rendue au Mali comme bénévole
pour nous aider à réaliser les ateliers avec les enfants en
fevrier 2008. Aux amis Katia Gilaberte – à l’époque, ambas-
sadrice du Brésil au Sénégal –, et Cheikh Tidiane Guissé, du
groupe musical sénégalais Frères Guissé, qui a enchanté les
enfant avec sa musique.
Un remerciement spécial à Soumaila Karembe qui est venu au
Brésil sur l’invitation du Projet en mai 2011, pour rencontrer
les enfants de São Raimundo Nonato. Merci beaucoup aussi
à Layla Karembe, à Amadou Karembe du campement de
Songho, ainsi qu’à tant d’autres personnes de la communauté
qui nous ont accueillis pendant notre séjour dans le village
de Songho.
104. ISBN 85-88120-10-5
9 7 8 8 5 8 8 1 2 0 1 0 5
IMAGEM DA VIDA
Alameda Rio Claro, 137 - 22, Bela Vista
São Paulo, SP, 01332-010, Brasil
(55 11) 3266 4711
www.imagemdavida.org.br www.olharescruzados.org.br
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Brasil Mali : Olhares Cruzados : Regards Croisés : Serra da Capivara :
País Dogon : São Raimundo Nonato Dogon / [coordenação e
concepção/coordenation Dirce Carrion ; versão para o
francês/traduction en français Caroline Fretin de Freitas] . —
São Paulo : Reflexo Editora, 2012. — (Olhares Cruzados)
Edição bilíngüe: português/francês
1. Brasil - Relações culturais - Dogon de Songho (MALI)
2. Crianças - Brasil 3. Crianças - Fotografias 4. Crianças - Dogon de
Songho (MALI) 5. Dogon de Songho (MALI) - Relações culturais -
Brasil I. Carrion, Dirce. II. Série.
CDD -303.482810663081
12-00187 -303.482663081
Índice para catálogo sistemático :
1. Brasil : Relações culturais : Dogon de Songho : Mali 303.482810663081
2. Dogon de Songho : Mali : Relações culturais : Brasil 303.482663081
BRASIL-MALI – OLHARES CRUZADOS / BRÉSIL-
MALI – REGARDS CROISÉS
Coordenação, concepção e edição de fotografia/
Coordination, conception et edition des
photographies
Dirce Carrion
Realização/Réalisation
Imagem da Vida, Editora Reflexo
Patrocínio/Patronage
Fundação Cultural Palmares, Imagem da Vida
Apoio/Appui
Ministério das Relações Exteriores, ProArte FUMDHAM
– Fundação Museu do Homem Americano, Fundação
Songo Dere wo Dere
Fotografias/Photographies
Dirce Carrion, Gianni Puzzo, Sumailá Karembe, Vera
Pereira Bauer.
Crianças de São Raimundo Nonato, Piauí, Brasil/Enfants
de São Raimundo Nonato, Piauí, Brasil.
Crianças da Aldeia de Songho, País Dogon, Mali/Enfants
de la communauté de Songho, Pays Dogon, Mali
Maquetes, desenhos, saquinhos de pano/Modèles,
dessins, sacs en tissu
Crianças de São Raimundo Nonato, Piauí, Brasil/Enfants
de São Raimundo Nonato, Piauí, Brasil.
Crianças da Aldeia de Songho, País Dogon, Mali/Enfants
de la communauté de Songho, Pays Dogon, Mali
Direção de arte e diagramação/Direction d’art et
mise en page
Ana Paula Hoffmann
Versão para o francês e tradução para o
português/Traduction en français et portugais
Caroline Fretin de Freitas
Revisão do francês/Révision de français
Aghi Auguste Bahi
Revisão de textos/Révision de textes
Fernanda Spinelli
Digitalização e tratamento de imagens/Traitement
des images
Denise Paiva, Edson Silva, Rebeca Ávila
Impressão e acabamento/Impression et finition
Arvato Gráfica
Video documentário do projeto/Vidéo
documentaire du projet
Anthares Multi Meios
Oficinas em Songho - 2007/Ateliers en Songho -
2007
Denise Barros, Dirce Carrion, Gianni Puzzo, Kimbassa
Dolo, Talita Vecchia
Oficinas em São Raimundo Nonato - 2007/Ateliers
en São Raimundo Nonato - 2007
Dirce Carrion, Gianni Puzzo, Marlene Costa
Oficinas em Songho - 2008/Ateliers en Songho -
2008
Denise Barros, Dirce Carrion, Gianni Puzzo, Kimbassa
Dolo, Vera Pereira Brauner
Retorno a Songho - 2011/Retour à Songho - 2011
Alexsandro Machado, Dirce Carrion
Retorno a São Raimundo Nonato - 2011/Retour à
São Raimundo Nonato - 2011
Dirce Carrion, Soumaila Karembe